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Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Geografia das Indústrias – Professor: Tibério Mendonça

INTRODUÇÃO À GEOGRAFIA DAS INDÚSTRIAS

A atividade industrial é à base do desenvolvimento econômico mundial desde o século


XVIII. As indústrias foram os primeiros estabelecimentos a empregar trabalhadores assalariados
em grande número e na atualidade são responsáveis pela automação cada vez maior do
processo produtivo em substituição a força da mão de obra.
A atividade industrial é aquela pela qual os seres humanos transformam matéria-prima
em algum bem, acabando ou semiacabado.
O artesanato, primeira forma de produção industrial, surgiu no fim da Idade Média com o
renascimento comercial e urbano e definia-se pela produção independente; o produtor possuía
os meios de produção: instalações, ferramentas e matéria-prima. Em casa, sozinho ou com a
família, o artesão realizava todas as etapas da produção.
O artesanato antecedeu a indústria e era disperso pelo espaço geográfico. A produção era
limitada e predominava o sistema familiar de trabalho. Nas cidades o sistema de corporações
produzia para o mercado local.
Na passagem da ordem feudal para a capitalista, o processo de transformação das terras
comunais em propriedades privadas, chamadas cercamentos, significou mudanças na estrutura
fundiária inglesa. Esse processo também se relaciona à Revolução Agrícola, ocorrida no século
XVIII. Os senhores de terras, adotando técnicas modernas para a época, eliminaram os campos
comunais utilizados pelos pequenos camponeses. A criação de ovelhas ganhou importância,
sobretudo na produção de lã para a indústria têxtil.
Esse conjunto de elementos, combinado a uma produção comercial capitalista mais
produtiva, possibilitou o aumento da produção agrícola para abastecer as cidades e o
fornecimento de mão de obra abundante para as indústrias nascentes.
A substituição das ferramentas pelas máquinas, da energia humana pela energia motriz e
do modo de produção doméstico pelo sistema fabril constituiu a Revolução Industrial; revolução,
em função do enorme impacto sobre a estrutura da sociedade, num processo de transformação
acompanhado por notável evolução tecnológica.
A Revolução Industrial aconteceu na Inglaterra na segunda metade do século XVIII e
encerrou a transição entre feudalismo e capitalismo, a fase de acumulação primitiva de capitais e
de preponderância do capital mercantil sobre a produção. Completou ainda o movimento da
revolução burguesa iniciada na Inglaterra no século XVII.
Com o desenvolvimento da atividade industrial como base do sistema capitalista, surgiu a
necessidade de se incrementar cada vez mais a produção. A indústria passou a comandar outros
setores da economia, principalmente a atividade agrícola e o setor de serviços.
O sistema de fábrica caracteriza a indústria moderna. Trabalhadores, máquinas e
matérias primas ficam reunidos em um mesmo local. Trabalhadores não são donos dos meios de
produção. O sistema fabril com sua divisão do trabalho e a organização para produzir em larga
escala, representou um aumento significativo no volume de produção.
Na década de 1860, uma nova palavra entrou no vocabulário econômico e político do
mundo: “capitalismo”, embora haja relatos em 1848, mas tenha ganho amplo uso naquele ano.
O triunfo global do capitalismo é o tema mais importante da história nas décadas que se
sucederam a 1848. Foi o triunfo de uma sociedade que acreditou que o crescimento econômico
repousava na competição da livre iniciativa privada, no sucesso de comprar tudo no mercado
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mais barato (inclusive trabalho) e vender no mais caro. Uma economia assim baseada e,
portanto, repousando naturalmente nas sólidas fundações de uma burguesia composta daqueles
cuja energia, mérito e inteligência os elevou tal posição, deveria – assim se acreditava – não
somente criar um mundo de plena distribuição material mas também de crescente
esclarecimento, razão e oportunidade humana, de avanço das ciências e das artes, em suma, um
mundo de contínuo progresso material e moral. Os poucos obstáculos ainda remanescentes no
caminho do livre desenvolvimento da economia privada seriam levados de roldão. As instituições
do mundo, ou mais precisamente daquelas partes do mundo ainda não excluídas pela tirania das
tradições e superstições, ou pelo infortúnio de não possuírem pele branca (preferivelmente
originária da Europa Central ou do Norte), gradualmente se aproximariam do modelo
internacional de um “Estado-nação” definido territorialmente, com uma Constituição garantindo
a propriedade e os direitos civis, assembleias representativas e governos eleitos responsáveis por
elas e, quando possível, uma participação do povo comum na política dentro de limites tais que
garantissem a ordem social burguesa e evitassem o risco de ela ser derrubada.
A economia agrícola, sob suas múltiplas formas, estende-se por todo o globo. Mesmo a
noção de deserto não é absoluta: existem civilizações agrícolas do deserto. A economia
industrial, ao contrário, é essencialmente descontínua, pelo menos quanto às suas implantações
materiais, pois sua influência financeira e social tende a ser universal. A mobilização das fontes
de energia mecânica, que é um dos índices mais seguros da importância do desenvolvimento
industrial, é muito desigual segundo as regiões geográficas. Mais de três quartos da energia
mecânica são consumidos por um terço da população do globo: os europeus, os norte-
americanos e os japoneses.
As diversas regiões que compõem a economia global da atualidade se industrializaram em
períodos distintos e com características diferentes. Chamamos de industrialização clássica a que
ocorreu durante o período da Primeira Revolução Industrial e de industrialização tardia a que se
desenvolveu ao longo do século XX.
A indústria representa um dos mais fortes agentes de diferenciação espacial. Embora seja
atividade básica ao mundo moderno, apenas uma minoria de países foi até hoje intensamente
afetada pela atividade industrial, e esse conjunto assegura ainda o essencial da produção
mundial e se beneficia de elevado nível de vida. Mas esse privilégio não é exclusivo: há crises nas
antigas regiões industriais, que oscilam em seu desempenho, e surgem novos focos de
industrialização em várias partes do mundo. Esboça-se uma reorganização nas velhas regiões
industrializadas, enquanto aumenta a concorrência dos países em via de desenvolvimento.
Estrutura-se um novo espaço industrial.
A localização e a limitação do número das regiões industriais não são estreitamente
ligadas às condições geográficas de repartição das bases naturais de industrialização. Aliás, se no
começo do período industrial pareceu que a indústria só podia desenvolver-se na proximidade
imediata das bases carboníferas, os progressos técnicos tendem a libertar cada vez mais a
indústria dessas limitações geográficas, enquanto que as necessidades de atividades e de
produtos industriais são capazes de criar ditames bem mais autoritários.
A fase pioneira da industrialização foi movida essencialmente pela força da água corrente
dos rios (energia hidráulica). As rodas d’água transferiam energia para os teares hidráulicos e,
assim, o sistema fabril se impunha sobre a manufatura tradicional, que era baseada no tear
manual. Os cursos fluviais, que sempre serviram como vias de transporte, passavam a funcionar
como fonte de energia para o mundo industrial. As fábricas se estabeleciam junto aos rios.
Ao lado da indústria têxtil, a modernização das fundições de ferro impulsionou o ciclo
inicial da industrialização. Há séculos, o ferro era fundido em fornalhas a lenha. A utilização do
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carvão mineral em altos fornos capazes de gerar temperaturas elevadíssimas inaugurou a


siderurgia moderna.
A utilização do carvão mineral como força motriz teve início com o aperfeiçoamento da
máquina a vapor, em 1769. Mas apenas em meados do século XIX, na Inglaterra, a máquina a
vapor substituiu o tear hidráulico. Fora das fábricas, a revolução do carvão expressou-se no setor
de transportes. As ferrovias e os navios a vapor “encurtaram” as distâncias, ou seja, diminuíram
o tempo utilizado nos deslocamentos reduzindo brutalmente os custos de transporte de
matérias-primas e alimentos.
O primeiro ciclo tecnológico da era industrial restringiu-se, praticamente, ao Reino Unido.
No segundo ciclo, caracterizado pelo grande salto da siderurgia, permitindo o uso do aço, em
meados do século XIX, a industrialização se espalhou pela Europa, fincando raízes na Bélgica,
França, Alemanha, Suécia, entre outros países. Além destes, a indústria estabelecia-se nos
Estados Unidos e no Japão.
O longo reinado de petróleo, n i iciado no terceiro ciclo tecnológico da Revolução
Industrial, imprimiu suas marcas em diferentes escalas do espaço geográfico. Afinal, a tecnologia
do motor a combustão interna, impulsionados pela explosão de óleo diesel ou gasolina, ambos
derivados do petróleo, dentro de um cilindro, movimenta não apenas caminhões e automóveis
como também barcos e aeronaves, continua a ser ponto-chave na logística de transportes das
sociedades modernas.
Além de sua inegável importância como fonte primária de combustível para os
transportes e para a geração de calor em fornos e caldeiras industriais, o petróleo também serve
de matéria-prima para um dos mais importantes setores industriais da atualidade: a indústria
petroquímica.
A indústria moderna nasceu da conjunção, na Europa Ocidental, do racionalismo
moderno, instrumento do progresso do pensamento científico e das descobertas técnicas dele
resultantes, e de condições financeiras próprias à aplicação dessas descobertas à produção. O
impulso do grande comércio nos séculos XVII e XVIII e o mercantilismo asseguraram a
acumulação de capitais, sobretudo na Inglaterra, e secundariamente nas principais encruzilhadas
continentais: na França, na Alemanha, na Suíça, na Áustria, entre outros. Estas regiões
constituíram os diversos centros de aplicação das novas técnicas, à medida que as condições
políticas se prestavam à circulação dos capitais e das mercadorias, e à constituição de sistemas
econômicos fortes. Sendo a máquina a vapor e as construções técnicas, à base de fundição e de
aço, as duas primeiras formas mais importantes da revolução técnica do século XIX, a localização
das minas de carvão e de ferro teve papel importante na escolha das implantações de
estabelecimentos industriais. Entretanto, os fatores humanos também exercem sua influência. A
indústria foi atraída, por exemplo, para terras ricas em mão de obra operária preparada para o
trabalho industrial por longo passado de atividades manufatureiras, em regiões onde o
desenvolvimento comercial e uma tradição de transformação de matérias brutas já haviam
introduzido uma diferenciação econômica em relação à estrutura agrícola dos países
circunvizinhos.
A indústria moderna, em relação ao artesanato e à atividade manufatureira anteriores,
apresenta-se como um fato concentrado. A concentração é primeiramente técnica, o
maquinismo exigido o agrupamento das atividades produtivas em estabelecimentos maiores que
as oficinas de outrora. Ela é também financeira. A produção industrial tornou-se geradora de
lucros, pelo funcionamento do sistema capitalista. Com efeito, se o resultado do
desenvolvimento industrial é a maior quantidade e variedade da produção de objetos elaborados
com matérias brutas provenientes do subsolo ou da agricultura, seu fim, no quadro do sistema
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econômico e financeiro que presidiu à Revolução Industrial, é aumentar constantemente o


capital. A gestão da empresa é concebida de modo que, para uma real produtividade do trabalho
efetuado, a remuneração deste trabalho seja tal que, uma vez pagas as matérias-primas, a
energia, o encaminhamento e a apresentação das mercadorias fabricadas, e uma vez assegurada
a amortização do material e do capital inicial, reste à disposição do conselho de administração
uma margem a reempregar, que por sua vez será geradora de lucros por meio do mesmo
mecanismo. Cada empresa, cada conjunto industrial, cuja gestão corresponde a este esquema,
cresce de maneira tal como uma bola de neve. Os maiores crescem mais rapidamente e, por
meio da concorrência, tendem a eliminar ou anexar os menores. Os lucros constituem massas
quantitativamente crescentes de capitais, que foram reinvestidos, pelo menos no começo, no
equipamento industrial dos primeiros países industrializados e nas empresas beneficiárias. Daí
resultou o desenvolvimento das indústrias do próprio lugar de sua origem, enquanto que, no
plano financeiro, edificavam-se os cartéis ou os trustes.
O desenvolvimento da indústria exige o equipamento apropriado das regiões industriais
em vias de comunicação de grande potência e em cidades para moradia, providas das
infraestruturas da vida de coletividades importantes. Uma vez realizado, este equipamento
oferece comodidades para o desenvolvimento imediato da indústria. A concentração geográfica
das indústrias é, pois o resultado das diversas formas de concentração técnica e financeira, e da
criação de meios favoráveis à implantação industrial, em vista de seus antecedentes na matéria.
Mas o mecanismo da economia industrial em sistema capitalista teve por resultado
exceder as capacidades de absorção de produtos industriais dos primeiros países
industrializados, a partir do momento em que a massa crescente de produtos fabricados
excedeu, em valor comerciável, a quantidade de poder aquisitivo disponível em cada mercado
nacional. Duas soluções apresentavam-se:

 Vender a países cujos recursos fossem provenientes da economia agrícola e do


artesanato, desprovidos de indústrias concorrentes, e que possuíssem um poder
aquisitivo representado pelo produto da economia agrícola ou pelo das vendas de
materiais brutos.

 Descongestionar o mercado dos capitais criando bases industriais fora dos países
primitivamente equipados, ou empregando dinheiro a Estados estrangeiros para facilitar-
lhes o equipamento. Este processo permite efetuar um duplo desafogamento: por
exportação de capitais e pela venda de produtos e ferramentas indispensáveis à
industrialização. Ele apresenta um perigo para um futuro mais ou menos próximo: a
criação de novos concorrentes no mercado internacional.

Até o século XVIII, a ação humana sobre a natureza, salvo raras exceções, não ocasionava
transformações profundas e irreversíveis. O ser humano construía habitações, caçava e
domesticava animais, recolhia frutos das árvores e derrubava uma parte pequena das matas para
fazer plantações. Pode-se dizer que havia um equilíbrio nas relações do ser humano com a
natureza. Foi a partir da Revolução Industrial, iniciada na segunda metade do século XVIII, que a
natureza passou a ser profundamente modificada, até chegar ao grave problema atual de
poluição e degradação do meio ambiente.
A Revolução Industrial, portanto, constitui um momento importante na mudança das
relações da humanidade com a natureza. É por isso que dizemos que foi com a Revolução
Industrial que a sociedade moderna ou industrial passou a produzir o seu espaço geográfico.
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A evolução do processo de transformação de matérias-primas em produtos acabados


ocorreu em quatro estágios: artesanato, manufatura, indústria e revolução técnico-científica.
A Revolução Industrial (séculos XVIII e XIX), ocorrida na Inglaterra, disseminou-se por
outros países da Europa ocidental, pelo Japão, Estados Unidos e Canadá. Várias colônias da Ásia
e da África foram ocupadas na busca frenética dos novos "donos" da indústria por matéria-prima
e novos mercados de consumo. Essa época ficou conhecida como imperialismo. A nova atividade
transformou e agilizou o que antes era chamado de artesanato e manufatura.
Estágio intermediário entre o artesanato e a maquinofatura. Nessa etapa, além do
trabalho manual, havia o emprego de máquinas mais simples, divisão do trabalho (cada pessoa
desempenhava uma etapa da produção) e o trabalhador era assalariado.

A evolução da atividade industrial

Ao longo da história da humanidade a capacidade de transformação do homem vem


evoluindo e continua a evoluir até hoje. O homem desenvolveu novas técnicas, usou cada vez
mais novos produtos, o que lhe permitiu uma maior quantidade e variedade de produtos. Para
que isso acontecesse, várias transformações foram necessárias na forma de produzir.
Houve um tempo em que a única forma que o homem conhecia para transformar
materiais em novos produtos era a atividade artesanal. No artesanato o trabalho era manual,
usando-se ferramentas simples.
O produto era feito por uma única pessoa, o artesão, que realizava sozinho todo o
processo de transformação. A produção era feita na própria casa do artesão ou em pequenas
oficinas que reuniam alguns trabalhadores manuais. Os produtos feitos eram destinados para o
uso da família ou para vender. Esta prevaleceu até meados do século XVII, mas sobrevive nos
dias atuais. Sua principal característica é a produção individual, que desenvolve todas as fases de
produção e comercialização do produto, sem divisão de tarefas e apenas com o uso de
ferramentas simples
Com o aumento do comércio das cidades, consequentemente do consumo, os
comerciantes passaram a encomendar aos artesãos alguns produtos que ele, comerciante
achava que feitos com estas ou aquelas características, seriam mais facilmente vendidos,
logicamente por um preço maior do que aquele pago ao artesão. A partir de um tempo alguns
artesãos mais ricos passaram a comprar as oficinas dos artesãos mais pobres, estes por sua vez,
tornaram-se trabalhadores assalariados.
Com o tempo, houve a necessidade de aumentar a produção dessas oficinas e
consequentemente o número de trabalhadores empregados. Os donos das oficinas perceberam
que dividindo a tarefa entre os trabalhadores, a produção tornava-se mais rápida e maior e com
isso os lucros aumentariam. Surgiu assim a manufatura, isto é, em vez de uma pessoa sozinha
fabricar o produto inteiro, esse trabalho passou a ser dividido entre várias pessoas, cada uma
fazendo uma parte do produto. Esse tipo de indústria, que surgiu nos séculos XVII e XVIII,
representou os primórdios do sistema capitalista. Suas características principais são a divisão de
tarefas e o uso de ferramentas e máquinas simples. Instituiu a figura do dono dos meios de
produção (patrão) e o trabalhador assalariado (empregado)
Nessa etapa os trabalhadores usavam a matéria-prima e as ferramentas pertencentes ao
proprietário do local onde trabalhavam passando a receber um salário, pela sua carga horária de
trabalho, não eram donos nem de ferramentas e nem produziam mais os produtos sozinhos.

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Passam a ser usados na manufatura algumas máquinas simples que multiplicavam os


gestos dos trabalhadores, aumentando a capacidade de produção. A manufatura foi assim o
inicio da atividade industrial moderna e de novas relações de trabalho entre os homens.
A indústria moderna substitui as ferramentas e as máquinas simples pelas máquinas mais
potentes e velozes, movidas por novas fontes de energia e não mais pela força do trabalhador,
aumentando assim a capacidade de produção. Esta iniciou com a Revolução industrial e
compreende o atual estágio de desenvolvimento industrial. Suas principais características são o
uso intensivo de máquinas, das mais simples às mais sofisticadas, diversas fontes de energia e a
produção em larga escala. As formas de gerenciamento promovem a divisão de tarefas, a
automação industrial e a especialização da produção e do trabalho.
Nas fábricas, concentra-se um grande número de operários, todos recebendo um salário
como pagamento pelas horas que passam trabalhando nas fábricas. Cada operário da fábrica
realiza apenas uma parte do processo de produção, sendo treinado e especializado para
desenvolver aquela tarefa específica, ou seja, o mundo industrial se torna um mundo de
especialistas de técnicos.
A atividade industrial continua evoluindo nos dias de hoje, empregando técnicas cada vez
mais modernas e sofisticadas. Nos países mais industrializados há muitas indústrias onde quase
tudo é feito automaticamente e por máquinas robotizadas, apenas programadas pelos
trabalhadores.
Esse processo de industrialização e evolução industrial demorou vários séculos para
acontecer e se desenvolveu em diferentes épocas e nos diversos países do mundo de forma
diferente preservando suas especificidades. Por isso nem todos os países tem hoje o mesmo
desenvolvimento industrial e tecnológica.
A indústria inglesa moderna nasceu do desenvolvimento da extração do carvão e da
atividade do comércio marítimo, que assegurava ao mesmo tempo o reabastecimento em
matérias-primas e o escoamento dos produtos fabricados. Por conseguinte, parece razoável
procurar as grandes regiões industriais inglesas na zona das minas de carvão e ao redor dos
grandes portos.
Toda região carbonífera é região industrial, tendo o carvão fixado as indústrias que o
utilizam como matéria-prima (fabricação de matais, química), ou como fonte de energia (todas
as indústrias de transformação). A densidade dos estabelecimentos industriais é particularmente
grande, onde a extração do carvão chega até o mar ou até grande estuários que permitem à
navegação marítima penetrar no interior das terras.
Pensar a indústria e mais concretamente o espaço da indústria nos remete a uma
paisagem urbana onde predominam as chaminés expelindo fumaça de tons e odores
diferenciados, uma concentração de operários e um adensamento de redes de transporte. Ao
contrário da atividade agrícola, que se estende por imensas porções do planeta, a atividade
industrial é altamente concentrada do ponto de vista espacial e exige a inter-relação entre
parcelas do espaço, já que está longe de ser uma atividade que se auto-sustenta.
Nesse sentido, enquanto suas instalações se acham concentradas espacialmente, suas
relações e articulações ocorrem em nível mundial, graças ao desenvolvimento necessário de
trocas, associadas ao processo de divisão social e espacial do trabalho. Se, por um lado, a
indústria é um fenômeno concentrado que gera grandes aglomerações urbanas, de outro, suas
articulações extrapolam os limites do “espaço próximo” para se inter-relacionarem com espaços
mais amplos, cujos limites são aqueles do globo terrestre.
Para que se dê início à atividade industrial faz-se necessário a acumulação, nas mãos do
capitalista, de uma quantidade de dinheiro (capital em potencial) e de meios de produção; que
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haja concentração de trabalhadores dispostos a vender sua força de trabalho; e que exista um
mercado consumidor.
Se parece óbvio que a existência da indústria vincula-se à concentração de capital e meios
de produção nas mãos dos capitalistas de um lado, e de outro de mão de obra relativamente
grande para constituir um mercado, não é evidente que esta concentração foi gerada em
condições históricas específicas, num determinado momento da história específicas, num
determinado momento da história da humanidade e que constitui o ponto de partida da
produção capitalista.
Este ponto se consubstancia na medida em que num mesmo tempo e espaço, um número
relativamente grande de trabalhadores, sob o mando e a vigilância de um capitalista, tendo por
base o estabelecimento de uma divisão do trabalho, reúne-se para produzir, ao mesmo tempo,
um determinado tipo de produto. Este processo tem como pressuposto a divisão do trabalho na
sociedade, a propriedade privada de bens e sua acumulação em poucas mãos; isto é a chamada
acumulação primitiva.
O processo histórico que produziu a acumulação primitiva, iniciada com o ressurgimento
das cidades, gerou a separação entre o produtor direto e os meios de produção através da
expropriação dos trabalhadores, formando a base sobre a qual se ergue o sistema capitalista de
produção.
A acumulação de capital e a revolução industrial são dois momentos fundamentais da
história da humanidade, e refletem a passagem do modo de produção feudal ao modo de
produção capitalista. A ordem capitalista sai das entranhas da feudal, à medida que o processo
de desenvolvimento social da humanidade, realizado em toda formação econômica e social,
efetiva-se por meio do aparecimento e da resolução de contradições.

O espaço do capital

Visto na sua aparência, o modo capitalista de produção é um modo de produção de


mercadorias. A produção da mercadoria, contudo, mascara a produção da mais-valia. Visto na
sua aparência apresenta-se como um modo de produção movido pelo interesse do lucro. Mas o
lucro é a mera forma que assume a mais-valia após sua realização no lucro na forma do dinheiro.
O trabalho produz mais-valia produzindo mercadorias. A mercadoria pela sua venda gera
a transformação da mais-valia nela contida em lucro. O lucro se expressa em forma monetária e
o dinheiro fecha um ciclo para abrir outro. A mais-valia na sua expressão monetária será
reinventada na produção (na forma de compra suplementar de força de trabalho, objeto e meios
de trabalho), para geração de mais mais-valia. Reproduzir-se-á em escala ampliada o ciclo da
reprodução do capital. Esta é a dialética do capital, seu móvel e objetivo: a acumulação de
capital.
Para o capital, os homens só existem enquanto homens para o capital. O trabalho só é
produtivo se for trabalho produtor de mais-valia. Trabalho que não gera mais-valia é trabalho
improdutivo.
A mais-valia é o trabalho não pago, o trabalho que excede ao equivalente ao valor da
reprodução do trabalhador e pago como salário. Expliquemos. Suponhamos um tempo de
trabalho de oito horas/dia. Nestas oito horas o proletário deverá produzir mercadorias. Numa
parte da jornada do trabalho o proletário produzirá uma quantidade de mercadorias que, se
posta à venda, iguala o montante do seu salário. Digamos quatro horas. Nas quatro horas
restantes produzirá uma quantidade que excede o montante do salário que acabou de
reproduzir, da qual o capital apropria-se. É a mais-valia. Ao vender a totalidade das mercadorias
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que o proletário produziu na jornada de oito horas, o capitalista terá de volta as despesas
havidas com a produção e uma quantidade suplementar de dinheiro, o seu lucro, que é a mais-
valia transformada no dinheiro adicional. Com esse dinheiro suplementar o capitalista compra
força de trabalho e meios de produção suplementares, para obter a reprodução ampliada do
capital em caráter permanente.
O salário é, assim, o pagamento parcial da jornada de trabalho do operário e com o qual
este se suprirá no mercado dos meios de subsistência de que necessita para se reproduzir como
homem vivo. O salário é o preço da reprodução de sua existência. Para que seu nível fique
sempre nos limites da subsistência o capital cria nas cidades um “exército industrial de reserva”.
Com isto o salário torna-se meramente o preço da reprodução da força de trabalho do operário,
que se tornará eterno vendedor dela. Para elevar o nível salarial o operário tem que se apropriar
de parte de trabalho excedente, na forma de mais salário. E é em torno da busca desse aumento
que irão se dar os primeiros choques entre capital e trabalho.

A alienação do trabalho

Marx afirma que a especialidade


vitalícia de manejar uma ferramenta parcial
converte-se, com esse processo, na
especialidade vitalícia de servir a uma
máquina especial. O novo processo de
produção e de trabalho vai se utilizar
abusivamente da máquina para transformar
o operário, desde sua infância, em parte de
uma máquina parcial. O filme Tempos
Modernos de Charles Chaplin é um exemplo
de como o homem se torna escravo e
apêndice da máquina.
A máquina aparece como o elo de transformação, não do modo de produção em outro,
mas do homem no processo de trabalho e da mudança do seu papel neste mesmo processo. A
máquina, enquanto meio de produção e meio material de existência do capital passa a ser o
fundamento material do modo de produção capitalista. A grande indústria, ao revolucionar as
relações gerais de produção da sociedade, produz uma nova concepção de trabalho, de vida, de
relação entre os seres humanos. Isto é provocado pela mudança das relações entre o capital e o
trabalho, pois a maquinaria de meio de trabalho, converte-se de imediato, em competidor do
próprio operário e a habilidade deste desaparece. Não se exige mais que o operário produza algo
com uma ferramenta que ele maneje com o movimento de seus músculos. Exige-se, isto sim, que
ele utilize uma máquina que ditará um novo ritmo de trabalho.
Tal fato é decorrente da mudança dos meios de produção gerada pelo desenvolvimento
técnico que levou à mecanização do processo de trabalho e à necessidade de um novo homem
para operacionalizar o processo produtivo, agora desenvolvido sobre novas bases. Não será mais
o homem que dominará a máquina, mas o contrário.
Neste momento, a vida do operário passa a ser determinada pelos ciclos da indústria. Em
fases de desenvolvimento da atividade há um aumento da mão de obra empregada; em fases de
crise e estancamento, liberação de empregados. Isso cria a insegurança e a instabilidade na

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classe trabalhadora, pois os operários vêem-se constantemente atraídos e repelidos do processo


produtivo.
A introdução da máquina, que não tem por objetivo aliviar o trabalho do homem e sim
baratear as economias, acaba produzindo a intensificação do trabalho, desqualifica-o e
transforma o operário em uma parte da máquina. Com isso, o trabalho perde o seu conteúdo e
passa a ser reprimido.

Revolução social

A Revolução Industrial concentrou os trabalhadores em fábricas. O aspecto mais


importante, que trouxe radical transformação no caráter do trabalho, foi esta separação: de um
lado, capital e meios de produção (instalações, máquinas, matéria-prima); de outro, o trabalho.
Os operários passaram a assalariados dos capitalistas (donos do capital).
Em meio a tanta riqueza, vemos que essa nova situação se contrastava com a situação
miserável dos vários operários que trabalhavam nos centros fabris. Essa situação contraditória,
em pouco tempo passou a ser percebida por vários trabalhadores que trocavam o extensivo uso
de sua força de trabalho por salários que não supriam suas necessidades materiais elementares.
Em muitos casos, essa situação era explicada pelo fato das áf bricas reduzirem
sensivelmente a demanda por mão de obra, graças ao uso das máquinas. Nesse contexto, se
organizava uma grande massa de desempregados que se sujeitava a um pagamento baixo
mediante a falta de empregos e a grande disponibilidade de trabalho. Aos poucos, alguns
trabalhadores responderam a essa deplorável realidade.
Uma das primeiras manifestações da Revolução foi o desenvolvimento urbano. Londres
chegou ao milhão de habitantes em 1800. O progresso deslocou-se para o norte; centros como
Manchester abrigavam massas de trabalhadores, em condições miseráveis. Os artesãos,
acostumados a controlar o ritmo de seu trabalho, agora tinham de submeter-se à disciplina da
fábrica. Passaram a sofrer a concorrência de mulheres e crianças. Na indústria têxtil do algodão,
as mulheres formavam mais de metade da massa trabalhadora. Crianças começavam a trabalhar
aos 6 anos de idade. Não havia garantia contra acidente nem indenização ou pagamento de dias
parados neste caso.
A mecanização desqualificava o trabalho, o que tendia a reduzir o salário. Havia
frequentes paradas da produção, provocando desemprego. Nas novas condições, caíam os
rendimentos, contribuindo para reduzir a média de vida. Uns se entregavam ao alcoolismo.
Outros se rebelavam contra as máquinas e as fábricas, destruídas em Lancaster (1769) e em
Lancashire (1779). Proprietários e governo organizaram uma defesa militar para proteger as
empresas.
A situação difícil dos camponeses e artesãos, ainda por cima estimulados por ideias
vindas da Revolução Francesa, levou as classes dominantes a criar a Lei Speenhamland, que
garantia subsistência mínima ao homem incapaz de se sustentar por não ter trabalho. Um
imposto pago por toda a comunidade custeava tais despesas.
Havia mais organização entre os trabalhadores especializados, como os penteadores de lã.
Inicialmente, eles se cotizavam para pagar o enterro de associados; a associação passou a ter
caráter reivindicatório. Assim surgiram as trade unions, os sindicatos. Gradativamente,
conquistaram a proibição do trabalho infantil, a limitação do trabalho feminino, o direito de
greve.
Entre os anos de 1811 e 1812, surgiu na Inglaterra o ludismo, um movimento social
ocorrido na Inglaterra. Contrários aos avanços tecnológicos ocorridos na Revolução Industrial, os
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ludistas protestavam contra a substituição da mão de obra humana por máquinas. O nome do
movimento deriva de um dos seus líderes, Ned Ludd.
Com a participação de operários das fábricas, os "quebradores de máquinas", como eram
chamados os ludistas, fizeram protestos e revoltas radicais. Invadiram diversas fábricas e
quebraram máquinas e outros equipamentos que consideram os responsáveis pelo desemprego
e as péssimas condições de trabalho no período.
O Ludismo enquanto prática de destruição de máquinas passou a ser cada vez mais
hostilizado pelo patronato que recorreram aos parlamentos, visando a criação de leis mais
severas para punir os envolvidos em revoltas. O Reino Unido que já possuía em sua legislação
uma lei datada de 1721 que definia o exílio como pena máxima para a destruição de máquinas,
em 1812 como resultado da oposição contínua a mecanização adotou o Frame-Breaking Act
definindo a pena de morte para casos de destruição de máquinas.
O movimento ludista perdeu força com a organização dos primeiros sindicatos na
Inglaterra, as chamadas trade unions.

Formas de organização do trabalho

Outro tipo de inovação tecnológica é a que altera o processo de produção de trabalho,


objetivando produzir mais em menos tempo. Este é o caso das diversas formas de organização
do trabalho criadas no século XX, que coexistem na atualidade e têm o mesmo objetivo comum,
ou seja, aumentar a lucratividade para ampliar os lucros.

Taylorismo/ Fordismo

No início do século XX, o engenheiro


Frederick Taylor, criou um método de
organização do trabalho que ficou conhecido por
taylorismo. Taylor observou que havia um grande
esbanjamento de tempo durante o processo
produtivo, o que para ele significava tempo
perdido. Assim, cronometrou cada fase do
trabalho e eliminou os movimentos longos ou
inúteis, ou seja, cada trabalhador desenvolveria
uma atividade específica no sistema produtivo da
indústria (especialização do trabalho). Com isso,
a produção dobrou. A cronometragem
estabeleceu, para cada operário, o tempo de
execução de certo trabalho, cabendo aos engenheiros – e não aos trabalhadores – definir esse
tempo.
No taylorismo, o trabalhador é monitorado segundo o tempo de produção, cada indivíduo
deve cumprir sua tarefa no menor tempo possível, sendo premiados aqueles que se sobressaem,
isso provoca a exploração do proletário que tem que se “desdobrar” para cumprir o tempo
cronometrado.
Segundo Taylor, os operários eram incapazes de determinar não apenas o tempo mas
também o tipo de ferramenta que deveriam usar na execução de um trabalho. Taylor deixava
claro em seus escritos que os trabalhadores eram incompetentes por não terem instrução
adequada. Além disso, argumentava que eles muitas vezes se apresentavam indiferentes, não
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tendo vontade para executar de modo satisfatório o que deveriam. Taylor enfatizava a
importância do papel da gerência, cuja função era a de controlar toda a produção; para tanto,
era fundamental que o gerente tivesse pleno domínio de todo o processo produtivo. Desse
modo, Taylor reduziu o trabalho humano a gestos repetitivos, sem permitir ao trabalhador
desenvolver habilidades criativas. O empregado era comparado a uma máquina, passível de ser
“programado”.
O ganho na produção trouxe, porém, sérios problemas para os trabalhadores, que não
eram respeitados, recebiam baixos salários e era explorado.
Dando prosseguimento à teoria de Taylor, Henry Ford, dono de uma indústria
automobilística (pioneiro), desenvolveu seu procedimento industrial baseado na linha de
montagem para gerar uma grande produção que deveria ser consumida em massa. Sabemos
quanto a motorização e a mecanização marcaram a sociedade industrial do Séc. XX: simbólica e
materialmente determinaram não só a produção e o consumo como o próprio conteúdo e a
organização do trabalho.
Historicamente, a indústria automóvel desenvolveu-se de acordo com os princípios da
produção em grande série, postos em prática por Henry Ford em 1913, na sua fábrica de Detroit.
O que Ford na realidade fez, primeiro que os seus competidores, foi juntar e integrar um
conjunto de inovações (técnicas e organização).
Na realidade, Ford é mais do que um grande capitão de indústria: o Fordismo é um
sistema de produção em massa e de consumo em massa, que teve (e ainda) tem grande impacto
na maneira como trabalhamos, vivemos e pensamos. Até aos anos 60 a indústria automóvel
norte-americana e os seus métodos baseados no taylorismo-fordismo reinaram sem
contestação. A partir de 1970, dá-se início a um processo de reestruturação tanto espacial como
organizacional.
Historicamente, foi graças ao taylorismo-fordismo que o automóvel se tornou um
produto de consumo de massas ou pelo menos ao alcance da classe média, e inclusive dos
operários que o fabricavam, graças ao seu baixo preço, aos salários elevados e às próprias
facilidades de crédito introduzidas pela administração da Ford Motor Company.
A intensificação do ritmo de trabalho, graças à especialização, parcelarização e
individualização das tarefas em linhas de montagem mecanizadas, permitiu um considerável
aumento da produtividade, e, por conseguinte o abaixamentos dos custos de produção.
Com uma produção anual de quase 250 mil unidades, Ford consegue baixar o preço do
seu modelo T para os 500 dólares. Comercialmente, o modelo T foi uma história de sucesso:
venderam-se mais de 15 milhões de carros deste tipo até 1927.
Henry Ford surpreendeu o mundo ao anunciar, em 1914, um salário mínimo de US$ 5 por
dia, quando nos Estados Unidos a média salarial era de US$ 2,34 por uma jornada de nove horas.
Fez mais: instituiu a jornada de oito horas e a semana de 40 horas. Condições de trabalho que
virariam bandeiras de sindicatos da América do Norte e da América do Sul. Para os empresários
da época, especialmente os da área de mineração e siderurgia, que olhavam com preocupação o
movimento que passou à história como ‘Fordismo’, ele tinha uma resposta pronta: “Se você
corta os salários, simplesmente corta o número de seus consumidores.”
Estavam lançadas, assim, as condições de trabalho pelas quais muitos sindicatos ao redor
do mundo brigaram durante anos. A diferença é que Ford se antecipou às reivindicações que
fariam parte da agenda dos trabalhadores. Não seriam as únicas mudanças que ele faria na
conturbada relação entre capital e trabalho. O empresário também lançaria as bases sobre as
quais floresceria a classe média americana ao abrir condições de crédito para que todos

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pudessem comprar seus carros. Primeiro, Ford financiou seus próprios empregados. Depois,
estendeu esse crédito aos consumidores.
A cadeia clássica fordiana foi rapidamente imitada e adotada por todos os concorrentes
(nomeadamente na Europa: Citröen, Renault, Fiat, Morris, Opel, Mercedes-Benz, etc.). A
resistência operária (sobretudo da aristocracia operária) à introdução da "organização científica
do trabalho" (como se dizia em França) foi-se esbatendo até à época da grande crise mundial do
capitalismo (1929). Mesmo depois da II Guerra Mundial, é preciso esperar pelos anos 60 para
que o taylorismo-fordismo comece a ser contestado, primeiro do ponto de vista técnico e depois
social. Durante mais de meio século (1910-1965), a indústria norte-americana produzia
anualmente mais de 50% dos veículos automóveis. A supremacia começa a ser posta em causa
pelos construtores europeus e japoneses.

Toyotismo

O Sistema Toyota de Produção (Toyota Production System – TPS) tem sido, mais
recentemente, referenciado como Sistema de Produção Enxuta. A produção enxuta (do original
em inglês, lean) é um sistema de produção muito mais eficiente, flexível, ágil e inovador do que a
produção em massa; um sistema habilitado a enfrentar melhor um mercado em constante
mudança.
A Toyota entrou na indústria automobilística, especializando-se em caminhões para as
forças armadas, mas com o firme propósito de entrar na produção em larga escala de carros de
passeio e caminhões comerciais. No entanto, o envolvimento do Japão na II Guerra Mundial
adiou as pretensões da Toyota.
Com o final da II Grande Guerra em 1945, a Toyota retomou os seus planos de tornar-se
uma grande montadora de veículos. No entanto, qualquer análise menos pretensiosa indicava
que a distância que a separava dos grandes competidores americanos era simplesmente
monstruosa. Costumava-se dizer, há esta época, que a produtividade dos trabalhadores
americanos era aproximadamente dez vezes superior à produtividade da mão de obra japonesa.
Esta constatação serviu para “acordar” e motivar os japoneses a alcançar a indústria americana,
o que de fato aconteceu anos mais tarde.
O fato da produtividade americana ser tão superior à japonesa chamou a atenção para a
única explicação razoável: A diferença de produtividade só poderia ser explicada pela existência
de perdas no sistema de produção japonês. A partir daí, o que se viu foi a estruturação de um
processo sistemático de identificação e eliminação das perdas.
O sucesso do sistema de produção em massa Fordista inspirou diversas iniciativas em
todo o mundo. A Toyota Motor Company. tentou por vários anos, sem sucesso, reproduzir a
organização e os resultados obtidos nas linhas de produção da Ford.
A produção em massa precisava de ajustes e melhorias de forma a ser aplicada em um
mercado discreto e de demanda variada de produtos, como era o caso do mercado japonês. Os
trabalhadores eram sub-utilizados, as tarefas eram repetitivas além de não agregar valor, existia
uma forte divisão (projeto e execução) do trabalho, a qualidade era negligenciada ao longo do
processo de fabricação e existiam grandes estoques intermediários.
A Toyota começou a receber o reconhecimento mundial a partir do crise do petróleo de
1973; ano em que o aumento vertiginoso do preço do barril de petróleo afetou profundamente
toda a economia mundial. Em meio a milhares de empresas que sucumbiam ou enfrentavam
pesados prejuízos, a Toyota Motor Company. emergia como uma das pouquíssima empresas a

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escaparem praticamente ilesas dos efeitos da crise. Este fenômeno despertou a curiosidade de
organizações no mundo inteiro: Qual o segredo da Toyota?!!!
Na verdade, a essência do Sistema Toyota de Produção é a perseguição e eliminação de
toda e qualquer perda. É o que na Toyota se conhece como princípio do não-custo. Este princípio
baseia-se na crença de que a tradicional equação Custo Lucro = Preço, deve ser substituída por
Preço - Custo = Lucro
Segundo a lógica tradicional, o preço era imposto ao mercado como resultado de um
dado custo de fabricação somado a uma margem de lucro pretendida. Desta forma, era
permitido ao fornecedor transferir ao cliente os custos adicionais decorrentes da eventual
ineficiência de seus processos de produção.
Com o acirramento da concorrência e o surgimento de um consumidor mais exigente, o
preço passa a ser determinado pelo mercado. Sendo assim, a única forma de aumentar ou
manter o lucro é através da redução dos custos.
Na Toyota, a redução dos custos através da eliminação das perdas passa por uma análise
detalhada da cadeia de valor, isto é, a sequência de processos pela qual passa o material, desde
o estágio de matéria-prima até ser transformado em produto acabado.
A urgência na redução dos custos de produção fez com que todos os esforços fossem
concentrados na identificação e eliminação das perdas. Esta passou a ser a base sobre a qual está
estruturado todo o sistema de gerenciamento da Toyota Motor Company
O objetivo da Toyota é atender da melhor maneira as necessidades do cliente,
fornecendo produtos e serviços da mais alta qualidade, ao mais baixo custo e no menor time
possível. Tudo isso enquanto assegura um ambiente de trabalho onde segurança e moral dos
trabalhadores constitua-se em preocupação fundamental da gerência.

O Just in time

Outra inovação japonesa tem sido implantada em todo o mundo; o Just in time – “tempo
justo”, que determina que nada deve ser produzido, transportado ou comprado antes da hora
exata. Pode ser aplicado em qualquer organização, para reduzir estoques e os custos
decorrentes. As atividades diárias da fábrica são programadas em função das demandas: quanto
produzir? Qual é a cor preferida? Quem vai querer os acessórios? As respostas, definidas pela
rede de distribuição e vendas, desencadeiam a produção. Assim, o capital não fica empatado nos
depósitos da indústria, aguardando as vendas, e pode se reproduzir no sistema financeiro
voltado à produção quando preciso.
Com este sistema, o produto ou matéria prima chega ao local de utilização somente no
momento exato em que for necessário. Os produtos somente são fabricados ou entregues a
tempo de serem vendidos ou montados.
O conceito de just in time está relacionado ao de produção por demanda, onde
primeiramente vende-se o produto para depois comprar a matéria prima e posteriormente
fabricá-lo ou montá-lo.
Nas fábricas onde está implantado o just in time o estoque de matérias primas é mínimo e
suficiente para poucas horas de produção. Para que isto seja possível, os fornecedores devem ser
treinados, capacitados e conectados para que possam fazer entregas de pequenos lotes na
frequência desejada.
A redução do número de fornecedores para o mínimo possível é um dos fatores que mais
contribui para alcançar os potenciais benefícios da política just in time. Esta redução, gera,
porém, vulnerabilidade em eventuais problemas de fornecimento, já que fornecedores
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alternativos foram excluídos. A melhor maneira de prevenir esta situação é selecionar


cuidadosamente os fornecedores e arranjar uma forma de proporcionar credibilidade dos
mesmos de modo a assegurar a qualidade e confiabilidade do fornecimento. Um dos casos em
que esta redução trouxe resultados negativos foi depois do terremoto que devastou o Japão em
março de 2011, quando muitas indústrias (inclusive as montadoras da Toyota) ficaram sem
fornecimento de matérias-primas por meses, afetando também a produção em outras plantas ao
redor do mundo. Os grandes fornecedores da montadora também compravam suas matérias-
primas de poucos pequenos fornecedores, o que contribuiu para que toda a cadeia de
suprimentos ficasse concentrada na dependência de poucas fábricas, agravando ainda mais o
problema neste episódio do Japão.

Tipos de indústrias

A preponderância de um fator ou de outro na alocação industrial vai depender do tipo de


indústria a ser analisada. As indústrias de bens de produção - também chamadas indústrias de
base, pesadas ou intermediárias -, por transformarem grandes quantidades de matérias-primas
ou de energia (como é o caso das siderúrgicas, das metalúrgicas, das petroquímicas e das
indústrias de cimento), tendem a se localizar perto de fontes fornecedoras ou de portos e
ferrovias, o que facilita a recepção de matérias-primas e o escoamento da produção.
As indústrias de bens de capital (como as de máquinas e equipamentos) têm um papel
fundamental: equipar outras indústrias, leves ou pesadas, sem o que seria impossível a produção
de bens para um amplo mercado consumidor. Essas indústrias tendem a se localizar perto de
empresas consumidoras de seus produtos, ou seja, em grandes regiões industriais.
Chegamos, por fim, àquelas indústrias mais espalhadas espacialmente, no plano nacional
e internacional, que se instalam preferencialmente nos lugares onde há maior disponibilidade de
mão de obra e maior facilidade de acesso ao mercado consumidor. Graças à melhoria dos
sistemas de transporte, elas encontram-se localizadas em grandes, médios e pequenos centros
urbanos ou mesmo na zona rural de diversos países. Trata-se das indústrias de bens de consumo
ou leves, os quais podem ser não-duráveis (alimentos, bebidas, remédios etc.), semiduráveis
(vestuário, calçados etc.) ou duráveis (móveis, eletrodomésticos, automóveis, aparelhos
eletrônicos etc.). A produção, portanto, destina-se a um mercado consumidor mais amplo: ao
abastecimento da população em geral.

As consequências da Revolução Industrial

A partir da Revolução Industrial o volume de produção aumentou extraordinariamente: a


produção de bens deixou de ser artesanal e passou a ser maquinofaturada; as populações
passaram a ter acesso a bens industrializados e deslocaram-se para os centros urbanos em busca
de trabalho. As fábricas passaram a concentrar centenas de trabalhadores, que vendiam a sua
força de trabalho em troca de um salário.
Outra das consequências da Revolução Industrial foi o rápido crescimento econômico.
Antes dela, o progresso econômico era sempre lento (levavam séculos para que a renda per
capita aumentasse sensivelmente), e após, a renda per capita e a população começaram a
crescer de forma acelerada nunca antes vista na história. Por exemplo, entre 1500 e 1780 a
população da Inglaterra aumentou de 3,5 milhões para 8,5, já entre 1780 e 1880 ela saltou para
36 milhões, devido à drástica redução da mortalidade infantil.

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A Revolução Industrial alterou completamente a maneira de viver das populações dos


países que se industrializaram. As cidades atraíram os camponeses e artesãos, e se tornaram
cada vez maiores e mais importantes.
Na Inglaterra, por volta de 1850, pela primeira vez em um grande país, havia mais pessoas
vivendo em cidades do que no campo. Nas cidades, as pessoas mais pobres se aglomeravam em
subúrbios de casas velhas e desconfortáveis, se comparadas com as habitações dos países
industrializados hoje em dia. Mas representavam uma grande melhoria se comparadas às
condições de vida dos camponeses, que viviam em choupanas de palha. Convivia com a falta de
água encanada, com os ratos, o esgoto formando riachos nas ruas esburacadas.
O trabalho do operário era muito diferente do trabalho do camponês: tarefas monótonas
e repetitivas. A vida na cidade moderna significava mudanças incessantes. A cada instante,
surgiam novas máquinas, novos produtos, novos gostos, novas modas.

Referências Bibliográficas

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