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H. P. Blavatsky - Ísis Sem Véu - 2. Fenômenos e Forças PDF
H. P. Blavatsky - Ísis Sem Véu - 2. Fenômenos e Forças PDF
BLAVATSKY
ÍSIS SEM
VÉU
FENÔMENOS E FORÇAS
VOLUME I
UNIVERSALISMO
2. FENÔMENOS E FORÇAS
“Mas por que deveriam alterar-se as operações da Natureza? É possível que exista
uma filosofia mais profunda do que aquela com que sonhamos – uma filosofia que
descobre os segredos da Natureza, porém que não altera, penetrando-os, a sua
marcha.”
BULWER-LYTTON.
O SERVILISMO DA SOCIEDADE
Basta ao homem saber que ele existe? Basta que se forme um ser humano
para que mereça o nome de HOMEM? É nossa firme opinião e convicção de
que para ser uma genuína entidade espiritual, na verdadeira acepção da
palavra, o homem deve inicialmente, por assim dizer, criar-se de novo – isto é,
eliminar por completo de sua mente e de seu espírito não só a influência
dominante do egoísmo e de outras impurezas, mas também a infecção da
superstição e do preconceito. O preconceito difere bastante do que comumente
chamamos antipatia. No princípio, somos irresistível e energicamente
arrastados à sua roda negra pela influência peculiar, pela poderosa corrente de
magnetismo que emana tanto das idéias como dos corpos físicos. Somos
cercados por ela, e finalmente impedidos pela covardia moral – pelo medo da
opinião pública – de escapar-lhe. É raro os homens considerarem uma coisa
sob o seu verdadeiro ou falso aspecto, aceitando a conclusão por um ato livre
do seu próprio julgamento. Muito ao contrário. Por via de regra, a conclusão
procede da cega adoção do modo de ver que predomina momentaneamente
entre aqueles com quem se associam. Um paroquiano não pagará um preço
absurdamente alto por seu banco de igreja, nem um materialista irá duas vezes
ouvir as palestras do Sr. Huxley sobre a evolução porque pensam que é correto
fazê-lo; mas apenas porque o Sr. e a Sra. Fulano o fizeram, e tais pessoas são
da grei dos FULANOS.
* Esse dito latino está citado na Historical Description of the Island of Britayne, 1577, livro III,
cap. 3 de Wm. Harrison, e em Euphues, 1578, de John Lyly, onde está erroneamente atribuído
a Ovídio. Um segundo verso lhe é às vezes acrescentado: astra regunt homines, sed regit astra
Deus. O significado de ambos os versos é: os tempos mudam e nós mudamos com eles; as
estrelas governam os homens, mas Deus governa as estrelas.
Uma forma algo alterada, a saber, omnia mutantur, nos et mutamur in illis, foi atribuída a
Matthias Borbonius (Bourbon), por volta de 1612, e supõe-se ter sido pronunciada pelo
imperador romano Lotário I (795-855). (N. do Org.)
1. [Cf. Collected Writings, vol. I, p. 91, 94, 120, 204, 210-11, 212-13.]
“A prova num caso assim”, diz ele, “será, de acordo com as condições da
presente vida, para sempre inacessível. Ela está completamente fora do âmbito
da experiência. Por abundante que seja, não podemos esperar encontrá-la. E,
por conseguinte, nosso fracasso em produzi-la não deve suscitar a menor
presunção contra a nossa teoria. Assim concebida, a crença na vida futura não
tem base científica, mas ao mesmo tempo ela está situada além da
necessidade da base científica e do âmbito da crítica científica. É uma crença
que nenhum progresso futuro imaginável da investigação física pode de algum
modo impugnar. É uma crença que não é em nenhum sentido irracional, e que
pode ser logicamente sustentada sem afetar, por pouco que seja, os hábitos
científicos de nossa mente, ou influenciar as nossas conclusões científicas”2.
“Por outro lado”, continua, “se os homens da Ciência aceitarem o ponto de vista
de que o espírito não é matéria, nem é governado pelas leis da matéria, e se
abstiverem das especulações a seu respeito, restringindo-se ao conhecimento
das coisas materiais, eles suprimirão o que para os homens religiosos é no
presente a sua principal causa de excitação.”
Mas não farão tal coisa. Eles se sentem exasperados com a brava, leal e
altamente louvável rendição de um homem como Wallace, e recusam aceitar
até mesmo a política prudente e restritiva do Sr. Crookes.
4. W. Crookes, op. cit., “Some Further Experiments on Psychic Force”, p. 25, citando Faraday.
“Um pontapé de ti, ó Júpiter, é doce!”, diz o poeta Tretiakovsky, numa antiga
tragédia russa. Por mais rudes que esses Júpiteres da ciência possam
ocasionalmente ser contra nós, crédulos mortais, sua vasta erudição – em
questões menos abstrusas, acreditamos –, senão as suas maneiras, merece o
respeito público. Mas infelizmente não são os deuses que gritam mais forte.
Eles deveriam ter aprendido, por sua vez, na escola da amarga experiência,
que podem confiar na auto-suficiência das ciências positivas apenas até um
certo ponto; e que, enquanto um único mistério inexplicado existir na Natureza,
lhes é perigoso pronunciar a palavra “impossível”.
São as seguintes:
“Sexta Teoria. – As ações de uma ordem distinta de seres que vivem nesta
Terra mas são invisíveis e imateriais para nós. Capazes, contudo,
ocasionalmente, de manifestar a sua presença. Conhecidos em quase todos os
países e épocas como demônios (não necessariamente maus), gnomos, fadas,
kobolds, elfos, duendes, Puck, etc. [Uma das opiniões dos cabalistas.]
Podemos ver quão sujeita está a erros mesmo uma opinião científica, apenas
se compararmos os vários artigos sobre os fenômenos espiritistas, oriundos da
hábil pena de certo cavalheiro, que apareceram de 1870 a 1875. Lemos num
dos primeiros: “(...) o emprego contínuo de métodos científicos promoverá
observações exatas e um respeito maior pela Verdade entre os pesquisadores,
e produzirá uma raça de observadores que lançarão o desprezível resíduo do
espiritismo no limbo desconhecido da Magia e da necromancia”10. E em 1875,
nós lemos, acima de sua própria assinatura, minuciosas e muito interessantes
descrições de um espírito materializado – Katie King!11
É difícil imaginar que o Sr. Crookes tenha estado sob influência eletrobiológica
ou sob alucinação durante dois ou três anos consecutivos. O “espírito”
apareceu em sua própria casa, em sua biblioteca, sob os mais severos testes,
e foi visto, apalpado e ouvido por centenas de pessoas.
Mas o Sr. Crookes nega jamais ter tomado Katie King por um espírito
desencarnado. O que era ela então? Se não era a Srta. Florence Cook, e a sua
palavra é uma garantia suficiente para nós – então era o espírito de alguém
que viveu na Terra ou de um daqueles que se classificam diretamente na sexta
teoria das oito que o eminente cientista oferece à escolha do público. Seria um
dos seres classificados sob os nomes de: fadas, kobolds, gnomos, elfos,
duendes, ou um puck.
Sim; Katie King deve ter sido uma fada – uma titânia. Pois só a uma fada
poderia aplicar-se com propriedade a seguinte efusão poética que o Sr.
Crookes cita para descrever este maravilhoso espírito:
12. Ibid., p. 100. [Byron, Don Juan, canto III, estrofe 74.]
Assim, após ter escrito, em 1870, a sua severa sentença contra o Espiritismo e
a Magia, após ter mesmo dito então que ele acreditava “que tudo não passa de
superstição, ou, pelo menos, de um truque inexplicado – uma ilusão dos
sentidos”, o Sr. Crookes, em 1875, fecha sua carta com as seguintes
memoráveis palavras: – “Imaginar, digo, que a Katie King dos três últimos anos
possa ser o resultado de uma impostura constitui uma violência maior para a
razão e o senso comum do que acreditar que ela é o que pretende ser”13. Esta
última observação, por outro lado, prova conclusivamente que: 1. Apesar da
firme convicção do Sr. Crookes de que o alguém que se chamava Katie King
não era nem um médium nem algum cúmplice, mas, ao contrário, uma força
desconhecida da Natureza, que – como o amor – “ri-se dos obstáculos”; 2. Que
era uma espécie de Força ainda não identificada, embora para ele se tenha
tornado “não uma questão de opinião, mas de conhecimento absoluto”. O
eminente investigador não abandonou até o fim a sua atitude cética a respeito
da questão. Em suma, ele acreditava firmemente no fenômeno, mas não podia
aceitar a idéia de que se tratava do espírito humano de alguém morto.
13. Ibid., p. 112.
AS ARTES PERDIDAS
Parece-nos que, até onde vai o preconceito púbico, o Sr. Crookes soluciona um
mistério para criar um outro ainda mais profundo: o obscurum per obscurius.
Em outras palavras, rejeitando “o indigno resíduo do Espiritismo”, o corajoso
cientista arroja-se intrepidamente no seu próprio “limbo desconhecido da Magia
e da necromancia!”.
Seu procedimento tem sido tão insensato quanto o do homem que tentasse
descobrir as nascentes de um rio explorando a sua desembocadura. As suas
concepções sobre as possiblidades da lei natural são tão limitadas que eles se
viram obrigados a negar que as formas mais simples dos fenômenos ocultos
podem ocorrer, a menos que os milagres sejam possíveis; e como isso é um
absurdo científico, o resultado foi que a ciência física tem ultimamente perdido
o seu prestígio. Se os cientistas estudassem os chamados “milagres” em lugar
de negá-los, muitas leis secretas da Natureza – que os antigos compreendiam
– seriam novamente descobertas. “A certeza”, diz Bacon, “não provém dos
argumentos, mas das experiências”.
A fabricação de uma taça de vidro que foi trazida a Roma por um exilado no
reino de Tibério – uma taça “que ele atirou no passeio de mármore e não
trincou nem quebrou com a queda”, e que, por ter ficado “um pouco amolgada”,
foi facilmente restaurada com um martelo – é um fato histórico14. Se hoje se
duvida disso é simplesmente porque os modernos não sabem fazer o mesmo.
Entretanto, na Samarcanda e em alguns mosteiros do Tibete, tais taças e
outros artigos de vidro ainda podem ser encontrados; mais ainda, há pessoas
que afirmam poderem fazer o mesmo graças ao seu conhecimento do assaz
ridicularizado e sempre duvidado alkahest – o solvente universal. Paracelso e
Van Helmont sustentam ser este agente algum fluido da Natureza, “capaz de
reduzir todos os corpos sublunares, homogêneos ou mistos, ao seu ens
primum, ou à matéria original de que são compostos; ou ao seu licor uniforme,
estável e potável, que unirá com a água, e os sucos de todos os corpos, sem
perder as suas virtudes radicais; e, se misturado novamente com ele mesmo,
será assim convertido em água pura elementar”15: Que impossibilidades nos
impedirão de acreditar nessa afirmação? Por que não deveria existir este
agente e por que se deveria considerar utópica esta idéia? É novamente
porque os nossos modernos químicos são incapazes de produzi-lo? Mas pode-
se facilmente conceber, sem qualquer grande esforço de imaginação, que
todos os corpos devem ter sido originalmente formados de alguma matéria
primeira, e que esta matéria, segundo as lições da Astronomia, da Geologia e
da Física, deve ter sido um fluido. Por que o ouro – cuja gênese os nossos
cientistas conhecem tão pouco – não teria sido originalmente uma matéria de
ouro primitiva ou básica, um fluido ponderoso que, como diz Van Helmont,
“devido à sua própria natureza, ou a uma forte coesão entre as suas partículas,
adquiriu mais tarde uma forma sólida?”16 Parece haver pouco absurdo em se
acreditar num “ens universal que transforma todos os corpos em seu ens
genitale”, Van Helmont chama-o “o maior e o mais eficaz de todos os sais, o
qual, tendo obtido o grau supremo de simplicidade, pureza e sutileza, goza
sozinho da faculdade de permanecer inalterado e ileso no contato com as
substâncias sobre as quais age, e de dissolver os corpos mais duros e mais
refratários, como pedras, gemas, vidro, terra, enxofre, metais, etc., num sal
vermelho, de peso igual ao da matéria dissolvida; e isso tão facilmente como a
água quente derrete a neve”17.
15. [Van Helmont, Ortus medicinae, seção “Ignota actio regiminis”, § 11.]
22. Kemshead diz em sua Química inorgânica que “o elemento hidrogênio foi mencionado pela
primeira vez por Paracelso no século XVI, mas pouco se sabia a seu respeito” (p.66). E por que
não ser sincero e confessar em seguida de uma vez que Paracelso foi o redescobridor do
hidrogênio, como foi o redescobridor das propriedades ocultas do ímã e do magnetismo
animal? É fácil mostrar que, de acordo com os votos rigorosos de silêncio mantidos e fielmente
observados por todos os Rosa-cruzes (e especialmente pelos alquimistas), ele manteve
secreto o seu conhecimento. Talvez não se revelasse uma tarefa muito difícil para qualquer
químico versado nas obras de Paracelso demonstrar que o oxigênio, cuja descoberta é
creditada a Priestley, era tão bem-conhecido pelos alquimistas rosa-cruzes quanto o
hidrogênio.
Concedemos de bom grado aos céticos que metade, ou talvez mais, desses
supostos fenômenos não passam de fraudes mais ou menos hábeis. As
recentes revelações, especialmente dos médiuns “materializados”, apenas
comprovam este fato. Inquestionavelmente, numerosos outros ainda estão por
vir, e isso continuará até que os testes se tornem tão perfeitos e os espiritistas
tão razoáveis de modo a não dar mais oportunidade aos médiuns ou armas aos
seus adversários.
23. “Carta a J. Glanvill, capelão do rei e membro da Sociedade Real.” Glanvill era o autor da
renomada obra sobre Aparições e Demonologia intitulada Sadducismus Triumphatus; or Full
and Plain Evidence concerning Witches and Apparitions, em três partes, “que demonstra em
parte com as Escrituras, em parte com uma coleção escolhida dos relatos modernos, a
existência real das aparições, espíritos e feiticeiras”. – Londres, 1681. [A carta do Dr. More foi
publicada nesta obra.]
26. Ver Movers, Die Phönizier, I, 268. [Proclus sobre Parmênides, V; cf. Cory, Anc. Fragm.,
1832, p. 247-48.]
Estas idéias estão longe de ser novas, e mesmo para Platão elas não eram
originais. Eis o que lemos nos Oráculos Caldeus27: “As obras da Natureza
coexistem com a Luz espiritual e intelectual νοερώ do Pai. Pois ela é a alma
υστή que adornou o grande céu e que o adorna depois do Pai”.
Essas idéias corroboram o que dissemos a respeito dos vários nomes dados à
mesma coisa. Os adversários batem-se apenas por palavras. Chamai o
fenômeno de força, energia, eletricidade ou magnetismo, vontade, ou poder do
espírito, ele será sempre a manifestação parcial da alma, desencarnada ou
aprisionada por um tempo em seu corpo – de uma porção daquela VONTADE
inteligente, onipotente e individual que penetra toda a natureza, e conhecida,
devido à insuficiência da linguagem humana para expressar corretamente
imagens psicológicas, como – DEUS.
41. Parerga, etc., I, p. 252-54; também o artigo sobre “Magnetismo animal e magia”. [em Ueber
den Willen in der Natur, 1836, de Schopenhauer; trad. na Phil. Libr. de Bohn, 1889.]
GENERALIZAÇÕES SUPERFICIAIS
DOS SAVANTS FRANCESES
E, no entanto, por mais claro que possa ser, falta-lhe uma qualidade
importante, isto é, o senso comum. Somos incapazes de decidir se Babinet
aceita ou não o en désespoir de cause43 a proposição de Hartmann de que “os
efeitos visíveis da matéria não passam de efeitos de uma força”, e de que, para
formar uma clara concepção da matéria, deve-se primeiro formar uma da força.
A filosofia da escola à qual pertence Hartmann, e que é parcialmente aceita por
muitos dos maiores cientistas alemães, ensina que o problema da matéria só
pode ser resolvido por aquela Força invisível, cujo conhecimento
Schopenhauer chama de “sabedoria mágica”, e “efeito mágico ou ação da
vontade”. Por conseguinte, devemos em primeiro lugar assegurar-nos de que
as “vibrações involuntárias do sistema muscular do experimentador”, que são
apenas “ações da matéria”, são influenciadas por uma vontade interior ou
exterior ao experimentador. No primeiro caso, Babinet faz dele um epiléptico
inconsciente; o segundo, como veremos mais adiante, ele o rejeita por
completo, e atribui todas as respostas inteligentes das mesas girantes e
estalantes ao “ventriloquismo inconsciente”.
Assim como Deus cria, também o homem pode criar. Dando-se uma certa
intensidade de vontade, as formas criadas pela mente tornam-se subjetivas.
Alucinações, elas são chamadas, embora para o seu criador elas sejam tão
reais como qualquer outro objeto visível o é para os demais. Dando-se uma
concentração mais intensa e mais inteligente dessa vontade, a forma se torna
concreta, visível, objetiva; o homem aprendeu o segredo dos segredos; ele é
um mago.
Um outro desses pretensos testes científicos, tão úteis num fenômeno que se
diz ser espiritual ou psíquico, consistia num pequeno instrumento que
imediatamente avisava os espectadores do menor impulso pessoal proveniente
de sua parte, ou melhor, de acordo com a própria expressão do Sr. Faraday,
“avisava-os quando passavam do estado passivo para o ativo”. Esta agulha
que assinalava o movimento ativo provou apenas uma coisa: a ação de uma
força que ou emanou dos assistentes, ou os controlou. E quem jamais disse
que não existe uma tal força? Todo mundo a admite, passe esta força através
do operador, como acontece geralmente, ou aja independentemente dele,
como é frequentemente o caso. “Todo o mistério consistia na desproporção da
força empregada pelos operadores, que puxaram porque foram forçados a
puxar, com certos efeitos de rotação, ou melhor, de uma trajetória realmente
surpreendente. Na presença de tais prodigiosos efeitos, como poderia alguém
imaginar que as experiências liliputianas dessa espécie poderiam ter qualquer
valor nesta Terra de Gigantes descoberta?”46
Assim, uma força, cujos poderes secretos eram totalmente familiares aos
antigos teurgistas, é negada pelos céticos modernos. As crianças
antediluvianas – que talvez brincaram com ela, utilizando-a como os meninos
do The Coming Race de Bulwer-Lytton, utilizam o terrível “vril” – chamavam-na
“Água de Ptah”; seus descendentes designaram-na como anima mundi, a alma
do universo; e mais tarde os hermetistas medievais denominaram-na “luz
sideral”, ou “leite da Virgem Celeste”, ou “magnes”, e muitos outros nomes.
Mas os nossos modernos homens eruditos não a aceitarão nem a
reconhecerão sob tais designações; pois ela pertence à Magia, e a Magia é, na
sua concepção, uma vergonhosa superstição.
Diz um provérbio persa: “Quanto mais escuro estiver o céu, mais as estrelas
brilharão”. Assim, no negro firmamento da época medieval começaram a surgir
os misteriosos Irmãos da Rosa-cruz. Eles não formaram associações, nem
construíram colégios; pois, caçados e encurralados como feras selvagens,
quando a Igreja Católica os apanhou, eles foram queimados sem cerimônia.
“Como a religião proíbe”, diz Bayle, “derramar sangue”, então, “para eludir a
máxima Ecclesia non novit sanguinem eles queimaram os seres humanos, pois
queimar um homem não derrama o seu sangue!”48
Baptista Porta, no seu tratado sobre Magia Natural, enumera todo um catálogo
de fórmulas secretas para produzir efeitos extraordinários mediante o emprego
dos poderes da Natureza. Embora os “magos” acreditassem tão firmemente
quanto os nossos espiritistas num mundo de espíritos invisíveis, nenhum deles
pretendeu produzir seus efeitos sob o controle deles ou apenas com o seu
concurso. Sabiam muito bem quão difícil é manter à distância as criaturas
elementares assim que elas descobrem uma porta aberta. Mesmo a magia dos
antigos caldeus era apenas um profundo conhecimento dos poderes das
plantas medicinais e dos minerais. Foi apenas quando o teurgista desejou a
ajuda divina nos assuntos espirituais e terrestres que ele procurou a
comunicação direta, através dos ritos religiosos, com os seres espirituais.
Mesmo para eles, aqueles espíritos que permanecem invisíveis e se
comunicam com os mortais através dos seus sentidos internos despertados,
como na clarividência, na clariaudiência e no transe, só podiam ser evocados
subjetivamente e como resultado da pureza de vida e da oração. Mas todos os
fenômenos físicos foram produzidos simplesmente pela aplicação de um
conhecimento das forças naturais, embora certamente não pelo método da
prestidigitação, praticado em nossos dias pelos ilusionistas.
FENÔMENOS MEDIÚNICOS,
A QUEM ATRIBUÍ-LOS
Já o Sr. Crookes, que acredita completamente no ser, sente que sob a bela
aparência da Katie, que cobre um simulacro de coração emprestado
parcialmente de um médium e dos assistentes, não há nenhuma alma! E os
eruditos autores do The Unseen Universe, abandonando sua teoria
“eletrobiológica”, começam a perceber no éter universal a possibilidade de que
ele seja um álbum fotográfico do EN SOPH – o Infinito50.
50. [Tait e Stewart, The Unseen Universe, cap. VII, § 196 e segs.; ed. de 1876.]
51. [Cf. Collected Writings, vol. IV, p. 119-22. “Seemings „Discrepancies‟ ”.]
54. [Cf. Coll. Writ., vol. IV, p. 119-22, “Seemings „Discrepancies‟ ”.]
* Referência aos irmãos Eddy, Horatio e William, fazendeiros numa pequena propriedade da
aldeia de Chittenden, próxima de Rutland, Vermont. Foi a mediunidade de William que assumiu
a forma de materializações. Os fenômenos de Chittenden foram descritos pelo Cel. H. S. Olcott
no Daily Graphic de Nova York (outubro e novembro de 1874). Com base nesses artigos,
Olcott preparou depois a sua obra intitulada People from the Other World, que foi publicada,
profusamente ilustrada por Alfred Kappes e T. W. Williams, em Hartford, Conn., em 1875. Foi
na casa-grande dos Eddy que H. P. B. conheceu o Cel. Olcott, a 14 de outubro de 1874. Ver o
Apêndice ao Volume I dos Collected Writings para mais detalhes sobre os irmãos Eddy. (N. do
Org.)
Pausânias escreve que quatrocentos anos após a batalha de Maratona ainda
era possível ouvir no lugar em que ela foi travada o relinchar dos cavalos e os
gritos dos soldados espectrais55. Supondo que os espectros dos soldados
trucidados eram os seus espíritos genuínos, eles tinham a aparência de
“sombras”, não de homens materializados. Quem, então, ou o que produziu o
relinchar dos cavalos? “Espíritos” equinos? Se se admitisse como incorreto que
os cavalos têm espíritos – o que seguramente nenhum zoólogo, fisiólogo ou
psicólogo, ou mesmo espiritista pode aprovar ou reprovar –, seria preciso então
conceder que foram as “almas imortais” dos homens que produziram o
relinchar de Maratona para tornar a cena da batalha histórica mais vívida e
dramática?
Descartes foi um dos poucos que acreditaram e ousaram dizer que devíamos à
Medicina oculta as descobertas “destinadas a estender o domínio da Filosofia”;
e Brierre de Boismont não apenas partilhou dessas esperanças mas também
confessou declaradamente a sua simpatia pelo “supernaturalismo”, que ele
considerava o “grande credo” universal. “(...) Pensamos com Guzot”, diz ele,
“que a existência da sociedade está associada a ele. É em vão que a razão
moderna, que, não obstante o seu positivismo, não pode explicar a causa
íntima de qualquer fenômeno, rejeita o supernatural; ele é universal, e está na
raiz de todos os corações. As mentes mais elevadas são frequentemente os
seus discípulos mais ardentes.”59
59. Brierre de Boismont, Des Hallucinations, etc., Prefácio, p. IX, e cap. 2. P. 39; 3- ed., Paris,
1862.
Assim marcha o mundo: novas descobertas que surgem das velhas ciências,
novos homens – a mesma velha Natureza!