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C8 FO6SHSSHOHOHHHHHDGEEHHHHHGVHEHHOHAD CSP Retor Veeretior be — cn eee ComiadoEtorat Robewo Leal Loboe Sia ko uy Lowen 40> Hayden White METAHISTORIA A IMAGINACAO HISTORICA DO SECULO x1x bree . 7 cna “radu de JonéLawénio de Melo Indiagso de Anni Dims, Profesor de Dept de Leas isis Venus d USP. “Tilo do evga em nes: Methistory: The Hurial naginetion i Nineteenth Century Europe (© 1973 bythe Johns Hopkin Uivesty Press alae Casiopaom Piling heen ‘imonitor, Pt) Metin: bimini ins do Sc KY Mayen We aan ee Lan eel, Sh Pa: ata da Unrest de ‘So Pr, 1 (Coo Pv) Popa. (nos pcan: Bop: Hig 97.204 TEE PIRLIOTHCA CIN pp anes sp ~ Fito ds Universidade de So Palo ‘Aw Prof Leino Out, Travess 9° 374 andar - Eda Ang» Retorie~ Cade Universita (5808 = Sto Paulo = SP- Dra Fax: (011)211-088 Tel: (11) 15-8857613-322 263,268 eo UF NDC wow DES aL] Printed in Baal 1992 Sé6sepode estar aguilo com queprineiro se sono A Pica do Fe $O0GOHFOS OHH HHHHHHOHHHHHHEHHOH OHS SUMARIO Preficio cece Introdugéo: A Poética da Historia» Parte 1 ATRADICAO RECEBIDA: O ILUMINISMO EO PROBLEMA DA CONSCIENCIA HISTORICA, 1.A Imaginacao Historica entre a Metéfora e a Iroi 2. Hegel: A Poética da Histéria e o Caminho para além da Ironia Porte It QUATRO TIPOS DE “REALISMO” NA ESCRITA HISTORICA DO SECULO XIX, 1. Michelet: O Realismo Hist6rico como Est6ria Romanesca 2.Ranke: O Realismo Historico como Comédia . . . 3. Tocqueville: O Realismo Histérico como Tragédia 4. Burckhardt: O Realismo Hict6rieo como Sativa... a7 a5 2a Parte II © REPUDIO DO “REALISMO” NA FILOSOFIA DA HISTORIA DO FINAL DO SECULO XIX 1. A Consciéneia Historica ¢ 0 Renascimento da Filosofia da Historia 2. Marx: A Defesa FilosGfica da Histéria no Modo Metonimico 3, Nietzsche: A Defesa Postica da Historia no Modo Metaforico 4. Croce: A Defesa Filos6fica da Hist6ria no Modo Irdnico Conelusio. - - Bibliografia Indice Remissivo 2 201 339 383 433 403 449 PRERACIO Esta analise da estrutura profunda da imaginagao historica é precedida ‘por umaintroducao metodologica. Alitento expor,explicitamente de mancira Estematica, os principios interpretativosem que se bascia o trabalho. Enquanto Tiaos classicos do pensamento historico europeu do século XIX tormou-se para mim evidente que considerd-los como formas representativas da reflexio hist6- rica pressupunha uma teoria formal do trabalho histérico. Procurei apresentar tal teoria na introdugio. "Nessa teoria tratoo trabalho histrico como o que ele manifestamente é: uma estratura verbal na forma de um discurso narrativo em prosa. As hist6rias (€ filosofias da histéria também) combinam certa quantidade de “dados”, conceitos te6ricos para “explicar” esses dados e uma estrutura narrativa que 0 ‘presenta como um fcone de conjuntos de eventos presumivelmente ocorridos fem tempos passados. Além disso, digo eu, cles comportam um contetido estrutural profundo que é em geral postico e, especificamente, lingUistico em ‘sua natureza, ¢ que faz as vezes do paradigma pré-criticamente aceito daquilo {que deve ser uma explicaglo eminentemente “histrica”. Esse paradigma fun- ona como 6 elemento “meta-histrico” em todos 0s trabalhos histéricos que ‘so mais abrangentes em sua amplitude do que a monografia ou o informe de arquivo. “Aterminologia que empreguci para caracterizar os diversos nfveis em que se desdobra um relato historico e para construir uma tipologia de estilos historiogeaficos talvezse mostre desorientadora. Mas lente primeiro identificar as dimensbes manifestas ~ epistemolégicas, estéticas € morais ~ do trabalho histérico e s6 depois penctrar até onive! mais profundo em que essas operagies 860080 S OOOH HHS HHHBHHHHOHHOHHHHOD n ‘MeEN wore teéricas fundam suas sangSes pré-rticas implicitas. Ao contrério de outros analistas da escrtahistrica,ndo suponho que a subestrutura “meta-hist6rica”™ 4o trabalho histrico conssta nos conceitos te6ricas expictamente utilizados pelo historiador para dar a suas narativas 0 aspecto de uma “explicagio”. Acredito que taisconceitos compreendem o nivel manifesto do trabalho, visto {que aparecem na “superficie” do texto e podem comumente ser idenificados om relativa failidade. Distingo, porém, tts tipos de estratégias que podem ser usadas pelos historiadores para aleangar diferentes tipos de "impresso cexplicaiva”. Chamo, a esss estratésias, explicagio por argumentagio formal, ‘explicagio por elaboragio de enredo* ¢ explicagio For implicagdo ideolozica, Dentro de cada uma dessa diferentes estratégias identifico quateo possiveis ‘modos de articulagéo pelos quais pode o historador lcangar uma impressio explicatva de tipo especifico. Para os argumentoshé os modos do formismo, do organicismo, do mecanicismo e do contextualismo; para as claboragdes de enredo é os arquétipos da estériaromanesca"*, da comédia, da tragéala © da sitira;e para a implicagio ideol6qica ha as tticas do anarquismo, do conser- vantismo, do radiealsmo e do liberaismo. Uma eombinagéo espectica de modos constitui o que chamo de “estilo” historiogrfico de determinado historiador ow fildsofo da histria. Procurci expliar esse estilo em meus estudos sobre Michelet, Ranke, Tocqueville e Burckardt entre os historiado- res, ¢ sobre Hegel, Marx, Nietzsche © Croce entre os fildsofos da hist6r Europa do século XIX, ‘A fim de correlacionar esses diferentes estlos como elementos de uma Sinica tradigio do pensamentohist6rco, fui forgado apostular um nfvel profun- do de consciéneia no qual um pensador da histéria escolhe as esteatégias conceitusis com que irs explicar ou epresentar seus dads. Nesse nivel, aere~ dito, ohistoriador realiza um ato essencialmente pattico, em que prefigara 0 ‘campo hist6rico 0 eonsttui como um dominio no qual é possivelaplicar as teoras especificas que uilizaré para explicar “o que estava realmente aconte- ‘cendo” nel. Ess ato de prefguracéo pode, por sua vex, assumir certo nimera de formas cujos tipos slo caracteriziveis pelos modas lingisticas em que estio vazados. Sequindo uma tradigio de interpretagéo que remonta a Aristételes e que, ‘mais recentemente, foi desenvohido por Vieo, pelos ingistas modernos e pelos teéricos dalteratura, dou aessstipes de preiguragiosnomes dos quatro ropes da linguagem postica: metéfora, metonimia, sinédoque ¢ ironia. Como € bastante provével que essa terminologia seja estranha a muitos dos meus + Explor ois. nei au uae seme pr “caborgi de ened". Noes prs formar empl enplatedempcing—ezowse. como pana de puis epee “pr ‘eda empregats pelo pro Lut Cos Lins para cons So ena empl 40 ore eos {etiayden Wace iro Conrado napa eat, SsoPaca Bene 184, p10 ‘rela sepa Ride ane, Frese Une 1989p. 166) N. do) +» Romance ro sinl “Eas romans” io cis a ad op Piles Engi ds Sih Hamer dol de Noro Fine nat de hie (Sh Pala Cali IFT, mogul sor de resto eH aaron ponds Seed Wr ae MErA.msTORLA 2 ‘pico na introdugdo por que a empreguei eo que entendo por suas ‘Um dos meus intuitos fundamentais, além daquele de identificar ¢ interpretar as principais formas de consciéncia hist6rica na Europa oitocen- tista, € estabelecer os elementos inconfundivelmente poéticos presentes na historiografia e na filosofia da hist6ria em qualquer época que tenham sido postos em prética, Diz-se com frequéncia que a historia é uma mescla de Giéncia ¢ arte. Mas, conquanto recentes filésofos analiticos tenham conse- guido aclarar até que ponto € possivel considerar a histéria como uma modalidade de ciéncia, pouquissima atencio tem sido dada a seus compo- nentes artisticos. Através da exposigio do solo linglistico em que se consti tuiu uma determinada idéia da hist6ria tento estabelecer a natureza inelutavelmente poética do trabalho hist6rico e especificar o elemento pre figurativo num relato histérico por meio do qual seus conceitos teéricos foram tacitamente sancionados. ‘Assim, postulo quatro modos principais de consciéncia hist6rica em Gonseatacia da ealeiapreiguratv (ropoligis) que fforma cada wm deles: metafora, singdoque, metontmia e ironia. Cada um desses modos de ‘consciéncia proporciona a base para um protocolo lingistco preciso com que. prefigurar o campo historico e a partir do qual podem ser empregadas estraté- bias especificas de interpretacio hist6rica para “explicé-lo”. Afirmo que os rmestres reconhecidos do pensamento hist6rico do século XIX podem ser compreendidos, que suas elagdes miituas como participantes de uma tradigio ‘comium de investigacéo podem ser confirmadas, pela explicagio dos diferentes modos tropolégicos que Ihes inspira e informa 0 trabalho. Em suma, é minha opinido que © modo tropolégico dominante € seu concomitante protocolo lingistco compdem a base irredutivelmente “meta-histérica” de todo trabalho histérico. E sustento que esse elemento meta-historico nas obras dos historia dores magistrais do séeulo XIX constitui as “Filosofia da histria” que implici tamente mantém suas obras e sem as quais cles nao podcriam ter produzido os tipos de obras que produziram, Por fim, tento mostrar que as obras dos principaisfil6sofos da historia do século XIX (Hegel, Marx, Nietzsche e Croce) s6 diferem das dos seus homélo- _gosnoque as vezesse denomina “hist6ria propriamente dita” (Michelet, Ranke, ‘Tocqueville e Burckhardt) quanto a énfase, ndo quanto a0 contetido. O que permanece implicito nos historiadores é simplesmente levado & superficie © sistematicamente defendido nas obras dos grandes [ilésofos da historia. Nao acidente o fato de que os principais fildsofos da historia foram também (ou posteriormente se descobriu que foram) quintessencialmente filésofos da lin- ‘guagem. Por isso € que foram capazes de compreender, de modo mais ou menos Autoconsciente, 0s fundamentos poéticos, ou pelo menos lingiisticos, em tiveram suas origens as teorias supostamente “ciemtifieas” da historiografia do séeulo XIX. Naturalmente esses flésofos procuraram isentar-se das acusagiies ‘de determinismo lingistico com que atacavam seus adversérios. Mas €inegivel, ‘ameu ver, que todos eles entendiam a proposicao essencial que tento demons: 4 navoen wre trar: que, em qualquer campo de estudo ainda no reduvido (ou elevado) 20 estatuto de verdadeira cincia, 0 pensamento permanece cativo do modo Tingtistico no qual procura apreender 0 contorno dos objetos que povoam seu ‘campo de percepgio. ‘As conclusées gerais que extraio do meu estudo da consciéncia hist6rica oitocentista podem ser assim sumariadas: 1) no pode haver “hist ‘mente dita” que nao seja ao mesmo tempo “Filosofia da hist6r possiveis de historiografia so os mesmos que as modos possiveis de filosofia especulativa da histéria; 3) esses modos, por sua vez, sio na realidade formali- 2agoes de int jeas que analiticamente os precedem e que sancionam as teorias particulares usadas para dar aos relatos hist6ricos a aparéncia de uma “explicagao”; 4) ndo hé apodicticamente premissas te6ricas infaliveis em que se possa de forma legitima assentar uma justifcativa para dizer que um dos _modos é superior aos outros por ser mais “realist” S) em consequéncia disso, estamos irremediavelmente presos a uma escotha entre estratégias interpreta- tivas opostas em qualquer esforco de refletir sobre a historia em geral; 6) ‘como corolério disso, os melhores fundamentos para escolher uma perspec- tiva da hist6ria em lugar de outra sio em iitima andlise antes estéticos ou morais que epistemologicos; ¢, finalmente, 7) a exigéncia de cientificizagao da historia representa apenas a declaragio de uma preferéncia por uma modalidade especifica de coneeptualizagao histérica, cujas bases sd0 ou morais ou estéticas, mas cuja justificagio epistemolégica ainda esta por estabelecer. Ao apresentar minhas andlises das obras dos pensadores histéricas magistrais do séeulo XIX na ordem em que aparecem, procuro sugerir que 0 ppensamento deles representa a claboragio das possibilidades de prefiguragio {ropoldgica do campo hist6rico contidas na linguagem postica em geral. O aproveitamento real dessas possibiidades €, no meu modo de ver, 0 que ‘mergulhou o pensar hist6rico europeu na condicio irdnica do espirito que aprisionou no final do século XIX e que € as vezes chamada de “crise do historicismo”. A ironia, euja forma fenoménica era esta “crise”, continuow desde ento a lorescer como o modo dominante da historiografia profissional, tal como era cultivada nos meios académices. Isso, ercio cu, ¢ 0 que explica tanto 0 torpor tedrica dos melhores representantes da moderna historiografia académica quanto as numerasas rebelides contra a consciéncia historica em geral, que marcam a literatura, a ciéncia social ¢ a filosofia do século XX, Espera-se que o presente estudo elucide as razées desse torpor por um lado & das rebelides por outro. Talvez nio passe despercebido que este mesmo livro esté varado num ‘modo irénico. Mas a ironia que o informa & consciente € portanto representa ‘uma volta da conseiéncia irdnica contra a propria ironia, Se lograr estabelecer {que 0 ceticismo e o pessimismo de grande parte do pensar historico contempo- neo tém suas origens numa disposigdo de espirito ironica, que esta disposi Gio de espirito € por sua vez apenas uma dentre muitas posturas possiveis a adotar diante do registro histérico, teré proporcionado alguns dos motivos para Mera.tstOm 5 ‘uma rejcigao da prOpriaironia. E tera sido parcialmente desbravado 0 caminho para a reconstituigdo da hist6ria como forma de atividade intelectual que é 20 mesmo tempo postica, cientifcae filosbfica em suas preocupagbes ~ como foi durante a idade de ouro da historia no século XIX. INTRODUGAO APOETICA DA HISTORIA Este livro € uma histéria da consciéncia hist6rica na Europa do século ‘XIX, mas também pretende contribuir para a atual discussio do problema do conhecimento histérico. Como tal, representa nao s6 uma exposigao do desen- Volvimento do pensar hist6rico durante um periodo espectfico de sua evolugao yas também uma teoria geral da estrutura daquele modo de pensamento que 6 chamado de “historico". ‘Que significa pensar historicamente © quais sio as caracteristicas incon- Tundiveis de um método especifieamente histOrico de investigagao? Essas ques toes foram debatidas durante todo o século XIX por historiadores, filésofos © te6ricos sociais, mas habitualmente dentro do contexto da suposigio de que era possivelIhes dar respostas i "era considerada um modo tespecifico de existéncia, a “consciéncia histérica” um modo preciso de pensa- mento, ¢ 0 “conhecimento histérico” um dominio auténomo no espectro das. cigncias humanas ¢fisicas. 'No século XX, porém, as consideragies em torno dessas questdes se ‘rocessam numa atmosfera um pouco menos autoconfiante e em presenga de ‘um receio de que talvez nfo haja possibilidade de thes dar respostas defini Pensadores da Europa continental ~ de Valéry e Heidegger a Sartre, Lévi ‘Strauss ¢ Michel Foucault ~ ias dvidas sobre o valor de uma consciéneia especificamente “hist6rica”, sublinharam o caréter ficticio das reconstrugdes hist6ricas e contestaram as pretensdes da histéria a um lugar entre as céncias'. Ao mesmo tempo, fildsofos anglo-americanos produziram 1. Veromea The Bsken Hsin” ity on Ten 5,9°2(1965) 111 oem queseetudem tes Sommtaronmactaataca ht Gualos manifests maseceney ver Clade La Ss, ws ayen ws iografia que, tomada em conjunto,jusiica intensas afar ae apr de sep ae Povernm tr pee dato dln ence posto maz ue um ah at mbps mare. freadana eseropopcn ge lo, pr se ex apes repens seas rene” ue ineetom simplemente naar Conserate com sein a Mita paecem press bane pein nodonaprseneis por Fae Consign coma fama de docu cpvaente repose Ses tnna pntcesercarcesnel a teminlopi ePeperE considera como npscios mea Fare wer Caicos prectametse wor eter sein pls nace combine de Ma. MErasistémua ” ‘Sem divida, como observa Pepper, 0s historiadores que lidam com esse modo estario mais interessados em caracterizar o processo integrativo do que cem descrever scus elementos individuais. Isso € o que dé aos argumentos vazados nesse modo seu cardter “abstrato”. Alm disso a historia escrita nesse ‘modo tende a orientar-se para a determinagao do fom ou da meta para a qual se presume ue propencdem todos os processos encontrados no campo hist6rico. ‘Um historiador como Ranke, esté claro, resistiré conscientemente a inclinacao, para especificar qual poderia sero telos de todo 0 processo hist6rico, « ha de se contentar com o esforgo de determinar a natureza de certos foi estruturasintegrativas intermedirias como o “pov, a“nagio” ou: {que ele intenta descobrir no processo hist6rico em curso. A deter {fim tikimo de todo 0 processo hist6rico s6 pode ser vislumbrada, sustenta ‘Ranke, numa visio religiosa. E assim a obra de Ranke pode ser considerada um cexemplo de uma historiografia composta num modo especificamente formista Mas, ainda que Ranke prime pela descrigdo de eventos em sua particularidade, suas narrativas devem a estrutura c cocréncia formal como explicagdes dos processos por ele descritos antes de tudo a0 fato de recorrerem tacitamente 20 modelo organicista do que deve ser uma adequada explicagao hist6rica, modelo mplantado na consciéncia do pr6prio Ranke como paradigma do que deve ser toda ¢ qualquer explicagio valida dé todo © qualquer processo presente no mundo, uma caraceristica das estratégas organcistas de explicagéo abster-se da procura de leis do processo hist6rico, quando o termo “lis” é interpretado no sentido de felagies caikais-niverSais ¢ invariantes, & mancita da fisica da quimica lavoisieriana ou da Biologia darwiniana, O organicista tend alr dos Sriniag” u das ia” qe informa oy process individuais percebidos no campo ede todos os processos tomados globalmente, ses princpios ou idias so visto como formadores de imagens ou prefigu- radoresdofim para que tende o processo como um todo, Néo funcionam como agentes ou agéncias causas salvo cm historiadores de orientagio decididame {eistica ou teol6gca,caso.em que sio geralment interpretados como ma festagces dos designios de Deus para Sua criagio, De falo, para o organicista, {ais principis e ideias funcionam ndo como restigbes a capacidade humana de realizar uma meta carateristcamente humana nahistria, como é de supor que 1s “leis” da historia funcionam no pensamento dos mecanicisas, mas como fiadores de uma liberdade humana essencfal, Assim, embora precise destacar ‘anaturezaintegrativa do processohistrico visto como um todo para que possa aprecnder o sentido do processo histrico, oorganicsta nso cxrai as variedades {e conclusdes pessimistas que o mecanicistarigoroso tende a extra de suas teflexdes sobre a natureza nomoldgica do se histrie. As hipéteses mecanicistas do mundo so também integrativas em seu objetivo, mas propendem a ser antes redutivas que sintélicas. Para usar a Tinguagem de Kenneth Burke, 0 mecanicismo esti disposto a ver os “atos” dos agentes” que povoam o campo historico como manifestagdes de “agéncias” cextra-histéricas que t&m suas origens na “cena” dentro da qual se desenrola a © O008 SH HOOHOHHHHHHOHHHHHHHHHHHHOHOHHO 2 apewwarre 5 descritana narrtiva. A teoria mecanicta da explicaglo apbia-se na tal campo histGri inierpretad6s Como existentes na modalidade de relagbes de parte com parte, ejas configuragées especsficas sio determinadas pelas leis que se presume ‘governarem suas interagoes. Assi ou, como indicarei, mesmo Tocqueville, estuda ahi leis que de fato governam suas operagies ¢ eve numa forma narrativa os efeitos dessas leis, A compreensto das natureza specifica podem ser mais ou menos coaspicuas na representaglo “do que estavaaeontecendo” no processohistrico num determinado tempoc lugar, ‘mas, na medida em que as investigagSes do mecanicista se realizam na busea de tais leis, seu relat € ameacado pela mesma tendéncia para a abstragdo que a do organicista. Ee considera as entidades indivicuais menos importantes como testemunho do que as lasses de fendmenos a que se pode demonstrar que pertencem; mas essas classes, por sua vez, so menos importantes para cle do ue asleis que, segundo se presume, suas regularidades maniestam. Er itima andlse, para 0 mecancisa, uma explicaglo 86 é considerada completa quando cle descobreas leis que é de presumir, governam: a histéria da mesma mancira Que ¢ de presumir que as eis da fisca governama natureza. Entio apica essas leis aos dados de modo a tornar suas configuragdes compreensiveis como fungies dessas leis. Assim, num historiador como Tocqueville, os atributos proprios de uma dada insituiglo, de um costume, de uma lei, forma de arte ou coisa parecida, sio menos importantes como fetemunho do que a espécie, a classe e as tipiieagées genéricas que, na andlse, se pode demonstrar que ‘exemplificam. E essa ipificagdes por sua vez sao julgadas por Tocqueville ~¢ certamente por Buckle, Marx e Taine ~ menos importantes do que as leis da estratura social e © processo que regem o curso da histéria ocidental, cujas ‘operagées eles atestam, Obviamente, se bem que sejam caracterizadas pela precisio conceptual, asconcepgdes mecanicistas de verdade eexplicagio eso expostas as acusagbes de falta de aleance e tendéncia para a abstraio do mesmo modo que seus congneres organicstas. De uma perspectva formista, mecanicismo ¢ organi- cismo parecem ser “redutivos” da variedade e do colorido das entidades individuais presents no campo histrico. Mas, para restaurar a descjadaexten- so e coneretude, nio é preciso buscar refigio numa concepGio tio “impres- sionista” da explicagi hist6riea como arepreseatada pelo formismo. Pode-se, de preferéncia, adotar uma posi comertualiste, que como teoria da verdade «da explicagio representa uma concepeao “furcional” do sentido ou da Signticagio de eventos pereebidos no campo histico. A pressupasiglo informadora do contextualismo € que os eventos podem ser explicados a0 serem postos dentro do“contexto” de sua ocorréncia, Por que ‘ocorreram como ocorreram ha de ser explicado pela revelagio das relagbes lexpecifiear que (Em com outros eventor ocorrentes em seu expago histérico weramsréna { 4° Kes oH 9 Tey circundante. Aqui, como no formismo, © campo histsrico € apreendido como sn “espetdculo” ou uma tapegaria de rica testura que & primeira vista parece carecer de coeréncia ede qualquer estrutura fundamental dscernivl. Mas, 0 contrério do formista, que tende simplesmente a considerar as entidades em ‘sua particularidade ¢ unicidade ~isto 6, sua similaridade com, e diferenga de, ‘outras entidades no campo, 0 contextualistainsisicem que “o que aconteceu” no campo pode ser explicado pela cscs Lincionas ‘existonles-enire os agentes e agéncias que gcupavam_o campo num dado ‘A determinagéo dessa inter-relagio funcional & levada a cabo por uma ‘operagio que alguns fil6sofos modernos, como W. H. Walsh e Isaiah Berlin, chamam de “coligagao”. Nessa operacao 0 objetivo da explicagao € identificar 08 “fios” que prendem o individuo ou a insttuigo em estudo a seu especioso “presente” sociocultural. Exemplos desse género de estratégia explicativa po- dom ser encontrados em qualquer historiador digno deste nome, de Herédoto ‘a Huizinga, mas ela encontra expressio como principio dominante de explica- ‘giono éculo XIX na obrade Jacob Burckhardt, Como estratégia de explicagio, 0 contextualismo procura evitar tanto a tendéncia radicalmente dispersiva do formismo quanto as tendéncias abstrativas do organicismo e do mecanicismo, Busca, em lugar disso, uma relatva integracdo dos fendmenos discernidos em provincias finitas de ocorréncia historica em funcio de “tendéncias” ou fisiog- ‘nomonias gerais de perfodos ¢ épocas. Na medida cm que tacitamente invoca regras de combinacio para determinar as caracteristicas de familia de entidades ‘que ocupam provincias finitas de ocorréncia historic, essas regras nio si0 ‘nterpretadas como equivalentes as leis universais de causa e efeito postulad: ‘pelo mecanicista ou aos princspios teleoldgicos gerais postulados pelo orgat cista. Ao contrério, so interpretadas como relagdes reais que se presume (enham existido em tempos ¢ lugares especificos, cujas causas primeira, final ¢ material nunca podem ser conhecidas. contextualista avanga, diz-nos Pepper, isolando algum (na verdade, ‘qualquer) elemento do campo hist6rico como ascunto de estudo, seja elemento vio amplo como “a Revolugio Francesa” ou tio pequeno como um dia na vida de uma determinada pessoa. Em seguida passa a escolher os “fios” que ligam 0 evento que vai ser explicado a diferentes Areas do contexto, Os fias so identificados, estendidos para fora, na diego do espago natural e social circundante dentro do qual acorreu 0 evento, ¢ estendidas para tr4s no tempo, ‘fim de determinar as “origens” do evento, ¢ para a frente no tempo, a fim de ddoterminar seu “impacto” e “influéncia” sobre as eventos subseqilentes. Essa ‘operacao termina no ponto em que os “fins” ou desaparecem no “‘contexto” de algum outro “evento” ou “convergem” para provacar a ocorréneia de algum novo “evento”. O impulso no & integrar todos os eventos e tendéncias que pudessem ser identificados em todo 0 campo historico, mas, antes, reuni-los, 9. Ver WH Wal, rac the Pcp of ry Landes 1961, 6.48 lh en “Te Concept of Seite Hig em Dray (OE. Parl aa Sd Haas pp ab ST Soe “olgnioem gl vet ascecragie de Mink "Auton pp 1772 ” Harpe ware ‘numa cadeia de caracterizagdes provisbrias e restritas de provincias finitas de ocorréncia “signficativa’ Deve ser Sbvio que 0 enfoque contextualista do problema da explicagio historica pode ser visto como uma combinacdo dos impulsos dispersivos que movem 0 formismo de um lado € os impulsos integrativos que ins corganicismo do outro, Mas, na realidade, uma concepgio contextu verdade, da explicacio ¢ verificagéo parece ser extremamente modesta naquilo que reclama do historiador e exige do leitor. No entanto, em razéo de sua ‘organizagdo do campo hist6rico em diferentes provincias de ocorrénciasignifi- cativa, com base na qual & possivel dstinguir uns dos outros os perfodos ¢ as épocas,.9 contextualismo.repressnta.tuma_solugio_ambigua.so problema da cconstrugao de um modelo narrativo das processos discernidos no campo hist pelo contextualista como um licado por Burckhardt) em que ee ee ee caren permitir o discernimento de tendéncias no processo sugere a possibilidade de lama narrativa em que as imagens de desenvolvimento e evolugéo pudessem predominar. Mas, na realidade, as estratégas exp tas incl. namvse mais para as representagGes sinerSnicas de segmentos ou segses do processo, cortes fetes, por assim dizer, a contrapelo do tempo. Essa tendéncia para 0 modo extruturalita ou sinerdnico de representagio ¢ inerente a uma hipotese contextuaista do mundo. E se o historiador que se inclina para 0 contextualismo agregar os vérios periodos que estudou numa visio completa de todo processo histéricodeverdtranspor os limites do areabougo contextuaista rumo ou a uma redugio mecanicista dos dados em fungéo das leis “intempo- rais” que se presume reé-los ou a uma sintese orgaicista daqueles dados em fungéo dos “principios” que se presume revelem oelas para o qual ende todo processo ao cabo de um longo percurso, Certamente qualquer um desses quatro modelos de explicagio poderia ser uilizado numa obra histrica para ofereceralguma coisa que se parecesse com um argumento formal do verdadeiro sentido dos eventos deseritos na narrativa, mas néo gozam todos do mesmo prestigio junto aos notsros prat- cantes profissionais da dsciplina desde sua academicizagio no inicio do séeulo XIX. De fato, entre os historiadores académieos os modelos formistae contex- twalistatendena predominar como, didatos A ortodoxia. Sempre Gi aparccem tendeacas rganiias ou mecanicistas em renomados meses do offco, como em Ranke e Tocqueville respectivamente, sio clas encarades ‘como lapsos em relagio as formas adequadas que as expicagbes em historia podem assumir, De maisa mais, quando impulso de explicarocampobistrico em termos francamente organiistas e mecanicistas chega a predominar num determinad pensador, como Hegel de um ado e Marx de outro, este impulso interpretado como a ravio da queda na abominével“flosofia da hist6ria” "Em suma, para os historadores profsionas, formismo e contextualismo representam os limites da eseolha entre as formas possiveis que uma expl { | ' ' METAISTORA s cculiarmente orgaicigmo representam hetrodoxias do pensamento histrico, na opnido tanto da principal filera de historiadores profissionais como da de seus defe sores entre filésofos que véem na “ilosofia da historia” mito, erro ou ideologia Por exemplo, o influente livro de’Karl Popper, The Poverty of Historicism, consiste quaie somente numa sistemética dentincia desses dois modos de explicagio do pensamento hist6rico™. ‘Mas 0s motivos da hostilidade. dos hisariadores profissionais aos.moslos organicisas e mecanicistas de explicagdo contin 3s. Ou, melhor, as ‘Tazoes dessa hostilidade pareceinvésidit &m consideragies de tipo especifiea- mente extra-epistemol6gico, Poi, admitida a natureza protacicatifica dos.estu- dos hiss6ricos, néo hd fundamentos epistemoldgicos apadicticns para a preferéncia de um modo de explicagao sobre outro. “Eat claro que j& se disse que a hist6ria $6 pode libertar-se do mito, da religifoe da metafisica através da exclusdo dos modos de explicagéo organicis- tas e mecanicistas de suas operagSes. Segundo a opinido geral, a hist6ria no pode desse mado elevar-se & condigo de “citncia” rigorosa, mas argumenta-se {que pode ao menos evitar os perigos do “cientismo” ~ a déplice macaqueagao cdo método cientifico eilegtima apropriagao da autoridade da ciéncia — através, dessa exclusdo. Pois, imitando-se explicagao segundo os modos do formismo do contextualismo, a historiografia pelo menos permancceria “cmpfrica” ¢ resitiria queda no tipo de “filosofia da hist6ria” praticada por Hegel e Marx. ‘Mas, precisamente porque a historia ndo € uma ciéncia rigorosa, essa hostlidade para com os modos de explicacao organicista e mecanicista parece cexpressar apenas um preconceito por parte do estabelecimento profissional, Se smo apresentam percepgbes de il que no podem ser obtidas pelas estratégias formistas ¢ contextualistas, entdo a exclusio do organicismo ¢ do ‘mecanicismo do cdnone das explicagSes hist6ricas ortodoxas deve basear-se em consideragbes extra-epistemol6gicas. O compromisso com as técnicas disper- sivas do formismo e do contextualismo reflete apenas uma decisao da parte dos historiadores de ndo tentarem o tipo de integragoes de dados que o organicismo © 0 mecanicismo sancionam naturalmente, Essa decisio, por sua vez, parece assentar em opinides pré-criticamente sustentadas acerca da forma que uma ciéncia do homem e da sociedade em de assumir.E por seuturno.essas opinises parecem ser geralmente éticas, ¢ especificamente idcolégicas, por natureza E amitide afirmado, especialmente pelos radicais, que a preferéacia dos historiadores profissionais por estratégias explicativas contextualistas eformistas, ideologicamente motivada. Por exemplo, dizem os marastas que € do interesse dos grupos socials estabelecidos rejeitar os modos mecanicistas de explicagao historica porque a revelagao das les reais da estrutura e do proceso hist6ricas, cexporia a verdadeira natureza do poder desfrutado pelas classes dominantes & suprria 0 conhecimento necessério para desalojar essas classes de suas posighes, 10. Kael Poppet The ey fiero (Lond, 96), p55. ©0000 OFHHOHHHHHHHHHHHHHHHHBHHHHHOKOD 6 navvew wore de privilegioe poder. do interesse dos grupos dominantesafirmam os radicals, caltivar uma concepsio da histéria em que s6 0s eventos individuas e suas relagSes com seus contextos imediatos podem ser conhecidos, ou em que, na melhor das hipSteses, se permite o arranjo dos fstos em frouxastpiicagbes, porque tais concepgées da natureza do conhecimentohisérco se conformam respectivamente com as preconcepgies “individualistas” dos “liberais” ¢ as Preconcepgdes “hierdrquicas” dos “conservadores" Por contrast, os historiadoresliberais também consideram ideologica- mente motivadas as pretonsGcs dos radicals desecberta das lei” dacstrutura do processo histércos. Tass, dis, so em geralapresentadas com vistas, A promover algum programa de transformagio socal, numa diego radical ou Isso impregna de mau cheiro a propria busca das leis da estrutura do process historicos ¢ torna suspeito 0 saber de qualquer historiador que pretenda investiga tis leis. O mesmo se aplica Aquees prineipios pelos quais 0 filsofos idealists da histria intentam expliato “eentida” da histria em sua totalidade, Tals “principios”,insstem os expositores de concepgdes de explicagéo contexualisas, formistas e mecanicists, sio sempre apresentados em apoio a posigbes retr6gradas ou obscurantistas em suas intengbes. Parece haver, de fato, um irredutve! componente ideol6gico em todo relat historico da realidad. sto 6, simplesmente porque a histrig EnGia,Gl ta melhor das pO na protoneoela com elementos ndo- entificas determinéveis em sua consttuigao, a propria afirmacio de se ter perecbido algum tipo de coeréncia formal no registro histrico leva consigo {eorias da natureza do mundo historico e do pr6prio conhecimento hist6rico ‘que contém implicagées idealigicas para as tentativas de compreender “0 presente”, por mals que este “presente” esejadefnido, Dito de outro modo, a prGpria afirmagio de se ter distinguido um murdo passado de um mundo presente de reflexioe préxs sociale de se ter determinado a coeréncia formal daquele mundo passado, implica uma concep¢ao di forma que oconhecimento «do mundo presente tamibém deve tomar, na medida em que € continuo com aqucle mundo passado, O compromisso com uma forma particular de conheci- mento predetermina 0s tos de generalizagies que se pode fazer acerca do ‘mundo presente, os tipos de conhecimento que se pode ter dele, e consequen- temente os tipos de projetos que ¢ licito conceber para mudar esse presente ou para manté-o indefnidamente em sua forma vigent. EXPLICAGAO POR IMPLICACAO IDEOLOGICA Asdimensbesideoldgicas de um relato historia refletem o elemento ético cenvolvido na assuncao pelo historiadr de uma postura pessoal sobre a quest

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