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ABSTRACT: The present work objective, through ontological methods, for analysis of
women within the procedural process. Thus, we present as conquerors executed by this
genre and demonstrate that, because female and male individuals have reached levels
never seen before by Western society, it is still possible to analyze precepts and prejudices
that make a woman “inferior” to men. It gave way, to an analogical view, to contribute to
the form of indignation and, as Judith Butler believes, to the formation of alliances. This is
or would lead to a struggle for gender equality and not just a formal one, to effectively
make a woman conquer her social space or to return an audience.
No Brasil, durante o século XIX ainda se utilizava as Ordenações Filipinas no direito.
Essa Lei era fundamentada em uma visão patriarcal da Idade Média, a qual estabelecia as
relações de propriedade e do papel de submissão da mulher ao homem, reforçando a
incapacidade feminina e, com isso, a desigualdade de gênero. Assim, quando a mulher não
seguia esse “direito” de obediência, o marido poderia aplicar castigos e até mesmo matá-la. Já
no âmbito civil, a mulher não poderia exercer seus direitos se não fosse permitida pelo marido
a fazê-lo. Assim, apesar de o texto constitucional de 1824 dispor que a lei seria igual para
todos, a mulher não estava enquadrada, uma vez que só eram considerados cidadãos homens
maiores de 25 anos e que possuíssem renda de 100 mil-réis, ou seja, o que gerou a exclusão
de mulheres, crianças e pobres (estrangeiros e negros).
Com isso, aos poucos as mulheres começaram a tomar certo espaço social com
pequenas lutas. Como em 1879, em que alcançaram o direito de cursar ensino superior,
mesmo com o preconceito social, em 1850 em que puderam começar a trabalhar como
comerciantes, sendo um passo para a autonomia financeira e em 1890 quando foi
promulgado no Brasil o Decreto 181 que retirou o direito dos homens sobre o corpo das
mulheres, ou seja, os homens não poderiam impor mais castigos corporais às esposas e aos
filhos.
A primeira Constituição da República brasileira de 1891 reconhece todos perante a lei,
excluindo como cidadãos votantes os mendigos, os analfabetos (sociedade pobre e mulheres),
os religiosos e os inelegíveis. Dessa forma, a perspectiva da minoria feminina esperava que
enfim poderia deter seu direito como cidadã, todavia a jurisprudência da época decidiu que
por conta do vocábulo “cidadão” só estariam inclusos homens. Com essa nova Constituição
brasileira, veio a necessidade de formulação de um Código Civil. Assim, em 1916 é
instaurado o Código Civil que manteve os princípios conservadores das Ordenações
Filipinas.
Nesse código a mulher era tida como relativamente incapaz e seu domicílio é o do
marido. O homem permaneceu como chefe da sociedade conjugal e com o pátrio poder. Havia
ainda, o poder de desquite caso a mulher não fosse mais virgem. Para além, toda a atividade
feminina fora do domicílio deveria ser previamente autorizada pelo marido. Em 1932 houve
uma espécie de estabelecimento de licença à maternidade para as trabalhadoras, como
também foi proibido o trabalho noturno em condições insalubres, perigosas e penosas para a
mulher. Nesse mesmo ano houve a promulgação do Código Eleitoral que reconheceu,
finalmente, o direito ao voto pela mulher capaz, livre e maior de 21, todavia, tinha
necessidade de deter economia própria.
Em vista disso, na Constituição de 1934 da Era Vargas, o legislador finalmente
reconheceu a mulher como cidadã, e não fez desse modo, nenhum tipo de distinção quanto ao
gênero, nascimento, sexo, raça, profissões ou do país, classe social, riqueza, crenças religiosas
ou ideias políticas. Foi a primeira vez que se preocupou devidamente com o Princípio da
Isonomia. Concedeu o direito ao voto aos maiores de 18 anos e proibiu a diferença de salário
para o mesmo trabalho devido à nacionalidade, estado civil, sexo ou idade. Ademais, em 1936
foi eleita a primeira deputada do Brasil, Carlota Pereira de Queirós.
Em 1962 entra em vigor o Estatuto da Mulher Casada, que enfim reconhece a plena
capacidade da mulher, elevando-a a colaboradora da sociedade conjugal, como também
determina que a guarda dos filhos menores fosse da mãe, dispensa a autorização do marido
para o trabalho e separa os bens conquistados por elas, dos bens do marido. E, além dos
outros direitos conquistados no decurso, em 1977 houve a instauração da Lei do Divórcio, que
possibilitou à mulher a escolha de colocar o sobrenome do marido ou não; direito recíproco de
pensão alimentícia e o privilégio da mulher na guarda dos filhos, modificando o regime de
bens, que no silêncio, passa a ser parcial de bens.
Apesar de inúmeros direitos aqui já listados, muitas mulheres brasileiras já os
exerciam. Como o direito ao trabalho que já era exercido pelas mulheres negras em nossa
sociedade devido à falta de rentabilidade das famílias negras na época em que foram
simplesmente soltas em um contexto de despreparo da sociedade, tendo elas
que se submeterem a trabalhos precarizados que a sociedade branca e dominante não queria
exercer. Aqui entra a ideia de “alianças” de Judith Butler, que defende que todos os grupos
discriminados na sociedade devem se juntar de forma a reivindicar seus direitos, e que quando
um direito de uma pessoa está sendo ferido, o direito de todos está sendo ferido.
Consequentemente, as mulheres negras se juntaram às brancas para conquistarem seus
direitos, ao mesmo tempo em que já exerciam atividades que as brancas não poderiam
exercer. Sendo assim, deve-se analisar o ponto de partida o qual estamos saindo, ou seja, a
história sempre é contada por homens brancos e dominantes sobre o pretexto de que são bons
e entendedores. Todavia, toda conquista traz uma luta por trás, e cabe a sociedade dar ouvido
a essas vozes que são sempre silenciadas. Para além das ideias de Butler, temos a ideia Helena
Hirata, que afirma que os trabalhos exercidos pelas mulheres são aqueles que os homens não
desejam desempenhar, criando o estereótipo dos tipos empregatícios de cada gênero.
Com isso, tem-se que os direitos femininos formam uma longa trajetória ao longo da
história brasileira, que sempre foi muito conservadora. Todavia, ao longo do texto há de se
demonstrar que apesar da ideia de liberdade já ter sido alcançada em constituições anteriores e
na presente Constituição, permanecem traços da sociedade misógina e desigual que perpetua
as estruturas discriminatórias ao longo das gerações.
Sendo assim, é comum no dia a dia do trabalho as mulheres passarem por situações
como o “manexplaning”, “manterrupting”, pois, estruturalmente, a voz do homem é “maior” e
carrega consigo mais autoridade do que a voz feminina. Para que haja uma equiparação entre
os gêneros na área do Processo Civil é necessário que haja uma garantia de representatividade
e de que a fala das mulheres não vá serem cortadas simplesmente pela condição de gênero.
Dentro da área do direito há subdivisões em que a mulher se destaca como em família,
consumidor e trabalho, por exemplo, enquanto a prática processual fica a cargo masculino.
Isso, pois, há a falsa ilusão de que a mulher tem mais domínio nessas áreas. Visto isso, (CNJ,
2014) o número de magistradas em primeira instância é de 36%, enquanto 64% eram
ocupados por homens; nos tribunais elas ocupam 21,5% dos desembargadores; nos tribunais
superiores ocupam 18,4%.
Desse modo, segundo o jornal PÚBLICO, recentemente em Portugal, Pedro Proença,
advogado de um homem condenado por violar a própria filha, apresentou um requerimento
pedindo que a juíza desembargadora Adelina Barradas de Oliveira se afastasse do processo
para que fosse substituída por um juiz desembargador homem. Isso foi requerido pelo simples
fato de que a desembargadora era mulher e que tinha filha, o que a seu ver provocaria uma
especial e mais gravosa oscilação na neutralidade exigida perante o mesmo e que é
humanamente impossível a uma juíza mulher e mãe ser tão imparcial quanto um juiz homem.
Com isso, vemos que o advogado pressupõe que a desembargadora vai levar pré-
julgamentos a análise do caso ao quebrar o princípio da imparcialidade pelo simples fato de
ser mulher. Sendo assim, tem-se que são justificativas repugnantes que fomentam a
desigualdade de gênero. Ademais, sendo o ato de julgar o mais importante ato processual
dentro de todo o contexto do CPC, o fato de ser mulher e mãe é positivo, pois concede a
mulher um olhar mais humilde e com mais realidade, vislumbrando prismas das relações
sociais que nem sempre são bem percebidos e avaliados.
4. Conclusão
REFERÊNCIAS
ASPERTI, Maria Cecília de Araujo. Acesso à Justiça e estereótipos de gênero no
Judiciário: o caso propaganda “Musa do Verão 2006”. In: Mulher, Sociedade e
Vulnerabilidade. Org.: Patrícia Tuma Martins Bertolin; Denise Almeida de Andrade; Monica
Sapucaia Machado. Erechim: Devaint, 2017. p. 99-117.
BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. - 11° ed. - Rio de Janeiro 160p. Bourdieu
tradução Maria Helena Bertrand Brasil, 2012.
CUSACK,Simone. Eliminating Judicial Stereotyping: Equal access to justicefor women i
n gender-based violence cases.Office of the High Commissioner for Human Rights.
Final Paper, v.1. 2014.
MENDES, Filipa Almeida. Pedro Proença: TVI dispensa advogado que tentou afastar juíza
por ser “mulher e certamente mãe”. Jornal Público. Disponível em:
https://www.publico.pt/2019/04/12/sociedade/noticia/tvi-dispensa-advogado-quis-afastar-
juiza-mulher-certamente-mae-1869036. Acesso em 02/12/19.
HILL, Flávia Pereira. Uns mais iguais que os outros: em busca da igualdade (material) de
gênero no processo civil brasileiro. Revista Eletrônica de Direito Processual – REDP. Rio
de Janeiro, ano 13, v. 20, nº 2, Maio a Agosto de 2019.