CURSO DE REVISÃO DE TEXTOS - UFRRJ

AVALIAÇÃO PRÁTICA

Nome:

Faziam 15 anos que não via Rosa. Ela parecia ser uma mulher forte, mais ainda sim
sonhadora. Em princípio, percebi que ela gostava de mostrar seu caráter rígido e austero,
fazendo com que fosse difícil de descobrir onde ela queria chegar com esse
comportamento. Mais ela gostava dos romances e fugia dos realismos da vida. Era uma
ferrenha defenssora de Capitu. Argumentava tão bem sua inocência que parecia que ela
mesma tivesse escrito tal história. Adorava assistir os filmes clichês de comédia romântica
em que o mocinho corre atrás da mocinha ingênua. Esse seu gosto por tais obras entregava
ela; eu podia ver muito bem isso através do seu rosto e das suas expressões endurecidas
pelas cicatrizes da vida. Haviam muitos caras apaixonados por Rosa, mas ela permanecia
sozinha por opção. Gostava de ser a autora da própria vida, desenhava suas ações com as
suas mãos cansadas, mas firmes. Dispensava ser dependente daqueles que prometiam
mundos e fundos para ela, por que sabia que não queria repetir as velhas histórias que
moldaram inúmeras pobres mulheres. Rosana, Luisa, Giovana, Maria. Eram tantas que já
nem se lembrava de todos os nomes. Penso que se eu tivesse trago meu chapéu, aquele
que usava nos nossos encontros, teria tido a coragem súbita de me reapresentar para ela.
Mais não estava com o chapéu e não tinha a coragem porquê falhei com ela. Sabia que
Rosa, mesmo não admitindo, no fundo gostava de mim. Eu conseguia perceber seu
apresso, mesmo sendo raros os momentos. Então fiquei no outro lado da rua, olhando para
sua mesa enfrente ao café. Torcendo pra que pudesse olhar para mim, me reconhecendo e,
por sua expressão, me convidasse para uma conversa sem mágoas. Estava disposto a
voltar no tempo, a deixar compromissos e problemas para traz. Só precisava do seu olhar,
esse que desde o início tem um poder decisivo sobre mim, que trás o meu melhor para a
superfície e que deixa tudo de ruim que existe para traz. Pedi aos pássaros que vêm tudo, a
todos os seres vivos, até ao universo para que a única mulher que amei pudesse progetar
seus olhos em mim. Aquele dia não poderia ser em vão, tinha um motivo para Rosa ter
aparecido na minha frente e eu não poderia perder essa última chance.
Depois de 3 horas tomando seu chá, comendo seus brioches e lendo um livro Rosa se
levanta e vem na minha direção. Seus olhos estão mirando os meus, confirmando o
contato. Ela chega a um metro de onde estou e informa:
- Senhor, sua sacola está no chão.
Eu demoro a comprender sua frase e respondo em seguida:
- Ah, o-obrigado, obrigado!
- Por nada! Passar bem! - Rosa responde e ajeita seu vestido antes de tomar uma direção e
ir embora para sempre da minha vida.