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Thais Madeira
RA 229887
Guia de leitura
O texto de Esping-Andersen tem por objetivo propor um modelo teórico para dar conta de
certas evidências a respeito da família em sociedades pós-transicionais – em especial no que diz
respeito à fecundidade, ao trabalho feminino, à equidade de gênero e à estabilidade das uniões.
Antes disso:
“As explicações providas por Chesnais e McDonald são semelhantes e enfatizam o que
McDonald chama de institucionalização incompleta. Em todos os países pós-transicionais da
Europa, como sugerem Chesnais e McDonald, o papel das mulheres mudou marcadamente. Na
maioria dos países, as mulheres são tão bem-educadas como os homens e participam da força de
trabalho em grande número, frequentemente ao longo de suas vidas. As mulheres também concebem a
si mesmas como provedoras independentes, e não apenas como esposas e mães, uma atitude que pode
ter refletido no aumento das taxas de divórcio em muitos países. Chesnais e McDonald sugerem que
onde os governos acomodaram essa mudança no papel e orientação das mulheres e fornecem o
amparo social que possibilita às mulheres permanecer independentes enquanto elas criam seus
filhos, as mulheres são de fato capazes de ter os dois filhos que a maior parte das pessoas
consideram ideal em sociedades pós-transicionais. Onde pouca ou nenhuma acomodação foi feita
com relação às mudanças no papel das mulheres, contudo, elas enfrentam conflitos entre manter sua
independência e ter filhos. O resultado é o adiamento do casamento e da gravidez e uma tendência
de ter somente um filho por parte das mulheres. Assim, tanto Chesnais quanto McDonald atribuem a
variação pós-transicional na fecundidade à extensão com que as instituições estatais têm acomodado
mudanças no sistema de gênero. Caso os papéis familiares mudassem em um sentido favorável às
atividades profissionais de esposas – por exemplo, através de divisão igualitária do serviço doméstico
e da criação dos filhos entre marido e esposa – isto também poderia sustentar a fecundidade a níveis
de reprodução” (Mason, 2001, p. 171 tradução minha).
* Outras correntes teóricas, como aquelas propostas por Gary Becker, pelos teóricos da
Segunda Transição Demográfica e mesmo por teorias da pós-modernidade não seriam capazes de
explicar algumas evidências recentes, sugerindo que mesmo que algumas de suas premissas não
sejam inteiramente inválidas, suas implicações e efeitos talvez o sejam.
- “Essas duas bases teóricas dificilmente poderiam ser mais diferentes entre si, e ainda
assim retratam uma evolução similar rumo ao ‘menos família’: menos casamentos e filhos; maior
instabilidade de casais” (p. 1, tradução minha)
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DEMOGRAFIA
* Quais são essas evidências que põe em xeque a tese da “erosão da família”?
- Em primeiro lugar, há evidências crescentes de que nem o declínio da fecundidade ou o
boom de divórcios refletem qualquer alteração radical nas preferências sobre família das pessoas;
- Em segundo lugar, dados recentes apontam para uma reversão das tendências observadas
durante a segunda metade do século XX – em especial com relação às taxas de fecundidade, que
agora se encontram positivamente relacionadas ao desenvolvimento econômico, renda e níveis de
emprego femininos.
- Em terceiro lugar, a inversão também se manifesta no nível micro. O gradiente
educacional do comportamento familiar é elevado (ou seja, as pessoas com maior nível educacional
apresentam os comportamentos observados nas preferências sobre família) (p. 2-3).
→ Nesse sentido, seria possível afirmar que a tendência de “menos família” seria
apenas transitória e não o marcador de uma nova era.
Que abordagem teórica utilizar, então? Os autores apresentam uma nova proposta.
* Como avaliar as evidências empíricas a partir de um ponto de vista que não considera
mais os prognósticos das teorias anteriormente citadas?
- Há algumas convergências entre alguns países nos últimos anos sobre a queda nas taxas
de fecundidade e nas taxas de emprego de mulheres com filhos na pré-escola. Contudo, algumas
diferenças persistem, principalmente em termos do ritmo das mudanças (por exemplo, em grupos de
países com similaridade: França, Holanda e os países nórdicos; o Reino Unido e os Estados Unidos
e Alemanha, Itália, Japão, Portugal e Espanha);
- Para alguns países, mesmo depois de considerados os efeitos tempo e quantum, é possível
identificar recuperação das TFTs. E isso ocorreu mais marcadamente em países com maior
igualdade de gênero – e há ainda outros indicadores, como a estabilidade de uniões, que é mais
evidente entre aqueles com maior nível de escolaridade nesses países (p. 5).
PROPOSTA
Proposta do equilíbrio múltiplo, em que equilíbrio é entendido como uma condição na qual
indivíduos agem segundo expectativas bem definidas com relação às estratégias de ação dos outros
– ou seja, sobre adequação às normas de conduta social. Essa abordagem, que operacionaliza
conceitos sobre a dinâmica da ação social, também incorpora a ideia de mudança nos padrões de
ação para determinada dimensão do social. A adequação às normas convive com o comportamento
desviante. Quando não há clareza em termos de expectativa em torno do que é considerado como
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respeito à mudança de uma confiança social muito localizada ou familista para outra mais
generalizada no que diz respeito a tomadas de decisão pertinentes. Alguns exemplos são a confiança
no mercado de trabalho ou no cuidado infantil externo, como as creches, como garantias para a
prevalência das preferências quanto ao tamanho de família. O segundo diz respeito ao quanto a
estratificação social pode agir como barreira ao processo de difusão. Ela pode ser expressa por
lacunas educacionais entre os diversos grupos sociais, por diferenças de classe, raça e etnia, para
citar alguns exemplos.
O modelo é aplicado em evidências sobre estabilidade e instabilidade de uniões. A hipótese
é a de que quanto mais uma sociedade avança rumo a um contexto de normas de gênero igualitárias
universalmente compartilhadas, mais provável será o aumento de resultados pró-família. A medida
de normas igualitárias de gênero foi obtida de uma questão retirada do European World Values
Survey (“Quando os empregos são escassos, homens deveriam ter mais direito a um trabalho do que
mulheres: concorda, nem concorda nem discorda ou discorda?”) e a medida de instabilidade de
uniões foi obtida por meio do percentual da população entre 30 e 60 anos de idade divorciada,
separada e solteira dos anos 1980 e 2000 (p. 22).
A hipótese foi confirmada com os dados: “o efeito da instabilidade reduzida é
especialmente nítido naqueles países como a Dinamarca, Países Baixos e a Suécia, que mais se
aproximam de uma igualitarismo de gênero hegemônico” (p. 24).
Referências
Esping-Andersen, G., & Billari, F. C. (2015). Re-theorizing family demographics. Population and
Development Review, 41(1), 1–31.
Mason, K. O. (2001). Gender and Family Systems in the Fertility Transition. Population and
Development Review, 27(2001), 160–176.