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: Organizadores
UFPA
ANNANINDEUA
ISBN: 978-65-80307-03-6
Organizadores
Athos Matheus da Silva Guimarães
Wendell P. Machado Cordovil
ISBN: 978-65-80307-03-6
Ananindeua, 2019
1
Copyright © by Organizadores e autores
900
GUIMARÃES, Athos Matheus da Silva; CORDOVIL, Wendell P.
Machado [orgs.]. II Simpósio Online de História dos Ananins:
Ensino, Pesquisa, Extensão. Ananindeua [PA]: Editora Cordovil
E-books, 2019.
ISBN: 978-65-80307-03-6
Disponível em: https://iisimpoananin.blogspot.com/
2
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ................................................................................... 9
UM CONTO A PARTIR DO CANTO: AS POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES DE PELÉ DO
MANIFESTO PARA OS DEBATES ÉTNICOS-RACIAIS EM SALA DE AULA ...................... 15
Emily Maria Pantoja Maia .................................................................. 15
O ENSINO DE HISTÓRIA E AS POSSIBILIDADES DE COMBATE À CORRUPÇÃO: DO DEBATE
À AÇÃO CIDADÃ ALÉM DA ESCOLA ............................................................. 30
Marcos de Araújo Oliveira ................................................................. 30
A CONTRIBUIÇÃO DO ENSINO RELIGIOSO PARA A FORMAÇÃO DE VALORES DO ALUNO. 42
Talita Souza Da Rocha Rebello[1] ......................................................... 42
André Dias Martins[2] ...................................................................... 42
O USO DA INTERNET NAS AULAS DE HISTÓRIA: UMA FERRAMENTA EDUCATIVA ......... 57
Rafael Noschang Buzzo ..................................................................... 57
REPENSANDO O TRADICIONAL: A NOVA HISTÓRIA POLÍTICA E O ENSINO DE HISTÓRIA . 68
Ernesto Padovani Netto ..................................................................... 68
Daniel Rodrigues Tavares .................................................................. 68
CINEMA E MEDIEVO: MEDIEVALIDADE E REMINISCÊNCIAS MEDIEVAIS EM LADYHAWKE
(1985) E O NOME DA ROSA (1986) ............................................................. 75
Marcelo Gonçalves Ferraz .................................................................. 75
NATUREZA E ENSINO DE HISTÓRIA EM SANTA IZABEL DO PARÁ ........................... 86
Ligia Mara Barros Ribeiro .................................................................. 86
HISTÓRIA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA: CAMINHOS PARA O RECONHECIMENTO
MULTICULTURAL NO BRASIL.................................................................... 98
Camíla Joseane e Sousa Rios Costa ....................................................... 98
OS PERIGOS DE UMA HISTÓRIA ÚNICA: O ENSINO DE HISTÓRIA E A DIVERSIDADE
CULTURAL ...................................................................................... 110
Rayme Tiago Rodrigues Costa ........................................................... 110
O USO DE FONTES HISTÓRICAS NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM E AS
POSSIBILIDADES JUNTO AO CINEMA ......................................................... 121
Lays Fernanda Oleniuk ................................................................... 121
ENSINO DE CONCEITOS HISTÓRICOS ATRAVÉS DA FICÇÃO - POSSIBILIDADES DO USO DO
CINEMA NO ENSINO FUNDAMENTAL ......................................................... 128
Kédson Nascimento Maciel .............................................................. 128
“LUTA E APRENDIZAGEM”: VALORIZAÇÃO DA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA NO
COLÉGIO MILITAR TIRADENTES EM CAXIAS-MA............................................. 141
Ayrton Costa Da Silva..................................................................... 141
3
Camila Joseane E Sousa Rios Costa ..................................................... 141
Mirian Da Silva Costa ..................................................................... 141
COMUNIDADES TRADICIONAIS NO ENSINO DE HISTÓRIA: PARA ALÉM DOS ESTEREÓTIPOS
................................................................................................... 148
Francicleia Ramos Pacheco ............................................................... 148
Elbia Cunha de Souza ..................................................................... 148
POR QUE ESTUDAR IDADE MÉDIA NO BRASIL? .............................................. 155
Henrique De Melo Kort Kamp .......................................................... 155
AS CONTRIBUIÇÕES DE PAULO FREIRE PARA O ENSINO DA HISTÓRIA ................... 166
Aline Nunes Rangel ....................................................................... 166
A REFORMA DE LUTERO?: ANÁLISE DA NARRATIVA SOBRE REFORMA PROTESTANTE NOS
LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA ............................................................. 169
Layane De Souza Santos .................................................................. 169
O AGRÁRIO EM NARRATIVAS ESCOLARES ................................................... 185
Athos Matheus da Silva Guimarães .................................................... 185
Francivaldo Alves Nunes ................................................................. 185
IDENTIDADE & MEMÓRIA: AS “MULHERES UCRANIANAS” EM PRUDENTÓPOLIS/PR .... 196
Nikolas Corrent ............................................................................ 196
GÊNERO & HISTÓRIA: UMA QUESTÃO DE PODER E SUBJETIVIDADE ..................... 210
Nikolas Corrent ............................................................................ 210
O GOIÁS DENTRO DE UM CONCEITO DE SERTÃO. E AS RELAÇÕES PARA COM UM
PROJETO DE NAÇÃO ........................................................................... 223
Cesar Augusto Neves Souza ............................................................. 223
DAS CIDADES-ESTADOS ITALIANAS ÀS PROVÍNCIAS UNIDAS DA HOLANDA: A GUERRA DOS
TRINTA ANOS SOB UMA PERSPECTIVA ARRIGHIANA ....................................... 234
Victor Domingues Ventura Pires ........................................................ 234
Naiane Inez Cossul ........................................................................ 234
CAPARAÓ: GUERRILHA, RESISTÊNCIA E DIFICULDADES DE INSERÇÃO (1964 - 1967) .. 245
Alaéverton Andrade ....................................................................... 245
EM DEFESA DA PROPRIEDADE OU DA VIOLÊNCIA NO CAMPO: A FALA DO PRESIDENTE
BOLSONARO AOS RURALISTAS................................................................ 259
Francivaldo Alves Nunes .................................................................. 259
HISTÓRIA E POLÍTICA EXTERNA: PERSPECTIVAS PARA O GOVERNO BOLSONARO ..... 271
Danilo Sorato Oliveira Moreira ......................................................... 271
Tiago Luedy Silva.......................................................................... 271
O PENSAMENTO DE POLÍTICA EXTERNA DE RIO BRANCO ANTES DE SER BARÃO ....... 277
Danilo Sorato Oliveira Moreira ......................................................... 277
4
JOÃO MATTOS: UM PADRE CORONEL NO INTERIOR DAS MINAS GERAIS (SÃO GONÇALO
DO ABAETÉ, 1920-1968) ...................................................................... 286
Edivaldo Rafael de Souza................................................................. 286
ENTRETENIMENTO E/OU ANÁLISE SOCIAL? UM SUCINTO ESTUDO SOBRE ALGUMAS
LETRAS DE MÚSICAS INTERPRETADAS PELA BANDA MAMONAS ASSASSINAS NA DÉCADA
DE 1990 ......................................................................................... 292
Edivaldo Rafael de Souza................................................................. 292
AS SÁTIRAS DE TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA: FERRAMENTAS PARA HISTÓRIA E
LITERATURA .................................................................................... 303
Leonardo Paiva Monte .................................................................... 303
Lilian Bento ................................................................................. 303
O PROTAGONISMO DA “RAINHA DOS MIL DIAS”: ANA BOLENA (1501-1536) E AS NOVAS
NARRATIVAS NA HISTÓRIA E LITERATURA JUVENIL ....................................... 313
Marcos de Araújo Oliveira ............................................................... 313
AS INTERAÇÕES SOCIAIS NO COTIDIANO NA AMÉRICA PORTUGUESA: CONCEBENDO OS
DESCLASSIFICADOS COMO SUJEITOS HISTÓRICOS ......................................... 324
Daniel Fagundes de Carvalho Machado ............................................... 324
NAS LENTES DA HISTÓRIA: UM ESTUDO ACERCA DA PRESENÇA NEGRA E INDÍGENA A
PARTIR DO PATRIMÔNIO CULTURAL DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS - AL .................... 338
Aline de Freitas Lemos Paranhos ........................................................ 338
CURAS E BENZEÇÃO EM IRATI-PR ............................................................ 348
William Franco Gonçalves................................................................ 348
A PEÇA VOYAGEURS IMMOBILES DE PHILIPPE GENTY – ENSAIO TEÓRICO ENTRE
SEXUALIDADE E PAPEL ........................................................................ 359
Maicon Douglas Santos Kossmann ....................................................... 359
JUÍZO FINAL E DANSE MACABRE: A MORTE E A ARTE NA IDADE MÉDIA ................. 374
Pablo Rodrigo Barreto Coelho ........................................................... 374
CORREIO DO POVO: MODERNIZAÇÃO, ASCENSÃO E QUEDA DO JORNALISMO GAÚCHO
................................................................................................... 386
Pablo Rodrigo Barreto Coelho ........................................................... 386
NAS TRILHAS DO (I) MATERIAL: HISTÓRIA E MEMÓRIA DO CASARÃO PADRE SÃO
PALÁCIO, EM PIRACURUCA-PI ................................................................ 398
Paulo Tiago Fontenele Cardoso.......................................................... 398
Pedro Pio Fontineles Filho ............................................................... 398
A IMIGRAÇÃO AÇORIANA PARA O GRÃO-PARÁ NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XVIII
(1748 - 1778) ................................................................................... 412
Larissa Rafaela Pinheiro Alencar ........................................................ 412
André Vinicius Silvestre Cardoso ....................................................... 412
5
“CONFLITOS E PODER”: AS DENÚNCIAS DOS MORADORES CONTRA OUVIDOR JOÃO
MENDES DE ARAGÃO NO GRÃO PARÁ E MARANHÃO NO SÉCULO XVII E XVIII ........... 426
Ayrton Costa da Silva. .................................................................... 426
Orientador: Dr. Eloy Barbosa de Abreu................................................. 426
JAPÃO DO SÉCULO XVI E XVII: DA EXPANSÃO COMERCIAL AO ISOLAMENTO ........... 434
Kleiton Tariga de Mattos ................................................................. 434
Naiane Inez Cossul ........................................................................ 434
AÇÚCAR E ESCRAVIDÃO NO OESTE PAULISTA: POSSE DE CATIVOS EM CAMPINAS, 1790-
1810 ............................................................................................. 441
Carlos Eduardo Nicolette ................................................................. 441
ALTERNATIVAS EDUCACIONAIS PARA ABORDAGEM DA HERANÇA AFRICANA E DA
MEMÓRIA DA ESCRAVIDÃO .................................................................... 454
VANESSA DE ARAÚJO ANDRADE .................................................... 454
REFERENCIAL LATINO-AMERICANO NA OBRA DE RAUL SEIXAS: PRIMEIRAS
APROXIMAÇÕES ................................................................................ 462
Jeferson do Nascimento Machado* ..................................................... 462
CAPOEIRA PARANAENSE (XIX-XX): ENTRE O LÚDICO E O MARCIAL ...................... 468
*Jeferson do Nascimento Machado ..................................................... 468
A QUESTÃO DOS LIMITES TERRITORIAIS NAS PÁGINAS DO BOLETIM DO INSTITUTO
HISTÓRICO E GEOGRAPHICO PARANAENSE (1900-1925) .................................. 478
Megi Monique Maria Dias ................................................................. 478
NOTÍCIA HISTÓRICA: O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRAPHICO PARANAENSE (1900) 490
Megi Monique Maria Dias ............................................................... 490
RESILIÊNCIA IDENTITÁRIA NO ANTIGO ISRAEL, UM ESTUDO DE CASO................... 498
Frederico Moura Ignácio .................................................................. 498
A POSSE DE ESCRAVOS EM UMA ECONOMIA DE ABASTECIMENTO COLONIAL: SÃO LUÍS
DO PARAITINGA (1798-1818) ................................................................. 506
Diego Alem de Lima ...................................................................... 506
O REGISTRO DAS PLANTAS MEDICINAIS ..................................................... 519
Carla Cristina Barbosa .................................................................... 519
LUGARES DE COMER: OS BARES E A ALIMENTAÇÃO EM BELÉM ........................... 521
Sidiana da Consolação Ferreira de Macêdo ............................................ 521
PASSANDO A BOLA DO CAMPO DE FUTEBOL PARA O CAMPO HISTORIOGRÁFICO: ..... 529
Lara Novis Lemos Machado .............................................................. 529
HISTÓRIA, LITERATURA E PÓS-COLONIALISMO: UM BREVE OLHAR SOBRE A ESCRITA DE
MIA COUTO ..................................................................................... 541
Jeane Carla Oliveira De Melo ............................................................ 541
6
AS ESTRUTURAS MENTAIS NA IDADE MÉDIA: UMA ANÁLISE A PARTIR DE ‘TRISTÃO E
ISOLDA’....................................................................................... 549
César Aquino Bezerra ..................................................................... 549
EVANGELIZAR POR MEIO DA EDUCAÇÃO: OS IRMÃOS MARISTAS EM CANUTAMA ....... 559
César Aquino Bezerra ..................................................................... 559
CONSIDERAÇÕES SOBRE UM DIÁLOGO ESSENCIAL: OS MANUAIS ESCOLARES COMO
VESTÍGIOS À HISTÓRIA DAS DISCIPLINAS ESCOLARES ..................................... 570
Felipe Augusto dos Santos Vaz .......................................................... 570
MEMÓRIAS DO TRABALHO COM A JUTA DA COMUNIDADE SÃO SEBASTIÃO DA BRASÍLIA,
PARINTINS-AM (1950-1980)................................................................... 578
Everton Dorzane Vieira ................................................................... 578
HISTÓRIA DE VIDA: IDENTIDADE, CULTURA E RELIGIOSIDADE ........................... 592
Vania Maria Carvalho De Sousa ........................................................ 592
A IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE FONTES DE PESQUISA ....... 602
Esther Salzman Castellano ............................................................... 602
ARQUIVO E HISTÓRIA: A IMPORTÂNCIA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS PARA O
ESTUDO DA OCUPAÇÃO E POVOAMENTO DA BAIXADA MARANHENSE- SÉCULO XVIII .. 610
Alessandra Cristina Costa Monteiro .................................................... 610
ESTUDOS JUDAICOS COMO ESTUDOS CULTURAIS: UMA REFLEXÃO SOBRE OS SEPHARDIC
STUDIES ......................................................................................... 626
Lucas De Mattos Moura Fernandes ..................................................... 626
ELEAZAR VERSUS CASEZ: UM ESTUDO DE CASO SOBRE A CONSULARIZAÇÃO DO
COTIDIANO NA COMUNIDADE JUDAICA -BRASILEIRA NO MARROCOS CONTEMPORÂNEO
................................................................................................... 637
Lucas De Mattos Moura Fernandes ..................................................... 637
A CONSTRUÇÃO DE ESPAÇOS SAGRADOS EM IRATI-PR .................................... 646
William Franco Gonçalves................................................................ 646
DOS QUE VISITAM AOS QUE HABITAM: A REPRESENTAÇÃO DOS URUBUS NA AMAZÔNIA
DO SÉCULO XIX................................................................................. 658
Talita Almeida Do Rosário ............................................................... 658
Wendell P. Machado Cordovil ........................................................... 658
GEADA NEGRA E O DECLÍNIO DA LAVOURA CAFEEIRA: HISTÓRIA E MEMÓRIA EM SÃO
PEDRO DO IVAÍ - PR (1970-1990) ............................................................ 672
Eliane Aparecida Miranda Gomes Dos Santos ........................................ 672
A MARQUESA DE ALORNA (1750-1839) E SEU “ESPELHO DE CASADAS” ................. 685
Ricardo Hiroyuki Shibata ................................................................ 685
HISTÓRIA E SOCIEDADE NO TESOURO DE MENINAS (1774) ............................... 693
Ricardo Hiroyuki Shibata ................................................................ 693
7
RESPONSABILIDADE SOCIAL E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ESTADO DO PARANÁ:
EXEMPLOS DE BONS PROJETOS .............................................................. 704
Talita Seniuk ............................................................................... 704
REFLEXÕES SOBRE A VIVÊNCIA INICIAL DE PROFESSOR: CORPO, ESCOLA E ENSINO .. 714
Felipe Araújo de Melo¹ ................................................................... 714
CARTOGRAFIA DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDIGENA: EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA
E EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE .......................................................... 724
Larissa Rafaela Pinheiro Alencar ........................................................ 724
INÍCIO E FIM DO IMPÉRIO BIZANTINO: NOVA ERA .......................................... 733
Josiane Araujo Rocha...................................................................... 733
8
APRESENTAÇÃO
Quando tentamos explicar história para as pessoas que não
9
dada anteriormente. Dificilmente encontrará um debate incapaz de
espaciais.
nacional.
10
bastante esforços como os eventos presenciais, como também
11
dimensão das várias linhas ligadas a grupos e a simplesmente
dos urubus no século XIX. É uma temática que nos dão outra
12
Em tão pouco tempo de existência do grupo, este é o segundo
13
PARTE 1
E
N
S
I
N
O
14
UM CONTO A PARTIR DO CANTO: AS
POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES DE PELÉ
DO MANIFESTO PARA OS DEBATES
ÉTNICOS-RACIAIS EM SALA DE AULA
15
Uma breve contextualização da condição histórica imposta ao
negro
16
a essa população até atualmente. Mesmo após 1888, os pós-libertos
da escravidão, buscando novos rumos para as suas vidas,
enfrentavam intolerâncias, havendo a exclusão da população negra
no espaço brasileiro ali presente (GOMES, 2005), pontos que podem
ser evidenciados até os dias atuais através desta contextualização
histórica.
O rap na raça
17
Visando o rap, Hermeto (2012) vem mostrando como sua estrutura
musical acaba rompendo com as características da canção popular
brasileira, tendo os rappers mais falando do que propriamente
cantando. Entretanto, partindo de Naves (2004), onde visa o que há
por detrás de sua estrutura, percebendo suas características
populares e que traz uma representação social de setores que estão
em busca de uma valorização, pode-se destacar o pensamento por
meio de uma perspectiva cultural, tendo o próprio conceito de
circularidade que o historiador Carlo Ginzburg (2006) aponta do
pensamento bakhtiniano, já que segundo Naves (2004) o rap traz
partes da música popular, da qual sofreu uma certa hibridização.
18
social e racial, principalmente com as populações de áreas
periféricas que lutam diariamente contra tais condições que foram
impostas. Com este ponto, Carlos (2008) mostra os espaços que se
encontram na cidade a partir de um contraste que vem trazendo
diferenças entre classes e consequentemente gerando uma
segregação espacial, com isso, as lutas dos negros e as implicâncias
nos contextos das diversas áreas de dentro de uma cidade, são
questões importantes a se pensar eticamente em todo espaço. Ao
pensar no agir humano e nas formas de enfrentamento de uma
realidade social traiçoeira, pode-se destacar o rap com o seu auge em
1980 (HERMETO, 2012) a partir de uma denunciação de um
sofrimento imposto historicamente pelos brancos, sendo percebidos
até os dias atuais.
19
a ordem social” (PARANHOS, 2015), portanto, percebe-se que o
movimento não é apenas para uma demonstração da arte e diversão
através daqueles que usufruem da produção, mas sim um produto
que encontra-se na raça por uma forte militância, tendo em sua
estrutura uma espécie de “colagem” trazendo narrativas da
realidade enfrentada. Nesse ponto, pode-se destacar como
o rapper paraense “Pelé do Manifesto” encontra-se inserido nesse
processo, percebendo suas rimas com potencialidade para o
entendimento de certas questões, demonstrando o seu engajamento
ao movimento e retratando indagações específicas nas periferias da
cidade de Belém, visando o contexto de áreas diversas. Aqui, o
cantor ganhará destaque nas próximas seções.
“(...) Qualquer loja que você entra você é sempre suspeito, você tem
segurança na sua cola pra ver se não vai furtar nada... era muito
constrangedor, me sentia extremamente incomodado e é o que eu
acabo citando em algumas músicas minhas como ‘sou neguinho’,
por exemplo, ‘sou neguinho 2’, da gente ser acusado de crime que a
gente não cometeu, estar sendo suspeito de algo que a gente não
cometeu.” (Pelé do Manifesto, 2019).
20
Assim, as rimas do rapper, podem ser fundamentais para
oportunizar um ensino que vá em busca de uma identidade, o
entendimento de uma sociedade com múltiplas faces, um
empoderamento a partir de uma identificação, uma educação
antirracista a partir do que for atribuído pelo professor ao
documento proposto, assim como, fazer com que o aluno perceba e
denuncie atos extremos.
Iniciando com “neguinho sim, preto com muito amor”, frase que se
encontra presente em um dos raps mais famosos do artista,
percebemos como Pelé do Manifesto traz uma mistura de
sentimentos que se resulta em luta, demonstrando um
empoderamento e a potência de uma identidade. Logo, Nilma Lino
Gomes (2005) aponta como existe uma complexidade em torno deste
conceito, visando a identidade como aquilo que se refere a um modo
de ser no mundo e com os outros, sendo um fator de extrema
importância para as relações sociais e culturais de grupos
específicos. Portanto, o rap de Pelé do Manifesto pode ser
considerado dentro dessa perspectiva, tendo o estilo musical sendo
carregado de concepções e de interrogações do mundo (OLIVEIRA,
2015), assim como, ligado intrinsecamente a bandeira da negritude
(NAVES, 2004).
21
empoderando ele na questão estética dizendo que a pele dele é
bonita, que o nariz dele é bonito, que o cabelo dele é bonito, que ele
não precisa ter vergonha de ser quem ele é, que ser preto é bonito
enquanto a sociedade diz pra gente que tudo que é do preto é feio,
tudo que é do preto é ruim” (Pelé do Manifesto, 2019).
22
a abordagem de quem é Pelé do Manifesto e o que é posto em
suas músicas, vem a partir desses pressupostos, destacando
também a importância de uma biografia do artista através de
pesquisas prévias para a sala de aula, já que foi percebido em
investigações anteriores que professores não possuem uma
preocupação em pesquisar para além do que a música traz em sua
letra ou melodia (Maia,2019), sendo necessário uma busca
antecipada para o desenvolvimento do próprio rap como um
instrumento didático.
23
Nem tudo que reluz é ouro, parceiro / Paraíso onde? Se eu vim nos
navio negreiro / A rua me criou meu pensamento é ligeiro / Essa
música é um alô pra todos que são verdadeiro / Ser duas vezes
melhor? Não? Cansei dessa parada / Casei de ser o preto no estilo
'homem na estrada'' / De ver as tia atravessando a rua apavorada /
De provar que o celular é meu pra não levar porrada. (Sou
Neguinho. Pelé do Manifesto, 2015).
24
Com todos os pontos colocados, o rap alia-se a disciplina
questionando classes dominantes que são potencializas dentro de
uma estrutura de ensino historicista, portanto, este instrumento
didático contribuirá para impulsionar vozes que ainda se encontram
às margens da História. Pensar “raça” e “etnia” não se estabelece
como conceitos não observáveis, mas sim como uma forma de
intensificar as discussões sobre a temática e criar meios para um
reconhecimento de alunos negros enquanto sujeitos históricos para
uma identidade racial em Belém do Pará, apresentando as rimas de
Pelé do Manifesto com grandes contribuições para uma
representatividade.
Considerações finais
Referências
25
Emily Maria Pantoja Maia é estudante do curso de Licenciatura em
História da Faculdade Integrada Brasil Amazônia (FIBRA), foi
pesquisadora bolsista de iniciação científica do projeto da faculdade
intitulado “História e Música Popular no Ensino Médio” que teve
como orientador o Prof. Dr. Edilson Mateus. Faz parte do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), pesquisando
“A Cidade e as Relações Étnicos-raciais” em uma escola pública de
Belém do Pará, sob a orientação da Prof. Dra. Luana Guedes e do
Prof. Msc. Antônio Sérgio.
Agradecimentos
26
fazendo-me perceber as possibilidades de aplicação em sala de aula
visando as questões étnicos-raciais, assim como também, entender
essas relações presentes na cidade em que moro. Meus sinceros
agradecimentos ao cantor, a quem desejo todo o sucesso.
27
MAIA, Emily M. Pantoja. História e Música Popular no Ensino
Médio: Um obstáculo para ensinar através do prisma musical posto
por professores de Belém do Pará. In: Aprendendo História:
Ensino. União da Vitória: Sobre Ontens, 2019.
Vídeos Consultados
28
MANIFESTO, Pelé. Sou neguinho | Pelé do Manifesto. 2015.
(2m47s). Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=FlnD04R_EeY. Acesso: 26
de abril de 2019.
29
O ENSINO DE HISTÓRIA E AS
POSSIBILIDADES DE COMBATE À
CORRUPÇÃO: DO DEBATE À AÇÃO
CIDADÃ ALÉM DA ESCOL A
Introdução
30
permanências e cabe a esses sujeitos históricos a erradicação da
corrupção no Brasil.
31
“A afirmação das identidades nacionais e a legitimação dos poderes
políticos fizeram com que a História ocupasse posição central no
conjunto de disciplinas escolares, pois cabia-lhe apresentar às
crianças e aos jovens o passado glorioso da nação e os feitos dos
grandes vultos da pátria. [...] Assim ao longo do século XX, a
questão do método dizia respeito não apenas a investigação
histórica propriamente dita – a objetividade, a técnica, a crítica
documental- mas também ao ensino de História nas escolas
primárias e secundárias que deveria obedecer a procedimentos
específicos como a adequação da linguagem, a definição de
prioridades em termos de conteúdo a utilização de imagens úteis à
compreensão da história da nação”.
32
nos propiciou debates muito interessantes em sala sobre os prejuízos
da corrupção para o cenário nacional e como é cada difícil confiar
em nossos representantes políticos.
33
o fascículo parte integrante do curso “Transparência na Gestão
Pública – Controle Cidadão” oferecido pela Universidade Aberta do
Nordeste (Uane) e fundação Demócrito Rocha; além de utilizarmos
um artigo do Juiz Sérgio Moro intitulado “Caminhos para reduzir a
corrupção”, publicado no site “O Globo”.
34
“Segundo a ONG Transparência Internacional, num total de 175
países avaliados quanto ao Índice de Percepção da corrupção, em
2015 o Brasil continuou copando a 69° posição , a mesma que tinha
quatro anos antes. Ou seja, neste quesito o Brasil estacionou. A
novidade é que as autoridades brasileiras estão tomando medidas
para enfrentar a corrupção nos casos do mensalão e da corrupção na
Petrobrás, por exemplo, ocorrem julgamentos e punição”.
35
valem para todos, se há aqueles acima das regras ou aqueles que
podem trapacear para obter vantagens no domínio econômico ou
político, mina-se a crença de que vivemos em um governo de leis e
não de homens. O desprezo disseminado à lei é ainda um convite à
desobediência, pois, se parte não segue as regras e obtém vantagens,
não há motivação para os demais segui-las. Pior de tudo, a
corrupção sistêmica impacta o sentimento de autoestima de um
povo. Um povo inteiro que paga propina é um povo sem dignidade.
Pode-se perquirir quando o problema começou, mas a questão mais
relevante é indagar como sair desse quadro”. (MORO,2015)
36
fortalecimento de nossas instituições contra a corrupção”. (MORO,
2015)
37
habilidades instrumentais próprias do campo histórico, fazendo-se
sujeito da construção de seu conhecimento.
38
O fato de termos vivenciado debates sobre as desigualdades sociais,
o agravamento da miséria e a perda da ética por causa dos
malefícios da corrupção serviu para mostrar que a sala de aula é um
espaço onde a história deve ser debatida de modo a analisarmos as
principais mudanças e permanências ao longo do tempo e de como
alguns problemas podem ser históricos, sendo assim precisamos
formar alunos autônomos que possam refletir sobre as
transformações sociais ao seu redor e qual papel eles devem assumir
diante de sua realidade.
Considerações Finais
39
Petrolina). É integrante do Spatio Serti – Grupo de Estudos e
Pesquisa em Medievalística da UPE/Petrolina.
E-mail:drmarcosaroeira@hotmail.com
Bibliografia:
40
. Diálogos e perspectivas do profissional de história. 1. ed. Ilhéus:
Editus, 2008. v. 1. p. 39-56.
41
A CONTRIBUIÇÃO DO EN SINO
RELIGIOSO PARA A FORMAÇÃO DE
VALORES DO ALUNO
1 INTRODUÇÃO
42
religioso.(JR,2007). Art.33 da LDB, leis diretrizes e bases da
educação nacional assegura o aluno dizendo que “O ensino
religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação
básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das
escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à
diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas
de proselitismo”.
43
imparcialidade que os professores adotam quanto a diversidade de
religiões e crenças.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
44
mudar o comportamento do ser humano, tornando uma pessoa
mais confiante, reverente e cuidadosa estando de bem consigo
mesmo através de seus atos e escolhas. A religião liga o indivíduo
com suas origens e o homem passa a ser motivado pela fé.
45
sociológicos e éticos. E a partir do Art.33 da LDB, leis diretrizes e
bases da educação nacional asseguram o aluno dizendo que “O
ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da
formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários
normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o
respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas
quaisquer formas de proselitismo”.
46
escolas publicas, e esse caráter por seguir sempre a mesma linha,
sem dar espaço á outras expressões religiosas, acabou criando uma
certa rejeição em torno da disciplina, gerando desconforto para os
alunos e professores; Com a vasta diversidade cultural e religiosa do
pais com inúmeras crenças, idéias e valores diferentes que estão
presente em todos ambientes, inclusive no ambiente escolar e é de
grande importância para o desenvolvimento dos alunos que se
trabalhe com a disciplina na escola abordando as diferentes
expressões culturais e religiosas, de maneira que seja transmitido a
importância de valorizar a diversidade cultural e religiosa da
sociedade, preservando a identidade e características de cada um.
47
A religião está presente na vida do ser humano desde seu
nascimento, e logo em seguida será transmitido na escola o conceito
de religiões diferentes com costumes e crenças diferentes, e esse
aprendizado escolar propõe o devido respeito a diversidade
religiosa, na qual refletirá na vida social deste aluno. O aprendizado
do aluno deve construir uma personalidade com respeito, paz e
entendimento a diversidade religiosa. A escola é um dos principais
alicerces para a construção do cidadão, pois a escola ensina a ler,
escrever, calcular e ter noções de espaço; e com o convívio e
trabalhos em grupo a escola ensina a respeitar as diferenças sociais e
religiosas de cada um, contribuindo para a formação do cidadão. De
acordo com Seehaber e Machado(), “Direitos e deveres de um
cidadão devem fazer parte do contexto social, devem ser ensinados
desde a infância, devem ser compreendidos como respeito mútuo e
como necessidade da existência de regras e limites como
pressuposto básico para o convívio social”.
48
caracterizada como um lugar de diálogo com vista á diversidade
dos saberes religiosos, isto é, estamos partindo da compreensão de
que essa instituição social deve se tratar de um ambiente que irá
proporcionar trocas de informações necessárias para a formação da
personalidade dos seus alunos. Podemos dizer então, que sua
finalidade se constitui em ajuda-los a ter coerência em suas
concepções de mundo.( Alves, 2015)
49
denominação. A disciplina não tem mais o objetivo de catequizar,
ou ensinar as doutrinas religiosas, e sim de auxiliar no processo da
educação do sujeito de forma integral. Ou seja, de proporcionar ao
educando a construção dos saberes e também de sua capacidade
emocional e espiritual, além é claro de auxiliar na construção da
moralidade e da ética (Alvares,2018).
50
Segundo Morais (2015) Após uma pesquisa realizada, a maioria dos
alunos concordam que deve existir a disciplina de ensino religioso
na escola, pois os alunos entendem que a disciplina transmite além
de conhecimento, os auxiliam no desenvolvimento social,
contribuindo na formação de valores e aumentando o respeito
mutuo, a maioria dos alunos afirmam que com o ensino da religião
eles aprendem a respeitar outras religiões, culturas, crenças ou
outros estilos de vida, também a disciplina contribui muito para que
as pessoas se sintam bem com sigo mesmo e possuem facilidade de
identificar o bem e o mal. Os alunos também relataram que com as
aulas de ensino religioso eles passam a conhecer melhor a Deus e
começam a se lembrar de Deus em alguns momentos do dia ou em
algumas situações, surgindo assim a fé na qual os ajudam a viver
em maior harmonia. É notório o desejo dos alunos aprenderem mais
e a motivação para realizarem boas escolhas, eles se sentem
preparados para a realização de escolhas, para tomar atitudes ou
encorajados para mudarem suas atitudes.
51
respeitar todas as religiões e religiosidades não interferindo em
nenhuma crença.
52
curricular seja significativo para o aluno, e que a família perceba em
primeiro lugar a transformação do indivíduo e que em segundo
lugar esse indivíduo transforme a sociedade, com mais amor,
humildade e respeito. Para essa transformação acontecer os
professores procura sensibilizar os alunos para a vivência de valores
para a vida, como justiça, confiança, solidariedade, respeito e
dignidade de modo que o aprendizado em sala de aula seja usado
em toda a vida e os auxilie nas escolhas, seja elas escolhas pessoais
ou profissionais.
3 CONCLUSÃO
53
de preconceito e de intolerância, ainda mais vivendo em um país tão
rico em diversidade étnica, cultural e religiosa”.
REFERÊNCIAS:
54
Alves, Alan Nickerson. A influência pedagógica do ensino
religioso para a formação cidadã: Diversidade religiosa, 2015. ISSN
2317-0476
55
SILVA, ELIANE MOURA DA.: Religião, Diversidade e Valores
Culturais: conceitos teóricos e a educação para a cidadania. Revista
de Estudos da Religião, 2004, nº2, 14p. ISSN 1677-1222
56
O USO DA INTERNET NAS AULAS DE
HISTÓRIA: UMA FERRAMENTA
EDUCATIVA
57
atuais métodos de ensino têm de se articular às novas tecnologias
para que a escola possa se identificar com as novas gerações [...]”.
58
facilita a tomada de consciência do aluno. Estas ferramentas são
variadas e objetivam o conhecimento, atuam e conduzem uma
linguagem mais próxima com os educandos. Entretanto o professor
deve observar alguns cuidados:
59
Como foi dito anteriormente, nossa lógica está relacionada com a
velocidade da informação e atratividade imagética, uma vez que a
educação deve acompanhar as transformações do mundo e demais
áreas do conhecimento: “nesse contexto o cidadão precisa ter
criatividade, ser participativo, estar preparado para encarar essas
mudanças que estão ocorrendo em nossa sociedade.” (OLIVEIRA,
2013, p. 23). Deste modo, a escola deve preparar o educando para o
mundo, pois se a sociedade está imersa no mundo da informática,
com computadores ligados na internet, celulares, tablets, e a escola
não possui acesso amplo à informática, então ela não está
cumprindo sua função.
60
esperado, no momento em que o aluno domina a linguagem e
adquire o hábito da pesquisa, abandona a simples reprodução do
texto (FONTES, 2011, p. 25). O professor pode incentivar os alunos
na produção autoral dos textos, com base na pesquisa ou imagens
que foram colhidas na internet, dessa forma aflorando nos
educandos a autonomia da escrita e da pesquisa, como sugere os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) do Ensino Fundamental,
nos objetivos para o quarto ciclo: “ter iniciativas e autonomia na
realização de trabalhos individuais e coletivos.” (PCN, p. 66)
61
ausentes ou precários – pode transformar-se em barreira entre os
alunos que têm acesso ao computador e os que não possuem. O uso
indiscriminado, sem a devida atenção, é instrumento de exclusão
social, sendo assim uma forma de repulsa aos menos favorecidos da
atividade, por conseguinte da sociedade.
62
relações sociais escolares e pela reflexão sobre si mesma e sobre o
outro, sujeito histórico de outros tempos que estuda em história.”
63
colonização do saber, pois quem produz a mídia e seu conteúdo
pode transmitir uma série de mecanismos que transmitem uma
determinada ideologia, muitas vezes imperceptível ao receptor.
Ocorre muito nos filmes, é possível perceber os tipos e ferramentas
que são usadas para transmitir, na comunicação, determinada
ideologia (SOUZA; SOARES, 2013).
64
pesquisa e disseminação do conhecimento, Maria Gerlanne Souza
(2013, p. 28), em sua monografia, sugere a criação de blog - O blog é
uma ferramenta que permite a publicação de textos, imagens, fotos,
proporcionando um espaço no qual os professores e alunos podem
disponibilizar conteúdos de aprendizagem e produzir seus próprios
textos (SOUZA, 2013, p. 27) - lista de discussão, troca de e-mails e,
até mesmo, de sites próprios para cada escola, divulgando e
auxiliando na pesquisa dos alunos:
5 CONSIDERAÇÔES FINAIS
65
Muitos já manejam com habilidade os computadores e dominam a
internet, sendo esta a lógica atual e do trabalho, mas devemos
pensar naquelas pessoas que não têm acesso diário a estas
tecnologias e que concorrem a vagas de emprego. Neste caso, o
professor tem o encargo maior de proporcionar a vivência e
preparação destes indivíduos, dando-lhes alguma chance de
concorrência ou para proporcionar acesso ao conhecimento
armazenado na rede.
REFERÊNCIAS
66
<http://www.anatel.gov.br/dados/destaque-1/283-brasil-tem-236-2-
milhoes-de-linhas-moveis-em-janeiro-de-2018> acesso: 13 agosto
2018.
67
REPENSANDO O TRADICIONAL: A
NOVA HISTÓRIA POLÍTI CA E O
ENSINO DE HISTÓRIA
68
Estado e de seus representantes, mas entendê-lo agora dentro de
relações estabelecidas no cotidiano, como por exemplo na família ou
em sindicatos, fugindo assim dos “grandes personagens históricos”
focados outrora, esse novo olhar possibilitou aos
historiadores, observarem as relações de força no interior da
sociedade analisando indivíduos ou coletivos, ainda que pareçam
anônimos do antigo ponto de vista dos grandes feitos. Sobre as
transformações na história política ver: “A política será ainda a
ossatura da História?” (LE GOFF, 1975).
69
revolucionária: o problema do patriotismo na Amazônia entre 1835
e 1840”. Pensamos a perspectiva de trabalhar diretamente com os
textos de historiadores, assim como já apresentados nas propostas
de intervenções em sala de aula anteriores, uma vez que, como
apontamos, o livro didático apresenta problemas em relação às
especificidades das regiões brasileiras. Além de que, o ensino de
História, como um lugar de fronteira entre a educação básica e a
produção acadêmica (MONTEIRO, 2007, p. 9), não pode
desconsiderar o conhecimento construído na academia, apesar de
não ser prudente imaginá-lo como superior em relação aos saberes
que se podem produzir na escola.
70
brasileira”. Construía-se uma visão positiva a respeito do tema,
principalmente na visão Henrique Jorge Hurley (RICCI, 2007, p. 8).
Em 1930: Caio Prado Júnior traz uma versão de linha marxista, na
qual os cabanos são vistos como “rebeldes primitivos”. Em 1977,
militante do PCB, Ricardo Guimarães, sugere que as “maiores
tentativas revolucionárias da esquerda brasileira” foram a
Cabanagem e a Guerrilha do Araguaia – lutas anti-imperialistas,
num contexto de luta contra a ditadura militar (RICCI, 2007, p. 8).
Na década de 1980, Carlos Rocque, José Júlio Chiavenato e Pasquale
di Paolo lidam com a Cabanagem como “epopeia de um povo”, o
“povo no poder” e como “revolução popular”, respectivamente
(RICCI, 2007, p. 10), dando uma importância central aos cabanos na
condução do processo revolucionário.
71
ultrapassaram seus limites, mantendo viva a luta cabana, a qual
Magda Ricci relaciona a identidade revolucionária com uma noção
de cidadania que se vincula a não aceitação das imposições e dos
desmandos, imputando uma preponderância às pessoas que
construíram o movimento até maior do que de seus líderes:
Considerações finais
72
produção da academia, que gera textos técnicos, com o locus do
ensino da educação básica, onde podemos utilizar o conhecimento
produzido academicamente como uma ferramenta que auxilia na
produção conhecimento histórico escolar.
Referências
73
FALCON, Francisco. História e Poder. In: Domínios da história:
ensaios de teoria e metodologia. CARDOSO, C. F. S.& VAINFAS, R.
(org.). Rio de Janeiro: Campus, 1997.
74
CINEMA E MEDIEVO:
MEDIEVALIDADE E REMI NISCÊNCIAS
MEDIEVAIS EM LADYHAW KE (1985)
E O NOME DA ROSA (19 86)
MARCELO GONÇALVES FERRAZ
INTRODUÇÃO
75
um breve panorama sobre a temática Cinema e História,
concatenando com os estudos de Macedo (2009) e Franco Junior
(2001), sobre as considerações relativas ao contexto histórico da
Idade Média.
Esse referido conflito de saberes nos leva a observar o que nos diz
Franco Junior (2001) sobre a construção da ideia do que seria a Idade
76
Média. Segundo o autor, o próprio termo “Idade Média” não seria
nada além de um rótulo, criado a posteriori, com o intuito de
diminuir, menosprezar e desqualificar o período ali compreendido.
Ora, grande parte desse (des)conhecimento ainda observado hoje
advém desses conceitos surgidos ainda no século XVI. O cinema,
como qualquer outro meio de comunicação de massa, acaba
tornando-se veículo desse (des)conhecimento, ajudando a propagar
conceitos errôneos e preconceituosos sobre um período da história
humana que, como qualquer outro, é possuidor de avanços e
retrocessos.
77
Enquanto Ferro (2010) considerou o filme como uma contra-análise
da sociedade, Rosenstone (2010) o considerou como uma contra-
análise do passado. Além disso, o autor defendeu a ideia de chamar
os cineastas de historiadores, discorrendo sobre Roberto Rossellini e,
principalmente, Oliver Stone, classificando-o como um dos maiores
cineastas/historiadores da história recente dos Estados Unidos da
América.
78
a fatos históricos daquela época, somos forçados a considerar as
diversas mediações que existem entre a obra e o espectador,
fazendo-nos distinguir a Idade Média exibida nos filmes de a Idade
Média presente nos livros. Ou seja, a Idade Média propriamente
histórica e a ideia do passado medieval visto com o olhar da
posteridade – normalmente preconceituosa, herança do
Renascimento do século XVI; ou folclórica, herança do romantismo
do século XIX.
79
alcançado por obras como O senhor dos anéis e O Hobbit, livros
transformados em filmes recentemente. Dessa forma, o cinema sobre
o Medievo deve ser analisado no contexto da medievalidade e não
da historicidade medieval.
80
Ladyhawke (1985), que teve como subtítulo no Brasil O feitiço de
Áquila, parte da premissa de ser um filme contextualizado no
medievo. É um bom exemplo de Medievalidade presente no cinema,
pois é um filme de ação, com boa dose de fantasia, sendo marcado
pelo romance entre seus protagonistas.
81
Dessa forma, Ladyhawke (1985), acaba se tornando um bom exemplo
da “medievalidade” destacada por Macedo. Podemos observar no
filme aqui referido que a Idade Média não passa de uma alusão,
uma referência estereotipada, longínqua. Entretanto, não podemos
nos esquecer que “[...] o propósito do filme não é [...] estimular uma
reflexão sobre o passado, mas divertir [...]” (MACEDO, 2009, p. 19).
Dessa forma, Ladyhawke cumpre seu papel.
82
No enredo do filme, que se passa em 1327, o monge franciscano
William de Baskerville e seu pupilo Adso von Melk, chegam a um
mosteiro no norte da Itália e passam a investigar uma série de
assassinatos ocorridos no local. Para muitos monges ali presentes os
crimes estão sendo cometidos pelo demônio. Para William de
Baskerville os crimes não são oriundos do sobrenatural. A premissa
principal da trama é o embate entre a religiosidade e a ciência. Entre
a fé e a razão. O filme se torna uma pintura na qual observamos a
transição da Idade Média, de mentalidade deliberadamente
religiosa, para uma nova era, calcada na razão e nas ciências. E ao
final da película podemos observar a vitória do raciocínio sobre a
crença.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
83
Macedo (2009) discorreu sobre a potencialidade do cinema no
processo ensino-aprendizagem sobre o Medievo, o que nos faz
observar como esse período é escolhido por muitos produtores
cinematográficos, ávidos por obtenção de lucros, utilizando-se de
dragões, cavaleiros, donzelas e castelos.
REFERÊNCIAS
84
FERRO, Marc. Cinema e História. São Paulo: Paz e Terra, 2010.
85
NATUREZA E ENSINO DE HISTÓRIA
EM SANTA IZABEL DO PARÁ
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
86
análise das referências bibliográficas existentes sobre Santa Izabel do
Pará, para que os mesmos possam contribuir com a produção da
história da cidade por meio de um estudo que leve em conta um
aspecto pouco evidenciado nas pesquisas realizadas anteriormente,
que seria a natureza, especificamente os rios e igarapés que cortam a
cidade e a comunidade de Caraparu, possibilitando aos alunos
envolvidos na pesquisa e a todos os leitores que este livro digital
atinja, uma referência sobre a história de Santa Izabel do Pará e o
meio ambiente.
87
natureza e as transformações das relações sofridas por estes espaços
naturais, no caso os rios e igarapés, servem de ponto de partida para
o estudo do passado e da relação deste com o presente, valorizando
o uso da memória, tendo as entrevistas, fotografias antigas e atuais e
as bibliografias existentes sobre a história de Santa Izabel do Pará
como fontes.
88
E por último, e não menos importante, a possibilidade de
demonstrar que o ensino de história precisa ser significativo, crítico
e transformador e para tanto e estudo da natureza e da história de
Santa Izabel do Pará pode proporcionar aos alunos do ensino médio
a construção de sua identidade com o lugar em que vivem ao
mesmo tempo em que pode estimular a leitura e a escrita, elementos
fundamentais para seu desenvolvimento intelectual e para os
processos seletivos aos quais serão submetidos, como por exemplo,
o ENEM. Assim, estimular os alunos a desenvolverem pesquisas e
analisarem o resultado de sua pesquisa com as bibliografias
existentes sobre Santa Izabel do Pará e o que estas apresentam sobre
os rios e igarapés podem despertar não só a sua curiosidade, mais
também o interesse em produzir narrativas sobre a história de sua
cidade, que podem através do e-book atingir um grande público,
tanto os alunos dos diversos níveis da educação básica quanto
professores, pesquisadores e o público em geral.
89
disjunção entre a história cultura e a natureza, ao contrário, pra que
a história ambiental cumpra seu papel social ela precisa fazer com
que as pessoas construam um olhar crítico e de pertencimento a
natureza, entendendo que as relações estabelecidas entre ambos
variam de acordo com os vários tempos históricos que estão
vivenciados.
90
racionalidades possíveis, para outras relações com o mundo natural,
para a construção de uma racionalidade ambiental”.
91
ambiental nas aulas de história seria consenso entre os autores
analisados por Carvalho como a maior limitação encontrada pelos
professores, no entanto, os mesmos também contribuem
argumentando que um dos possíveis métodos para o ensino da
história ambiental seria fora da sala de aula ou que se devem usar
novas táticas de abordar temas ambientais, como a que já citamos
anteriormente com Elenita Pereira, além da reformulação ambiental
dos livros didáticos para que o tema deixe de ser apresentado
apenas como apêndice de outras temáticas como, por exemplo,
cidadania ou no contexto contemporâneo, pós Segunda Guerra
Mundial.
92
Izabel do Pará, o uso de fotografias antigas e atuais dos igarapés e
rios a serem pesquisados, além das memórias dos moradores
antigos presentes nas entrevistas que serão colhidas pelos alunos e a
partir das quais farão textos narrativos sobre a história de Santa
Izabel do Pará que seja significativa para os mesmos, percebendo a
relevância da natureza e as relações existentes entre a sociedade e as
águas, bem como as transformações que essas paisagens sofreram e
que resultam em uma poluição e destruição da natureza no espaço
urbano pois, como afirma Maria Auxiliadora Schmidt, a história
local pode ser vista como uma estratégia de ensino, já que:
93
indivíduo inserido em um contexto familiar, social, nacional”
(ROUSSO, 2006, p. 94). Citando Maurice Halbwachs, Rousso nos diz
que a memória é “coletiva”, por constituir elemento essencial da
identidade, da percepção dos outros e de si mesmo. Entretanto,
Rousso nos alerta da necessidade de vermos que se em escala
individual a memória é coletiva, ao irmos para o campo de grupo
social ou nacional, não existe “memória coletiva”, ou seja, uma
representação do passado compartilhada por uma coletividade. Para
Rousso, visando superar esse obstáculo teórico:
94
ultrapassa a perspectiva das definições teóricas ou metodológicas
próprias da ciência histórica e adentra o campo dos debates sobre as
práticas e experiências escolares. Transformando a concepção
tradicional do ensino, pautado na memorização, na qual o aluno
seria o receptor de conhecimentos prontos, o uso de entrevistas leva
os alunos a desenvolver novas habilidades e capacidades antes não
estimuladas, a fortalecer sua autonomia e a se interessar mais pelo
objeto de aprendizagem. Como ferramenta de ensino, aproximará o
aluno da condição de produtor de conhecimento, e conhecimento
relevante, pois está ligada a história de seu lugar.
REFERÊNCIA
95
memórias de professores de História. História Oral. v. 15, n. 1,
jan./jun. 2012, p. 357-379.
FERREIRA, Marieta. História, tempo presente e história oral.
Revista Topoi, Rio de Janeiro, dezembro 2002, pp. 314-332.
GONÇALVES, Márcia de Almeida. História Local: o
reconhecimento da identidade pelo caminho da insignificância. In:
MONTEIRO, Ana Maria; GASPARELLO, Arlete Medeiros;
MAGALHÃES, Marcelo de Souza (Orgs.). Ensino de história:
sujeitos, saberes e práticas. Rio de Janeiro: Mauad X: FAPERJ, 2007,
p. 175 – 185.
96
Souza (Orgs.). Ensino de história: sujeitos, saberes e práticas. Rio
de Janeiro: Mauad X: FAPERJ, 2007, p.187 – 198.
97
HISTÓRIA AFRICANA E AFRO-
BRASILEIRA: CAMINHOS PARA O
RECONHECIMENTO MULTI CULTURAL
NO BRASIL
CAMÍLA JOSEANE E SOUSA RIOS COSTA
APRESENTAÇÃO
98
pensar em uma melhor aprendizagem, no qual esse conhecimento
seja ampliado e qualificado para que se torne mais interessante para
os alunos.
OBJETIVOS
GERAL
JUSTIFICATIVA
99
formação histórica e cultural brasileira. Com a promulgação da lei
10.639/03 que posteriormente foi alterada pela lei 11.645/08 foi
estabelecido nas diretrizes e bases da educação nacional a inclusão
obrigatória no currículo oficial escolar a temática História da África
e dos Afro-brasileiros, assim como aspectos da cultura negra no
Brasil e o negro na formação da sociedade e identidade nacional.
REVISÃO TEÓRICA
100
A imagem do africano em nossa sociedade é quase sempre a do
selvagem acorrentado a pobreza e a miséria, apresentando um
estereotipo preconceituoso e racista.
101
de origem africana fora do seu continente. É comum encontrarmos a
herança africana representada em nossas práticas culturais. Porém,
antes essas manifestações, rituais e costumes eram proibidos, só
deixando de ser perseguidos pela lei na década de 1930 durante o
governo de Getúlio Vargas.
102
diretamente ligada ao Brasil). Os países que falam português são:
Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné- Bissau, São Tomé e
Guiné Equatorial.
METODOLOGIA
103
Para reproduzir este trabalho em sala de aula foram desenvolvidas
temáticas a partir de conteúdos com ênfase em história africana e
questões referentes á política, cultura e religião, sob a perspectiva de
valorizar, problematizar e democratizar tanto o ensino como os
saberes. Cabe a nós enquanto formadores de opiniões focar nas
discussões que garantam a identidade e historicidade negada dos
negros.
RESULTADOS
104
No questionário prévio aplicado em sala de aula, cujo 20 alunos
responderam, foram obtidos os seguintes resultados:
N° de Alunos Importância
1 5
1 7
5 8
6 9
7 10
105
religião, por exemplo: a capoeira, a feijoada e a macumba foram
elementos citados. Também destacaram que não existe matéria que
trate sobre o assunto na escola e o pouco que se sabe foi adquirido
na convivência em sociedade.
02- Você conhece ou já ouviu falar sobre a lei 10.639/03 que legisla
sobre o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em
todas as escolas do país?
Não Sim
7 13
Não Sim
6 14
106
Posteriormente, em relação ao trabalho realizado pelos alunos, o
Grupo 1 que ficou responsável pela culinária afro-brasileira, trouxe
algumas heranças africanas no slide como óleo de dendê, óleo de
coco, feijoada, cuscuz, mandioca, ervas, acarajé, vatapá, pamonha,
mingau de milho, entre outros elementos que estão na maioria das
vezes presentes na culinária da Bahia.
O grupo 4 que tratou sobre a moda trouxe nos slides elementos como
tintas utilizadas para tingir os tecidos, as estampas, figuras corporais
usadas em cerimônias e rituais, os penteados como tranças,
Dreadlocks; acessórios como pulseiras, colares, brincos, turbante e
lenços; Mostraram também vestidos com estampas, onde cada uma
possui um significado especial.
107
necessários para o reconhecimento dos valores e contribuições de
afrodescendentes no Brasil.
Referências:
108
JAROSKEVICZ, Elvira Maria Isabel. Relações étnico-raciais,
história, cultura africana e afro-brasileira na educação pública: da
legalidade à realidade. 2007.
OLIVA, Anderson Ribeiro. A história africana nas escolas
brasileiras. Entre o prescrito e o vivido, da legislação educacional
aos olhares dos especialistas(1995-2006). HISTÓRIA, São Paulo,
28(2): 2009, p. 143-172.
BITTENCOURT, Circe. Identidade Nacional e ensino de História
no Brasil. In: KARNAL, Leandro (org). História na sala de aula:
conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2005.
109
OS PERIGOS DE UMA HI STÓRIA
ÚNICA: O ENSINO DE HISTÓRIA E A
DIVERSIDADE CULTURAL
RAYME TIAGO RODRIGUES COSTA
(Provérbio africano)
110
“É impossível falar sobre história única sem falar de poder. Há uma
palavra, uma palavra da tribo Igbo, que eu lembro sempre que
penso sobre as estruturas do poder no mundo, é a palavra “nkali”. É
um substantivo que livremente se traduz: “ser maior do que o
outro”. Como nossos mundos econômico e político, histórias
também são definidas pelo princípio do “nkali”. Como são
contadas, quem as conta, quando e quantas histórias são contadas,
tudo realmente depende do poder. Poder é a habilidade de não só
contar a história de uma outra pessoa, mas de fazê-la a história
definitiva daquela pessoa. O poeta palestino Mourid Barghouti
escreve que se você quiser destruir uma pessoa, o jeito mais simples
é contar a sua história e começar com “em segundo lugar”. Comece
uma história com as flechas dos nativos americanos e não com a
chegada dos britânicos, e você tem uma história totalmente
diferente. Comece a história com o fracasso do estado africano e não
com a criação colonial do estado africano e você tem uma história
totalmente diferente”[1].
111
eurocentrismo ou ocidentalismo por Coronil (1996) teve papel
central nessa construção, pois foi a partir desse:
112
Hobsbawm (2013) disserta sobre o sentido do passado e mostra o
quão importante este é na formação e desenvolvimento das nações,
pois em muitas sociedades o passado direciona o rumo inclusive das
mudanças, sendo que “todo ser humano tem consciência do
passado”. Percebe-se desta feita que o domínio da narrativa é
fundamental para legitimar a conquista, a invasão e até a
desumanização. Logo, não se trata apenas de contos, estórias ou
lendas tão somente, mas de poder e domínio sobre outros. Dominar
a narrativa e torná-la hegemônica significa controle e poder.
113
apesar da sociedade e da cultura brasileira nascerem plural a sua
representação e história foi formada de modo desigual,
desconsiderando tal pluralidade. Criando um Brasil homogêneo.
114
em consideração a diversidade do país, logo a produção material e
imaterial do que seria o Brasil levou em consideração um único
víeis, que apesar das disputas internas, tornou homogênea a nação,
o Brasil era a representação unicamente de uma elite agrária,
escravocrata e branca.
115
Esse ensino intangível se materializa no contexto cultural e sócio-
político do estado brasileiro que por anos considerou e preservou
bens referentes aos setores dominantes. Ricardo Oriá diz que
“preservaram-se as igrejas barrocas, os fortes militares, as casas
grandes e os sobrados coloniais. Esqueceram-se, no entanto das
senzalas, os quilombos, as vilas operárias e dos cortiços”
(FERNANDEZ 2017). Além disso ficou a violência, o racismo, a
exclusão e o lugar petrificado do negro e principalmente da mulher
negra na sociedade, ocupando ambientes subalternizados e sendo
excluídas dos espaços de poder e dos que o possibilitam, como as
escolas e universidades.
116
percebendo a importância histórica da raça para direcionar as
condições econômica, social e cultural da população
afrodescendente.
117
conhecidos e reconhecidos em suas produções e consequentemente
sua humanidade.
Referências:
Mestrando em Ensino de História (PROFHISTORIA) pela UFPA,
Bacharel e Licenciado pela UFPA, Especialista em História e Cultura
Afro-brasileira pela Universidade Cândido Mendes (RJ) e Professor
do Instituto Federal do Pará, campus Paragominas.
118
COSTA, Bernardino Joaze & GROSFOGUEL, Ramón.
Decolonialidade e perspectiva negra. Revista Sociedade e Estado –
Volume 31 Número 1 Janeiro/Abril 2016. Disponível em: https://
www.scielo.br/pdf/se/v31n1/0102-6992-se-31-01-00015.pdf. Acesso
em: 23 maio. 2019.
119
SANTOS, Joel Rufino dos. A questão do negro na sala de aula. São
Paulo: Global, 2016. P. 23.
REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS:
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro051.pdf
120
O USO DE FONTES HISTÓRICAS NO
PROCESSO DE ENSINO-
APRENDIZAGEM E AS
POSSIBILIDADES JUNTO AO CINEMA
LAYS FERNANDA OLENIUK
121
A utilização de fontes históricas dentro do processo de ensino-
aprendizagem possibilita aos estudantes um melhor entendimento
das diferentes formas da narrativa histórica, bem como a percepção
de sua construção e não da História como algo natural e
acabado. Assim, o uso da fonte histórica permite valorizar a
problematização dos conteúdos, o questionamento sobre
determinadas temáticas se torna parte importante no processo de
formação do educando. Temáticas que muitas vezes não aparecem
de forma expressiva ou suficiente nos materiais didáticos, podem
ser problematizadas desta forma.
122
seu tempo e percebê-lo como um engenho que uma determinada
civilização criou para mostrar às gerações seguintes uma imagem de
si mesma” (PEREIRA; SEFFNER, 2008, p.127).
123
em enxergar, uma recusa inconsciente, que procede de causas mais
complexas” (FERRO, 1992, p.79).
124
Na relação ensino-aprendizagem e filme, este esforço também se faz
necessário, haja vista que para ser entendida efetivamente enquanto
fonte histórica prescinde de uma metodologia específica aplicada
por parte do professor. Ao se trabalhar de forma correta, o cinema
cumpre uma função cultural e social, a qual muitos somente têm
acesso no ambiente escolar. De acordo com Marcos Napolitano,
“Trabalhar com o cinema em sala de aula é ajudar a escola a
reencontrar a cultura ao mesmo tempo cotidiana e elevada, pois o
cinema é o campo no qual a estética, o lazer, a ideologia e os valores
sociais mais amplos são sintetizados numa mesma obra de arte.”
(NAPOLITANO, 2003, p.11)
125
“São preocupações que teimam em permanecer no ideário, sem
penetrar efetivamente nos fazeres pedagógicos, ou serem assumidas
nos projetos escolares no âmbito da educação básica, senão como
experiências isoladas bem-sucedidas, protagonizadas pela iniciativa
e opção pessoal dos professores. Muitas inovações metodológicas,
não obstante terem sido concebidas com ótimas intenções,
conseguiram tão-somente dar um caráter mais lúdico e atrativo à
História escolar, sem necessariamente desafiar os conteúdos
selecionados, a perspectiva cronológico-linear, a narrativa
protagonizada pelo professor e o papel pouco ativo do estudante.”
(CAIMI, 2011, p.2)
Referências
126
FERRO, Marc. Cinema e História. São Paulo: Editora Paz e Terra,
1992.
NÓVOA, Jorge. Apologia da relação cinema-história. Olho na
História, nº1, 2013. Disponível em:
http://www.oolhodahistoria.ufba.br/01apolog.html
NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula. São
Paulo: Contexto, 2003.
CAIMI, Flávia Eloisa; LAMBERTI, Mayara Hemann; FERREIRA,
Mariluci Melo. O cinema como fonte histórica na sala de aula. Anais
Eletrônicos do IX Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino
de História. Florianópolis, 2011.
127
ENSINO DE CONCEITOS HISTÓRICOS
ATRAVÉS DA FICÇÃO -
POSSIBILIDADES DO USO DO
CINEMA NO ENSINO FUN DAMENTAL
KÉDSON NASCIMENTO MACIEL
128
filmes como também conhecer as correlações entre a História e
aqueles heróis que conheciam e consumiam, muito mais por vídeo
que pelas HQ’S.
129
Incorporar uma história fantasiosa ao trabalho do
pesquisador/professor no ensino dos conceitos é a base norteadora
para este trabalho. Proponho desenvolver aqui um debate das
possibilidades de apresentar os conceitos históricos antes da
narrativa histórica, mas fazê-lo não através da simples explanação,
mas de elementos comuns no dia-a-dia dos estudantes: filmes,
desenhos animados, mangás, super-heróis entre outros exemplos da
cultura pop, na tentativa de atraí-los para o debate e somente depois
aprofundá-lo com o conhecimento científico.
130
haja pessoas que neguem o Holocausto e que falem do movimento
nazista como se ele fosse de esquerda”. Usando de sites, blogs e
livros de pessoas pouco familiarizadas com o mundo acadêmico e as
discussões sobre o tema, aos estudantes apontam os professores
como mentirosos, doutrinadores mostrando a importância de o
professor buscar um contraponto.
131
importante, a profunda ligação com as “redes sociais” em que boa
parte do mundo contemporâneo vivemos, nos traz uma quantidade
de informações tão demasiada e por muitas vezes rasas, produzidas
por pessoas que não detêm o método histórico, mas uma leitura fácil
e agradável, chamadas por Marieta Ferreira de history
maker (FERREIRA, 2002: 326), ou ainda mais preocupante, pessoas,
muitas vezes youtubers, que, por má fé ou falta de conhecimento da
História falseiam fatos vistos como verdades por seus seguidores.
132
narrativa histórica propriamente dita. Creio ser possível amplificar
os resultados, quando ao conhecimento histórico dos estudantes
com essa metodologia e não somente com estes filmes em especial,
mas em diversos outros produtos inseridos na cultura pop, popular
entre jovens e adultos.
“Alguns livros didáticos, por exemplo, têm proposto que isto seja
feito sobre a forma de exercícios, do tipo “Assimilando conceitos” ao
final de cada capítulo estudado. Nesse caso, trata-se de uma
atividade de aplicação do conteúdo estudado, onde o conceito é
visto apenas como produto do conhecimento adquirido pelo aluno e
não como uma construção sistemática, que pode ocorrer em várias
133
situações, tendo como referência o próprio conhecimento do
educando” (SCHIMIDT, 1999: 147).
134
conceitos pelos estudantes. O debate sobre a arte cinematográfica e o
ensino já é bastante largo, percorrido por muitos pesquisadores
desde a invenção do cinema, tendo como precursores Marc Ferro e
Pierre Sorlin e já era proposta pedagógica como é o caso de Jonathas
Serrano, professor do Colégio Pedro II, no Brasil, que propunha o
uso dos filmes para facilitar o aprendizado da disciplina e a
considerava uma ilustração da História desde 1912
(BITTENCOURT, 2008: 371).
135
alunos rebeldes e desobedientes” (SANTOS, 2018: 23). (Grifo original
do texto)
136
“O cinema descobriu a história antes de a História descobri-lo como
fonte de pesquisa e veículo de aprendizagem escolar. No início do
século XX, os “filmes históricos” quase foram sinônimo da ideia de
cinema, tantos foram os filmes que buscaram na história o
argumento para seus enredos” (NAPOLITANO, 2008: 240).
137
por Wilson Tucker, autor de ficção estadunidense) que perdura até
os dias atuais. O eixo central da série é o constante atrito entre os
“lados da força”, sempre protagonizados pela família Skywalker e
sua relação com os Jedi e os Sith, usuários do lado luminoso e
sombrio da força, respectivamente. Em meio a este ambiente místico
desenvolve-se uma narrativa de disputas políticas, ideológicas e
sociais, que, bem ao estilo das space operas, se assemelha aquelas
vividas no mundo real.
Referências
Sobre o autor
138
Kédson Nascimento Maciel é graduado em bacharelado e
licenciatura em História pela Universidade Federal do Pará (UFPA).
Especialista em História da Amazônia, Universidade Federal do
Pará (UFPA). Professor de História e Estudos Amazônicos do
Ensino Fundamental na rede municipal de Castanhal e Estadual do
Pará. Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Ensino de
História pela Universidade Federal do Pará (UFPA).
Fontes jornalísticas.
Bibliografia
139
KOSSELECK Reinhart. Sobre a teoria e o método da determinação
do tempo histórico. In: Futuro e Passado: Contribuição à semântica dos
tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto: Ed. PUC-Rio, 2006,
p.p. 97-108.
140
“LUTA E APRENDIZAGEM ”:
VALORIZAÇÃO DA IDENTIDADE
AFRO-BRASILEIRA NO COLÉGIO
MILITAR TIRADENTES EM CAXIAS-
MA
AYRTON COSTA DA SILVA
CAMILA JOSEANE E SOUSA RIOS COSTA
MIRIAN DA SILVA COSTA
141
fulcral na formação, hoje, considerando o fosso entre as politicas
educacionais de Estado e a sua implementação, especialmente no
que tange à adequação da formação inicial dos professores e à
obrigatoriedade do ensino de história e Cultura Africana e Afro-
Brasileira nos currículos escolares das redes publicas e privada de
ensino”. (LIRA. MELLO, 2017, p. 679).
142
Outro tema que chegar a gerar dúvidas, polêmicas são os sistemas
de cotas, na qual o negro, para adentrar na Universidade, precisa ser
submetido. Tendo em vista as realidades mencionadas acima, foram
discutidos, no projeto, sobre a valorização da identidade afro-
brasileira, fazendo com que os educandos possam refletir e se
conscientizarem sobre o mesmo.
143
‘raça’ apenas reificar uma categoria política abusiva”
(GUIMARÃES, 2012, p.48-49).
144
está ligada diretamente com a discriminação de raça, racismo ou
também “mito das três raças: branca, negra e indígena”, partindo
deste pressuposto o termo “raça”. Foi incentivado aos alunos a rever
esses discursos que se propagaram ao longo do tempo.
145
assimilacionista como postura dominante do movimento negro”
(DOMINGUES, 2006, p.113).
146
Portanto, o Brasil é um espaço de cultura das mais variadas
expressões, que ao longo do tempo foram sendo implantadas em
nosso cotidiano, sejam elas na religião, na música, nossas maneiras
de expressar as palavras, nas questões estéticas atuais, além da
culinária. Todas essas tradições estão vivas em nosso dia-a-dia,
conquistaram um espaço que foram sendo atribuídos as mais
valiosas e identidades negras, e cabe a nós brasileiros prestigiar,
valorizar e acima de tudo respeitar.
REFERÊNCIAS
147
COMUNIDADES TRADICIONAIS NO
ENSINO DE HI STÓRIA: PARA ALÉM
DOS ESTEREÓTIPOS
1- INTRODUCÃO.
148
negados e o resultado disso são mortes e confrontos nesses espaços
de disputas, advindos principalmente dos interesses divergentes
entre esses grupos.
149
O trabalho foi desenvolvido a partir da análise nos processos
criminais da comarca do Pará em 1837, buscou-se perceber nessas
fontes indícios sobre possíveis conflitos envolvendo populações
tradicionais na luta por seus territórios. Além de pensarmos sobre a
possibilidade de utilizar essas fontes nas aulas de História,
apresentando aos alunos a documentação dos processos criminais e
como manuseá-las para compreendermos as informações contidas
em suas páginas.
150
personagens, o pano de fundo continua o mesmo, é a busca pelo
controle e a manutenção de um grande território, que para alguns é
sinônimo de lucros e riquezas, e para as comunidades tradicionais é
apenas o local onde vivem desde que nasceram e de onde retiram
tudo que precisam.
151
são grupos distantes, mas que permanecem na luta constante por
seus direitos.
152
4-CONSIDERACÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
153
NADAI, Elza. O Ensino de história no Brasil: trajetória e
perspectiva. Rev. Bras de Hist. S. Paulo, v.13, n 25/26 pp.143-162.
Set.92/ago. 93.
VAINFAS, Ronald. (et. al.). História doc., 9º ano. 1. ed. – São Paulo:
Saraiva, 2015.
154
POR QUE ESTUDAR IDADE MÉDIA NO
BRASIL?
155
fato, mal conhecida por quem não é especialista – aqui
principalmente o grande público, “vítima” das “idealizações
hollywoodianas”.
156
1. ESTUDAR IDADE MÉDIA
Aliás, Confúcio (551 – 479 a.C.) e Heródoto (485 – 420 a.C), podemos
assim dizer, foram os principais responsáveis por enraizar na
sociedade humana a ideia de que é necessário conhecer o passado
para compreender o presente e, de tal forma, “prever” o futuro. De
fato, a relação Tempo-Homem-História é tão antiga quanto a
própria humanidade e, por isso, é tema de inesgotáveis questões
levantadas tanto por historiadores, quanto pelos demais estudiosos
não só das ditas ciências sociais, mas também das ciências naturais
(DOMINGUES, 1996).
157
a Idade Média é, ao mesmo tempo, europeia e brasileira, mesmo que
ela se faça presente de formas distintas nesses locais, por meio de
uma sobreposição de tempos. Se na Europa ela se encontra
materializada em uma enorme quantidade de elementos urbanos
sobreviventes da época, no Brasil ela se perpetua na tradição mental
que engendra nossa conjuntura nacional, por meio de uma estrutura
social, política, cultural e religiosa que já não é só medieval ou
europeia.
158
Franco Júnior. Apenas acreditamos que vá além e mereça
determinado cuidado refletir sobre os porquês de construir uma
medievalística brasileira. Como destaca Demade (2012, pp. 44-45),
para engajar o estudo da História (em específico, a medieval)
devemos nos ancorar na autonomia do medievo em relação ao
presente, em um estudo para e por ele mesmo. Seria então um
estudo da alteridade de abordagem, não da defesa do objeto por si
só, mas sim do que o autor descreve ser “unicamente por seu valor
heurístico diferencial”, interessando na medida em que permite
“abordar problemas cruciais, [...] problemas que nenhum dos
objetos dessas ciências permitiria formular corretamente”.
159
LUCA, 1988, p. 7), entre muitas outras caracterizações pejorativas
foram utilizadas por pensadores renascentistas para definir os
séculos que sucederam o fim do Império Romano do Ocidente. Ou
seja, a Idade Média era entendida como um período de extremo
retrocesso intelectual, marcado pela dominação de uma Igreja
responsável por generalizar a ignorância e a superstição. Era vista,
portanto, como uma época intermediária, de recesso da razão,
dentro de um contexto que tais pensadores logravam estar vivendo
em uma época de retomada do legado greco-romano, o retorno de
um período de esplendor, orientada pelo uso da razão e pela
liberdade individual (FRANCO JR., 2001, pp. 17-19).
160
pitoresco dos seus usos e costumes”. Podemos citar como exemplos,
as lendas, as tradições, os castelos e o idealismo sobre os cavaleiros,
os monges, os santos e os cruzados, em um esforço também para a
construção de uma identidade nacional (FRANCO JR., 2001, p. 12).
“Construir-se-ia uma Idade Média idealizada que nebulava os olhos
e os entendimentos dos homens do século XIX [...]. A literatura que
idealiza essa Idade Média cheia de maravilhas, força, sentimentos
afáveis, dentre as quais estão as obras de Yvain. O cavaleiro e o
Leão, Tristão e Isolda, e toda aquela abundante escritura das gestas
de cavalaria do amor cortês [...] é exemplo de todo o material que
ajudou o século XIX a fazer da Idade Média não mais uma idade das
trevas e sim uma idade, senão das luzes, de uma suave neblina de
bem-estar e romantismo.” (AMARAL, 2012, p. 5)
161
se criou “a cidade, a nação, o Estado, a universidade, o moinho, a
máquina, a hora e o relógio, o livro, o garfo, o vestuário, a pessoa, a
consciência e, finalmente, a revolução” (LE GOFF, 1980, p. 12).
162
tiveram grande penetração nas universidades brasileiras, já sob
influência dessas novas abordagens.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
163
AMARAL, R. A Idade Média e suas Controversas Mensurações: tempo
histórico, tempo historiográfico, tempo arquétipo. In: Fênix: Revista de
História e Estudos Culturais. Vol. 9, Ano IX, Nº 1, Jan-Abr/2012.
Disponível em <www.revistafenix.pro.br>.
__________. O medievalismo no Brasil. In: História Unisinos, v. 15, n.
3. São Leopoldo, 2011.
BARROS, José D'Assunção. Os Tempos da História: do tempo mítico às
representações historiográficas do século XIX. In: Revista Crítica
Histórica. Ano 1, n°2. Alagoas: UFAL, 2010. p.180-208. Disponível
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Nacional de História: Conhecimento Histórico e Diálogo Social.
Natal: 22 – 26/07/2013. Disponível em <http://goo.gl/fa4ZB5>.
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UFRRJ, Prodocência, LITHAM e Capes, 2010. Disponível em
<http://goo.gl/eH2t6b>.
DOMINGUES, I. O fio e a trama: reflexões sobre o tempo e a
história. São Paulo: Iluminuras; Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1996.
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São Paulo: 2008.
INÁCIO, Inês C. & LUCA, Tania R. de. O pensamento medieval.
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LE GOFF, Jacques. Para um novo conceito de Idade Média. Lisboa:
Editorial Presença, 1980.
LOYN, H. R. (org.) Dicionário da Idade Média. RJ: Jorge Zahar,
1997.
164
MÉHU, Didier; ALMEIDA, Néri de Barros; SILVA, Marcelo
Cândido da. Pourquoi étudier le Moyen Âge? Les médiévistes face
aux usages sociaux du passé. Actes du colloque tenu à l’université
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2012.
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SCHIPANSKI, C. E.; e PONTAROLO, L. P. História medieval:
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VOVELLE, M. Ideologias e mentalidades. São Paulo: Brasiliense,
1987.
WICKHAM, Chris. Abordagens marxistas sobre a Idade Média, algumas
questões e exemplos. In: Mare Nostrum, n. 3. São Paulo: 2012.
165
AS CONTRIBUIÇÕES DE PAULO
FREIRE PARA O ENSINO DA
HISTÓRIA
ALINE NUNES RANGEL
166
Os conhecimentos da vida cotidiana dos estudantes devem ser
valorizados na hora de fazer a transposição didática nas aulas de
História. Na transposição didática, é preciso mostrar ao estudante
que os conteúdos têm ligação com o nosso dia a dia, para que os
mesmos vejam sentido em estudar a História. Conscientizar nossos
estudantes que é preciso romper com o sistema opressor,
promovendo a leitura, a interpretação, o diálogo, a reflexão e a
crítica, diante do que está acontecendo no mundo.
167
A Pedagogia Crítica não resolve todos os problemas da educação no
Brasil e Paulo Freire não é o “salvador da pátria”. Mas é
amplamente reconhecido no Brasil e em diversos países como um
grande educador, que incentivou e ainda incentiva a buscar uma
educação conscientizadora, crítica e reflexiva.
REFERÊNCIAS:
168
A REFORMA DE LUTERO?: ANÁLISE
DA NARRATIVA SOBRE REFORMA
PROTESTANTE NOS LIVR OS
DIDÁTICOS DE HISTÓRI A
LAYANE DE SOUZA SANTOS
169
(PNLD) em 1985, este suporte passou por diversos questionamentos
quanto ao seu conteúdo, porém, não iremos nos ocupar destas
questões. Sabe-se também que, os livros didáticos são uma fontes
inesgotável e cada vez mais observamos trabalhos sobre temáticas
infinitas em relação a eles, buscando caminhar juntamente com os
que vem escrevendo e contribuir para os estudos sobre essa fonte, é
que nos dispusemos a fazer tal trabalho.
170
Quando cruzamos a temática da reforma protestante com ensino de
história educação entre outros, também temos vários autores
escrevendo sobre como, Clenir Silva (2014), que escreve sobre a
representação de Lutero nos livros didáticos e ainda, faz uma
revisão bibliográfica sobre a vida do mesmo, tem como limite
temporal três décadas (1980,1990 e 2000). Com isso observa como
Lutero é levado para sala de aula e tem comenta sobre como este
personagem é importante para as mudanças culturais, religiosas e
como suas ações como a de traduzir a bíblia contribuíram com tudo
isso. Outro autor é, Lúcio Antônio Felipe (2015) que em seu trabalho
busca fazer uma analise nos capítulos dos livros didáticos, que se
referem à Reforma Protestante, e o personagem histórico Martinho
Lutero. Com vistas a perceber de que maneira esse tema é
mostrado na atualidade, para os jovens estudantes, que têm a sua
formação na escola, mediado pelos livros didáticos, distribuídos
para as escolas, pelo governo como principal leitura, e da mesma
maneira, perceber como esta sendo apresentado na academia. Já,
Edeílson Azevedo (2010), escreve sobre livros didáticos a respeito da
ausência de renovação da historiográfica nos livros e como segunda
problemática escreve sobre as generalizações feitas a partir de
contextos locais e/ou regionais, pelas quais se tenta explicar
acontecimentos de caráter nacional e/ou universal. Para isso, foram
selecionadas algumas temáticas com o objetivo de demonstrar as
lacunas que ainda persistem nesses materiais pedagógicos e uma
dessas temáticas é a reforma protestante.
171
Quadro 1 Livros selecionados
História Tematica: Terra e 2008/ 2009/ 2010 Cabrini, Catelli e Montellato 7 º série
propriedade
História, Sociedade & Cidadania 2008/ 2009/ 2010 Alfredo Boulos 7º ano
História, Sociedade & Cidadania 2017/ 2018/ 2019 Alfredo Boulos 7º ano
172
(G1 Notícias Acesso em: 20.06.2019
173
somente de protestantes; e ainda, se tem os neopentecostais, que
segue uma mesma linha de raciocínio, seriam como filhos da
reforma. Tais religiões estão em crescente de forma alastradora no
país o que seria mais um motivo para averiguarmos as narrativas
que se tem dito sobre o ponta pé inicial disto. Se pensarmos
na realidade atual dos professores e de alunos para cada sala de
aula se tem pelo menos 5 alunos protestantes (incluindo aqui
pentecostais e neo), porém, dependendo da localidade de onde está
escola se encontra, o número tende a ser bem maior. O último censo
do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística), indica esse
crescimento de brasileiros que vem aderindo a religião protestante.
174
A maior redução foi registrada pelo instituto no Norte, passando de
71,3% da população em 2000 para 60,6% em 2010.
175
busca abranger, como as temáticas são desenvolvidas de forma geral
dentro do livro o discurso sobre o assunto de reforma protestante
mudava incluindo os personagens.
Outra autora que decidimos utilizar para ampliar a visão sobre essa
análise foi Helenice Rocha (2013), buscando caminhar com o seu
conceito de narrativa histórica para os livros didáticos, Helenice
elenca desde as exigências do PNLD e análise perpassa sobre como
a partir dessas exigências as temáticas podem variar, os focos
podem variar etc, e isto, podemos comentar que percebemos em
especial na coleção onde tínhamos dois livros, porém, de PNLD´s
diferentes, ao fazer uma checagem geral, antes do recorte que foi
estipulado (que é o capítulo sobre reforma protestante nos livros)
podemos obervar com os textos mudam, as imagens mudam e
agregação de novos temas são colocados, justamente por conta
destas exigências que foram aparecendo ao longo do tempo, como
por exemplo a 10.639/03 que exige que sejam estudados dentro da
sala de aula, assuntos relacionados a matriz africana e cultura afro
brasileira.
176
Busquei então analisar quais autores são citados nas obras, para
pensar sobre essa diferença de linguagem. A seguir tabela
demonstrativa.
História Tematica: Terra e propriedade 2008 Treza Queiroz; Adhemar Maarques e Ricardo
Faria.
História, Sociedade & Cidadania 2008 Edith Simon; Fenando Sefener; Armando
Anetnore.
História, Sociedade & Cidadania 2017 Fernando Sefener (3x); Alexander Vianna; Klug
João e Pierre Cornielle.
História Tematica: Terra e 15 pgs Capitalismo: Religião e Política (introdução do capítulo O livro neste capítulo, não faz
propriedade 2008 como sobre as religiões de forma plural e atual). o contexto histórico entre a
Idade moderna e o
Tem tópicos bem abrangentes e diretos, o exto é curto,
177
pois, o livro cnta com diversas ilustrações sobe o tema. Renascimento, que
significaria as mudanças de
Um ponto interessante a ser comentado e o tópico sobre
visão de mundo ser humano,
os camponeses e como o livro se posiciona diante do não
ajudando a se permitir tais
apoiamento de Lutero as revoltas camponesas, seria por
questionamentos.
que ele já estava fechado com a burguesia naquele
interesse deles.
Piatã 2017 15 pgs A reforma protestante e a reação católica (tópico O livro faz de forma bem
introdutório do livro. Conta com tópicos curto, apesar do sucinta o contexto em que
primeiro ter um texto bem extenso, explicando de uma surge a reforma e não busca
forma geral sobre a reforma e as pessoas que já tinham se trabalhar uma história global
rebelado e pensado tais questões, como Huss. Não contém no momento, ficando
muitas imagens e nem atividades, porém, é um livro, somente nas localidades mais
digamos “antenado”, pois, traz em sua discussão questões citadas sobre reforma.
atuais e tem a proposição para um debate em sala sobre
religiosidade.
História, Sociedade & 14 pgs Tem tópicos bastante curtos, porém tem um mix de Comenta sobre renascimento,
Cidadania 2008 informações sobre a temática. Um ponto que pode vir a faz um contexto sobre a
ser negativo é que não mostra como foi a expansão do história da igreja e o por quê
História, Sociedade & 19 pgs Reforma e contrarreforma, é o tópico inicial do livro, logo O livro cita o Renascimento e
Cidadania 2017 aqui já podemos perceber diferenças entre as duas as mudanças culturais neste
respeito de uma massacre de huguenotes na França, está comenta não comenta sobre a
178
detalhes sobre o assunto, além de se ter muitas imagens e
e diversificado.
Tabela de número 4
179
Neste gráfico podemos perceber a figura de Lutero como a que mais
aparece quando se trata da temática, de forma bem expressiva. O
que confirma o que foi dito no início do trabalho sobre esse destaque
de Lutero e o que vai ao encontro do título do trabalho que busca
refletir estes outros personagens, abrangendo mais a temática e
ajudando os alunos também a entenderem melhor a diversidade de
religiões mesmo dentro do protestantismo, saindo daquela categoria
generalizada e buscando pensar e mostrar além.
CONLUSÃO
180
uma qualquer categoria geral.” No entanto, na Itália do
Renascimento , este véu evaporou- se... o homem tornou-se um
individuo espiritual e reconheceu-se a si mesmo como tal.” , neste
inicio é comentado sobre como o renascimento trouxe a
modernidade, como a regeneração da arte aconteceu na Itália etc,
porém Peter Burke questiona sobre tais afirmações e se tal mudança
teria sido tão estrondosa ou singular, se teria sido somente nesta
localidade um fenômeno como este.
Glossário
181
John Huss (Husinec, Boémia do Sul, 1369 - Constança, 6 de Julho de
1415) foi um pensador e reformador religioso. Ele iniciou um
movimento religioso baseado nas ideias de John Wycliffe. Os seu
seguidores ficaram conhecidos como os Hussitas. A igreja católica
não perdoou tais rebeliões e ele foi excomungado em 1410.
Condenado pelo Concílio de Constança, foi queimado vivo.
182
REFERENCIAS
183
Portal São Francisco. Acesso em: 20.06.2019 Disponível
em: https://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-
geral/pentecostalismo
184
O AGRÁRIO EM NARRATIVAS
ESCOLARES
ATHOS MATHEUS DA SILVA GUIMARÃES
FRANCIVALDO ALVES NUNES
Introdução
185
Partindo desta premissa, analisamos 3 (três) livros didáticos da
editora Leya que abasteceu a Escola Estadual de Ensino Médio Prof.
Antônio Gondim Lins, escola localizada no Município de
Ananindeua – Pa. A análise foi direcionada para as narrativas sobre
a questão agrária, pois é um tema bastante sensível e cheio de
estigmatizações por parte da sociedade. Influenciados, também, a
partir das narrativas escolares. Para ressaltar, este trabalho é fruto
do projeto de iniciação cientifica, financiada pelo CNPQ, que vem
debater sobre a questão agrária nos livros didáticos. Este texto foi a
partir dos resultados encontrados. Na abordagem, trabalhamos com
os assuntos voltados para a história do Brasil, pois desejamos
entender como o agrário foi introduzido nas narrativas sobre o
Brasil nestes livros didáticos.
186
intencionalidades, possuindo os mais diversos objetivos para dentro
e fora da sala de aula. Não são apenas meros informadores para
alunos, muito mais que isso, são instrumentos decisivos na
construção dos debates que estarão no espaço escolar e está presente
no planejamento dos conteúdos para a sala de aula.
187
Da mesma forma que no governo militar, no período da Ditadura
militar, também interviu no processo de construção dos livros
didáticos. Para qualquer governo federal é fundamental ter controle
sobre as narrativas que serão introduzidas no espaço escolar, são
narrativas que estarão de acordo com objetivos do Estado. Daí a
necessidade da formação de um agente regulamentador como a
CNLD. Porém os critérios vão se transformando da mesma forma
que os personagens, até surgir outro agente, como, por exemplo, o
PNLD.
O Programa Nacional dos Livros Didáticos (PNLD) é um agente
fundamental no processo de produção e compra dos livros
didáticos. O programa foi criado em 1985, momento de intensas
discussões sobre o ensino após o processo da ditadura militar (De
Luca; Miranda; 2004). O PNLD é um personagem que normatiza os
processos de construção e a maneira como deve ser escolhido.
Torna-se uma referência para as editoras desenvolverem suas
produções para conseguirem entrar na lista de livros com o selo
desta instituição e poder adentrar no processo de seleção dos
docentes do ensino básico e possibilitar a compra.
188
outras civilizações em temporalidades especificas, caracterizando
um livro didático de história integrada.
189
O agrário nos livros
190
da trama, porém não traz mais características para além da
importância política e econômica para a colônia.
191
surgindo nestas narrativas não pertencem aos grupos
marginalizados, mas as elites que se perpetuaram e ditaram por
muito tempo.
Referencias
192
PIBIC/CNPQ, desenvolvendo a pesquisa no Campus da UFPA em
Ananindeua com o tema “A terra, os homens e o ensino de história:
a questão agrária e o ambiente rural em livros e apostilas” sob
orientação do professor doutor Francivaldo Alves Nunes (UFPA). E-
mail para contato: athosguimaraes26@gmail.com
193
CREMA, Everton; ESTACHESKI, Dulceli; NETO, José.
(Org.). Aprendizagens históricas: Rumos e experiências. 1ed.União
da Vitória/ RJ: LAPHIS/ Edição especiais Saberes de ontens, 2018, v.
1, p. 36-42.
194
PARTE 2
P
E
S
Q
U
I
S
A
195
IDENTIDADE & MEMÓRIA: AS
“MULHERES UCRANIANAS ” EM
PRUDENTÓPOLIS/PR
NIKOLAS CORRENT
INTRODUÇÃO
196
Nesse sentido, a discussão que aqui se apresentará tem como
propósito a problematização e reflexão sobre elementos que
viabilizem a compreensão das características das mulheres
ucranianas e suas construções sociais dentro de determinada
sociedade. No caso dos pontos presentes nesta abordagem em
específico, trataremos, por excelência, de pincelar questões sócio-
culturais e regionais que sublinham o diálogo acerca do que se
entende como mulher dentro de Prudentópolis.
197
formador das cidades, mais especificamente a partir do estudo de
caso do município de Prudentópolis (PR).
198
e na projeção maior do Brasil como um polo de diversidade e
acolhimento.
199
verdadeira. Os prudentopolitanos descendentes de ucranianos
preservam traços de memória como se fosse uma herança valiosa,
mas nada mais é do que o desejo e a busca de uma identidade, que
se constrói pela diferença.
200
e masculinos, outorgando maior liberdade ao homem, porém
observa-se que a mulher ucraniana também conversava muito com
seu marido e os dois chegavam a um consenso, ou seja,
aparentemente o homem ucraniano machista aceitava sugestões de
sua esposa e estava aberto ao diálogo (TENCHENA, 2010, p. 123).
201
sendo incorporada como algo natural pelas descendentes de
ucranianos considerando que elas – esposas e filhas –, acabam
implantando essa relação de obediência em sua rotina como algo
irreversível. Não percebendo sua condição de dominadas, as
mulheres, acabam reproduzindo essa subserviência.
202
Em Prudentópolis, nota-se uma função fortemente atribuída às
mulheres de descendência ucraniana: a de preservar os costumes.
Segundo Krevei, “[...] as mulheres tem que cuidar dos filhos e da
casa. As mães são responsáveis pela transmissão das tradições e
costumes aos filhos, sendo ensinado o jeito de ser ucraniano”
(KREVEI, 2017). Destaca-se aqui o papel praticado pelas mulheres
ucranianas diante da preservação e manutenção das tradições.
203
Conforme Stuart Hall (1997) “[...] as sociedades estão
constantemente sendo descentradas” (HALL, 1997, p. 17), e a
necessidade de trazer à tona os elementos cuturais de uma
civilização ou povo, adquire outra conotação. Não se tratando assim
de manter o elemento cultural na mente como uma maneira vaidosa
e impensada de sobreviver a tradição à morte, os pressupostos de
investigação cultural, como no caso de Prudentópolis, considerada
“a Ucrânia Brasileira”, parece ainda haver uma espécie de
“concessão” à mulher para que se possa reconstruir ou
reterritorializar a Ucrânia no Brasil. Isso fica de certa forma evidente
no fato de que se deve manter, aparentemente, uma cultura casta,
recatada e que se mostre diferente de uma suposta permissividade
brasileira, de modo que, em relação à mulher ucraniana, “[...] ainda
hoje não é de bom tom engravidar antes do casamento e as festas da
comunidade ainda seguem os ritos ucranianos, mas sem o
casamenteiro” (TENCHENA, 2010, p. 81).
204
Nessa perspectiva, a relevância dada à religião em Prudentópolis,
faz com que ocorra a determinação de comportamentos, regras e
valores que são assimilados pelas famílias, de forma que através do
diálogo é aprendido instintivamente por meio de estruturas
inconscientes da ordem masculina. A depoente Nádia Morskei deixa
claro isso, pois acredita que “[...] a Igreja é a principal responsável
por estar mantendo as tradições culturais, religiosas, étnicas e
folclóricas” e que “[...] a conciliação da família com a força da igreja
foi importante pra manter os costumes, senão tinha acabado tudo.
Nós descendentes devemos muito pra igreja”. O discurso religioso
estabelece uma relação intrínseca de dependência com a dominação
masculina, inclusive fundamentada em uma perspectiva
estritamente patriarcal.
[...] preparar a comida; por a mesa; convidar para vir à mesa; lavar a
louça; arrumar a cozinha; preparar o café para o dia seguinte e
planejar o próximo almoço. Aos sábados, além das tarefas habituais,
competia à mulher lavar a casa e a cozinha, quando completava o
serviço da cozinha, a mulher pegava o cesto de roupa para
remendar ou lavar. Ela não ficava nunca sem trabalhar. Eram
poucas as mulheres que se dedicavam, nessa época, a serviços fora
da pequena propriedade, algumas trabalhavam como professoras
nas colônias, mas quando chegavam em casa também tinham os
seus afazeres domésticos (arrumar, passar, educar, etc.)
(TENCHENA, 2010, p. 29).
205
marcadamente masculina, onde os modos de agir, de se comportar e
até de pensar são determinados e estabelecidas por outrem. Essa
identidade passa a ser formada juntamente com a aceitação da
posição de inferioridade da mulher, a qual seu recinto de submissão
é visto como normal, pela sociedade e por si mesma, que subsidiará
o consentimento da dominação.
206
não necessariamente políticas, mas que promovam um laço ou uma
coerência a médio e longo prazo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
207
Não existe assim, um DNA fixo e eternamente imutável em todos os
seus genes, mas uma coisa mais ou menos evanescente que desperta
de onde se menos se espera, e que traz à tona, não importa quanto
tempo se passe, um cheiro, uma nota musical, um gosto, uma forma
de se vestir e um dialeto que reterritorializa sempre uma parcela do
imigrante que sempre se reconstrói numa entropia própria com a
nova casa, seja ele europeu, polonês e, no caso de Prudentópolis,
ucraniano.
REFERÊNCIAS
208
BAUMAN, Zygmunt. Perspectiva: entrevista a Benedetto Vecchi.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2005.
209
FONTES
NIKOLAS CORRENT
210
o termo "gênero" inclui as mulheres, sem lhes nomear, e parece,
assim, não constituir uma forte ameaça (SCOTT, 1990, p. 75).
211
sexo, que os movimentos feministas e de mulheres, nos anos oitenta,
passaram a usar esta palavra ‘gênero’ no lugar de ‘sexo’” (PEDRO,
2005, p.78). A autora complementa que por meio deste contexto, os
estudiosos do período buscavam “[...] reforçar a idéia de que as
diferenças que se constatavam nos comportamentos de homens e
mulheres não eram dependentes do ‘sexo’ como questão biológica,
mas sim eram definidos pelo ‘gênero’ e, portanto, ligadas à cultura”.
(PEDRO, 2005, p. 78).
212
identidade, associa-se ao comportamento de um indivíduo perante a
sociedade na qual se estabelece.
213
detentora de informações globais, sobretudo acerca da sociedade e
sua cultura. De acordo com o historiador Boris Fausto em sua
obra História do Brasil (1995),
214
A história das mulheres se estabelece como um “[...] agente político
no qual desafia as premissas pré-estabelecidas, questionando a
primazia concebida ao homem, em oposição às mulheres” (SCOTT,
1994, p. 81-83). Logo, evoca uma contribuição ao advento do
movimento das mulheres nos anos de 1970, no qual, sendo de
caráter feminista, buscava contemplar a igualdade entre os gêneros,
bem como impugnar as raízes culturais que permeiam nesta
desigualdade. Para Pedro,
215
explicação dessa subordinação na ‘necessidade’ masculina de
dominar as mulheres” (SCOTT, 1990, p. 78). Acerca deste contexto, a
reprodução é considerada a “chave” desse sistema, tendo em vista
que a descoberta da contribuição do homem no processo de
reprodução instaurou o conceito de que as mulheres, assim como
seus herdeiros, eram subordinadas aos homens, os quais tornaram-
se a “fonte” da procriação. Scott (1990, p. 78) acrescenta que “[...] o
princípio da continuidade geracional restaura a primazia da
paternidade e obscurece o trabalho real e a realidade social do
esforço das mulheres no ato de dar à luz”. Posto isso, estabeleceu-se
uma superioridade paterna devido à sua contribuição na
fecundação. Além da reprodução, algumas pesquisadoras feministas
atribuem a sexualidade ao patriarcalismo. Destarte, a mulher
evidencia-se como uma fonte de prazer ao homem, sendo
novamente, um sujeito subordinado ao patriarca.
216
Perante o século XIX e após as ideologias difundidas na Revolução
Francesa, o movimento das mulheres almejava por melhorias nas
condições de trabalho, pleiteando seus direitos trabalhistas,
sobretudo a uniformidade no expediente de trabalho. Ademais,
requeriam o direito ao voto e a candidatura aos cargos públicos, os
quais restringiam-se apenas aos homens, principalmente os mais
abastados. No século subsequente, o feminismo – denominação do
movimento das mulheres - revigorou-se, desempenhando inúmeros
protestos organizados na intercessão de seus direitos. Essas
manifestações alentaram às mulheres a delatar a sujeição pela qual
eram acondicionadas e que se evidenciava em diversos âmbitos da
vida, bem como o familiar, o político, o social, o cultural e, dentre
outros.
217
espera que sejam "femininas", isto é, sorridentes, simpáticas,
atenciosas, submissas, discretas, contidas ou até mesmo apagadas
(BOURDIEU, 2012, p. 82).
218
Portanto, temos que a subjetividade feminina é construída em
tempos remotos por meio da dominação masculina. Isto é, agentes
externos subjetivam a mulher. A histerização da mulher é resultado
desta subjetivação patriarcalista, a qual sobrepõe a mulher, de
acordo com Foucault a uma
219
serem independentes dos homens, opondo-se assim, “[...] à figura
conservadora e santificada da ‘mãe’” (RAGO, 2004, p. 283), a qual
era enaltecida pelos patriarcas. A respeito dessa nova subjetividade
impulsionada pelo feminismo, Rago (2004) complementa que as
mulheres difundiram “[...] novos padrões de corporeidade, beleza,
cuidados de si, propondo outros modos de constituição da
subjetividade” (RAGO, 2004, p. 283-284), uma vez que as feministas
preocupam-se “[...] tanto com o refinamento do espírito, quanto com
a beleza corporal, a saúde, a agilidade, a elegância e a moda, na
construção de si e de uma nova ordem social e sexual” (RAGO,
2004, p. 283-284).
REFERÊNCIAS
220
Mestre em História (2019) pela da Universidade Estadual do Centro-
Oeste (UNICENTRO). Membro do grupo de Estudos em História
Cultural da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO).
Graduado em Pedagogia (2019) pelo Centro Universitário
Internacional (UNINTER), Filosofia (2018) pelo Centro Universitário
de Araras Dr. Edmundo Ulson (UNAR), História (2016) pela
Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) e Ciências Sociais (2015)
pela Faculdade Guarapuava (FG). Especialista em Docência do
Ensino Superior (2018) e Educação a Distância com Ênfase na
Formação de Tutores (2018) pela Faculdade São Braz (FSB); Gestão
da Educação do Campo (2017) pela Faculdade de Administração,
Ciências, Educação e Letras (FACEL); Educação Especial e Inclusiva
(2016), Metodologia do Ensino de Filosofia e Sociologia (2016) e
Ensino Religioso (2015) pela Faculdade de Educação São Luís
(FESL). Professor de Sociologia contratado pela Secretaria de
Educação do Estado do Paraná e leciona as disciplinas de Filosofia,
História e Sociologia no Colégio Imaculada Virgem Maria e
Sociologia no Colégio São José. Tem experiência na área de História,
atuando nos seguintes temas: Imigração, Identidade, Cultura,
Mulheres, Memória e História oral.
221
____________. História da sexualidade I: A vontade de saber. 13. ed.
Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988.
222
O GOIÁS DENTRO DE UM CONCEITO
DE SERTÃO. E AS RELAÇÕES PARA
COM UM PROJETO DE NAÇÃO
CESAR AUGUSTO NEVES SOUZA
O sertão era governado pela lei do mais forte, como a dos grandes
proprietários de terras. O poder legal muitas vezes dava espaço
para as pretensões pessoais, infringindo um tipo de conduta
peculiar. Um bom exemplo é quando o chefe dos jagunços, Joca
Ramiro, tem uma contenda com Zé Bebelo, um grande fazendeiro
que queria pôr fim aos jagunços da região. Joca Ramiro captura-o, e
o caso é solucionado entre eles próprios, sem a intervenção de um
órgão competente, jurídico, estatal ou institucional. Este caso é um
retrato de como os casos eram resolvidos no sertão. Sem a presença
de um juiz, ou de um órgão que regulamentasse a vida cotidiana, as
pessoas iam tecendo suas próprias leis, e não enxergavam com bons
olhos a presença do Estado. Embora o filme contemple a região
mineira, ele abre para nós a possibilidade de refletir sobre outros
223
espaços, ainda que este não esteja limitada à mesma localidade
geográfica, como a região goiana assunto desse trabalho.
224
orientação filosófica de Euclides formatou suas lentes de percepção,
ao aventurar-se entender o mundo do sertanejo, orientado pelo
método positivista de análise, semelhante ao método etnográfico,
procurando ser o mais fiel possível aos fatos observados.
225
distância que mantém em relação ao litoral. E a referência espacial
que repousa sobre a palavra sertão é de algum lugar longe do litoral,
um lugar onde a ‘civilização’ não se faz presente, um espaço de
solidão. No sertão a vida política das pessoas era fortemente
ancorada nos privilégios pessoais, no arbítrio, na troca de favores, e
no poder dos coronéis. E a fim de manter-se no poder utilizava-se
da violência, da chantagem e da imposição do medo para prevalecer
sua vontade senhoril. Esses eram fatores acentuados da vida social
dessa parte do Brasil. O sertão, portanto, é sozinho, lugar onde
permitia-se quase tudo, um lugar de refúgio em que muitos
encontravam a liberdade de fazer o que queriam, sem prestar
contas, ou seja, prestavam contas entre eles, distantes que estavam
dos órgãos oficiais do Estado. Como no conflito entre Joca Ramiro e
Zé Bebelo na obra Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, já
relatado no início deste trabalho.
226
É evidente, segundo Bourdieu (1989), que se deve pensar a região
para muito além do que pretendem os geógrafos. Acompanhando o
pensamento do autor, contempla-se os espaços para além dos
olhares geográficos. Pois, “o geografo prende-se talvez demasiado
ao que vê”, (BOURDIEU, 1989, p. 108), olhando muito pouco para
mais adiante das fronteiras políticas e administrativas. Embora o
pioneirismo neste tema, seja dos geógrafos, os estudos sobre região
é um palco de disputa entre os diversos estudiosos de outros
campos, como: antropólogos, historiadores, economistas, sociólogos
entre outros. Por mais que o geógrafo se concentre nos estudos
regionais, ele olha muito pouco para além das fronteiras políticas, ao
contrário de um economista, que percebe uma região como
tributária de outros espaços, seja na dependência econômica, seja no
fluxo comercial, que é estabelecido com outras localidades. Desse
modo, tanto o antropólogo, quanto o historiador, vem a contribuir
para a construção do conceito regional a partir de seus matizes
metodológicos.
227
vasto material sobre o espaço agrário brasileiro. No entanto, com o
tempo, esses estudos viriam a se desalinhar da proposta dos autores,
segundo a qual, praticamente todos tem seus alicerces na teoria
marxista e, deste modo, iriam abordar temas como periferia,
irradiação e se aproximando ainda mais para o espaço urbano. Além
do mais, produziram uma visão generalista o Brasil conforme
analisa Linhares e Silva (LINHARES, 1995, p. 3)
228
pessoas de localidades distintas, e que por sua vez configuram a
identidade dos pequenos povoados.
O rio que passa por uma cidade significa a vida, tanto econômica
quanto cultural. Suas águas abastecem a milhares de pessoas que
dependem delas. Entretanto, não é somente a vida da dona de casa,
do homem do campo, que são favorecidas pelas suas benesses. As
suas águas também trazem o sopro de vida econômica à uma
cidade, estabelecendo, por intermédio de seu leito, trocas comerciais
com outros mundos e outras culturas. Ao longo de seu leito muitos
povoados são formados, transformando-se em cidades. O rio que
corta a cidade transporta riquezas, notícias, pessoas, ou seja, dá vida
a um lugar. Desta maneira estabelece contato com outras
localidades, libertando a cidade do isolamento. Ao longo dos
oitocentos, os presidentes da Província de Goiás, e diversos
estudiosos viram nas águas dos Rios Araguaia e o Tocantins, a
solução para curar a província goiana, do tão infausto isolamento,
um deles foi Alfred Taynay.
229
O trabalho de Taunay (1876), sobre a Província de Goiás descreve as
riquezas da Província, e a ‘pesada nuvem’ que repousou sobre
Goiás, com o declínio da mineração. A exposição nacional de
Filadélfia, nos Estados Unidos, em 1876, comemorativa dos 100 anos
de independência norte americana, congregou nações de todo o
mundo. O grande objetivo, era enaltecer o trabalho humano e as
conquistas tecnológicas da modernidade, e com isso colocar os
Estados Unidos no rol dos países desenvolvidos. Outra intenção
estadunidense era consagrar a união das duas Américas com fator
decisivo para o progresso entre as Américas. O Brasil estava
representado na pessoa de Salvador de Mendonça no qual em sua
fala reforçou a união comercial entre o Brasil e os Estados Unidos.
Tendo como ponto de referência à exposição de Filadélfia, Taunay
(1876), sublinha a glória norte americana graças à chegada maciça
de emigrantes, que somaram riquezas e conhecimento ao
desenvolvimento da nação americana, e acrescenta que, se o Brasil
abrisse suas portas a países estrangeiros, também daria um forte
passo rumo ao progresso, posto que é um País que goza de notável
tranquilidade, rara beleza natural, um povo hospitaleiro e de leis
que protegem a segurança da família, e com isso poderia ganhar o
mesmo prestígio que a nação norte americana.
230
Taunay reforça que foi isso que Goiás não pode enviar à exposição
nacional. Em outras palavras, não se pode julgar uma província,
partindo somente do que estava em exposição.
Goiás poderia utilizar-se dos seus rios, assim como foi utilizado o
Rio Amazonas. Embora o Estado do Amazonas, compartilhando de
semelhantes problemas, tinha seus rios navegados constantemente,
e assim, enriquecendo o comércio, dando vida econômica à região.
O Amazonas, de acordo com Tocantins (1983), era composto por
uma população mais consistente, que aproveitava os benefícios que
o rio trazia. Todavia, segundo Taunay, a mesma bonança não é
vivida pelos povos de Goiás, pois para lá chegar, o viajante tinha à
sua frente inúmeras léguas a vencer e, sobretudo, as cidades goianas
se não eram florescentes, pelo contrário, eram ‘moribundas, ’
porquanto viviam esquecidas e isoladas do restante da civilização
brasileira. A região goiana era tida como sertão e, segundo as
definições de Taunay (1875, p. 13), o sertão no Brasil, quer dizer
terreno ainda não de todo ganho ao trabalho e a civilização.
231
nacional. Por um lado, os presidentes de Província reclamavam da
falta de navegação e, por outro, havia uma navegação promovida
por sertanejos e particulares, que enfrentavam os obstáculos e
perigos impostos pelo rio. E de acordo com Flores (2006) , é que
mesmo com o discurso dos presidentes de Província acerca da
dificuldade das navegações realizadas por pequenos empresários
particulares, e ainda com os perigos e obstáculos, estes bravos
sertanejos percorriam o Rio Tocantins dando vida ao comércio. O
verdadeiro objetivo por partes dos presidentes talvez era de provar
que a população da Província não era capaz de produzir na região
uma força produtiva suficiente para gerir e aquecer uma economia
de produção e exportação. Muitas tentativas foram feitas para
estimular a navegação. Praticamente todas tiveram como resposta o
fracasso.
REFERÊNCIAS
232
BURKE, Peter. A Escola dos Annales (1929-1989): a revolução
francesa da historiografia. 2. ed. São Paulo: UNESP, 2010.
233
DAS CIDADES-ESTADOS ITALIANAS
ÀS PROVÍNCIAS UNIDAS DA
HOLANDA: A GUERRA DO S TRINTA
ANOS SOB UMA PERSPEC TIVA
ARRIGHIANA
VICTOR DOMINGUES VENTURA PIRES
NAIANE INEZ COSSUL
INTRODUÇÃO
234
Contudo, os passos citados já foram perseguidos por outro autor.
Giovani Arrighi, em sua obra o Longo Século XX, desmembrou os
alicerces do capitalismo e de suas hegemonias, e, encontrou as
origens de nosso atual sistema nas cidades-estados de Genova e
Veneza, em algum ponto dos anos de 1500. Aproveitando-nos então
do autor, percorreremos os caminhos do capital do norte da Itália
até os desmembramentos da Guerra dos Trinta Anos, averiguando
como a luta pelo controle hegemônico dessa nova forma de
economia pôs as maiores economias da época em conflito, ao
mesmo tempo que observamos como a hegemonia, em meio ao caos
sistêmico da guerra, transferiu-se lentamente para o norte, rumo à
Holanda.
235
protegê-la, o que nos faz observar aquelas cidades que Arrighi
(1996) aponta, onde a moeda deixou rentabilizar na compra de
mercadorias para valer-se mais em si mesma.
236
europeu a dentro, e, o devido tabelamento dessas novas fortunas,
levou aos países europeus a experimentarem a burocratização já
existente no norte da Itália (KENNEDY, 1989; ARRIGHI, 1996). Tal
burocratização levou ao acréscimo e a centralização do poder nas
mãos da monarquia, que, devido às disputas, não somente entre
coroas, mas entre as próprias classes burguesas, levou a um
protecionismo comercial, com a garantia do comércio único das
colônias com a metrópole que as governava e as taxas para aquelas
que desejassem o comércio, aumentando as receitas e, logo, o
acúmulo de metais (PRADO, 2008).
1.1 OS HABSBURGOS
237
Então, das nascentes monarquias mercantilistas, devemos dar o
devido destaque a dinastia dos Habsburgos, poderosa e
fervorosamente católica. Detentora, pelo seu lado espanhol, do
século XIV ao XVII, da maior parte dos territórios da América e
outros na África e Ásia, garantindo a corrente continúa, e
extremamente rentável, de metais, também manteve o controle de
toda a península Ibérica, dos territórios das atuais Bélgica e Holanda
e partes da Itália. Do lado austríaco, todos os territórios do Sacro
Império Romano Germânico, que, como define Carneiro (2006, p.
172), “não era um Estado territorial nem possuía fronteiras
definidas”, ocupando os atuais territórios de vários países do centro
europeu, sendo integralmente os atuais perímetros da Alemanha, da
Áustria, de Luxemburgo, da Suíça, e da República Tcheca, somando
uma população de cerca de 20 milhões. A maioria desses territórios,
excluindo as colônias ultramarinas, foram adquiridos através de
laços matrimoniais dos Habsburgos com dinastias locais, como o
caso Espanhol, do casamento do filho de Maximiliano I da Áustria
(1459-1519, dos quais foi imperador nos seus últimos oito anos de
vida), Felipe (futuro imperador Carlos V), com Juana, filha de
Fernando e Isabel da Espanha, trazendo a coroa espanhola para os
Habsburgos (KENNEDY, 1989; CARNEIRO, 2006).
238
A paz abriu espaço para a profissão da fé protestante dentro do
fragmentado Império, através do cuiús régio, eius religio (“conforme
cada rei, sua religião”), onde o rei ou príncipe de cada unidade
política podia definir sua própria religião e de seu povo, e aqueles
que não professasse a mesma fé, teriam o direito de se mudar
(CARNEIRO, 2006). Além disso, consolidavam-se outras vertentes
protestantes em um número variado de Estados, como a Inglaterra,
que passou por sua revolução a partir de 1600, que além das
disputas entre Parlamento e a monarquia, tinha entre seus ramos a
disputa religiosa (LESSA, 2008); e a França católica, que após
décadas de guerra civil religiosa, conseguiu um alívio nos conflitos
através do Edito de Nantes, por Henrique IV, em 1598, uma política
seguida pelo seu sucessor, e filho, Luís XIII. Todavia, a paz dentro
do Sacro Império não duraria muito tempo, pois,
239
dos limites dentro do qual ele desperta poderosas tendências
contrárias, ou porque um novo conjunto de regras e normas de
comportamento é imposto ou brota de um conjunto mais antigo de
regras e normas, sem anulá-lo, ou por uma combinação dessas duas
circunstâncias.
240
depois da França, colaboraria para a concentração de forças na
manutenção do equilíbrio europeu (ARRIGHI, 1996; EITERER,
2016). Assim, França, Inglaterra e Holanda saíram como as grandes
vitoriosas, enquanto a Espanha mantivera apenas aquilo que condiz
com seu atual território e com suas colônias ultramar, o Sacro
Império fora definitivamente afastado do jogo das grandes
potências e, por fim, o papado teria que conviver com a reverência a
outras interpretações das escrituras, em territórios onde antes, pode
se dizer, era a única fonte de fé (KENNEDY, 1989; CARNEIRO,
2016). Todavia, cabe-se ainda entender como o caos sistêmico deu
lugar a hegemonia holandesa e como essa trabalhou para mantê-lo.
3. A HEGEMONIA HOLANDESA
241
subida ao capital holandês fora o contexto, praticamente sem
interferências, que se deu essa expansão (ARRIGHI, 1996). Se
retroalimentando do conflito com a Espanha, a Holanda não possuía
iguais no continente inflamado pela Guerra, onde todas as forças e
capitais estavam em uso na guerra, ou, especificamente no caso
inglês, pelas revoluções. Então,
242
as futuras empreitadas do governo revolucionário francês, o que, no
entanto, é algo que não está no escopo deste trabalho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
243
Naiane Inez Cossul é Professora de Relações Internacionais no
Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter) e Coordenadora do
Laboratório de Estudos em Defesa e Segurança (LEDS). É também
Doutoranda em Estudos Estratégicos Internacionais (PPGEEI-
UFRGS), Mestre e Graduada em Relações Internacionais (UFSC). E-
mail: naiane.cossul@uniritter.edu.br
244
CAPARAÓ: GUERRILHA,
RESISTÊNCIA E DIFICU LDADES DE
INSERÇÃO (1964 - 1967)
ALAÉVERTON ANDRADE
245
colégio eleitoral já deixava claro desde seu preâmbulo os objetivos
de saneamento institucional brasileiro, por parte dos grupos que
ascendiam ao poder, afastando assim opositores das mais diversas
linhas de ação e pensamento. Esse mesmo colégio eleitoral sitiado
elegeu no dia 15 de abril de 1964 o general Humberto de Alencar
Castelo Branco como presidente, cumprindo o objetivo dos citados
grupos, que buscavam uma aparência de legalidade ao golpe.
Chama atenção ainda que o governo instituído no Brasil com a
queda de João Goulart recebeu o reconhecimento oficial do Governo
dos Estados Unidos da América ainda no dia 2 de abril de 1964
muito pela ação do então embaixador Lincoln Gordon.
246
políticos construindo uma narrativa na imprensa, para a população
civil e principalmente para os demais militares sobre os atos
considerados como indisciplina e quebra da hierarquia por parte
principalmente daqueles que se organizaram em movimentos
predominantemente durante o governo Goulart, assim como
enfraquecer e desestabilizar as oposições dentro das Forças
Armadas ao regime estabelecido, adotando uma retórica
anticomunista rígida, autoproclamada nacionalista.
247
Cabe destacar a ligação fortalecida entre os ex-militares e o ex-
governador Leonel Brizola, a qual provinha principalmente da
campanha da legalidade de 1961, permaneceu e acompanhou a
conjuntura de radicalização política dos próprios militares assim
como de Brizola nos anos seguintes até 1964 e os acompanhou no
exílio. Brizola era reconhecido como a grande liderança capaz de
aglutinar em torno de si forças com capacidade de enfrentamento à
Ditadura estabelecida no Brasil. A opção inicial de enfrentamento
por parte de Brizola estava ligada a sublevação militar em quartéis
aliando-se a outros setores. O ex-governador além da opção pela
sublevação ao estilo “quartelada”, possuía uma formação política
Sul-Riograndense ligada a uma cultura política que valorizava o
enfrentamento muitas vezes violento e belicista entre grupos
armados recrutados de acordo com opção partidária, algo parecido
com a conjuntura da Revolução de 1930 que levara Getúlio Vargas
ao poder.
248
inicial de Brizola relacionada à “quartelada”, a opção pela guerrilha
foi definitivamente adotada.
249
que roubaram um banco nas proximidades, a localização dos focos
foram deslocadas da região sul. Os focos iniciais seriam instalados
em área de divisa entre os estados de Goiás (território atualmente de
Tocantins), Maranhão e Pará, outro no estado de Mato Grosso, na
divisa com a Bolívia e o terceiro em um local já estudado
anteriormente por militantes da POLOP, o Parque Nacional da Serra
do Caparaó, localizado na divisa entre os estado de Minas Gerais e
espírito Santo.
250
Hermes Machado Neto, Itamar Maximiano Gomes e o ex-sargento
Deodato Fabrício Batista além do ex-oficial Juarez Alberto de Souza
Moreira (ALMEIDA, 2009, p. 60-61).
251
“O Objetivo da Guerrilha era espalhar [...] espírito de resistência.
Era mostrar que existiam pessoas dispostas a lutar contra a ditadura,
e encorajar outros grupos, seja na área rural ou urbana, a se unirem
motivados por esse mesmo ideal”.
252
Além das questões relacionadas ao clima e convivência interna,
havia o estranhamento com relação à população local, a qual o
grupo guerrilheiro não conseguiu se integrar, rompendo assim com
um dos pilares da teoria do foco que atestava a importância dos
camponeses e população local no projeto revolucionário.
Confrontado com a população das regiões nas quais a guerrilha
operou o idealismo dos guerrilheiros foi colocado à prova. Os
camponeses apesar de muitas vezes serem proprietários das terras
que cultivavam, praticavam cultivo de alimentos e criação de
animais domésticos para subsistência, produzindo pouquíssimos
excedentes, pouco se diferenciando dos camponeses não
proprietários de terra que trocavam sua capacidade laborativa por
alimentos com outros camponeses. Guimarães (2007) cita um estudo
de Cândido (2001) sobre características nas quais se enquadram
aquela população:
253
por distâncias consideráveis. Em alguns poucos contatos
estabelecidos entre os guerrilheiros e a população local foi possível
atestar que a mesma muitas vezes não tinha acesso a informações
básicas como nomes de representantes políticos a nível estadual e
federal (GUIMARÃES, 2007, p. 266). A estrutura de transportes na
região era igualmente precária, havia uma ferrovia que passava na
região, porém o número de estradas e automóveis era extremamente
reduzido, fazendo com que a maioria dos deslocamentos,
principalmente entre as propriedades rurais, as cidades e vilas fosse
possível utilizando muares e equinos ou veículos de tração animal
como carros de boi e carroças, por exemplo.
254
Caparaó. As operações de investigação foram realizadas pela
PMMG através de patrulhamentos na região da Serra do Caparaó,
assim como infiltrações descaracterizadas, visando levantamento de
informações.
255
Assim que os relatos de prisões chegaram aos serviços de
informação, as Forças Armadas deslocaram um contingente de
milhares de homens para a região do Caparaó, munidos de aviões e
carros de combate, ocuparam toda a região e realizaram intensos
bombardeios e operações militares na serra, mesmo não existindo
mais nenhum guerrilheiro no local, com ampla cobertura da
imprensa. Tal espetacularização visava demonstrar poder de fogo
da repressão e intimidar novas possibilidades de enfrentamento á
ditadura.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
256
ALMEIDA, Dinoráh Lopes Rubin de. A guerrilha do Caparaó, o
primeiro movimento armado contra a ditadura militar no
Brasil. Alegre- ES, Espelhos do Tempo - Vol. 1, ano1, jul.-dez. 2012.
257
ROLLENBERG, Denise. O apoio de Cuba à luta armada no Brasil:
O treinamento guerrilheiro. Rio de Janeiro: Mauad, 2001.
258
EM DEFESA DA PROPRIEDADE OU DA
VIOLÊNCIA NO CAMPO: A FALA DO
PRESIDENTE BOLSONARO AOS
RURALISTAS
FRANCIVALDO ALVES NUNES
Fonte: https://scontent.fbel2-1.fna.fbcdn.net/v/t1.0-
9/59393541_2306678502695993_2155654441028550656_n.jpg?_nc_cat=
102&_nc_ht=scontent.fbel2-
1.fna&oh=b20a5680378d3bad188ae4213dd3ef20&oe=5D52F836
259
De acordo com o jornal Estadão, o anúncio foi feito em 29 de abril de
2019 durante discurso de abertura da Agrishow, em Ribeirão Preto,
interior de São Paulo, um dos mais importantes eventos do
agronegócio brasileiro. Para Bolsonaro, a proposta em gestação no
governo, se trata de uma promessa de campanha eleitoral. Destaca
que a medida deverá combater a violência no campo, um
sentimento oposto ao que sugere a charge. Sendo ainda responsável
em cumprir a função de proteger os donos de terras e suas
benfeitorias, uma vez que entende que “a propriedade privada é
sagrada e ponto final” (Estadão, 29/04/2019).
“Vai dar o que falar, mas uma maneira que nós temos de ajudar a
combater a violência no campo é fazer com que, ao defender a sua
propriedade privada ou a sua vida, o cidadão de bem entre no
excludente de ilicitude. Ou seja, ele responde, mas não tem punição.
É a forma que nós temos que proceder. Para que o outro lado, que
desrespeita a lei, tema vocês, tema o cidadão de bem, e não o
contrário” (Diário do Pará, 30/04/2019, Caderno B, p. 1).
260
A outra proposição a ser apresentada por Jair Bolsonaro é fazer com
que, ao defender a sua propriedade privada ou a sua vida, o
“cidadão de bem” entre no excludente de ilicitude. No caso, faz
referência ao artigo 23 do Código Penal Brasileiro, Decreto-Lei nº
2.848, de 7 de dezembro de 1940, que exclui como prática de ilícito: o
estado de necessidade, a legítima defesa, o estrito cumprimento do
dever legal e o exercício regular de direito (Brasil, 1940). De acordo
com o presidente “é a forma que nós temos que proceder para que o
outro lado, que teima em desrespeitar a lei, tema vocês, tema o
cidadão de bem, e não o contrário” (Estadão, 29/04/2019).
261
presidente, em vez de permitir maior segurança sobre a propriedade
privada e o seu uso regular, acaba por estimular a violência no
campo, acirrando os conflitos rurais, tornando o espaço rural
“campo de sangue”, como ilustra a charge de Walter Pinto. Nesse
caso, para Everton Seguro “existem outros meios de se tratar as
pessoas em invasões. É preciso acionar a polícia e cabe ao juiz
acelerar o processo para tirar as pessoas de lá” (Estadão, 29/04/2019).
262
A CPT (2019) sublinha ainda que os crimes têm histórico de
impunidade. “Dessas ocorrências, somente 117 responsáveis pelos
assassinatos foram a julgamento, tendo sido condenados apenas 101
executores e 33 mandantes. Por esses números, vê-se que o
‘excludente de ilicitude’ já existe na prática”, critica a entidade,
numa referência à expressão legal utilizada por Jair Bolsonaro (CPT,
2019).
263
Estado como garantidor de direitos provoca ainda a criminalidade e
a violência (Maniglia, 2005, p. 5).
264
Ao que se observa, a garantia da propriedade da terra e a segurança
jurídica em áreas rurais não se afirma no tratamento dos
movimentos e grupos de luta social pela terra e território como
invasores, por parte do Estado, nem também deve atuar de forma
leniente para com fazendeiros e grileiros que invadem e exploram
propriedades públicas ou áreas de reservas ambientais.
265
racional e adequado da terra, utilização adequada dos recursos
naturais disponíveis e preservação do meio ambiente, observância
das disposições que regulam as relações de trabalho, assim como, a
exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos
trabalhadores (Brasil, 1982).
266
Isso implica relacionar um conjunto de práticas do não
reconhecimento dos trabalhadores rurais como portadores de
direitos, e sim como sujeitos submissos por coerção diante das
formas de dominação fundadas em procedimentos aceitos pela
sociedade. Sob este aspecto a Constituição Federal não garante
salvaguarda a nenhum cidadão sob hipótese alguma, nem tão pouco
autoriza aos proprietários de terra proteger seus bens sem a
mediação das leis e do Estado.
267
deputados que formam a base de apoio ao governo, vinculados ao
Podemos e Partido Social liberal (PSL), já solicitaram a inclusão do
projeto na ordem do dia para votação (Estadão, 2019).
268
Referências
269
de-repudio-da-cpt-ajudar-a-violencia-no-campo-e-o-que-quer-o-
presidente-bolsonaro. Acessado em 18/06/2019.
270
HISTÓRIA E POLÍTICA EXTERNA:
PERSPECTIVAS PARA O GOVERNO
BOLSONARO
DANILO SORATO OLIVEIRA MOREIRA
TIAGO LUEDY SILVA
271
“A política exterior correspondeu, nos últimos dois séculos, a um
dos instrumentos com que os governos afetaram o destino de seus
povos, mantendo a paz ou fazendo a guerra, administrando os
conflitos ou a cooperação, estabelecendo resultados de crescimento e
desenvolvimento ou de atraso e dependência. Na história do Brasil,
após o rompimento com Portugal em 1822, a política exterior serviu
internacionalmente à paz entre os povos, com exceção de um
período nos meados do século XIX, entre 1850 e 1870. A capacidade
do setor externo de subsidiar o crescimento e a autonomia
socioeconômica do país não foi acionada, entretanto de forma
estável.”
272
ocidentais como EUA, Israel, Itália, e procurar captar investimentos
e fazer acordos comerciais.
273
No aspecto comercial, as duas gestões defendem que a Política
Exterior necessita captar investimentos e produzir acordos
comerciais para a superação da crise econômica brasileira. Na gestão
Temer, é assinado o acordo comercial com o Chile em novembro de
2018, além de acordos de facilitação de investimentos com Guyana,
etc. Além disso, são articuladas negociações coletivas via
MERCOSUL com Canadá, Coreia e EFTA. Essas negociações foram
recentemente defendidas pelo atual Chanceler, Ernesto Araújo, na
sua palestra no Conselho Argentino de Relações Internacionais
(CARI), tal como defende Sorato (2019b).
274
recebendo muitos dividendos do que foi feito pela anterior, como
por exemplo, as negociações comerciais em aberto.
Referências
Danilo Sorato
Professor no Ensino Básico. Mestre em Ensino de História
(Universidade Federal do Amapá – UNIFAP). Graduado em
História (Universidade Federal do Pará – UFPA).
Tiago Luedy
Professor Efetivo do curso de Relações Internacionais da
Universidade Federal do Amapá (UNIFAP). Bacharel em Relações
Internacionais pelo Centro Universitário da Bahia. Especialista em
Relações Internacionais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade Federal do
Amapá (UNIFAP). Coordenador do Curso de Relações
Internacionais da Universidade Federal do Amapá. Diretor do
Laboratório de Relações Internacionais e Geopolítica (LABRIGEO).
275
conteudos/downloads/mensagem-ao-congresso-2019/. Acesso em:
05/05/2019.
276
SORATO, D. Uma análise de política externa brasileira: A
continuidade dos governos Temer e Bolsonaro. 2019a. Monografia
(Graduação em Relações Internacionais) – Universidade Federal do
Amapá, Macapá, não publicado [no prelo].
277
Nesse ensaio a história política e intelectual é fundamental para a
compreensão do pensamento de Rio Branco Junior. Como defende
René Remond (1996) a política é um campo importante de análise
enquanto objeto de estudo. Da mesma forma, Marieta Ferreira
(1992) reconhece que a história política renovada é um espaço em
que os historiadores podem retomar os estudos sobre o político,
ainda que com grande desconfiança por parte de outros campos de
saber.
278
A defesa das ideias do pai e de seu gabinete nos anos de 1870 é uma
característica a ser destacada, já que envolve uma série de ideias
políticas do período. Como exemplifica, a atuação em causas como
A Lei do Ventre Livre, grande debate nacional da escravidão, aponta
para a sua mente mais vinculada ao pensamento conservador. Ao
analisarmos a edição n. 1, de julho de 1872, do A Nação, no editorial
se percebe o seu objetivo quando diz o seguinte:
279
autor aponta que ele atuava com os artigos de fundo e de política
externa, enquanto que Gusmão Lobo assina os assuntos de política
interna. Assim, a partir dessa perspectiva mais recente, esse ensaio
pretende analisar os artigos de política externa de Rio Branco no
periódico A Nação no ano de 1872, especialmente as primeiras
edições.
280
de negocial-o separadamente com o vencido.” (A NAÇÃO, 1872, p.
1) A posição brasileira na negociação acaba gerando como
consequência o protesto argentino, como apontado acima pelo
Ministro.
281
Ao finalizar a nota de jornal, Rio Branco, demonstra mais uma vez
qual a sua opção em relação a política externa do país para o Rio da
Prata. A defesa das políticas do Gabinete de Março ficam claras ao
argumentar os interesses brasileiros na “paz”. Ademais, aparece
parte do seu pensamento político interno ao travar um conflito com
outro periódico carioca, naquele caso específico crítico ao
posicionamento brasileiro com a Argentina.
282
“[...] a negociação comum mallogrou-se, não por culpa do Brazil que
portou-se com toda a moderação, mas por culpa da Republica
Argentina, que fez exigencias que não poderão ser aceitas pelo
Paraguay.” (A NAÇÃO, 1872, p. 1)
283
A fim de concluir o ensaio, analisou-se o pensamento de política
externa de Rio Branco nas folhas do periódico A Nação no ano de
1872. Pelo espaço do texto, optou-se por uma análise metodológica
entre a fonte primária, com jornais do mês de julho do ano
escolhido, e a discussão bibliográfica acerca do personagem político.
Chega-se a ideia de que ele é responsável pelas colunas que
analisam a relação do Brasil com o exterior, em especial no caso da
Guerra do Paraguai e suas consequências com seus aliados como a
Argentina. As matérias escolhidas apontam para uma defesa clara
dos interesses do Gabinete de Março do Partido Conservador,
ocupado pelo pai do jornalista, Visconde do Rio Branco. Além
defesa da ação externa, nessas mesmas linhas são contestadas as
visões dos jornais concorrentes tais como A Reforma e o Diário do
Rio de Janeiro. A contestação ocorre, especialmente se não
concordarem com o posicionamento brasileiro no Prata. Nesse
momento, Rio Branco demonstra a sua profunda ligação as ideias e
projetos conservadoras tanto em âmbito externo quanto interno, o
que de certa forma dá margem para as interpretações da conexão
umbilical e familiar entre o periódico e a agremiação política.
Referências
284
HENRICH, N. O Barão do rio Branco e a sua idéia de Brasil. In:
SEMINÁRIO NACIONAL SOCIOLOGIA E POLÍTICA, 1., 2009,
Curitiba. Anais... Curitiba: UFPR, 2009. p. 1-14. Disponível em:
http://www.humanas.ufpr.br/site/evento/SociologiaPolitica/GTs-
ONLINE/GT6%20online/EixoIII/barao-rio-branco-
NathaliaHenrich.pdf. Acesso em: 29/04/2019.
285
JOÃO MATTOS: UM PADR E
CORONEL NO INTERIOR DAS MINAS
GERAIS (SÃO GONÇALO DO ABAETÉ,
1920-1968)
EDIVALDO RAFAEL DE SOUZA
286
conviver com um sem número de assassinos, criminosos e
malfeitores. Nenhum receio tinha eu” (MATTOS, 1964, p. 37).
287
No Brasil, os coronéis eram representados principalmente na figura
de grandes proprietários de terras, no entanto, existiam algumas
exceções, como ressalta Janotti:
288
dificuldades que encontravam o nosso progresso, pelo que
forçosoera promover, quanto antes, os meios necessários para que
São Gonçalo do Abaeté se constituísse município independente”
(BRANDÃO, 1993, p. 101).
289
“sem a apuração das seções de Canoeiros e São Domingos, o Padre
João Mattos (PSD) conseguiu se eleger. Todavia, com grande ajuda
de forças policiais, foi possível realizar novas eleições nas
localidades que haviam tido problemas. Por meio disso, o prefeito
eleito foi Waldemar Lopes Cançado (UDN)” (SOUZA, 2018, p. 146).
290
homenagens prestadas a seus familiares, há também uma escola na
referida avenida, com o nome de Martinho Mattos, pai do ex-
prefeito.
REFERÊNCIAS:
291
JANOTTI, Maria de Lourdes Mônaco. O coronelismo: uma política de
compromissos. São Paulo: Brasiliense, 1981.
JORNAIS:
292
A banda Mamonas Assassinas alcançou o auge nos anos de 1995 e
1996 com letras engraçadas que traziam misturas musicais, entre
elas o rock, o samba e o forró.Isso contribuiu para que o grupo
assinasse contrato com uma grande gravadora, a Emi-Odeon. A
música “jumento celestino” foi apresentada ao vice-presidente da
gravadora, a que Bueno descreve como
293
O grupo Mamonas Assassinas era formado pelo baterista Sérgio
Reolli, o tecladista Júlio Cesar Barbosa (Júlio Rasec), o baixista
Samuel Reis de Oliveira, o guitarrista Alberto Hinoto (Bento) e o
vocalista Alecsander Alves (Dinho). A banda originária de
Guarulhos-SP, inicialmente, era intitulada “Utopia”.
294
A seguir, transcreve-se a letra de “chopis centis”:
Eu di um beijo nela
E chamei pra passear
Quantcha gente
E Quantcha alegria
A minha felicidade
É um crediário
Quantcha gente
E Quantcha alegria
A minha felicidade
É um crediário
Nas Casas Bahia.
Arriba!
295
Joinha, Joinha, Chupetão, Vamo lá
Quantcha gente
Quantcha alegria
A minha felicidade
É um crediário
Nas Casas Bahia
Quantcha gente
Quantcha alegria
A minha felicidade
É um crediário
Nas Casas Bahia
296
anos que o Brasil conquistara a sua redemocratização após o regime
militar (1964-1985). Conquista fruto, primordialmente, das
manifestações da sociedade civil. Além disso, o presidente eleito
havia sofrido um processo de impeachment. Ou seja, a sociedade
estava envolvida com fatores políticos, sociais e econômicos daquela
época.
297
“[a]s transformações que a música sofre através do tempo e espaço,
não ocorrem de forma aleatória, mas estão intimamente ligadas às
mais diversas questões culturais, geográficas, históricas e
principalmente, à mentalidade das pessoas que a produzem,
executam, ouvem e divulgam, sendo, portanto, uma interessante
ferramenta para melhor compreensão de determinadas demandas
de natureza histórica, sociológica, filosófica, etc ” (SOARES, 2014, p.
1).
298
Fiz a pintura, importei quatro ferradura
Troquei até dentadura e pra completar a belezura
Eu instalei um Road-Star
Fonte:SiteLetras.Disponívelem:
https://www.letras.com.br/mamonas-assassinas/jumento-celestino.
Acesso em: 2 mai. 2019.
299
Metropolitana de São Paulo durante a década de 1990 era oriunda
do Nordeste”. Em relação ao enunciado, Romero expõe que
300
Continuando a compreensão da canção, pode-se identificar que na
música o interiorano estava descontente com a grande cidade,
porque não era nada daquilo que se imaginava. Inclusive,
se arrepende de ter deixado sua terra natal. Aqui abre-se discussões
sobre essa prática, a de deixar São Paulo e voltar para o local de
nascimento, de criação do imigrante; isso ocorre de forma comum
tanto no período em que a música foi gravada quanto na atualidade.
REFERÊNCIAS:
BUENO, E. Mamonas assassinas: blá, blá, blá. São Paulo: LePM, 1996.
301
CHÉRRI FILHO, E. Mamonas assassinas: o show deve continuar. São
Paulo: Alaúde, 2004.
302
AS SÁTIRAS DE TOMÁS ANTÔNIO
GONZAGA: FERRAMENTAS PARA
HISTÓRIA E LITERATUR A
LEONARDO PAIVA MONTE
LILIAN BENTO
303
positividade, que nela se confunde com a negatividade” (BOSI, 1993,
p. 163).
A Literatura na História
304
textos possam ser abordados de diferentes formas e assim
proporcionar maior aprofundamento e aproveitamento para os
leitores que os avaliarem criticamente com um olhar
interdisciplinar.
Literatura colonial
305
1810. Durante a infância, passou alguns anos em Recife e na Bahia
onde o pai servira na magistratura e, adolescente, regressou a
Portugal com o intuito de completar os estudos, matriculando-se na
Universidade de Coimbra na qual concluiu o curso de Direito.
As Cartas Chilenas
306
“As Cartas chilenas, contemporâneas das reuniões que preparavam
o levante dos magnatas de Minas Gerais, retratam o confronto de
poderes entre o ouvidor-geral, representante de um Judiciário
emasculado pelo centralismo autoritário do absolutismo
monárquico, e o governador da capitania, símbolo tipificador de um
Executivo ditatorial que se imiscui em todas as esferas” (PEREIRA et
al, 1996, p. 772).
307
que possa escurecer a velha fama
da torre de Babel e mais os grandes, [...]
308
período, reforçou o assombro ante à visualização que o autor realiza
sobre as condições de vida que a maior parte da população de Vila
Rica encontrava-se em tal período. A província das Minas Gerais,
especialmente Vila Rica, foi responsável, durante o ciclo do ouro,
por sustentar muitos gastos do Reino ao ponto de naquele período
posterior se ver quase esgotado. O povo agora estava entregue nas
mãos de um tirano, que blasfemava contra as próprias leis da Coroa.
309
impostos cobrados por um governador tirano em benefícios de uma
coroa omissa.
310
Referências
311
PESAVENTO, S. J. Fronteiras da ficção: diálogos da história com a
literatura. Anais do XX Simpósio da Associação Nacional de História,
Florianópolis, v II, julho/1999.
312
O PROTAGONISMO DA “R AINHA DOS
MIL DIAS”: ANA BOLEN A (1501-
1536) E AS NOVAS NAR RATIVAS NA
HISTÓRIA E LITERATUR A JUVENIL
MARCOS DE ARAÚJO OLIVEIRA
Introdução
313
Em 1525, já na Inglaterra, Ana passou a atuar como dama de
companhia da rainha Catarina de Aragão (1485-1536) e em 1526, o
rei Henrique VIII, apaixonou-se por ela. O rei desejava um herdeiro
homem – já que do seu casamento com Catarina de Aragão, apenas
a princesa Mary Tudor (1516-1518) crescera saudável, Ana que era
admiradora de ideias reformadoras conseguiu fazer com que o rei
iniciasse um processo de anulação do seu casamento com Catarina
perante a Igreja Católica.
“Para Ana Bolena, 1528, foi um ano em que ela surgiu das sombras
da equipe da rainha, o objeto secreto da paixão do rei, e demonstrou
que era muita mais do que uma figura graciosa, um par de olhos
negros – e capaz de falar francês. Tal como a rainha Catarina, Ana
Bolena tinha inesperados mistérios e forças; inesperados pelo menos
para o mundo pelos homens onde ela vivia. Em primeiro lugar, ela
possuía um autêntico interesse por religião, pelo tipo de religião
reformadora que estava se tornando rapidamente moda no
continente, depois de Lutero, como uma reação as óbvias falhas e
corrupções do clero”.
314
Ana Bolena era incomum dentro dos padrões da época, sua beleza
era diferente: cabelos negros, olhos penetrantes, um pescoço fino e
elegante e uma pele da cor de oliva, o que fugia da beleza loira e de
olhos azuis na Inglaterra do século XVI, além disso ela apresentava
uma personalidade quase que francesa e tinha um interesse nada
convencional em livreiros ou folhetos anticlericais – alguns
apontados até como heréticos. Os anos foram passando sem uma
resposta positiva ao divórcio de Henrique VIII, até que em 1532
houve uma surpresa: Ana descobriu estar grávida. De acordo com
Tapioca Neto (2013, p. 28):
315
“[,,,] sem ter conseguido dar à luz ao menino almejado pelo rei,
Anne tornou-se vulnerável as intrigas de seus opositores. Assim, foi
acusada de tê-lo seduzido através de bruxaria, de tramar a morte do
rei, da princesa Mary e do Duque de Richmond, de ter cometido
incesto com seu irmão George Boleyn, e adultério com outros cinco
homens: Henry Norris, Francis Weston, Willian Brereton, Marc
Smeaton (O único que não fazia parte da nobreza e que sob tortura,
confessou as acusações recebidas) e Sir. Thomas Wyatt (o poeta, o
único que não foi levado a julgamento e que recebeu a liberdade).
Julgada e condenada a morte pelas acusações recebidas, Anne
Boleyn foi decapitada na Torre de Londres no dia 19 de maio de
1536. [...] Com aquela terrível condenação, a memória de Anne
Boleyn foi irremissivelmente manchada com as máculas do incesto,
bruxaria e adultério” (ANDRADE, 2013, p. 92-93).
Após reinar por cerca de mil dias como rainha consorte, Ana Bolena
foi condenada à morte e decapitada em 19 de maio de 1536 na Torre
de Londres. Além de ter sua memória manchada durante muito
tempo por conta das acusações que levaram a sua condenação e
morte – que leva novas perspectivas historiográficas, como a do
campo da História das Mulheres a combater essa demonização –
Ana Bolena ficou marcada no imaginário universal como a “Rainha
de Maio”, já que o mesmo mês que foi o da sua gloriosa coroação,
também foi o mês em que seria silenciada para sempre com a morte.
O livro Ana Bolena foi publicado em 2017 pela editora Valer no Brasil
e contém cerca de 88 páginas, além de belas ilustrações de Irena
Freitas. A obra foi escrita pela bacharel em Direito, Bruna Chíxaro,
que apaixonada pela história dessa rainha escreveu o livro como
forma de levar a história de Ana para outros jovens. De acordo com
316
suas próprias interpretações, Chíxaro cria sua narrativa e defende
“Afinal de contas, quem nunca quis dar sua versão dos fatos”
(CHÍXARO, 2017, p. 8)
317
Seria anacrônico apontar Ana Bolena como uma figura feminista no
século XVI, entretanto a sua personalidade e a sua trajetória servem
para a elaboração de novos discursos para o campo da história das
mulheres e para a própria literatura. Ao lermos uma obra juvenil
tendo esta figura histórica como protagonista, fica evidente que a
criação da narrativa apesar de retratar fatos históricos do passado,
está intrínseca as próprias aspirações do presente.
Isto não necessariamente quer dizer que o livro Ana Bolena seja uma
obra feminista, porém ao evidenciar o papel feminino e ao
apresentar uma nova narrativa da vida de Ana Bolena para um
público mais juvenil - que está tendo sua personalidade formada e
que está despertando o interesse pelo conhecimento histórico - a
obra revela-se como um produto cultural do século XXI, oriunda do
reflexo desta onda de empoderamento feminino.
318
A literatura quando mesclada com fatos históricos, como no caso do
livro de Bruna Chíxaro, pode tomar como propósito também a
insurgência contra modelos narrativos já cristalizados, fazendo
emergir assim novos discursos. A Literatura assim, não toma a
história como sua inimiga, mas apropria-se de registros históricos
para elaborar um novo discurso, que pode coincidir com o que é
reproduzido pela história ou apresentar novos olhares diante do
tema abordado.
319
Neste sentido pode-se entender o relato histórico como uma
narrativa hibrida: pois mescla a análise do historiador acerca dos
registros históricos e fontes, com as suas próprias interpretações
resultantes da sua realidade social. Sendo assim, o historiador tem
as suas limitações humanas - ele não é um ser neutro. Tudo que é
passível de interpretação possui essas especificidades e logo a
distinção entre o que carrega veracidade ou o que carrega
ficcionalidade torna-se um debate de convenções – selecionando-se
a versão que será melhor aceita.
320
Neste sentido, a utilização de elementos históricos nas narrativas
literárias consideradas infanto juvenis – destinados a um público
entre os 12 e 17 anos - serve assim para instigar novos leitores a se
interessarem tanto pelo que é contado no livro e posteriormente
pelo conteúdo historiográfico.
Thomson (2016) aponta assim que para que se tenha clareza sobre a
abordagem mais adequada de utilização desses materiais e para que
se perceba as possibilidades da literatura infantil/juvenil no
processo de aprendizagem histórica, deve-se atentar para
aprendizagem histórica que é se é buscada. Segundo Thomson
(2016, p. 274)
321
Chíxaro, o jovem leitor depara-se assim com uma nova narrativa
acerca daqueles fatos vivenciados na corte Tudor e é desafiado a
exercitar o senso crítico de reflexão e construção de um
“conhecimento consciente”.
Considerações finais
Referências Bibliográficas:
E-mail:drmarcosaroeira@hotmail.com
322
Instituto de Letras. Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre, 2013.
323
AS INTERAÇÕES SOCIAI S NO
COTIDIANO NA AMÉRICA
PORTUGUESA: CONCEBEN DO OS
DESCLASSIFICADOS COMO SUJEITOS
HISTÓRICOS
DANIEL FAGUNDES DE CARVALHO
MACHADO
INTRODUÇÃO.
324
urbanização de São Paulo, no século XIX, explicitando a figura dos
escravos urbanos e desclassificados sociais, à qual este último
inserido no processo do regime escravista, não apresentam grandes
vantagens em relação à figura do próprio escravizado.
325
As práticas cotidianas seguem certa dependência de um conjunto
muito grande que está imbrincado nas relações de homens comuns e
outros de uma maior condição social, que vão delimitando espaços
que possuem em comum. O cotidiano se constitui no que nos é dado
a cada dia, seja em suas formas de opressão, ou na forma como nos
prende intimamente, na busca de caminhos até nós mesmos (e
também ao outro). O que interessa, neste sentido, é o “invisível”,
aquilo que não enxergamos nas relações, que vai se desenhando no
interior do privado e que toma dimensões do público, refletido aqui
na figura dos marginalizados que evidenciam muito a instituição de
uma história a partir das estratégias de sobrevivência e também de
resistência.
326
“Certeau, ao contrário, nos mostra que “o homem ordinário”
inventa o cotidiano com mil maneiras de “caça não autorizada”,
escapando silenciosamente a essa conformação. Essa invenção do
cotidiano se dá graças ao que Certeau chama de “artes de fazer”,
“astúcias sutis”, “táticas de resistência” que vão alterando os objetos
e os códigos, e estabelecendo uma (re) apropriação do espaço e do
uso ao jeito de cada um. Ele acredita nas possibilidades de a
multidão anônima abrir o próprio caminho no uso dos produtos
impostos pelas políticas culturais, numa liberdade em que cada um
procura viver, do melhor modo possível, a ordem social e a
violência das coisas.” (DURAN, 2007, p.119).
327
incorporação (latu sensu) do Oriente, talvez fique esse súbito
interesse dos estudos acadêmicos pelo louco, pelo criminoso, pelo
mendigo, pelo migrante miserável que o capitalismo selvagem dos
países latino-americanos despejou sobre os seus principais centros
urbanos.” (SOUZA, 2004, p.21).
328
de 1841, uma escrava assassinou a proprietária a punhaladas...”
(DIAS, 1984, p.113).
329
Nesta pintura de Debret é possível analisarmos essas formas de
interações sociais no cotidiano das ruas. Essa interação se estabelece
tanto nas conversas, como nas trocas e vendas de produtos. A
pintura evidencia a marca deixada ao escravizados que fugiam
(ficando preso ao colar de ferro), que os identificava dessa maneira,
deixando claro os seus espaços de resistências. Esse comércio
realizado por eles revela as esperanças no cotidiano, e as formas de
manterem suas tradições vivas no contato com o outro, e também
para ajuntar lucro, em muitos casos, para a obtenção da alforria.
330
conceito de uma ordem classificadora, no sentido de que no período
colonial a sociedade se entende por termos estamentais (2004, p.25),
se constituindo nesse sujeito livre e pobre (miserável), não chegando
a vantagens maiores que os escravizados, permitindo também
avaliar uma interação entre esses sujeitos, principalmente na busca
por subsistência, nos mecanismos de ações que permitam se
sustentar, e também aos seus.
331
no contexto das minas, pois eram obrigadas a esse modo de vida, e
mesmo assim recebiam uma forte repressão, principalmente pela
Igreja, entendendo como situação de imoralidade.
332
possível aos escravos familiarizar-se com técnicas indígenas de obter
iguarias do sertão, com o conhecimento topográfico necessário para
saber onde esconder, fugir, defender-se”. (DIAS, 2004, p. 115)
Breves considerações.
333
muitas escravizadas urbanas clamavam por um enterro condigno,
como roga Josefa de Souza Ribeiro em 1791:
“(...) Pelo amor de Deus e por caridade, me faça esta esmola, por eu
na Ocasião viver muito pobre e não ter com que possa enterrarme,
nem fazer disposições algumas por minha alma e por isso torno a
pedir e rogar em mandarem dar o meu corpo a Sepultura e, fazerem
alguns sufrágios por minha alma, conforme lhe parecer...” (DIAS,
1984, p. 119).
334
exemplo, o depósito em caderneta de poupanças, empréstimos
pagos com a força do trabalho, entre outras condições,
possibilitando analisar o cotidiano como amplo espaço de interações
e improvisos nas formas de sobreviver, ou minimamente de afastar
a morte, em toda uma conjuntura de poder que os marginalizava e
diminuía as esperanças, porém não as erradicava.
335
Refletimos, portanto, que esses agentes históricos possuíram
importante papel na constituição econômica, política e social na
América portuguesa, em todo o contexto de exploração das Minas,
assim como no processo de urbanização, ampliando a perspectiva
histórica desses sujeitos e fundamentando as diversas formas de
resistir, seja nos espaços públicos ou privados, e na explanação de
ideias, o que observamos também até que ponto a opressão
permeava o cotidiano desses marginalizados.
Referências Bibliográficas.
336
colonial. In: FRAGOSO, João; GOUVÊA, Maria de Fátima (Orgs.). O
Brasil Colonial. (vol. 1; 2 e 3). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2014.
337
NAS LENTES DA HISTÓR IA: UM
ESTUDO ACERCA DA PRESENÇA
NEGRA E INDÍGENA A P ARTIR DO
PATRIMÔNIO CULTURAL DE
PALMEIRA DOS ÍNDIOS - AL
ALINE DE FREITAS LEMOS PARANHOS
338
organizaram e começaram a migrar para outros espaços em busca
da sobrevivência. A partir disso, uma parte do grupo étnico dirige-
se às serras do atual município de Palmeira dos Índios e firmam
residência no território que hoje pertence à esta comunidade.
339
esses povos, confrontando, desse modo, os aspectos do visível e do
dizível.
Além das conversas informais feitas com os moradores da cidade, o
período de coleta de documentação e informações nos proporcionou
a realização de entrevistas feitas com: Kátia Cadengue (professora
da rede estadual de ensino e responsável pela última reorganização
do Museu Xucurus), Lenoir Tibiriçá (ex-pajé da aldeia indígena
Mata da Cafurna), dona Domicilia Silva (esposa de seu Gerson, um
dos membros mais antigo e influentes da comunidade quilombola
da Tabacaria) e Maria Aparecida (também quilombola).
340
naquela região, e entre elas alguns comerciantes que foram
estabelecendo residência no entorno da capela, criando assim um
pequeno aglomerado populacional.
341
A princípio, como Luiz Torres era responsável por uma contribuição
significativa sobre a história do município e vinha de uma série de
escavações feitas na cidade e seu entorno, onde foram encontradas
igaçabas e outros artefatos indígenas que, de acordo com o Termo
de Convênio entre a Secretaria da Educação e Cultura e o Museu
Xucurus, publicado no Diário Oficial do Estado (D.O.E de
20/04/1983) na Portaria nº 497, de 19 de abril de 1983, cláusula
primeira; o objetivo deste “museu-popular” era promover o
desenvolvimento cultural, a conservação do acervo indígena e o
fomento da indústria do turismo.
342
indígena e quilombola no local, no entanto, comerciantes,
empresários, vereadores e outros personagens do tipo, lá estiveram.
343
“Olha a estética... Esse negro está totalmente europeu, não que ele
não tenha havido a miscigenação, só que pra um negro requinto,
com a pele super escura, como é que ele vai ter esses traços? Esses
olhos que não são escuros? [...] Ai você trás um período tão longo
que foi a escravidão e você traz três negros que foram responsáveis?
[...] Você trás três negros pra representar [...] ai tipo, só foram esses
três que ajudaram a construir aqui? Ai quando você coloca... olha a
formosura que está no inicio do museu. Olha a riqueza de detalhes
[...] protegido... Olha como está exposto! Olha a cor que está! Não é
tirado, não é tido manutenção e além do mais não é valioso [...] Um
manequim de plástico que vai ser substituído, que eles tentaram
escurecer. Eles pintaram [...] foram tentar modificar o nariz e alargar
[...] E olha só como eles colocam as marcas e os lábios tentando
recortar os lábios dando aquela ideia de negro europeu [...] E outra
coisa, só tem isso aqui relacionado à escravidão da população negra
[...] e a maioria dos quilombos não é isso. Os quilombos não são isso.
Eles tem a sua história !” (SANTOS, M; 2019)
344
Ao compreendermos a impossibilidade de preenchermos
completamente lacunas historiográficas, ao considerarmos suas
continuidades e rupturas presentes na produção de documentos, ou
na memória dos envolvidos nos processos históricos;
apresentamos, nessa pesquisa, várias faces do cotidiano
palmeirense, descritas a partir do Museu Xucurus de História, Artes
e Costumes e, com isso, um pouco de como sua identidade é
construída, transparecendo sua singularidade à medida em que
deixa florescer as múltiplas expressões étnicas que dão, tanto o índio
quanto o não-índio, o valor simbólico de sua cultura e marca as
fronteiras sociais existentes entre eles.
REFERÊNCIAS
345
Programa Residência Pedagógica e Voluntária no Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica. Integrante do Grupo
de Estudos sobre o Patrimônio Histórico, Imagem e Memória.
Atualmente desenvolve pesquisas com temas voltados a:
Identidade, Memória, Museus e Patrimônio. Orientadora. Francisca
Maria Neta.
CHAVES, Julio Cézar. “Eu não queria que índio se tornasse peça
de museu”: polifonias dos Xukuru-Kariri sobre museus.
Especialização – Programa de Pós-Graduação em Antropologia, da
Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Maceió, 2014.
346
SANTOS, Domicília. Entrevista realizada por Aline de Freitas
Lemos Paranhos em 19 de março de 2019. Transcrição por Aline de
Freitas Lemos Paranhos com duração de 2h04min.
347
CURAS E BENZEÇÃO EM IRATI-PR
WILLIAM FRANCO GONÇALVES
Introdução
348
A partir concepção, sugerida por Moura (2011), podemos perceber
que a Leoni se encaixa na categoria de benzedeira, pois suas praticas
giram em torno de orações e simpatias. Ela utiliza sua própria casa e
não cobra nada por seus serviços.
349
uma representação de uma extensão do corpo humano. Assim, o
pano que simboliza a parte do corpo machucada é costurado
enquanto a benzedeira faz suas orações e seus pedidos.
350
Quarto, quando ela começa a ficar mais conhecida, sendo procurada
por pessoas de fora da comunidade” (OLIVEIRA, 1985, p. 40-41).
351
machucadura, um sapinho, um cobreiro, jamais um medico cura
disso. Eles entender o corpo humano diferente, não como nos
entendemos”(GASPARETTO, 2014). Por esta frase da benzedeira
Leoni podemos compreender que para ela as doenças possuem duas
causas, uma natural e outra sobrenatural, sendo que a primeira o
médico pode resolver e para a segunda existe a necessidade de um
benzedor.
352
Mas essa grande busca também pode causar alguns transtornos e
muito cansaço, pois é uma atividade que também consome bastante
energia física, tal como nos relatou a benzedeira que antes de se
aposentar ela chegava do serviço e já estava cheio de gente para ser
atendida. E que agora, já aposentada, tem dias que passa o dia todo
benzendo:
“eu fico sem comer, sem beber, eu fico as vezes, quatro, cinco horas
aqui fechada, sem tomar um gole de água, fico em jejum. Já fiquei,
desde as sete da manhã até meio dia sem comer, sem tomar água,
porque tinha muita gente, gente precisando de mim. Então me
dedico ali, fico ali e não sinto fome, não sinto vontade de comer
nada, já brigaram comigo por causa disso. De eu ficar sem me
alimentar, que meus filhos me cobram né, “de onde já se viu, a mãe
ficar sem comer”. Se preocupam e ficam brabo comigo, eles não
gostam que eu passe do horário de comer, mas as vezes é preciso.
Às vezes eu to descendo, meio dia para almoçar, chega uma pessoa
doente ou com alguma dor. Ai eu tenho que largar de tudo e vir
aqui. Já deixei meu prato pronto de comida e vim aqui, porque é
uma missão que eu tenho, como é que vou dizer “eu não faço”. É o
que eu sei, eu vou fazer, não posso dizer que não para ninguém”
(GASPARETTO, 2014).
Mesmo comentando que tem dias em que chega a ficar sem comer e
sem beber, para poder atender o grande número de pessoas que
buscam suas rezas, podemos perceber que ela faz isso com carinho e
que gosta do que pratica. Entende que é um trabalho extremamente
gratificante “adoro, faço com carinho, com amor porque eu to me
dedicando a Deus. Tudo o que é feito com Deus é feito com amor”
(GASPARETTO, 2014).
Espaço de benzimento
353
deste local pode variar de benzedor para benzedor. Pode ser um
cantinho da sala com um sofá confortável, um quarto de visita
pouco usado, a cozinha da casa ou até mesmo um local construído,
separadamente da casa, para ser usado exclusivamente para a
benzeção.
354
desenvolvem um estudo sobre “aplicabilidade” da teoria deste
pesquisador das religiões, no caso Mircea Eliade, em relação ao
desenvolvimento do universo das benzedeiras e benzedores,
buscando entender melhor como se dá essa prática milenar e como
se constitui a figura destas mulheres. No que se refere à hierofanias,
os autores vão argumentar que a construção do sagrado é
“justamente como se vê um fenômeno natural”. Ou seja, o sagrado
consiste em um objeto/acontecimento que se encontra no mundo
natural, e não no sobrenatural. Todavia, este algo do “mundo
natural”, do “mundo biológico e físico”, é percebido de maneira
diferente (AZEVEDO; AZEVEDO, 2014, p. 60).
“Porque tem pessoas que às vezes, tem mal fluído e dentro de casa
ai fica na casa. E aqui já está preparado, com proteção do Divino
Espírito Santo para não acontecer nada. Porque eu vou fazer as
coisas em casa, fica as vezes, uma pessoa que chega aqui mal-
intencionados, porque vem. Você não pense que não vem, porque
tem gente que vem aqui para explora, vem gente com segundas
intenções e isso não presta dentro de casa. Mistura com a família e
isso não pode, tem que ter o lugar certo” (GASPARETTO, 2014).
355
Assim, podemos entender a preocupação da benzedeira Leoni com
os “maus fluidos”, que denotam o significado de profano, descrito
acima. Para ela ter um local separado, e principalmente, um “local já
preparado e com a proteção do Divino Espírito Santo”
(GASPARETTO, 2014), é fundamental para defender sua família
desses “maus fluidos” (HOFFMANN-HOROCHOVSKI, 2012). Pois
neste local, Dona Leoni poderá “manipular o profano, a força
negativa do mundo presente do cliente” (AZEVEDO; AZEVEDO,
2014, p. 62) sem se preocupar que estas forças fiquem dentro da sua
casa e a prejudique mais tarde.
Considerações finais
356
Referências
Autor: William Franco Gonçalves, graduado no curso de história na
Universidade Estadual do Centro Oeste – UNICENTRO, mestrando
do curso de mestrado em história na Universidade Estadual do
Centro Oeste – UNICENTRO orientado pelo Dr. José Adilson
Campioto.
AZEVEDO, Gilson Xavier de; AZEVEDO, Janice Fernandes.
Benzedeiras em Mircea Eliade, uma aproximação
possível. Protestantismo em Revista, v. 35, p. 54-64, 2014.
357
MOURA, Elen Cristina Dias de. Eu te benzo, eu te livro, eu te curo:
nas teias do ritual de benzeção. Mneme Revista de Humanidade, p. 340-
369, 2011.
NERY, Vanda Cunha. Rezas, Crenças, impatias e Benzeções:
costumes e tradições do ritual de cura pela fé. VI Encontro dos
Núcleos de Pesquisas da Intercom. Disponível em:
http://intercom.org.br. Acesso em 18 de Agosto de 2016.
OLIVEIRA, Elda Rizzo. O que é benzeção. São Paulo: Brasiliense, 1985.
358
A PEÇA VOYAGEURS IMMOBILES DE
PHILIPPE GENTY – ENSAIO TEÓRICO
ENTRE SEXUALIDADE E PAPEL
MAICON DOUGLAS SANTOS KOSSMANN
359
[...] O atraente coabita a cena com a matéria inerte, e dentro desses
estados performativos, o seu corpo fica sujeito a sofrer modificações
em sua aparência, estatuto e presença. Assim, há uma via de mão
dupla entre o atuante e os materiais inertes, pois, as ações de um
refletem na presença do outro. Eles se influenciam diretamente, em
relações de reciprocidade que fazem as suas realidades autônomas
ora se confundirem ora se completarem. (D’ÁVILA, 2018, p. 90)
360
incompreensíveis que representam algumas das fazes do
desenvolvimento humano.
361
2.Bebês Paraquedistas
Sexualidade
362
perversidade (ou será que são os impulsos latentes de nossa infância
no primeiro contato com uma cultura externa?) é demonstrada em
momentos que um dos personagens se atiram no mar, um tenta
ajudar e os outros a proíbem; nos desertos de papel kraft bebês
surgem de pés de couve, em barrancos de areia e no ventre de uma
figura híbrida, esses bebês são arremessados e explodidos na
presença de uma “cidade grande”. Por ordem de exibição, seleciono
três cenas que achei pertinente para o debate sobre a construção da
sexualidade e posicionamento teórico da peça.
363
3. Fragilidade do Homem
364
No caso das mulheres, a sexuação se dá pela assumpção da
diferença inscrita no corpo (até aí, tal como nos homens), que as
coloca de um lado da barra fálica – o lado dos sujeitos sem pênis.
Não há como recusar esta inscrição. Porém, para avançar deste
ponto à castração simbólica, as meninas, assim como os meninos,
têm que passar pelo pai. Primeiro, na percepção de sua função em
relação ao desejo da mãe, o que por si só já interdita o gozo materno
para a criança. Segundo, em consequência disto, pela constituição de
um eu a partir de identificações com atributos paternos,
fundamentais para que ela possa se separar de mãe fálica e percebe-
la (portanto, perceber-se) como uma mulher. (KIEHL, 2008, p. 261)
4. Eu tenho um pênis!
365
removido e forma-se uma angústia da figura paterna (pai) remover
seu pênis como punição por desejar a figura da mãe. Complexo de
castração está lado a lado com o complexo de Édipo. Se fosse dessa
maneira, a figura da Mulher seria montada de uma forma
em ser mulher só ganharia consistência de forma imaginária e
fantasiosa por desejo de um falo que através da sedução ou
privação, na espera e uma figura que substituía o desejo pelo pai
que foi introduzido pelo discurso da mãe, em outras palavras, dessa
forma, ser mulher significaria saber ser desejada. Por essas que
venho dar destaque a cena que representa, no íntimo, o anti-
freudismo, a Menina engolindo o pênis com uma expressão
tranquila, a menina representou uma alternativa para o complexo de
castração. Interpretei de várias maneiras cabíveis, talvez algumas
delas seja mais relevante para discussões, ou ainda, criticar a seleção
que fiz: a) poderia ser uma afirmação de igualdade de maneira
cômica, em que agora os dois são indivíduos sem pênis; b) uma
afirmação feminina que revela sua construção enquanto Mulher
diferente de tudo que Freud já escreveu; c) crítica a nossa sociedade
estruturalmente machista e falocêntrica. Dentre tudo, acredito
veemente ser um posicionamento feminista muito bem construído
entre toda a companhia.
366
5. Complexo de Castração
Por último, uma cena que ocorre de 34:40min até 35min. Um ator,
homem, vestido de mulher, porém, sem mais características físicas
além das roupas, caminha enquanto cai de seu ventre(?) bebês
(bonecos, brinquedos). O ator representa uma figura hibrida que,
apesar de escolherem manter a aparência que entendemos como
“masculina”, atua espasmos e expressões de dor enquanto os bebês
caem no chão, semelhante a um parto de uma Mulher, mas
estranhamente, em pé, igual animais que diferem dos humanos.
Nesse sentido cito:
367
Disponível em: <http://sairdagrandenoite.com/identidade-de-
genero-base-historica-introdutoria/>.)
6. Hibridização
368
travestimento do humano por manequins e formas variadas, a sua
aparente essência de vida e autonomia etc. Essa humanidade,
perturbada pela inerte com sua transformação em outra coisa,
impregna estranheza toda a poética gentyniana. (D’ÁVILA, 2017, p.
117)
Às vezes, os humanos são encobertos por esses papéis, que por fora
parecem uma coisa, e vão se desmontando conforme se
transformam, mas aqueles pedaços deixados para trás nunca se
desvinculam, sempre retornam, as vezes mais amassados, as vezes
retinhos e brilhosos de tão novos, o papel preenche o cenário,
formam um deserto, dele, bebês são gerados e esses humanos
cuidam com doçura ou provocam travessura, mas nunca deixa de
estar lá. Mas o que mais me chamou atenção, além de toda essa
parte de modificar o corpo, de privar a individualidade, de
participar das danças, de eternizar a silhueta humana de provocar a
raça humana, o papel, possui uma vontade, uma figura se ergue em
meio a confusão de outros seres munidos de papel, e no papel um
rosto, um simulacro da vida humana, um papel, que talvez, queria
ser humano, queria ser vivo, mas embaixo da pele, um papel, que
369
embaixo do papel, um humano, não poderia o papel se contentar em
dar forma a vida humana? O papel quer ser humano por ele mesmo,
mas o humano não consegue ser humano por ele mesmo, é preciso o
papel, é preciso a cultura, se não, é vazio.
7. Vazio
370
tubo, que é embalado e contabilizado numa caixa, dessa forma no
sorriso de uma Mulher que que expressa uma fala de uma atendente
de supermercado. Existe uma outra cena para o plástico,
incrivelmente o “paraíso”, as nuvens são o plástico em si, existe
também uma linha de produção, um conferente que classifica as
almas que chegam lá com plásticos retirados da boca, embalam e
mandam a vida eterna, que sobem como produtos numa vida,
aparentemente, deveria ser sem propriedade privada que nem
roupa possuem, mas a ambição e o desejo sexual ainda existem,
afinal, não foram como produtos do mercado que subiram? Apenas
mudou a riqueza.
8. Paraíso
371
Disponível em: https://culturebox.francetvinfo.fr/scenes/voyageurs-
immobiles-de-philippe-genty-poursuit-sa-tournee-69005
Referências
Sairdagrandenoite.com
372
FERNANDES, Carolina. Identidade de gênero: base histórica-
introdutória. Sair da Grande Noite. 2019. Disponível em:
<http://sairdagrandenoite.com/identidade-de-genero-base-historica-
introdutoria/>. Acesso em: 03/04/2019
373
JUÍZO FINAL E DANSE MACABRE: A
MORTE E A ARTE NA IDADE MÉDIA
PABLO RODRIGO BARRETO COELHO
INTRODUÇÃO
Nosso objeto de estudo são duas visões sobre a morte e como elas
foram retratadas na arte.
374
possuíam suas formas específicas de tratar os assuntos do outro
mundo. Ao morrer seriamos separados entre os que vão entrar no
reino dos céus e desfrutar da vida eterna no Paraíso e os condenados
ao Inferno para sofrer por toda a eternidade.
375
constitui um tipo privilegiado de criação na arte sacra, destinada ao
olhar do grande público.”, e que “aquilo que os simples, os iletrados,
não pudessem entender através da escrita poderia ser aprendido
com o recurso da imagem”. Ainda de acordo com Macedo, temos
Eco, que diz que as representações artísticas dentro das igrejas, ou
de carácter sacro, são além de tudo ferramentas pedagógicas, “a
literatura dos laicos” (Macedo, pg. 75, 2000). Ou seja, é uma forma
de propagar a ideologia da Igreja para os grupos que não são
capazes de ler a bíblia ou entender a linguagem das missas.
Para ser efetiva, a obra criada precisa ser marcante, ela deve entrar
na mente de quem a observa e o seu ensinamento deve ser cunhado
no subconsciente de quem a lê, de modo que o que foi visto não seja
esquecido. Demônios, inferno e castigos, Macedo (2000) qualifica
essa forma de ensinar como “a pedagogia do medo”, ou seja, o
medo do inferno e do sofrimento como o ferro que marca na alma o
376
ensinamento. A concepção de medo encontra paralelo no livro
Religião e Cristianismo (1977), segundo este manual (produzido
pelo Instituto de Teologia e Ciências Religiosas, da PUCRS), o que é
Santo provoca “medo e admiração”, ou seja, aquilo que é sublime.
Evitando o anacronismo, essa visão é contemporânea, mas pode-se
perceber que ela anda de acordo com os pensamentos religiosos do
medievo. É importante lembrar que o ensinamento religioso através
das imagens não pode se desvincular dessas duas faces, senão ele é
incompleto. Se for belo e não carregar uma mensagem, não é útil, se
possui uma forte face pedagógica, mas não é belo, não consegue
interpelar quem o observa.
377
ao que poderíamos pensar em um primeiro momento onde Jesus
seria o que ri e o demônio aquele que é sério ou raivoso. A
explicação para tal está na própria bíblia, afinal, não se sabe se Jesus
sorriu, mas o texto confirma sobre o seu chorou (João 11,32-36;
Lucas 19, 41-42).
378
Figura 1 – Tímpano leste de Notre Dame retratando o Juízo. Disponivel
em: http://www.mountainsoftravelphotos.com
Cristo, sério em seu trono, está sob o mundo e separa as almas. Para
a sua direita vão os que estão salvos, a frente deles temos um anjo
que os protege ao mesmo tempo em que carrega uma balança. Para
a sua esquerda são lançados os condenados ao inferno. Aqui não é
um anjo que os protege, mas existe um demônio que os conduz com
uma corrente, enquanto atrás deles outro demônio os assedia, todos
estão sorrindo, são distorcidos e animalescos.
MEMENTO MORI
379
que nos é trazido por Huizinga (1996, pg.104). Aqui o devir não é a
escatologia católica, tão pouco existe esta preocupação, o que
importa é do futuro terreno, é a decadência da carne e da honra.
Não pensamos o morrer como um meio teológico ou pedagógico,
agora a morte serve para lembrar-nos que somos frágeis e
humanamente iguais. Basicamente temos aqui a concepção de que
toda a glória, vida e beleza são temporárias.
380
vida não são fontes de prazer, e se o forem, tais prazeres não se
sobrepõem às dores da idade, da morte e da invalidez.
DANÇA MACABRA
Um dos principais motivos para o novo olhar foi a Peste negra, uma
das grandes propagadoras do memento mori. Essa doença era algo
totalmente novo, os enfermos contraiam sintomas similares aos da
gripe, logo a sudorese se manifestava dando início a pústulas negras
que marcavam o corpo do doente, em torno de três dias a vitima
morria. As condições sanitárias, o descuido com os corpos e o
grande volume de cadáveres ajudou na banalização da morte,
segundo Boccaccio que viveu os males da Peste (sendo o Decameron
uma história ambientada neste contexto) os cidadão das cidades
“dug for each graveyard a huge trench, in which they laid the
corpses as they arrived by hundreds at a time, piling them up tier
upon tier as merchandise is stowed on a ship”, outro caso conhecido
é o de Agnolo di Tura del Grasso, que enterrou os seus cinco filhos e
sua esposa “with his own hands”. Ou seja, a morte banalizou-se,
estava dentro e fora de casa e qualquer um poderia ter a vida
ceifada.
381
da produção religiosa. Segundo Coelho “A arte é uma síntese entre
o que o autor inspira do mundo e expira, essa devolução que ele faz
do ar respirado carrega toda sua interpretação do mundo e junto
dela sua produção” (2018, pg.223), tanto é que a produção de obras
que encaram essa nova visão se intensifica. Consoante
382
Figura 2 - The Lübeck Danse Macabre. Disponivel
em: https://hyperallergic.com/331875/lubeck-danse-macabre-chapel/
383
as massas humildes não conseguem uma ascensão social. Assim,
podemos entender como que era necessária a ideia do Paraíso e suas
recompensas para os bons cristãos, lá todos seriam iguais, algo que
em vida era impossível. O danse macabre fez o máximo possível para
trazer à materialidade humana essa igualdade. No Paraíso todos
somos iguais, a Morte vem buscar a todos.
384
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS:
385
ANANINS: ENSINO, PESQUISA, EXTENSÃO. Pará: Editora
Cordovil, 2019. p. 222-229
CORREIO DO POVO:
MODERNIZAÇÃO, ASCENS ÃO E
QUEDA DO JORNALISMO GAÚCHO
PABLO RODRIGO BARRETO COELHO
Introdução
386
Machado e o próprio Breno Caldas, através do livro “Meio Século de
Correio do Povo”.
Ou seja, não foi uma empreitada solitária, foi muito além. Caldas
Júnior desenvolveu um grupo heterogêneo, alvo de preconceitos,
tendo em vista um grupo formado por um nordestino e um negro.
Juremir Machado, autor de uma obra sobre a primeira semana do
jornal descreve o seu surgimento:
387
e uma tiragem de dois mil exemplares [...]” (MACHADO, 2015, pg
34)
A VISÃO DE BRENO
388
paulista (CALDAS, 1987) conseguiu ruir com um império
jornalístico de tal grandeza?
O papel do Jornal
389
E ainda temos as instalações, prédios e equipamentos que sempre se
manteram no mais alto nível tecnológico é o caso da reunião
da American National Publishers Association, evento estadunidense
ocorrido no ano de 1977, onde Breno foi buscar tecnologia e a mais
moderna aparelhagem para o Correio do Povo. Nesse momento
Breno queria atualizar o seu maquinário, encontrava a possibilidade
de substituir o serviço de composição por linotipo por um método
eletrônico, uso de salas com computadores e demais avanços. Faz-se
inegável a relação entre o Correio do Povo com a própria
modernização do jornalismo gaúcho.
390
das agências telegráficas de notícias. Há que ressaltar que esse
processo funcionou com efeito cumulativo: o aumento do consumo
de jornais contribuiu para o aumento do
capital das empresas jornalistas e, com isso, elas investiram na
pesquisa de
tecnologias que aumentassem a tiragem e reduzissem o tempo
de produção sem que os custos operacionais fossem muito
onerados.” (FONSECA, 2008, pg. 61)
391
trabalhadores nas mais diferentes funções, editores, motoristas,
distribuidores, trabalhadores do galpão e do escritório e etc.
Na vida
392
tarefas diárias, variados grupos de porto-alegrnses reuniam-se para
fazer o que gostavam.“ (D’Avila,2002, pg 34)
393
(CALDAS, 1987). A rádio para Breno Caldas era de uma relação
quase pessoal “Sim... Pelo menos junto ao público que eu desejava
atingir! O que eu queria fazer... a minha fórmula era fazer uma
estação de rádio que eu pudesse ouvir! Uma rádio que eu tivesse
prazer em ouvir.”, ele continua quando mostra a sua aversão a uma
midiatização medíocre:
“Eu não queria nada disso. Queria uma coisa que ficasse, uma
espécie de Correio do Povo no ar... Uma forma de veicular
publicidade discreta, que tivesse bons anunciantes... Não se
aceitavam anúncios escandalosos, não havia jingles, que era para não
nivelar com os outros nesse terreno. Na guaíba, a propaganda era
lida por locutores de muito boa voz que eram
selecionados”.(CALDAS, 1987, pg 68)
394
especifico, nos anos 1950, 1960, o Brasil passa pela importação da
cultura estadunidense, é a explosão da cinematografia, da música e
do american way of life. Assim:
395
Assim, para Breno, a combinação de inexperiência, descentralização
de poder e gastos econômicos foram as marcas do fim do Correio do
Povo, da Rádio e Televisão Guaíba. A venda das empresas se deu
em 1984 para Renato Bastos Ribeiro. Hoje em dia o jornal Correio do
Povo e a Rádio Guaíba são propriedades do Grupo Record, tendo a
Televisão Guaíba cedido espaço para a Televisão Record.
Conclusão
396
REFERÊNCIAS:
397
NAS TRILHAS DO (I) MATERIAL:
HISTÓRIA E MEMÓRIA DO CASARÃO
PADRE SÃO PALÁCIO, EM
PIRACURUCA-PI
PAULO TIAGO FONTENELE CARDOSO
PEDRO PIO FONTINELES FILHO
1 INTRODUÇÃO
398
distintos, apresentando assim, em seu perímetro urbano construções
capazes de evidenciar o percurso de sua história, fundamental para
o processo de formação das identidades com os espaços regionais e
locais dos citadinos com a urbes, pois:
399
“Dado um episódio, um lugar, um documento, devemos aplicar
nele uma redução de escala. A micro-história é uma prática que
implica o rompimento de hábitos generalizantes. Não buscamos a
generalização das respostas, e sim das perguntas: quais são as
perguntas que podemos criar e aplicar também em situações
totalmente diferentes? Sendo bem sintético: estamos interessados na
pergunta geral que emerge de uma situação local.” (LEVI, 2009, p. 2)
Por esse diapasão, tomar o casarão como objeto é seguir o lastro das
pesquisas históricas que valorizam a cidade material, com todos os
seus componentes, na produção do próprio conhecimento histórico.
Nesse “grande acervo”, é necessário que cada “documento” seja
pensado como integrante de tal acervo. O casarão um desses que
constituem esse acervo e seus registros, ao longo do tempo, remetem
aos diferentes usos, funções e significados que o prédio foi tendo.
400
as memórias de uma nação, e onde se cruzam memórias pessoais,
familiares ou de grupos: monumentos, uma igreja, um sabor, uma
bandeira”. (NORA Apud PARREIRAS HORTA, 2008).
401
Fig. 01- Casarão Padre Sá Palácio
402
Segundo Dagoberto de Carvalho (1983) a edificação em estudo foi
construída ainda no início do século XIX a mando do Padre José
Monteiro de Sá Palácio, vigário da Freguesia de Piracuruca na
época, afim de nela fosse montada uma fábrica de fiação. A
instalação de um estabelecimento que beneficiasse a matéria prima
produzida na região pode ser pensada ao constatar que nas
primeiras décadas do século XIX na povoação de Piracuruca “os
seus habitadores fazem grandes plantações de algodoeiros,
mandiocas e cannas d’assucar para aguardente e rapadura” (CASAL
apud SILVA FILHO, 2007).
403
Amparado na informação já mencionada de que a possível primeira
atividade a ser desenvolvida nas dependências do casarão (fábrica
de fiação) tem-se a possibilidade de se justificar que sua função não
foi primeiramente de uma moradia residencial, comum as demais
construções vizinhas já que:
404
até que um prédio que a abrigasse fosse construído, o que
finalmente aconteceu em 1943.
405
autoridades legislativas municipais, o que fez com que o casarão
retorna-se ao patrimônio municipal no ano seguinte. A discussão
gerada pela doação fez com que surgisse em seu bojo a Lei nº
1359/93 que versa sobre o tombamento de bens considerados
históricos, paisagísticos e artísticos localizados no Município de
Piracuruca.
406
meses de serviço restaura completamente o casarão da Intendência e
passa a fazer uso dos amplos espaços de suas dependências para o
desenvolvimento de atividades voltadas para a comunidade local
como aulas de música, computação e academia de ginástica. Com a
reforma em questão percebe-se que os valores atribuídos pela
população são reapropriados e transformam-se os modos como está
sente o espaço, pois preservação dos bens históricos não estão na
capacidade de eles permanecerem como estão, mas sim na
capacidade de se adequar as mudanças sociais e culturais da
sociedade.O extinto jornal Folha de Piracuruca, que circulou em 18
de outubro de 2003 traz a matéria intitulada: Prefeitura de
Piracuruca restaura Casarão Histórico, onde o redator além de
convocar a população para a inauguração do agora Casarão Padre
Sá Palácio mostra o seu ponto de vista quanto à realização das obras
de restauro e uso dos espaços:
407
ali não algo velho e monótono, mas algo que possa vir a ter uma
utilidade em suas vidas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
408
pesquisadores deve ser constante e, até certo ponto, vigilante. Trata-
se de um trabalho que perpassa pela atuação conjunta, que leva em
consideração uma atitude ampla: a educação patrimonial. A
educação patrimonial deve, então, abrir espaço para o debate de que
a preservação e a conservação se tratam de concepções distintas,
mas que devem coexistir no percurso de manutenção das memórias.
Não se trata, por certo, de uma tentativa de cristalização de um
tempo no presente, mas da percepção de que as temporalidades
devem ser percebidas mediante, inclusive, os anacronismos, os usos
e as funções. Nesse estudo, buscou-se abrir as portas e janelas do
casarão, para que as luzes da história e da memória pudessem
circular melhor entre a poeira e a escuridão do esquecimento. As
marcas deixadas por essas poeiras também são importantes para a
compreensão dessa história.
409
AFONSO, Alcília. Arquitetura e Cultura no Piauí. IN: SANTANA ,
R. N. Monteiro. Apontamentos para a História Cultural do Piauí.
Teresina: Fundapi, 2003, p. 51-57.
410
411
A IMIGRAÇÃO AÇORIANA PARA O
GRÃO-PARÁ NA SEGUNDA METADE
DO SÉCULO XVIII (1748 - 1778)
O Sarampo Grande
412
As trajetórias dos açorianos que analisaremos se remonta após os
impactos da epidemia de 1748-1750. Esta grande doença foi
importante para a inserção pontual de Açorianos no Grão-Pará.
O Arquipélago e os imigrantes
413
Vale ressaltar que as migrações dos açores para o Estado do Brasil e
do Maranhão – como política de povoamento – ocorriam desde o
século XVII, seguindo até o século XVIII. Caracterizado como sendo
um movimento populacional demasiadamente incentivado pela
coroa portuguesa, pois também abarcavam os interesses de povoar e
defender as terras da América lusitana (RODRIGUES, 2002).
A Travessia
414
lista de 1752 possuía mais dados: 77 casais embarcaram, em um total
de 428 pessoas, sendo 214 homens e 214 mulheres.
415
familiares do cabeça, além dos agregados, embora fossem
informações mais superficiais. (MENESES, 1999).
416
freguesia da Sé. Para rastreá-los utilizamos de outras duas fontes
que explicaremos brevemente antes de continuar a trajetória.
417
Na parte da documentação que se referia a Ourem há os mapas com
somente os nomes dos moradores brancos casados e dos moradores
índios casados, divididos entre homens e mulheres. No Mapa dos
Moradores Brancos Casados achamos o nome de Manoel Correa
Betencourt. Infelizmente a documentação não identificava outras
informações.
418
documento” (CARDOSO, 2010. P. 5); afinal por ser uma
documentação fundamentalmente socioeconômica, classifica os
chefes de domicilio em categorias de ricos a pobres, embora haja
outras categorias situações intermediárias do plano econômico da
sociedade escravista da época que eram as denominadas
“possibilidades medianas”, estes eram o que possuíam poucos
escravos. Já os de possibilidade inteira ficavam próximos da
condições dos declarados Ricos (VELOSO, 1998).
419
Possibilidade Inteira, como era de se esperar, mas sim como “muito
aplicado e remediado” além de “Lavrar farinhas, algodão e tabaco”.
420
Manoel de Azevedo era o cabeça com 20 anos de idade e Maria
Antonia era sua esposa com apenas 18 anos, os dois tinham a
profissão de alfaiate e costureira, respectivamente. Vieram para o
Brasil sem ter nenhum filho, apenas traziam dois agregados:
Marcos, irmão de Maria com apenas 10 anos e como já mencionei
vinha Luzia, que veio como companhia com 20 anos de idade, sem
sobrenome, embora informasse o nome de seu pai: Brás Pacheco de
Melo. Por fim, não declarava profissão.
421
Já Luzia de Mendonça que provavelmente deve ter 46 anos em 1778,
já que embarcou rumo ao Grão-Pará com 20 anos em 1752, está à
frente da chefia de sua casa, pois já se encontra viúva e mora
sozinha, sem filhos agregados ou escravos. Ela não declara
novamente emprego ou ofício e em suas notas sobre possibilidades
apenas é declarada como “pobre”.
Ritmos e Destinos
422
Referências
Referências Bibliográficas
423
1778. In: XVII Encontro Nacional de Estudos Populacionais. 2010.
Caxambu- MG – Brasil. Anais.... UFMG. Disponhivel em
< http://www.abep.org.br/~abeporgb/publicacoes/index.php/anais/a
rticle/download/2307/2261> acesso em 01 de 06 de 2019.
424
Castelo Branco. Anais....Departamento de História, Filosofia e
Ciências Sociais, Universidade dos Açores.
425
“CONFLITOS E PODER”: AS
DENÚNCIAS DOS MORADORES
CONTRA OUVIDOR JOÃO MENDES DE
ARAGÃO NO GRÃO PARÁ E
MARANHÃO NO SÉCULO XVII E XVIII
426
processo de organização. Após a expulsão dos franceses do
território do Maranhão foi consolidada e instituída em 1621, a
câmara como uma Instituição de controle organizacional dessa
região. Fez com que ocorresse o povoamento do território com
moradores, advindo de outras localidades, como
Pernambuco. Foram constantes as mudanças principalmente com
implantação de cargos administrativos, ou seja, os funcionários do
rei. E entre esses, o ouvidor, que era o homem responsável pela
justiça na capitania, sua função era fiscalizar e fazer as correições,
aplicar a lei e coibir fraude.
427
região da cidade de São Luís- MA. Os conflitos foram constantes
durante todo o seu percurso no território do Grão Pará e Maranhão.
428
os conflitos na região continuavam, analisando detalhadamente as
cartas, Aragão tem um forte conflito com Capitão de Guerra João de
Barros sobre a ocupação da presidência na ausência do Governador.
429
clientela que foi se formado, quem trouxe o ouvidor para São Luís
do Maranhão foi o Governador.
430
governador do estado, Bernardo Pereira de Berredo, tomassem as
devidas decisões. Após os vários atos cometidos pelo Aragão, abuso
de poder, alianças com o próprio Ouvidor e provedor do Maranhão
foram resultados de práticas inadequadas. Na citação acima, e mais
um modelo da fragilidade desse agente judicial, já que soltura e
prisão era só uma maneira de autoridade.
431
Ao trata sobre a distância do rei nos territórios do ultramar, isso
torna-se verídico, mas assim como havia sujeitos que cometia as
práticas ilícitas, também havia o vassalo obediente. Mas a vinda de
João Mendes de Aragão foi movida por fuga, as práticas de
vinganças, poder e atos inadequados advindos do ouvidor geral,
foram constantes no Maranhão colonial os abusos de poder, os
escândalos na estrutura administrativos movidos pela ganância,
fizeram deste sujeito protagonista de inúmeras queixas por parte
dos moradores que moravam nas respectivas localidades. A rede de
clientela também foram traços marcantes dentro desse sistema
administrativo colonial e os interesses que estavam envolvidos.
REFERÊNCIAS.
FONTES DIGITAIS.
432
capitania do Pará, João de Barros Guerra, e o provedor da fazenda
real do Pará, João Mendes de Aragão, quanto a ocupação da
presidência das paradas militares na ausência do Governador.
AHU_ACL_CU_013, Cx. 6, D. 500.
LIVROS, TESES.
433
JAPÃO DO SÉCULO XVI E XVII: DA
EXPANSÃO COMERCIAL AO
ISOLAMENTO
434
sentido militar e comercial do país. O maior impacto para o Japão, e
o que mudaria totalmente o rumo das guerras no país, foi à
introdução dos arcabuzes, pelo fato que os japoneses nunca tinham
tido antes o contato com uma arma de fogo. Isso causou impressões
positivas e gananciosas de senhores feudais japoneses, tendo
rapidamente importado para o exército e até a criação de fábricas
em Sekai. Isso foi um bom começo para uma relação duradoura
entre Japão e Portugal, tendo os portugueses ampla preferência
comercial no sul do país, desembarcando em diversos porto de
Kyushu. E assim, o país do sol nascente foi introduzido no sistema
econômico mundial, antes por tantos séculos desconhecidos.
Anteriormente, apenas mantinha relações com seus vizinhos como
Coreia e China, tendo destaque o segundo, que impactou a cultura
japonesa.
435
organizadores nas aldeias que resistem à autoridade
dos daimyo nessas áreas (YAMASHIRO, 1978, p. 102).”
436
política que seu mestre falecido construiu, e agora volta-se contra
todos os cristãos, tendo executados vários sacerdotes e fiéis em
praça pública, para assim, mostrar para europeus que o Japão não
iria permitir tamanhas afrontas.
437
“Esse cenário animado, embora turbulento, seria modificado logo
com o uso de armas europeias importadas. Como estava
acontecendo em outras partes do mundo, o poder gravitava na
direção das pessoas, ou grupos, que dispunham de recursos para
comandar um grande exército com mosquetes e, o que era mais
importante ainda, canhões. No Japão, o resultado foi a consolidação
da autoridade do grande senhor guerreiro Hideyoshi, cujas
aspirações acabaram levando-o a duas tentativas de conquistar a
Coreia. Com o fracasso destas e com a morte de Hideyoshi em 1598,
a guerra civil voltou a ameaçar o Japão. Dentro de cinco anos,
porém, todo o poder se consolidava nas mãos de Ieyasu e seus
companheiros xoguns do clã Tokugawa. Desta vez, o governo
militar centralizado não podia ser abalado (KENNEDY, 1989).”
438
Tokugawa manteve relações econômicas mais restritivas, apenas
poucos navios podiam desembarcar em um porto japonês. O Japão
observava o que estava acontecendo na China, Índia, Filipinas etc,
onde grandes impérios estavam se transformando em meras
colônias para a exploração e “divertimento” para monarquias
europeias. Sendo assim, quando o Xogunato de Tokugawa
conseguiu total controle do Japão, foi decretado o fechamento do
país, conhecido como Período Edo, começando uma forte repressão
contra estrangeiros e desenvolvimento modernizante do país. Ao
mesmo tempo, foi o período de paz mais abrangente do país, quase
268 anos sem grandes guerras, até mesmo transformando inúmeros
samurais em meros burocratas. Isso só irá mudar em 1868 com a
ascensão do Império Japonês, tendo a queda do Xogunato
Tokugawa, conhecida como Restauração Meiji, onde o governo
imperial retornou ao poder e abriu as portas para o exterior e para
modernização do país.
439
Referências bibliográficas:
440
AÇÚCAR E ESCRAVIDÃO NO OESTE
PAULISTA: POSSE DE CATIVOS EM
CAMPINAS, 1790-1810
CARLOS EDUARDO NICOLETTE
1. Introdução
441
categorizando suas transformações para melhor analisá-las. O
segundo é comparar as mesmas escravarias durante 20 anos para
perceber se existe a possibilidade de manutenção dos mesmos cativos
durante o período. Deve-se reiterar que esta é uma pesquisa em
andamento que possui resultados preliminares e com intuito de serem
discutidos e debatidos em eventos para seu aperfeiçoamento, pois
pretende-se, ao continuar desta pesquisa, estudar todas as escravarias
que alcançaram, entre 1790 e 1810, ao menos 30 cativos.
Este texto, deve-se salientar é uma versão curta, porém mais refinada,
advinda do debate realizado na apresentação ocorrida 9º Encontro de
Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional. Buscar-se-á, assim,
entender a formação das senzalas da vila que viria a ser o maior polo
econômico da primeira metade do século XIX em São Paulo e que faria
nessa província a transição da grande lavoura canavieira para o
cultivo de café perante a discussão das continuidades dos
escravizados ou não nas mesmas senzalas. Como afirma Robert W.
Slenes (1998, p. 17), é crucial estudar as transformações do regime
demográfico escravo, pois “açúcar e escravidão rapidamente
tornaram-se praticamente ‘sinônimos’ em Campinas e o crescimento
da população cativa foi explosivo: em torno de 18% ao ano entre 1789
e 1801, e 5% ao ano entre 1801 e 1829”.
442
militar, as Companhias de Ordenança de terra. Porém, já no século
XIX, sua finalidade não era apenas atender às demandas da Bacia do
Prata e à organização econômica de São Paulo. O levantamento de
dados da população foi feito quase que anualmente pelas milícias
constituídas por Companhias, através dos capitães-mores, sargentos
de milícias e cabos de esquadra (BACELLAR, 2015, p. 315-316).
443
Para selecionar as escravarias que seriam acompanhadas no tempo,
adotou-se o ano de 1790 como base e o recorte de 10 cativos. Em outras
palavras, optou-se por acompanhar todos aqueles fogos que possuíam
10 ou mais escravizados no primeiro ano do estudo pois entendeu-se
que, assim, se trabalharia com todos os grandes escravistas da vila
naquele ano. Foram encontradas cinco escravarias com este perfil
descrito, as quais dividiu-se as escravarias em algumas categorias.
444
A mesma divisão entre donos de cativos campinenses realizada
anteriormente pode ser feita em relação aos recém-nascidos nas
senzalas, conforme avança a década de 1790, cresce o número de
nascimentos nas grandes escravarias, enquanto no segundo grupo
apenas se mantém. A hipótese principal é que o crescimento do número
de escravizados também tenha gerado um aumento de casamentos e da
formação de famílias cativas; não à toa, a maior escravaria do período
estudado, pertencente a Antônio Ferraz de Campos, possui igualmente
a maior média de crianças e recém-nascidos. Porém, é necessário
ressaltar que até o ano de 1798, as informações sobre os casados não
seguem um determinado padrão, ou seja, em alguns anos existem as
informações, noutros somem e voltam a aparecer para os mesmos
sujeitos.
445
variaram razoavelmente mais no tempo, não mostrando um constante
crescimento entre as maiores escravarias e tampouco um padrão
demográfico, com uma alta mudança na razão de sexo ano a ano nas
três maiores escravarias. Por outro lado, as senzalas de Maria Teresa e
João Rodrigues tenderam ao equilíbrio entre os sexos. A diferença na
razão de sexo pode se relacionar ao trabalho na produção açucareira, já
que os homens eram o principal meio de força de trabalho; assim, se
sugere que a economia campinense que se encontrava em plena
expansão voltada para o mercado internacional após 1790, a escolha dos
proprietários de terras que procuraram expandir suas produções foi a
de manter e focar seus recursos prioritariamente em escravizados
homens jovens e não em mulheres.
446
pobres ou ricos. Essa característica da documentação da época
aumenta a dificuldade no acompanhamento das senzalas, pois ela se
integra à outra característica: os escravos são identificados, na maior
parte dos casos, apenas pelo primeiro nome. Dessa forma, por vezes
encontram-se vários escravos na mesma senzala com o nome Antônio
e idades similares, quando se analisa a lista nominativa seguinte, as
idades variam bastante, gerando o questionamento se seriam os
mesmos ou quem sabe outros que teriam sido adquiridos. Procurou-
se, assim, realizar o acompanhamento levando em conta cada senzala
e, apesar das dificuldades, muitos cativos conseguem ser
acompanhados durante todo o período.
447
É relevante discutir sobre a existência de um possível padrão
demográfico dessa população escrava que permanece nas senzalas
campinenses. Nesse sentido, são os homens que representam o maior
percentual dos cativos que continuam nas senzalas ao longo das
décadas e 1790 e 1800. Ressaltando as escravarias dos irmãos Felipe
Neri Teixeira e Joaquim José Teixeira, os quais mantêm,
respectivamente, quatro cativos (50%) dos oito presentes em 1790 e
também quatro cativos (66,6%) dos seis iniciais.
448
mão de obra. Quanto aos casados, para a década de 1790 é difícil
precisar se tiveram maior continuidade que os solteiros, pois as
informações parecem estar com qualidades distintas. Já no início de
1800 a mobilidade de escravos casados é menor e apresentam maior
taxa de permanência, contudo, pode ser um movimento natural, pois
aqueles que se encontram há mais tempo na mesma propriedade
também tiveram mais oportunidades para casamentos.
449
que as maiores escravarias também tenham passado por maiores
instabilidades, argumento respaldado pelos casos de Maria Teresa do
Rosário e João Rodrigues da Cunha, os quais têm pouca movimentação
dentro de suas senzalas, são os únicos, aliás, que diminuem a mão de
obra escrava – sendo, possivelmente, este o fator determinante para
uma maior porcentagem de escravos de 1790 presentes e 1810, visto que
não teriam capital para investir em novos cativos, prezaram por aqueles
poucos já existentes.
A razão para a saída dos escravizados das senzalas não pode ser
precisada utilizando-se apenas as listas nominativas, pode ter sido por
fugas, mortes ou vendas, porém, sugere-se que essa descontinuidade
nas escravarias menores possa revelar uma preferência senhorial por
aqueles escravizados antigos, visto que os já poucos novos escravos de
João Rodrigues e Maria Teresa somem rapidamente da documentação,
permanecendo, em geral, os cativos mais antigos.
4. Considerações Finais
450
escravizados, bem como de sua exploração no ritmo de trabalho. Este
texto propôs uma análise longitudinal das cinco maiores escravarias
dessa vila entre 1790 e 1810, a fim de entender a montagem dessas
senzalas nesse período de expansão, as acompanhando por 20 anos.
Apesar dos resultados serem iniciais, pode-se observar a continuidade
de cativos dentro da mesma senzala, ao contrário do que se poderia
imaginar – seja pela alta mortalidade ou mesmo venda. Assim como a
importância dos escravos presentes no início da expansão canavieira no
desenvolvimento daqueles engenhos, visto existir uma razoável
circulação de escravos nas senzalas, porém, com alguns cativos
presentes em todos os anos.
5. Bibliografia
451
5.1 Fontes
452
SLENES, Robert W. Na senzala uma flor: esperanças e recordações na
formação da família escrava, Brasil Sudeste, século XIX, Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1999.
453
ALTERNATIVAS EDUCACIONAIS
PARA ABORDAGEM DA HERANÇA
AFRICANA E DA MEMÓRIA DA
ESCRAVIDÃO
VANESSA DE ARAÚJO ANDRADE
454
que haja maior conhecimento do assunto e para que a memória
destes grupos étnicos não seja silenciada, através da promulgação
da lei 10.639/2003, que tornava obrigatório o ensino de história
africana e afro-brasileira, complementada pela lei 11645/2008, que
acrescenta também o ensino de história indígena De acordo com as
referidas leis, a educação deve abordar “diversos aspectos da
história e da cultura que caracterizam a formação da população
brasileira, a partir de dois grupos étnicos, tais como o estudo da
história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos
indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e
o índio na formação da sociedade nacional”.
455
promulgação da lei. Existem várias discussões acadêmicas sobre a
questão da importância da cultura negra na sociedade brasileira,
mas ainda falta um longo caminho para que isso se reflita
adequadamente nos livros didáticos. Para muitas pessoas do
público leigo ainda permanece a visão dos índios como “indolentes”
ou vítimas de morticínio e os africanos apenas como escravizados.
Não são publicizadas suas revoltas ou estratégias de resistência, e no
pós abolição é como se eles “sumissem” da história. É necessário
discutir e estudar a participação destas pessoas no cotidiano e na
cultura brasileira.
456
Polonia, e a cidade de Hiroshima, vítima de uma bomba atômica na
Segunda Guerra Mundial.
457
há uma grande discussão em torno do repasse dos recursos de
investimento das obras portuárias, impactando até mesmo em
serviços básicos como iluminação e saneamento públicos).
458
formados no ambiente de destino. A diáspora pode representar
ligação, neste sentido, mas também isolamento, a partir do
momento em que os povos diaspóricos são segregados ou
discriminados. E, conforme mostra a história do Brasil, foi
exatamente o que aconteceu com os africanos escravizados,
forçosamente trazidos ao Brasil. Sua exclusão e marginalização
perdurou ao longo da história, tendo reflexos na
contemporaneidade, no entanto é inquestionável sua participação na
formação da identidade e da cultura brasileira.
Referências Bibliográficas:
459
A autora é licenciada em História e especialista em História e
Cultura no Brasil - Unesa
Mestranda em História, Política e Bens Culturais – Fundação
Getúlio Vargas
Profª Orientadora Ynaê Lopes dos Santos
460
VASSALO, Simone Pondé; CICALO, André. Por onde os africanos
chegaram: o Cais do Valongo e a institucionalização da memória
do tráfico negreiro na região portuária do Rio de
Janeiro. Horizontes Antropológicos: Porto Alegre, ano 21, nº 43, p.
239-271, jan/jun 2015.
461
REFERENCIAL LATINO-AMERICANO
NA OBRA DE RAUL SEIXAS:
PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES
JEFERSON DO NASCIMENTO MACHADO*
INTRODUÇÃO
de Raul Seixas.
Salvador. Nessa época, ele tinha onze anos e passou a ter contanto
462
Elvis Presley, Chuck Berry, Eddie Cochran, bem como toda a cultura
“Nunca liguei muito pras letras das músicas. Apesar que eu aprendi
Latina.
463
Milton Nascimento etc., que realizaram constante conversa com o
Violeta Parra.
1976.
tangos e canto pra quem curte isso também. Minha música é pra
464
Quando criança, Raul gostava de ouvir a orquestra cubana Lecuona
Cuban Boys e quando estava com doze anos colocou em seu diário
que “o disco que eu mais gostei na vida mais de que rock’ n’ roll
mais que samba mais que mambo foi ‘Cubanacan” (SEIXAS, 1983, p.
14).
callados.”.
Acerca da música chilena, Raul Seixas passa a tomar nota dela nos
iluminaram Roma. Assim como a vela [...]”. A letra mostra que Raul
465
isso associa ela a Nero, que teria incendiado Roma para fazer
Para ele, Violeta fazia música a partir de críticas a Igreja, que seria
ritmo e ainda vou fazer uma música com aquele feeling. Apesar de
ser difícil aquela batida, difícil pra burro. Estou em cima disso. Ela é
demais. [...]”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
466
socializadores. No geral, ansiamos que, longe do texto encerrar a
assunto.
REFERÊNCIAS
jefersondonascimentomachado@gmail.com
PASSOS, Sylvio (Org). Raul Seixas Por Ele Mesmo. São Paulo:
Martin Claret, 1993.
SEIXAS, Raul. As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor. Rio
de Janeiro: Shogun Editora e Arte, 1983.
PAULA, Marcelo Ferraz de. A América Latina na Música Popular
Brasileira: dois idiomas e um coro-canção. Rio de Janeiro:
Darandina, 2011.
467
CAPOEIRA PARANAENSE (XIX-XX):
ENTRE O LÚDICO E O MARCIAL
*JEFERSON DO NASCIMENTO MACHADO
INTRODUÇÃO
468
A CAPOEIRA DO SÉCULO XIX
dedos dos pés”. O uso de navalhas nos pés era algo comum aos
capoeiragem.
469
havia Capoeira no final no do século XIX, pois encontramos uma
jogos de capoeiragem.
seguida.
470
No ano de 1900, surge outra referência ao jogo de Capoeira desse
seguinte notícia:
opressão.
A CAPOEIRA DO SÉCULO XX
471
homem, quase decapitou seu parceiro João Fernandes, no interior de
A mulher, que diz saber ser “danada”, quando preciso, foi presa e
“amassar” muito e eu tive que me defender”. Para ela, “ele deve ser
O desfecho do caso parece ter tornado Joana Silva, que era vítima,
autodefesa da Capoeira.
4):
472
33 anos, que portava um cabo de aço. Na briga porém acabou
durante os dias 13, 14, 15 e 16, do ano de 1962. A peça foi anunciada
pelo Diário do Paraná (1972, p. 2), que descreveu que junto com a
473
Capoeira, especialmente, no aspecto mais lúdico, já que era parte de
sido recém iniciados mas, conforme Sergipe (2006), ele não realizou
Capoeira paranaense.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
lúdico e marcial.
474
suporte para professores da rede pública do Paraná que busquem
FONTES E REFERÊNCIAS
jefersondonascimentomachado@gmail.com
<http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=800074&Pag
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=800074&>.
475
Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=830372&pes
q=preto%20desid%C3%A9rio>. Acesso em: 24 dez. 2017.
KONDER, Marcos. Lauro Muller: Menino, adolescente, alumno. O
Estado (SC), [S.l.], 13 maio 1934. Edição 618, p. 10. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=098027_03&
pesq=preto%20desid%C3%A9rio>. Acesso em: 24 dez. 2017.
MACHADO, J. N. Esboço para uma história da capoeira
books, 2019.
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=092932&pesq
jan. 2019.
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=800074&PagF
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=761672&pesq
476
<http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=830240&pes
q=preto%20desid%C3%A9rio>. Acesso em: 24 dez. 2017.
QUASE DEGOLADO AO QUERER AMAR. Diário do Paraná.
<http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=761672&Pag
477
A QUESTÃO DOS LIMITE S
TERRITORIAIS NAS PÁGINAS DO
BOLETIM DO INSTITUTO HISTÓRICO
E GEOGRAPHICO PARANAENSE
(1900-1925)
MEGI MONIQUE MARIA DIAS
INTRODUÇÃO
478
ideais republicanos no Paraná expandindo suas atividades através
da criação e uma porção de centros e associações literárias, bem
como revistas, jornais e toda uma série de produções históricas e de
espaços culturais e sociais, utilizados para consolidar um projeto
político cultural específico para o Paraná.
479
História e geografia apareciam como conhecimentos essenciais para
as definições da vida social e do meio físico brasileiro. A atuação do
grêmio mostra que tais propostas foram levadas adiante. As
iniciativas do Instituto Paranaense incidiam com o propósito de se
construir a região Paraná através da elaboração de uma história
capaz de vencer os obstáculos e construir imagens homogêneas e
hegemônicas do progresso paranaense.
DESENVOLVIMENTO TEÓRICO-METODOLÓGICO
480
dos historiadores mais influentes do período, o panorama da escrita
da história no Brasil. Segundo a autora, a insistência no uso da
geografia foi uma constante na narrativa histórica daquele
momento, de forma que àquele historiador trouxe à cena dos
escritos historiográficos assuntos que estavam relacionados com o
problema da unificação do espaço territorial brasileiro. Percebe-se o
alcance que esta problemática iria assumir nos estudos históricos,
segundo Capistrano de Abreu, essa temática se consolidaria como
algo especial. A importância da questão do espaço territorial
brasileiro, fez com que, defendesse a investigação da ocupação do
território interior, e não apenas o litoral, uma vez que, para
Capistrano, somente assim “se completaria o projeto de uma
verdadeira história pátria” (OLIVEIRA, 2006, p. 47).
481
estudar em relação aos princípios da nossa história, de Guilherme Shüch
(1820-1908) - Barão de Capanema -, consiste em prova incontestável
desse movimento de exploração ao interior do país,
tais investigações seriam importantes para o objetivo de demarcação
do território nacional principalmente através da abertura de
estradas. Isso seria possível mediante o levantamento de
documentação de estradas antigas que pudessem cooperar para com
o prolongamento das viações existentes até aquele momento, para o
Barão de Capanema, nas considerações que fez após a sua passagem
pelo sertão paranaense, era importante, que as estradas fossem
planejadas de forma a “estabelecer comunicação com o litoral para
transporte de productos” (SHÜCH, 1918, p. 310).
482
Cabe lembrar, que Elliot contribuiu com tal questão sendo
responsável pela elaboração de materiais corográficos que muito
contribuíram para a então Província do Paraná. Podemos notar a
concentração de esforços para adentrar ao interior do território
paranaense contribuindo para a definição dos contornos do Estado,
pelo menos a sul, oeste e norte. Esta expedição foi nomeada pelo
Barão de Antonina, que buscou realizar tal empreendimento pelos
“rios Verde, Itararé, Paranapanema e seus afluentes, pelo Paraná,
Ivahy, e sertões adjacentes” (ELLIOT, 1919, Vol. II, p. 73). João da
Silva Machado (1782-1875). Nascido no Rio Grande do Sul, iniciou
sua vida como alfaiate e feitor de fazenda, até decidir seguir carreira
militar e política e fazer fortuna na região do Paraná. Encarregou-se
de diversas explorações no território e enquanto representante da
Quinta Comarca na Assembléia Provincial de São Paulo, foi
encarregado de dirigir uma série de obras públicas como abertura
de estradas, recuperação e conservação de antigas. Quando da
emancipação do Paraná, assumiu uma vaga no senado imperial
(ROSEVICS, 2009, p. 91).
483
Edmundo Barros publicado pelo IHGP contribuiu para o
levantamento topográfico da região, cujo território de 25.000
hectares seria utilizado no futuro para a construção do “Parque
Nacional”. A ocupação territorial de fronteira internacional
paranaense passou a ser lugar e cenário de novos empreendimentos
e personagens que apareceram mediante o processo de exploração e
colonização desta área.
484
d’Assumpção tal questão fica evidente, sobretudo porque procurou
expor versões da localização do rio da Vila, esclarecendo algumas
questões da história contemporânea de Curitiba. A possibilidade de
verificar aspectos geográficos que contribuíram para a formação
histórica da região, a exemplo dos rios, foi importante para que a
região fosse descrita e reconhecida. Seu interesse e posicionamento,
em relação às opiniões sobre o rio da vila, iam à contramão daqueles
que afirmavam ser esse o Rio Ivo, para ele, “pode-se pois dizer-se
que o chamado Rio da Villa naquela época, era o Bacachery”
(ASSUMPÇÃO, 1925, p. 13).
485
Paraná em 1867, como resultado das expedições realizadas por esses
três políticos paranaenses, que, dentre outras finalidades, buscou
expor as condições fronteiriças da província, que naquele momento
se limitava
486
disso, os autores destas descrições deixaram claro, a importância da
participação dos poderes do Estado quanto à necessidade de
“aproveitar todos os meios de engrandecimentos nacional [...]
estudando as necessidades mais urgentes, já mandando explorar os
rios, já novas veredas de comunicação terrestre” (MURICY et. alii,
1919, p. 94).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
487
capaz de vencer os obstáculos e construir imagens homogêneas e
hegemônicas do progresso paranaense.
FONTES
488
MURICY, José Candido da Silva et. alii. Descrição Geral da
Província do Paraná em 1867. In: BIHGP, Livraria Mundial:
Curitiba, 1919, p. 87-101.
REFERENCIAIS BIBLIOGRÁFICOS
BELTRAMI, Rafael C. de C. Da Poesia na Ciência – Fundadores do
Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, uma história de suas
idéias. Dissertação (Mestrado em História) – UFPR: Curitiba, 2002.
489
NOTÍCIA HISTÓRICA: O INSTITUTO
HISTÓRICO E GEOGRAPHICO
PARANAENSE (1900)
MEGI MONIQUE MARIA DIAS
INTRODUÇÃO
490
pela autora em sua análise do universo da cultura política da
sociedade brasileira.
DESENVOLVIMENTO TEÓRICO-METODOLÓGICO
491
Bento Fernandes de Barros. No entanto, reunidos no Club
Curytibano, estavam os cidadãos: Romário Martins, Julio Pernetta,
Dr. Sebastião Paraná, Dr. Camillo Vanzolini, Dr. Luiz Tonisse e Dr.
Ermelino Agostinho de Leão.” (RIHGR, Vol. I, 1918, p. 8) Não
compareceram, mas justificaram a ausência por motivos de ordem
pessoal os cidadãos: General José Bernardino Bormann, Coronel
Jocelym Morosini Borba, Dario Velloso, Dr. Manoel Francisco
Ferreira Correia, Dr. Emiliano Pernetta e Nestor Pereira de Castro;
Não compareceram e nem justificaram ausência: Desembargador
Bento Fernandes de Barros, Dr. Candido Ferreira de Abreu, Tenente
José Candido da Silva Muricy e Lucio Pereia.” (Boletim do IHGP,
1918, p. 08).
492
de funcionamento, aconteceu no dia 03 de Junho de 1900, na cidade
de Curitiba, mediante a definição dos programas e das atividades
que deveriam ser priorizados pelo grêmio. Tais demarcações dessas
orientações podem ser observadas na composição do seu Estatuto,
cuja Comissão responsável por redigir tal documento contou com a
participação de nomes como Romário Martins, Camillo Vanzolini e
Dario Velloso, nomeados pelo General J. Bernardino Bormann,
presidente do IHGP na diretoria composta aos 24 de maio de 1900.
493
outras profissões liberais, uma constante entre os sócios, sobretudo
nos vinte e cinco anos iniciais de atividade do grêmio. Em relação à
definição das categorias Dos Socios, consta em seu Estatuto que
seriam seis: fundadores, efetivos, beneméritos, honorários,
correspondentes e auxiliares (Cap. III, nos artigos I ao VI – 03 de
Junho de 1900; Boletim do IHGP, 1918, p. 19-20).
494
atividades da Diretoria, à ela competia também, “Nomear comissões
para o estudo de trabalhos scientíficos apresentados ao Instituto por
sócios ou extranhos” (Cap. II, Art. 8º, inciso 3 – Da Diretoria; Boletim
do IHGP, 1918, p. 19) e “Organisar o Regimento Interno do Instituto,
Bibliotheca e Archivo Publico” (Cap. II, Art. 8º, inciso 4 – Da
Diretoria; Boletim do IHGP, 1918, p. 19) o que demonstra que suas
atividades e influências se estendiam para além dos círculos do
IHGP.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
495
instituir no Paraná uma história que o fizesse ser reconhecido aos
seus, a si e à Nação, pautada na crença no progresso e no
desenvolvimento social. Levando em conta que no Brasil esse
ideário atingiu o apogeu nas duas primeiras décadas do século XX, a
proposta do grêmio estava em consonância com as preocupações
daquele tempo.
FONTES
Boletim do Instituto Histórico e Geographico Paranaense. Livraria
Mundial: Curitiba, 1918.
REFERENCIAIS BIBLIOGRÁFICOS
496
CORRÊA, A. S. Imprensa e política no Paraná: prosopografia dos
redatores e pensamento republicano no final do séc. XIX. Dissertação
(Mestrado em Sociologia), UFPR: Curitiba, 2006.
497
RESILIÊNCIA IDENTITÁRIA NO
ANTIGO ISRAEL, UM ES TUDO DE
CASO
FREDERICO MOURA IGNÁCIO
1 - Introdução
498
conjunto, como se fossem um único corpo, agora com alta potência
de se proteger, de garantir segurança.
499
questão. A seguir, analisaremos o caso do Antigo Israel, um dos
raros momentos na história humana em que um povo foi capaz de,
apesar de toda a adversidade, se reinventar como comunidade
portadora de poderosa identidade (CARR, 2014).
2 - Os judeus na Babilônia
500
forma disseminada o monoteísmo javista num período posterior,
mas aqui no presente texto adotaremos tal ideia de imediato, para
facilitar a compreensão do entendimento que o povo exilado tinha
de si mesmo, ou seja, de sua identidade.
501
dizendo que, tendo sua segurança garantida durante a guerra, eles
do reino do Sul só poderiam estar então cultuando do modo “certo”,
ou seja monoteísta, tendo portando a aprovação divina.
502
igualmente natural é que seus filhos, netos, bisnetos, fossem
perdendo tudo isso gradativamente, até que se tornassem
completamente babilônios. Para que isso não acontecesse, a
comunidade deveria fazer o que já dissemos anteriormente: não
deixar morrer seus costumes e práticas rituais. Com a linhagem
davídica morta e o Templo de Jerusalém, local por excelência da
prática ritual, destruído, se fez então necessária a troca de pilares de
identidade, para que a nova configuração estivesse de acordo e em
harmonia com a também nova condição social de existência.
503
antigos pilares não existem mais, a identidade deve resistir,
independente do que se perdeu, mas agora com base na memória de
seus mais longínquos ancestrais.
REFERÊNCIAS:
Bibliografia:
504
ASSMANN, Aleida. Espaços da recordação: formas e
transformações da memória cultural. Campinas: Editora Unicamp,
2011.
ASSMANN, Jan. Religion and Cultural Memory. Stanford: Stanford
University Press, 2006.
BELL, Catherine. Ritual: Perspectives and Dimensions. Nova York:
Oxford University Press, 2009.
CARR, David M. Holy Resilience: The Bible’s Traumatic Origin.
New Haven & London: Yale University Press, 2014.
GEERTZ, Clifford. “Religion as a Cultural System”. In: The
interpretation of Cultures: Selected Essays. New York:
HarperCollins, 1973.
505
A POSSE DE ESCRAVOS EM UMA
ECONOMIA DE ABASTECI MENTO
COLONIAL: SÃO LUÍS DO
PARAITINGA (1798 -1818)
DIEGO ALEM DE LIMA
1. Introdução
506
em primeiro lugar, buscar estabelecer apontamentos quanto à
distribuição da posse de cativos em tal contexto social, e em
segundo momento, levantar hipóteses acerca das bases comerciais
que teriam possibilitado a acumulação de capital na forma de
escravos em uma vila que, até o momento estudado, jamais tivera se
integrado diretamente às redes mercantis atlânticas.
507
Aqui, decidimos trabalhar com as listas referentes aos anos pares do
intervalo entre os anos de 1798 e 1818, para que pudéssemos cobrir
maior espaço de tempo e analisar uma maior quantidade de dados.
Cabe ainda ressaltar que o presente texto faz parte de uma pesquisa
ainda em andamento, e que poderão ser elaboradas conclusões mais
robustas com a continuidade da pesquisa.
A nova via teria feito com que as antigas rotas de ligação, que
passavam pelo Vale, deixassem de ser frequentadas pelos
comerciantes e viajantes, e os antigos moradores que ocupavam a
região teriam sido compelidos a buscar novas alternativas de
sobrevivência, sobretudo buscando áreas para desenvolver a
lavoura de subsistência. Ademais, a política empreendida por
morgado de Mateus tinha como uma de suas principais diretrizes a
fundação de novas vilas, visando um aumento da produção e
consequentemente da arrecadação por parte do aparato estatal
(MONT SERRATH, 2017).
508
Assim, a origem do pequeno povoamento teria ligações com a
migração e pequenos sitiantes e produtores, posseiros, que
plantavam e criavam para a própria subsistência. O relevo
extremamente acidentado que caracteriza a região, bem como a
ausência de jazidas minerais que despertassem o interesse em sua
exploração econômica, teriam feito com que a povoação mais
sistemática da região se desse apenas com a chegada do café ao
Vale, já próximo à segunda metade do XIX. Até então, as pequenas
comunidades e aglomerados populacionais ali instalados se
caracterizariam pela quase exclusiva lavoura de subsistência, que no
caso de São Luís, baseou-se, inicialmente, no plantio de milho e
feijão (PETRONE, 1959, p.251).
509
Porém, ainda que relativamente isolada das principais teias
mercantis exportadoras da colônia, e sendo dependente dos núcleos
regionais para a comercialização da produção sobressalente, a
economia de São Luís do Paraitinga se mostrou, ao longo do
período analisado, portadora de um grau de dinamismo capaz de
possibilitar a acumulação de capital na forma de escravos por parte
de uma parcela de sua população: havia, em 1798, 583 cativos
listados nos domicílios da paróquia; dez anos depois, em 1808, já
eram 793 os indivíduos escravizados; no último ano da série
analisada, o número atingiu o total de 977 cativos.
510
inalterada ao longo de todo o período, variando em torno dos 25%
da população livre listada, o que é um indício de que a acumulação
de capital na vila teria se dado de forma concentrada. Tal proporção
se aproxima da encontrada por Francisco Vidal Luna como média
de proporção de domicílios escravistas em todo o Vale do Paraíba à
época: 24,17% dos domicílios eram proprietários de escravos, em
1804 (LUNA, 1998, p. 114).
511
médios e grandes plantéis foram aqueles que apresentaram um
número igual ou superior a 6 escravos. Preferimos não empregar as
tipologias já consagradas, como a de Ricardo Salles (SALLES, 2008),
em nossas análises, posto que o universo aqui explorado destoa
bastante da natureza das zonas monocultoras onde tais
classificações adquirem maior representatividade.
512
escravidão ligada à plantação cafeeira em Bananal, Breno Moreno
atenta para fenômeno semelhante: com o passar do tempo, a
propriedade escrava torna-se cada vez mais concentrada nas mãos
dos grandes proprietários (MORENO, 2019). É bem verdade que a
classificação das faixas de plantéis utilizadas pelo autor em seu
estudo contrasta com a aqui adotada. Entretanto, se considerarmos a
natureza singular da economia abastecedora de São Luís, pode-se
trabalhar com a hipótese de que o quadro observado em nossos
dados seja um equivalente ao diagnóstico estabelecido para algumas
áreas exportadoras durante o século XIX. Hipótese que necessita de
maior desenvolvimento para sua comprovação.
513
vendido, seguido pelo tabaco. O açúcar praticamente deixa de ser
produzido na vila com o intuito de ser vendido, perdendo por
completo sua importância nas trocas comerciais. Ao que parece, a
vila se especializa, ao longo do tempo, na produção de tabaco e
criação de porcos vivos.
514
abastecimento substancialmente lucrativa, a qual estaria inserida
São Luís do Paraitinga, o que tornava possível a acumulação de
capital na forma de cativos, a partir de trocas favoráveis na balança
comercial. O Rio de Janeiro teve papel importante no abastecimento
das regiões mineradoras, entretanto, com o declínio da extração
aurífera das Gerais, os papeis teriam se invertido: as regiões
limítrofes à capital teriam se especializado cada vez mais no cultivo
de gêneros de exportação (durante o chamado Renascimento
Agrícola) e a lavoura de abastecimento perdera espaço (CAMPOS,
2010, p 25-27). A carência de gêneros básicos teria se agravado ainda
mais com a transferência da corte portuguesa para a colônia, em
1808. É possível observar como as vendas de tabaco e capados
vindos de São Luís aumentam após a data, bem como a entrada de
negros escravos no universo da vila.
3. Conclusões
515
especializou na produção dos gêneros básicos de abastecimento e
estabeleceu redes de trocas com vilas circunvizinhas. Além disso, e
preciso lembrar a posição sui generis da pequena vila no contexto
abastecedor. Sua localização geográfica parece ter permitido que
estabelecesse laços com o maior núcleo urbano da colônia, a capital,
que apresentava crescimento vertiginoso e alta demanda por
gêneros essenciais.
516
o centro da questão, os setores majoritários da nossa população
colonial.
4. Referências
5. Fontes
6. Bibliografia :
517
MONT SERRATH, Pablo Oller. São Paulo restaurada: administração,
economia e sociedade e uma capitania colonial (1765-1802). São Paulo:
Alameda, 2017.
518
O REGISTRO DAS PLANTAS
MEDICINAIS
CARLA CRISTINA BARBOSA
519
hipótese sobre o conhecimento tradicional indígena de usos das
plantas sendo utilizado pela população no norte de Minas Gerais. A
trajetória do trabalho fundamenta-se em três camadas de estudos:
historiográfica que se desenvolve a partir da reflexão sobre o saber
tradicional das plantas medicinais; tecido social que mostra o
conhecimento das pessoas e a tradição e epistemológica, que trata
dos documentos e das fontes.
Referências:
520
LUGARES DE COMER: OS BARES E A
ALIMENTAÇÃO EM BELÉM
SIDIANA DA CONSOLAÇÃO FERREIRA DE
MACÊDO
521
Os estabelecimentos de consumo de alimentos tinham
frequentadores heterogêneos. Os bares surgem como locais de arte,
luxo e moralidade, muitos deles destinados as famílias. Conforme
veremos os espaços de consumo de alimentos em Belém certamente
tinham códigos e regras específicas, considerando ainda a
diversidade do público de consumidores que desejavam atrair ou
repelir, socializando permissões e interdições que faziam do ato de
comer também uma forma de aprendizagem social. De fato,
conforme sugere Simmel, as regras em relação ao ato de fazer uma
refeição iam “desde segurar a faca e garfo, até os temas mais
convenientes de se falar à mesa, para regular o comportamento
dessas camadas”.[4]
522
botequins, mercearias e pensões não desapareceram.[7] Isso quer
dizer que, a dinâmica existente em fins do século XIX para
determinados lugares mantiveram-se ao longo da primeira metade
do século XX. Contudo, houve surgimentos de novos espaços para
alimentação como os bares que, além de servirem o alimento,
traziam novas propostas de lazer e arte. Ao longo desse período,
então, percebemos um aumento no número de estabelecimentos
para consumo de alimentos, fenômeno ligado ao crescimento
espacial da cidade, bem como populacional e econômico.
523
anúncios de jornais ofereciam aos seus clientes divertimento,
alimentação e bebidas. Um exemplo disso é o Bar Paraense descrito
como um “agradável centro de diversões”, que, em 9 de janeiro de
1910, realizava sua festa artística, qualificada como um
“espectaculo” segundo se anunciavaa na Folha do Norte. De acordo
com a propaganda, o programa era “organizado de fórma a attrahir
para alli grande número de apreciadores deste gênero variado e
inoffensivo”. Em 14 de janeiro de 1910, outro anúncio informava
que no Bar Paraense seria levada à cena uma bem urdida comédia
em um ato, “produção de um reputado comediographo nacional, e
que fará rir a bandeiras despregadas”. Segundo o mesmo anúncio,
neste “espectaculo” haveriam “números de encantar”,
“cançonetas deliciosas e intermezzos tão ao sabor do nosso
público”.[10]
524
Rodrigues, chegados do Sul, divertimento que prometia “arte, riso e
sucesso”, uma vez que contava com: “Números de gargalhadas,
destacando-se o de alta illusão”. Em pleno carnaval, nos idos de
1931, o Souza Bar parecia se destacar com sua programação,
apresentando o teatro de revista intitulado: “No reino da Alegria-
Emporio do Riso- Onde vive o carnaval”. A propaganda,
certamente visando atrair foliões, sem falsa modéstia informava que
a “opinião pública”, que circulava pelos “cafés” da cidade,
igualmente afirmava que a “hilariante revista Depois não chora” era
o “único divertimento aproveitável do carnaval” daquele ano. Desse
modo, concluía o anunciante: “Não ir ao SOUSA BAR é lesar o bom
gosto”, até porque, além das atrações artísticas, se “tinha ainda
Menu extraordinário com “SCHOPP GELADINHO – Doces e
guaraná”.[15]
525
Belém é metrópole que oferece já bom número de centros
recreativos, propiciando horas alegres à sociedade. Ouve-se música
e delicia-se com o canto. Um pouco de arte enfeitando a vida, em
todos, com esse rigorismo de seleção característicos dos grandes
centros. O ‘Tropical Bar’, do ‘Hotel Garés’, enquadrou-se no grupo
das realizações que atraem o espírito aristocrático dos nossos
círculos sociais. Com uma pequena orquestra, vem prodigalisando
horas agradáveis aos seus inúmeros frequentadores, a quem Domi
Spada oferece o encanto das melodias, prestigiando pela acolhida
que o público lhe dispensa em noites de programação caprichosa.
Disseram-nos, os seus proprietários, que pretendem contratar outros
famosos artistas, proporcionando-nos audições mais amplas, a
começar de fevereiro próximo, com maravilhosas surpresas durante
o carnaval. O prelúdio dessa temporada tê-lo-emos amanhã, quando
o ‘Tropical’, em combinação com o Clube dos Aliados, fará ecoar o
seu brado carnavalesco destinado a grande e compensador
sucesso. [19]
526
Referências:
527
a multiplicidade de funções destes locais como a de servirem como
locais de encontros e divertimentos”. ALGRANTI, op. cit., p. 30.
528
PASSANDO A BOLA DO CAMPO DE
FUTEBOL PARA O CAMPO
HISTORIOGRÁFICO:
UM ENSAIO SOBRE AS CORRENTES
HISTORIOGRÁFICAS PARA PENSAR O CASO DOS
IRMÃOS REFUGIADOS NOS TIMES DA EUROCOPA 2016
LARA NOVIS LEMOS MACHADO
529
descontinuidade; da experiência de não pertencimento; o
nacionalismo, como seu contrário, sustenta-se na vivência comum e
continuidade de um povo. O nacionalismo afirma-se na identidade
de um grupo, no pertencimento ao lugar, à história, à cultura.
530
foi a partir da narrativa que o modelo biográfico se desenvolveu.
Exemplos como Heródoto e Tucídides deram ao gênero biográfico o
poder de expressarem o que era a história naquela época.
531
Desta vez os atores históricos são pensados como testemunhas de
uma época. A biografia não apresenta mais o indivíduo como herói
ou exemplo a ser seguido, mas sim como um representante de
correntes de pensamentos e movimentos próprios de seu tempo.
532
feito na escola Inglesa com os estudos culturais, percebeu na
sociologia e na antropologia um diálogo fecundo para entender o
fenômeno do estrangeiro, das trocas culturais entre o de fora e a
população local.
533
O novo contexto político que surgiu com o fim da Guerra Fria
associado às novas tecnologias da informação e à crescente
interdependência, redefiniu as relações de espaço e tempo,
ampliando simultaneamente as incertezas do mundo
contemporâneo uma vez que reforça a dependência da relação
assimétrica, que no geral, fortalece os padrões de dominação criados
por formas anteriores de dependência ao longo da história
(HALLIDAY, 1999).
534
federativa com: Sérvia e mais as províncias de Vojvodina e Kosovo,
Croácia, Montenegro, Eslovênia, Bósnia-Herzegovina e Macedônia.
535
nacionalidades diferentes. O contexto inicial de analise foi a partida
da Eurocopa de 2016 que os colocou em lados opostos do campo.
Assim como nos mostra Fausto na sua obra citada nesse ensaio, uma
investigação histórica pode nos levar a abrir um leque de várias
chaves interpretativas para problemas como refúgio, conflitos da
guerra fria, política de imigração, futebol, questões raciais,
nacionalismo.
536
A possibilidade de que o micro se conecte com o macro, permitindo
novos olhares, novas abordagens e novas possibilidades a partir de
um fazer histórico que passa a dialogar com outras áreas do
conhecimento como a sociologia, antropologia, geografia, psicologia,
resultando numa relação de influência é uma via de mão dupla.
537
nacionalismo, como seu contrário, sustenta-se na vivência comum e
continuidade de um povo. O nacionalismo afirma-se na identidade
de um grupo, no pertencimento ao lugar, à história, à cultura. E o
lugar do “outro” que adentram o “território do não-pertencer” que
aparece para além das fronteiras e se faz presente na sociedade
implicando desafios de identidade, integração e pertencimento que
é uma das problemáticas da história do século XXI.
538
psicologia, geografia e outras áreas do conhecimento permitiu
romper o que é tradicional e periférico na História.
Referências:
539
FAUSTO, Boris. O crime no restaurante chinês: carnaval, futebol e justiça
na São Paulo dos anos 30. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
248p.
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perspectiva. São Paulo: Cosac & Naify, 2013, vol. 1. Pp. 341-358
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1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995 600p.
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MOREIRA, Julia Bertino. Refugiados no Brasil: Reflexões acerca do
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Companhia das Letras, 2003.
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agosto de 2016. Disponivel em: https://elordenmundial.com/los-
refugiados-la-eurocopa/ Acesso em: 01 de fevereiro de 2019
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contemporânea”. In: NOVAIS, Fernando; SILVA, Rogério F. da
(Org.). Nova história em perspectiva. São Paulo: Cosac & Naify, 2013,
vol. 1.
540
HISTÓRIA, LITERATURA E PÓS-
COLONIALISMO: UM BREVE OLHAR
SOBRE A ESCRITA DE MIA COUTO
JEANE CARLA OLIVEIRA DE MELO
1 INTRODUÇÃO
541
O fenômeno da globalização também é analisado, no entanto, no
sentido de desvelar as contradições desse processo, sobretudo, nos
países e continentes pós-colonizados, respectivamente, a Índia e a
África. No campo da sociologia, os estudos empreendidos pelo
indiano Homi Bhabha se configuram como dois mais importantes e
na literatura, destacam-se as obras de Mia Couto, autor
moçambicano bastante prolífico, que em seus livros, tenta pensar a
complexidade da sempre problemática identidade africana pós-
colonial.
542
colonialismo, ou seja, depois dos acontecimentos históricos da
descolonização iniciados na segunda metade do século XX (...) mas
também como o ‘pós’ pós-colonialismo: uma situação que, histórica
e geo-politicamente, é já uma situação de globalização em que as
razões profundas do colonialismo, juntamente com os conflitos pós-
coloniais e a violência mundializada que transforma as minorias em
êxodos, abriram cenários novos”.
543
negociadas as experiências inter-subjetivas e coletivas de ‘pertença a
uma nação’, de interesse da comunidade ou de valor cultural”.
544
colonizado. Nesse ínterim podemos encontrar uma multiplicidade
de categorias culturais que podem ser trazidas à tona para se pensar
os arranjos políticos, econômicos, culturais e ideológicos do pós-
colonialismo.
545
partir do conjunto de sua obra, Couto lança olhares contemporâneos
sobre a África e seu país de origem, Moçambique.
546
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
BIBLIOGRAFIA
COUTO, Mia. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra. São
Paulo: Companhia das Letras, 2003
547
FERRO, Marc. A manipulação da História no ensino e nos meios de
comunicação. São Paulo: Ibrasa, 1998
548
AS ESTRUTURAS MENTAI S NA IDADE
MÉDIA: UMA ANÁLISE A PARTIR DE
‘TRISTÃO E ISOLDA’
CÉSAR AQUINO BEZERRA
INTRODUÇÃO
TRISTÃO E ISOLDA
549
do Ocidente. Segundo Calainho (2014), Carlos Magno foi coroado
pelo papa no ano 800. Desta maneira, o enredo se enquadraria em
algum momento da Alta Idade Média (séculos V a X). Usando essa
informação, podemos situar a história entre o final do século V e o
século VIII.
550
A rainha Isolda prepara uma poção do amor, para ser tomada por
Marcos e Isolda, mas a criada Brangia, na viagem para Cornualha,
entrega a poção para Tristão e Isolda, que ficam completamente
apaixonados. Mesmo casada com o rei Marcos, Isolda e Tristão
entregam-se continuamente ao amor, levantando a desconfiança e
denúncias dos barões. A história desenrola-se com as dúvidas de
Marcos e as estratégias dos amantes para escapar do rei.
551
diversas esculturas, representando suas aventuras e a figura da
loura Isolda. Tristão é ferido por uma lança envenenada, e pede que
Kaherdin busque a rainha para que o cure.
Isolda foge para salvar seu amado, mas a Isolda das mãos brancas,
que descobrira a verdade, mente para Tristão, fazendo-o acreditar
que sua amada não veio. Tristão desfalece, enquanto Isolda aporta
na cidade. Corre para Tristão, e em sofrimento, também morre.
Kaherdin embalsama os corpos e os envia para Tintagel, onde são
enterrados próximos. Como último sinal do amor que viveram, os
arbustos nos túmulos se entrelaçam fortemente, e não há nada que
os faça se separar.
AS ESTRUTURAS MENTAIS
552
Um personagem com mais destaque é o velho eremita, irmão Ogrin,
que habita na floresta. O monasticismo ganhou evidência no
Ocidente durante a Alta Idade Média, com pessoas que se afastavam
da vida comum para contemplar a Deus, primeiro, solitários, em
grutas, desertos e lugares ermos, e depois em mosteiros e conventos.
Segundo Calainho (2014), a primeira ordem monástica importante
do Ocidente surgiu no século VI, com os beneditinos. Ogrin,
todavia, recluso em sua capela, pertence a um momento de busca
individual, em que o monasticismo ainda não estava tão
desenvolvido. O ancião tenta convencer o casal de seus pecados e
chamá-los ao arrependimento. Ele lembra-os da condenação do
mundo futuro, da maldição que os persegue, do castigo que se deve
a quem trai seu senhor. Para que sua alma seja salva, Tristão devia
retornar aquela que casara de acordo com as leis da Igreja.
553
(2014, p. 113). As relíquias, que podiam ser restos mortais de santos,
dos apóstolos, da cruz de Cristo, etc., punham o fiel em contato com
Deus, para que alcançasse todo tipo de bênçãos. Tristão jura sobre as
relíquias dos santos que levará Isolda como esposa para seu rei. E
quando julgada, para provar sua inocência, Isolda precisa jurar
diante das relíquias dos santos. Ela tem medo, pois não quer atrair o
juízo divino por mentir diante dos objetos sagrados. E é só depois
do artifício, que a rainha jura diante dos corpos de santos, retirados
das igrejas que os guardavam.
554
insurgem contra o rei, ameaçando-o, o que resultava em Marcos
ceder à vontade deles. Ou seja, alguns dos nobres na corte não
demonstravam o grau de fidelidade e dependência que deveriam
marcar as relações entre suseranos e vassalos.
555
Outro usuário da magia é o anão corcunda Frocin, que usa seu
conhecimento dos astros e estratégias para provar a traição de
Tristão e Isolda. Em duas ocasiões também, Tristão usa ervas
mágicas para disfarçar seu rosto e ver Isolda.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
556
Magno, quando as relações entre o reino franco e a Igreja se
fortalecem. Essa aliança entre Estado e Igreja influenciaria ainda
mais a vida medieval no fim da Alta Idade Média e principalmente
na Baixa Idade Média, “apogeu da Cristandade Ocidental”
(CALAINHO, 2014, p. 93).
557
das Mentalidades, é possível nos aprofundarmos no conhecimento
de uma época da história humana ainda marcada por preconceitos,
mas que se torna assim mais conhecida para o homem moderno.
REFERÊNCIAS
558
EVANGELIZAR POR MEIO DA
EDUCAÇÃO: OS IRMÃOS MARISTAS
EM CANUTAMA
CÉSAR AQUINO BEZERRA
INTRODUÇÃO
559
em 1967, e exerceu atividades na região do rio Purus, Amazonas, a
partir de 1975, como educador e evangelizador, além de
memorialista do Instituto Marista e das cidades do Purus. Na
apresentação do livro, o propósito e o que a própria comunidade
Marista espera do livro são revelados: a obra beneficiaria não apenas
os Maristas, que celebravam seu Jubileu de Prata na cidade de
Canutama, mas, principalmente, aos próprios cidadãos que teriam
sua história preservada.
560
OS IRMÃOS MARISTAS
OS MARISTAS NO BRASIL
561
abriga mais de 30% da atuação mundial marista. Segundo o que
identificam como sendo seu carisma para a Igreja, os Maristas
brasileiros se propõem a levar a vida e a evangelização através “da
educação, da solidariedade e da promoção e defesa dos direitos de
crianças, adolescentes e jovens, contribuindo para uma sociedade
justa e solidária nos diversos contextos e públicos” (UMBRASIL,
2019). Estão presentes em 98 cidades brasileiras, com 3 mil Irmãos,
mais de 27 mil colaboradores, e atendendo mais de 650 mil pessoas.
Em 2005, foi criada a União Marista do Brasil (UMBRASIL), com
sede em Brasília/DF, associação das unidades administrativas
brasileiras, denominadas Províncias Maristas: Centro-Norte, Sul-
Amazônia (Rede Marista) e Centro-Sul (Grupo Marista).
562
Canutama é um município da mesorregião Sul Amazonense, da
microrregião Purus, distante 615 km da capital amazonense. A
população em 2014 era de 14.944 habitantes, em uma área de
29.819,70 km². Seu fundador é Manoel Urbano da Encarnação, que
iniciou o povoado conhecido como Nova Colônia de Bela Vista. Em
26 de maio de 1879, o presidente da província do Amazonas criou a
freguesia de Nossa Senhora de Nazaré. Em 10 de outubro de 1891, o
governador do estado eleva a freguesia à vila, sendo instalada em 10
de setembro de 1892 (FERRARINI, 1980).
563
seguinte a Prelazia de Lábrea entregou-lhes oficialmente o encargo
pela Escola Eduardo Ribeiro, sendo o convênio assinado em 4 de
fevereiro de 1974 (FERRARINI, 2000, p. 7-8).
564
paraense... percebe-se a ignorância total sobre Santo Antônio e
outros personagens” (idem, p. 42).
565
um pobre, e compram motor de rabeta para dois indivíduos com
hanseníase (p. 50, 51).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
566
A identidade católica é indissociável das ações do Instituto, o que se
expressa na avalição positiva da Igreja Católica sobre a atuação
Marista dentro da esfera educacional. Dentro das comemorações do
bicentenário, durante um encontro do Superior Geral, Irmão Emili
Turú, e seu líder máximo, o Papa Francisco, em 10 de abril de 2017,
o pontífice os instou “a continuar promovendo a vocação laical”, e
também valorizou a “extraordinária importância da educação das
crianças e jovens e insistiu no fato que a escola continua sendo um
lugar privilegiado para essa educação” (IRMÃOS MARISTAS, 2017).
O reconhecimento da importância do Instituto e do seu trabalho foi
igualmente dado no Amazonas. Em 2016, os irmãos Sebastião
Ferrarini e Demétrio Herman receberam o Título de Cidadão do
Amazonas, da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas, pelo
trabalho educacional realizado no estado. Herman trabalhou como
diretor da Escola Estadual Eduardo Ribeiro, a partir de 1994
(FERRARINI, 2000), sendo o último dos Maristas a atuar nessa
função, até os primeiros anos do século XXI.
567
(ALBERTI, 2014, p. 155). Entrevistar e gravar Irmãos Maristas,
professores e funcionários da Escola Eduardo Ribeiro, e outros
indivíduos, que tenham participado ou testemunhado
“acontecimentos e conjunturas do passado e do presente” (idem),
permitiria revelar essas experiências, dentro de suas perspectivas,
bem como as relações e tensões entre a comunidade dos religiosos e
a comunidade ao seu redor. O presente trabalho, por suas
militações, deseja inspirar pesquisas que alcancem essa atuação
Marista em Canutama.
REFERÊNCIAS
568
FERRARINI, Sebastião Antônio. Canutama – conquista e
povoamento do Purus. Manaus: Edições Governo do Estado do
Amazonas, 1980.
569
CONSIDERAÇÕES SOBRE UM
DIÁLOGO ESSENCIAL: OS MANUAIS
ESCOLARES COMO VESTÍ GIOS À
HISTÓRIA DAS DISCIPLINAS
ESCOLARES
FELIPE AUGUSTO DOS SANTOS VAZ
570
Com efeito, quando analisada detalhadamente, a explícita diferença
entre estas perspectivas desvela, em certa medida, a complexidade
que marca os argumentos que cada qual produz. Atentando-se à
primeira dessas vertentes, para Chevallard a transposição era
compreendida como a transformação do conhecimento erudito em
conhecimento escolar – processo que se desencadearia em diferentes
níveis e instâncias. Nesse sentido, o saber que compõe a disciplina
seria visto como algo elaborado no âmbito externo à escola, cabendo
ao professor a necessidade de melhor adaptá-lo, tornando-o mais
assimilável aos alunos.
571
assim, se encontrarem submetidas às disputas estabelecidas no
âmbito do social.
572
qual a escola desempenha o papel de fornecedora de conteúdos de
instrução (...)” (BITTENCOURT, 2008, p. 42)
573
concomitante "(...) com um tipo determinado de compreensão da
disciplina escolar: tem certas características se a disciplina escolar é
entendida apenas como transmissora de conteúdos, e outras se a
disciplina escolar é concebida como produtora de conhecimento"
(Ibid, p. 44).
574
investigação, intitulado por Alain Choppin, como a história dos
livros e das edições didáticas.
Contudo, torna-se válido lembrar que esta perenidade não deve ser
compreendida, única e exclusivamente, como resultante da
capacidade que os manuais didáticos apresentam na transmissão
dos conteúdos disciplinares - afinal, a própria disciplina concebe
certos mecanismos que auxiliam ao processo de sua preservação.
Promovendo a criação de determinados modelos, cujas bases
servirão de molde à produção das obras didáticas, tem-se que tal
circunstância apresenta aquilo que Chervel (1990) intitulara como
“fenômeno de vulgata”, o qual os
575
“(...)manuais ou quase todos dizem então a mesma coisa, ou quase
isso. Os conceitos ensinados, a terminologia adotada, a coleção de
rubricas e capítulos, a organização do corpus de conhecimentos,
mesmo os exemplos utilizados ou os tipos de exercícios praticados
são idênticos, com variações aproximadas” (CHERVEL, 1990, p.
203).
Referências bibliográficas
Mestrando em História pela Escola de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade Federal de São Paulo (EFLCH - Unifesp).
576
CHERVEL, André. História das disciplinas escolares: reflexões sobre
um campo de pesquisa. Teoria & Educação, n. 2, pp. 177-229, 1990.
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2013.
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http://www.scielo.br/pdf/ep/v31n3/a05v31n3.pdf. Acesso: 16 jan.
2019.
577
MEMÓRIAS DO TRABALHO COM A
JUTA DA COMUNIDADE SÃO
SEBASTIÃO DA BRASÍLI A,
PARINTINS-AM (1950-1980)
EVERTON DORZANE VIEIRA
INTRODUÇÃO
578
companheira, Dona Cecília Soares Ribeiro Franco, também irmã do
Pampam.
579
Oyama em 1934, essa modalidade agrícola não parou mais de
crescer e alcançar novas áreas” (p.145). O autor ainda afirma que
“de Parintins, ela se espalhou por quase todo o Amazonas, Pará, e
em algumas localidades dos estados do Amapá e Espírito Santo” (p.
145). Mas no estado do Amazonas, a juta e posteriormente a malva
foram por um longo período a “atividade responsável por
expressivo percentual na formação da renda do estado”. (p.145).
580
Após a retirada dos japoneses, o negócio com a juta ficou nas mãos
de empresários brasileiros, que no caso do Amazonas, utilizaram
bastante à mão de obra ribeirinha por conta das áreas de várzeas na
qual se localizam as comunidades (FERREIRA, 2016). E uma dessas
comunidades que participou deste ramo de trabalho foi comunidade
de São Sebastião da Brasília, na qual escolhemos o recorte temporal
de 1950 a 1980 no período em que a juta se integrava
gradativamente a comunidade.
581
No período de 1950 a 1980, a juta foi um gênero agrícola de grande
relevância econômica e social, influenciando o modo de vida das
populações ocupantes das várzeas do Rio Amazonas (SOUZA,
2008). Rendendo economia ao município de Parintins, empregando
homens e mulheres que trabalharam nas chamadas “prensas”,
antigos armazéns, onde principalmente mulheres atuavam no
trabalho de prensar a fibra para exportação (SAUNIER, 2003).
582
Nesta seção abordamos a importância da história oral e memória
para este tipo de produção. Sendo a história oral a metodologia
principal deste trabalho, utilizamos alguns autores que abranjam
deste conhecimento científico para este tipo de pesquisa.
583
No que consiste Ferreira (2012), sobre história oral como
metodologia, Alberti (2011), afirma que “a história oral é uma
metodologia de pesquisa e de constituição de fontes para o estudo
da história contemporânea surgida em meados do século XX, após a
invenção do gravador a fita” (p. 155).
584
narrado, principalmente quando não há registros literários de quem
está narrando (BOURDIEU, 1996).
585
continuou: “e o senhor contava, dezembro, janeiro, em fevereiro o
senhor cortava por causa da água que vinha”.
586
O último processo era considerado a parte principal para estes
trabalhadores, pois era o momento da entrega conforme o
combinado, ou seja, seguir com os acordos. Primeiramente a
produção era transportada de canoa para ser entregue ao “patrão”
(FERREIRA, 2016).
587
A narrativa de Careca sobre seu início na juta deu-se pelo fim do
trabalho com o cacau, “quando eu tinha 10 anos, minha mãe me
colocou pra juntar cacau”. E nos afirmou que logo após o trabalho
com o cacau, foi para o ramo da juta, “quando eu tinha 18 anos, aí
eu fui trabalhar na juta já, entrei na juta com meu pai”.
Dona Cecília relatou que trabalhou na juta com Careca, mas afirmou
que quase não trabalhava com seus pais, passou a trabalhar mais
quando passou a conviver com Careca, “eu não trabalhei muito com
meus pais, mas o Pampam, eu ajudei mais o Careca quando a gente
começou a viver junto, a gente precisava né”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
588
No decorrer de 1950 a 1980, para estes moradores da comunidade
São Sebastião da Brasília, a juta foi um marco na história na vida
desses casais, utilizando-a dela para o sustento de suas famílias.
Com origem na Índia, a juta foi sendo semeada por muitos lugares
do planeta, mas apenas alguns países aclimataram a semente. E a
região amazônica foi melhor terra para esta semente, fazendo fibras
longas, melhorando o processo do trabalho para os cultivadores.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
589
CERQUA, Arcângelo. Clarão de fé no médio Amazonas. Manaus:
Imprensa Oficial, 1980.
590
MOTTA, Márcia Maria Menendes. História, memória e tempo
presente. In: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo
(orgs.). Novos domínios da história. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
pp. 21-36.
591
HISTÓRIA DE VIDA: IDENTIDADE,
CULTURA E RELIGIOSID ADE
VANIA MARIA CARVALHO DE SOUSA
592
Neste particular, levantarei dados importantes sobre a identidade
religiosa de mãe Beth Pantoja, como ela começou sua trajetória no
candomblé angola e como ela é vista pela comunidade local.
593
Neste particular, levantarei dados importantes sobre a identidade
cultural-religiosa de mãe Beth Pantoja, elencando aspectos ligados a
seu processo iniciático na religião e sua trajetória de vida. Os
elementos ora apresentados inicialmente começam a partir de sua
história que está ligada a outras matrizes religiosas, como por
exemplo a umbanda. Essa experiência de trânsito religioso é muito
perceptível em outros religiosos que são iniciados no candomblé.
594
Cordovil (2014: p.34) como trânsito religioso. A este fenômeno
religioso, a autora assegura que isso acontece pela busca de
legitimação e pela melhor profissão de fé.
595
como mestra de cultura na culinária afro-amazônica, pois é ela
mesma que prepara as comidas para os nkisis.
596
conhecimentos para os que a procuram e pelas feituras de santo que
são realizadas em sua casa. A acessibilidade em seu terreiro, marca
de forma positivamente a figura de pesquisadores que a procuram e
pela realização de rodas de conversas sobre a religião e a cultura
afro em seu terreiro.
597
A experiência religiosa na vida de mãe Beth é algo fundante, porém,
é necessário observar o trânsito desses afrorreligiosos que costumam
passar por muitas matrizes africana, como a umbanda, pajelança,
tambor de mina, antes de se auto afirmarem em sua própria religião.
Foi o que aconteceu com Beth Pantoja, que antes de ser
candomblecista passou por alguns terreiros de umbanda. Pois
segundo ela, sempre acompanhava sua mãe para fazer tratamento
espiritual. Além do terreiro de D. Anésia, Mãe Beth também foi na
casa do pai Orlando Bassú, situada no bairro do Guamá, já que os
males ainda eram frequentes em sua vida.
598
A sacerdotisa Beth Pantoja mesmo transitando em outros espaços
religiosos, como a umbanda, decide submeter sua feitura de santo,
juntamente com uma irmã de santo, Kuoboasi de Katendê, seu nome
civil é Cátia Simone de Sousa Pereira. Porém, ao relatar sua decisão
ao marido, não houve a aceitação por parte dele. Mesmo contra a
sua vontade, mãe Beth toma a firme decisão de iniciar no
candomblé, pois segundo ela, sua vida estava toda errada, bem
como seu casamento também, por isso, decidiu “fazer o santo”. A
partir daí a angoleira em um diálogo com seu pai de santo relata o
que pensa seu esposo em relação a sua tomada de decisão, que a
aconselha a dar início a sua iniciação, uma vez que ela não tem nada
a perder, pois se ele sair de sua vida o santo lhe dará uma pessoa
melhor.
Sua iniciação foi muito difícil, segundo ela, existe uma tradição nos
terreiros de candomblé, que não se faz nada para o nkisi ou orixá no
dia de sexta-feira, pois neste dia faz-se homenagem a oxalá, e em
respeito não se pratica nenhum ritual neste dia. Mas, segundo mãe
Beth sua casa não é orixá e sim nkisi por ser da nação angola.
Entretanto, é interessante perceber que, seu pai de santo mesmo
sendo angoleiro, cultuava elementos identitários da nação ketu,
mesmo tendo suas características e especificidades próprias. Todo
processo de iniciação requer cuidados específicos, na qual os
momentos ristualísticos fazem parte desse processo. A sacerdotisa
após adentrar no terreiro de seu pai de santo Valter Torodê, passou
21 dias de recolhimento, juntamente com sua irmã de santo que
também fez sua iniciação no angola.
599
Numa sexta-feira da paixão ela foi conduzida a “maionga”, que para
os angoleiros é o lugar onde se prepara para essa nova etapa de
vida. Lá se toma o banho, faz os descarrego, a fim de ser enviada
para o quarto do santo, que é um dos momentos mais importante na
vida do filho de santo.
600
discurso, nossos informantes apresentam as formas ritualísticas
como algo original que se diferenciam de outras religiões,
sobretudo, o candomblé angola, bem como a originalidade em sua
identidade religiosa.
Referências:
601
A IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO
E CONSERVAÇÃO DE FONTES DE
PESQUISA
ESTHER SALZMAN CASTELLANO
602
Conservação de Fontes pelo Estado e a importância da memória
coletiva
603
museológica nacional” (Disponível em<
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/quem-somos/missao/>.
Acesso em: 13/02/2019). A Direção-Geral, além dos institutos, é
composta por vinte e cinco bibliotecas e inúmeros centros de
documentação. Os centros de documentação, em sua grande maioria
possuem o acesso público, ou seja, a informação conferida é
acessível a todos que desejarem realizar pesquisas. Para o acesso as
informações dos centros de documentação o governo português
compôs uma sólida base de dados informatizada e que conta com
seis sistemas, sendo esses: MatrizNet; MatrizPCI; MatrizPix;
Ulysses; Endovélico e SIPA. Cada uma dessas bases tem uma função
de consulta mais específica, podendo o pesquisador acessar fontes
das mais variadas naturezas, quer seja iconográfica, arqueológica,
imaterial e/ou arquitetônica.
604
protegidas pelo governo espanhol que também busca garantir seu
cuidado e conservação (CASTELLANO, 2018).
605
exército de rebeldes contra a República Romana. Uma ressalva sobre
a série Spartacus foi a decisão da produção em exibir cenas de nudez
sem censuras, cenas de sexo e a orientação sexual romana, temática
encontrada no mundo acadêmico com frequência.
606
cultura humana. Atualmente no Brasil a preservação de arquivos é
condicionada pela Lei 12.682 de 09 de julho de 2012 e ainda por
algumas legislações: Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, Lei
nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999, Lei nº 8.394, 30 de dezembro de
1991, Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991 , por exemplo.
607
nacional em prol da preservação de nossa história. Lembremos uma
vez mas do triste incidente envolvendo o Museu Nacional em que
nem toda a sociedade brasileira demonstrou preocupação,
indignação ou qualquer outra forma de comoção em relação ao que
aconteceu.
608
Referências Bibliográficas
Esther Salzman Castellano é aluna da Pós-Graduação em História
onde cursa Mestrado.
609
ARQUIVO E HISTÓRIA: A
IMPORTÂNCIA DOS DOCU MENTOS
ARQUIVÍSTICOS PARA O ESTUDO DA
OCUPAÇÃO E POVOAMENT O DA
BAIXADA MARANHENSE- SÉCULO
XVIII
ALESSANDRA CRISTINA COSTA
MONTEIRO
610
Philippe Ariès (1998, p. 175-169) destaca que “talvez os homens de
hoje sintam a necessidade de trazer para a superfície da consciência
os sentimentos de outrora, enterrados numa memória profunda”.
Segundo Ariès, o historiador relê hoje os documentos utilizados por
seus predecessores, porém com um novo olhar e outro gabarito. Ele
busca as chaves das estratégias comunitárias, dos sistemas de valor,
das organizações coletivas, ou seja, de todas as condutas que
constituem uma cultura rural ou urbana, popular ou elitista.
611
fúnebres, notariar atas, porque essas operações não são naturais
(NORA, 1993, p. 13)”.
612
isto, tanto uma quanto a outra se organizam em função de
problemáticas impostas por uma situação. Isso significa que elas são
conformadas por premissas, ou seja, por "modelos" de interpretação
ligados a uma situação do presente.
613
Durante todo o período colonial foi aplicado no Brasil o sistema das
sesmarias, porções de terras doadas a particulares para o cultivo e
aproveitamento, pelos capitães donatários ou governadores. Ou
ainda, “as sesmarias eram terrenos incultos e abandonados
entregues pela Monarquia portuguesa, desde o século XII, às
pessoas que se comprometiam a colonizá-los dentro de um prazo
previamente estabelecido” (DINIZ, 2005, p. 02).
614
2.1 Ocupação, Povoamento e Cultivo no Rio Pericumã: um estudo
arquivístico.
615
para apascentar tivesse terras próprias nem tão pouco para as suas
Lavouras” (AHU, MA, cx. 43, doc. 4215), usaria as áreas recebidas
para o dito fim. Em outros casos como o de Antônio Francisco de Sá,
apontam somente para a necessidade da lavoura, tendo como
objetivo “cultivar todas e quaisquer gênero do Paiz, também para
suas plantações e de seus escravos” (AHU, MA, cx. 93, doc. 7641).
616
contemplado deveria deixar o acesso livre às fontes, pontes e
pedreiras, etc., também ficaram demarcados em todas as solicitações
para a região.
617
concessões foram dadas, totalizando 62,5% das terras distribuídas,
num período de oito anos.
618
as práticas econômicas desenvolvidas. A terra escolhida deveria
facilitar, entre outras coisas, a criação das pastagens, tendo em vista
que o gado era de extrema importância para auxiliar no trabalho do
engenho, alimentar a população, além de permitir o mercado do
couro.
619
sobreditas terras Estradas públicas que atravesse Rio Caudaloso que
necessite de barca para a Sua passagem” (AHU, MA, cx. 71, doc.
6172).
3. CONCLUSÕES
620
incentivam a produção agrícola, algumas vezes concedendo
privilégios aos produtores, como a isenção de impostos.
621
XVIII. Portanto, a memória da sociedade, registrada nos
documentos arquivísticos formam um patrimônio documental.
Diante disso, é perceptível a necessidade da preservação da
documentação armazenada nos arquivos.
REFERÊNCIAS
AHU, Maranhão, caixa 92, doc. 7616. AHU, Maranhão, caixa, 93,
doc. 7641.
2) Bibliografia
622
ARIÈS, Philippe. A história das mentalidades. In: Le Goff, Jacques
(ORG.) A história nova. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
623
DINIZ, Mônica. Sesmarias e posse de terras: política fundiária para
assegurar a colonização brasileira, p. 02. Revista Histórica, São Paulo,
02
jun.2005.Disponívelem:<http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.
br/materias/anteriores/edicao0 2/materia03/>. Acesso em: 20 set.
2018.
624
MELO, Vanice Siqueira de. “Paisagens, territórios e guerras na
Amazônia colonial”. In: Territórios e Fronteiras, vol. 3, nº2, 2010.
625
ESTUDOS JUDAICOS COMO ESTUDO S
CULTURAIS: UMA REFLEXÃO SOBRE
OS SEPHARDIC STUDIES
LUCAS DE MATTOS MOURA FERNANDES
Os Sephardic Studies são uma vertente laica dos estudos judaicos que
buscam evidenciar o estudo das identidades periféricas que
compõem a população judaica, de modo a, inclusive, mobilizar a
defesa de um estado multicultural como modelo para uma pátria
com judeus.
626
de prosperidade ímpar, se tornando referencial cultural para outras
comunidades judaicas de todo o mundo.
627
para legitimar o ataque contra o patrimônio de judeus enriquecidos
não deixava nenhum destes isento.
628
português, casamentos mistos em alguns lugares foram proibidos e
até mesmos criaram-se mais subclassificações distinguindo uns de
outros. No Marrocos se separavam em toshavim e megorashim, na
Tunísia, granas e touansas (BORGER,2002,P.143).
629
partir de uma visão evolutiva da história, o desenrolar do século XX
e a ascensão do “império americano”, além dos processos
decoloniais, trouxeram à universidade americana a necessidade de
especialistas que se voltassem para o conhecimento do mundo além
da visão eurocêntrica, mobilizando metodologias interdisciplinares -
aspecto fundamental dos Estudos de Área.
630
identidades periféricas, fazendo releituras dos processos de
(re)construção de identidade nos países recém desocupados pelas
tropas coloniais, e nos grupos originados dos mais diversos fluxos
migratórios, oriundos do terceiro mundo em direção às metrópoles.
631
messiânico, não apenas manteve unificada uma fé comum entre os
mais diversos setores do povo judeu, mas também correlacionava
sua identidade a um espaço territorial entendido como ponto de
partida e de chegada de todos os que com partilhavam desta fé
(BRENNER,2013, P.XXXI). Contudo essa noção de identidade única
do povo judeu tem sido analisada como uma construção de mito
fundador do Estado Israelense, que motivada por fins políticos
propaga uma homogeneidade questionável.
632
Com a ascensão da questão palestina e os conflitos àrabe-israelenses
como tema de interesse estratégico, não apenas para compreender a
formação política do Estado de Israel, mas também para o estudo da
formação da identidade judaica do mundo contemporâneo, as
universidades, especialmente americanas, seccionaram os estudos
judaicos para apreciação específica da história e produção cultural
dos judeus não ocidentais, a saber os sefaradim do mundo islâmico
e os mizrahim (literalmente orientais, judeus de cultura árabe)
(GERBER, 1995)
A grande quantidade de correlações entre questões levantadas nas
principais áreas de estudos de periferia das universidades ocidentais
e as questões propostas sobre a trajetória dos sefaradim ao longo a
história judaica deu margem a uma apropriação de conceitos que
enriqueceram o campo dos Sephardic Studies com o vocabulário-
conceitual analítico que os estudos culturais mobilizam no
desenvolvimento de suas pesquisas.
633
Consideramos que a partir desta intensa dinâmica em que se
formam e se modificam as identidades étnicas e nacionais devemos
nos manter sempre atentos contra a ilusão de uma identidade
homogênea que a partir de seu rótulo externo representa
plenamente as mais diversas dimensões individuais de seus
membros. É fundamental, portanto, a noção de que as diásporas
múltiplas vivenciadas por várias gerações de judeus de origem
ibérica teria deixado a marca em sua cultura e por conseguinte na
formação da identidade sefaradim, objeto principal de estudo
dos Sephardic Studies (WAKS,2015,P.20).
634
Nos Sephardic Studies busca-se compreender as especificidades da
cultura sefaradim como referência para o estudo de outras culturas
de formação periférica, que tem passado pelas múltiplas
experiências diaspóricas.
Referências
635
CHIRIGUINI, M.C. Identidades socialmente construidas. in:
CHIRIGUINI, M.C. (compil.): Apertura a la Antropología: alteridad,
cultura, naturaleza humana. Buenos Aires:Proyecto editorial, 2008
GERBER, Jane (org.).Sephardic Studies in the
University. Cranbury:Associated University Presses,1995.
MALDONADO-TORRES,Nelson. Pensamento crítico desde a
subalteridade: os estudos étnicos como ciências descoloniais ou para
a transformação das humanidades e das Ciências Sociais no século
XXI. Afro-Ásia,2006,n.34
RIVET, Daniel.Histoire du Maroc de Moulay Idrís a Mohamed VI. Paris:
Fayard, 2012
SAND, Shlomo. A invenção do povo judeu.São Paulo: Benvirá,2011
SCHAMA, Simon. A História dos Judeus. À procura das palavras.
1000 a.C.-1492 d.C. São Paulo : Editora Schwarcz, 2013.
SIESS,Joseph. Exile from Exile The Moroccan Jewish Cultural Exile and
Experience Under French Colonial Rule -1912-1960’s. in Journal of
Undergraduate Research, Fall 2012-Spring 2013.
SPIVAK, Gayatri C. Pode o subalterno falar?Belo Horizonte :Editora
UFMG,2010
WACKS, David. Double Diaspora in Sephardic Literature.
Bloomington: Indiana University Press, 2015.
636
ELEAZAR VERSUS CASEZ : UM
ESTUDO DE CASO SOBRE A
CONSULARIZAÇÃO DO COTIDIANO
NA COMUNIDADE JUDAIC A -
BRASILEIRA NO MARROCOS
CONTEMPORÂNEO
LUCAS DE MATTOS MOURA FERNANDES
637
invocadas em favor de judeus marroquinos com naturalidade
estrangeira, em especial brasileira.
638
características desta comunidade brasileira, que devem ser
ressaltadas para os fins histórico-sociológicos de nossa pesquisa.
639
Assim a documentação que trabalhamos ao longo desta pesquisa
relata uma série de situações particulares nas quais o governo
brasileiro, e de outras nações, tendo seus cidadãos envolvidos,
reclama apoio institucional para dirimir causas jurídicas.
A consularização do cotidiano
640
A rua que Eleazar escolhera para adquirir seu imóvel era muito
movimentada e como era costume em endereços deste tipo, havia
diante das portas das casas a presença de tendas comerciais, nas
quais comerciantes itinerantes marroquinos, tanto judeus como
muçulmanos, residiam provisoriamente enquanto ofereciam suas
mercadorias (265-1-11). Ao perceber que o investimento de
Abraham Eleazar logo se tornaria uma loja concorrente, um desses
comerciantes alojados em tendas, de nome Mordokay Casez, judeu
protegido da Itália, foi até o local da obra e advertindo aos
pedreiros que naquele local, em frente a sua tenda, não poderia ser
aberto uma porta, os persuadiu a parar o trabalho.
641
A cobrança de resultados melhores no caso por parte de Quintino,
enfurecera o então Cônsul geral J.D. Colaço, em Tânger, que em
resposta ao ministro afirmou que o Sr. Eleazar foi “tão torpe como
parte interessada” que nem sequer lhe ocorreu ir até o Consulado
brasileiro e explicar a situação, sendo inclusive claro o fato de que
estas portas estavam abertas para uma rua pública e que o caso não
devia chegar a tal ponto. Como demonstração de seu empenho,
mesmo após a emissão da sentença, Colaço investigou outras opções
possíveis e descobriu a propriedade de um outro protegido italiano
que tinha as janelas abertas para dentro do terreno do sítio de um
muçulmano marroquino e recorrendo ao ministro Mohammed
Torres, para que se cumprisse a medida judicial para os dois casos,
ou para nenhum ( AHI 265-1-11).
642
ordem e das instituições do Estado. Entretanto, aos olhos do
Itamaraty e de outras instituições que lidavam com esses
protegidos, o resultado foi a sobrecarga do sistema consular.
643
quando os soldados do bachá, governador local, foram procurá-lo,”
tiveram de aguardar na rua a ordem do Cônsul inglês para que este
fosse preso (AHI 265-1-10).
Conclusão
REFERÊNCIAS
644
Documento AHI 265-1-10
Documento AHI 265-1-11
KENBIB, Mohammed. Juifs et Musulmans au Maroc. Paris:
Editions Tallandier, 2016.
645
A CONSTRUÇÃO DE ESPAÇOS
SAGRADOS EM IRATI -PR
WILLIAM FRANCO GONÇALVES
Introdução
646
do indivíduo e de situações singulares ganhou maior importância.
No artigo, Fontes Orais: testemunhos, trajetórias de vida e
História (2005), Antonio Cesar de Almeida Santos argumenta que.
647
Para o entendimento do espaço sagrado, embasamos nosso estudo a
partir das considerações trazidas por Mircea Eliade na obra O
sagrado e o profano, publicada em 1992. Eliade define o espaço
sagrado como sendo aquele que se opõem ao profano. E este
processo de “sacralização” acontece quando há manifestação da
hierofania. Hierofanias são objetos do nosso mundo, como uma
árvore ou uma pedra, mas que não constituem apenas como algo
material. Para algumas pessoas, esses objetos tem um tipo de
significado que os torna mais do que isso, que os transforma em
algo sagrado. Eliade explica:
648
uma senhora de oitenta e dois anos e que benze desde seus vinte e
cinco anos. Ela explicou que aprendeu com outra benzedeira e diz
que “benzer é fazer o bem para o povo”.
649
observar uma coleção de santos. Podemos ver, através da imagem
acima, várias imagens de Nossa Senhora na geladeira e imagens do
Espírito Santo, que é representado por uma pomba. A casa desta
benzedeira está cheia de imagens e objetos que são considerados
sagrados por Dona Zonaide. Quando tivemos o primeiro contato
com ela, pensamos que o benzimento acontecia na sala, pois
estávamos cercados por todos aqueles objetos e santos. Todavia,
durante a entrevista ela comentou que, na verdade, os benzimentos
eram feitos em outra peça da casa, em um quarto.
650
local onde “se manipula força negativa do mundo presente no
cliente” (AZEVEDO; AZEVEDO, 2014, p.62).
651
Nadir, para que a cura aconteça, ele precisa se concentrar, fazer seus
pedidos e ele considera que as imagens das santas é que lhe dão
força.
Nesse sentido,
652
“O espaço sagrado tem assumido seu caráter sagrado por vezes em
determinados instantes, sendo que logo após pode estar servindo a
fins distintos, denomináveis profanos. Há espaços que possibilitam
multiusos sem que haja necessidade de consagração ou
desconsagração a cada uso (BURMANN, 2009, p. 63)”.
“Porque tem pessoas que às vezes, tem mal fluído e dentro de casa
ai fica na casa. E aqui já está preparado, com proteção do Divino
Espírito Santo para não acontecer nada. Porque eu vou fazer as
coisas em casa, fica as vezes, uma pessoa que chega aqui mal-
intencionados, porque vem. Você não pense que não vem, porque
tem gente que vem aqui para explora, vem gente com segundas
intenções e isso não presta dentro de casa. Mistura com a família e
isso não pode, tem que ter o lugar certo (Entrevista de Leoni Ferreira
Gasparetto a William Franco Gonçalves, Irati, 28/03/2014)”.
653
modalidades de ser no mundo”, e em relação às benzedeiras, os
autores argumentam que a perspectiva do “sagrado” estaria
relacionada com a “saúde, felicidade, bem-estar, alegria, realização”.
Já o “profano” teria ligação com as palavras “doença, sofrimento,
dor, traição, reprovação e acidente” (AZEVEDO; AZEVEDO, 2014,
p. 61). Assim, podemos entender a preocupação da benzedeira
Leoni com os “maus fluidos”, podendo estes conectar-se com o
significado de profano. Para ela, ter um local separado, e
principalmente, um “local já preparado e com a proteção do Divino
Espírito Santo”, é fundamental para defender sua família desses
“maus fluidos”. Pois neste local, Dona Leoni poderá “manipular o
profano, a força negativa do mundo presente do
cliente” (AZEVEDO; AZEVEDO, 2014, p. 62) sem se preocupar que
estas forças fiquem dentro da sua casa e a prejudique mais tarde.
654
Foto do altar da Benzedeira Leoni Ferreira Gasparetto, foto tirada
por William Franco Gonçalves no dia 28/03/2014.
“Nossa Senhora Aparecida, para quê mais poderosa do que ela, para
quê mais poderosa que Nossa Senhora Aparecida, que é minha mãe
(Entrevista de Leoni Ferreira Gasparettoa William Franco
Gonçalves, Irati, 28/03/2014)”.
655
Em outro momento da entrevista, no qual ela contava sobre um
quadro que ganhou de um chileno, que foi atendido por Dona
Leoni, perguntamos se ela colocaria aquele objeto ali na parede e ela
respondeu: “não, vou deixar no quarto, que aquele é meu”.
Conclusão
Referências:
656
AZEVEDO, Gilson Xavier de; AZEVEDO, Janice Fernandes.
Benzedeiras em Mircea Eliade, uma aproximação
possível. Protestantismo em Revista, v. 35, p. 54-64, 2014.
657
DOS QUE VISITAM AOS QUE
HABITAM: A REPRESENT AÇÃO DOS
URUBUS NA AMAZÔNIA DO SÉCULO
XIX
TALITA ALMEIDA DO ROSÁRIO
WENDELL P. MACHADO CORDOVIL
658
cotidiano urbano, mas também para além dele; observaram em seu
modo de viver nas áreas de florestas e de campos amazônicos, nos
quais estabeleceu relações com os humanos que neles moravam. Um
desses viajantes foi Wallace Russel que na manhã de 26 de Maio de
1848 chegou à Baia do Guajará e de lá relatou a sua vista da cidade
de Belém. Wallace (2004, p.36) a descreveu circundada por uma
“densa floresta”, o que segundo ele proporcionava aos olhares um
“espetáculo duplamente belo” com sua paisagem repleta de espécies
de vegetações tropicais; entre as quais se destacavam a bananeira e a
palmeira.
659
Estrada do Arsenal da Marinha. Joseph Léon Righini, 1967.
Disponível em: http://www.ufpa.br/cma/imagenscma.html
660
quando estavam ao seu alcance (ibid. p. 141). As sobras de animais
mortos deixadas pelos humanos na mata davam possibilidades do
urubu garantir alimento, uma vez que a caça era uma restrição em
seu hábito por causa da sua fisiologia, pois segundo o biólogo Menq
(2016) os urubus não eram caçadores por não possuir garras
adaptadas para capturar e matar presas como os gaviões. Por outro
lado assumia na floresta a função mais notavelmente de decompor
as sobras de animais mortos de forma mais acelerada,
principalmente aqui resultados da ação humana, fazendo por não
ficarem expostos por muito tempo.
661
CHAMPNEY, James Wells. City Scavengens. [S.l.: s.n.], 1860. 1 desenho,
bico de pena e aguada, pb.
Disponível em:
http://acervo.bndigital.bn.br/sophia/index.asp?codigo_sophia=22006. Acesso
em: 30 jun. 2019.
662
E por esse motivo, diz ele, escolhiam posições mais elevadas para
enxergar o alimento.
663
Urubus na Amazônia: de fiscais sanitários do século XIX a
opositores da criação bovina no século XX
Mesmo sendo tão visível nos dias de hoje ganha pouco destaque nos
trabalhos historiográficos, mas ao olhar do pesquisador mais atento
esse personagem se faz presente na história do Brasil desde o
período colonial.
664
estéticas que Freyre encontra na figura do urubu é a de propagar o
dendezeiro. Ainda hoje o urubu é tido como o maior agente de
distribuição das sementes dessa árvore, pois após o consumo do
coco o animal as defeca por toda a região (BIONDI et al, 2008, p. 19).
665
“O descanço e liberdade de que os urubús aqui gozão no Pará são
devidos a uma postura da Câmara Municipal, em que se impõe a
multa de 10$000 réis a quem matar estes prestantes cidadãos, visto
serem os únicos zeladores da Câmara, e terem a seu cargo a limpeza
das ruas e praias, cargo que desempenhão escrupulosamente! O que
é o progresso!... Quando pensarião nossos avós que até os urubús
havião de vir a ser empregados municipaes!...” (p. 130).
666
Nessa nota intitulada “É muito zelosa a Câmara Municipal dessa
cidade” fica clara a importância dos urubus para o consumo dos
animais mortos pelas ruas da cidade, mas também é evidente que a
figura do animal é usada para criticar a gestão do município. Em
quanto os fiscais não executam seu trabalho de limpeza o urubu age
e aparece quase como um empregado municipal.
667
Em quanto no Código de Posturas do Rio de Janeiro e de Minas
Gerais o artigo que proibia a população de matar urubus aparecia
em uma seção de “higyene”, em localidades como Manaus e Villa da
Bôa-Vista do Rio Branco o artigo aparece em seção intitulada “Dos
animaes”. No Capítulo IX do Código Municipal de Manaus (Lei Nº.
23 de 06 de maio de 1893) encontra-se: “Art. 143. É prohibido matar
urubús. O infractor incorrerá na multa de 5$000 réis ou um dia de
prisão”. Já na Intendência de Silves, no Amazonas, a Lei Nº 2 de 20
de janeiro de 1896 define em seu artigo 52, no Capítulo VI intitulado
“Utilidade comum”, que a pena para quem matar urubus é de 5$000
réis ou dois dias de prisão.
Como o leitor pôde perceber, esse status era assegurado não apenas
nos jornais, que em alguns momentos publicavam até poemas de
leitores onde o eu lírico dizia que apenas Deus e o urubu o
salvariam do descaso da municipalidade com a higiene das ruas
(CORDOVIL, 2018), mas também em leis de diversas províncias
brasileiras. Porém, a partir das fontes é possível perceber que a
situação muda no início do século XX.
668
“Não pode haver dúvida que a importação d’esta molestia perigosa
deva ser attribuida aos urubús que costumam infestar o Jardim
zoologico durante as horas quentes do dia, mostrando uma
predileção marcada para o cercado das antas. Para livrar-nos d’estas
visitas importunas e perigosas, não há outro meio senão de fazer-
lhes uma guerra contínua, matando-os a tiros de espingarda” (p. 27-
28).
REFERÊNCIAS:
669
Wendell P. Machado Cordovil é graduando de licenciatura em
História pela Universidade Federal do Pará. Bolsista de Iniciação
Científica (UFPA) orientado pelo Prof. Dr. Wesley Oliveira Kettle
em uma pesquisa sobre Educação Ambiental e ensino de História.
670
MENQ, W. (2014) Urubus do Brasil - Aves de Rapina Brasil.
Disponível em: <
http://www.avesderapinabrasil.com/arquivo/artigos/Urubus_do_br
asil.pdf > Acesso em: 13 de Novembro de 2018. Fonte:
http://www.avesderapinabrasil.com/ © Aves de Rapina Brasil
NAGATA, Walter Bertequini. Perfil epidemiológico da febre aftosa
no Brasil: a evolução do programa nacional de erradicação e
prevenção da febre aftosa. Conclusão de curso, 2014.
Wallace, Alfred Russel, 1823-1913. Viagens pelo Amazonas e Rio
Negro. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2004. v. 17, 630
p.
671
GEADA NEGRA E O DECL ÍNIO DA
LAVOURA CAFEEIRA: HISTÓRIA E
MEMÓRIA EM SÃO PEDRO DO IVAÍ -
PR (1970-1990)
ELIANE APARECIDA MIRANDA GOMES
DOS SANTOS
Introdução
672
No caso de São Pedro do Ivaí, observa-se que as falas dos
entrevistados fazem essa conexão entre passado e o presente.
Durante as entrevistas, compreendemos melhor os processos que
envolvem o cultivo do café em São Pedro do Ivaí. Atualmente,
conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o
município possui 10.167 habitantes, está localizado geograficamente
ao noroeste do Paraná.
673
pesquisa se não fosse à colaboração dos trabalhadores e produtores
de café com os relatos orais de experiências vividas nos anos iniciais
do município em questão. O recorte temporal é de 1970 a 1990
(declínio do café).
1.História Oral
“[...] Até o começo dos anos 90, a história oral brasileira não
figurava nos currículos dos cursos universitários, nem aparecia com
frequência mínima como tema de congressos e documentações nas
humanidades em geral. Ao mesmo tempo, era confundida com a
mera prática de entrevistas derivada do jornalismo, antropologia,
sociologia e psicologia (MEIHY, 2000, p.92)”
Percebe-se que a história oral era tratada com cautela, para que a
história não fosse entendida como mera entrevista e também não
caísse na vulgaridade ao demonstrar fragilidade nas analises que
corroboram com a historiografia. Sendo assim, cabe ao historiador
ter clareza do ofício procurando manter o foco das analises das
entrevistas.
674
2. A construção ou (re) construção da memória dos ivaienses
Robson Laverdi (2013, p.38 apud Pablo Ariel Vommaro 1997, s.p)
apresenta que [...] Nessa conjuntura, a História Oral, para o autor, é
mais do que uma metodologia, mas uma maneira de aproximação
da realidade. A pesquisa não tem o objetivo de buscar verdades,
pois a concepção de verdade depende do que se entende por
verdade, mas, busca-se conhecer o passado do lugar que se habita
(São Pedro do Ivaí), “a história oral-prática de pesquisa não
“ressuscita vozes” e [...] ninguém está autorizado a falar por outrem
e nem ao menos tem o poder de “salvar” o tempo
passado” (LAVERDI, 2012, p. 18).
Eclea Bosi (1994, p.39) nos escreve que “lembrança puxa lembrança
e seria preciso um escutador infinito”. Sendo assim, a cada narrativa
dos fatos da história por eles vividos, se renova suas lembranças.
Para tanto, reserva-se aos indivíduos do município de São Pedro do
Ivaí o [...] direito do conhecimento do passado (DUARTE, Geni
Rosa, 2012 p. 289). O que os entrevistados relatam são experiências
vividas por eles, ou seja, eles compartilham trechos de suas vidas e
do seu cotidiano que auxiliam a visualizar uma parte da história do
município.
675
Para Michael Pollak (1992, p. 1):
676
impedem que evoquemos dele todas as partes. Em todo caso, as
imagens dos acontecimentos passados estão completas em nosso
espírito (na parte inconsciente de nosso espírito) como páginas
impressas nos livros que poderíamos abrir, ainda que não os
abríssemos mais”.
A formação de São Pedro do Ivaí deu-se por volta dos anos de 1948
com famílias oriundas de várias partes do Estado do Paraná e de
outros estados como São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco
(RAINATO, Luiz Gonzaga, 1997, p.9). O coronel Gabriel Jorge
Franco foi “[...] o primeiro a lotear quadras para o projeto de
urbanização, dessa maneira foi ele que nomeou o município como
Cidade do Ivaí”.
677
Conforme Rainato (1997, p. 9) para o bom êxito comercial o coronel
realizou uma estratégia comercial.
678
Os entrevistados descreveram a insegurança em relação às geadas,
esse depoente relata a geada de 1953, de 1955, 1968 e a geada negra
de 1975 como sendo um dos motivos de os produtores de café
olhassem sem esperança para a lavoura.
679
“[...] nóis larguemo do café em 85 porque o preço era ruim, não
compensava”. Dessa maneira as famílias foram aos poucos
evadindo das áreas rurais em rumo aos grandes centros.
Essa fala ecoa das bocas de alguns depoentes, o povo foi embora do
município de São Pedro do Ivaí após a Geada Negra de 1975. Às
vezes notamos certo saudosismo nas falas dos depoentes, ao
relembrar como o tempo do café, era bom, pois tinha muita fartura e
de repente eles se contradizem dizendo que “era sofrido dimais”
(BENEDITA, 2014).
680
são elas forjadas também quase que inteiramente sobre falsos
reconhecimentos, de acordo com relatos e depoimentos!”
CONSIDERAÇÕES
681
rural. Usina esta, que emprega na atualidade uma grande parcela da
população ivaiense.
Fontes Orais:
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
682
temas: escritor e ensino de história. Guarapuava, Unicentro, 2006,
p.25-58.
683
RODRIGUES, João Paulo; PELEGRINI, Sandra C.A.L. Memória e
história. Os dissabores da Geada negra em Ivatuba- Paraná.
Disponível em
http://www.mbp.uem.br/cim/pages/arquivos/anais/TS5/TS5-11.pdf.
Acesso em 20 Ago.2013.
684
A MARQUESA DE ALORNA (1750-
1839) E SEU “ESPELHO DE
CASADAS”
RICARDO HIROYUKI SHIBATA
É neste último aspecto que flagramos a sua obra “Cartas a uma filha
que vai casar”, endereçada D. Leonor Benedita, sua filha
primogênita, que iria casar com o Marquês da Fronteira, D. João de
Mascarenhas Barreto, a 10 de novembro de 1799. Essa obra se
enquadra no gênero “espelho de casadas”, cujo teor refere-se à
educação de uma jovem da nobreza e às suas respectivas
responsabilidades no interior da família e da casa. São seis cartas,
que desvelam um número considerável de atribuições, tarefas e
atividades, que cabem à esposa desempenhar no espaço do lar e nos
espaços públicos.
I.
685
Não se trata de educação, no sentido restrito de uma série de
conteúdos que visem a uma mudança de saberes, valores morais ou
mesmo práticas sociais, porém, de reforço quanto às virtudes que a
filha constituiu ao longo do tempo e que, neste momento de
mudança de “estado” – a de “donzela” para “mãe de família” –,
devem ser justamente ratificados. Esse caráter de mera “lembrança”
permite que os enunciados sejam formulados em caráter didático,
em estilo simples, direto e objetivo.
686
recursos financeiros com prudência e racionalidade, sem avareza ou
excesso de apego aos bens materiais, mesmo porque, se fosse isso,
teria o mesmo sentido da mulher que só preocupa com a beleza
física. De fato, gastar pouco ou nunca repartir com quem mais
precisa são as práticas preferidas do “mesquinho” e do “miserável”.
687
artísticas; das 10 ao meio dia, cuidado com os filhos; do meio dia até
o jantar, ela deve estar preparada (devidamente vestida e adornada)
para as suas próprias demandas, as do marido e dos agregados. Esse
último período é também aquele reservado para se dedicar à
costura, aos bordados e à música.
688
Para o nosso pensamento contemporâneo, em que as ideias
burguesas de privacidade e intimidade prevalecem, não faz sentido
articular uma certa maneira de decorar a casa com o grau de virtude
que alguém adquiriu ao longo do tempo. Segundo a matriz liberal,
mais lógico seria entender a habitação como expressão da
ostentação, do luxo e da riqueza material de seus proprietários.
Entretanto, para Alorna, isso seria equivocado, além de empobrecer
o debate sobre o papel social da mulher, já que a verdadeira nobreza
não possui correspondência alguma com gastos suntuosos e
exorbitantes, porém com o dispêndio ordenado e disciplinado do
dinheiro – a uma “boa educação”, como ela se refere –, o que
rivaliza com a “desordem”, o “desarranjo” e a “sordidez”. No polo
oposto, há um outro: o da falta de móveis e da má conservação dos
objetos da casa. É que esses aspectos exteriores são signo da
“preguiça” e da “indolência” de seus moradores. O aumento e a
“alegria” da família dependem da limpeza e elegância dos
aposentos; o espaço da casa é um “teatro da felicidade”, em que a
simplicidade elegante deve vigorar e nunca as extravagâncias, que
só atraem dívidas, e a familiaridade pouco amistosa.
689
fazer os devidos ajustes ou correções de percurso. Esse “livro de
razão” (ou de contabilidade, por assim dizer) é parte da “escritura
doméstica”, assim como as cartas de caráter pessoal.
690
O tom admoestatório das cartas anteriores se agrava nesta última, a
sexta. O tema retoma a questão da esposa mais preocupada com
frivolidades de “toucador” e com as “regras da moda”, já
enunciadas na quinta carta, do que em angariar boa reputação e
renome para a si mesma, e assim proporcionar o aumento de sua
família. Particularmente, em estilo grave e pesaroso, os conselhos da
Marquesa de Alorna se adensam e insistem no cultivo e
aperfeiçoamento das virtudes. Isto porque uma existência que se
volta exclusivamente para o mundo exterior e para a convivência
pública tem por efeito apenas importunação, tristeza e enfadamento.
(CIDADE, 1941, p.93)
II.
691
(1750-1839) dedicou assim, nessas cartas à filha, espaço considerável
à educação de uma jovem da nobreza e as suas respectivas
responsabilidades no interior da família.
Referências
692
ANASTÁCIO, Vanda. Introdução. In: PORTUGAL, D. Leonor de
Almeida. Marquesa de Alorna. Sonetos. Rio de Janeiro: 7Letras, 2007,
p.11-72.
HISTÓRIA E SOCIEDADE NO
TESOURO DE MENINAS ( 1774)
RICARDO HIROYUKI SHIBATA
693
Telêmaco, as peripécias do picaresco Gil Blas, os contos das Arábias
contados em mil e uma noites, os feitos de Carlos Magno e seus
doze pares de França, e, mais ainda, um correlato de gênero,
o Tesouro dos meninos. Outro fato curioso é que a completar essa lista
estão a obra poética de Manuel Barbosa du Bocage, porém sem a
causticidade de suas composições mais desbocadas, e o insuspeitado
pastoril Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga, réu confesso
de Inconfidência e amargando condenação no exílio.
694
deliberativo. Essa ordem do discurso é relevante, pois os
enunciados performativos se davam estrategicamente no interior
dessa matriz sapiencial, o que demandava necessariamente a sua
correta expressão por um modo específico de dizer. Assim, não se
trata de uma “moralidade performativa” (BROWN, 2008,
p.157s) stricto senso, em que os ditames para a educação feminina se
autonomizavam em relação a outros elementos do sistema
educacional. Aqui, também, vale esclarecer que a educação não era
um campo autônomo de conhecimento, mas se articulava a outras
instâncias de domínio e de disciplina.
695
que os grandes proprietários de terra e os negociantes de grande
escala receberam paulatinamente estatuto nobiliárquico por
nomeação régia, resultado imediato da transferência da Corte para o
Rio de Janeiro.
696
como dizem os tratados oitocentistas de educação, a “civilidade”. É
preciso ressaltar igualmente que essa noção de “civilidade”, sem
dúvida alguma relevante para o correto entendimento das práticas
letradas desse período, deve ser considerado segundo um contexto
histórico mais verossímil para este momento em particular. Tratava-
se do último âmbito doutrinal que articulava e estabilizava as várias
hierarquias sociais, pois, como afirma, Blanchard:
697
Aristóteles afirmava ser o equilíbrio sempre instável entre dois
vícios extremos –, em que concorria, no contexto epocal imediato da
normativa oitocentista, os cuidados com a aparência física
(incluindo, os tratos com o vestuário), a relação cordial e amistosa
com os outros, a polidez das ações e uma grande dose de
devotamento e altruísmo.
698
educação feminina, o que revertia em respectiva maior cobrança
quanto ao seu efetivo exercício em suas diversas funções (esposa,
mãe, amiga...), havia de igual modo a queixa por parte de muitos
teóricos quanto à total ausência de virtudes ou mesmo mecanismos
em que elas poderiam cultivá-las e aprimorá-las. (CLANCY, 1982)
699
Janeiro, o que se deu com vários lances pitorescos. Alguns
historiadores desse período reputam esse fato à ambição da grande
nobreza lisboeta em ascender aos cargos de primeiro escalão do
Estado; outros, às maquinações perversas de sua esposa Carlota
Joaquina em arrebatar-lhe o cetro real por meio da usurpação do
governo; outros, ainda, à sua índole pessoal, sempre mais
interessada, quando jovem príncipe, em matéria religiosa do que nas
práticas administrativas do Reino.
700
depois no papel de monarca soberano. A repercussão podia ser
ouvida com alegria e entusiasmo pela população, nas mais
longínquas vilas e cidades que, muito dispersas geograficamente,
compunham o Brasil da época.
É que as várias instâncias da vigilância policial – não apenas no
sentido de salvaguarda da proteção e salvaguarda física dos súditos,
mas igualmente também da integridade moral (a assim chamada
“moralidade pública” – recaía sobre qualquer desvio das normas. A
esfera da polícia se fazia mais necessária numa atmosfera de tensão
política gerada pela invasão francesa, pela pressão inglesa e pelas
dificuldades inerentes à lógica da regência joanina. Também se fazia
necessária pela elevação da temperatura no espaço público como
lugar de exposição de opinião e debate de ideias, em especial, pelos
jornais em língua portuguesa publicados em Londres: o Correio
Braziliense, de Hipólito da Costa, e o Investigador português em
Londres, de José Liberato Freire de Carvalho. O perigo de contágio
em solo brasileiro dos ideais revolucionários ameaçava macular a
natureza paradisíaca do Brasil e convulsionar toda a sociedade,
desarranjando as hierarquias instituídas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
701
Prof. Adjunto do Delet/UNICENTRO
702
BURKE, Peter. Cultura popular na Idade Moderna. Europa, 1500-1800.
São Paulo: Cia das Letras, 2010.
703
RESPONSABILIDADE SOCIAL E
EDUCAÇÃO AMBIENTAL N O ESTADO
DO PARANÁ: EXEMPLOS DE BONS
PROJETOS
TALITA SENIUK
Introdução
704
e crescimento das desigualdades sociais nos países hegemonizados
pelo sistema capitalista, a globalização embasada no neoliberalismo
tornou-se insustentável. As dívidas dos países menos desenvolvidos
e as suas participações no comércio mundial diminuiu na última
década, contribuindo com os empobrecimentos nacionais. Fato é
que haveria menos fome no mundo se os países menos
desenvolvidos pudessem proteger as suas atividades econômicas da
voracidade das 200 maiores empresas multinacionais que detêm
quase 30% do comércio global, mas apenas 1% do emprego global.
Se os países, endividados em dólares, pudessem resistir à
desvalorização das suas moedas, não veriam as suas dívidas
aumentarem por mero efeito da desvalorização. A balança comercial
dos países menos desenvolvidos não se deterioraria tão
drasticamente se os seus produtos não estivessem sujeitos ao
protecionismo dos países ricos e não tivessem que competir com
produtos altamente subsidiados.
705
profetizou a sequência histórica dos Direitos Fundamentais, do que
decorre sua divisão em três gerações: direitos da liberdade, da
igualdade e da fraternidade. Os direitos de liberdade referem-se aos
direitos civis e políticos. Os direitos de igualdade são os sociais,
culturais e econômicos, derivados do princípio da igualdade,
surgiram com o Estado social e são vistos como direitos da
coletividade. A princípio, são identificados cinco direitos como
sendo da terceira geração: o direito ao desenvolvimento, à paz, ao
meio ambiente, o direito de propriedade sobre o patrimônio comum
da humanidade e o direito de comunicação. Podem, entretanto,
surgir outros direitos de terceira geração, à medida que o processo
universalista for se desenvolvendo.
706
dos muros escolares e da educação contemplada nos currículos
obrigatórios.
707
sua profissão lhe permite ser um articulador do conhecimento,
sendo juntamente de seus educandos os sujeitos ativos na
aprendizagem, há um intercâmbio. Tem o poder de formar opiniões,
ação que traz consequências que extrapolam os muros escolares. A
sociedade como um todo cobra da educação escolar que o ensino
contemple além dos conteúdos obrigatórios, outros que o discente
utilizará fora desse local e que lhe servirão para o resto da vida,
como assuntos ligados à cidadania, consumo, diversidade, política,
entre outros, que recentemente reafirmaram-se nos novos
documentos norteadores da educação no país.
708
O sistema Federação da Agricultura do Estado do Paraná - FAEP em
parceria com outros segmentos sociais já há alguns anos realiza o
Programa Agrinho, que além de estar presente em todas as cidades
do estado, já abrangeu outras localidades. Seu objetivo permeia
levar informações para as crianças do meio rural, já que “se
consolida como instrumento eficiente na operacionalização de
temáticas de relevância social da contemporaneidade dentro dos
currículos escolares (FAEP, 2015)”. Há duas décadas oferecendo
experiências significativas na conscientização dos alunos e mediação
de temas ligados ao exercício da cidadania, sua proposta inicial tem
sido atendida pelo número de participantes e de projetos, ao se
verificar a quantidade de inscritos cada vez maior a cada ano. As
empresas que desejam se envolver no projeto, conseguem benefícios
legais, como abatimento de impostos e deduções fiscais. Como se
trata de um concurso para eleger os melhores trabalhos realizados
durante o ano escolar, professores, alunos e escolas vencedoras
recebem prêmios, o que motiva a participação da comunidade
escolar em desenvolver trabalhos complexos e importantes para a
formação dos alunos.
709
o ser humano e o seu ambiente” (COPATI, 2015). O foco desse
trabalho são as bacias hidrográficas e a importância da água para a
sociedade. Geralmente são tratados temas como poluição,
sustentabilidade, economia de materiais, meio ambiente,
saneamento, tudo numa cartilha repleta de muitas imagens e
atividades pedagógicas.
710
ela amadurece e torna-se hábito para o sujeito, que ainda pequeno,
mostra-se capaz de fazer algo grande pela sua comunidade.
Considerações
Referências
711
CARVALHO, J. M. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 3ª ed. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
COOPERJOVEM. Disponível em
<http://www.paranacooperativo.coop.br/ppc/index.php>. Acesso
em 27 de junho de 2019.
712
PARTE 3
E
X
T
E
N
S
Ã
O
713
REFLEXÕES SOBRE A VI VÊNCIA
INICIAL DE PROFESSOR : CORPO,
ESCOLA E ENSINO
FELIPE ARAÚJO DE MELO¹
714
e suas marcas em um futuro professor buscando formar sua prática
em sala de aula.
715
memorizar os conteúdos, alunos são colocados em fileiras,
olhando atentos para o professor, que por sua vez é colocado em um
nível acima dos alunos, inquestionável. A docilidade dos corpos,
como aponta Foucault (1987), impera na escola. A respeito disso
Cândida Maria (2006) em suas considerações expõem que existe
um padrão de “aluno ideal", este fica em silêncio, passivo perante o
mestre. A escola domina o corpo, simbolicamente e fisicamente. Tais
questões já foram problematizadas por Paulo Freire (1987) que
denomina este modelo de ensino de “educação bancária”. A pratica
docente portanto precisa ser reformulada, em busca de mudar o
ambiente e também o aluno. Permitir transformações como aponta
Ubiratan Rocha (2001).
716
mobilidade dos corpos, os ideais, as normas, as prisões em forma de
carteiras, o silêncio, a memorização mecânica. Existe um projeto de
educação que atende a classes sociais específicas. Outra
contribuição para esta análise é posta por Gadoti (1981) quando
aponta que “a educação sempre foi política. O que precisa é ter
clareza do projeto que ela defende, politizando-a"(p. 13). Vieira et
al (2007), também expressa que:
Vivências e Sensibilidades
717
procurando entender como o enxergavam sua ação. Esse olhar
é importante na medida em que o professor o acrescenta em seu
saber e procura a partir disso melhorar a sua prática. Foram
acompanhadas duranfe o ano de 2018 turmas de 6°, 7° e 8° ano.
Começaremos expondo alguns exemplos de situações abordadas no
6° ano:
Sobre o 7° ano:
718
12 de dezembro de 2018: Alunos fora da sala se comunicavam com
alguns alunos de dentro, fazendo com que estes últimos subssem
em cima das carteiras para vê-los ou pulassem. Neste momento uma
aluna exclama para a professora “Tia minhas fãs, Tia suas fãs“.
Sobre o 8° Ano:
719
valor da consciência destes sujeitos, suas visões sobre o professor
serão expostas agora. Vale ressaltar que nesta parte do trabalho
não se dividido tais olhares por turmas.
720
(Maioria). As aulas dele são dinamicas e ludicas, são um diferencial
de aprendizagem.”
721
para e principalmente, com o aluno. O modelo que vivenciamos
abordado e criticado pelos autores destacados nesta
consideração não permite esse desenvolvimento. A pratica envolve
contato, precisa de reflexão, saber absorver e estabelecer uma
posição de aluno mesmo sendo professor pois se aprende com os
alunos também. Desta forma agradeço aos meus alunos que me
ensinaram ainda na graduação caminhos que com certeza
continuarei a aprimorar depois de formado.
Referências Bibliográfica
722
Educação & Sociedade, Revista Quadrimestral de Ciência da
Educação, Cortez, Autores associados, pp. 5-32, março de 1981.
ROCHA, Ubiratan. Reconstruindo a História a partir do imaginário
do aluno. In: NIKITIUK, Sônia M. Leite (org.). Repensando o ensino
de história. 4 ed. – São Paulo, Cortez, 2001.
NUNES, Célia Maria Fernandes. Saberes Docentes e Formação de
Professores: Um breve panorama da pesquisa brasileira. Educação
& Sociedade, ano XXII, nº 74, Abril/2001.
VIDAL, Diana Gonçalves. Cultura e Práticas Escolares: A Escola
Pública Brasileira Como Objeto de Pesquisa. Ediciones Universidad
de Salamanca, Hist. Educ. , 25, 2006, pp. 153-171.
VIDAL, Diana Gonçalves. No Interior da Sala de aula: ensaio sobre
cultura e prática escolares. Currículo sem Fronteiras, v.9, n.1, pp. 25-
41, Jan/Jun 2009.
VIEIRA, Maria do Pilar de Araújo; PEIXOTO, Maria do Rosário da
Cunha; KHOURY, Yara Maria Aun. A Pesquisa em História. 5. ed.
São Paulo: Ática, 2007.
723
CARTOGRAFIA DA CULTU RA AFRO-
BRASILEIRA E INDIGEN A: EXTENSÃO
UNIVERSITÁRIA E EDUCAÇÃO PARA
A DIVERSIDADE
LARISSA RAFAELA PINHEIRO ALENCAR
Introdução
724
O Projeto Cartografia da Cultura Afro-Brasileira e Indígena tem por
objetivo a educação para a diversidade, através da pedagogia
decolonial e da interdisciplinaridade. Para alcançar esse fim, os
alunos realizam, orientados por determinados professores,
atividades e pesquisas bibliográficas e de campo ao longo do ano
letivo. Destaca-se os momentos da excursão à Comunidade
Quilombola de Jacaraquara; o dia da Consciência Negra, grande
evento na EAUFPA; e o Forúm COPEX, geralmente realizado em
dezembro.
2) História e Sociologia:
2.1. Sociabilidade, Devoção e Resistência: o universo cultural
entorno da igreja do Rosário dos homens pretos em Belém, das
professoras Antônia Brioso, Júnia Vasconcelos e Rita de Cassia
2.2. Diversidade Religiosa: conhecer pra não
discriminar, dos professores Rodrigo Peixoto, Elis e Antônia Brioso
725
Metodologia
726
também possam contabilizar esses pontos em sua prova, se assim
desejarem.
727
A comunidade escolar, estudantes universitários, professores de
outras escolas e a comunidade ao redor da escola vem prestigiar O
Dia da Consciência Negra na EAUFPA. Este é um dos principais
eventos da escola. Não apenas o ensino médio participa, mas
também o ensino fundamental I e II.
Relato de Experiência
728
Residência Pedagógica, fomentado pela Capes. Mas continuei no
Projeto Cartografia como Bolsista Voluntária, ao qual permaneço até
hoje.
1) Biologia:
2) História:
729
2.3. Escravidão negra na Amazônia: sociabilidades e resistências;
coordenador: Daniel Barroso
730
cultura afro-brasileira e indígena: uma experiência de educação
intercultural do ensino médio da EAUFPA da 2° série” foi aprovado
pelo Programa PIBEX-UFPA neste ano de 2019. Atualmente, o
Projeto conta com um Bolsista de Psicologia e comigo como Bolsista
Voluntária.
Resultados acadêmicos
Conclusão
Referências
731
É orientada pela professora Msc Antônia Brioso no âmbito da
extensão; pelo professor Dr. Otaviano Vieira Junior no âmbito da
pesquisa e pela professora Franciane Lacerda no âmbito do ensino.
Agradece a CAPES, CNPQ e PROEX/UFPA.
Referências Bibliográficas
732
INÍCIO E FIM DO IMPÉRIO
BIZANTINO: NOVA ERA
JOSIANE ARAUJO ROCHA
733
percas os bizantinos sofreram com a infestação de pragas e
epidemias por um certo período.
734
“O rei dos rum fugiu sem ter combatido, conta Ibn al-Athir, e os
franj instalaram seu jovem candidato no trono. Mas do poder ele
tinha apenas vestígio, pois todas as decisões eram tomadas pelo
franj. Estes impuseram ao povo pesadíssimos tributos, e quando o
pagamento foi dado como impossível eles tomaram todo o ouro e as
joias, mesmo os que estavam nas cruzes e nas imagens de Messias, a
paz esteja com ele! Os rum então se voltaram matando o monarca,
depois expulsando os franj da cidade, barricaram as portas. Como
suas forças eram reduzidas, despacharam um mensageiro a
Suleiman, filho de Kilij Arslan, mestre de Ronya, para que viesse em
seu auxilio. Mas ele foi incapaz disso. Todos os rum foram mortos
ou desposados, relata o historiador de Mossul. Alguns de seus
notáveis tentaram refugiar-se na grande igreja que chamavam de
Sofia, perseguidos pelos franj. Um grupo de padres e de monges
saiu então, carregando cruzes e evangelhos, para suplicar aos
atacantes que lhes preservassem a vida, mas os franj não deram
nenhuma atenção ás suas preces. Massacraram-no a todos, depois
saquearam a igreja”. (IBN AL-ATHIR apud MAALOUF, 1989. p.
207).
735
lugares pelos quais os levaram a riquezas imensas com o início de
colônias na América descoberta por Colombo 1451/1506, formando
novas sociedades e expandindo os trabalhos e comércios, Huizinga
destaca:
REFERÊNCIAS:
736