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DOI: 10.1590/1413-812320172212.

25292017 3831

A universalização dos direitos e a promoção da equidade:

ARTIGO ARTICLE
o caso da saúde da população negra

The universalization of rights and the promotion of equity:


the case of the health of the black population

Deivison Mendes Faustino 1

Abstract This article takes the field of “health Resumo Este artigo toma o campo saúde da po-
of the black population” as an object to prob- pulação negra como objeto para problematizar
lematize some tensions and possibilities existing algumas tensões e possibilidades existentes em
around the operationalization of the concepts of torno da operacionalização dos conceitos de uni-
universality and equity in public policies and no versalidade e equidade nas políticas públicas e no
debate about the right to the city. The question debate sobre o direito à cidade. A pergunta que o
that mobilizes it is: how to articulate the search mobiliza é: como articular a busca pela universa-
for the universalization of rights with demands lização dos direitos com as demandas requeridas
mobilized by specific groups in an unequal society. por grupos específicos em uma sociedade desigual.
In order to respond, to approve the debates and Para respondê-la, o autor examina os debates e as
the resistances surrounding the institutionaliza- resistências em torno da institucionalização da
tion of the National Policy of Integral Health of Política Nacional de Saúde Integral da Popula-
the Black Population and its relation with the ção Negra e a sua relação com as prerrogativas do
prerogatives of the Unified Health System. The Sistema Único de Saúde. O resultado é a crítica
result is a critique of the universalization/target- às polarizações universalização/focalização e reco-
ing and recognition/distribution and pointing to nhecimento/distribuição e o apontamento à uma
a dialectical approach. Categories that consider a abordagem dialética dessas categorias que consi-
mediation between singularity, particularity and dere a mediação entre singularidade, particulari-
universality. dade e universalidade.
Key words Universality, Equity, Black popula- Palavras-chave Universalidade, Equidade, Saú-
tion health de da população negra

1
Departamento de Saúde,
Educação e Sociedade,
Universidade Federal de
São Paulo, Campus Baixada
Santista. R. Silva Jardim
lado par/136, Vila Mathias.
11015-020 Santos SP
Brasil.
sdeivison@hotmail.com
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Faustino DM

Introdução tensões. Embora o tema em questão seja exclusi-


vo da área da saúde, as suas relações causais –en-
O interesse do campo da saúde nos assuntos re- quanto determinantes sociais de saúde– estão ex-
lacionados ao direito à cidade justifica-se pela plicitamente ligadas às questões e preocupações
necessidade de observar, refletir e intervir nos as- da literatura voltada ao direito à cidade, especial-
pectos socioculturais da produção da saúde dos mente em suas possiblidades de articulação dos
indivíduos e coletividades, destacando-se, neste conceitos de igualdade, universalidade, diferença
sentido a Declaração de Alma-Ata, produzida e equidade.
em setembro de 1978 na Conferência Interna-
cional sobre Cuidados Primários de Saúde, Re- A política dos conceitos
pública do Cazaquistão (ex-república socialista
soviética); a Primeira Conferência Internacional A preocupação com as determinações eco-
Sobre Promoção da Saúde realizada em novem- nômicas da produção dos espaços urbanos, es-
bro de 1986, em Ottawa, e o movimento “Cidade pecialmente em seus efeitos nefastos à saúde e à
Saudável”, iniciado em Toronto, Canadá. Assim, qualidade de vida das populações ali residentes,
temas como gentrificação, estigmatização terri- tem sido alvo de sistematizada reflexão4,5. Obser-
torial, segregação espacial, mobilidade urbana, va-se que o crescimento e a planificação das cida-
entre outros, oferecem um grande potencial para des foram guiados por lógicas que consideraram,
pensar a saúde de maneira ampliada, sobretudo em última instância, não o desejo e o bem-estar
em contextos de intensa desigualdade social. dos indivíduos e grupos que as compõem, mas,
Desde os primórdios do movimento sanita- sobretudo, pela capacidade social e geográfica
rista, no século XIX, – em um contexto histórico destes espaços concentrarem o excedente pro-
já marcado pela agudização das contradições ur- dutivo. Neste cenário, as possíveis divergências e
banas nos centros capitalistas – já se reconhecia a dissensos presentes no debate localizam-se mais
importância da mobilização de sujeitos e recur- na profilaxia proposta do que no diagnóstico do
sos para o enfrentamento de problemas coletivos problema, ou seja: para uns, a incontornável di-
que afetavam a saúde. Entretanto, é a partir da mensão de classe dos problemas urbanos se re-
segunda metade do século XX que essa percep- solveria dentro de marcos liberais – a partir de
ção se consolida impulsionando a criação de uma determinada regulação social que atue em conso-
série de conceitos, encontros e tratados1, que ele- nância com o “sacralizado” direito à propriedade
gem a cidade, ou pelo menos os conflitos nela e à mais valia – e, para outros, a solução exigiria
presentes, como pressupostos incontornáveis uma revolução emancipatória que pudesse de-
para as reflexões sobre a saúde2. mocratizar o direito de reconstruir o seu espa-
Ao mesmo tempo, as questões próprias ao ço – e a si - segundo as próprias necessidades e
campo da saúde como qualidade de vida, pro- desejos. Em ambos os casos, os diagnósticos, os
moção à saúde, saúde mental, entre outras, tam- debates sobre os direitos individuais e coletivos
bém estão presentes nas reflexões relacionadas à cidade têm nas dimensões econômicas um ele-
ao direito à cidade3, oferecendo incontáveis pos- mento de importância capital.
sibilidades de diálogo. Para além disso, ambos No mesmo caminho, as principais reflexões
os campos trabalham com temas comuns que e reivindicações em torno do direito à saúde
relacionam equidade e populações em situação passam, de maneira incontornável, pelas formas
de vulnerabilidade. Na esteira dessas discussões, com que o Estado e a vida social, em determi-
encontram-se algumas perguntas que merecem nado tempo e espaço, influenciam no direito
destaque. A saber: é possível conciliar a luta pela individual e coletivo à saúde. Se o direito indivi-
universalização dos direitos com a advocacy por dual é visto em termos de liberdade –de decisão
políticas específicas voltadas aos grupos em situ- e acesso às informações e recursos necessários à
ação de vulnerabilidade? Se sim, quais as ques- uma vida saudável –, o direito coletivo à saúde
tões implícitas à essa conciliação? é visto em termos de igualdade não apenas jurí-
Embora a resposta pareça óbvia, as perspec- dica, mas, sobretudo, política e econômica6. Em
tivas políticas e teóricas mobilizadas em torno ambos, entretanto, a preocupação com a pobreza
delas nem sempre são convergentes, apresentan- e a desigualdade social assumiu importância cen-
do algumas tensões que serão objeto de reflexão tral7, em oposição às reivindicações identitárias
desse trabalho. Assim, tomaremos o campo (de que apenas posteriormente ganharam espaço no
estudos e intervenção) saúde da população negra cenário público, especialmente ao longo do sécu-
objeto privilegiado para pensar algumas dessas lo XX. Como exemplificam Marcos Chor Maio e
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Simone Monteiro8, ao se referirem à trajetória do ca da expansão irrestrita dos direitos sociais ao
movimento da Reforma Sanitária: conjunto da sociedade. Esta tendência pode ser
[...] o movimento da Reforma Sanitária, uma exemplificada, no âmbito da saúde, pela a adoção,
espécie de intelligentsia, estaria informado por al- no artigo 196 da Constituição Federal de 1988, da
guns princípios da tradição de esquerda, de corte Universalidade como um princípio fundamental
nacionalista, que veria com estranheza um mundo do Sistema Único de Saúde onde se afirma a “A
movido através de constructos raciais, a saber: 1) saúde é direito de todos e dever do Estado” e o
longa tradição sociológica que opera com a catego- “acesso universal e igualitário às ações e serviços
ria de classe social para tratar as desigualdades so- para sua promoção, proteção e recuperação”12.
ciais; 2) tradições de esquerda cuja utopia socialista Este movimento “teve como função romper a li-
e nacionalista não concebe atores raciais; 3) sensi- nha divisória que existiu ao longo da história da
bilidade moral cujo princípio de justiça identifica saúde no Brasil, na qual havia um direito restrito
na privação absoluta o foco para o qual a sociedade a assistência médica individual, exercido pelos
deve estar mobilizada... trabalhadores que tinham emprego formal e con-
Entretanto, a partir da segunda metade do sé- tribuíam diretamente com a previdência social13.
culo XX, essa embocadura político-teórica – cen- Já a segunda tendência, nomeada na literatu-
trada em torno das determinações econômicas ra como focalização, é entendida como “ação de
da produção e reprodução da vida – foi alvo de concentrar os recursos financeiros disponíveis
intensas críticas e reformulações, quando, então, em uma população definida”14,15. Entre as forças
novos atores políticos passaram a disputar os ter- envolvidas em sua formulação, destaca-se a pre-
mos em torno daquilo que se entendia por direi- sença de um sujeito de difícil enquadramento,
tos. Embora tenha assumido dimensões próprias mas que sempre esteve presente nas disputas em
em cada contexto particular, essa reconfiguração torno das políticas sociais, embora nem sempre
resultou em uma progressiva diversificação dos nomeado: o mercado e os agentes governamen-
atores demandantes e, sobretudo, das reivindi- tais e multilaterais que atuam em seu nome, como
cações e noções de direito, agora mobilizados o Banco Mundial e o Fundo Monetário Interna-
também em termos identitários como gênero, cional. É verdade, quando se analisa o caso das
orientação sexual, raça/etnia, nacionalidades, fai- políticas sanitárias no Brasil, que desde a década
xa etária, entre tantas outras ramificações cada de 1930 o debate sobre a saúde já está atrelado às
vez mais ramificadas o longo do tempo. O pró- perspectivas de regulação entre capital e trabalho
prio debate sobre o direito à saúde se insere neste e as estratégias de construção de um Estado na-
contexto de eclosão de novos movimentos sociais, cional7. Entretanto, o ponto que se quer destacar
não necessariamente centrados a partir das con- aqui é que, pelo menos inicialmente, mesmo nas
tradições de classe9. propostas que traziam a questão da pobreza à
Nancy Fraser classificou essa diversificação tona, o debate hegemônico sobre os Direitos se
como uma tensão entre duas perspectivas dis- apresentavam como alternativa (e contraponto)
tintas: de um lado, a luta pela distribuição dos às forças políticas que centralizavam a contradi-
direitos e dos recursos necessário à sua efetiva- ção entre Capital e Trabalho, objetivando a sua
ção e do outro, de maneira quase inconciliável, superação16. Não obstante, a contradição entre
a luta pelo reconhecimento das diferenças histo- Capital e Trabalho tendia a ser substituída por
ricamente desvalorizadas. Enquanto a primeira, uma polarização entre Estado e Sociedade Civil.
foca principalmente o combate às injustiças e A problematização a respeito do mercado
desigualdades econômicas e políticas, advogando nem sempre teve destaque nos debates sobre di-
pela dissolução das diferenças sociais, a segunda reitos porque, pelo menos inicialmente, as pers-
toma as diferenças socialmente presumidas, não pectivas políticas (inicialmente liberais) que os
para propor a sua supressão mas, ao contrário, orientavam, privilegiavam a tensão entre Estado
para afirma-las e positiva-las em suas diferenças e Sociedade Civil, ora desconsiderando as cisões
supostamente específicas10,11. e contradições inerentes à esfera econômica, ora
A essa divergência observada por Fraser, apostando na disputa pela edificação de um Es-
agrega-se uma outra com igual potencial de ten- tado provedor das carências sociais. Entretanto,
são, a saber: à polaridade entre a universalização as últimas décadas do século XX foram marca-
e a focalização das políticas públicas7. A primeira das por uma dupla inversão desse quadro. De
tendência – adotada tanto pelo movimento da um lado, a crise estrutural do capitalismo17 resul-
Reforma Sanitária quanto pelo movimento de tou, no plano político, na advocacy intransigen-
defesa do direito à cidade – é pautada pela bus- te – protagonizada por um conjunto de forças e
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agências multilaterais que atuam em seu benefí- universalização, mas, ao mesmo tempo, sensível
cio – da dissolução do já frágil Welfare State. Para à existência de características específicas na po-
estes, as desigualdades sociais de toda ordem fo- pulação. O princípio da equidade, presente no
ram tomadas como realidades imutáveis que im- texto do Sistema Único de Saúde, expressa bem
pediriam a universalização dos direitos, restando, essa busca19.
portanto, atuar apenas nos pontos mais críticos Para dar conta dessa particularidade, Amélia
do sistema: Cohn distingue focalização das políticas – como
A noção de ‘focalização’ traduz o entendimento propostas pelo Banco Mundial em seu franco
de que diante do contingenciamento e da limitada confronto ao Estado como provedor de direitos
disponibilidade de recursos financeiros para aten- – da existência de Programas específicos – que
der as demandas infinitas por serviços e benefícios reconheçam as disparidades em saúde – voltados
sociais, inclusive estabelecendo a clássica relação à universalização do acesso7. Ainda assim, a des-
custo-benefício, o Estado deve priorizar e direcio- peito do grande pacto social que possibilitou a
nar a sua ação, no âmbito das políticas sociais, para emergência do Sistema Único de Saúde no final
as camadas mais desfavorecidas da população15. da década de 1980 e início dos anos noventa, os
A partir deste ponto, quando se observa de anos seguintes foram marcados por sucessivos
forma mais detida as propostas de focalização, ataques a essa perspectiva, sobretudo no que tan-
os possíveis dissensos em seu interior giram em ge ao financiamento e à organização do sistema13.
torno das definições a respeito de quais os cri- O ponto que pretendo problematizar a esta
térios para definir os grupos desfavorecidos, e altura é: em que medida a agência de grupos
portanto, sujeitos a serem priorizados nas, cada identitários em torno da defesa do direito à ci-
vez mais escassas, ações governamentais. Esse dade ou à saúde se relaciona com as polaridades
movimento, esteve, em grande medida atrelado já mencionadas? E me refiro aqui tanto à polari-
à uma orientação ideológica –neoliberal– que dade entre reconhecimento e distribuição quanto
objetivava o desmantelamento do Estado de Bem à polaridade entre universalização e focalização.
-Estar Social, estruturado nas décadas anteriores Mais do que isso, até que ponto podemos pensar
nos países capitalistas centrais e em alguns países essas tendências como polares e em que medi-
periféricos. da essa reflexão pode contribuir para a “velha” e
No outro polo, a crise das esquerdas18 – in- tão atual busca pela universalização dos direitos
fluenciadas sobremaneira pela divulgação dos sociais? Em que medida a polaridade entre reco-
crimes de Stalin e posteriormente pela queda do nhecimento e distribuição se traduzem na tensão
Muro de Berlin, mas, sobretudo, pela incapacida- entre universalidade versus focalização das po-
de destas forças responderem às alterações estru- líticas de saúde? Na impossibilidade de elaborar
turais que se propunham enfrentar – resultou em juízos mais gerais sobre o estado da arte de todo
uma guinada político-teórica que passou a iden- o setor saúde, focarei a atenção em um campo de
tificar a busca pela universalização dos direitos, investigação e intervenção nomeado como Saúde
como sinônimo – ou pelo menos, substituto – da da população negra.
busca pela emancipação social16. Como resultado,
tem-se já na virada do milênio uma polaridade Os conceitos da política: o campo saúde
em jogo no debate político, que vai da defesa da da população negra em questão
focalização à universalização das políticas sociais.
A primeira, defendida pelo próprio mercado, “A saúde da mulher negra não é uma área de
vislumbrando a substituição da lógica do direi- conhecimento ou um campo relevante nas Ciên-
to pela da mercadoria; e a segunda, amplamente cias da Saúde”. Assim inicia-se um artigo cientí-
presente entre os formuladores da Reforma Sani- fico recentemente publicado por uma das mais
tária, defendida como símbolo emancipador ou, importantes intelectuais e ativistas defensoras do
pelo menos, de justiça social. Sistema Único de Saúde, e continua:
O curioso, quando se observa o caso brasilei- “É inexpressiva a produção de conhecimen-
ro, é que o advento do Sistema Único de Saúde to cientifico nessa área e o tema não participa
no final da década de 1980 – em sua afirmação da do currículo dos diferentes cursos de gradu-
saúde como um direito universal – veio na con- ação e pós-graduação em saúde, com raríssi-
tramão desse movimento mundial de desmonte mas exceções. Trata-se de assunto vago que, na
do Estado, ao apontar exatamente para o dever maior parte dos casos, é ignorado pela maioria
do Estado em prover os direitos. O resultado foi de pesquisadoras e pesquisadores, estudantes e
a estruturação de uma reforma orientada para a profissionais de saúde no Brasil20.
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Desde o seu “aparecimento” junto ao setor giados como o Conselho Nacional de Secretarias
saúde, o campo nomeado como Saúde da po- Municipais de Saúde - CONASEMS, Conselho
pulação negra enfrenta pelo menos três desafios Nacional de Secretários de Saúde-CONASS, e
que são caros ao escopo deste artigo. O primeiro outros movimentos sociais vinculados à saúde,
está relacionado às próprias aspas utilizadas na que resultou na aprovação, em 2006, no Conse-
palavra aparecimento, pois embora a literatura lho Nacional de Saúde-CNS, da Política Nacional
especializada em saúde não tenha se familiari- de Saúde Integral da População Negra–PNSIPN.
zado completamente com esse debate, é mister Essa Política, aprovada na Tripartite, em 2008, e
lembrar que o nosso país foi largamente influen- publicada pela Portaria 992, em 2009, apresen-
ciado pelas diversas culturas trazidas pelos povos ta como marca o reconhecimento do racismo,
africanos. A coletânea “Religiões Afro-brasileiras, das desigualdades étnico-raciais e do racismo
Políticas de Saúde e a Resposta à Epidemia de institucional como determinantes sociais e con-
HIV/Aids”, organizada por Celso Ricardo et. al, dições de saúde, com vistas à promoção da equi-
é bastante didática ao evidenciar que o maior se- dade em saúde, e o reconhecimento, por parte do
questro coletivo da história resultou, não apenas Ministério da Saúde, de que as condições de vida
na importação compulsória de mão de obra, mas da população negra impactam o processo saúde,
também na recepção –nem sempre assumida– de doença e morte.
um infinito repertório de saberes, práticas e téc- Entretanto, o que parecia ser o fluxo “normal”
nicas de trabalho, sobretudo em saúde. de qualquer Política criada no âmbito do Sistema
O segundo desafio, de caráter mais político e Único de Saúde revelou-se uma grande frustra-
programático, está relacionado às dificuldades de ção para os diversos sujeitos envolvidos em sua
institucionalização do campo saúde da população formulação. O emprego do termo “normal” nes-
negra, tanto em termos acadêmicos quanto de po- se trecho não ignora que a simples formalização
líticos. Embora não seja possível neste espaço re- de uma política não significa, necessariamente,
tomar o rico histórico de consolidação deste tema nem a sua concretização enquanto processo de
na agenda pública do Sistema Único de Saúde, é implementação e nem o seu sucesso em termos
válido mencionar que o movimento negro esteve de resultados esperados. Pelo contrário, a própria
presente em importantes momentos de luta pela consolidação do Sistema Único de Saúde, como
Reforma Sanitária21,22 e que as primeiras experi- uma política governamental voltada à garantia
ências governamentais com foco na saúde da po- da saúde como um direito, implica um pacto
pulação negra datam da década de 1980, quando social ainda em disputa. Logo de início, a PN-
então algumas prefeituras incorporaram certas SIPN – desenhada prioritariamente como políti-
demandas do movimento negro -principalmente ca transversal, ou seja, a aposta na incorporação
do movimento de mulheres negras. do combate ao racismo institucional e adoção
Entretanto, é somente após a mobilização na- de indicadores de processo e resultado desagre-
cional em torno da III Conferência Internacional gados por raça nas demais Políticas e Programas
contra o Racismo, Homofobia e as Intolerâncias do Ministério da Saúde23 – deparou-se com uma
Correlatas, realizada em 2001, em Durban, África resistência institucional à sua efetivação. Essa re-
do Sul, e a resultante criação, em 2003, da Secre- sistência se deu tanto pelo desconhecimento da
taria Especial para a Promoção da Igualdade Ra- Política por parte de gestores e profissionais de
cial, que o Ministério da Saúde criou um Comitê saúde nos três níveis de gestão do SUS, quanto
Técnico de Saúde da População Negra, com o pela não incorporação das ações, indicadores e
objetivo de promover a equidade racial em saú- metas previstos em seu Plano Operativo, – por
de. É verdade que essa mobilização só foi possível outras políticas e programas do Ministério da
mediante um histórico de articulações, estudos Saúde24.
e advocacy que remontam às décadas e governos Para Estela Maria Cunha25, essa resistência
anteriores. Mas neste contexto, as articulações pode ser explicada pelo conceito de Racismo ins-
avançaram rapidamente para o reconhecimento titucional, configurando-se como a dificuldade
institucional de um conjunto de disparidades ou impossibilidade das instituições públicas –
raciais em saúde e, consequentemente, na pac- especialmente aquelas voltadas à promoção de
tuação de uma resposta programática ao cenário direitos sociais- responderem efetivamente às de-
identificado. sigualdades raciais. De acordo com Jurema Wer-
Em consequência, observa-se um conjunto neck, o conceito de racismo institucional guarda
de diálogos entre gestores executivos do Minis- relações com o conceito de vulnerabilidade pro-
tério da Saúde, bem como outros órgãos cole- gramática, uma vez que “desloca-se da dimensão
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individual e instaura a dimensão estrutural, cor- mação dos conflitos raciais na sociedade brasilei-
respondendo a formas organizativas, políticas, ra – acrescida pela histórica ausência de negros
práticas e normas que resultam em tratamentos ou mesmo brancos solidários à luta antirracista
e resultados desiguais. É também denominado em espaços de poder do Setor Saúde, seja na pro-
racismo sistêmico e garante a exclusão seletiva dução e validação de conhecimento científico em
dos grupos racialmente subordinados, atuando saúde, seja na gestão e funcionamento do SUS,
como alavanca importante da exclusão diferen- resultam no já denunciado quadro de Racismo
ciada de diferentes sujeitos nesses grupos”20. Esse Institucional.
problema, sustenta a autora, é alimentado tanto Entretanto, como veremos a seguir, há um
pela crença na ausência de racismo na sociedade outro elemento que deve ser analisado em sua re-
brasileira, quanto no desconhecimento de suas lação e potencialização do racismo institucional,
influências negativas sobre a saúde das pessoas. a saber: uma frequente simplificação no trato de
Neste momento, entramos no terceiro desafio categorias que relacionam igualdade, diferença,
enfrentado pela referida política: a existência de singularidade, particularidade e universalidade
posições abertamente contrárias à existência do humana, sobretudo, quando aplicadas ao campo
campo Saúde da população negra e aos “riscos” político institucional.
que ela supostamente representaria8,26-30.
Os argumentos teóricos contrários ao campo Desembolando o caminho
da saúde da população negra podem ser resumi-
dos nos seguintes tópicos: Em um estudo que investiga os dilemas re-
 1. discordância quanto a validade do uso lacionados aos espaços institucionais de controle
científico e/ou político do conceito de raça social das políticas de saúde, como o Conselho
 2. crítica ao que seria a importação co- Nacional de Saúde, Amélia Cohn e Yasmin Lilla
lonial da birracialidade estadunidense (branco/ Bujdoso36 questionam até que ponto estas instân-
negro) ao contexto brasileiro cias têm se configurado como espaços de articu-
 3. discordância quanto às influências do lação geral de interesses diversos ou, ao contrário,
racismo na saúde e a defesa da centralidade das resumidos à disputa de interesses particulares dos
questões econômicas como determinantes das múltiplos segmentos ali representados. Assim,
condições de saúde chamam a atenção para o risco de fragmentação
 4. classificação do campo saúde da po- implícito à emergência e disputa de interesses de
pulação negra como política de focalização, em sujeitos diversos no cenário político. Como ar-
suposta consonância com as forças políticas e gumentam, é válido observar em cada realidade
econômicas que atentam contra a busca pela uni- concreta:
versalização do direito à saúde. Até que ponto essas novas práticas não sig-
Não há espaço nem necessidade de discutir nificariam o enfraquecimento do sistema político,
aqui cada um desses tópicos, uma vez que eles uma vez que a emergência e a generalização dos
foram suficientemente problematizados e con- movimentos sociais e da participação nos conselhos
frontados por uma importante literatura sub- de gestão constroem identidades sociais no âmbito
sequente20,25,31-34. O que importa destacar é o restrito de demandas sociais específicas, e não no da
quanto a polêmica em torno do campo saúde da coletividade?36
população negra remete às tensões descritas na Em termos rousseaunianos, esses “particula-
primeira seção deste artigo. De um lado, a tensão rismos generalizados” de que falam as autoras,
entre reconhecimento e distribuição, traduzida significariam a substituição da “vontade geral”
na disputa pelos elementos a serem considerados – pautada pela articulação de interesses particu-
centrais como determinantes sociais de saúde, e, lares em direção ao bem-estar geral e à conserva-
do outro lado, na tensão entre universalização e ção do comum - pela “vontade em geral”, como
focalização das políticas, expressa na discussão a impossibilidade dessa articulação37. Entretanto,
sobre a necessidade ou não de uma política de nem as autoras supracitadas, nem mesmo o pró-
ação afirmativa nos marcos do Sistema Único de prio Rousseau, apresentam o problema em ter-
Saúde. mos de antagonismo entre particularidade e uni-
Essas tensões, acredito, explicam-se em parte versalidade, mas sim como desafios concretos às
pelo flagrante desconhecimento e/ou desconsi- possibilidades de articulação desses polos em um
deração do racismo como determinante social de cenário pautado pela busca da democratização
saúde20,35. A ainda hegemônica crença no mito da do acesso e universalização do direito à saúde.
democracia racial em sua incontornável subesti- O mesmo não se pode dizer das vertentes
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contrárias à existência do campo saúde da po- cado de serviços de saúde e na própria estrutura
pulação negra que, além de classificarem equi- dos equipamentos públicos estatais: de um lado, as
vocadamente o campo saúde da população negra isenções fiscais e formas de subsídios para prestado-
como esforço de “racialização das políticas de res privados de serviços de saúde, que têm acesso a
saúde”, em consonância com exigências globais eles porque “prestam serviços de relevância para o
(neoliberais) de focalização, e de negarem-se a SUS”; de outro, as entidades filantrópicas que pas-
reconhecer o racismo como um determinan- sam a oferecer serviços privados típicos do mercado
te social de saúde20, atribuem ao campo –e não ou, ainda, os serviços públicos estatais de saúde que
aquilo que o campo propõe superar – o peso de passam a contratar entes privados “de relevância
distanciar-se da tradição representada pela Re- pública e social” para a gestão direta dos equipa-
forma Sanitária em seu esforço de universaliza- mentos de saúde.
ção de direitos. Em outras palavras, a categoria Mas, se a consideração da diversidade invia-
Universal, é tomada –neste enquadramento- não bilizasse a universalização, seria necessário ques-
como síntese das diversas particularidades que a tionar se o conjunto de sujeitos e políticas já mo-
compõe, mas sim como seu polo antitético, de bilizados em torno da equidade em saúde e não
forma que a afirmação de uma implicaria a ne- apenas aquelas voltadas à promoção da equidade
gação da outra. racial, sob o risco de assumir que o incômodo re-
Do mesmo modo, para retomar a polaridade latado não é a perspectiva da equidade –e nem
observada por Nancy Fraser, as disputas e nego- com o risco da focalização neoliberal- e sim, a
ciações pela efetivação dos direitos são apresen- tentativa de alcançar a equidade racial. O próprio
tadas como tensão ao invés de articulação entre Sistema Único de Saúde, em sua noção de “con-
reconhecimento e distribuição. Ocorre que aqui, ceito ampliado de saúde”, apresenta o princípio
apressa-se em tomar partido do polo que julgam da equidade – e também integralidade– ao lado
legitimo representante do movimento sanitarista: do princípio da universalidade, e não como con-
O movimento da Reforma Sanitária, calcado traponto38.
no tripé universalidade, integralidade e gratu-
idade, conforme inscrito na Constituição Federal,
concebe a saúde como um direito universal de ci- Conclusão
dadania. Com todos os percalços existentes no cam-
po da saúde pública no país, existe um consenso de O itinerário aqui trilhado permite sugerir que se
que a reforma da saúde é um dos mais bem-suce- a agência dos grupos de interesses diversos for
didos projetos políticos de incorporação dos setores analisada a partir de uma episteme binária, res-
populares, segmentos esses com expressiva presença tará apenas a escolha entre a afirmação de uma
de negros8. particularidade totalizante, cega aos interesses
Essa apreensão binária da realidade social não comuns que a cercam ou a negação dessas par-
é exclusividade das perspectivas que advogam a ticularidades em nome de um objetivo pseudo-
distribuição ou a universalização do acesso, mas comum –como a universalização do acesso– que
também está presente em seus opostos, repre- nem sempre é capaz, por si, de abranger a di-
sentados pelos diversos movimentos identitários versidade a ela implícita. Em outras palavras, se
onde pode se incluir aí o movimento negro pela quisermos pensar o campo saúde da população
saúde. Não apenas esses movimentos pautados negra nos termos dos seus críticos, teríamos que
pelas políticas de reconhecimento, mas também ignorar os indicadores existentes em nome de
os diversos segmentos mobilizados em torno da uma universalidade abstrata que se cala a respeito
distribuição equitativa dos recursos econômicos das disparidades raciais em saúde.
estão sujeitos a priorizar uma parte da realidade O próprio Rousseau, já apontava para essa
social em detrimento do todo, ou pior, totalizar questão quando argumentava pela vontade geral
discursivamente a parte que lhes dizem respeito, –enquanto universalidade– como articulação –e
rivalizando com outros segmentos pela priorida- não oposição- das necessidades e interesses par-
de das políticas. Como observam Cohn e Bujdo- ticulares37. Se isso não resolve o risco da fragmen-
so36: tação, apontado por Cohn e Bujdoso36 e Cohn39,
Esses processos e dinâmicas acabam por em- pelo menos não advoga pela invisibilidade da di-
baçar os limites entre a esfera pública e privada versidade existente no campo social. No mesmo
da vida social, tal como estão embaçados e em- caminho, Nancy Fraser10,11 e Boaventura Santos16
baralhados os limites entre o que é uma institu- argumentam pela necessidade de superar “falsa
ição pública e uma instituição privada, no mer- antítese” entre reconhecimento e distribuição em
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direção à um conceito mais abrangente de justi- está mais para a articulação entre programas es-
ça que articule os elementos emancipatórios de pecíficos regidos pela diretriz da universalidade
ambas as tendências. É nesse contexto que o so- de direitos do que pela ideia de focalização de-
ciólogo português afirma “temos o direito de ser fendida pelo mercado, indo na contramão da-
iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e quilo que prorrogava o neoliberalismo7. O que
temos o direito de ser diferentes quando a nossa o campo saúde da população negra apresenta
igualdade nos descaracteriza”. como reivindicação – em consonância com essa
Por fim, a classificação do campo saúde da noção ampliada de justiça social que articula re-
população negra como política focalizada, su- conhecimento e distribuição – é a possibilidade
postamente consonante com as prerrogativas de enfrentar as inequidades raciais em consonân-
neoliberais e em confronto à universalização, só cia com a busca pela universalização do direito
faria sentido se desconsiderássemos em primeiro à saúde.
lugar as prerrogativas implícitas ao próprio cam- O mesmo se pode pensar a respeito do direito
po. A própria Política Nacional de Saúde Integral à cidade. A tão desejada liberdade de construir e
da População Negra–PNSIPN, em sua perspecti- reconstruir a cidade e a nós mesmos como um
va de transversalidade, depende unilateralmente bem precioso5 – fato indispensável à qualidade de
do fortalecimento progressivo do Sistema Único vida das pessoas – passa também pelo reconheci-
de Saúde para se viabilizar. Como explica Luiz mento integral dos sujeitos que a compõem em
Eduardo Batista et al.34: suas mais diversas diferenças e particularidades,
Política Nacional de Saúde Integral da Pop- mas, sobretudo, pelo reconhecimento dos pro-
ulação Negra-PNSIPN40, quando articulada no cessos pelos quais essas diferenças se convertem
interior do SUS, não significa focalização nos em desigualdade, pois como argumentava o filo-
termos definidos após 1990. A especificidade da sofo húngaro George Lukacs:
PNSIPN busca complementar, aperfeiçoar e vi- A totalidade como uno, como unidade sintéti-
abilizar a política universal no âmbito da saúde ca do diverso, como um momento da totalização, é
pública, utilizando seus instrumentos de gestão e também múltipla, pois possui como uma de suas
observando as especificidades do processo saúde- faces os diferentes níveis de entendimento do real.
doença da população negra no Brasil. A totalidade congrega o singular, o particular e o
Em segundo lugar, a particularidade histó- universal (Lukacs, apud. Bernardes41).
rica de emergência do Sistema Único de Saúde
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Ciência & Saúde Coletiva, 22(12):3831-3840, 2017


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Artigo apresentado em 30/06/2017


Aprovado em 04/09/2017
Versão final apresentada em 06/09/2017

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