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DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

Livros:
- Cássio Scarpinella (volume sobre processo coletivo)
- Hugo Nigro Mazilli (A defesa dos interesses difusos em juízo)
- Luiz Manoel Gomes Jr. (Curso de direito processual coletivo)
- Ricardo Barros Leonel (Manual do processo coletivo)
- Fredie Didier + Hermes Jr. (v. 4, da col. Didier).
- Material de apoio!!! + fernando.gajardoni@usp.br

1) TEORIA GERAL DO PROCESSO COLETIVO

1. EVOLUÇÃO HISTÓRICO-METODOLÓGICA

1.1. Geração de direitos fundamentais

DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS

DIREITOS ECONÔMICOS E SOCIAIS

DIREITOS DA COLETIVIDADE

DIREITOS DA GLOBALIZAÇÃO

(A) DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS (sec. XVIII e ss)

• Surgem com a finalidade precípua de se constituírem verdadeiras LIBERDADES


NEGATIVAS, no sentido de negação do poder do Estado em favor da liberdade
individual.

• Daí se desenvolvem alguns direitos como liberdade, herança, direito a voto.

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Liberalismo e Iluminismo: para alcançar os fins buscados, chegou-
se a um abandono total do Estado, deixando de existir limites ao
capitalismo e aumentando significativamente as diferenças
econômico-sociais entre as pessoas.

(B) DIREITOS ECONÔMICOS E SOCIAIS (sec. XIX)

 Surge numa tentativa de corrigir os desequilíbrios provocados pelo período anterior, buscando
uma retomada da atuação estatal através do que foi chamado LIBERDADES POSITIVAS. O fim
passa a ser a igualdade.

 Desenvolvem-se direitos tais como direito à saúde, saneamento básico, etc.

(C) DIREITOS DA COLETIVIDADE (sec. XX e ss)

• Idéia: de nada adianta garantir direitos aos indivíduos se estes não o exercerem em
respeito aos demais. Reconhece a existência de direitos que transcendem o
individualismo e só podem ser exercitados em coletividade. Fala-se aqui em ideal de
fraternidade.

Mola propulsora: sindicatos!

• Surgem direitos como: das categorias profissionais, meio ambiente, patrimônio público,
etc.

(D) DIREITOS DA GLOBALIZAÇÃO

 Tratam-se de direitos da transnacionalidade, que transcendem os limites entre


Estados.

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1.2.Fases metodológicas do Direito Processual
Civil

Fase 1: SINCRETISMO ou CIVILISMO (D. Romano até +- 1868)

• Característica principal: havia uma absoluta confusão metodológica entre direito


material e o direito processual (o processo era um apêndice do direito material,
sem qualquer autonomia).

• Idéia: só tem ação quem tem direito.


Metáfora (cf. Gajardoni): “o
processo era o direito
material pronto para a
Guerra”.

Fase 2: AUTONOMISMO (+- 1868 ...)

• Von Bulow: escreveu, em 1868, uma obra sobre a Teoria das Exceções, concluindo
que a relação jurídica material (bilateral) é distinta da relação jurídica processual
(relação jurídica autônoma exercida contra o Estado para que este interfira). O
processo passa a ser visto como um fim em si próprio.

J
A B

A B

Metáfora (cf. Gajardoni): “o processo era


o guerreiro”.

• Crítica: esta autonomia acabou por cegar o processualista, que passou a discutir
em excesso o processo, esquecendo-se da relação jurídica material.

Fase 3: INSTRUMENTALISMO (+- 1950 até hoje)

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Sem perda da autonomia, deve o direito processual preocupar-se com o direito material:
o processo deve ser um instrumento de ACESSO À JUSTIÇA.

• Garth + Cappelleti (obra: “Acesso à Justiça”): deve haver o resgate dos verdadeiros
fins do processo (reaproximação do processo com o direito material). Só através do
direito material é que o processo pode promover o acesso à justiça.

Para tanto, seria necessário observar 3 ONDAS RENOVATÓRIAS:

(a) TUTELA AOS POBRES (hipossuficientes).


Daí, surgem: defensoria pública, assistência judiciária gratuita (L. 1.060/50),

etc.

(b) Necessidade de COLETIVIZAÇÃO DO PROCESSO.

(c) EFETIVIDADE DO PROCESSO


Ao contrário das anteriores (já amplamente implantadas em todo o mundo),
esta 3ª fase ainda está em andamento. No Brasil, tem-se o exemplo do
projeto de lei do novo código de processo civil.

Sobre a 2ª onda – COLETIVIZAÇÃO DO PROCESSO

Promoção da REPRESENTAÇÃO EM JUÍZO dos direitos metaindividuais: Garth e Cappelleti


visualizaram a necessidade de se tutelarem 3 situações da vida que, até então, não eram
tuteladas pelo sistema de um modo geral:

(1) DIREITOS DE TITULARIDADE INDETERMINADAS

Há direitos que não têm quem os defenda, por serem de todos, a exemplo do meio
ambiente, a moralidade, etc. A tutela criada pela coletivização do processo se dá
com a definição de quem deve titularizar/defender tais direitos.

(2) BENS E DIREITOS INDIVIDUAIS CUJA TUTELA INDIVIDUAL NÃO FOSSE

ECONOMICAMENTE ACONSELHÁVEL

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Em alguns casos, a tutela individual do direito individual é economicamente inviável;
no entanto, a lesão considerada coletivamente (embora seja ela individualizada)
justifica a provocação do Poder Judiciário.

Ex: déficit de alguns ml de leite em cada caixinha = não é interessante ao consumidor


individual a discussão, mas o será no conjunto.

(3) BENS ou DIREITOS CUJA TUTELA COLETIVA SEJA RECOMENDÁVEL DO PONTO DE

VISTA DO SISTEMA

Cada lesão individual poderia ser tutelada individualmente (viabilidade econômica).


Todavia, é mais viável para o sistema (e não para o jurisdicionado em si), que estas
ações sejam reunidas em uma só ação coletiva.

MOLECULARIZAÇÃO DOS CONFLITOS – Kazuo Watanabe


Os processos devem ser molecularizados, reunidos (idéia contrária à atomização dos conflitos),
para que se obtenha decisão única, singular.

“Mesmo os divisíveis (os interesses supraindividuais que a Código Brasileiro de


Defesa do Consumidor batizou de interesses individuais homogêneos) podem,
se originados de uma fonte comum, merecerem um tratamento idêntico: ao invés
de várias demandas (atomização dos conflitos, como falou o Professor Kazuo
Watanabe), opta-se por uma única demanda, não se fechando a via da formação
de litisconsórcio e concebendo uma eficácia da coisa julgada in utilibus: éa
molecularização dos conflitos (Kazuo Watanabe, mais uma vez).”

CONCLUSÃO:

Até então, o direito civil clássico era incapaz de tutelar estas 3 situações ( ), já que
desenhado para solucionar conflitos individuais. O processo coletivo, portanto, conforme
Garth e Cappelleti, nasce em virtude da inadequação do direito processual individual
para a tutela de interesses metaindividuais. [≠ CPC]

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INCOMPATIBILIDADES:
- O critério de legitimidade no processo individual é o de
legitimidade ordinária.
- As regras de coisa julgada individual são incompatíveis com o
processo coletivo.
- Etc.

Obs.

O CPC não será utilizado em processo coletivo, senão subsidiariamente, dada a


incompatibilidade já mencionada.

Veja que o processo coletivo não disputa espaço com o processo individual: este tem um fim
egoístico, já aquele tem fim altruístico.

1.3. O processo coletivo no BRASIL

 No Brasil, o processo coletivo surge com a AÇÃO POPULAR (desde as ordenações


do Reino), mas não tem grandes repercussões, a ponto de ser desconsiderada como
no histórico do processo coletivo brasileiro.

 Lei 6.938/81 – lei do meio ambiente: trouxe a ACP


Esta lei é de fato considerada o marco inicial do processo coletivo no Brasil.

 Lei 7.347/85 – LACP + CF/88: consolidação do processo coletivo brasileiro.

 CDC/90: potencialização do processo coletivo.

 CODIFICAÇÃO

No ano 2000, houve uma tentativa de se elaborar um CBPC (Código Brasileiro de


Processos Coletivos), dando ao processo coletivo uma legislação própria e
afastando, definitivamente o CPC do tema.

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Dois foram os projetos elaborados neste sentido: um pela USP, titularizado pela prof.
Ada Pelegrini, e outro pela UERJ/UNESA, tendo à sua frente Aloísio Mendes).

Em 2009, o MJ reuniu uma comissão de juristas (Ada, Aloísio, Gajardoni, etc.) que, em
princípio, concluiu pela grande dificuldade de conformação de um CBPC (difícil
aprovação no Congresso, por ex), preferindo transformar a LACP em lei geral para
processo coletivo, promovendo nela algumas alterações, que hoje são objeto do Projeto
de Lei 5139/09.

2. NATUREZA JURÍDICA DOS DIREITOS METAINDIVIDUAIS

A clássica dicotomia PÚBLICO x PRIVADO não se presta à classificação dos direitos


metaindividuais. Defende-se, portanto, a inadequação desta divisão ao Direito brasileiro:
segundo Gregorio Assagra, Nery Jr., e outros, a summa divisio deve ser entre COLETIVO x
INDIVIDUAL.

D.  aproximação em razão da grande carga de interesse


social.

D.  a tutela de tais direitos não envolve, necessariamente, o Poder


Público.

SUMMA
DIVISIO:
D. Coletivo /

D. Individual

CONCLUSÃO: a natureza dos direitos coletivos é uma NATUREZA PRÓPRIA.

No entanto, é preciso ter em mente que o PROCESSO COLETIVO, embora tenha natureza
própria, é um processo de interesse público primário.

PRIMÁRIO – interesse da sociedade, bem geral


INTERESS
E
SECUNDÁRIO – interesse do Estado, é o que o Estado acha que é o
PÚBLICO
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Estes interesses deveriam, em princípio ser coincidentes, mas nem
sempre o são.

Por esta razão, na maioria das vezes será o Estado colocado como réu nas ações coletivas. No
mesmo sentido, é aqui que se encontra justificativa para a intervenção do Poder Judiciário nas
ações de políticas públicas.

3. CLASSIFICAÇÃO DO PROCESSO COLETIVO

3.1. Quanto aos sujeitos

 PROCESSO COLETIVO ATIVO  a titularidade da ação é da coletividade.


 PROCESSO COLETIVO PASSIVO  a coletividade é ré.

Existe processo coletivo passivo?

1ª corrente: NÃO ADMITE a ação coletiva passiva no direito Brasileiro.

Defensores: Hugo Nigro Mazzili, Dinamarco, Arruda Alvim, Marcelo Abelha, Dinamarco.
Argumentos:
1. Inexistência de texto legal expresso;
2. Não há indicação legislativa expressa quanto ao representante adequado;
3. Pelo regramento da coisa julgada, a CJ coletiva não pode prejudicar direitos
individuais (tendo em vista a extensão da decisão coletiva à situações individuais –
cf. art. 103, CDC)

2ª corrente: ADMITE a ação coletiva passiva no direito Brasileiro.

Defensores: Fredie Didier Jr., Ada Pelegrini, Pedro Lenza, Gajardoni.


Argumentos:

1. Não subsistem os argumentos da corrente contrária:

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a. A atribuição de legitimação extraordinária não precisa constar de texto
expresso, basta que seja retirada do sistema jurídico. Ademais, art. 81 do
CDC apenas menciona defesa, não restringindo o pólo processual.
b. Em princípio, podem atuar no pólo passivo todos os co-legitimados previstos
em lei, cabendo ao juiz, no caso concreto, verificar a adequação do
representante. Em se tratando de processo coletivo passivo incidental, o
legitimado passivo será a entidade que promoveu a demanda principal.
c. Há proposta no Projeto de Código Modelo de Processos Coletivos para a
Ibero-América: CJ com efeito erga omnes quando o interesse for indivisível e
possibilidade de afastamento da CJ das esferas individuais em casos de
interesses divisíveis.

2. A não observância da convenção coletiva de consumo (art. 107, CDC) implicará em


lide coletiva de pode gerar uma demanda judicial em que as entidades de proteção
ao consumidor apareçam no pólo passivo;

3. Art. 83, CDC – para a defesa dos direitos coletivos lato sensu são admissíveis todas
as espécies de ações.

4. Só com este entendimento se explica a ação rescisória de sentença proposta pelo


réu da ação coletiva ativa originária, o MS contra ato judicial ou cautelar incidental
propostos pelo réu em ação coletiva.

5. A Justiça do Trabalho há muito admite discussão de convenção coletiva de trabalho


(sindicato = pólo passivo).

6. Inadmitir esta ação importa em violação ao direito de ação daquele que pretenda
exercer um direito seu contra um grupo (pode se defender mas não poderá
demandar).

7. Ex: ação do MP em virtude de greve (da polícia federal): há coletividade no pólo


ativo e passivo.

O problema desta corrente é definir quem representa a coletividade passiva.


GAJARDONI: a questão é de fato controvertida e a resposta não é muito convicta, que seja:
por uma questão de sistemática, seriam legitimados os sindicatos e associações de
classe.

3.2. Quanto ao objeto

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 Processo coletivo ESPECIAL  são as ações de controle ABSTRATO de constitucionalidade
(ADI, ADC, ADPF).

 Processo coletivo COMUM  são todas as ações para a tutela dos interesses
metaindividuais que não se relacionam ao CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE.

São ações de processo coletivo comum:

- Ação Civil Pública (Lei 7.347/75);


- Ação Coletiva (CDC – para a tutela de direitos individuais homogêneos);
- Ação Popular (Lei 4.717/65);
- Ação de Improbidade Administrativa (AIA – L .8.429/92) – não é ACP!!!!!;
- Mandado de Segurança Coletivo (MSC).

Nome dado por alguns para indicar a ACP trazida pelo


CDC. Gajardoni, Ada e outros não utilizam esta
expressão, entendendo que a ACP é gênero e a ação
trazida pelo CDC é uma de suas espécies

4. Principais PRINCÍPIOS DE DIREITO PROCESSUAL COLETIVO COMUM

 Não afastam os princípios


constitucionais!!!!!

4.1. INDISPONIBILIDADE MITIGADA AÇÃO COLETIVA


(gênero)

Art. 5º, p. 3º - L. 7.347 – em caso de desistência


infundada ou abandono da ação por associação
legitimada, o MP ou outro legitimado assumirá a
titularidade ativa.

O objeto do processo coletivo não pertence ao autor da ação, mas à coletividade. Logo, o autor
da ação coletiva não pode dela simplesmente desistir.

 Processo individual: autor desiste = extinção da ação


 Processo coletivo: autor desiste = não extinção, mas sucessão processual.

ATENÇÃO:
A lei fala na impossibilidade de desistência INFUNDADA. Portanto, sendo fundada a
desistência, possível será a extinção do processo.

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4.2. INDISPONIBILIDADE DA EXECUÇÃO COLETIVA

Art. 15, L. 7.347 – Decorridos 60 dias do trânsito em julgado da sentença


condenatória, sem que a associação autora lhe promova a execução,
deverá fazê-lo o MP, facultada igual iniciativa aos demais legitimados.

Art. 16, LAP - Caso decorridos 60 (sessenta) dias da publicação da


sentença condenatória de segunda instância, sem que o autor ou terceiro
promova a respectiva execução. o representante do Ministério Público a
promoverá nos 30 (trinta) dias seguintes, sob pena de falta grave.

• Uma vez obtida a condenação do réu, é obrigatória a execução da sentença, caso não
haja cumprimento voluntário.

• Fundamento: evitar corrupção.

• É indisponibilidade ABSOLUTA e não mitigada!


4.3. INTERESSE JURISDICIONAL NO CONHECIMENTO DO
MÉRITO

Este princípio é interpretativo e não tem previsão legal.

Idéia:
Deve haver uma maior flexibilização das regras sobre a admissibilidade da ação, a bem da
análise do mérito do pedido.

A extinção do processo sem julgamento do mérito deve ser, sempre, evitado!


Motivo: o processo coletivo trabalha com interesse público primário.

4.4. PRIORIDADE NA TRAMITAÇÃO

Trata-se de princípio implícito, sem previsão legal expressa.

Idéia:

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Um processo coletivo resolve a situação muito mais pessoas que um processo individual. Por
esta razão, deve o juiz dar preferência ao julgamento do processo coletivo em detrimento do
processo individual.

Obs.
Há prioridades expressas na lei que prevalecem sobre essa preferência
principiológica, quais sejam (em ordem):
 HC
 MS
 HD
 Idoso

Transporte in utilibus da coisa julgada coletiva!

4.5. MÁXIMO BENEFÍCIO DA TUTELA JURISDICIONAL


COLETIVA

Por este princípio, o sistema estabeleceu que a coisa julgada coletiva só BENEFICIA os
indivíduos, nunca os PREJUDICA.

Dispositivos legais:

Art. 103, CDC


§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art. 13
da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de
indenização por danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na
forma prevista neste código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as
vítimas e seus sucessores, que poderão proceder à liquidação e à execução,
nos termos dos arts. 96 a 99.
§ 4º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal condenatória.

Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II e do parágrafo único do


art. 81, não induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da
coisa julgada erga omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do
artigo anterior não beneficiarão os autores das ações individuais, se não for
requerida sua suspensão no prazo de trinta dias, a contar da ciência nos autos
do ajuizamento da ação coletiva.

Se a ação coletiva for procedente, a sentença pode ser executada


individualmente. Se, todavia, for improcedente, o indivíduo poderá ajuizar
ação individual.

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EXCEÇÃO:

Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a


fim de que os interessados possam intervir no processo como
litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios de
comunicação social por parte dos órgãos de defesa do
consumidor.

4.6. MÁXIMA EFETIVIDADE DO PROCESSO COLETIVO ou ATIVISMO


JUDICIAL

Tal como os princípios anteriores, este também não tem previsão legal expressa. Decorre do
sistema.

Nos moldes deste princípio, a doutrina amplia os poderes do juiz na condução e na solução
do processo coletivo: o juiz tem funções extraordinárias que superam os limites daqueles
impostos no processo individual. Posição proativa do Juiz em função da maior efetividade do
processo coletivo.

(a) O juiz pode flexibilizar as regras processuais e procedimentais da tutela coletiva:


pode o juiz adequar o instrumento (processo) ao direito material em debate.
Ex: ampliação de prazos, conversão de uma ação coletiva em outra, etc.

(b) Possibilidade de controle das políticas públicas pelo Poder Judiciário (intervenção
restrita à IMPLEMENTAÇÃO DE DIREITOS E PROMESSAS FUNDAMENTAIS DA CF/88).

Obs. RESERVA DO POSSÍVEL

Entende o STF que a defesa com base na reserva do possível não é válida quando se tratam de
promessas constitucionais (núcleo mínimo de direitos / garantias do indivíduo).

Ex: a CF garante creches para crianças de 6 anos de idade. Se o município recebe verbas e, no
lugar de criar creches, decide criar uma praça ou um chafariz, o Poder Judiciário poderá
intervir. O mesmo acontece no caso do direito à saúde assegurado pela CF.

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(c) Poderes instrutórios mais acentuados.

(d) Possibilidade de o Juiz desvincular-se do pedido/causa de pedir (o juiz pode


permitir a alteração dos elementos da demanda após o saneamento do processo – ao
contrário do que dispõe o art. 264, CPC -, sempre permitindo a ampla defesa e o
contraditório).

4.7. MÁXIMA AMPLITUDE ou ATIPICIDADE ou NÃO TAXATIVIDADE DO PROCESSO


COLETIVO

Art. 83, CDC. Para a defesa dos direitos e interesses


protegidos por este código são admissíveis todas as
espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e
efetiva tutela.

QUALQUER AÇÃO PODE SER COLETIVIZADA!!!

Ex: reintegração de posse coletiva (invasão de reserva ambiental), ação declaratória de


inexistência de débito coletiva.

4.8. AMPLA DIVULGAÇÃO DA DEMANDA

Art. 94, CDC. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a
fim de que os interessados possam intervir no processo como
litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios de
comunicação social por parte dos órgãos de defesa do consumidor.

Idéia:

Proposta uma ação coletiva, deve ser dada a ela publicidade.


Estabelece a maior publicidade quanto à propositura da ação coletiva (edital), possibilitando a
interessados o ingresso no processo.

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EUA: “fair notice”

Críticas:

1. Este princípio estabelece a publicidade da ação, e não do resultado dela (que


seria de muito maior utilidade aos interessados).
2. Uso da expressão litisconsortes = como não são legitimados para a ação, não
podem os indivíduos ser litisconsortes, no máximo assistentes litisconsorciais.

4.9. INTEGRATIVIDADE DO MICROSSISTEMA PROCESSUAL


COLETIVO

Lei
Deficientes
ECA

LIA LACP – art.


21
NORMAS DE REENVIO  a uma
aplica-se todas as regras da outra!
CDC – art.
90
LAP E.
Cidade

E. Idoso aplicação integrativa

CPC aplicação subsidiária

Para entender:

 Existem 2 leis principais para o processo coletivo: LACP e CDC. Estas leis são NORMAS
DE REENVIO, uma vez que ambas trazem dispositivos que trazem para o seu corpo a
aplicação da outra.

Art. 21, LACP – 21. Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos,
coletivos e individuais, no que for cabível, os dispositivos do Título III da lei
que instituiu o Código de Defesa do Consumidor. (Incluído Lei nº 8.078, de
1990)

Art. 90, CDC – Aplicam-se às ações previstas neste título as normas do Código
de Processo Civil e da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, inclusive no que
respeita ao inquérito civil, naquilo que não contrariar suas disposições.

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 Além destas leis principais, como não há uma codificação do processo coletivo, o
legislador acabou por fazer incluir em diversas leis capítulos específicos sobre o tema (ECA,
Est. Idoso, etc.)

 O microssistema que se formou apresenta-se ABERTO, ou seja, o núcleo se comunica, e


as leis especiais se comunicam com o núcleo central e entre si!

TEORIA DO DIÁLOGO DAS FONTES NORMATIVAS

Aplicação INTEGRATIVA (e não subsidiária): há uma interpenetração


recíproca de todas as leis que tratam do processo coletivo. É preciso
conhecer todas as leis e aplicá-las conjuntamente.

 O CPC não compõe o microssistema processual coletivo. O CPC, neste caso, não tem
aplicação integrativa, mas apenas subsidiária.

 EXEMPLOS:

(A) Possibilidade de inversão do ônus da prova (art. 6º, CDC) em qualquer processo
coletivo.

(B) Aplicação das regras de reexame necessário da LAP (art. 19) às demais ações
coletivas, salvo MS coletivo (que tem disciplina própria).

REsp 1.108.542-SC
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. REPARAÇÃO DE DANOS AO ERÁRIO.
SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. REMESSA NECESSÁRIA. ART. 19 DA LEI Nº 4.717/64.
APLICAÇÃO.
1. Por aplicação analógica da primeira parte do art. 19 da Lei nº 4.717/65, as
sentenças de improcedência de ação civil pública sujeitam-se indistintamente ao
reexame necessário. Doutrina.
2. Recurso especial provido.

4.10. PRINCÍPIO DA ADEQUADA REPRESENTAÇÃO ou DO CONTROLE JUDICIAL DA


LEGITIMAÇÃO COLETIVA

Diversamente do sistema da class action do Direito Norte-Americano, no Brasil não é qualquer


indivíduo que pode ajuizar ACP, vez que o legislador PRESUMIU quem são os representantes
adequados da coletividade, ao elencar no art. 5º da LACP os legitimados para a propositura de
ações coletivas.

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Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: (Redação
dada pela Lei nº 11.448, de 2007).
I - o Ministério Público;
II - a Defensoria Pública;
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista;
V - a associação que, concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao
consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico.

 A grande discussão, entretanto, que há na doutrina brasileira é se, sem prejuízo do controle
legislativo da representação, poderia também o juiz, tanto quanto no sistema norte-americano,
fazer o controle judicial, reconhecendo no caso concreto a falta de representação e
legitimidade do autor coletivo.

São 2 as posições, e não há posição dominante:

(1) À exceção das associações, NÃO é possível o CONTROLE JUDICIAL da


representação adequada, uma vez que esta é OPE LEGIS (decorre da lei –
presunção legal).
Quanto às associações há exigências (constituição ano e pertinência
temática) passíveis de controle pelo juiz.
– Nelson Nery Jr.

(2) Sem prejuízo do controle legislativo, também É POSSÍVEL o controle


judicial da adequada representação de todos os legitimados. O controle é
OPE LEGIS e OPE JUDICIS.
Desse modo, poderia o juiz afastar a presunção legal no caso concreto.
Critérios para o controle judicial: Finalidade institucional do órgão

(pertinência temática).

– Ada P. (Gajardoni).

Exemplo:

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 17


Para a 1ª corrente, o MP é legitimado em qualquer caso. Para a 2ª corrente, o
MP só terá legitimidade para ações coletivas se esta se enquadrar em uma de
suas finalidades, trazidas pelo art. 127, CF:
1. Defesa da ordem jurídica
2. Defesa do regime democrático
3. Defesa dos interesses sociais
4. Defesa dos interesses individuais indisponíveis

Ex: TV a cabo retira um canal e não reduz o preço. O MP é legitimado?

4.11. PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO

Explicação da Ada Grinover: quando tenho um processo individual, o jurisdicionado participa do


processo, no processo por meio do contraditório, ou seja, por manifestações (junta prova e
documentos). A participação do cidadão se dá no processo pelo contraditório.
No processo coletivo a participação da população não é no processo, mas pelo
processo. Pois, uma ação coletiva é uma maneira dos jurisdicionados e do cidadão
participarem da administração. Está se tutelando algo que é de toda a população. A
participação do povo se dá pelo processo. O judiciário não se elege e para ter ele legitimo é
preciso que haja uma participação popular, assim, pela existência do processo coletivo há a
participação popular e há a participação popular no processo coletivo. A participação popular
se dá pelo ajuizamento da ação coletiva.

5. OBJETO DO PROCESSO COLETIVO

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Art. 81, CDC. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das
vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título
coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste
código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam
titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste
código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular
grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte
contrária por uma relação jurídica base;
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os
decorrentes de origem comum.

O que o processo coletivo tutela são os DIREITOS OU INTERESSES META ou TRANS ou


PARAINDIVIDUAIS (ou seja, que transcendem um único indivíduo)

Obs. Existe discussão acadêmica se devemos tutelar interesses e direitos. Direito é o interesse
tutelado pela norma. Interesse é uma pretensão não tutelada pela norma. A diferença é
acadêmica, no âmbito da lei não faz diferença pois ela tutela os dois.

5.1. CLASSIFICAÇÃO

Os direitos/interesses tutelados pelo processo coletivo dividem-se em:

indivisibilidade do objeto
NATURALMENTE
COLETIVOS
DIFUSOS
DIREITOS ou INTERESSES
TRANS ou META COLETIVO
INDIVIDUAIS (art. 81, S
CDC)

divisibilidade do objeto
ACIDENTALMENTE
COLETIVOS
INDIVIDUAIS
HOMOGÊNEOS

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 19


DIREITOS x INTERESSES

Pela Teoria Geral do Direito, estes termos são utilizados em acepções distintas:

• DIREITO é interesse tutelado pela norma (interesse que tem previsão


legal).
• INTERESSE é uma pretensão não tutelada pela norma.

Para a tutela coletiva, essa distinção não tem grandes repercussões, uma vez que o caput
do art. 81 menciona os dois dando-lhes tratamento idêntico.

TRANS ou META INDIVIDUAIS

São expressões sinônimas. Significam a transcendência ao âmbito individual, sua superação.

5.1.1. NATURALMENTE COLETIVOS

Têm como traço característico a indivisibilidade do objeto. Isso significa que a lesão a
um integrante da comunidade lesa a todos, de modo que a decisão deve ser uniforme para
todos os prejudicados.

TODOS GANHAM
OU
TODOS PERDEM

Ex: meio ambiente, patrimônio público.

Tem os mesmos efeitos do litisconsórcio unitário (decisão única). Mas, cuidado: não se trata
aqui de litisconsórcio.

(a) Naturalmente coletivos - DIFUSOS


DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 20
São os interesses mais abstratos possíveis. Atendem a um número de pessoas que não
se tem como precisar e dentro do grupo tutelado não se chega ao consenso, pois existe
alta conflituosidade interna. O que une esses sujeitos são meras circunstâncias de fato.

CARACTERÍSTICAS:

• Titulares são indeterminados e indetermináveis  nunca se saberá quem são


os titulares dos direitos difusos.

• Vínculo: os sujeitos são ligados entre si por circunstâncias de fato


extremamente mutáveis. Não há relação jurídica entre os titulares.

• Alta conflituosidade interna.


• Duração efêmera = passageira.
• Alta abstração.

EXEMPLOS: meio ambiente; moralidade administrativa; propaganda enganosa.

(b) Naturalmente coletivos – COLETIVOS STRICTO SENSU

CARACTERÍSTICAS:

• Os sujeitos também são indeterminados. São, porém, DETERMINÁVEIS “por


grupo”, “por categoria”.

• Vínculo: os sujeitos são unidos por circunstâncias jurídicas (existência de relação


jurídica base entre os titulares e a parte contrária).
Este vínculo pode se dar entre os titulares, ou entre eles e a “outra parte”.

• Baixa conflituosidade interna.


• Menor abstração.

EXEMPLO:

(1) Questões relacionadas à consórcio. (2) OAB defendendo direito de advogados à


honorários em atuações em que fazem as vezes da defensoria pública. (3) Súmula 643
do STF: o MP tem legitimidade para promover ACP cujo fundamento seja ilegalidade de
reajustes de mensalidades escolares os sujeitos são determináveis pelo grupo “alunos
de determinada escola” e mantém relação jurídica com a escola (e não entre si).

5.1.2. ACIDENTALMENTE COLETIVOS:

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 21


Têm como traço marcante a divisibilidade do objeto, ou seja, uma parcela da categoria
pode ganhar enquanto outra pode perder. Não é necessário que haja decisão igual para
todos da categoria.

São DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS  trata-se de um direito individual, muito


difundido na sociedade, ou seja, muita gente tem.

ações repetitivas

Na essência, são interesses individuais (cada um tem o seu, e exatamente por ser
divisível, cada indivíduo tem parcela do bem ou direito tutelado). Tantos são os
indivíduos que possuem o bem tutelado que se pode dizer que esse direito é
compacto na sociedade, é interesse homogêneo.
Os interesses acidentalmente coletivos são individuais, mas por ter número
excessivo de titulares é homogeneizado na sociedade.  DIREITOS INDIVIDUAIS
HOMOGÊNEOS.

Opção política do
legislador: tratar
coletivamente
RAZÕES PARA A TUTELA COLETIVA PARA UMA PRETENSÃO QUE É INDIVIDUAL
pretensões de
natureza individual.

(1) Molecularização dos conflitos (Kazuo Watanabe)

(2) Economia processual - reduz custo e esforço de gasto do judiciário, pois, ao invés de
julgar vários processos individuais, julgará um coletivo.
(3) Redução de custos

(4) Segurança jurídica: evita decisões contraditórias

(5) Aumenta o acesso à Justiça

CARACTERÍSTICAS:

 Sujeitos indeterminados, mas, DETERMINÁVEIS. No entanto, esta determinação


se dá na fase de liquidação/execução, e não como grupo.

 A pretensão dos sujeitos tem origem comum: a origem é comum entre os


titulares.

 Há uma tese jurídica comum e geral a todos.

 Tem natureza individual, cada um pode entrar com ação para tutelar o interesse.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 22


Obs. Fredie Didier entende que se trata de direito coletivo, e não individual.

EXEMPLOS

- “microvilar”: tanta gente lesada fez com que o direito individual fosse
homogeneizado na sociedade, daí a tutela coletiva.
- caderneta de poupança e expurgos inflacionários
- casos de recall por exemplo quando veículo está com defeito

5.2. CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O OBJETO

5.2.1. Diferenciação entre direitos/interesses coletivos - 1

Na prática, o mesmo fato pode ensejar ações coletivas para a tutela de todos estes interesses
(natural ou acidentalmente coletivos), de modo que o que define se se trata de difuso, coletivo
ou individual homogêneo é o direito afirmado da inicial, é o caso concreto.

Em outras palavras: não é possível, a não ser no caso concreto e conforme a alegação do
autor, definir qual o interesse objeto da ação coletiva.

Exemplo: NELSON NERY -

 Barco Bateau Mouche que afundou no réveillon de 1988. Este evento pode dar origem a
pretensão difusa, coletiva e individual homogênea:

Ação para pedir indenização: é ação individual homogênea.

 Associação de defesa do turismo de Angra dos Reis entra com ação para
obrigar todas as embarcações terem coletes salva vidas: é ação coletiva.

 MPF ajuíza ação para proibir todas as embarcações do Brasil de andarem


sem coletes salva vidas para todos: interesse difuso.

5.2.2. Diferenciação entre direitos/interesses coletivos - 2

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 23


Vários autores têm extrema dificuldade na diferenciação prática entre os interesses difusos
e coletivos (Dinamarco), e entre os coletivos e individuais homogêneos (Marcelo Vigliar).

Ex: caso da mensalidade escolar se o MP entra com a ação, é direito coletivo, se o pai entra com a
ação é individual.

Portanto, há zonas cinzentas.

Gajardoni não vê dificuldades na distinção entre difusos e coletivos. No entanto, ele


realmente vê problemas na diferenciação entre coletivos e individuais homogêneos.

5.2.3. Surgimento

Primeiro surgiram os direitos coletivos (stricto sensu), com os sindicatos. Em seguidas,


passaram a ser tutelados os direitos difusos e, só então, direitos individuais homogêneos.

6. COISA JULGADA NO PROCESSO COLETIVO

6.1. Introdução

COISA JULGADA é qualidade dos efeitos da sentença, cf. lição de Liebman, qual seja, a
imutabilidade.

PREVISÃO LEGAL:
Essas regras não se aplicam ao
- Art. 103 e 104, CDC MANDADO DE SEGURANÇA
- Art. 16, LACP COLETIVO e à IMPROBIDADE (pois
- Art. 18, LAP ambos têm regras próprias).

O estudo da coisa julgada é dividido em:

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 24


Limites objetivos da coisa julgada

 PROCESSO INDIVIDUAL: coisa julgada atinge a lide nos


limites propostos, ou seja, dispositivo. O dispositivo diz se acolhe ou rejeita o
pedido da causa de pedir (art. 468, CPC).

 PROCESSO COLETIVO: o limite objetivo é a parte


dispositiva.

 Limites subjetivos da coisa julgada

 PROCESSO INDIVIDUAL: os limites subjetivos da coisa


julgada são as partes: a coisa julgada se dá entre as partes, seja ela benéfica
ou não (pro et contra). Não beneficia e nem prejudica, todavia, terceiros. (art.
472, CPC).

 PROCESSO COLETIVO: efeitos erga omnes ou ultra partes.


Mas nem sem ocorrerá a coisa julgada, que é secundum eventum litis /
secundum eventum probationis.
A idéia de processo coletivo é a de negar o art. 472 do CPC, já que o princípio é
de que a coisa julgada atinge terceiros. O limite subjetivo deixa de ser
previsto no art. 472 do CPC e passa a ser aqueles previstos nos arts. 103 e 104
do CDC, art. 16 da LACP, art. 18 da LAP.

6.2. Regime jurídico da coisa julgada no PROCESSO COLETIVO

 Coisa julgada secundum eventum litis: pode ser erga omnes, ultra
partes.

 Coisa julgada secundum eventum probationis: tem relação com a


prova, ou seja, faltando a prova não se tem coisa julgada.

Este é o regime jurídico da coisa julgada no proc.


coletivo (secundum eventum litis).

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 25


6.3. Quadro esquemático

Regime da coisa
Decisão será ERGA Decisão será ULTRA Decisão será sem
julgada secundum
OMNES PARS coisa julgada material
eventum litis:
Quando a improcedência
for por FALTA DE
Decisão: PROCEDÊNCIA PROVAS o sistema altera
ou IMPROCEDÊNCIA o regime jurídico e
estabelece que não
(não importando o motivo, haverá coisa julgada
a decisão valerá para todos MATERIAL.
legitimados coletivos)
Efeito: não impede
No direito difuso
ajuizamento de OUTRA
Efeito: a decisão impede AÇÃO COLETIVA.
OUTRA AÇÃO COLETIVA

(e não individual).  É A COISA JULGADA


SECUNDUM EVENTUM
PROBATIONIS.

Decisão:
PROCEDÊNCIA ou
IMPROCEDÊNCIA

(Quando a ação for Se a improcedência da


julgada procedente ou ação for por FALTA DE
No direito coletivo improcedente a PROVAS não haverá
decisão será ultra coisa julgada  nada
partes  é limitada ao impede a repropositura
grupo interessado. da ação coletiva

Efeito: Impede o
ajuizamento de outra
ação coletiva (e não
individual).

Decisão: PROCEDÊNCIA
ou IMPROCEDÊNCIA

Efeito: qualquer que seja a


decisão proferida, não mais
se permitirá repropositura
No direito
de ação coletiva, mesmo
individual
por falta de provas.
homogêneo

Por se tratar de interesse


individual o legislador fecha
o coletivo, porém permite
que se ajuíze ação
individual.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 26


6.4. Observações quanto ao quadro esquemático

(1)

Há autores que não distinguem este fenômeno (ultra partes) com os efeitos erga omnes –
Antônio Gidi.

Para Gidi, na verdade, em ambos os casos a decisão vale (atinge) os interessados (ex: no
caso do microvilar – a decisão só atinge as mulheres que tenham tomado a pílula; no caso da
poupança – a decisão só é válida para aqueles que têm poupança).

(2) Aplicação do princípio do máximo benefício da tutela jurisdicional coletiva

A coisa julgada coletiva, em todos os interesses metaindividuais, nunca PREJUDICA as


pretensões individuais, só as BENEFICIA.

No processo coletivo permite-se o TRANSPORTE IN UTILIBUS DA COISA JULGADA


COLETIVA.

CONCLUSÃO: mesmo improcedente a coletiva, nada impede o ajuizamento da


ação individual.

EXCEÇÃO:

Para Hugo Nigro Mazili, o art. 94 do CDC, que faculta a atuação do interessado como PARTE
(litisconsorte), apesar de estar no capítulo do direito individual homogêneo, também se aplica
ao direito coletivo (nunca, porém, para os difusos):

Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os
interessados possam intervir no processo como LITISCONSORTES, sem prejuízo de ampla
divulgação pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do
consumidor.

Estando a ação coletiva em andamento, o artigo 94 autoriza que o interessado venha ao


processo na qualidade de LITISCONSORTE. Neste caso, o interessado se transforma em
parte, de forma que a coisa julgada irá lhe atingir, seja para seu benefício ou prejuízo.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 27


Se o interessado não entra na ação coletiva, por outro lado, a coisa julgada não o
alcança para prejudicar, valendo para ele a idéia de que se a ação foi ajuizada pelo MP,
sem sua autorização, não pode ser ele prejudicado.

Obs. Ler arts. 103,§1º a 3º do CDC:

Art. 103, CDC


§1° Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão
interesses e direitos individuais dos integrantes da coletividade, do grupo,
categoria ou classe.
§2° Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência do pedido, os
interessados que não tiverem intervindo no processo como litisconsortes
poderão propor ação de indenização a título individual.
§3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art. 13
da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de
indenização por danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na
forma prevista neste código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as
vítimas e seus sucessores, que poderão proceder à liquidação e à execução,
nos termos dos arts. 96 a 99.

(3) Coisa julgada x suspensão do processo individual

Entretanto, para que o autor da ação individual já proposta se beneficie da coisa julgada
coletiva para direitos individuais homogêneos (e, para alguns, também para os direitos
coletivos - ) – transporte in utilibus –, deverá requerer a SUSPENSÃO da sua ação
individual (de objeto correspondente à ação coletiva) em 30 dias a contar da ciência da
existência da ação coletiva.

Art. 104, CDC. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II e do parágrafo único
do art. 81, não induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da
coisa julgada erga omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do artigo
anterior não beneficiarão os autores das ações individuais, se não for requerida
sua suspensão no prazo de trinta dias, a contar da ciência nos autos do
ajuizamento da ação coletiva.

Não efetuado o requerimento de suspensão, a coisa julgada coletiva


não beneficiará.

 Conclusão: “a coisa julgada individual vale mais que

a coletiva”.

 PRAZO: 30 dias
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 28
- Termo inicial: ciência, nos autos da ação
individual, quanto à existência da ação coletiva.

- DEVER DE INFORMAR: o réu na ação


individual é o mesmo réu na ação coletiva e, sendo assim, tem o
dever de informar ao autor individual quanto à existência do
processo coletivo. Se não houver o aviso, ainda que o autor
perca a ação individual, ele poderá se beneficiar da procedência
da ação coletiva.

 SUSPENSÃO: uma vez requerida, o processo ficará


parado por prazo indeterminado, até o julgamento da ação coletiva.

(4) OBRIGATORIEDADE / FACULTATIVIDADE da suspensão do processo individual

 A regra do CDC é clara no sentido de que a suspensão do processo individual é


FACULDADE da parte, de modo que ela pode optar por prosseguir na ação
individual (e não ser beneficiada pelo processo coletivo).

 O STJ, entretanto, rompendo a facultatividade da suspensão da ação individual,


entendeu que, ajuizada a ação coletiva atinente à macrolide geradora dos
processos multitudinários (ações repetitivas), suspendem-se OBRIGATORIAMENTE
as ações individuais já ajuizadas, no aguardo do julgamento da ação coletiva, o que
não impede o ajuizamento de outras ações individuais.

REsp 1.110.549-RS
RECURSO REPETITIVO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO COLETIVA.
MACRO-LIDE. CORREÇÃO DE SALDOS DE CADERNETAS DE POUPANÇA. SUSTAÇÃO
DE ANDAMENTO DE AÇÕES INDIVIDUAIS. POSSIBILIDADE.
1.- Ajuizada ação coletiva atinente a macro-lide geradora de processos
multitudinários, suspendem-se as ações individuais, no
aguardo do julgamento da ação coletiva.
2.- Entendimento que não nega vigência aos aos arts. 51, IV e § 1º, 103 e 104 do
Código de Defesa do Consumidor; 122 e 166 do Código Civil; e 2º e 6º do Código
de Processo Civil, com os quais se harmoniza, atualizando-lhes a interpretação
extraída da
potencialidade desses dispositivos legais ante a diretriz legal resultante do
disposto no art. 543-C do Código de Processo Civil,
com a redação dada pela Lei dos Recursos Repetitivos (Lei n. 11.672, de 8.5.2008).
3.- Recurso Especial improvido.

A partir do momento que foi criado o sistema dos recursos repetitivos não tem mais sentido
deixar processar as ações individuais que quando chegar no STJ serão julgadas por
amostragem cuja decisão será aplicada a todos. Então para não usar indevidamente a máquina
judiciária é melhor suspender obrigatoriamente.

No REsp STJ decidiu que “ajuizada ação coletiva atinente a macrolide geradora de processos
multitudinários, suspende-se obrigatoriamente as ações individuais no aguardo do

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 29


julgamento da ação coletiva”, o que de qualquer forma não impede o ajuizamento da ação
individual. Se impedir ajuizamento da ação individual viola-se o direito de petição.

Qual o fundamento dessa decisão do STJ?


Aplicação analógica do art. 543-C do CPC (recursos especiais repetitivos). É interpretação
criticada do ponto de vista da lei, mas de acordo com o sistema tem lógica.

Exemplo: expurgos inflacionários das cadernetas de poupança.

CONCLUSÃO

A luz do CDC é facultativa a opção pela suspensão. Pelo STJ a suspensão é


obrigatória.

Graças ao STJ, tem-se, hoje, 2 modelos de suspensão das ações individuais no aguardo da ação
coletiva:

1º  SUSPENSÃO VOLUNTÁRIA – art. 104, CDC.


2º  SUSPENSÃO “JUDICIAL” – art. 543-C, CPC.

(5) Julgamento da ação coletiva – FIM DA SUSPENSÃO

Julgada improcedente a ação coletiva para a tutela dos direitos individuais homogêneos (e,
para alguns, também dos direitos coletivos strito sensu), a ação individual suspensa retoma
seu curso, e deverá ser julgada.

Entretanto, se a ação coletiva for procedente, há o transporte in utilibus da decisão,


extinguindo-se a ação individual (falta de interesse de agir) ou convertendo-se a ação
individual em liquidação e execução.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 30


(6) Decisão coletiva superveniente

Se a ação individual já foi julgada improcedente, com trânsito em julgado, e


posteriormente sobreveio uma ação coletiva procedente (difusos, coletivos, individuais
homogêneos), o indivíduo pode se beneficiar?

Correntes:

1. NÃO.
Segundo a prof. Ada Pellegrini, a se interpretar o sistema pátrio, nota-se que
este prefere a coisa julgada individual à coletiva, já que a individual é feita
para o seu caso, é melhor do que coisa julgada genérica.
Logo, o indivíduo não vai poder ser beneficiado com a ação coletiva
procedente.

2. SIM.
Hugo Nigri Mazili sustenta que o indivíduo pode se beneficiar da ação coletiva
procedente, sob 2 argumentos:
a) Essa possibilidade preserva o princípio da igualdade, na medida em que
preserva igual direito assegurado àquele que não se prontificou a
defender seu interesse individual também ao interessado que, diligente, o
fez.
b) O autor da individual desacolhida não teve a oportunidade de suspender a
ação individual proposta (art. 104, CDC), vez que não havia ação coletiva
àquele tempo.

(7) COISA JULGADA SECUNDUM EVENTUM PROBATIONIS

Nos processos difusos e coletivos (e não nos individuais) a improcedência por FALTA DE
PROVAS – coisa julgada secundum eventum probationis – não faz coisa julgada material e,
portanto, sempre permite a propositura de nova ação coletiva de mesmo objeto.

 Ajuizada uma nova ação coletiva, ele deve conter uma


preliminar indicando qual é a nova prova. Se não o fizer o autor, deverá o
juiz determinar a emenda, sob pena de indeferimento.

 A nova ação pode ser proposta, inclusive, por quem foi


vencido na 1ª ação.

 A possibilidade da nova propositura decorre da LEI, de


modo que não é necessário que se declare na sentença a improcedência por
ausência de provas.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 31


A verificação dos motivos da improcedência (direito ou falta de provas) se
fará com base na fundamentação da sentença.

(8)

Já na ação coletiva para tutela dos interesses individuais homogêneos, a improcedência por
QUALQUER FUNDAMENTO (inclusive por falta de provas) faz COISA JULGADA MATERIAL,
impedindo o ajuizamento de nova ação coletiva, preservando-se, apenas, a pretensão
individual.

 Quanto aos direitos individuais homogêneos o sistema não adota a


coisa julgada secundum eventum probationis.

 OPÇÃO POLÍTICA DO LEGISLADOR: os individuais homogêneos


protegem não a sociedade e sim ao indivíduo; logo perdida a coletiva, acabada a
coletiva, só permitindo a via individual.

(9)

Há precedentes da Justiça do Trabalho indicando que nas ações coletivas ajuizadas por
sindicatos para a tutela dos interesses INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS (e, para alguns,
também dos interesses COLETIVOS), a improcedência obsta, inclusive, as pretensões
individuais dos sindicalizados.

Esse precedente vai contra tudo o que foi dito até agora,
já que a coisa julgada não é in utilibus, e sim pro et
contra.

FUNDAMENTO: a sindicalização não é obrigatória! Sendo assim, diz-se que o sindicato tem
representação melhor do que qualquer outro interessado coletivo (afasta a idéia de que o
indivíduo “não pediu para ser representado”).

(10) Transporte in utilibus da sentença penal condenatória

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 32


Art. 103,§4º do CDC: indica a possibilidade da utilização da sentença penal condenatória nos
mesmos moldes da sentença coletiva. É o transporte in utilibus da sentença penal
condenatória para o cível.

Art. 103, §4º, CDC - Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal

condenatória.

§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado


com o art. 13 da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, não
prejudicarão as ações de indenização por danos pessoalmente
sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste
código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus
sucessores, que poderão proceder à liquidação e à execução, nos
termos dos arts. 96 a 99.

Ex: através de um processo coletivo, condena-se uma pessoa por crime ambiental. Um
indivíduo prejudicado (ex: pescador que vivia da pesca em rio poluído), com base nesta
sentença penal, promove a liquidação e execução no cível. A sentença penal faz as
vezes de sentença coletiva.

• A execução desta sentença só pode ocorrer contra o condenado e não contra terceiros. Para
condenar co-responsáveis civis teria que entrar com ação autônoma.

• A sentença absolutória no crime, como regra, não veda nem a ação coletiva e nem a
pretensão individual.

• Quando ficar provada a inexistência do fato ou inexistência da autoria, são hipóteses


excepcionais em que há simbiose entre jurisdição penal e civil (individual e coletiva).

(11) Atomização - inconstitucionalidade

Art. 16, LACP. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites
da competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado
improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer
legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-
se de nova prova. (Redação dada pela Lei nº 9.494, de 10.9.1997)

Art. 2o-A., L. 9.494/97. A sentença civil prolatada em ação de caráter


coletivo proposta por entidade associativa, na defesa dos interesses e
direitos dos seus associados, abrangerá apenas os substituídos que
tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da
competência territorial do órgão prolator. (Incluído pela Medida provisória
nº 2.180-35, de 2001)
Parágrafo único. Nas ações coletivas propostas contra a União, os Estados,
o Distrito Federal, os Municípios e suas autarquias e fundações, a petição
inicial deverá obrigatoriamente estar instruída com a ata da assembléia da
entidade associativa que a autorizou, acompanhada da relação nominal dos
seus associados e indicação dos respectivos endereços. (Incluído pela
Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 33


A doutrina afirma que estes dispositivos são inconstitucionais e ineficazes, sob os seguintes
argumentos:

1. Foram eles inseridos no ordenamento jurídico pátrio por meio de MP violadora da regra
constitucional da relevância e urgência. – Cássio Scarpinella Bueno

2. Os dispositivos são ineficazes porque não houve alteração concomitante do art. 103 do
CDC, que não contem tal restrição. Idéia do microssistema! – Ada P. G.

3. O legislador confundiu 2 institutos processuais distintos: coisa julgada X competência.


Haveria, portanto, inconstitucionalidade pela falta de razoabilidade. – Nelson Nery Jr.

PARA OS TRIBUNAIS:

- No STJ, há julgados entendendo pela inconstitucionalidade destes


dispositivos.

- O STF, todavia, no EREsp 293.407-SP (Corte Especial) e, mais


recentemente, no REsp 399.357-SP, entendeu que pelo menos para os
interesses individuais homogêneos, estes 2 dispositivos são válidos.

Entretanto, neste julgamento, restou em aberto a possibilidade de se sustentar que se o órgão


jurisdicional superior apreciar a questão (TJ, TRF, STJ e STF) há expansão dos efeitos da decisão
para o Estado e para o Brasil, o que poderia levar a parte vencida a não recorrer para, evitando
este fenômeno, manter os efeitos da decisão nos estritos limites do órgão jurisdicional de 1º
grau.

(12) Relativização da coisa julgada

Hoje já se fala no âmbito do processo coletivo em relativização da coisa julgada coletiva.


Aplica-se o regime da relativização da coisa julgada também ao processo coletivo.

No processo coletivo essa teoria é importante tendo-se em vista os avanços na área de ciência
e tecnologia.
Ex em 98 se dizia que queimar cana não fazia mal ao meio ambiente, hoje é provado que faz
mal, então tem que relativizar a coisa julgada tendo em vista a situação atual.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 34


(13) Mandado de segurança coletiva

Tudo que se disse até agora não se aplica ao MS coletivo. MS coletivo tem regime próprio, arts.
21 e 22 da nova lei de MS.

7. RELAÇÃO ENTRE AS DEMANDAS

TEORIAS

No sistema brasileiro, o que define a relação entre demandas é a teoria da TRÍPLICE


IDENTIDADE (art. 301, §§, CPC – identidade de elementos: partes – pedido – causa de
pedir).

Art. 301, CPC


§ 1o Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada, quando se
reproduz ação anteriormente ajuizada.
§ 2o Uma ação é idêntica à outra quando tem as mesmas partes, a
mesma causa de pedir e o mesmo pedido.
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 35
§ 3o Há litispendência, quando se repete ação, que está em curso; há
coisa julgada, quando se repete ação que já foi decidida por sentença,
de que não caiba recurso.
§ 4o Com exceção do compromisso arbitral, o juiz conhecerá de ofício
da matéria enumerada neste artigo.

Essa teoria, no entanto, é falha. E para suprir essas eventuais falhas, os Tribunais acabam
invocando, por vezes, a teoria da IDENTIDADE DA RELAÇÃO JURÍDICA MATERIAL (o que
importa é o direito material em debate; é uma teoria casuística).

Ex: 3 irmãos são proprietários de um imóvel, e apenas um deles ajuíza ação contra invasores da terra. A
ação é julgada improcedente. Os outros 2 irmãos ajuízam nova ação (autores diversos) para o mesmo
propósito (pedido e causa de pedir repetidos). Não há tríplice identidade, mas há identidade da relação
jurídica material.

TEORIA DA TRÍPLICE
IDENTIDADES IDENTIDADE
ENTRE
DEMANDAS TEORIA DA IDENTIDADE DA RELAÇÃO
JURÍDICA MATERIAL

EFEITOS

Quem define as conseqüências da identidade total ou parcial da demanda é o sistema, de


modo que ele pode dar soluções distintas caso a caso (extinção, reunião ou suspensão de
processos).

Trata-se de típica opção política do legislador.

7.1. Relação entre dois processos individuais em curso: PROCESSO X


PROCESSO
INDIVIDUA INDIVIDUA
L L

Havendo identidade de elementos (partes, pedidos e causa de pedir), qualquer que seja a
teoria adotada, esta identidade pode ser:

• TOTAL: se isso acontecer no processo civil brasileiro tem-se a COISA JULGADA (se for
coisa julgada de processo que já acabou) ou LITISPENDÊNCIA (se for coisa julgada de
processo que não acabou) – art. 301 e parágrafos do CPC.
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 36
Conseqüência para o processo: a extinção do processo.

COISA JULGADA
IDENTIDAD
E TOTAL
LITISPENDÊNCIA
(EXTINÇÃO – ART. 267,
V)

• PARCIAL: apenas um ou outro elemento coincide. Tem-se então a CONEXÃO ou


CONTINÊNCIA. Arts. 103 e 104 do CPC.

Conseqüência para o processo: se possível haverá reunião para julgamento conjunto –


art. 105 do CPC.

CONEXÃO
IDENTIDAD
E PARCIAL
(reunião para julgamento CONTINÊNCIA
conjunto, se possível – art.
105)

Art. 103. Reputam-se conexas duas ou mais ações, quando Ihes for comum o
objeto ou a causa de pedir.
Art. 104. Dá-se a continência entre duas ou mais ações sempre que há
identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o objeto de uma, por ser
mais amplo, abrange o das outras.
Art. 105. Havendo conexão ou continência, o juiz, de ofício ou a requerimento
de qualquer das partes, pode ordenar a reunião de ações propostas em
separado, a fim de que sejam decididas simultaneamente.

PROCESSO PROCESSO
7.2. Relação entre processo individual e coletivo: X
INDIVIDUA COLETIVO
L

 IDENTIDADE TOTAL  não é possível!

Fundamento dessa impossibilidade: somente a causa de pedir pode coincidir.

- Partes (formalmente): sempre distintas


- Pedidos: sempre distintos, tendo em vista que o pedido da ação coletiva ou é
difuso/coletivo ou é genérico (individuais homogêneos).

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 37


Ex: na ação individual o pedido é valor da indenização é X, na ação coletiva o pedido é
indenizar todas as mulheres vítimas do microvlar.

Art. 95. Em caso de procedência do pedido, a condenação


será genérica, fixando a responsabilidade do réu pelos
danos causados.

II e III – pendência de ação para tutela de direitos


coletivos e individuais homogêneos - e não os difusos,
O que diz a lei: cujo pedido é diverso do individual.
Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II e do parágrafo
único do art. 81, NÃO INDUZEM LITISPENDÊNCIA PARA AS AÇÕES
INDIVIDUAIS, mas os efeitos da coisa julgada erga omnes ou ultra
partes a que aludem os incisos II e III do artigo anterior não beneficiarão
os autores das ações individuais, se não for requerida sua suspensão no
prazo de trinta dias, a contar da ciência nos autos do ajuizamento da
ação coletiva.

 IDENTIDADE PARCIAL  pode ocorrer exclusivamente quanto à CAUSA DE PEDIR.

CONEXÃO
IDENTIDADE
PARCIAL
Não acontecerá porque:
CONTINÊNCIA
(1) As partes nunca serão iguais.
(2) O pedido da ação coletiva não
é MAIOR, e sim DIFERENTE.

Consequência:
Suspensão da ação individual requerida pela própria parte (suspensão facultativa –
art. 104, CDC) ou determinada pelo juiz (suspensão judicial – REsp 1.110.549/RS).

PROCESSO PROCESSO
7.3. Relação entre processos coletivos: X
COLETIVO COLETIVO

Qualquer tipo de coletiva pode relacionar entre si.

• IDENTIDADE TOTAL
É possível haver 2 ações coletivas iguais, idênticas.
Ex: ações promovidas pelo MP e por associação de proteção ao meio ambiente.
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 38
COISA JULGADA Importa em EXTINÇÃO.*
IDENTIDAD
E TOTAL
LITISPENDÊNCI

Correntes:

(1) Tereza Arruda Alvim Wambier sustenta que é caso de


extinção de uma das ações, sendo facultado ao autor da
ação extinta, entretanto, ingressar como litisconsorte na
ação sobejante. [minoritária]

(2) Ada Pelegrini: as ações deverão ser reunidas para


julgamento conjunto, desde que possível. Não sendo
possível a reunião (se, por ex., estiverem as ações em
instâncias distintas), deve haver a suspensão de uma das
ações. [prevalece na doutrina e na jurisprudência]

*CUIDADO:

A coisa julgada secundum eventum litis pode permitir que uma segunda ação seja proposta.

Art. 103, §3°, CDC - Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16,
combinado com o art. 13 da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, não
prejudicarão as ações de indenização por danos pessoalmente sofridos,
propostas individualmente ou na forma prevista neste código, mas, se
procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão
proceder à liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99

• IDENTIDADE PARCIAL

Sendo possível a identidade total, certamente também o será a identidade parcial.

Consequência:
Segue a regra do processo individual, ou seja, a identidade parcial leva a REUNIÃO para
julgamento conjunto ou SUSPENSÃO.
7.4. Critério para unificação de demandas coletivas relacionadas

PROCESSO PROCESSO
prevenção
COLETIVO COLETIVO 2
1

CRITÉRIOS DE PREVENÇÃO:
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 39
(a) DESPACHO POSITIVO - ART. 106, CDC

(b) CITAÇÃO - ART. 219 DO CPC.

(c) PROPOSITURA - há 2 regras da legislação


específica (art. 2º da LACP e art. 5º da LAP) que estabelecem a regra da
propositura como prevenção.

A regra aplicável é a da PROPOSITURA, que é regra do microssistema


(doutrina).

O art. 5º da LAP fala em JUÍZO UNIVERSAL DAS AÇÕES COLETIVAS, ou


seja, o juiz que receber a ação é prevento para todas as outras ações.

Art. 2º, LACP – As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do
local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para
processar e julgar a causa.
Parágrafo único A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo
para todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma
causa de pedir ou o mesmo objeto.

Art. 5º, LAP –Conforme a origem do ato impugnado, é competente para


conhecer da ação, processá-la e julgá-la o juiz que, de acordo com a
organização judiciária de cada Estado, o for para as causas que
interessem à União, ao Distrito Federal, ao Estado ou ao Município.
§ 1º Para fins de competência, equiparam-se atos da União, do Distrito
Federal, do Estado ou dos Municípios os atos das pessoas criadas ou
mantidas por essas pessoas jurídicas de direito público, bem como os
atos das sociedades de que elas sejam acionistas e os das pessoas ou
entidades por elas subvencionadas ou em relação às quais tenham
interesse patrimonial.
§ 2º Quando o pleito interessar simultaneamente à União e a qualquer
outra pessoas ou entidade, será competente o juiz das causas da União,
se houver; quando interessar simultaneamente ao Estado e ao Município,
será competente o juiz das causas do Estado, se houver.
§ 3º A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as
ações, que forem posteriormente intentadas contra as mesmas partes e
sob os mesmos fundamentos.
§ 4º Na defesa do patrimônio público caberá a suspensão liminar do ato
lesivo impugnado.

Atenção!

Há julgados do STJ ignorando a regra da LAP e LACP, determinando a aplicação do art. 106 do
CDC e 219 do CPC.

8. COMPETÊNCIA NAS AÇÕES COLETIVAS

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 40


(não se aplica o dito aqui ao MS coletivo, que
tem regras próprias de competência).

(a) CRITÉRIO FUNCIONAL ou HIERÁRQUICO:

O critério funcional ou hierárquico prevê foro privilegiado, que nada mais é do que a
possibilidade de a pessoa ser julgada diretamente pelos tribunais.

Nas ações coletivas, a regra geral é de que são todas elas ajuizadas em
primeira instância. Logo, NÃO HÁ FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO
(lembrar que o MS não entra nessa regra), não importando o status da
autoridade.

Observações:

• Houve tentativa de se criar foro por


prerrogativa para ações de improbidade administrativa, através do art. 84 do CPP (queria
que o réu de improbidade fosse julgado pelo tribunal competente para julgar crime). O
STF, porém, no julgamento da ADI 2797, declarou inconstitucional este dispositivo, sob o
fundamento de que só a CR pode estabelecer foro privilegiado, isso não pode ser
estabelecido por legislação infraconstitucional.

• De acordo com Hugo Nigri Mazili nas ações


coletivas que envolvem perda de cargo, a competência para julgá-la ainda é de primeiro
grau, mas o juiz não poderá decretar tal sanção se a CR previr forma diversa de
desinvestidura. Ele é adepto de que improbidade administrativa se aplica ao agente
político (não é a posição do STF).

Ex presidente, governador, prefeito tem formas de desinvestiduras previstas na


CR, logo o juiz da ação coletiva poderá aplicar qualquer outra sanção que não
seja a perda do cargo.

O STF, entretanto, já indicou que, se for admitida a improbidade administrativa contra ministro
do STF, só o próprio STF pode julgá-lo. Seria exceção a regra de que o julgamento se daria em
primeira instância.

PET 3211 - DF
Questão de ordem. Ação civil pública. Ato de improbidade administrativa.
Ministrodo Supremo Tribunal Federal. Impossibilidade. Competência da Corte
para processar e julgar seus membros apenas nas infrações penais comuns.
1. Compete ao Supremo Tribunal Federal julgar ação de improbidade contra
seus membros. 2. Arquivamento da ação quanto ao Ministro da Suprema
Corte e remessa dos autos ao Juízo de 1º grau de jurisdição no tocante aos
demais.
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 41
(b) CRITÉRIO MATERIAL:

Este critério trabalha com o assunto versado na ação. Por ele, já se sabendo que
o julgamento será em 1ª instância, busca-se estabelecer qual a Justiça
competente: justiça eleitoral, do trabalho, federal e estadual.

Observações:

• Cabe ACP/ação coletiva na justiça eleitoral?


Sim, em princípio cabe, desde que a causa de pedir esteja relacionado ao art. 121 da
CR/88 poderia ter competência da justiça eleitoral para julgar ACP.

• Há competência da ACP na área trabalhista para discutir meio ambiente do trabalho.


Súmula 736 do STF.

Súmula 736 do STF: compete à justiça do trabalho julgar as ações que tenham como
causa de pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e
saúde dos trabalhadores.

• Competências das justiças comuns: federal e estadual. Os critérios constitucionais para


definir a competência não são seguros, segundo a doutrina. O critério é o do interesse
da parte.

- O que disciplina a competência da justiça federal é o art. 109 da CR. Ele estabelece,
por exemplo, que a JF julga causas que tiver interesse da União, autarquias federais e
EP.
Ex rio que corta 2 Estados é rio da União. Poluição nesse rio, de quem é a competência
para julgar a ação coletiva? Depende se o órgão da Uniao, IBAMA e diz que tem
interesse,ai é competência da JF. Se o IBAMA falar que o dano foi só em parte do rio, a
parte estadual, não vai ter interesse da União.
Mangue  vai depender do órgão vir e manifestar interesse , ai será da JF, porém se
não houver interesse a competência é da justiça estadual.

- Súmula 150 do STJ diz que quem define se há ou não interesse do órgão federal a
própria justiça federal.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 42


Ex IBAMA fala que tem interesse, juiz estadual remete ao federal, juiz federal entende
não ter interesse, ai remete os autos a justiça estadual, o juiz estadual não vai poder
suscitar o conflito de competência, vai ter que julgar o caso.

Súm 150, STJ: compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse
jurídico que justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou
empresas públicas.

(c) CRITÉRIO VALORATIVO:

Este critério define, nacionalmente, a competência dos juizados especiais.


Em matéria de ações coletivas, porém, é um critério inútil, já que de acordo com o art. 3º, I
da lei 10259/01 não cabe nenhuma ação coletiva no âmbito dos juizados especiais.

(d) CRITÉRIO TERRITORIAL:

Critério que define o LOCAL onde deve ser ajuizada a ação.

- Há duas posições:

1ª corrente

É aplicável a todos os interesses metaindividuais a regra do art. 93 do CDC: se o dano


for local, a competência é do local do dano; se o dano for estadual ou regional, a
competência será da capital do Estado; se o dano for nacional, a competência será da
DF ou da capital de qualquer dos Estados envolvidos. É a posição dominante.

Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para


a causa a justiça local:
I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de
âmbito local;
II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos
de âmbito nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de
Processo Civil aos casos de competência concorrente.

Obs.
A súmula 183 do STJ foi revogada (Compete ao Juiz Estadual, nas
Comarcas que não sejam sede de vara da Justiça Federal, processar e
julgar ação civil pública, ainda que a União figure no processo) Ela trazia
uma hipótese de delegação da competência da justiça federal para a
justiça estadual. Agora será julgado na justiça federal, ainda que não haja
sede da justiça federal na cidade.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 43


- 2ª corrente

Realiza distinção em relação ao tipo de interesse coletivo protegido.

 Quando se tratar de interesses difusos e coletivos, aplica-se a regra do art. 2º


da LACP (local do dano). Nesse caso a doutrina entende que a competência é
absoluta.

Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local


onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para
processar e julgar a causa.
Parágrafo único A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo
para todas as ações posteriormente intentadas que possuam a
mesma causa de pedir ou o mesmo objeto. (Incluído pela Medida
provisória nº 2.180-35, de 2001)

 Se se tratar de direitos individuais homogêneos, aplica-se a


regra do art. 93 do CDC (dano local, regional ou nacional). Diferente da primeira
corrente, entende que a competência é relativa.

(e) A QUESTÃO DO ART. 16 DA LACP

Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da
competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for
julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que
qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico
fundamento, valendo-se de nova prova. (Redação dada pela Lei nº 9.494,
de 10.9.1997)

Se um juiz julgar uma causa, a decisão somente terá validade no território em que o
magistrado possui competência. O objetivo dessa restrição é diminuir o alcance do processo
coletivo.
Ex.: juiz de Pitangui julgou sobre poupança. Sentença só vale na comarca de Pitangui.

Doutrina

A doutrina, de modo uniforme, entende que esse dispositivo é inconstitucional e ineficaz por
violação à proporcionalidade.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 44


O objetivo lógico do processo coletivo é resolver os problemas de forma coletiva e essa
previsão individualiza a solução dos conflitos. É ineficaz porque não houve alteração dos
arts. 93 e 103 do CDC. O legislador confundiu dois institutos jurídicos: competência e
coisa julgada. Além disso, regra geral a sentença brasileira pode até valer no
estrangeiro, mas se for proferida em sede de processo coletivo não valerá na comarca
vizinha.

Jurisprudência

A jurisprudência, no âmbito do STJ, está uniformizada no RESP 399.357. A Corte Especial


entendeu que o dispositivo é constitucional. A limitação territorial é válida, ou seja, o legislador
pode prever que a decisão só vale no local em que foi proferida.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RESP Nº 399.357 - SP (2009/0093246-5)


RELATOR : MINISTRO FERNANDO GONÇALVES
EMBARGANTE : BANCO DE CRÉDITO NACIONAL S/A
ADVOGADO : EDUARDO ARRUDA ALVIM E OUTRO(S)
EMBARGADO : INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR IDEC ADVOGADO :
MARCOS VICENTE DIEGUES RODRIGUEZ E OUTRO(S)
EMENTA EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. EFICÁCIA.
LIMITES. JURISDIÇÃO DO ÓRGÃO PROLATOR.
1 - Consoante entendimento consignado nesta Corte, a sentença proferida em ação civil
pública fará coisa julgada erga omnes nos limites da competência do órgão prolator da
decisão, nos termos do art. 16 da Lei n. 7.347/85, alterado pela Lei n. 9.494/97.
Precedentes.
2 - Embargos de divergência acolhidos.

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Seção do
Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a
seguir, por unanimidade, acolher os embargos de divergência. Os Ministros Aldir
Passarinho Junior, Nancy Andrighi, Sidnei Beneti, Luis Felipe Salomão, Vasco Della
Giustina (Desembargador convocado do TJ/RS), Paulo Furtado (Desembargador
convocado do TJ/BA) e Honildo Amaral de Mello Castro (Desembargador convocado do
TJ/AP) votaram com o Ministro Relator. Impedido o Ministro Massami Uyeda.
Brasília, 09 de setembro de 2009. (data de julgamento)

Essa decisão deixou uma brecha:


Art. 512 do CPC (efeito substitutivo do julgamento pelo Tribunal). Uma vez que o
acórdão do Tribunal substitui a sentença, o que vai acontecer com a validade da
decisão?

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 45


Ex.: decisão de SP reformada por um acórdão do TJSP (ocorre substituição da
sentença pelo acórdão). A competência territorial do TJSP é o Estado de SP,
assim, a decisão passa a valer para todo o Estado. Se a decisão for substituída
por um acórdão do STF ou do STJ, a decisão passa a ser nacional.

Art. 512. O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a sentença ou a


decisão recorrida no que tiver sido objeto de recurso.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 46


9. LIQUIDAÇÃO E EXECUÇÃO DE SENTENÇA COLETIVA

9.1. Interesses difusos e coletivos

Existem dois tipos / modelos de liquidação e execução de sentença coletiva:

EXECUÇÃO / LIQUIDAÇÃO DA PRETENSÃO COLETIVA – art. 15, LACP

EXECUÇÃO / LIQUIDAÇÃO DA PRETENSÃO INDIVIDUAL

9.1.1. EXECUÇÃO / LIQUIDAÇÃO DA PRETENSÃO COLETIVA

Art. 15. Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado da


sentença condenatória, sem que a associação autora lhe
promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público,
facultada igual iniciativa aos demais legitimados. (Redação
dada pela Lei nº 8.078, de 1990)

LEGITIMIDADE

•Autor
•Demais co-legitimados
•MP

O MP atua subsidiariamente!!! O que é faculdade para os particulares e


obrigatório para o MP.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 47


COMPETÊNCIA

A competência para a execução/liquidação será do próprio juízo da condenação.

DESTINATÁRIO

Os valores arrecadados são destinados a um FUNDO DE REPARAÇÃO de bens difusos e


coletivos lesados.

Art. 13, LACP - Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano


causado reverterá a um fundo gerido por um Conselho Federal ou por
Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o Ministério
Público e representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados à
reconstituição dos bens lesados.
Parágrafo único. Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro ficará
depositado em estabelecimento oficial de crédito, em conta com correção
monetária.

Lei 9.008/95 -

- São vários fundos: um federal (L. 9.008/95) e vários estaduais.


- Além disso, a verba de cada tipo de condenação irá para uma
conta diferente.
- Praticamente todos os fundos são parecidos. O mais importante é
saber a finalidade do fundo: REPARAÇÃO dos bens lesados (serve
para reparar os bens, fazer campanhas educativas, etc.).

Esse fundo tem-se mostrado um grande problema, pois é muito


difícil movimentar os valores depositados nesse fundo – o $$ se
torna verba pública, e a sua movimentação passa a depender de
lei orçamentária.

Obs.

Quando o dano lesar o patrimônio público, a destinatária do valor da condenação será a


Pessoa Jurídica lesada, e não o fundo.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 48


9.1.2. EXECUÇÃO / LIQUIDAÇÃO DA PRETENSÃO INDIVIDUAL decorrente da sentença coletiva

Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa
julgada:
I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de
provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com
idêntico fundamento valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do
parágrafo único do art. 81;
II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo
improcedência por insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior, quando
se tratar da hipótese prevista no inciso II do parágrafo único do art. 81;
III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas
as vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81.
§ 1° Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão
interesses e direitos individuais dos integrantes da coletividade, do grupo,
categoria ou classe.
§ 2° Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência do pedido, os
interessados que não tiverem intervindo no processo como litisconsortes poderão
propor ação de indenização a título individual.
§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art. 13 da
Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de indenização por
danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista
neste código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus
sucessores, que poderão proceder à liquidação e à execução, nos termos dos arts.
96 a 99.
§ 4º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal condenatória.

Lembrar do transporte in utilibus da sentença coletiva – art. 103 CDC


Ex.: poluição em um Rio. O pescador individual pode pegar a sentença do
difuso para executar o prejuízo que ele sofreu.

LEGITIMIDADE: vítimas ou seus sucessores.

LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA

Para que as vítimas e sucessores recebam o dinheiro, antes da execução, é


necessário realizar liquidação da sentença genérica coletiva. Regra geral, a
liquidação serve apenas para calcular o quantum, mas no processo coletivo essa
liquidação serve para apurar o quantum e o an debeatur, ou seja, além de apurar
valores, essa liquidação exige a prova do dano e do nexo causal

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 49


Ex.: O pescador, antes de mais nada, deverá provar que ele é pescador naquele rio
e só depois é que será calculado o valor do seu ressarcimento.

É por causa da necessidade de provar o an debeatur que alguns preferem o termo


HABILITAÇÃO e outros a denominam “LIQUIDAÇÃO IMPRÓPRIA”.

DESTINATÁRIO DO VALOR DA INDENIZAÇÃO: vítimas e sucessores.

COMPETÊNCIA CONCORRENTE:

São competentes para o processamento da pretensão individual o JUÍZO DO DOMICÍLIO DO


LESADO (art. 101, I do CDC) ou JUÍZO DA CONDENAÇÃO (art. 98, §2º, I do CDC).

A opção é da vítima ou de seus sucessores.

Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e


serviços, sem prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão
observadas as seguintes normas:
I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor;

Art. 98. A execução poderá ser coletiva, sendo promovida pelos legitimados
de que trata o art. 82, abrangendo as vítimas cujas indenizações já tiveram
sido fixadas em sentença de liquidação, sem prejuízo do ajuizamento de
outras execuções. (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)
[...]
§ 2° É competente para a execução o juízo:
I - da liquidação da sentença ou da ação condenatória, no caso de
execução individual;

9.2. Interesses individuais homogêneos

Existem dois tipos / modelos de liquidação e execução:

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 50


EXECUÇÃO / LIQUIDAÇÃO DA PRETENSÃO INDIVIDUAL – art. 97, CDC

EXECUÇÃO / LIQUIDAÇÃO DA PRETENSÃO INDIVIDUAL COLETIVA

EXECUÇÃO / LIQUIDAÇÃO DA PRETENSÃO COLETIVA RESIDUAL

9.2.1. EXECUÇÃO / LIQUIDAÇÃO DA PRETENSÃO INDIVIDUAL

Art. 97, CDC. A liquidação e a execução de sentença


poderão ser promovidas pela vítima e seus sucessores,
assim como pelos legitimados de que trata o art. 82.

Aplica-se, aqui, todo o exposto no tópico 9.1.2.

Legitimados: vítima e sucessores.

É necessário realizar a denominada “liquidação imprópria”. O destinatário do


dinheiro é a vítima ou seus sucessores e a competência é a do juízo da
condenação ou do domicílio da vítima.

Honorários Advocatícios

Súmula 345 do STJ: são devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas
execuções individuais de sentença proferida em ações coletivas, ainda que não
embargadas. Ver. Art 4 – que dispõe que nas ações individuais em execução se não
houver embargos interpostos pela Fazenda Pública não será devidos honorários
advocatícios.

9.2.2. EXECUÇÃO / LIQUIDAÇÃO DA PRETENSÃO INDIVIDUAL COLETIVA

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 51


Art. 98, CDC. A execução poderá ser coletiva, sendo promovida pelos
legitimados de que trata o art. 82, abrangendo as vítimas cujas
indenizações já tiveram sido fixadas em sentença de liquidação, sem
prejuízo do ajuizamento de outras execuções. (Redação dada pela Lei nº
9.008, de 21.3.1995)
§ 1° A execução coletiva far-se-á com base em certidão das sentenças de
liquidação, da qual deverá constar a ocorrência ou não do trânsito em
julgado.
§ 2° É competente para a execução o juízo:
I - da liquidação da sentença ou da ação condenatória, no caso de
execução individual;
II - da ação condenatória, quando coletiva a execução.

A execução da pretensão individual coletiva é a execução das pretensões individuais já


liquidadas, em conjunto.
Ex.: várias mulheres lesadas pela pílula de farinha já liquidaram a sentença individual
homogênea e já sabem o valor da indenização de cada uma delas. Aí elas optam por executar
em conjunto ao invés de executar individualmente.

LEGITIMIDADE:

À luz do art. 98 os legitimados são os arrolados art. 82 do CDC. Trata-se de hipótese de


representação (age em nome das vítimas em defesa do direito das vítimas): esses órgãos
agem em nome das mulheres para executar valores que pertencem às mulheres.

Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados
concorrentemente: (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)
I - o Ministério Público,
II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que
sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos
interesses e direitos protegidos por este código;
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam
entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este
código, dispensada a autorização assemblear.
§ 1° O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas ações
previstas nos arts. 91 e seguintes, quando haja manifesto interesse social
evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem
jurídico a ser protegido.

DESTINATÁRIO $$:

O destinatário da indenização é a vítima ou seus sucessores.

Marcelo Abelha diz que esta ação é uma ação pseudo-coletiva (falsa ação
coletiva), isto pois, a pretensão discutida é individual.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 52


COMPETÊNCIA:

A regra é diferente: não obstante a pretensão seja individual, a execução é coletiva. Por isso
somente é competente o juízo da condenação.

9.2.3. EXECUÇÃO / LIQUIDAÇÃO DA PRETENSÃO COLETIVA RESIDUAL


(fluid recovery)

Art. 100, CDC. Decorrido o prazo de um ano sem habilitação de interessados


em número compatível com a gravidade do dano, poderão os legitimados do
art. 82 promover a liquidação e execução da indenização devida.
Parágrafo único. O produto da indenização devida reverterá para o fundo
criado pela Lei n.° 7.347, de 24 de julho de 1985.

CONCEITO

Fenômeno a partir do qual, não havendo habilitados em número compatível à extensão dos
danos, permite-se aos legitimados coletivos apurar o valor supostamente devido e executá-lo a
bem não mais dos indivíduos, mas sim da coletividade, sendo manejados para o fundo do art.
13 da LACP – reparação fluída.

Ex.: caso da pílula de farinha. O juiz partiu do pressuposto de que aproximadamente 1500
mulheres foram lesadas e condenou o laboratório a indenizá-las, mas apenas 50 executaram
individualmente (dificuldade de prova, etc.). O valor que seria para as 1450 mulheres restantes
não é lucro do laboratório, será objeto dessa execução.

Isso foi copiado do sistema norte americano: fluid recovery é


uma exceção, somente ocorre se as vítimas não
aparecerem!!!

LEGITIMADOS:

Aqueles do art. 82 do CDC e art. 5º da LACP, mas isso só depois de passados 1 ano –
legitimação condicionada.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 53


DESTINATÁRIO DA INDENIZAÇÃO:

Fundo do art. 13 da LACP. Não são as outras vítimas, porque não se sabe quem são elas.

Art. 13, LACP - Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano


causado reverterá a um fundo gerido por um Conselho Federal ou por
Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o Ministério
Público e representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados à
reconstituição dos bens lesados.
Parágrafo único. Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro ficará
depositado em estabelecimento oficial de crédito, em conta com correção
monetária.

COMPETÊNCIA: juízo da condenação. Art. 98, §2º do CDC.

Art. 98. A execução poderá ser coletiva, sendo promovida pelos


legitimados de que trata o art. 82, abrangendo as vítimas cujas
indenizações já tiveram sido fixadas em sentença de liquidação, sem
prejuízo do ajuizamento de outras execuções. (Redação dada pela Lei nº
9.008, de 21.3.1995)
§ 2° É competente para a execução o juízo:
I - da liquidação da sentença ou da ação condenatória, no caso de
execução individual;
II - da ação condenatória, quando coletiva a execução.

Critérios para estimativa do valor devido:

- gravidade do dano
- número de indivíduos habilitados e indenizados

9.3. Observações finais

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 54


• Se o dano for ao patrimônio público, o dinheiro não vai para o fundo, mas para o próprio
patrimônio público.

• No concurso entre a indenização de pretensões coletivas e individuais, as pretensões


individuais têm preferência, depois as pretensões coletivas e sobrando dinheiro paga as
pretensões difusas.

Art. 99, CDC. Em caso de concurso de créditos decorrentes de condenação


prevista na Lei n.° 7.347, de 24 de julho de 1985 e de indenizações pelos
prejuízos individuais resultantes do mesmo evento danoso, estas terão
preferência no pagamento.
Parágrafo único. Para efeito do disposto neste artigo, a destinação da
importância recolhida ao fundo criado pela Lei n°7.347 de 24 de julho de
1985, ficará sustada enquanto pendentes de decisão de segundo grau as
ações de indenização pelos danos individuais, salvo na hipótese de o
patrimônio do devedor ser manifestamente suficiente para responder pela
integralidade das dívidas.

Cria-se um compasso de espera da execução em favor do fundo para aguardar a execução das
pretensões individuais, salvaguardando a ordem de pagamento preestabelecida.

PROBLEMA:

Uma vez encaminhado o dinheiro para o fundo, pergunta-se o que seria feito se as vítimas
aparecessem e, após liquidação, efetuassem a execução. O dinheiro não sairia do fundo, pois
se trata de verba pública contingenciada. Tampouco seria razoável exigir-se do devedor novo
pagamento, não há solução para este problema. Alguns, portanto, sustentam que uma vez
indenizado o fundo prescreveriam as pretensões das vítimas, de modo que, após isto, não
poderia haver novas execuções.

• PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA:

- Prescrição é a perda da pretensão.


- Decadência é a perda do direito material. Aplica-se para as
pretensões constitutivas e pretensões potestativas.

Prescrevem as pretensões coletivas:

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 55


1. AÇÃO POPULAR: art. 21 da Lei 4717/65 – 5 anos a partir do conhecimento do fato (idéia
de publicidade do fato)
A pessoa jurídica poderá entrar com a ação individual.
Ex. o cidadão possui 5 anos para ingressar na justiça para tentar reverter um dano
cometido contra o patrimônio publico, o que não significa que a pessoa jurídica não
possa depois deste prazo ingressar individualmente para reversão fora do prazo de 5
anos.

2. AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – art. 23 da Lei 8429/92 – 5 anos do fim do


mandato/cargo em comissão e se tratar de funcionários do quadro administrativo será
de 5 anos a partir do processo administrativo (sanção).

3. MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVA – Lei 1201609 – o prazo de decadência será de


120 dias.

4. AÇÃO CIVIL PÚBLICA – não existe previsão legal, assim 3 posições:

 1º corrente: Seria uma das ações perpétuas, sem prazo prescricional. Não há
interesse monetário. Edis Milaré

 2º corrente: A prescrição da ACP é definida pela pretensão de direito material


subjacente (discutido) – posição majoritária na doutrina.

 3º corrente: O STJ aplica o microssistema, buscando o prazo de 5 anos na Lei da


ação popular e na Lei da Ação de improbidade administrativa REsp 911961-SP

STJ porém, faz 2 ressalvas sustentando a imprescritibilidade da ACP:

a) Quando tratar-se de dano ao Patrimônio público – Resp 1107833 – SP


b) Quando tratar-se de Meio Ambiente Resp 1120117 - AC

2) AÇÃO CIVIL PÚBLICA

1. PREVISÃO LEGAL E SUMULAR

 A ACP nasceu com o art. 14, §1º da Lei 6.938/81 (lei nacional do meio ambiente), que
deu início às discussões de ação civil pública a cargo do MP. Sua preocupação era
exclusivamente ambiental.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 56


Art. 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal,
estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à
preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela
degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores:
§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o
poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar
ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por
sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá
legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal,
por danos causados ao meio ambiente.

O nome “ACP” deriva da idéia de “ação penal pública”. O MP passou então a ter não apenas a
ação penal pública, mas também a ação civil pública.

 Surgiram vários projetos para regulamentar esse artigo. O projeto elaborado pelo
MP/SP (Milaré) junto com o da Ada Pelegrini, Kazuo Watanabe e Dinamarco deu
origem à lei 7.347/85. Esta nova lei ampliou a abrangência da ACP para além dos
interesses ambientais.

 O advento da CR/88 reforçou a ação civil pública com seu art. 129, III.

Art. 129. São funções institucionais do Ministério


Público:
III - promover o inquérito civil e a AÇÃO CIVIL PÚBLICA,
para a proteção do patrimônio público e social, do meio
ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;

 Em 1990, a ACP ganhou ainda mais força com o CDC.

Obs.
Pelo histórico, observa-se que a ACP veio ganhando força. No entanto, também houve
retrocessos, em geral por meio de MP’s, tal como ocorreu com a inserção do art. 16 (limite
territorial das decisões em ACP), depois convertido em lei.

 Apesar dos 20 anos de vigência da LACP, o tema tem apenas 2 súmulas em vigor.

• Súmula 643, STF: O ministério público tem legitimidade para promover


ação civil pública cujo fundamento seja a ilegalidade de reajuste de
mensalidades escolares.

• Súmula 329, STJ: O MP tem legitimidade para propor ação civil pública
em defesa do patrimônio público.
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 57
Os titulares do direito são identificados por
categoria.

2. OBJETO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA

Tutela preventiva (inibitória ou de remoção do ilícito) ou ressarcitória (material e moral) dos


seguintes bens e direitos metaindividuais:

- Meio ambiente
- Consumidor
- Bens de valor histórico cultural
- Qualquer outro direito metaindividual
- Ordem econômica
- Ordem urbanística

Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as
ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: (Redação
dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994)
l - ao meio-ambiente;
ll - ao consumidor;
III – à ordem urbanística; (Incluído pela Lei nº 10.257, de 10.7.2001) (Vide
Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)
IV – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico;
V - por infração da ordem econômica e da economia popular; (Redação dada
pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)
VI - à ordem urbanística. (Redação dada pela Medida provisória nº 2.180-35, de
2001)
Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões
que envolvam tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço - FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos
beneficiários podem ser individualmente determinados. (Incluído pela Medida
provisória nº 2.180-35, de 2001)

Art. 3º A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o


cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.

Art. 11. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou
não fazer, o juiz determinará o cumprimento da prestação da atividade devida
ou a cessação da atividade nociva, sob pena de execução específica, ou de
cominação de multa diária, se esta for suficiente ou compatível,
independentemente de requerimento do autor.
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 58
2.1. TUTELA PREVENTIVA ou RESSARCITÓRIA - Marinoni

INIBITÓRI
PREVENTIVA A
TUTEL
DE REMOÇÃO DO
AS RESSARCITÓ ILÍCITO
RIA

As tutelas preventiva e ressarcitória se diferenciam no momento da atuação judicial frente o


dano:

 TUTELA PREVENTIVA  antes da ocorrência do dano; EVITAR.

 Se antes da ocorrência do ilícito = tutela preventiva inibitória (evitar o ilícito).


 Se após a configuração do ilícito = tutela preventiva de remoção (afastar o ato
ilegal e/ou danoso, evitando ou diminuindo o dano).

 TUTELA RESSARCITÓRIA = após a ocorrência do dano; REPARAR.

Ex.: importação de medicamento proibido.


- Tutela inibitória = impedir o ingresso do medicamento
- Tutela de remoção do ilícito = impedir a importação
- Tutela ressarcitória = impedir a comercialização

TUTELA PREVENTIVA

A tutela preventiva é gênero, que tem como espécies a tutela inibitória e a de remoção do
ilícito.
A preventiva tem lastro no art. 461 do CPC e no art. 84 do CDC.

Art. 461, CPC. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou
não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o
pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do
adimplemento. (Redação dada pela Lei nº 8.952, de 1994)

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 59


§ 1o A obrigação somente se converterá em perdas e danos se o autor o requerer ou
se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente.
(Incluído pela Lei nº 8.952, de 1994)
§ 2o A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa (art. 287).
(Incluído pela Lei nº 8.952, de 1994)
§ 3o Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de
ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou
mediante justificação prévia, citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada ou
modificada, a qualquer tempo, em decisão fundamentada. (Incluído pela Lei nº 8.952,
de 1994)
§ 4o O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa
diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível
com a obrigação, fixando-lhe prazo razoável para o cumprimento do preceito.
(Incluído pela Lei8.952/94)
§ 5o Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático
equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas
necessárias, tais como a imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreensão,
remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de atividade
nociva, se necessário com requisição de força policial. (Redação L 10.444/02)
§ 6o O juiz poderá, de ofício, modificar o valor ou a periodicidade da multa, caso
verifique que se tornou insuficiente ou excessiva. (Incluído pela Lei nº 10.444, de 2002)

Art. 84, CDC. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou
não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará
providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.
§ 1° A conversão da obrigação em perdas e danos somente será admissível se por elas
optar o autor ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático
correspondente.
§ 2° A indenização por perdas e danos se fará sem prejuízo da multa (art. 287, do
Código de Processo Civil).
§ 3° Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de
ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após
justificação prévia, citado o réu.
§ 4° O juiz poderá, na hipótese do § 3° ou na sentença, impor multa diária ao réu,
independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a
obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.
§ 5° Para a tutela específica ou para a obtenção do resultado prático equivalente,
poderá o juiz determinar as medidas necessárias, tais como busca e apreensão,
remoção de coisas e pessoas, desfazimento de obra, impedimento de atividade nociva,
além de requisição de força policial.

TUTELA RESSARCITÓRIA

• A tutela ressarcitória visa a reparação do dano. O ilícito já foi praticado e o dano se


verificou.
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 60
• É possível a CUMULAÇÃO de tutelas ressarcitória e preventiva. Neste sentido, é possível
que uma mesma ACP traga, como pedidos, a inibição do ilícito, a remoção do já praticado
e a reparação dos danos já verificados.

• A reparação do dano envolve os âmbitos MATERIAL e MORAL.

DANO MORAL COLETIVO

Dano moral é a ofensa à honra e dignidade da pessoa. Esses atributos advêm da


personalidade, tratada pelo CC de forma individual, e não coletiva. Daí surgem 2
posições:

(1) STJ  em julgamento ainda isolado [REsp 598.281/MG], o STJ


entendeu não existir o chamado dano moral coletivo, seguindo o
raciocínio de que a coletividade não tem personalidade, não podendo
sofrer violação à honra ou dignidade.

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL.


DANO MORAL COLETIVO. NECESSÁRIA VINCULAÇÃO DO DANO
MORAL À NOÇÃO DE DOR, DE SOFRIMENTO PSÍQUICO, DE
CARÁTER INDIVIDUAL. INCOMPATIBILIDADE COM A NOÇÃO DE
TRANSINDIVIDUALIDADE (INDETERMINABILIDADE DO SUJEITO
PASSIVO E INDIVISIBILIDADE DA OFENSA E DA REPARAÇÃO).
RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO.

(2) DOUTRINA majoritária  existe dano moral coletivo, seja pela


expressa previsão pela própria LACP (art .1º), seja pela existência de
um consciente coletivo, um sentimento geral de toda a coletividade.

2.2. DIREITOS / INTERESSES METAINDIVIDUAIS PROTEGIDOS – observações pontuais

a. MEIO AMBIENTE é a origem e o maior foco de proteção da ação civil pública.

O meio ambiente pode ser dividido em três grandes grupos:

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 61


 Meio ambiente NATURAL – construído sem a intervenção
humana (fauna, flora, terra, água, mar e ar) – art. 3º, L. 6.938/81

Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:


I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e
interações de ordem física, química e biológica, que permite,
abriga e rege a vida em todas as suas formas;

Para o meio ambiente natural adota-se a teoria do RISCO DA ATIVIDADE,


considerando-se a responsabilidade integral pelo dano causado
independentemente de culpa [responsabilidade objetiva agravada] - art. 14, L.
6.938/81 e art. 3º, L. 9.605/98. O fortuito e a força maior não excluem a
responsabilidade.

 Meio ambiente ARTIFICIAL – é a ordem urbanística, o espaço


urbano.

 Meio ambiente CULTURAL - patrimônio histórico e cultural. Ex:


carnaval.

Obs1. O meio ambiente do trabalho integra o espaço urbano, podendo ser protegido por ACP.

Súmula 736 do STF: compete à justiça do trabalho julgar as ações que tenham como causa
de pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde
dos trabalhadores.

Obs2.
Há quem diga que não seria necessário prever “bens de valor histórico e cultural” e “ordem
urbana”, pois já estariam abrangidos pela expressão “meio-ambiente”. Os incisos III e VI
poderiam ser suprimidos sem que nada fosse alterado.

b. BEM DE VALOR HISTÓRICO E CULTURAL - É possível a tutela via ACP SI


do bem não tombado?
M!

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 62


O tombamento é uma certificação administrativa de que determinado bem tem valor
histórico cultural. Traz restrições administrativas ao bem.

O bem não tombado pode ser protegido por ação civil pública. A diferença entre ser ou não
tombado é a existência da presunção de que ele tem valor histórico e cultural. Se o imóvel
já foi tombado, o autor não precisa provar esse valor. Se não foi tombado, compete ao
autor tal prova.

c. QUALQUER OUTRO INTERESSE METAINDIVIDUAL

A LAP (lei de ação civil pública) somente se preocupava com os interesses difusos e coletivos.
Não cuidava dos individuais homogêneos. A importante contribuição do CDC foi o art. 90, que
incorporou à LAP uma “norma de encerramento” que consiste na possibilidade de defesa de
qualquer outro interesse metaindividual.

Art. 90. Aplicam-se às ações previstas neste título as normas do


Código de Processo Civil e da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985,
inclusive no que respeita ao inquérito civil, naquilo que não
contrariar suas disposições.

Trata-se de norma que abrange todas as demais.

Ex: criança e adolescente, idoso, patrimônio público (súm. 329, STJ), patrimônio genético,
deficiente, etc.

d. HIPÓTESES DE NÃO CABIMENTO DA ACP – vedação de objeto

Não caberá ACP quando se tratar das seguintes matérias:

• matéria tributária;
• contribuição previdenciária;
• FGTS.

Art. 1º, LACP

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 63


Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para
veicular pretensões que envolvam tributos, contribuições
previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço - FGTS ou outros fundos de natureza institucional
cujos beneficiários podem ser individualmente
determinados. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-
35, de 2001)

Prevaleceram argumentos econômicos sobre tutela coletiva.

A doutrina critica essa vedação, pois faz com que surjam milhões de processos sobre o
mesmo assunto. Só que a jurisprudência pacífica do STF e do STJ entende que esse artigo é
constitucional.

É por causa desse dispositivo que a ACP na justiça federal é de menor importância. Quase
não existe.

 Se a ACP versar sobre essas matérias, ter-se-á uma hipótese de IMPOSSIBILIDADE


JURÍDICA DO PEDIDO.

Obs.

REsp 1.101.808 – a vedação não se aplica às discussões acerca de concessão de benefícios


fiscais e tributários (proteção do patrimônio público e não tributária propriamente dita: a
concessão de isenção, por exemplo, pode quebrar a prefeitura)

Informativo nº 0443
Período: 16 a 20 de agosto de 2010.
Primeira Turma
ACP. LEGITIMIDADE. MPF. ENTIDADE FILANTRÓPICA.
Na hipótese dos autos, foi ajuizada ação civil pública (ACP) pelo parquet federal (recorrido) contra
associação educacional (recorrente), objetivando, entre outros temas, a declaração judicial de nulidade
do registro do certificado de entidade filantrópica, tendo em vista a suposta distribuição de lucros.
Liminarmente, foi determinada a suspensão da eficácia do referido certificado e de sua imunidade
tributária. O primeiro grau de jurisdição entendeu pela extinção do processo sem julgamento de mérito,
com base na ilegitimidade ativa ad causam do Ministério Público Federal (MPF), em razão da natureza
fiscal do direito controvertido. Tal decisão foi reformada pelo tribunal a quo, o qual determinou o
prosseguimento da ACP. No REsp, a recorrente sustenta, entre outras alegações, violação dos arts. 3º
e 267, VI, do CPC. Portanto, cinge-se a questão à análise da legitimidade ativa ad causam do MPF e
da existência de legítimo interesse a justificar o ajuizamento da mencionada ACP. Nesta instância
especial, observou-se que, no caso, a pretensão recursal excede os limites de tutela do interesse
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 64
tributário do Estado, atingindo o próprio interesse social que as entidades filantrópicas visam
promover. Ressalte-se que tais entidades, por desenvolverem um trabalho de complementação das
atividades essenciais do Estado, possuem um patrimônio social com características públicas, uma vez
que é de uso comum, mas relacionado com o uso da própria sociedade. Assim, o patrimônio público
investido na entidade assistencial, decorrente da isenção tributária concedida, deve ser revertido em
proveito das atividades assistenciais promovidas, dada a nítida função social que a entidade propõe-se
a prestar. O não cumprimento dessas atividades, por desvio de finalidade, caracterizaria agressão à
moralidade administrativa, visto que refletiria na consecução da própria finalidade social (no caso, na
prestação dos serviços de educação aos seus respectivos alunos – que pagam uma mensalidade
subsidiada em razão de concessão da isenção tributária – e na prestação de atividades filantrópicas à
comunidade). Dessarte, a emissão indevida do certificado de entidade de fins filantrópicos poderia
afetar o interesse social como um todo, ofendendo não só o patrimônio público, bem como a legítima
expectativa de que a entidade filantrópica reverteria em proveito da sociedade os subsídios tributários
concedidos, até porque eles caracterizam investimento indireto do Estado. Dessa forma, à semelhança
de recente entendimento do STF em repercussão geral (videInformativo do STF n. 595) –
o parquet possui legitimidade ativa ad causam para propor a referida ACP, uma vez que configurada
grave ofensa ao patrimônio público, ao interesse social e à moralidade administrativa –, estando
assim, plenamente legitimado para atuar na defesa do interesse coletivo, por evitar que uma entidade
que se apresente como assistencial faça jus a uma isenção tributária indevida. Nesse panorama, o
Min. Teori Albino Zavascki destacou que a restrição estabelecida no art. 1º, parágrafo único, da Lei n.
7.347/1985 não alcança ação visando à anulação de atos administrativos concessivos de benefícios
fiscais, alegadamente ilegítimos e prejudiciais ao patrimônio público, cujo ajuizamento pelo MP decorre
de sua função institucional estabelecida pelo art. 129, III, da CF/1988 e art. 5º, III, b, da LC n. 75/1993,
de que trata a Súm. n. 329-STJ. Com essas considerações, a Turma conheceu parcialmente do
recurso e, nessa parte, negou-lhe provimento. Precedentes citados do STF: RE 576.155-DF; do STJ:
REsp 1.120.376-SP, DJe 21/10/2009; REsp 776.549-MG, DJ 31/5/2007; REsp 610.235-DF, DJ
23/4/2007, e REsp 417.804-PR, DJ 16/5/2005. REsp 1.101.808-SP, Rel. Min. Hamilton Carvalhido,
julgado em 17/8/2010.

3. LEGITIMAÇÃO

3.1. LEGITIMIDADE ATIVA

Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: (Redação dada
pela Lei nº 11.448, de 2007).
I - o Ministério Público;
II - a Defensoria Pública;
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista;
V - a associação que, concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio
ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou
ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
§ 1º O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará
obrigatoriamente como fiscal da lei.
§ 2º Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas nos termos
deste artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes.
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 65
§ 3° Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação
legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa.
(Redação dada pela Lei nº 8.078, de 1990)
§ 4.° O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja
manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano,
ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido. (Incluído pela Lei nª 8.078, de
11.9.1990)
§ 5.° Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União,
do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida
esta lei. (Incluído pela Lei nª 8.078, de 11.9.1990) (Vide Mensagem de veto) (Vide
REsp 222582 /MG - STJ)
§ 6° Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso
de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que
terá eficácia de título executivo extrajudicial. (Incluído pela Lei nª 8.078, de
11.9.1990) (Vide Mensagem de veto) (Vide REsp 222582 /MG - STJ)

CARACTERÍSTICAS

O art. 5º da LACP (e também o art. 82 do CDC) estabelece hipótese de legitimação AUTÔNOMA,


CONCORRENTE e DISJUNTIVA.

* AUTÔNOMA = o ajuizamento da ACP não depende de concordância


do titular do direito material.
* CONCORRENTE = mais de um legitimado.
* DISJUNTIVA = um legitimado não necessita de autorização ou de
omissão de outro.

NATUREZA JURÍDICA DA LEGITIMAÇÃO COLETIVA

Há 3 posições doutrinárias para explicar a natureza da legitimação coletiva:

(1) LEGITIMAÇÃO EXTRAORDINÁRIA: independente de ser


direito difuso, coletivo ou individual homogêneo, ou seja, os legitimados
entram em nome próprio na defesa de direito alheio. Hugo Mazili.

(2) LEGITIMAÇÃO COLETIVA, ou seja, possui natureza própria. A


legitimação ordinária e extraordinária foram forjadas para as ações
individuais. A coletiva não se encaixa em nenhuma delas, é uma legitimação
própria.

(3) Se o direito for difuso ou coletivo (naturalmente coletivo),


estar-se-á diante de LEGITIMAÇÃO AUTÔNOMA para condução do processo.
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 66
Se for direito individual homogêneo, será LEGITIMAÇÃO EXTRAORDINÁRIA.
[prevalece]

Compatibilizam-se os modelos de legitimação extraordinária com a


legitimação coletiva (que é chamada de legitimação autônoma
para condução do processo). Nelson Nery Junior.

É a melhor corrente para ser adotada em prova.

LITISCONSÓRCIO

Possibilidade de formação de litisconsórcio entre os legitimados: art. 5º, §§2º e 5º. Isso é muito
comum na prática. Trabalham em conjunto a bem da tutela coletiva.

Art. 5º
§ 2º Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas nos
termos deste artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes.

§ 5.° Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da


União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de
que cuida esta lei. (Incluído pela Lei nª 8.078, de 11.9.1990) (Vide Mensagem de
veto) (Vide REsp 222582 /MG - STJ)

• Esse litisconsórcio é ATIVO, INICIAL (não pode entrar depois do processo inicial),
FACULTATIVO e UNITÁRIO.

• Aquele que poderia ter sido litisconsórcio ativo e não foi ingressará no processo como
assistente litisconsorcial.

PRINCÍPIO DA ADEQUADA REPRESENTAÇÃO

A questão da ADEQUADA REPRESENTAÇÃO é relevante aqui.

Cada legitimado só pode atuar nos limites da sua finalidade institucional e,


ainda, com base na pertinência temática.

A questão da definição da legitimação [se definida por lei ou se passível de


controle pelo juiz] não é pacífica. Para desenvolver o tema, iremos partir do
pressuposto de que é possível ao juiz controlar a adequada representação, com
base na pertinência temática e finalidade institucional.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 67


Se o MP não for parte, deverá atuar necessariamente
como custus legis.
I. MINISTÉRIO PÚBLICO

A legitimidade do MP para ajuizar ACP tem base legal (art. 5º, LACP) e constitucional (art.
129, CF/88).

FINALIDADE INSTITUCIONAL DO MP

Finalidade institucional do MP está no art. 127, caput da CR/88.

Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à


função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem
jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais (INDIVIDUAL
ou COLETIVO) e individuais indisponíveis.

O interesse social não necessariamente precisa ser


Indisponível, podendo ser patrimonial!
Ex: discussão sobre as prestações da mensalidade da
COHAB.

Na verdade, há dois “grandes grupos” de temas em que o MP pode ajuizar, atuando com

representação adequada:

- interesses sociais: saúde, segurança pública, moradia, educação, meio ambiente, etc.
- interesses individuais indisponíveis: vida, dignidade da pessoa humana, liberdade, etc.

Considerações

O leque de assuntos que o MP pode ajuizar é enorme. É por isso que ele é o maior guardião dos
interesses metaindividuais no Brasil.

• Prevalece com tranqüilidade na doutrina que para a tutela dos direitos DIFUSOS
e COLETIVOS (naturalmente coletivos) o MP sempre terá legitimidade, uma vez que existe aí
um interesse social.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 68


A doutrina costuma dizer que para os interesses difusos e coletivos (indivisibilidade do
objeto) sempre estaria presente o interesse público, ou seja, o MP sempre teria
legitimidade para tutelar interesses difusos e coletivos.

• A grande dúvida é nos direitos INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS, pois o interesse é

individual e não público.

Para tais direitos, tem prevalecido no STJ o entendimento de que o MP só tem


legitimidade se o direito for individual indisponível ou se for social. Assim, é necessário
verificar casuisticamente se há legitimidade (verificar se há pertinência temática –
finalidade institucional).

Obs.
A jurisprudência é vacilante (confronto) nos casos de loteamentos
privados, plano de saúde e tarifas públicas. Na dúvida, amplia-se a
legitimidade.

Em qual justiça atua o MP?

Existem duas posições.

- 1ª corrente  O MP atua em qualquer justiça. Isso significa que o MP/SP pode ajuizar
ACP na justiça de MG, por exemplo. Atuação seria livre. Não haveria vinculação. Esse
entendimento é razoável porque expande a proteção coletiva. Fredie Didier.

- 2ª corrente  No Resp 440.002 o STJ entendeu que o MPF seria similar a um órgão
federal. A competência seria da justiça federal.

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TUTELA DE DIREITOS TRANSINDIVIDUAIS.


MEIO AMBIENTE. COMPETÊNCIA. REPARTIÇÃO DE ATRIBUIÇÕES ENTRE O MINISTÉRIO
PÚBLICO FEDERAL E ESTADUAL. DISTINÇÃO ENTRE COMPETÊNCIA E LEGITIMAÇÃO
ATIVA. CRITÉRIOS.
1. A ação civil pública, como as demais, submete-se, quanto à competência, à regra
estabelecida no art. 109, I, da Constituição, segundo a qual cabe aos juízes federais
processar e julgar "as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa
pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou
oponentes, exceto as de falência, as de acidente de trabalho e as sujeitas à Justiça
Eleitoral e a Justiça do Trabalho". Assim, figurando como autor da ação o Ministério
Público Federal, que é órgão da União, a competência para a causa é da Justiça
Federal.
3. Não se confunde competência com legitimidade das partes. A questão
competencial é logicamente antecedente e, eventualmente, prejudicial à da
legitimidade. Fixada a competência, cumpre ao juiz apreciar a legitimação ativa do
Ministério Público Federal para promover a demanda, consideradas as suas
características, as suas finalidades e os bens jurídicos envolvidos.
4. À luz do sistema e dos princípios constitucionais, nomeadamente o princípio
federativo, é atribuição do Ministério Público da União promover as ações civis
públicas de interesse federal e ao Ministério Público Estadual as demais. Considera-

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 69


se que há interesse federal nas ações civis públicas que (a) envolvam matéria de
competência da Justiça Especializada da União (Justiça do Trabalho e Eleitoral); (b)
devam ser legitimamente promovidas perante os órgãos Judiciários da União
(Tribunais Superiores) e da Justiça Federal (Tribunais Regionais Federais e Juízes
Federais); (c) sejam da competência federal em razão da matéria — as fundadas em
tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional
(CF, art. 109, III) e as que envolvam disputa sobre direitos indígenas (CF, art. 109,
XI); (d) sejam da competência federal em razão da pessoa — as que devam ser
propostas contra a União, suas entidades autárquicas e empresas públicas federais,
ou em que uma dessas entidades figure entre os substituídos processuais no pólo
ativo (CF, art. 109, I); e (e) as demais causas que envolvam interesses federais em
razão da natureza dos bens e dos valores jurídicos que se visa tutelar.
6. No caso dos autos, a causa é da competência da Justiça Federal, porque nela
figura como autor o Ministério Público Federal, órgão da União, que está legitimado a
promovê-la, porque visa a tutelar bens e interesses nitidamente federais, e não
estaduais, a saber: o meio ambiente em área de manguezal, situada em terrenos de
marinha e seus acrescidos, que são bens da União (CF, art. 20, VII), sujeitos ao poder
de polícia de autarquia federal, o IBAMA (Leis 6.938/81, art.18, e 7.735/89, art. 4º ).
7. Recurso especial provido.
(REsp 440002/SE, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 18/11/2004, DJ 06/12/2004 p. 195)

II. DEFENSORIA PÚBLICA (Redação dada pela Lei 11.148, de 15.1.2007)

A legitimação da defensoria pública é estritamente legal, e não constitucional.

FINALIDADE INSTITUCIONAL

A finalidade institucional da defensoria pública está definida no art. 134 da CF.

Art. 134. A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional


do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os
graus, dos necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV.)

INTERESSES DOS NECESSITADOS

Mas, quem são estes NECESSITADOS?

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 70


 Posição RESTRITIVA  o termo se restringe aos necessitados econômicos
(pobres).

 Posição AMPLIATIVA  o termo abrange os necessitados econômicos e


jurídicos / organizacionais.

Fundamento: analisando o art. 4º da lei de regência da Defensoria Pública [LC 80/94,


com alterações da LC 132/09], verifica-se que a DP tem funções típicas e atípicas:

(a) A atividade típica é a de prestar orientação jurídica e


exercer a defesa dos necessitados em todos os graus = neste caso, trata-se de
hipossuficiente econômico.

(b) Já as atividades atípicas não se restringem ao


hipossuficiente econômico, mas também ao hipossuficente jurídico (não
necessariamente pobre, ou seja, todos aqueles que pela dificuldade fática ou
técnica não possam se defender – ex: preso milionário que não quer contratar
advogado; réu não encontrado).

Melhor corrente para prova, inclusive porque permite maiores argumentos em caso de
recursos.

INTERESSES METAINDIVIDUAIS

Quais interesses metaindividuais (difusos, coletivos e individuais homogêneos) podem ser


tutelados pela Defensoria Pública?

1º entendimento NENHUM.

Esta é a posição do CONAMP, que ajuizou a ADI 3943 contra a L. 11.448/07 (que
reconheceu a legitimidade da DP, alterando o art. 5º da LACP), sob os argumentos:

(1) A CF legitima o MP, logo não se pode incluir a DP (crítica: a CF não


estabelece uma legitimação exclusiva);

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 71


(2) A DP não poderia atuar em nome de desconhecidos por não se
saber se são eles necessitados ou não, o que violaria o art. 134 da CF,

(3) Haveria colisão de competência da DP com o MP – isso, na


verdade, não tem problema nenhum.

2º entendimento  DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS.

Fundamento: só nestes casos seria possível distinguir os necessitados e os não


necessitados. Neste caso, a DP não seria legitimada a propor nenhuma ACP ambiental.
Essa idéia é adotada pelo Min. Teori Albino Zavaski, em voto vencido no REsp 912.849/RS.
[melhor para o MP]

3º entendimento  TODOS, desde que a ACP sirva para tutelar necessitados


(econômicos ou jurídicos). [parece predominar, prevalecido no STJ – REsp 912.849/RS]

A se adotar esse 3º entendimento, e havendo parcela de não necessitados na


coletividade beneficiada pela sentença coletiva, eles também poderão executar a
decisão?
(ex: poupança – discussão de índices dos Planos Verão, Bresser, etc. = tem poupança quem era pobre e

quem não era pobre)

1. Posição 1 condiciona à prova da necessidade. [minoritária]


2. Posição 2  SIM, independentemente da condição econômica. Privilegia o pr. da isonomia
[majoritária]

REsp 912.849/RS
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO COLETIVA. DEFENSORIA PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA.
ART. 5º, II, DA LEI Nº 7.347/1985 (REDAÇÃO DA LEI Nº 11.448/2007). PRECEDENTE.
1. Recursos especiais contra acórdão que entendeu pela legitimidade ativa da
Defensoria Pública para propor ação civil coletiva de interesse coletivo dos
consumidores.
2. Esta Superior Tribunal de Justiça vem-se posicionando no sentido de que, nos
termos do art. 5º, II, da Lei nº 7.347/85 (com a redação dada pela Lei nº
11.448/07), a Defensoria Pública tem legitimidade para propor a ação principal e a
ação cautelar em ações civis coletivas que buscam auferir responsabilidade por

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 72


danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e dá outras providências.
3. Recursos especiais não-providos.

III. ADMINISTRAÇÃO DIRETA e INDIRETA

(União, Estados, DF e Municípios, autarquias, fundações, empresas


públicas e sociedades de economia mista)

Previsão legal: art. 5º, LACP e art. 82 do CDC.

FINALIDADE INSTITUCIONAL

Não há previsão legal para a finalidade institucional da Administração Pública direta ou


indireta.

- Considerando o princípio da SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO, a Administração


direta teria uma finalidade AMPLA, de modo que, talvez, este grupo de legitimados
seja o que pode propor ACP em quase todos os temas (Gajardoni). Para alguns, é
considerado legitimado universal.

- A Administração indireta, por sua vez, terá sempre um regramento definido em seu
ATO CONSTITUTIVO. Assim, por exemplo, o IBAMA pode ajuizar ACP para a tutela do
meio ambiente, mas não na proteção do consumidor.

Neste caso, a análise da adequada representação destes legitimados só será


possível no caso concreto.

ENTES DESPERSONALIZADOS, MAS COM PRERROGATIVAS PRÓPRIAS A DEFENDER.

O art. 82, CDC (tal como o art. 5º da LACP, trata dos legitimados para a ACP), em seu inciso III,
confere legitimidade aos órgãos (sem personalidade) dos entes da Adm. Direta ou Indireta que
tenham prerrogativas a defender (ex: PROCON).

Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados
concorrentemente: (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 73
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, AINDA
QUE SEM PERSONALIDADE JURÍDICA, especificamente destinados à
defesa dos interesses e direitos protegidos por este código;

Essa regra não se restringe ao CDC, tendo em vista a idéia de


microssistema.

IV. ASSOCIAÇÕES

A expressão “associação” engloba, entre outros, os sindicatos, entidades de classes, partidos


políticos, etc.

REQUISITOS:
Diferente dos demais legitimados, a legitimação das associações depende de 2 condições:

(1) Constituição ânua: ser constituída há pelo menos 1 ano. Busca evitar a criação de
associações ad hoc, apenas para fins de ajuizamento de ACP.

Cuidado:

O juiz pode, em situações excepcionais, DISPENSAR este requisito (art. 5º, §4º,
LACP), em casos de manifesto interesse social.
Ex.: ADESF (associação de defesa dos fumantes) ajuizou ação contra fabricante
de cigarros para indenizar os fumantes, tendo sido constituída há apenas 2
meses = STJ confirmou a dispensa do requisito. A ação, porém, foi julgada
improcedente.

Art. 5º, §4.°, LACP - O requisito da pré-constituição poderá ser


dispensado pelo juiz, quando haja manifesto interesse social
evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela
relevância do bem jurídico a ser protegido. (Incluído pela Lei nª
8.078, de 11.9.1990)

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 74


(2) Pertinência temática  as associações só podem propor ACP dentro de seus
objetivos institucionais.
Trata-se do mesmo requisito dos demais legitimados, embora para os outros seja
implícito e para as associações, por opção do legislador, está expresso (neste caso
não há controle estatal direto, são associações civis).

Cuidado: não se restringe à principal finalidade da associação!

ATENÇÃO

O art. 2º-A, p.u., da L. 9.494/97, condiciona o ajuizamento de ACP para tutela de interesses
individuais homogêneos ajuizada por associações contra o Poder Público à apresentação, junto
à inicial, de relação nominal dos associados, endereços e autorização assemblear.

Art. 2º-A, L. 9.494/97 -


Parágrafo único – nas ações coletivas propostas contra a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios e suas autarquias e fundações, a petição
inicial deverá obrigatoriamente estar instruída com a ata da assembléia da
entidade associativa que a autorizou, acompanhada da relação nominal dos
seus associados e indicação dos respectivos endereços. (Incluído pela Medida
provisória nº 2.180-35, de 2001)

Esse dispositivo acaba por inviabilizar a tutela de tais interesses (ind. homog.) pelas
associações. Por esta razão, é objeto de intensa controvérsia na doutrina (o direito de se
associar já se configura uma autorização para atuação em nome do associado).

Obs.

• Para a AGU, é um bom dispositivo.

• O STJ, porém, já entendeu pela inaplicabilidade de tal artigo, por


contraria o próprio fim associativo. O legislador confundiu legitimação extraordinária
(decorrente da lei) com representação (art. 5º, XXI, CF – decorrente da vontade).

REsp 805.277/RS
PROCESSO CIVIL. AÇÃO COLETIVA. ASSOCIAÇÃO CIVIL. LEGITIMIDADE ATIVA
CONFIGURADA. IDENTIFICAÇÃO DOS SUBSTITUÍDOS. DESNECESSIDADE.
DEVOLUÇÃO DO PRAZO RECURSAL. JUSTA CAUSA. POSSIBILIDADE.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 75


- A ação coletiva é o instrumento adequado para a defesa dos interesses individuais
homogêneos dos consumidores. Precedentes. - Independentemente de autorização
especial ou da apresentação de relação nominal de associados, as associações
civis, constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins
institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos pelo CDC, gozam de
legitimidade ativa para a propositura de ação coletiva. - É regular a devolução do
prazo quando, cessado o impedimento, a parte prejudicada demonstra a existência
de justa causa no qüinqüídio e, no prazo legal, interpõe o Recurso. Na ausência de
fixação judicial sobre a restituição do prazo, é aplicável o disposto no art. 185 do
CPC. - A prerrogativa assegurada ao Ministério Público de ter vista dos autos exige
que lhe seja assegurada a possibilidade de compulsar o feito durante o prazo que a
lei lhe concede, para que possa, assim, exercer o contraditório, a ampla defesa, seu
papel de 'custos legis' e, em última análise, a própria pretensão recursal. A remessa
dos autos à primeira instância, durante o prazo assegurado ao MP para a
interposição do Especial, frustra tal prerrogativa e, nesse sentido, deve ser
considerada justa causa para a devolução do prazo. Recurso Especial Provido.

V. OAB

O artigo 54, XIV da Lei 8.906/94, o EAOAB, que estabelece que entre as suas legitimações
estão a propositura de ACP.
Mas é desnecessária, pois poderia ajuizar como autarquia que é, ou como entidade de classe.

Art. 54, Lei 8.906/94- Compete ao Conselho Federal:


XIV - ajuizar ação direta de inconstitucionalidade de normas legais e
atos normativos, ação civil pública, mandado de segurança coletivo,
mandado de injunção e demais ações cuja legitimação lhe seja
outorgada por lei;

3.2. LEGITIMIDADE PASSIVA

Na LCP não há previsão legal quanto ao legitimado passivo. Por isso, a doutrina adota 2
posições:

 1ª = como não há previsão legal, aplica-se o CPC, segundo


o qual haverá um litisconsórcio facultativo simples, a ser eleito pelo
legitimado ativo (ou seja, a ACP será ajuizada contra quem o autor quiser).
[predomina no STJ]

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 76


Essa é a posição atual do STJ (REsp ????), embora não sem críticas, já que
desconsidera o microssistema e aplica o CPC diretamente.

 2ª = aplica-se o microssistema (não havendo norma na


ACP, ela deve ser buscada no CDC e nas demais normas que formam o
microssistema), sendo que a previsão buscada encontra-se na Lei de Ação
Popular, art. 6º: LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO SIMPLES entre os
causadores e partícipes do dano.

Art. 6º, L. 4.717/65 - A ação será proposta contra as pessoas públicas


ou privadas e as entidades referidas no art. 1º, contra as
autoridades, funcionários ou administradores que houverem
autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou
que, por omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, e contra os
beneficiários diretos do mesmo.
§ 1º Se não houver benefício direto do ato lesivo, ou se for ele
indeterminado ou desconhecido, a ação será proposta somente
contra as outras pessoas indicadas neste artigo.
§ 2º No caso de que trata o inciso II, item "b", do art. 4º, quando o
valor real do bem for inferior ao da avaliação, citar-se-ão como réus,
além das pessoas públicas ou privadas e entidades referidas no art.
1º, apenas os responsáveis pela avaliação inexata e os beneficiários
da mesma.
§ 3º A pessoas jurídica de direito público ou de direito privado, cujo
ato seja objeto de impugnação, poderá abster-se de contestar o
pedido, ou poderá atuar ao lado do autor, desde que isso se afigure
útil ao interesse público, a juízo do respectivo representante legal ou
dirigente.
§ 4º O Ministério Público acompanhará a ação, cabendo-lhe apressar
a produção da prova e promover a responsabilidade, civil ou criminal,
dos que nela incidirem, sendo-lhe vedado, em qualquer hipótese,
assumir a defesa do ato impugnado ou dos seus autores.
§ 5º É facultado a qualquer cidadão habilitar-se como litisconsorte ou
assistente do autor da ação popular.

O problema da 2ª posição é a idéia de litisconsórcio necessário (faltando qualquer pessoa,


haverá nulidade).

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 77


Obs. Intervenção de terceiros:

Nos direitos difusos e coletivos, as decisões atingem um número infinito de terceiros. Por isso,
em princípio, nenhuma forma de intervenção de terceiros pode ser afastada. Há, todavia, uma
exceção à denunciação da lide, disposta no art. 88 do CDC:

Art. 88. Na hipótese do art. 13, parágrafo único deste código, a ação de regresso
poderá ser ajuizada em processo autônomo, facultada a possibilidade de
prosseguir-se nos mesmos autos, vedada a denunciação da lide.

Sendo relação de consumo, não caberá a denunciação da lide, pois ela é prejudicial ao
consumidor. Por exemplo, X ajuíza ACP contra B, que acha que o responsável seria C, que acha
que o responsável seria D. Todos desejam se utilizar a denunciação da lide, para garantir seu
direito de regresso. Essas discussões paralelas são prejudiciais ao consumidor.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 78


4. COMPETÊNCIA

CRITÉRIOS:

(A) FUNCIONAL HIERÁRQUICO


(B) MATERIAL
(C) VALORATIVO
(D) TERRITORIAL

4.1. Critério funcional hierárquico

Este critério tem como principal função (mas não a única) a definição dos FOROS
PRIVILEGIADOS e quais são as AÇÕES ORIGINÁRIAS.

E neste sentido, a regra para ACP é única: NÃO EXISTE FORO PRIVILEGIADO EM ACP OU
AÇÃO COLETIVA.
Logo, a ACP será sempre de competência da 1ª instância.

Obs.

 Essa afirmação não se aplica à ação civil de improbidade administrativa.


Isso porque esta ação é uma ação coletiva própria, e não uma ACP, regulada,
portanto, por regras próprias.

 As regras do art. 102, I, n, e art. 102, I, f, ambos da CF/88, não são


propriamente hipóteses de ACP originária, embora excepcionalmente
acarretem o julgamento da ACP pelo STF.

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente,


a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e
o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas
entidades da administração indireta;
n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam
direta ou indiretamente interessados, e aquela em que mais da
metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos
ou sejam direta ou indiretamente interessados;

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 79


Idéia: Pode ser que esses conflitos sejam objeto de ACP (mas nem sempre o serão). Assim,
quando o forem, conquanto ACP, será julgada pelo STF.

4.2. Critério material

O critério material de competência define “qual é a justiça” competente: sabendo-se que a ACP
será julgada em 1ª instância, é preciso definir qual órgão será competente, ou seja, se a
Justiça:

 ELEITORAL
 do TRABALHO
 FEDERAL
 ESTADUAL

(a) Justiça Eleitoral

- Regulamentação:

Art. 121, CF/88. Lei complementar disporá Código Eleitoral


sobre a organização e competência dos
tribunais, dos juízes de direito e das juntas
eleitorais.

- Critério: CAUSA DE PEDIR

Questões político-partidárias
Questões relacionadas a SUFRÁGIO

- ACP: em tese, cabe ACP na Justiça Eleitoral.


Para tanto, basta que a ACP verse uma das questões acima.
Ex: eventual desvio de verbas do fundo partidário – em tese, caberia ACP para
recuperar tais valores.

(b) Justiça do Trabalho

- Regulamentação: Art. 114, CF.

- Critério: CAUSA DE PEDIR (questões elencadas no art. 114, CF).


DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 80
- ACP: é possível julgamento de ACP na Justiça do Trabalho, desde que verse uma das
questões pertinentes.
Ex: ACP em favor do meio ambiente do trabalho (súm. 736, STF – “compete a JT julgar
as ações que tenham como causa de pedir o descumprimento de normas trabalhistas
relativas a segurança, higiene e saúde dos trabalhadores”) – ACP para não haver a
dispensa de cobradores de ônibus em SP (aumento do estresse dos motoristas).

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: (Redação dada


pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
I as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito
público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
II as ações que envolvam exercício do direito de greve;
III as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e
trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores;
IV os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data , quando o ato
questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição;
V os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista,
ressalvado o disposto no art. 102, I, o;
VI as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da
relação de trabalho;
VII as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos
empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho;
VIII a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I,
a , e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir;
IX outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei.
§ 1º - Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros.
§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à
arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio
coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o
conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho,
bem como as convencionadas anteriormente.
§ 3º Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do
interesse público, o Ministério Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio
coletivo, competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito.

(c) Justiça FEDERAL ou ESTADUAL

• Art. 109, I, CF – definição da competência da Justiça Federal pelo critério da PARTE


(União, entidade autárquica ou empresa pública federal).

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 81


Obs.
Muitas pessoas têm o hábito de vincular a competência da Justiça Federal com a
natureza do bem debatido (arts. 20, CF: bens da união). Isto é ERRADO! O
critério é a presença do ente federal na causa, o seu interesse.

Ex: Rio Sapucaí: divisa entre SP e MG (bem da União). MP estadual entra com
ACP contra particular para despoluir o rio; IBAMA se manifesta dizendo que o
dano existe, mas é local, razão pela qual ele não tem interesse. Conclusão:
julgamento deve ocorre na Justiça Estadual. Na prática: o juiz estadual deve
intimar o IBAMA antes de remeter os autos para a Justiça Federal, por economia.

CUIDADO!

- A competência para julgar ACP que tenha como parte SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA (ex:
BB, PETROBRAS) é a justiça Estadual.

Súm 42, STJ: compete a justiça comum estadual processar e julgar as


causas cíveis em que e parte sociedade de economia mista e os
crimes praticados em seu detrimento.

- Quem diz se o ente federal participa ou não de um dado processo é a JUSTIÇA FEDERAL.

Ou seja, se o juiz de 1ª instância tiver dúvida quanto ao interesse do ente federal, ele
deverá remeter o processo ao juiz federal, para que este decida se o interesse
manifestado/suscitado tem sentido ou não.

Decidido pela Justiça Federal quanto à existência ou não do interesse federal, não cabe
ao juiz estadual suscitar conflito de competência.
Idéia: o juiz estadual NÃO tem competência neste caso.

Súm 150, STJ: compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de


interesse jurídico que justifique a presença, no processo, da União, suas
autarquias ou empresas públicas.

COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO DE ACP AJUIZADAS PELO MPF

Existem na doutrina e jurisprudência duas correntes:

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 82


(1) Quem julga as ACPs propostas pelo MPF é sempre a Justiça Federal. –
REsp 440.002/SE (Min. Teori Zavascki).

(...) 6. No caso dos autos, a causa é da competência da Justiça Federal, porque


nela figura como autor o Ministério Público Federal, órgão da União, que está
legitimado a promovê-la, porque visa a tutelar bens e interesses nitidamente
federais, e não estaduais, a saber: o meio ambiente em área de manguezal,
situada em terrenos de marinha e seus acrescidos, que são bens da União (CF,
art. 20, VII), sujeitos ao poder de polícia de autarquia federal, o IBAMA (Leis
6.938/81, art. 18, e 7.735/89, art. 4º ).

Crítica: este precedente equipara o MPF com as autarquias


federais, tornando o MP uma repartição pública, um órgão do
Poder Executivo. Além disso, esse raciocínio diminui a importância
do MPE, inchando a competência do STF.

(2) Qualquer Justiça.


O MPF não é órgão da União. Poderia ele, portanto, ajuizar ação em qualquer
Justiça. A definição de competência segue os critérios definidos pela CF (ex: o
julgamento será pela Justiça Federal se houver interesse de ente federal).
Na verdade, o que existe é um “acordo de cavalheiros” para que cada MP
restrinja sua área de atuação.

• Art. 109, V-A IDC – incidente de deslocamento de competência

V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo;


(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

É preciso ter em mente que o inciso V-A do art. 109 não menciona a palavra CRIME.
Logo, pode haver IDC em ação coletiva.
Ex: ACP para discutir grave violação a direitos humanos (situação carcerária, por ex).

• Art. 109, XI, CF – direito indígena

XI - a disputa sobre direitos indígenas.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 83


ATENÇÃO:
Não é o fato de ter índio no processo que traz o processo para a
Justiça Federal. A competência da Justiça Federal neste caso é
definida pela causa de pedir, que deve incluir direito do povo
indígena.

4.3. Critério valorativo

Por este critério, fixa-se a competência pelo VALOR DA CAUSA.

 Nacionalmente, este critério só tem valor para a definição da competência dos


JUIZADOS.

 É um critério inútil para fins de competência na ACP, já que não cabe ACP no
âmbito dos Juizados (a CF reserva os juizados para causas menos complexas, o
que não se verifica nas ACPs).

Art. 3º, §1º, L. 10.259/01 - § 1o Não se incluem na competência


do Juizado Especial Cível as causas:
I - referidas no art. 109, incisos II, III e XI, da Constituição
Federal, as ações de mandado de segurança, de
desapropriação, de divisão e demarcação, populares, execuções
fiscais e por improbidade administrativa e as demandas sobre
direitos ou interesses difusos, coletivos ou individuais
homogêneos;

Art. 2º, §1º, L. 12.153/09 - § 1o Não se incluem na competência


do Juizado Especial da Fazenda Pública:
I – as ações de mandado de segurança, de desapropriação, de
divisão e demarcação, populares, por improbidade
administrativa, execuções fiscais e as demandas sobre direitos
ou interesses difusos e coletivos;

Obs.
O critério valorativo pode ser utilizado regionalmente para outros fins, tal como acontece em
SP que define que causas de menor valor são julgadas em foros regionais e as de maior valor,
no foro central.
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 84
4.4. Critério territorial

Com base neste critério define-se o LOCAL do ajuizamento da ação (comarca, subseção
judiciária).

Duas são as correntes adotadas quanto ao critério territorial:

(a) 1ª posição: majoritária (ADA)

Aplica-se o art. 93 do CDC a todos os interesses metaindividuais (difusos, coletivos e


individuais homogêneos). – ADA + maioria.

Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a


causa a justiça local:
I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito
local;
II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de
âmbito nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de Processo
Civil aos casos de competência concorrente.

Desse dispositivo legal extrai-se a seguinte regra:

- DANO LOCAL1: ajuizamento da ACP no local do dano

- DANO REGIONAL2: ajuizamento da ACP na capital do Estado

- DANO NACIONAL2: ajuizamento da ACP no DF ou na capital dos Estados


envolvidos

Observações:

1. A regra do “dano local” dá a falsa impressão de que quem vai julgar a ação é sempre a
justiça do local, independente de qual justiça (órgão) seja ela.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 85


A súmula 183 do STJ foi revogada, de modo que não compete ao juiz estadual do local do
dano julgar causas da competência material da Justiça Federal, não se tratando, portanto,
de hipótese de delegação de competência.

Note que a competência material é definida antes da competência territorial. E mais: a


justiça federal tem competência territorial mais ampla que a Justiça Estadual (diversas
comarcas têm juízes estaduais, mas não federais, o que não quer dizer que estas
comarcas não tenham uma Justiça Federal local).

Ex: dano em Itaúna, de interesse da União: a competência material é da Justiça Federal de


Divinópolis (que abrange a comarca de Itaúna).

2. DANO REGIONAL x DANO NACIONAL


Não há critério legal para definir o que é dano regional ou nacional, o que gera grandes
problemas.

Isto porque pode ocorrer de apenas algumas comarcas ou subseções judiciárias serem
atingidas, não sendo justo que o juiz da capital solucione conflito ocorrido em local
distante. O mesmo fenômeno ocorre no dano nacional, quando poucos estados são
atingidos, mas a competência pode ser do DF (que nada teve a ver com o dano).

Para solucionar este problema, tem-se sugerido que a definição da competência sempre se
dê por PREVENÇÃO, com preferência pela capital só se ela for atingida pelo dano. Nestes
casos, o juízo prevento estenderá sua competência sobre as outras áreas atingidas (sua
decisão será válida nas outras localidades atingidas).

3. COMPETÊNCIA ABSOLUTA

Entende-se que o art. 93 do CDC foi criado a bem do interesse público, de modo que a
competência territorial na ACP é absoluta.

(b) 2ª posição – minoritária

Essa corrente faz uma distinção:

 Para os direitos individuais homogêneos, aplica-se o art. 93 do CDC.

- DANO LOCAL: ajuizamento da ACP no local do dano


- DANO REGIONAL: ajuizamento da ACP na capital do Estado
- DANO NACIONAL: ajuizamento da ACP no DF ou na capital
dos Estados envolvidos

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 86


 Já para os direitos difusos e coletivos, aplica-se o art. 2º da LACP ou o 209
do ECA = LOCAL DA AÇÃO OU OMISSÃO.
Ex: o barco estava na bacia de Santos quando o vazamento começou; logo,
a competência é de Santos.

Art. 2º, LACP – As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro
do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional
para processar e julgar a causa.
Parágrafo único A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo
para todas as ações posteriormente intentadas que possuam a
mesma causa de pedir ou o mesmo objeto. (Incluído pela Medida
provisória nº 2.180-35, de 2001)

Art. 209, ECA - As ações previstas neste Capítulo serão propostas no


foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação ou omissão, cujo
juízo terá competência absoluta para processar a causa, ressalvadas
a competência da Justiça Federal e a competência originária dos
tribunais superiores.

Observação final sobre competência:

A aplicação do art. 16 da LACP afasta a aplicação do art. 93 do CDC.


Conclusão: As regras de competência territorial ora estudadas só fazem sentido se
considerarmos ineficaz o art. 16 da LACP, vez que do contrário a decisão proferida pela capital
do estado ou DF não teria validade regional ou nacional.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 87


5. INQUÉRITO CIVIL

a. Conside
rações gerais

Previsão legal:
Art. 8º, §1º, e 9º da LACP; art. 129, III, CF; Leis orgânicas dos MPEs; Res. 23/CNMP de 17.9.07
(padroniza os procedimentos do IC no âmbito federal e estadual).

Conceito:

O inquérito civil é um procedimento PREPARATÓRIO (investigativo e informativo) para a


colheita de dados que permitam a formação da convicção do representante do MP pelo
ajuizamento da ACP.

Édis Millaré: o inquérito civil permite um ajuizamento responsável da ACP.

Obs.

O inquérito civil impõe um constante paralelo com o Inquérito Policial, já


que ambos são PROCEDIMENTOS INVESTIGATIVOS para a formação do
convencimento do órgão ministerial.

 IP: polícia investiga, MP denuncia ação penal;


 IC: MP investiga e propõe ação civil.

Características

1. PROCEDIMENTO PREPARATÓRIO (vem antes da ACP) e meramente informativo (não


há sanções nem responsabilidades)

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 88


2. Tem NATUREZA ADMINISTRATIVA (ao contrário do IP, que o juiz atua na dilação de
prazo, no IC não há nenhuma atuação judicial);

3. É DISPENSÁVEL nos casos em que o MP já tenha formado o seu conhecimento por


outro meio.

4. É procedimento PÚBLICO.
[Nada impede que o MP, excepcionalmente, decrete o sigilo nas investigações, por
analogia ao art. 20 do CPP – relativo ao IP]

5. É procedimento INQUISITIVO (sem contraditório) [a prof. ADA entende que tem que
haver contraditório];

6. É PRIVATIVO DO MP.

O controle de eventuais abusos (decretação indevida de sigilo) desafia


MANDADO DE SEGURANÇA, tal como acontece com o IP.

O Inquérito Civil só se presta para a tutela dos interesses metaindividuais?

 Há quem entenda que NÃO (Hugo Nigro Mazili). Para estes, o MP pode
instaura inquérito para tudo (ex: para apurar maus tratos a uma criança). [MP]

 Outros, porém, afirmam que SIM, o inquérito civil é restrito. Fundamento:


quando a CF trata do inquérito civil, ela o fez junto com a ACP.

Espécies

 Inquérito Civil strictu sensu: toda vez que a prova for mais complexa, tipo
realizar uma perícia, fazer uma investigação mais aprofundada, será essa hipótese. Isso ocorre
no caso de dano ambiental por exemplo.

 Peças de informação: existem investigações que são menos complexas, em que as


provas são menos complexas. Assim, estabelece-se um procedimento mais simples. Na
verdade o promotor expede ofícios para obter informações.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 89


b. FASES

1ª FASE: INSTAURAÇÃO

INSTRUMENTO

O instrumento que inaugura o inquérito civil é uma PORTARIA do MP (já que, ao contrário do IP,
não há a hipótese de APF), que pode ser baixada de 3 formas:

(a) De ofício
(b) Por representação
(c) Por requisição do Procurador Geral

Requisitos da portaria (Res. 23/CNMP):


- A ela deve ser dada uma ordem numérica.
- Deve a portaria indicar o objetivo da investigação e determinar as provas
que serão colhidas.

MEDIDAS CONTRA A INSTAURAÇÃO

Algumas leis estaduais prevêem recurso administrativo para o órgão superior do MP contra
a instauração do inquérito civil (tal como acontece em SP, art. 108, LC 734/93).

No entanto, sem prejuízo deste controle administrativo, admite-se, em todos os estados,


o controle JUDICIAL de tais abusos, tendo como medida adequada para se trancar o
inquérito civil abusivo o MANDADO DE SEGURANÇA contra o promotor ou procurador
de justiça.
[no IP, o instrumento adequado é o HC, o que não se adéqua ao inquérito civil, já que não está em
jogo a liberdade].

Quem julga esse MS?

• Para uns, o Tribunal, desde que o promotor goze da mesma


prerrogativa de foro que o juiz (nos termos da CE).

• Para outros, o juiz de 1º grau, à míngua de previsão legal expressa


na Constituição (federal ou estadual).
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 90
IMPEDIMENTO e SUSPEIÇÃO do MP

Aplicam-se ao presidente do Inquérito Civil (promotor / procurador de justiça) as causas de


impedimento do art. 134 e 135 do CPC.

Art. 134. É defeso ao juiz exercer as suas funções no processo


contencioso ou voluntário:
I - de que for parte;
II - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito,
funcionou como órgão do Ministério Público, ou prestou depoimento
como testemunha;
III - que conheceu em primeiro grau de jurisdição, tendo-lhe proferido
sentença ou decisão;
IV - quando nele estiver postulando, como advogado da parte, o seu
cônjuge ou qualquer parente seu, consangüíneo ou afim, em linha reta;
ou na linha colateral até o segundo grau;
V - quando cônjuge, parente, consangüíneo ou afim, de alguma das
partes, em linha reta ou, na colateral, até o terceiro grau;
VI - quando for órgão de direção ou de administração de pessoa jurídica,
parte na causa.
Parágrafo único. No caso do no IV, o impedimento só se verifica quando
o advogado já estava exercendo o patrocínio da causa; é, porém,
vedado ao advogado pleitear no processo, a fim de criar o impedimento
do juiz.

Art. 135. Reputa-se fundada a suspeição de parcialidade do juiz,


quando:
I - amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer das partes;
II - alguma das partes for credora ou devedora do juiz, de seu cônjuge ou
de parentes destes, em linha reta ou na colateral até o terceiro grau;
III - herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de alguma das partes;
IV - receber dádivas antes ou depois de iniciado o processo; aconselhar
alguma das partes acerca do objeto da causa, ou subministrar meios
para atender às despesas do litígio;
V - interessado no julgamento da causa em favor de uma das partes.
Parágrafo único. Poderá ainda o juiz declarar-se suspeito por motivo
íntimo.

Consequência: a reclamação deve ser apreciada pelo superior hierárquico.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 91


Obs.

Tem-se entendido que não há impedimento ou suspeição pelo fato de o presidente do IC


também integrar a coletividade atingida pelo fato investigado.

EFEITO DA INSTAURAÇÃO NAS RELAÇÕES DE CONSUMO

A instauração do IC obsta o prazo de decadência (relativo a vício do produto).

Art. 26, CDC - O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca
em:
§ 2° Obstam a decadência:
III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.

LEMBRETE:
- Vício do produto: 30 ou 90 dias, decadência.
- Fato do produto: 5 anos, prescrição.

DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA

Configura crime de denunciação caluniosa dar causa a instauração de inquérito civil


indevidamente, sabendo falsa a informação.

Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de


processo judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito
civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-
lhe crime de que o sabe inocente: (Redação dada pela Lei nº 10.028,
de 2000)
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 92


§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de
anonimato ou de nome suposto.
§ 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de
contravenção.

Por causa deste art. 339 do CP, a jurisprudência majoritária (mas não
pacífica) tem entendido não ser possível a instauração do IC por
REPRESENTAÇÃO APÓCRIFA (denúncia anônima).

2ª FASE: INSTRUÇÃO

Segundo a LONMP, o MP tem 3 poderes instrutórios principais:

Art. 26, Lei 8.625 [LONMP]. No exercício de suas funções, o Ministério Público
poderá:
I - instaurar inquéritos civis e outras medidas e procedimentos administrativos
pertinentes e, para instruí-los:
a) expedir notificações para colher depoimento ou esclarecimentos e, em caso de
não comparecimento injustificado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela
Polícia Civil ou Militar, ressalvadas as prerrogativas previstas em lei;
b) requisitar informações, exames periciais e documentos de autoridades federais,
estaduais e municipais, bem como dos órgãos e entidades da administração direta,
indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios;
c) promover inspeções e diligências investigatórias junto às autoridades, órgãos e
entidades a que se refere a alínea anterior;
II - requisitar informações e documentos a entidades privadas, para instruir
procedimentos ou processo em que oficie;
III - requisitar à autoridade competente a instauração de sindicância ou
procedimento administrativo cabível;
IV - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial e de
inquérito policial militar, observado o disposto no art. 129, inciso VIII, da
Constituição Federal, podendo acompanhá-los;
V - praticar atos administrativos executórios, de caráter preparatório;
VI - dar publicidade dos procedimentos administrativos não disciplinares que
instaurar e das medidas adotadas;
VII - sugerir ao Poder competente a edição de normas e a alteração da legislação
em vigor, bem como a adoção de medidas propostas, destinadas à prevenção e
controle da criminalidade;
VIII - manifestar-se em qualquer fase dos processos, acolhendo solicitação do juiz,
da parte ou por sua iniciativa, quando entender existente interesse em causa que
justifique a intervenção.
§ 1º As notificações e requisições previstas neste artigo, quando tiverem como
destinatários o Governador do Estado, os membros do Poder Legislativo e os
desembargadores, serão encaminhadas pelo Procurador-Geral de Justiça.
§ 2º O membro do Ministério Público será responsável pelo uso indevido das
informações e documentos que requisitar, inclusive nas hipóteses legais de sigilo.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 93


§ 3º Serão cumpridas gratuitamente as requisições feitas pelo MP às autoridades,
órgãos e entidades da Administração Pública direta, indireta ou fundacional, de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
§ 4º A falta ao trabalho, em virtude de atendimento à notificação ou requisição, na
forma do inciso I deste artigo, não autoriza desconto de vencimentos ou salário,
considerando-se de efetivo exercício, para todos os efeitos, mediante
comprovação escrita do membro do Ministério Público.
§ 5º Toda representação ou petição formulada ao Ministério Público será
distribuída entre os membros da instituição que tenham atribuições para apreciá-
la, observados os critérios fixados pelo Colégio de Procuradores.

(1) VISTORIAS e INSPEÇÕES em quaisquer órgãos


públicos (respeitadas as garantias constitucionais).
Para vistorias e inspeções em entidades particulares, é necessária
autorização judicial, em razão da inviolabilidade de domicílio, em
sentido amplo.

(2) INQUIRIÇÃO de investigados e testemunhas, sob


pena de condução coercitiva (tal como pode fazer o delegado).
O acusado pode usar a prerrogativa de ficar em silêncio (não produzir
prova contra si mesmo). A testemunha, porém, precisa falar sob pena
de praticar falso testemunho (falsear ou calar a verdade).

Obs. Há FALSO TESTEMUNHO no IC?

- SIM (Gajardoni): a luz do 342, CP, que fala em


inquérito policial ou administrativo, enquadrando-se neste
último o IC.
- NÃO. O art. 342 deve ser interpretado de
modo restritivo

Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a


verdade como testemunha, perito, contador, tradutor
ou intérprete em processo judicial, ou administrativo,
inquérito policial, ou em juízo arbitral: (Redação dada
pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001)
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

(3) REQUISIÇÃO de documentos e informações a


qualquer pessoa, física ou jurídica, pública ou privada, salvo os
protegidos pela CF por sigilo.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 94


A LOMP tipificou como crime a conduta de não apresentação das informações ou documentos
requisitados pelo MP:

Art. 10, LOMP -

EXCEÇÃO:

Constituem exceção ao poder de REQUISIÇÃO os dados protegidos por sigilo constitucional.


Nestes casos, o MP não pode requisitar DIRETAMENTE as informações desejadas, fazendo-se
necessária, aqui, prévia autorização judicial.

Exemplos:

(a) Sigilo de dados telefônicos (salvo prévia autorização judicial).


(b) Correspondência (salvo prévia autorização judicial).
(c) Documentos relativos à segurança nacional.
(d) Sigilo fiscal e bancário  neste ponto, há polêmica*:

O MP pode quebrar sigilo fiscal e bancário sem autorização judicial? Isto é, estes
sigilos têm proteção no âmbito da constituição?

 1ª corrente:
O MP PODE ACESSAR DIRETAMENTE OS DADOS FISCAIS E BANCÁRIOS
DO INVESTIGADO.
Fundamento: a lei que trata do sigilo é a LC105/01, já a que permite a
quebra de sigilo é a LOMP (L. 8.625/93). Não há, portanto, proteção
constitucional, mas apenas legal, de modo que prevaleceria a LOMP
[norma especial] sobre a LC105/01. (Nery, Mazili).

STF, MS 21.729
- Mandado de Segurança. Sigilo bancário. Instituição financeira executora de política creditícia
e financeira do Governo Federal. Legitimidade do Ministério Público para requisitar
informações e documentos destinados a instruir procedimentos administrativos de sua
competência. 2. Solicitação de informações, pelo Ministério Público Federal ao Banco do Brasil
S/A, sobre concessão de empréstimos, subsidiados pelo Tesouro Nacional, com base em
plano de governo, a empresas do setor sucroalcooleiro. 3. Alegação do Banco impetrante de
não poder informar os beneficiários dos aludidos empréstimos, por estarem protegidos pelo
sigilo bancário, previsto no art. 38 da Lei nº 4.595/1964, e, ainda, ao entendimento de que
dirigente do Banco do Brasil S/A não é autoridade, para efeito do art. 8º, da LC nº 75/1993. 4.
O poder de investigação do Estado é dirigido a coibir atividades afrontosas à ordem jurídica e
a garantia do sigilo bancário não se estende às atividades ilícitas. A ordem jurídica confere
explicitamente poderes amplos de investigação ao Ministério Público - art. 129, incisos VI, VIII,
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 95
da Constituição Federal, e art. 8º, incisos II e IV, e § 2º, da Lei Complementar nº 75/1993. 5.
Não cabe ao Banco do Brasil negar, ao Ministério Público, informações sobre nomes de
beneficiários de empréstimos concedidos pela instituição, com recursos subsidiados pelo
erário federal, sob invocação do sigilo bancário, em se tratando de requisição de informações
e documentos para instruir procedimento administrativo instaurado em defesa do patrimônio
público. Princípio da publicidade, ut art. 37 da Constituição. 6. No caso concreto, os
empréstimos concedidos eram verdadeiros financiamentos públicos, porquanto o Banco do
Brasil os realizou na condição de executor da política creditícia e financeira do Governo
Federal, que deliberou sobre sua concessão e ainda se comprometeu a proceder à
equalização da taxa de juros, sob a forma de subvenção econômica ao setor produtivo, de
acordo com a Lei nº 8.427/1992. 7. Mandado de segurança indeferido.

 2ª corrente:
Apesar dos sigilos fiscal e bancário não estarem previstos
expressamente na CF, eles decorre do direito constitucional à intimidade
e à vida privada. Logo, o MP não teria poder de quebrar o sigilo fiscal e
bancário diretamente. [prevalece]

STF – RMS 8716/GO.

Conclusões:

- Na prática, o MP acaba sempre pedindo autorização judicial para não correr o risco de ter
suas investigações questionadas.

- As contas públicas não são protegidas por sigilo nenhum [são públicas]! Nestes casos,
portanto, o MP pode requisitar informações diretamente.

Observação:

O MP tem ainda o chamado PODER DE RECOMENDAÇÃO, o que agora consta do texto legal.

Art. 15, Res. 23/CNMP - O Ministério Público, nos autos do inquérito civil ou
do procedimento preparatório, poderá expedir recomendações devidamente
fundamentadas, visando à melhoria dos serviços públicos e de relevância
pública, bem como aos demais interesses, direitos e bens cuja defesa lhe caiba
promover.
Parágrafo único. É vedada a expedição de recomendação como medida
substitutiva ao compromisso de ajustamento de conduta ou à ação civil pública.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 96


Isso significa que o MP pode expedir orientações com eficácia admonitória e sem
caráter vinculativo a qualquer pessoa investigada, com a finalidade de evitar o
ajuizamento da ACP.

3ª FASE: CONCLUSÃO

AJUIZAMENTO DA ACP início da

fase judicial

Instauração Instrução Conclusão

ARQUIVAMENTO FUNDAMENTADO

MPE -
CSMP
ÓRGÃO SUPERIOR
MPF -
Até este momento (sessão),
CCR
qualquer pessoa poderá se
manifestar sobre o pedido de
arquivamento (contra ou a favor)
RELATOR

SESSÃO DE JULGAMENTO

HOMOLOGAÇÃO CONVERSÃO DO REJEIÇÃO DO


DO JULGAMENTO EM ARQUIVAMENT
ARQUIVAMENTO DILIGÊNCIA O

Pra entender: arquivamento fundamentado

- No prazo de 3 dias, o arquivamento deve ser encaminhado ao órgão superior do MP


(Conselho Superior do MP no MPE e Câmara de Coordenação e Revisão no MPF), que
nomeará um RELATOR que pedirá a designação SESSÃO PÚBLICA DE JULGAMENTO
(até esse momento qualquer interessado pode se manifestar pedindo, por ex., o não
arquivamento).
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 97
Na sessão, pode o órgão superior tomar 3 atitudes:

(1) Homologar o arquivamento.

- Neste caso, termina o óbice ao prazo decadencial do art. 26 do CDC.


- Nada impede que a ACP seja ajuizada por outro legitimado que não o MP
(legitimação concorrente e disjuntiva). O arquivamento só é vinculativo para o
próprio MP, e mesmo assim desde que não surjam elementos novos.

(2) Converter o arquivamento em diligência;

(3) Rejeitar o arquivamento.


Neste caso, o Procurador Geral, necessariamente, nomeará outro membro do MP
para promover o ajuizamento da ACP, que DEVERÁ atuar neste sentido (não
pode promover um novo arquivamento), pois agirá como longa manus do PG.

Observações

 O arquivamento do IC não impede que qualquer outro legitimado ou até mesmo outro
órgão do MP proponha ACP. A legitimidade para propor ACP é disjuntiva (não há
dependência!).

 É vedado o arquivamento implícito, tal como ocorre no IP. Ocorrendo tal prática,
haverá responsabilidade funcional do membro do MP.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 98


6. COMPROMISSO / TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA (CAC ou TAC)

Compromisso =
conteúdo.

CONCEITO

É o compromisso realizado quando o investigado se compromete a se ajustar ao interesse da


coletividade.

PREVISÃO LEGAL

Artigo 5º, §6º da LACP - Os órgãos públicos legitimados poderão


tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta
às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de
título executivo extrajudicial. (Incluído pela Lei nª 8.078, de
11.9.1990) (Vide Mensagem de veto) (Vide REsp 222582 /MG - STJ)

A resolução nº 23/07 o CNMP, em seu artigo 14, também previu o TAC.

Art. 14, Res. 23/CNMP - O Ministério Público poderá firmar


compromisso de ajustamento de conduta, nos casos previstos em
lei, com o responsável pela ameaça ou lesão aos interesses ou
direitos mencionados no artigo 1º desta Resolução, visando à
reparação do dano, à adequação da conduta às exigências legais
ou normativas e, ainda, à compensação e/ou à indenização pelos
danos que não possam ser recuperados.

NATUREZA JURÍDICA

 Para uns: TRANSAÇÃO [prevalece]

 Para outros: RECONHECIMENTO JURÍDICO DO PEDIDO.


Fundamento: quando faz-se o TAC, o órgão legitimado não abre mão da obrigação,
ou seja, a negociação restringe-se à forma de cumprimento desta obrigação.
[minoritária]

CABIMENTO

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 99


 Em tese, o TAC é cabível em todos os direitos metaindividuais (difusos, coletivos e
individuais homogêneos).
 Além disso, entende-se possível a celebração de TAC em todas as obrigações (pagar,
dar, fazer e não fazer). Normalmente, isso ocorre nas obrigações de fazer/não fazer (ex:
não poluir, plantar árvores, etc.).

NÃO CABIMENTO

Não cabe TAC em ato de improbidade administrativa. Isso porque nestes casos a simples
restituição da situação anterior não é suficiente: o agente precisa sofrer sanções.

LEGITIMAÇÃO

São legitimados para celebrar TAC os órgãos públicos legitimados à propositura da ACP, ou
seja:

(a) MP
(b) Defensoria Pública
(c) Administração Direta
(d) Administração Indireta Pública [autarquias e fundações públicas]

As ASSOCIAÇÕES, SOCIEDADES DE ECNOMIA MISTA e EMPRESAS PÚBLICAS


não são legitimados para firmar TAC por serem órgãos privados!

NOTA:

Observe que a legitimação se estreita:


- para ajuizar ACP (MP, DP, ADM. DIRETA e INDIRETA, e ASSOCIAÇÕES)
- para celebrar TAC (MP, DP, ADM. DIRETA e INDIRETA pública)
- para IC (MP)

Atenção:
Não há necessidade de concordância do MP para o TAC
firmado por outros órgãos.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 100


RESPONSABILIDADE PELA CELEBRAÇÃO

Um órgão não precisa da autorização do outro para firmar o TAC, o que decorre da
legitimidade concorrente disjuntiva.

Entretanto, a responsabilidade pela fiscalização do cumprimento do TAC e pela tomada de


medidas em favor desse cumprimento é do órgão que o celebrou, sob pena de improbidade
administrativa e ajuizamento de uma nova ACP para solucionar o problema.

A má celebração ou fiscalização gera improbidade administrativa do celebrante, sem


prejuízo de uma outra ACP para a efetiva reparação do dano causado.

EFICÁCIA

O TAC tem eficácia de TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL, de forma que o seu


descumprimento autoriza sua execução (ver liquidação / execução de sentença coletiva).

Cuidado: não há necessidade de presença de 2 testemunhas!!!

CONDIÇÃO PARA A CELEBRAÇÃO DO TAC

É da essência do TAC o estabelecimento de MULTA COMINATÓRIA em caso de


descumprimento.

Trata-se de multa é cominatória, ou seja, tem finalidade coercitiva (obrigar o sujeito ao


cumprimento do TAC). É uma multa com objetivo de ameaçar, visando coagir ao cumprimento
da obrigação; não tem natureza compensatória. Sua natureza, cominatória, é de astreinte.

LACP (artigo 5º, §6º)


§ 6° Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados
compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante
cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial. (Incluído pela Lei
nª 8.078, de 11.9.1990) (Vide Mensagem de veto) (Vide REsp 222582 /MG -
STJ)

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 101


CELEBRAÇÃO DE TAC PELO MP NO BOJO DO IC

Diante do acordo (TAC) o IC, já instaurado e em curso, será arquivado e, consequentemente, a


validade do TAC ficará condicionada à homologação pelo órgão superior.

- Neste caso, haverá apreciação do TAC pelo órgão superior do MP: impor-se-á o
arquivamento do IC, encaminhando-se o TAC ao órgão superior do MP, que
efetuará um controle sobre o TAC.

- Este controle interno feito pelo órgão legitimado só ocorre com o MP; nos
demais casos, o controle é exclusivamente judicial.

Obs.

Se eventualmente houve a celebração do acordo após o


ajuizamento da ACP, ele só será submetido ao crivo judicial, e não
mais ao órgão superior do MP.

Para evitar o controle pelo próprio MP, alguns promotores acabam


celebrando acordo na via judicial. Assim, acabam celebrando um
acordo propriamente dito, abrindo mão de direitos que não lhes
pertencem (ex: concordar com o plantio de 300 árvores, quando o
laudo determina que o dano foi de 500 árvores – na certa o órgão
superior do MP não homologaria este TAC se formulado em IC, mas
o juiz o fará, para encerrar o processo).

COMPROMISSO PRELIMINAR

Compromisso preliminar é o acordo parcial, e cuja celebração não impede a propositura da ACP
contra outros investigados ou para alcançar outros pedidos.
É o CAC celebrado para a solução de apenas parcela dos fatos ou das pessoas investigadas.
Haverá prosseguimento da ação ou IC contra os demais fatos ou pessoas.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 102


Observação

 Em princípio, não cabe TAC em improbidade administrativa. Fundamento: nestes casos,


incidem sanções graves previstas no art. 12 da L. 8.429/92, que não podem ser objeto
de renúncia.

 Exceção: o MP entende que se o funcionário for do baixo escalão e a Adm. Pública já o


tiver sancionado, é possível a celebração de TAC.

7. OUTRAS QUESTÕES PROCESSUAIS

7.1. Vedação de LIMINAR INAUDITA ALTERA PARS em ACP contra pessoa jurídica de direito
público

ART. 2º, L. 8.437/92  No mandado de segurança coletivo e na


ação civil pública, a liminar será concedida, quando cabível,
após a audiência do representante judicial da pessoa jurídica de
direito público, que deverá se pronunciar no prazo de setenta e
duas horas .

Veda a concessão de liminar inaudita altera pars em ACP contra o P.


Público (que deve ser ouvido em 72hs, por meio de representante
JUDICIAL, e não legal – ou seja, ouvem-se as procuradorias e não chefes
do executivo)

Constitucionalidade

O STF já declarou a constitucionalidade deste dispositivo, posto que não veda o cabimento da
liminar contra o P. Público, mas apenas o condiciona.

Exceção

MAS: excepcionalmente, não sendo possível a oitiva no caso concreto, ou seja, nos casos de
absoluta urgência e mediante fundamentação idônea, admite o STF a dispensa de tal oitiva
pelo juiz (a proteção ao interesse coletivo deve prevalecer sobre a proteção do P. Público).

7.2. Sucumbência na ACP (arts. 17 e 18, LACP)


DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 103
Art. 17. Em caso de litigância de má-fé, a associação autora e os diretores
responsáveis pela propositura da ação serão solidariamente condenados
em honorários advocatícios e ao décuplo das custas, sem prejuízo da
responsabilidade por perdas e danos. (Renumerado do Parágrafo Único
com nova redação pela Lei nº 8.078, de 1990)

Art. 18. Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de
custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas,
nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em
honorários de advogado, custas e despesas processuais. (Redação dada
pela Lei nº 8.078, de 1990)

ACP improcedente (derrota da coletividade):

 Sendo autor da ACP o MP ou Associação, haverá isenção quanto a sucumbência, salvo


na hipótese de comprovada a má-fé.
Se o MP agir de má-fé, quem arcará com a sucumbência é a pessoa jurídica a que ele
pertence (União ou Estado)

 Se o autor for a Administração Pública, direta ou indireta ou a Defensoria Pública, 2 são


as posições (ambas presentes no STJ):

1ª  só haverá sucumbência na má-fé.

2ª  haverá sucumbência, independentemente de má-fé.

ACP procedente (vitória da coletividade):

• Se o MP for o autor vencedor, o réu não paga sucumbência – haverá isenção do réu
vencido (já que o MP não é remunerado por honorários, não paga custas).

• Se os demais legitimados forem os autores vencedores, o réu arca com a sucumbência


No caso da defensoria pública, o $$ vai para um fundo especial, e não para o próprio
defensor.

7.3. Efeito suspensivo da apelação

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 104


Art. 14, LACP – o juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar dano
irreparável à parte.

Pelo CPC, a regra é a de que o efeito suspensivo é automático. Já na LACP, o efeito suspensivo
não é AUTOMÁTICO: a sua concessão depende de decisão do magistrado.

Cuidado:

A ação popular segue a regra do CPC, isto é, a regra da ACP é


excepcional (o projeto de novo CPC altera essa regra, mas
dificilmente passará).

7.4. Reexame necessário

O reexame necessário é uma condição de eficácia da sentença que estabelece que uma
sentença contra o Poder Público só é eficaz caso confirmada pelo Tribunal (art. 475, CPC)

A LACP não traz regra específica sobre o reexame necessário. No microssistema, há


regras nesse sentido na LAP (art. 19) e L. 7.853/89 (Estatuto do Deficiente, art. 4º, §1º),
estabelecendo, porém, um REEXAME NECESSÁRIO INVERTIDO:

Trata-se de reexame necessário em favor do INTERESSE COLETIVO, e não


em favor do Poder Público, ou seja, haverá reexame necessário quando a
coletividade for derrotada.

Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela


improcedência da ação está sujeita ao duplo grau de
jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada
pelo tribunal; da que julgar a ação procedente caberá
apelação, com efeito suspensivo. (Redação dada pela Lei nº
6.014, de 1973)
§ 1º Das decisões interlocutórias cabe agravo de instrumento.
§ 2º Das sentenças e decisões proferidas contra o autor da
ação e suscetíveis de recurso, poderá recorrer qualquer
cidadão e também o Ministério Público.

Na ACP, portanto, aplica-se o MICROSSISTEMA e não o CPC:

REsp 1.108.542/SP
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. REPARAÇÃO DE DANOS AO ERÁRIO.
SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. REMESSA NECESSÁRIA. ART. 19 DA LEI Nº
4.717/64. APLICAÇÃO.
1. Por aplicação analógica da primeira parte do art. 19 da Lei nº 4.717/65, as
sentenças de improcedência de ação civil pública sujeitam-se indistintamente ao
reexame necessário. Doutrina.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 105


2. Recurso especial provido.

COMPATIBILIDA
DE!

7.5. ACP x ADI

O STJ/STF tem admitido ACP com fundamento da inconstitucionalidade de ato normativo, sem
que isso usurpe competência da ADI: apenas os efeitos PRÁTICOS da decisão da ACP em caso
de interesses difusos são erga omnes.
Ex: lei entrega o DF para a iniciativa privada. ADI pede a inconstitucionalidade da lei, e só. ACP
pede, com base na inconstitucionalidade, que não seja entregue a cidade.

ADI – causa de pedir e pedido são iguais: pede-se apenas a declaração de


inconstitucionalidade, pouco importando o que efetivamente ocorrerá com o caso
concreto. JUÍZO ABSTRATO.

CAUSA DE PEDIR:
inconstitucionalidade
AD
I PEDIDO: inconstitucionalidade

Juízo ABSTRATO

ACP – tem a mesma causa de pedir da ADI (inconstitucionalidade da lei), mas o pedido
é diverso: pede-se uma providência concreta. JUÍZO CONCRETO.

CAUSA DE PEDIR:
inconstitucionalidade
ACP
PEDIDO: providência concreta

Juízo CONCRETO

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 106


7.6. Possibilidade de ajuizamento de ACP em favor de uma única pessoa

E possível o ajuizamento de ACP para, por exemplo, buscar uma vaga em escola para 1 criança
ou o tratamento para 1 idoso? Chamado a se manifestar sobre essa questão, o STJ estabeleceu
2 posições opostas:

(1) SIM. Desde que o interesse tutelado seja indisponível, caso em que
o MP poderá ajuizar ACP individual [REsp 819.010/SP]

(2) NÃO. A defesa de um único necessitado é papel da defensoria


pública [REsp 620.622]

[REsp 819.010/SP]
PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO A PESSOA
CARENTE. LEGITIMIDADE ATIVA RECONHECIDA. ARTIGO 25, IV, "A", DA LEI 8.625/93. RECURSO ESPECIAL
PROVIDO.
1. Em exame recurso especial interposto pelo Ministério Público com fulcro na alínea "a" do permissivo
constitucional contra acórdãos assim ementados:
"AÇÃO CIVIL PÚBLICA. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS. MINISTÉRIO PÚBLICO. ILEGITIMIDADE. D
ireito individual cuja legitimidade ativa compete àquele que se diz necessitado. Nos termos da lei processual
'ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei' (art. 6º do Cód.
de Proc. Civil). Definidas em lei, de forma taxativa, as finalidades da ação civil pública, não pode o Ministério
Público pretender por meio desta medida judicial, outro objeto. Processo principal extinto sem apreciação do
mérito. Agravo de instrumento prejudicado."
"EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. Inexistência de omissão a justificar a interposição do recurso (art. 535, incs. I
e II do Cód. de Proc. Civil). Prequestionamento desnecessário. Recurso que objetiva a modificação do
julgado. Impropriedade. Embargos rejeitados."
2. Sustenta-se violação do artigo 25, IV, "a", da Lei 8625/93 argumentando-se que: "A função ministerial - a
legitimidade do parquet - somente estará se o interesse estiver sob a disponibilidade de seu titular. E tal não
ocorre com o direito à saúde, que é objeto de proteção constitucional, afigurando-se direito indisponível. E,
como tal, possível de ser tutelado pelo Ministério Público, ainda que o parquet esteja tutelando o interesse
de uma única pessoa, que é o caso dos autos. Ademais, negar legitimidade ao parquet no caso concreto,
além de
negar o próprio direito constitucional, é negar o desenvolvimento do direito processual vigente à pessoa
humana."
3. Constitui função institucional e nobre do Ministério Público buscar a entrega da prestação jurisdicional
para obrigar o Estado a fornecer medicamento essencial à saúde de pessoa pobre especialmente quando
sofre de doença grave que se não for tratada poderá causar, prematuramente, a sua morte. Legitimidade
ativa do Ministério Público para propor ação civil pública em defesa de direito indisponível, como é o direito à
saúde, em benefício do hipossuficiente.
4. Recurso especial provido para, reconhecendo a legitimidade do Ministério Público para a presente ação,
determinar o reenvio dos autos ao juízo recorrido para que este se pronuncie quanto ao mérito.

[REsp 620.622]
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA - ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO - DIREITO
INDIVIDUAL INDISPONÍVEL DE PESSOA CARENTE – FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO – LEGITIMIDADE ATIVA
DO MINISTÉRIO PÚBLICO.
1. A Jurisprudência mais recente das Turmas de Direito Público do STJ admite esteja o Ministério Público
legitimado para propor ação civil púbica em defesa de direito individual indisponível à saúde de
hipossuficiente.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 107


2. Essa legitimação extraordinária só existe quando a lei assim determina, como ocorre no Estatuto da
Criança e do Adolescente e no Estatuto do Idoso, sendo insuficiente falar, de forma genérica em interesse
público.
3. O barateamento da legitimação extraordinária do MP na defesa de interesse coletivo choca-se com as
atribuições outorgadas pela lei aos defensores públicos.
4. Recurso especial improvido.

7.7. Inversão do ônus da prova em ACP

No julgamento do REsp 972.902/RS, o STJ afirmou a possibilidade de inversão do ônus da prova


em ACP.

Trata-se de aplicação do microssistema: CDC, art. 6º, VIII

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do
ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz,
for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as
regras ordinárias de experiências;

Resp 972.902/RS
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – DANO AMBIENTAL –
ADIANTAMENTO DE HONORÁRIOS PERICIAIS PELO PARQUET – MATÉRIA
PREJUDICADA – INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA – ART. 6º, VIII, DA LEI 8.078/1990
C/C O ART. 21 DA LEI 7.347/1985 – PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO.
1. Fica prejudicada o recurso especial fundado na violação do art. 18 da Lei
7.347/1985 (adiantamento de honorários periciais), em razão de o juízo de 1º grau
ter tornado sem efeito a decisão que determinou a perícia.
2. O ônus probatório não se confunde com o dever de o Ministério Público arcar com
os honorários periciais nas provas por ele requeridas, em ação civil pública. São
questões distintas e
juridicamente independentes.
3. Justifica-se a inversão do ônus da prova, transferindo para o empreendedor da
atividade potencialmente perigosa o ônus de demonstrar a segurança do
emprendimento, a partir da interpretação do art. 6º, VIII, da Lei 8.078/1990 c/c o art.
21 da Lei 7.347/1985, conjugado ao Princípio Ambiental da Precaução.
4. Recurso especial parcialmente provido.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 108


DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 109
3) AÇÃO POPULAR – aspectos processuais

Livro indicados:

 Rodolfo Camargo Mancuso – Ação Popular – RT


 Manual dos procedimentos especiais cível da legislação
extravagante – Ed. Método

1. Generalidades

CONCEITO

Segundo Hely Lopes, ação popular é o mecanismo constitucional de controle popular da


legalidade/lesividade dos atos administrativos em geral.

Este autor utiliza expressões importantes: para ele, a ação popular é


uma ação de caráter CÍVICO-ADMINISTRATIVO, porque ela garante o
direito público subjetivo a um governo honesto. O autor é o cidadão.

Obs.

Para CABM, com o que concorda Gajarrdoni, a ação popular é uma forma de
participação popular na administração pública.

Ele chega até mesmo a insinuar que a ação popular é uma forma de democracia
DIRETA (diferente da nossa forma tradicional que é indireta). Assim, a ação
popular seria uma das formas diretas de participação popular, como o plebiscito,
referendo e iniciativa popular de lei.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 110


HISTÓRICO

A ação popular surge em Roma [400 a.C]. Gaio, jurista romano da época, coloca que: no
período das legis aciones já existia a previsão de uma ação popular – a finalidade da ação
popular no Direito Romano era para o cidadão obrigar o proprietário retirar os vasos do
parapeito do prédio, evitando que ele caísse sobre a cabeça de um indivíduo. Feição individual,
não coletiva.

No Brasil:

 A primeira aparição da ação popular no Brasil foi na Carta de 1824. Aqui também a
feição era individual, não era para proteger a coisa pública. A Ação Popular em 1824 só
poderia ser intentada dentro de ano e dia.

 Na Constituição Republicana de 1891 a Ação Popular foi suprimida, contudo a


jurisprudência continuava a admitir a ação popular, mesmo sem a previsão
constitucional. Nessa época vigia as ordenações Manuelinas e nas Ordenações
Manuelinas tinha a previsão da Ação Popular. Logo, a jurisprudência continuou
aceitando a Ação Popular.

 1916  Ora, como o CC tinha revogado as Ordenações Manuelinas e a Carta de 1891


não falava da Ação Popular, entendeu que não existia mais Ação Popular no Brasil. Art.
76 do CC 1916  “a todo direito corresponde uma ação que o assegura”. Logo, se não
tem ação, não tem direto.

 1934  voltou a aparecer a Ação Popular. Essa Constituição foi extremamente


democrática e surgiu após o Movimento Constitucionalista de 1932.

 1937  não previu a ação popular – Golpe de Getúlio Vargas.

 1946  fim do Estado Novo. Volta a Ação Popular.

 1967  a ação Popular é repetida.

1988  Coroaram a Ação Popular com a ampliação de seu objeto. Antes, a Ação
Popular só protegia o patrimônio público. Com a CF/88, passou-se a proteger o
patrimônio público e outros objetos.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 111


PREVISÃO LEGAL e SUMULAR

 Previsão constitucional:
Art. 5º, LXXIII, CF - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação
popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de
que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé,
isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;

 Regulamentação do dispositivo constitucional: L. 4.717/65 – Lei de Ação Popular

 Sendo ação coletiva, a ação popular integra microssistema, a ela se aplicando


também o CDC e a LACP.

 Súmulas:

Súm. 101, STF – o mandado de segurança não substitui a ação popular.

Súm. 365, STF – pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular.

NATUREZA

A natureza da ação popular pode ser enfrentada sob 3 acepções:

 Processualistas: procedimento especial de legislação extravagante.

 Constitucionalistas: a AP é writ constitucional (irmã do mandado de segurança,


habeas corpus, habeas data). Uma verdadeira garantia constitucional.

 Administrativistas: a AP é um mecanismo constitucional de controle popular da


legalidade/lesividade dos atos administrativos.

2. Objeto (ART. 5º, LXXXIII + ART. 3º, LAP)

A ação popular serve para a tutela preventiva (inibitória ou de remoção do ilícito) ou


ressarcitória (material e moral) dos seguintes bens e direitos difusos:

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 112


- Patrimônio Público
- Moralidade Administrativo
- Meio Ambiente
- Patrimônio Histórico Cultural
2.1. OBSERVAÇÕES

As regras da ACP aplicam-se à ação popular, especialmente sobre tutela ressarcitória, meio
ambiente e patrimônio histórico e cultural.

Alguns comentários, porém, devem ser feitos:

Diferentemente da ACP, que se presta a todos os direitos METAINDIVIDUAIS, a ação


popular tem objeto mais restrito: se presta apenas à proteção dos DIREITOS DIFUSOS,
que são direitos mais abstratos.

PATRIMÔNIO PÚBLICO:
O conceito de patrimônio público para fins de ação popular é mais amplo, nos termos
do art. 1º da ACP: engloba tudo o que envolve dinheiro público.

Não importa propriamente se a pessoa jurídica ré seja de direito público ou


privado, ou seja, a proteção do patrimônio público ocorre contra qualquer
pessoa jurídica de direito público ou contra entidade (privada) que o Estado
subvencione, na proporção do dinheiro público aplicado.

Art. 1º, LAP - Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a
anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da
União, do Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios, de entidades
autárquicas, de sociedades de economia mista (Constituição, art. 141, §
38), de sociedades mútuas de seguro nas quais a União represente os
segurados ausentes, de empresas públicas, de serviços sociais
autônomos, de instituições ou fundações para cuja criação ou custeio o
tesouro público haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por
cento do patrimônio ou da receita ânua, de empresas incorporadas ao
patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, e
de quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos
cofres públicos.
§ 1º - Consideram-se patrimônio público para os fins referidos neste
artigo, os bens e direitos de valor econômico, artístico, estético, histórico
ou turístico. (Redação dada pela Lei nº 6.513, de 1977)
§ 2º Em se tratando de instituições ou fundações, para cuja criação ou
custeio o tesouro público concorra com menos de cinqüenta por cento
do patrimônio ou da receita ânua, bem como de pessoas jurídicas ou
entidades subvencionadas, as conseqüências patrimoniais da invalidez
dos atos lesivos terão por limite a repercussão deles sobre a
contribuição dos cofres públicos.

Conclusão:
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 113
Cabe ação popular contra empresa privada (desde
que envolva dinheiro público)!

MORALIDADE ADMINISTRATIVA  trata-se de um conceito jurídico indeterminado, de


conteúdo aberto, que se altera com o passar do tempo. “São os padrões éticos e de
boa-fé no trato com a coisa pública”.
Ex: art. 37, §1º, CF – proíbe a propaganda pessoal (auto-promoção) em bens públicos
– prefeita pintou todos os prédio públicos de rosa, em consonância com sua
campanha política que se baseava no feminismo;

ROL TAXATIVO de objetos tutelados

O STJ pacificou o entendimento de que este rol de cabimento / proteção de ação


popular é TAXATIVO (ao contrário da ACP que tem rol exemplificativo).

REsp 818.725/SP
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO POPULAR. CONCESSÃO DE SERVIÇO. SUSPENSÃO DAS
ATIVIDADES DE EMPRESA CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO DE GESTÃO DE ÁREAS DESTINADAS A
ESTACIONAMENTO ROTATIVO. INOBSERVÂNCIA DE DIREITO CONSUMERISTA. INÉPCIA DA INICIAL.
ILEGITIMIDADE ATIVA. AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR. SÚMULA 211/STJ.
1. A Ação Popular não é servil à defesa dos consumidores, porquanto
instrumento flagrantemente inadequado mercê de evidente ilegitimatio ad
causam (art. 1º, da Lei 4717/65 c/c art. 5º, LXXIII, da
Constituição Federal) do autor popular, o qual não pode atuar em prol da
coletividade nessas hipóteses.
2. A ilegitimidade do autor popular, in casu, coadjuvada pela inadequação da via eleita ab origine,
porquanto a ação popular é instrumento de defesa dos interesses da coletividade, utilizável por
qualquer de seus membros, revela-se inequívoca, por isso que não é servil ao amparo de direitos
individuais próprios, como sóem ser os direitos dos consumidores, que, consoante cediço, dispõem
de meio processual adequado à sua defesa, mediante a propositura de ação civil pública, com
supedâneo nos arts. 81 e 82 do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90).
3. A concessão de serviço de gestão das áreas destinadas ao estacionamento rotativo, denominado
"zona azul eletrônica", mediante a realização da concorrência pública nº 001/2001 (processo nº
463/2001), obedecida a reserva legal, não resta eivada de vícios acaso a empresa vencedora do
certame, ad argumentandum tantum, por ocasião da prestação dos serviços, não proceda à
comprovação do estacionamento do veículo e da concessão de horário suplementar, não
empreenda à identificação dos dados atinentes ao seu nome, endereço e CNPJ, nos cupons de
estacionamento ensejando a supressão de receita de serviços e, consectariamente, redução do
valor pago mensalmente a título de ISSQN e utilize paquímetros sem aferição pelo INMETRO,
porquanto questões insindicáveis pelo E. S.T.J à luz do verbete sumular nº 07 e ocorrentes ex post
facto (certame
licitatório).
4. A carência de ação implica extinção do processo sem resolução do mérito e, a fortiori: o
provimento não resta coberto pelo manto da res judicata (art. 468, do CPC).
5. In casu, o autor na ação popular não ostenta legitimidade tampouco formula pedido
juridicamente possível em ação desta natureza para a vindicar a suspensão das atividades da
empresa concessionária de serviço de gestão das áreas destinadas ao estacionamento rotativo,
denominado "zona azul eletrônica", e a fortiori da cobrança do preço pelo serviço de
estacionamento, bem como o lacramento das máquinas pelo tempo necessário à tomada de
providências atinentes à adequação da empresa à legislação municipal e federal, especialmente no
que pertine ao fornecimento de cupom
contendo a identificação das máquinas, numeração do equipamento emissor e número de controle
para o cupom fiscal e denominação da empresa, endereço, CNPJ, além da comprovação acerca da
aferição dos taquímetros pelo INMETRO.
6. A simples indicação do dispositivo tido por violado (arts. 81 e 82 do Código de Defesa do
Consumidor), sem referência com o disposto no acórdão confrontado, obsta o conhecimento do
recurso especial. Incidência da Súmula 211/STJ: "Inadimissível recurso especial quanto à questão
que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal a quo."
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 114
7. Recurso especial provido

3. Cabimento da AP

A ação popular é cabível contra atos ILEGAIS e LESIVOS aos bens elencados anteriomente
(patrimônio público, moralidade administrativa, meio ambiente, patrimônio histórico-cultural).

Cumulativamente!!!!

3.1. ATO

A ação popular cabe contra ATO ADMINISTRATIVO, seja ele comissivo ou omissivo.
Ex: contratos, nomeações, portarias, decretos. Particular que maneja dinheiro público.

ATO PARTICULAR:

 Regra geral  não cabe ação popular contra ato de partícular.

 Exceção  cabe ação popular contra ato do particular que atenta contra o
MEIO AMBIENTE ou o PATRIMÔNIO HISTÓRICO.

Por conta desta “exceção”, alguns autores sustentam que a ação


popular para a tutela do meio ambiente e do patrimônio histórico
seria, na verdade, uma ACP ajuizável pelo cidadão.

ATO LEGISLATIVO:

 Regra geral  não cabe ação popular contra LEI.

 Exceção  a jurisprudência tem admitido ação popular


contra as chamadas leis de efeito concreto, que são aquelas que, por si
só, já operacionalizam o ato administrativo.
Ex: lei que concede anistia tributária, decreto de desapropriação.

ATO JURISDICIONAL:
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 115
 Regra geral  não cabe ação popular. Contra decisão
judicial há a previsão de recursos processuais.

 Exceção  o STJ entendeu que é possível ação popular para


anular acordo homologado judicialmente [REsp 906.400/SP] – o
acordo seria mais um ato administrativo do que uma decisão judicial
propriamente dita.

REsp 906.400
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO POPULAR. ACORDO JUDICIAL. DESCONSTITUIÇÃO.
POSSIBILIDADE.
1. A ação popular é via própria para obstar acordo judicial transitado em julgado
em que o cidadão entende ter havido dano ao erário. Precedentes da Primeira e
Segunda Turma.
2. Recurso especial provido.

3.2. “ILEGAIS”

No conceito de ilegalidade estão abrangidos todos os vícios do ato (inexistência, nulidade,


ineficácia).

Ato administrativo ilegal é aquele que viola qualquer um dos elementos do ato

administrativo:

1. Sujeito capaz/competente
2. Forma
3. Motivo
4. Objeto/conteúdo
5. Finalidade

Art. 2º, LAP - São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no
artigo anterior, nos casos de:
a) incompetência; - AGENTE CAPAZ
b) vício de forma; - FORMA
c) ilegalidade do objeto; - OBJETO LÍCITO
d) inexistência dos motivos; MOTIVO
e) desvio de finalidade. – FINALIDADE

Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observar-se-ão as seguintes


normas:
a) a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas atribuições
legais do agente que o praticou;
b) o vício de forma consiste na omissão ou na observância incompleta ou irregular de
formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato;
c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa em violação de
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 116
lei, regulamento ou outro ato normativo;
d) a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de direito, em
Além destes casos, também haverá ilegalidade em outras hipóteses (logo, este rol
do art. 2o é EXEMPLIFICATIVO), como mostra o art. 3o, LAP:
Ex: nomeação de parente = todos os elementos do ato administrativo estão

presentes, mas o ato é atacável por violação da moralidade.

Art. 3º Os atos lesivos ao patrimônio das pessoas de direito público ou


privado, ou das entidades mencionadas no art. 1º, cujos vícios não se
compreendam nas especificações do artigo anterior, serão anuláveis,
segundo as prescrições legais, enquanto compatíveis com a natureza
deles.

3.3. “LESIVOS”

Além de ilegal, o ato precisa CAUSAR PREJUÍZO aos bens protegidos pela ação popular, sob
pena de não cabimento.

NOTA:
Se o ato for apenas ilegal, ou apenas lesivo, não será o caso de ação popular.

PRESUNÇÃO DE LESIVIDADE

Em alguns casos, a lei presume a lesividade do ato ilegal: a lesividade já está implícita na
própria conduta, fazendo-se necessária a prova da ilegalidade apenas.

Art. 4º São também nulos os seguintes atos ou contratos, praticados ou celebrados por
quaisquer das pessoas ou entidades referidas no art. 1º.
I - A admissão ao serviço público remunerado, com desobediência, quanto às
condições de habilitação, das normas legais, regulamentares ou constantes de
instruções gerais.
II - A operação bancária ou de crédito real, quando:
a) for realizada com desobediência a normas legais, regulamentares, estatutárias,
regimentais ou internas;
b) o valor real do bem dado em hipoteca ou penhor for inferior ao constante de
escritura, contrato ou avaliação.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 117


III - A empreitada, a tarefa e a concessão do serviço público, quando:
a) o respectivo contrato houver sido celebrado sem prévia concorrência pública ou
administrativa, sem que essa condição seja estabelecida em lei, regulamento ou
norma geral;
b) no edital de concorrência forem incluídas cláusulas ou condições, que
comprometam o seu caráter competitivo;
c) a concorrência administrativa for processada em condições que impliquem na
limitação das possibilidades normais de competição.
IV - As modificações ou vantagens, inclusive prorrogações que forem admitidas, em
favor do adjudicatário, durante a execução dos contratos de empreitada, tarefa e
concessão de serviço público, sem que estejam previstas em lei ou nos respectivos
instrumentos.,
V - A compra e venda de bens móveis ou imóveis, nos casos em que não cabível
concorrência pública ou administrativa, quando:
a) for realizada com desobediência a normas legais, regulamentares, ou constantes
de instruções gerais;
b) o preço de compra dos bens for superior ao corrente no mercado, na época da
operação;
c) o preço de venda dos bens for inferior ao corrente no mercado, na época da
operação.
VI - A concessão de licença de exportação ou importação, qualquer que seja a sua
modalidade, quando:
a) houver sido praticada com violação das normas legais e regulamentares ou de
instruções e ordens de serviço;
b) resultar em exceção ou privilégio, em favor de exportador ou importador.
VII - A operação de redesconto quando sob qualquer aspecto, inclusive o limite de
valor, desobedecer a normas legais, regulamentares ou constantes de instruções
gerais.
VIII - O empréstimo concedido pelo Banco Central da República, quando:
a) concedido com desobediência de quaisquer normas legais, regulamentares,,
regimentais ou constantes de instruções gerias:
b) o valor dos bens dados em garantia, na época da operação, for inferior ao da
avaliação.
IX - A emissão, quando efetuada sem observância das normas constitucionais, legais e
regulamentadoras que regem a espécie.

Trata-se de PRESUNÇÃO ABSOLUTA!!!!!


[Ex: contratar sem concurso e sem licitação = sujeito PhD em administração pública se propõe
a trabalhar de graça para a Administração: se não fizer concurso, há ilegalidade e a lesividade
é presumida]

Obs.
Há autores que sustentam que, na defesa do meio ambiente e da
moralidade administrativa, não há necessidade de prova da lesividade,
que para eles é implícita. Este é um raciocínio doutrinário ainda em
construção.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 118


4. Aspectos processuais

4.1. LEGITIMIDADE ATIVA

Prevalece largamente o entendimento de que a legitimidade ativa para a propositura da ação


popular é do CIDADÃO.

Mas o que é cidadão?


Prevalece que se trata da qualidade daquele que pode votar.

No Brasil, a cidadania decorre do exercício e gozo dos direitos políticos. Logo, a prova
da cidadania se faz através de título eleitoral ou documento que a ele corresponda.

Não há mais controvérsias quanto à possibilidade de o maior de 16 anos


(e menor de 18) poder propor ação popular, desde que em situação
regular com a Justiça Eleitoral. A cidadania começa aos 16 anos.

Previsão legal:

Art. 1º, LAP - Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a
anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio
da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios, de
entidades autárquicas, de sociedades de economia
mista (Constituição, art. 141, § 38), de sociedades mútuas de seguro
nas quais a União represente os segurados ausentes, de empresas
públicas, de serviços sociais autônomos, de instituições ou fundações
para cuja criação ou custeio o tesouro público haja concorrido ou
concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da
receita ânua, de empresas incorporadas ao patrimônio da União, do
Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, e de quaisquer pessoas
jurídicas ou entidades subvencionadas pelos cofres públicos.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 119


§ 3º A prova da cidadania, para ingresso em juízo, será feita com o
título eleitoral, ou com documento que a ele corresponda.

CUIDADO:

• O conceito de cidadão fala em direito de VOTAR. Logo, aquele que, embora


tenha título de eleitor, não possa votar por não estar em dia com suas
obrigações eleitorais, também não poderá ajuizar ação popular.

• Português: em tese pode ajuizar ação popular (desde que assegurado o


mesmo direito ao brasileiro em Portugal). Na prática, não poderá, pois não há
esse permissivo na lei portuguesa.

• Cuidado com as hipóteses de cassação da naturalização e suspensão dos


direitos políticos (arts. 12 e 15 da CF).
Nestas hipóteses, se estiver em curso ação popular, a pessoa perde a
legitimidade para a ação popular, de forma que o juiz deve promover
intimação para que outro cidadão interessado assuma a AP ou, na ausência
deste, para que o MP o faça.

Natureza da legitimidade ativa

Prevalece na doutrina o entendimento (Hely, JAS – não unânime) de que se trata de


LEGITIMAÇÃO EXTRAORDINÁRIA (pois o cidadão está em nome próprio na defesa de um direito
alheio).

STJ, Rcl 424 – RJ.

Possibilidade de LITISCONSÓRCIO

Artigo 6º, §5º da LAP é possível a formação de litisconsórcio entre vários autores populares.

§ 5º É facultado a qualquer cidadão habilitar-se como litisconsorte ou assistente do


autor da ação popular.

Litisconsórcio:
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 120
 ATIVO
 FACULTATIVO
 INICIAL ou ULTERIOR
 UNITÁRIO

Pessoa Jurídica

A jurisprudência, súmula do STF 365, afirma que a pessoa jurídica não pode ajuizar ação
popular.

SÚMULA n. 365 – (SJP de 13.12.1963)


Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular.

Obs.
Entendimento da Professora Rosa Nery, Abelha e outro (livro de direito
ambiental constitucional): sustentam, à luz do artigo 225 da CF, que em
tema de ação popular ambiental qualquer pessoa, física ou jurídica, pode
propor ação popular.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as
presentes e futuras gerações.

Domicílio Eleitoral

Não há obstrução legal para a propositura de ação pelo cidadão fora do seu domicílio eleitoral.

4.2. LEGITIMIDADE PASSIVA

Será réu em ação popular todo aquele, pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,
que de qualquer forma tenha participado da prática do ato ilegal e lesivo, ou tenha dele se
beneficiado DIRETAMENTE.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 121


Trata-se de típico caso de LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO e SIMPLES.

Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as


entidades referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou
administradores que houverem autorizado, aprovado, ratificado ou praticado
o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, e
contra os beneficiários diretos do mesmo.

Obs.

• Se a ação popular for para a proteção do patrimônio público ou


moralidade administrativa, necessariamente será réu uma PESSOA JURÍDICA DE DIREITO
PÚBLICO.
Na proteção do meio ambiente e do patrimônio histórico-cultural pode não haver PESSOA
JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO como ré.

• Os empregados da empresa beneficiada serão beneficiários indiretos,


logo: não serão réus.

Ex:\emplos
- Prefeitura nomeia comissão de licitação (5 membros), que promove fraude por
superfaturamento. Serão réus da ACP: prefeitura, prefeito, 5 membros da comissão,
empresa vencedora da licitação. Os funcionários da empresa que receberam horas
extras se beneficiaram indiretamente e não serão réus.
- TC aprova ilegalmente as contas de determinado administrador: serão réus o
administrador e os membros do TC que aprovaram as contas.

LEGITIMIDADE PASSIVA ULTERIOR

Para evitar que todos os atos do processo posteriores à citação sejam anulados, já que o
litisconsórcio é unitário e exige a presença, no processo, de todos os legitimados, permite-se
que o juiz suspenda o andamento do processo, determinando a citação do réu ainda não
incluído, com direito de defesa, para só então prosseguir no julgamento.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 122


Art. 7º A ação obedecerá ao procedimento ordinário, previsto
no Código de Processo Civil, observadas as seguintes normas
modificativas:
III - Qualquer pessoa, beneficiada ou responsável pelo ato
impugnado, cuja existência ou identidade se torne conhecida
no curso do processo e antes de proferida a sentença final de
primeira instância, deverá ser citada para a integração do
contraditório, sendo-lhe restituído o prazo para contestação e
produção de provas, Salvo, quanto a beneficiário, se a citação
se houver feito na forma do inciso anterior.

Essa é uma hipótese só admitida na AP.

4.3. A ESPECIAL POSIÇÃO DA PESSOA JURÍDICA LESADA

Art. 6º, §3º A pessoas jurídicas de direito público ou de direito


privado, cujo ato seja objeto de impugnação, poderá abster-se de
contestar o pedido, ou poderá atuar ao lado do autor, desde que
isso se afigure útil ao interesse público, a juízo do respectivo
representante legal ou dirigente.

A LAP permite que a pessoa jurídica de D. Público ou de D. Privado demandada, a qual sofreu o
prejuízo, possa ESCOLHER o pólo processual que atuará, podendo ainda quedar-se inerte.

(a) Defesa do ato atacado = pólo passivo.


(b) Ataque do ato = pólo ativo (litisconsórcio).
(c) Inércia = pólo passivo.

ATENÇÃO:

- Trata-se da possibilidade de MODIFICAÇÃO DE PÓLO, já que a pessoa


jurídica lesada sempre iniciará como ré.

- A definição do pólo, a escolha da pessoa jurídica, dependerá da sua


gestão: se a nova gestão der continuidade à anterior, figurará como ré; se
a nova gestão for opositora da gestão anterior, será litisconsorte ativo.

- Essa possibilidade existe também na ação de improbidade.


DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 123
4.4. POSIÇÃO DO MP

Art. 6º, §4º, LAP - O Ministério Público acompanhará a ação, cabendo-


lhe apressar a produção da prova e promover a responsabilidade, civil
ou criminal, dos que nela incidirem, sendo-lhe vedado, em qualquer
hipótese, assumir a defesa do ato impugnado ou dos seus autores*.

* Cuidado com a parte final do dispositivo, pois não foi recepcionada pela
CR/88, em razão de sua independência funcional. (posição majoritária na
doutrina).

O MP exerce três papéis na ação popular:

1. Órgão opinativo – custus legis.


2. Promover a responsabilizaçao penal e administrativa dos responsáveis
3. Assumir a titularidade da ação ou da execução em caso de abandono – art. 16, LAP

O MP tem a possibilidade de executar, subsidiariamente, a sentença


proferida em AP (tal como ocorre com a ACP), se passados 60 dias sem que o
autor o terceiro a promova.

Art. 16, LAP - Caso decorridos 60 (sessenta) dias da publicação


da sentença condenatória de segunda instância, sem que o
autor ou terceiro promova a respectiva execução. o
representante do Ministério Público a promoverá nos 30 (trinta)
dias seguintes, sob pena de falta grave.

ATENÇÃO:

O MP não pode ajuíza AP, mas pode ser autor de AP.

4.5. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 124


Em princípio nenhuma pode ser afastada. No entanto, uma muito rara é chamamento ao
processo, pois todo mundo que está envolvido deve ser réu.

4.6. COMPETÊNCIA

A previsão está no artigo 5º da LAP:

Art. 5º Conforme a origem do ato impugnado, é competente para conhecer da ação,


processá-la e julgá-la o juiz que, de acordo com a organização judiciária de cada
Estado, o for para as causas que interessem à União, ao Distrito Federal, ao Estado ou
ao Município.

Apesar do artigo 5º, entende-se que se aplica o microssistema processual


coletivo, aplicando-se todas as regras pertinentes à ação civil pública.

Na Ação Popular podem ser partes entidades particulares subvencionadas, sendo que o que
define a competência da Justiça Estadual, Federal ou Distrital é a origem da verba:

§ 1º Para fins de competência, equiparam-se atos da União, do Distrito Federal,


do Estado ou dos Municípios os atos das pessoas criadas ou mantidas por essas
pessoas jurídicas de direito público, bem como os atos das sociedades de que
elas sejam acionistas e os das pessoas ou entidades por elas subvencionadas ou
em relação às quais tenham interesse patrimonial.

Súmulas 208 e 209 do STJ:

- (competência penal) Súmula: 208 COMPETE A JUSTIÇA FEDERAL PROCESSAR E JULGAR


PREFEITO MUNICIPAL POR DESVIO DE VERBA SUJEITA A PRESTAÇÃO DE CONTAS PERANTE
ORGÃO FEDERAL.

O STF já tem precedente aniquilando o teor desta súmula, mas por enquanto ainda
continuam valendo.

- (competência penal) Súmula: 209 COMPETE A JUSTIÇA ESTADUAL PROCESSAR E JULGAR


PREFEITO POR DESVIO DE VERBA TRANSFERIDA E INCORPORADA AO PATRIMONIO MUNICIPAL.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 125


No caso da súmula 209 a verba deve estar incorporada e transferida. Assim, lê-se estas
súmulas assim: se tiver de prestar contas em razão de dinheiro da união, será JF. Se estiver
incorporada e não tiver de prestar contas, será da Justiça Estadual.

Hierarquia do princípio federativo:

§ 2º Quando o pleito interessar simultaneamente à União e a qualquer


outra pessoas ou entidade, será competente o juiz das causas da União,
se houver; quando interessar simultaneamente ao Estado e ao Município,
será competente o juiz das causas do Estado, se houver.
Obs.
No caso de verba de município, cuidado com os Estados que tem
varas de fazenda pública municipal e estadual.

Serviços Sociais Autônomos: entidades privada que prestam serviço público. Seguem, em

princípio, a súm. 516 do STF:

SÚMULA n. 516 – O Serviço Social da Indústria (SESI) está sujeito à jurisdição da Justiça Estadual.

4.7. RESPOSTA DOS RÉUS - PRAZO

Prazo: 20 dias, prorrogáveis por mais 20 dias, a requerimento do interessado se


particularmente difícil a produção de prova documental. (art. 7º, LAP)

Art. 7º, IV, LAP - O prazo de contestação é de 20 (vinte) dias, prorrogáveis


por mais 20 (vinte), a requerimento do interessado, se particularmente difícil
a produção de prova documental, e será comum a todos os interessados,
correndo da entrega em cartório do mandado cumprido, ou, quando for o
caso, do decurso do prazo assinado em edital.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 126


 Segundo o STJ, não se aplicam os arts. 188 e 191 do CPC
para este prazo de contestação. Para os demais prazos, sim. Ou seja, a
Fazenda Pública terá prazo em dobro para recorrer.

 Este prazo se inicia a partir da juntada do último mandado


de citação.

4.8. SENTENÇA

Art. 7º, VI - A sentença, quando não prolatada em audiência de


instrução e julgamento, deverá ser proferida dentro de 15 (quinze)
dias do recebimento dos autos pelo juiz.

Deve ser proferida em 15 dias.

Trata-se de PRAZO PRÓPRIO, posto que existe sanção ao magistrado (impede a sua
promoção).

Art. 7º, Parágrafo único. O proferimento da sentença além do prazo estabelecido


privará o juiz da inclusão em lista de merecimento para promoção, durante 2
(dois) anos, e acarretará a perda, para efeito de promoção por antigüidade, de
tantos dias quantos forem os do retardamento, salvo motivo justo, declinado nos
autos e comprovado perante o órgão disciplinar competente.

Natureza jurídica

A sentença da ação popular (procedência) sempre terá natureza DESCONSTITUTIVA!


Nada impede, porém, seja ela TAMBÉM condenatória, constitutiva ou mandamental.

Art. 11, LAP – A sentença que, julgando procedente a ação popular, decretar a
invalidade do ato impugnado, condenará ao pagamento de perdas e danos os
responsáveis pela sua prática e os beneficiários dele, ressalvada a ação
regressiva contra os funcionários causadores de dano, quando incorrerem em
culpa.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 127


Sanção

O STJ entende que não há a possibilidade de nenhuma sanção política, administrativa ou


criminal na ação popular. Tais sanções devem ser buscadas/apuradas em outras vias. A ação
popular só serve para desconstituir o ato lesivo e reparar o dano (ART. 15, LAP).

Exemplo:
O prefeito não pode ser afastado. O ato deve ser desconstituído, remetendo-se pecas para a
apuração e instrução de ação de improbidade, quando, aí sim, será possível a aplicação das
sanções previstas em lei própria.

Art. 15. Se, no curso da ação, ficar provada a infringência da


lei penal ou a prática de falta disciplinar a que a lei comine a
pena de demissão ou a de rescisão de contrato de trabalho, o
juiz, "ex-officio", determinará a remessa de cópia autenticada
das peças necessárias às autoridades ou aos administradores
a quem competir aplicar a sanção.

4.9. REEXAME NECESSÁRIO

O REEXAME NECESSÁRIO, neste caso, é invertido (art. 19, LAP)  se dá em favor dos
interesses coletivos, e não do Poder Público: cabível em caso de improcedência da ação.

Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da


ação está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão
depois de confirmada pelo tribunal; da que julgar a ação procedente
caberá apelação, com efeito suspensivo. (Redação dada pela Lei nº 6.014,
de 1973)
§ 1º Das decisões interlocutórias cabe agravo de
instrumento. (Redação dada pela Lei nº 6.014, de 1973)
§ 2º Das sentenças e decisões proferidas contra o autor da ação e
suscetíveis de recurso, poderá recorrer qualquer cidadão e também o
Ministério Público. (Redação dada pela Lei nº 6.014, de 1973)

4.10. EFEITO SUSPENSIVO

Efeito suspensivo da apelação na ação popular, diferentemente da ACP, segue a regra geral do
CPC, ou seja, o efeito suspensivo é AUTOMÁTICO.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 128


4.11. PENHORABILIDADE SALARIAL

Art. 14, §3º Quando o réu condenado perceber dos cofres


públicos, a execução far-se-á por desconto em folha até o integral
ressarcimento do dano causado, se assim mais convier ao
interesse público.

A LAP traz uma nova exceção à impenhorabilidade salarial: quando o condenado for
funcionário público, o ressarcimento poderá ser feito por desconto em folha.

Penhorabilidade salarial:

1. Dívida alimentar (art. 734, CPC)


2. Funcionário público condenado em AP (art. 14, §3º,
LAP)

CUIDADO:

Essa possibilidade não autoriza a penhora integral do salário (dignidade da pessoa humana),
mas apenas um percentual, o qual se tem entendido ser de 30% (em analogia ao empréstimo
consignado).

4.12. SUCUMBÊNCIA

• Se o autor popular é vencido, ficará isento do pagamento da sucumbência, salvo má-fé.


No caso de má-fé, o vencido deverá pagar 10x o valor das custas.

• Se os réus forem vencidos, não haverá isenção, devendo ser pagas as custas, despesas e
honorários.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 129


Art. 5º, LXXIII, CF - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação
popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de
que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé,
isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;

Art. 10, LAP. Constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3
(três) anos, mais multa de 10 (dez) a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do
Tesouro Nacional - ORTN, a recusa, o retardamento ou a omissão de dados
técnicos indispensáveis à propositura da ação civil, quando requisitados pelo
Ministério Público.

Art. 12, LAP. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação
prévia, em decisão sujeita a agravo.
§ 1º A requerimento de pessoa jurídica de direito público interessada, e para
evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia pública,
poderá o Presidente do Tribunal a que competir o conhecimento do respectivo
recurso suspender a execução da liminar, em decisão fundamentada, da qual
caberá agravo para uma das turmas julgadoras, no prazo de 5 (cinco) dias a
partir da publicação do ato.
§ 2º A multa cominada liminarmente só será exigível do réu após o trânsito
em julgado da decisão favorável ao autor, mas será devida desde o dia em
que se houver configurado o descumprimento.

Art. 13, LAP. Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano


causado reverterá a um fundo gerido por um Conselho Federal ou por
Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o Ministério Público
e representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados à
reconstituição dos bens lesados.
§ 1o. Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro ficará depositado
em estabelecimento oficial de crédito, em conta com correção
monetária. (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 12.288, de 2010)
§ 2o Havendo acordo ou condenação com fundamento em dano causado por
ato de discriminação étnica nos termos do disposto no art. 1o desta Lei, a
prestação em dinheiro reverterá diretamente ao fundo de que trata o caput e
será utilizada para ações de promoção da igualdade étnica, conforme
definição do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial, na hipótese
de extensão nacional, ou dos Conselhos de Promoção de Igualdade Racial
estaduais ou locais, nas hipóteses de danos com extensão regional ou local,
respectivamente. (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010)

4.13. PRESCRIÇÃO

Art. 21, LAP – A ação prevista nesta lei prescreverá em 5 anos.

Termo inicial = publicidade do ato ilegal e lesivo;

 O que prescreve é a via popular, não o direito de a pretensão ser exercida por outra via.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 130


Obs.

A reparação do patrimônio público e do meio ambiente são


imprescritíveis!!!!  sendo assim, apesar de não mais caber a
ação popular após 5 anos, caberá, por ex., ACP pelo MP.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 131


4) AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – aspectos processuais

(verificar estudo sobre o tema em D. Administrativo)

Livros:
 Marcelo Figueiredo, Ed. Atlas.
 Fernando Gajardoni, Comentários à LIA, RT

(A) PREVISÃO LEGAL e SUMULAR

 CF/88

Art. 37, §4º, CF - Os atos de improbidade administrativa


importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da
função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento
ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo
da ação penal cabível.

 Lei 8.429/92

 Microssistema processual coletivo: a ação de improbidade administrativa também é


ação coletiva, a ela se aplicando o CDC e a LACP, naquilo que não for incompatível.

 Súmulas: não há!


(pouco ou nenhum consenso há entre os tribunais quanto ao tema)

(B) CONCEITO

A probidade administrativa é o desempenho da função pública com honestidade, boa-fé e


ética. A improbidade administrativa, assim, é o termo técnico para designar as formas de
corrupção administrativa, com o desvirtuamento da função pública. Para ser ato de
improbidade, não é necessário que seja ato administrativo.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 132


Exemplos mais comuns: enriquecimento ilícito; dano ao patrimônio público (alienações abaixo
do preço de mercado, compras por preço acima, etc.); tráfico de influências (lobby); exercício
nocivo da função pública (engavetamento de processos, etc.).

(C) AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA x AÇÃO CIVIL PÚBLICA

Há 2 correntes que discutem a natureza jurídica da ação de improbidade administrativa:

• Ação de improbidade administrativa NÃO é ação civil


pública. Tanto assim que são diferentes os seus objetos, procedimentos,
coisa julgada e legitimidade ativa. Cássio Scarpinela; Gajardoni.
Ex: ACP – todos os metaindividuais; coisa julgada secundum eventum
probationis, procedimento ordinário; AIA – direitos difusos, procedimento
prórpio

• A ação civil de improbidade administrativa é uma ESPÉCIE


de ação civil pública. STJ + maioria.

A melhor maneira de tratar o tema em prova discursiva é ignorá-lo. Independente desta


discussão, a LACP aplica-se à AIA, por integrar o microssistema.

(D) CONSTITUCIONALIDADE DA LEI 8.429/92

Há 2 ADIs tramitando no STF questionando a constitucionalidade da Lei 8.429/92:

 ADI 2882/DF – discute a constitucionalidade formal da LIA:

- Alega-se desobediência ao processo legislativo previsto no art. 65 da CF


(procedimento bicameral), na medida em que o projeto foi apresentado na
Câmara, substituído pelo Senado e devolvido para a Câmara, onde sofreu nova
alteração (rejeitado o substitutivo do Senado e restabelecido o projeto inicial
com alterações) sem retornar ao Senado.

- O STF, por 7x1, em 13.05.10, declarou constitucional a LIA, com base no


seguinte raciocínio: o substitutivo do Senado nada mais é uma grande emenda,
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 133
tendo, em tese, aprovado o projeto da Câmara com emendas; ao retornar para a
Câmara, após essa aprovação pelo Senado, aquela casa tinha poderes para
encerrar o processo legislativo encaminhando o projeto para sanção.

 ADI 4295/DF – discute a constitucionalidade material, apontando 13 dispositivos da LIA


violadores da CF. Dentre as alegações, sustenta-se a overbreadth doctrine [teoria da
nulidade da norma pela excessiva abertura do texto]: os dispositivos questionados (13)
são excessivamente amplos, deixando abertos conceitos como “violação da
moralidade”, o que não é de se admitir tendo em vista se tratar de uma lei
sancionatória.
Essa ADI ainda não foi julgada.

(E) OBEJTO DA AIA

A ação de improbidade tem por objeto a proteção de DIREITO DIFUSOS.

Nesse aspecto, portanto, a AIA se assemelha muito à AP,


distinguindo-se da ACP (que tutela todos os direitos
metaindividuais) - por essa razão, autores como Ada P.,
afirmam que a AIA é uma AP com legitimidade distinta.

ACP AP AIA
Difusos, Difuso Difuso
coletivos, s s
individuais
homogêneos

São 3 os atos tutelados globalmente sob o signo da IMPROBIDADE:

1. Atos que geram o enriquecimento ilícito do agente (art.9º).


Exige DOLO.

2. Atos que causam prejuízo ao erário (art. 10).


Exige DOLO ou CULPA GRAVE.

3. Atos que violam o pr. da administração (art. 11).


DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 134
Exige DOLO (segundo o STJ, nem toda ilegalidade é uma improbidade: esta última
exige como móvel o “interesse de ofender a moralidade”.
TIPO DE RESERVA: o art. 11 é um tipo subsidiário dos outros dois, isto é, as condutas
dos arts. 9º e 10 normalmente se encaixam no art. 11: assim, se não se
comprovarem as condições específicas dos atos anteriores, poderá restar
configurado o art. 11.

Gravidade:
- +

Art. 9º Art. 10 Art. 11

Daí porque o art. 12 estabelece sanções diversas para cada um dos atos,
de acordo com a gravidade:

(F) LEGITIMIDADE ATIVA

Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta pelo
Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada, dentro de trinta
dias da efetivação da medida cautelar.

São legitimados:

 MP

 “PESSOA JURÍDICA INTERESSADA”  há 2 correntes para explicar essa expressão:

(1) Pessoas jurídicas de direito público lesadas, da Administração Direta e


Indireta.
(2) Pessoa jurídica de direito público ou privado que tenha sofrido o
prejuízo (lesada).
Gajardoni prefere essa 2ª corrente, porque faz incluir as Empresas
Públicas e Sociedades de Economia Mista (que também contam com
capital público).

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 135


E a defensoria pública? Pode ajuizar AIA?
R. A jurisprudência é omissa sobre o tema. Na doutrina, há divergências.
(a) NÃO, pois foge aos fins institucionais do art. 134 da CF, além do que a LC 80/94 não traz
previsão legal neste sentido. (Gajardoni)
(b) SIM.

Obs.
As associações também não podem propor AIA (apenas
ACP).

CUIDADO:

ART. 17, §3º, LIA = proposta a AIA pelo MP, aplica-se o art. 6º, §3º, da LAP, ou seja,
poderá ser formado um litisconsórcio entre todos os legitimados, podendo a
pessoa jurídica de direito pública escolher o pólo em que atuará na AIA caso não
seja a autora.

Art. 17, §3o, LIA - No caso de a ação principal ter sido proposta pelo
Ministério Público, aplica-se, no que couber, o disposto no § 3o do art.
6o da Lei no 4.717, de 29 de junho de 1965. (Redação dada pela Lei nº
9.366, de 1996)

Art. 6º, §3º, LAP - A pessoas jurídica de direito público ou de direito


privado, cujo ato seja objeto de impugnação, poderá abster-se de
contestar o pedido, ou poderá atuar ao lado do autor, desde que isso
se afigure útil ao interesse público, a juízo do respectivo representante
legal ou dirigente.

(G) LEGITIMIDADE PASSIVA

Art. 1° Os atos de improbidade PRATICADOS POR QUALQUER AGENTE


PÚBLICO, SERVIDOR OU NÃO, contra a administração direta, indireta ou
fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal,
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 136
dos Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou
de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra
com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual, serão
punidos na forma desta lei.
Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades desta lei os atos de
improbidade praticados contra o patrimônio de entidade que receba subvenção,
benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem como daquelas
para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos de
cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nestes
casos, a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos
cofres públicos.

Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo


aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem
remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou
qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo,
emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.
Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que,
mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática
do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma
direta ou indireta.

(H) COMPETÊNCIA e a questão do AGENTE POLÍTICO

Regra geral, a AIA é ajuizada em 1ª instância (sem foro privilegiado) e no local do dano
(art. 2º, LACP)

Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde
ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e
julgar a causa.
Parágrafo único A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo
para todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma
causa de pedir ou o mesmo objeto. (MP nº 2.180-35, de 2001)

 Na Rcl 2138, o STF entendeu pelo não cabimento de AIA contra agente político (agente
político = ministros), que estaria sujeito à Lei 1.079/50 (regime especial de
responsabilização administrativa).

A Lei 1.079/50 prevê expressamente a quem ela se aplica: Presidente, Governador,


Ministros de Estado e Ministros do STF. Ficariam de fora, portando: prefeitos,
vereadores, deputados, senador.

O STF afirma, todavia, que, em tese, cabe AIA contra estas figuras não previstas na Lei
1.079. E, sendo assim, a competência é da 1ª instância.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 137


 O STJ, por sua vez, na Rcl 2790-CE, afirmou:

(1) Cabe AIA contra qualquer agente público, inclusive contra agentes
políticos. A AIA é civil, e a Lei 1.079/50 é criminal (crimes de responsabilidade).

A competência para julgar o agente político (pelo menos os da Lei


(2)
1.079/50), porém, é do mesmo órgão competente para a ação penal. Haveria o
que chamam “competência implícita suplementar”.

Haveria uma única exceção: não cabe AIA contra o Presidente da


(3)
República, que tem que ser julgado pelo Senado (procedimento de empeachment)
tanto em caso de improbidade cível como criminal.

Obs.
- Ler a Rcl. 2138 (STF) e 2790 (STJ).
- Cuidado: a composição do STF já mudou desde a decisão aqui estudada.

(I) SANÇÕES

Diversamente das demais ações coletivas, a AIA integra o direito administrativo sancionatório.
Por essa razão, muito confundem a AIA com ação penal: na verdade, o que as distingue é a
natureza da sanção.

ART. 9º -
ART. 10 – DANO AO ART. 11 – VIOLAÇÃO A
ENRIQUECIMENTO
ERÁRIO PRINCÍPIO DA ADM.
ILÍCITO

SIM
- o agente causa o dano e
1. DEVOLUÇÃO DO não se enriquece (ou
SIM incorreria no art.9º) --------------
ACRESCIDO

- o 3º se enriquece e
deve devolver
2. RESSARCIMENTO
SIM SIM SIM **
DO DANO
3. PERDA DE
SIM SIM SIM
FUNÇÃO *
4. SUSPENSÃO
(PERDA) DE
DIREITOS 8 a 10 anos 5 a 8 anos 3 a 5 anos
POLÍTICOS *
5. MULTA CIVIL ATÉ 3x ATÉ 2x ATÉ 100x
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 138
(a remuneração do
(o $$ acrescido) (o valor do dano)
agente)
6. PROIBIÇÃO DE
CONTRATAR e DE
RECEBER 10 ANOS 5 ANOS 3 ANOS
BENESSES DO
PODER PÚBLICO

CARACTERÍSTICAS:

• A gravidade das sanções previstas no art. 12 da LIA são proporcionais aos


atos praticados (arts. 9º, 10 e 11, LIA).

• Tais sanções não são cumulativas, ou seja, praticado o ato de


improbidade, cabe ao juiz definir qual a sanção aplicada.
Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e
administrativas previstas na legislação específica, está o responsável
pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações, que podem
ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravidade
do fato: (Redação dada pela Lei nº 12.120, de 2009).

• Sanções mais graves (art. 20, LIA) = a perda da função pública e a


suspensão dos direitos políticos só se efetivam com o TRÂNSITO EM JULGADO da
sentença condenatória.

Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos


só se efetivam com o trânsito em julgado da sentença condenatória.
Parágrafo único. A autoridade judicial ou administrativa competente
poderá determinar o afastamento do agente público do exercício do
cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a
medida se fizer necessária à instrução processual.

Obs.

A Lc 135/10 (lei da ficha limpa) inseriu o art. 1º-L na Lc 64/50 (lei


da inelegibilidade) que, a apesar de não revogar o art. 20 da LIA,
antecipa um dos efeitos da suspensão dos direitos políticos, qual
seja, a elegibilidade. Assim, o agente condenado continua votando

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 139


até o transito em julgado, mas já não poderá ser votado tão-logo a
sentença de procedência da improbidade seja confirmada
(portanto, desde a decisão colegiada).

Exceção:

Autoriza-se o afastamento cautelar do agente público na pendência do processo


administrativo ou judicial, sempre que tal medida se faça necessária à instrução processual
(essa é a única hipótese; não se fala em ordem pública, por exemplo).

Não se trata de antecipação de tutela!!!!!

• PERDA DO CARGO

Apesar de controvertida a questão, já há julgados afirmando que a pena da perda do


cargo ou mandato alcança o cargo ou mandato que o agente estiver a ocupar quando do
trânsito em julgado, ainda que não seja o mesmo em que praticado o ato de
improbidade.

(J) PRESCRIÇÃO

- Prazo: 5 anos.

- Termo inicial:
Mandato, cargo em comissão ou função de confiança = afastamento/encerramento
do vínculo.
 Demais servidores = conhecimento da infração.

A reparação do dano ao patrimônio público é imprescritível, logo, o que prescreve é a via, ou


seja, o infrator ainda terá de devolver, mas não se submeterá às sanções.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 140


Art. 23. As ações destinadas a levar a efeitos as sanções previstas nesta
lei podem ser propostas:
I - até cinco anos após o término do exercício de mandato, de cargo em
comissão ou de função de confiança;
II - dentro do prazo prescricional previsto em lei específica para faltas
disciplinares puníveis com demissão a bem do serviço público, nos casos
de exercício de cargo efetivo ou emprego.

(K) PROCEDIMENTO DA AIA

Trata-se de um procedimento cível, com um viés de procedimento penal =


DIREITO ADMINISTRATIVO SANCIONATÓRIO.

Art. 17, §§5º e seg., LIA (inseridos pela MP 2225-4  MP anterior à EC32, ou seja,
tal MP teve seus efeitos perenizados até expressa rejeição ou conversão
em lei).

Art. 17, § 5o A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas


as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou
o mesmo objeto. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)
§ 6o A ação será instruída com documentos ou justificação que contenham
indícios suficientes da existência do ato de improbidade ou com razões
fundamentadas da impossibilidade de apresentação de qualquer dessas
provas, observada a legislação vigente, inclusive as disposições inscritas nos
arts. 16 a 18 do Código de Processo Civil.
§ 7o Estando a inicial em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a
notificação do requerido, para oferecer manifestação por escrito, que poderá
ser instruída com documentos e justificações, dentro do prazo de quinze dias.

§ 8o Recebida a manifestação, o juiz, no prazo de trinta dias, em decisão


fundamentada, rejeitará a ação, se convencido da inexistência do ato de
improbidade, da improcedência da ação ou da inadequação da via eleita.
§ 9o Recebida a petição inicial, será o réu citado para apresentar
contestação.
§ 10. Da decisão que receber a petição inicial, caberá agravo de instrumento.
§ 11. Em qualquer fase do processo, reconhecida a inadequação da ação de
improbidade, o juiz extinguirá o processo sem julgamento do mérito.
§ 12. Aplica-se aos depoimentos ou inquirições realizadas nos processos
regidos por esta Lei o disposto no art. 221, caput e § 1o, do Código de
Processo Penal.
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 141
Art. 18. A sentença que julgar procedente ação civil de reparação de dano ou
decretar a perda dos bens havidos ilicitamente determinará o pagamento ou a
reversão dos bens, conforme o caso, em favor da pessoa jurídica prejudicada
pelo ilícito.

Sequência processual:

 Petição inicial.

 NOTIFICAÇÃO do réu (suposto responsável pelo ato de improbidade) para,


no prazo de 15 dias, apresentar DEFESA PRELIMINAR (docts., provas, etc.).

 JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE (despacho inicial do juiz, no prazo de 30 dias),

que pode:

(a) INDEFERIR a inicial sem apreciação do mérito;


Desafiam APELAÇÃO!
(b) REJEITAR: julgar a ação improcedente de plano (com análise
de mérito);

(c) RECEBER A AÇÃO: proferir decisão de recebimento fundamentado da AIA,


determinando a citação do réu.
Fugindo à regra do processo civil, dessa decisão que recebe a ação cabe
AGRAVO [ART. 17, §8].
* Atenção: ao contrário do procedimento comum, da decisão que recebe a AIA e
determina a citação pode ser desafiada por AGRAVO. (é a única ação em que é
possível agravo do “cite-se”)

Esse juízo de admissibilidade exige DECISÃO FUNDAMENTADA!

 CITAÇÃO do réu para contestar a ação, no prazo geral de 15 dias.


A partir daí, segue o procedimento comum ordinário (= ACP).

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 142


 PROVAS: de acordo com o art. 17, §12, o regime probatório aplicado na AIA é o do CPP
(já que se trata de processo administrativo sancionatório).

 Manifestação do MP (quando ele não atuar como autor, hipótese em que funcionará
como custus legis).

 Sentença com sanções: ACP + art. 12, LIA

 Sucumbência: só paga se tiver de má-fé.

 Recursos:

Fase preliminar:

Apesar de o art. 17 mencionar que a AIA obedece ao procedimento ordinário, na verdade há


uma especialização do procedimento = fase preliminar (antes da citação).

A ausência da fase preliminar da AIA gera a nulidade do processo?

(1) SIM. Há nulidade absoluta, com prejuízo presumível


ao direito de defesa. – STJ.
(2) Só haverá nulidade se a parte comprovar o prejuízo
(nulidade relativa). Utiliza-se, aqui, o princípio da instrumentalidade
das formas. Há julgados nesse sentido também no STJ.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 143


DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 144
5) MANDADO DE SEGURANÇA individual e coletivo

(1) PREVISÃO LEGAL e SUMULAR

Art. 5º, LXIX e LXX, CF.

LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito


líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data",
quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
atribuições do Poder Público;
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente
constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos
interesses de seus membros ou associados;

NOTA:

O MS coletivo nada mais é do que o MS individual com 2


diferenças:
- Legitimação (art. 5º, LXX, CF)
- Objeto (não se fala aqui em direito individual, mas direitos
coletivos e individuais homogêneos)

Lei nº 12.016/09 (Lei do Mandado de Segurança)

Art. 21. O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido
político com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus
interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária, ou
por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente
constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de
direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou
associados, na forma dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas
finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial.
Parágrafo único. Os direitos protegidos pelo mandado de segurança coletivo
podem ser:
I - coletivos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os transindividuais, de
natureza indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas
entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica básica;

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 145


II - individuais homogêneos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os
decorrentes de origem comum e da atividade ou situação específica da
totalidade ou de parte dos associados ou membros do impetrante.
Art. 22. No mandado de segurança coletivo, a sentença fará coisa julgada
limitadamente aos membros do grupo ou categoria substituídos pelo
impetrante.
§ 1o O mandado de segurança coletivo não induz litispendência para as ações
individuais, mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante a
título individual se não requerer a desistência de seu mandado de segurança no
prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência comprovada da impetração da
segurança coletiva.
§ 2o No mandado de segurança coletivo, a liminar só poderá ser concedida
após a audiência do representante judicial da pessoa jurídica de direito público,
que deverá se pronunciar no prazo de 72 (setenta e duas) horas.

Sobre a Lei 12.016/09:

Encomendada pelo então AGU Gilmar Mendes, a nova lei de MS apresenta 3 propósitos:

1) Consolidar o tema em um único diploma (até então, havia 7 leis sobre a matéria). Para
tanto, foram revogados todas as leis que versavam sobre mandado de segurança.

Art. 29. Revogam-se as Leis nos 1.533, de 31 de dezembro de


1951, 4.166, de 4 de dezembro de 1962, 4.348, de 26 de junho
de 1964, 5.021, de 9 de junho de 1966; o art. 3o da Lei no 6.014,
de 27 de dezembro de 1973, o art. 1o da Lei no 6.071, de 3 de
julho de 1974, o art. 12 da Lei no 6.978, de 19 de janeiro de
1982, e o art. 2o da Lei no 9.259, de 9 de janeiro de 1996.

2) Compatibilizar o tema com a CF/88, e com a jurisprudência do STF e STJ (ignorando os


demais Tribunais superiores). Com isso, diversas súmulas do STF e STJ viraram lei (ex: o
art. 25 da Lei 12.016/09 traz o conteúdo das súmulas 512 e 597 do STF).

3) Disciplinar o mandado de segurança originário (arts. 16 e 18 – competência


originária dos tribunais), que já existia anteriormente, mas não tinha previsão legal,
assim como o mandado de segurança coletivo (arts. 21 e 22).

A disciplina do MS coletivo trazida pela Lei 12.016/09 recebe severas


críticas: a doutrina afirma que essa nova lei praticamente inutilizou a
tutela por meio de mandado de segurança coletivo.

Microssistema
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 146
ANTES:
Durante muito tempo prevaleceu o entendimento de que não se aplicava subsidiariamente o
CPC, salvo quando a própria lei fizesse a remissão. Entendia-se que a antiga lei do mandado de
segurança (Lei 15.033/51) era um microssistema normativo fechado.

Com isso, afirmava-se:

 Não cabimento de agravo no mandado de segurança, posto que não previsto na Lei 15.033/51 (MS
de MS = interpunha-se agravo, que era indeferido por não previsto; daí impetrava-se novo MS
contra esse indeferimento).

 Não cabimento de embargos infringentes em MS.

 Art. 515, §3o do CPC é inaplicável ao MS (causas maduras)

HOJE:

A jurisprudência evoluiu e passou a admitir a aplicação subsidiária do CPC ao MS, salvo quando
a LMS o excluir.

Daí:
- Cabe agravo (15, §3o, 7,§1 o, Lei 12.016/09)

- Não cabem embargos infringentes, por expresso afastamento pela lei – art. 25

- Teoria da causa madura: não tem previsão na LMS, mas também não há impedimento.
Logo, aplica-se o art. 515, §3o do CPC.

Obs.
Há ainda alguns julgados do STJ que não admite a aplicação do art. 515,
§3o do CPC.

- Honorários: há regra expressa na LMS, afastando a regra do CPC.

Súmulas:

STJ

Súm. O Superior Tribunal de Justiça não tem competência para processar e julgar,
41 originariamente, mandado de segurança contra ato de outros tribunais ou dos respectivos
órgãos.
Na ação de mandado de segurança não se admite condenação em honorários advocatícios.
Súm.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 147


105

Súm.
São inadmissíveis embargos infringentes no processo de mandado de segurança.
169

Súm. O Superior Tribunal de Justiça é incompetente para processar e julgar, originariamente,


177 mandado de segurança contra ato de órgão colegiado presidido por ministro de estado.

Súm. A impetração de segurança por terceiro, contra ato judicial, não se condiciona a interposição
202 de recurso.

Súm. A existência de vara privativa, instituída por lei estadual, não altera a competência territorial
206 resultante das leis de processo.

Súm. A compensação de créditos tributários não pode ser deferida em ação Cautelar ou por medida
212 liminar cautelar ou antecipatória.

Súm. O mandado de segurança constitui ação adequada para a declaração do direito à


213 compensação tributária.

Súm. Cabe mandado de segurança contra ato praticado em licitação promovida por sociedade de
333 economia mista ou empresa pública.

Súm. Compete a turma recursal processar e julgar o mandado de segurança contra ato de juizado
376 especial.

Súm. É incabível o mandado de segurança para convalidar a compensação tributária realizada


460 pelo contribuinte.

STF

Súm. 101 O mandado de segurança não substitui a ação popular.

Súm. 266 Não cabe mandado de segurança contra lei em tese.

Súm. 267 Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou correição.

Súm. 268 Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial com trânsito em julgado.

Súm. 269 O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança.

Súm. 270 Não cabe mandado de segurança para impugnar enquadramento da lei 3780, de
12/7/1960, que envolva exame de prova ou de situação funcional complexa.

Súm. 271 Concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais em relação a
período pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou pela via judicial
própria.

Súm. 272 Não se admite como ordinário recurso extraordinário de decisão denegatória de mandado
de segurança.

Súm. 304 Decisão denegatória de mandado de segurança, não fazendo coisa julgada contra o
impetrante, não impede o uso da ação própria.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 148


Súm. 392 O prazo para recorrer de acórdão concessivo de segurança conta-se da publicação oficial
de suas conclusões, e não da anterior ciência à autoridade para cumprimento da decisão.

Súm. 405 Denegado o mandado de segurança pela sentença, ou no julgamento do agravo, dela
interposto, fica sem efeito a liminar concedida, retroagindo os efeitos da decisão contrária.

Súm. 429 A existência de recurso administrativo com efeito suspensivo não impede o uso do
mandado de segurança contra omissão da autoridade.

Súm. 430 Pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe o prazo para o mandado
de segurança.

Súm. 433 É competente o tribunal regional do trabalho para julgar mandado de segurança contra ato
de seu presidente em execução de sentença trabalhista.

Súm. 474 Não há direito líquido e certo, amparado pelo mandado de segurança, quando se escuda
em lei cujos efeitos foram anulados por outra, declarada constitucional pelo Supremo
Tribunal Federal.

Súm. 506 O agravo a que se refere o art. 4º da lei 4348, de 26/6/1964, cabe, somente, do despacho
do presidente do Supremo Tribunal Federal que defere a suspensão da liminar, em
mandado de segurança; não do que a "denega" (vide observação).

Súm. 510 Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra ela cabe o
mandado de segurança ou a medida judicial.

Súm. 511 Compete à justiça federal, em ambas as instâncias, processar e julgar as causas entre
autarquias federais e entidades públicas locais, inclusive mandados de segurança,
ressalvada a ação fiscal, nos termos da Constituição Federal de 1967, art. 119, § 3º.

Súm. 512 Não cabe condenação em honorários de advogado na ação de mandado de segurança.

Súm. 597 Não cabem embargos infringentes de acórdão que, em mandado de segurança decidiu,
por maioria de votos, a apelação.

Súm. 622 Não cabe agravo regimental contra decisão do relator que concede ou indefere liminar em
mandado de segurança.

Súm. 623 Não gera por si só a competência originária do Supremo Tribunal Federal para conhecer do
mandado de segurança com base no art. 102, i, "n", da constituição, dirigir-se o pedido
contra deliberação administrativa do tribunal de origem, da qual haja participado a maioria
ou a totalidade de seus membros.

Súm. 624 Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer originariamente de mandado de
segurança contra atos de outros tribunais.

Súm. 625 Controvérsia sobre matéria de direito não impede concessão de mandado de segurança.

Súm. 626 A suspensão da liminar em mandado de segurança, salvo determinação em contrário da


decisão que a deferir, vigorará até o trânsito em julgado da decisão definitiva de
concessão da segurança ou, havendo recurso, até a sua manutenção pelo Supremo
Tribunal Federal, desde que o objeto da liminar deferida coincida, total ou parcialmente,
com o da impetração.

Súm. 627 No mandado de segurança contra a nomeação de magistrado da competência do


Presidente da República, este é considerado autoridade coatora, ainda que o fundamento
da impetração seja nulidade ocorrida em fase anterior do procedimento.

Súm. 628 Integrante de lista de candidatos a determinada vaga da composição de tribunal é parte
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 149
legítima para impugnar a validade da nomeação de concorrente.

Súm. 629 A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos
associados independe da autorização destes.

Súm. 630 A entidade de classe tem legitimação para o mandado de segurança ainda quando a
pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva categoria.

Súm. 631 Extingue-se o processo de mandado de segurança se o impetrante não promove, no prazo
assinado, a citação do litisconsorte passivo necessário.

Súm. 632 É constitucional lei que fixa o prazo de decadência para a impetração de mandado de
segurança.

Súm. 701 No mandado de segurança impetrado pelo ministério público contra decisão proferida em
processo penal, é obrigatória a citação do réu como litisconsorte passivo.

(2) CONCEITO

O conceito de mandado de segurança é LEGAL (art. 5º, CF), e não doutrinário.

O mandado de segurança é uma GARANTIA que se presta a proteção de DIREITO LÍQUIDO E


CERTO não amparado por HC ou HD, contra ato [administrativo, legislativo, judicial e políticos e
interna corporis].

2.1. DIREITO LÍQUIDO E CERTO

Direito líquido e certo é direito (fato) que se prova de plano, com documentos.

No Brasil, por conta da teoria da substanciação, toda ação precisa ter


como causa de pedir a narrativa de FATO e a de DIREITO. O mandado de
segurança não foge a esta regra, mas tem uma particularidade: no MS o
fato narrado precisa ser incontroverso.

Tanto é assim, que em MS não se admite dilação probatória. Daí falar-se


em PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA (documental) da “incontrovérsia”.

CASUÍSTICA:

- Não tomei a multa porque quando passei no radar estava a menos de 100 km/h – prova
com testemunhas: não cabe MS
- Não tomei a multa porque naquele dia o meu carro foi roubado – prova com BO: cabe MS.

CONDIÇÃO DA AÇÃO:

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 150


A existência de prova pré-constituída (direito líquido e certo) é uma condição
especial, ligada ao interesse de agir, da ação de mandado de segurança. Ausente
tal prova, faltará interesse de agir.

FATO INCONTROVERSO: o fato precisa ser incontroverso, caso contrário, exigir-se-á prova.

E o direito? Precisa ser incontroverso?


R. NÃO.

Súmula 625, STF – controvérsia sobre a matéria de direito


não impede concessão de mandado de segurança.

MANDADO DE SEGURANÇA x AÇÃO MONITÓRIA

Ambos são processos documentais!

DOCUMENTALIZAÇÃO DE PROVA ORAL OU PERICIAL

Trata-se de questão controvertida.

Tem-se entendido não ser possível este procedimento, sob pena de violação dos
fins e da condição para o exercício do MS.

EXCEÇÃO:

Em uma hipótese é cabível o MS sem a apresentação de prova pré-constituída: quando a prova


estiver em poder da autoridade ou de terceiro.

Art. 6o A petição inicial, que deverá preencher os requisitos estabelecidos pela lei
processual, será apresentada em 2 (duas) vias com os documentos que instruírem
a primeira reproduzidos na segunda e indicará, além da autoridade coatora, a
pessoa jurídica que esta integra, à qual se acha vinculada ou da qual exerce
atribuições.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 151


§ 1o No caso em que o documento necessário à prova do alegado se ache
em repartição ou estabelecimento público ou em poder de autoridade
que se recuse a fornecê-lo por certidão ou de terceiro, o juiz ordenará,
preliminarmente, por ofício, a exibição desse documento em original ou
em cópia autêntica e marcará, para o cumprimento da ordem, o prazo de
10 (dez) dias. O escrivão extrairá cópias do documento para juntá-las à
segunda via da petição.
§ 2o Se a autoridade que tiver procedido dessa maneira for a própria
coatora, a ordem far-se-á no próprio instrumento da notificação.
§ 3o Considera-se autoridade coatora aquela que tenha praticado o ato impugnado
ou da qual emane a ordem para a sua prática.
§ 4o (VETADO)
§ 5o Denega-se o mandado de segurança nos casos previstos pelo art. 267 da Lei
no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.
§ 6o O pedido de mandado de segurança poderá ser renovado dentro do prazo
decadencial, se a decisão denegatória não lhe houver apreciado o mérito.

2.2. Não amparado por HC ou HD

O mandado de segurança é uma medida RESIDUAL.

 HC: tutela a liberdade de locomoção. Tem previsão no CPP (ainda que seja ele cível).
 HD: tutela informação própria. Tem previsão na lei 9.507/97 (ler a lei).

QUESTÃO DE CONCURSO

O município recebeu repasse tributário correspondente ao ICMS. Inconformado, o município


acha que tem direito a mais dinheiro. Para tanto, precisa descobrir qual o total arrecadado pelo
Estado a título de ICMS. Qual a medida deve adotar o município para tanto?
R. Deve ajuizar mandado de segurança. Não cabe HD porque não se trata de informação
própria.

2.3. Contra ato

 Administrativo
 Legislativo
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 152
 Judiciário
 Político e interna corporis

(a) MS contra ATO ADMINISTRATIVO

REGRA GERAL: cabe MS contra ato administrativo (os MS’s contra esse tipo de ato
configuram 99% dos MS’s impetrados).

EXCECÃO:

Há, porém, uma exceção – ATO ADMINISTRATIVO QUE NÃO ADMITE MS = art. 5º, I, LMS

Art. 5o Não se concederá mandado de segurança quando se tratar:


I - de ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo,
independentemente de caução;

Não caberá MS contra ato administrativo quando contra este ato


couber RECURSO ADMINISTRATIVO com EFEITO SUSPENSIVO e
SEM CAUÇÃO.

Idéia: esgotar a via administrativa.

Obs.

Antes da Lei 12.016, também não cabia MS contra ato disciplinar (na época da antiga LMS
vivia-se uma transição do regime limitar). Hoje, porém, não há mais esta restrição.

Exceção da exceção:

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 153


Se o ato atacado for OMISSIVO, ainda que haja recurso adm. com efeito suspensivo e sem
caução, será cabível o Mandado de Segurança.
Ex: sujeito pede licença para obra à Prefeitura; o prefeito não aprecia o pedido e a obra está
parada; a lei prevê recurso adm. com efeito suspensivo = se o prefeito não apreciou o pedido,
também não apreciará o recurso!

Súm. 429, STF – a existência de recurso administrativo com efeito


suspensivo não impede o uso de MS contra omissão da autoridade.

Obs.

Havia um dispositivo (vetado pelo Presidente) (art. 5º, p.u.), que criava um procedimento
extrajudicial preparatório do MS contra ato omissivo (notificação para a autoridade
administrativa se manifestasse em 120 dias sob pena de impetração do MS). Esse
dispositivo foi VETADO.

(b) MS contra ATO LEGISLATIVO

REGRA GERAL: não cabe MS contra ato legislativo

Súm. 266, STF – não cabe MS contra lei em tese.

Idéia: a lei em si não faz mal a ninguém; sua aplicação sim


é que pode violar direitos.

EXCEÇÕES cabe MS contra “lei” em 2 hipóteses:

(1) Leis de efeitos concretos  são aquelas que, por si só, já atingem
a esfera jurídica da parte.
Ex: leis proibitivas.

(2) Leis aprovadas com violação do processo legislativo.

Mas, cuidado:

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 154


Só pode impetrar esse MS o parlamentar (só ele tem direito liquido e certo
sobre o processo legislativo) – sob pena de se admitir a utilização
indiscriminada de MS nos casos de cabimento de ADI.

STF – MS 24.642/DF

CONSTITUCIONAL. PROCESSO LEGISLATIVO: CONTROLE JUDICIAL.


MANDADO DE SEGURANÇA. I. - O parlamentar tem legitimidade ativa para
impetrar mandado de segurança com a finalidade de coibir atos praticados
no processo de aprovação de leis e emendas constitucionais que não se
compatibilizam com o processo legislativo constitucional. Legitimidade ativa
do parlamentar, apenas. II. - Precedentes do STF: MS 20.257/DF, Ministro
Moreira Alves (leading case), RTJ 99/1031; MS 21.642/DF, Ministro Celso de
Mello, RDA 191/200; MS 21.303-AgR/DF, Ministro Octavio Gallotti, RTJ
139/783; MS 24.356/DF, Ministro Carlos Velloso, "DJ" de 12.09.2003. III. -
Inocorrência, no caso, de ofensa ao processo legislativo, C.F., art. 60, § 2º,
por isso que, no texto aprovado em 1º turno, houve, simplesmente, pela
Comissão Especial, correção da redação aprovada, com a supressão da
expressão "se inferior", expressão dispensável, dada a impossibilidade de a
remuneração dos Prefeitos ser superior à dos Ministros do Supremo Tribunal
Federal. IV. - Mandado de Segurança indeferido.

(c) MS contra ATO JUDICIAL

REGRA GERAL: não cabe MS contra ato judicial.

Art. 5o , LMS - Não se concederá mandado de segurança quando se tratar:


II - de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo;
III - de decisão judicial transitada em julgado.

Súm. 267, STF – NÃO CABE MANDADO DE SEGURANÇA


CONTRA ATO JUDICIAL PASSÍVEL DE RECURSO OU
CORREIÇÃO.

Súm. 268, STF – NÃO CABE MANDADO DE SEGURANÇA


CONTRA DECISÃO JUDICIAL COM TRÂNSITO EM JULGADO.

MS não é substitutivo de recurso, ação impugnativa ou reclamação!

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 155


EXCEÇÕES:

Cabe MS na hipótese de decisão contra a qual não caiba recurso


(1)
com EFEITO SUSPENSIVO (art. 5º, II, LMS), desde que o MS seja impetrado antes
do trânsito em julgado.

Todos os que comentam a LMS (Gajardoni, Cassio, Luis Manuel) sustentam que
deve ser ignorada a expressão “com efeito suspensivo”, entendendo-se que cabe
MS contra decisão contra a qual não caiba RECURSO [se couber recurso, não
importa o efeito, não caberá MS].

Exemplos:

(a) Tem-se entendido que cabe MS contra decisão proferida


com fundamento do art. 527, p.u., do CPC (AI)  decisão que converte AI em
retido ou que concede ou nega liminar é irrecorrível; logo, desafiará MS.

(b) Decisões interlocutórias no processo trabalhista são


irrecorríveis; logo, cabe MS.

(c) Alguns autores que entendem que no âmbito dos Juizados


Especiais Cíveis não cabe agravo; logo, seria cabível MS. O STF, porém,
entende que nestes casos não cabe nem AGRAVO nem MS.

RE 576.847/BA
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PROCESSO CIVIL. REPERCUSSÃO GERAL
RECONHECIDA. MANDADO DE SEGURANÇA. CABIMENTO. DECISÃO LIMINAR
NOS JUIZADOS ESPECIAIS. LEI N. 9.099/95. ART. 5º, LV DA CONSTITUIÇÃO DO
BRASIL. PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA AMPLA DEFESA. AUSÊNCIA DE
VIOLAÇÃO. 1. Não cabe mandado de segurança das decisões interlocutórias
exaradas em processos submetidos ao rito da Lei n. 9.099/95. 2. A Lei n.
9.099/95 está voltada à promoção de celeridade no processamento e
julgamento de causas cíveis de complexidade menor. Daí ter consagrado a
regra da irrecorribilidade das decisões interlocutórias, inarredável. 3. Não
cabe, nos casos por ela abrangidos, aplicação subsidiária do Código de
Processo Civil, sob a forma do agravo de instrumento, ou o uso do instituto do
mandado de segurança. 4. Não há afronta ao princípio constitucional da ampla
defesa (art. 5º, LV da CB), vez que decisões interlocutórias podem ser
impugnadas quando da interposição de recurso inominado. Recurso
extraordinário a que se nega provimento.

Crítica:
Há decisões no JEC que causam imenso prejuízo à parte, sem
absolutamente necessário que se admita AGRAVO ou MS. A
situação não pode ficar a descoberto!

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 156


Obs.

Tem-se entendido que contra decisão proferida colegiadamente pelo STF, apesar de não caber
recurso, também não caberia MS (idéia: não há órgão superior para julgar esse MS).

AgRg 27.569-3
AGRAVO REGIMENTAL. MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO JUDICIAL EMANADO DA
SEGUNDA TURMA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. INADMISSIBILIDADE.
EXCEPCIONALIDADE NÃO VERIFICADA. AGRAVO IMPROVIDO. I - Não se admite a impetração
de mandado de segurança contra decisões judiciais emanadas das Turmas ou do Plenário
do Supremo Tribunal Federal. II - O mandado de segurança não pode ser utilizado como
sucedâneo de recurso ou de ação rescisória. III - Agravo regimental improvido.

(2) Cabe MS quando a decisão proferida for TERATOLÓGICA, ainda que


o MS seja impetrado DEPOIS do trânsito em julgado.

Tem-se entendido como teratológica toda decisão que foge aos parâmetros de
razoabilidade e proporcionalidade (fala-se em “monstruosidade”).
Ex: o cartório erra na juntada de uma contestação (ela é juntada em outro
processo), o juiz reconhece a revelia e determina o despejo; o adv. não é intimado
da decisão, que “transita”, torna-se irrecorrível. Neste caso, somente caberá MS.

(d) MS contra ATO POLÍTICO e INTERNA CORPORIS

Ex. de ato político: extradição, veto, declaração de guerra, etc.; Ex. de ato interna corporis:
sanção parlamentar.

REGRA GERAL: não cabe MS contra ato político e interna corporis.

EXCEÇÃO:
O ato pode ser atacado por MS se, eventualmente, desborda dos limites constitucionais.

Ex: sanção parlamentar sem que se assegure o direito de defesa; declaração de guerra
pelo Presidente sem aprovação.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 157


2.4. Ilegalidade ou abuso de poder

Art. 5º, LXIX, CF - conceder-se-á mandado de segurança para proteger


direito líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-
data", quando o responsável pela ILEGALIDADE OU ABUSO DE
PODER for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no
exercício de atribuições do Poder Público;

Ao utilizar expressões diferentes, o legislador quis mencionar COISAS DIFERENTES:

 ILEGALIDADE: relacionada aos atos vinculados.


 ABUSO DE PODER: relacionado aos atos discricionários.

Exemplos:

- Sujeito pede aposentadoria, quando preenchidos todos os requisitos (ato vinculado) = cabe
MS.
- Pedido de mudança de posto de trabalho (ato discricionário) = cabe MS.

(3) LEGITIMIDADE ATIVA

3.1. Legitimidade ativa no MS individual

A legitimidade ativa do MSI é “amplíssima”: pode impetrar MSI pessoa física ou jurídica,
de direito público ou privado; entes despersonalizados; Poderes do Estado, para
assegurar prerrogativas próprias (ex: mesa da câmara impetra MS contra prefeitura
para garantir repasse $$).

Observações:

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 158


(a) O MS é uma ação personalíssima e, portanto, intransmissível (não há
sucessão).
Se o impetrante eventualmente morrer durante o processo, o MS será extinto. Havendo
verbas a receber, os herdeiros deverão se valer das vias ordinárias.

(b) Não se deve confundir litisconsórcio em MS individual (pluralidade de


direitos individuais) com MS coletivo.

(c) Poderá haver a formação de um LITISCONSÓRCIO ATIVO FACULTATIVO,


mas apenas ATÉ O DESPACHO DA INICIAL.

Art. 1º, §3º, LMS - Quando o direito ameaçado ou violado couber a


várias pessoas, qualquer delas poderá requerer o mandado de
segurança.

Art. 10, § 2o, LMS - O ingresso de litisconsorte ativo não será admitido
após o despacho da petição inicial.

Antes da nova LMS, era possível que os demais interessados esperassem que um deles
impetrasse o MS e obtivesse a liminar para que só então solicitassem seu ingresso como
litisconsorte ativo. A nova LMS, no art. 10, §2º, restringe o pedido de litisconsórcio até o
momento do despacho da petição inicial.

O objetivo da nova norma foi preservar o princípio do juiz natural, evitando que a parte escolha
o juízo que julgará sua causa.

(d) Art. 3º, LMS

Trata-se de típica hipótese de LEGITIMAÇÃO EXTRAORDINÁRIA, em que a lei garante


ao titular do direito decorrente legitimidade para impetrar MS em favor do titular do
direito principal.
Ex: A passa em 1º colocado em um concurso; B passou em 2º; a administração nomeou
o 3º lugar; para que B tenha chances, ele precisa que A seja nomeado no lugar de C; se
A não ajuizar MS, B poderá fazê-lo em seu lugar e em defesa de direito seu (de A).

Art. 3o O titular de direito líquido e certo decorrente de direito, em


condições idênticas, de terceiro poderá impetrar mandado de
segurança a favor do direito originário, se o seu titular não o fizer, no
prazo de 30 (trinta) dias, quando notificado judicialmente.
Parágrafo único. O exercício do direito previsto no caput deste
artigo submete-se ao prazo fixado no art. 23 desta Lei, contado da
notificação.
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 159
Ressalva legal:

Essa legitimação extraordinária depende de que o titular do direito


principal seja NOTIFICADO e mantenha-se INERTE no prazo de 30
dias.

Obs.

Mesmo que o titular do direito principal não queira que o seu


direito seja defendido, o titular do direito decorrente pode fazê-lo.

3.2. Legitimidade ativa no MS coletivo

Prevalece na doutrina o entendimento de que não há outros legitimados além dos grupos
abaixo mencionado (Dinamarco, Cruz e Tucci), embora haja quem entenda que outros, como o
MP, possam impetrar MS coletivo (Ada P.).

 Partido Político com representação no Congresso Nacional


 Sindicatos, entidades de classe ou associações desde que constituídas e em
funcionamento há pelo menos 1 ano.

3.2.1. Partido Político com representação no Congresso Nacional

Tem-se entendido que o PP pode atuar em todos os âmbitos da Federação, ou seja, podem
impetrar MS Coletiva o Diretório nacional, estadual ou municipal.

- Objeto de defesa:

- 1ª corrente: todos os assuntos de interesse nacional (controle do direito


objetivo) e em favor de todos os brasileiros (Ada P.).

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 160


- 2ª corrente – L. 12.016/09, art. 21: restringe-se à “defesa de seus
interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária”.

A nova Lei de MS, na esteira daquilo que já dizia a jurisprudência superior, acabou por
limitar o dispositivo constitucional.

Obs.

A jurisprudência superior tem entendido que o limite aos INTERESSES LEGÍTIMOS de seus
integrantes deve observar o art. 1º da L. 9.096/95 (Lei dos Partidos Políticos), que afirma
que tais interesses, exatamente em virtude da finalidade partidária, referem-se apenas a
DIREITOS HUMANOS (exclui, por ex., matéria tributária).

3.2.2. Sindicatos, entidades de classe ou associações desde que constituídas e em


funcionamento há pelo menos 1 ano.

O STF, em interpretação literal, entendeu que o sindicato


fica fora da necessidade de constituição ânua.

 Dispensa da constituição ânua para entidades de


classe e associações = não é possível neste caso!!!
Fundamento: a condição está prevista na CF, e não pode ser afastada
pela LEI (art. 5º, p. 4º, LACP).

Art. 5º, §4°, LACP - O requisito da pré-constituição


poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja manifesto
interesse social evidenciado pela dimensão ou
característica do dano, ou pela relevância do bem
jurídico a ser protegido. (Incluído pela Lei nª 8.078, de
11.9.1990)

Objeto:

RE 181.438/SP – STF = “é o direito dos associados ou sindicalizados, independentemente de


guardar vínculo com os fins próprios da entidade, exigindo-se, entretanto, que o direito esteja
compreendido nos fins institucionais da impetrante”.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 161


CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO.
SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. AUTORIZAÇÃO EXPRESSA. OBJETO A SER PROTEGIDO
PELA SEGURANÇA COLETIVA. C.F., art. 5º, LXX, "b". I. - A legitimação das organizações
sindicais, entidades de classe ou associações, para a segurança coletiva, é
extraordinária, ocorrendo, em tal caso, substituição processual. C.F., art. 5º, LXX. II. -
Não se exige, tratando-se de segurança coletiva, a autorização expressa aludida no
inciso XXI do art. 5º da Constituição, que contempla hipótese de representação. III. - O
objeto do mandado de segurança coletivo será um direito dos associados,
independentemente de guardar vínculo com os fins próprios da entidade impetrante do
writ, exigindo-se, entretanto, que o direito esteja compreendido na titularidade dos
associados e que exista ele em razão das atividades exercidas pelos associados, mas
não se exigindo que o direito seja peculiar, próprio, da classe. IV. - R.E. conhecido e
provido.

Conclusão:

Quanto mais amplos os objetivos sociais da impetrante, maior a sua


representatividade.

Súm. 629, STF (afasta, expressamente, a aplicação do art. 2º-A da Lei


9.494/97) – a impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de
classe em favor dos associados independe da autorização destes.

Súm. 630, STF – a entidade de classe tem legitimidade para o mandado de


segurança ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas a uma
parte da respectiva categoria.

(4) LEGITIMIDADE PASSIVA

A legitimidade passiva no MS individual ou coletivo tem disciplina no art. 1º, §§ 1º e 2º da LMS


(o regramento é o mesmo tanto para o MSI quanto para o MSC).

§ 1o Equiparam-se às autoridades, para os efeitos desta Lei, os representantes ou


órgãos de partidos políticos e os administradores de entidades autárquicas, bem
como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas naturais no exercício de
atribuições do poder público, somente no que disser respeito a essas atribuições.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 162


§ 2o Não cabe mandado de segurança contra os atos de gestão comercial
praticados pelos administradores de empresas públicas, de sociedade de
economia mista e de concessionárias de serviço público.

Quem é o legitimado passivo no MS?

Há 2 correntes que respondem a esta pergunta:

1. AUTORIDADE COATORA (pessoa física)


2. PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO ou quem lhe faça as vezes.

Tem prevalecido na jurisprudência a 2ª posição: pessoa jurídica!


Esta pessoa jurídica seria, porém, representada no processo pela
autoridade coatora. Daí porque alguns autores fazem a distinção entre
PARTE FORMAL (autoridade coatora) e PARTE MATERIAL (pessoa jurídica).

CUIDADO:
A despeito desse entendimento, a indicação da autoridade coatora, ainda
que não figure como ré, é importantíssima [fundamental para a definição
da competência].

PESSOA JURÍDICA x AUTORIDADE COATORA

Não há LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO entre a autoridade coatora e a pessoa jurídica


demandada. Isso porque se trata da mesma pessoa (autoridade é representante da PJ).

Essa informação é importante em face da redação do art. 6º do LSM, segundo a


qual o impetrante deve indicar na petição inicial, além da autoridade coatora, a
pessoa jurídica que esta integra.

Isso pode levar à falsa impressão de que há litisconsórcio necessário, o que


não há. Esse dispositivo foi assim redigido em função do art. 7º, que determina
que, além de solicitar informações à autoridade coatora, o juiz deve intimar a
pessoa jurídica interessada*.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 163


Art. 6o A petição inicial, que deverá preencher os requisitos
estabelecidos pela lei processual, será apresentada em 2 (duas) vias
com os documentos que instruírem a primeira reproduzidos na
segunda e indicará, além da autoridade coatora, a pessoa jurídica
que esta integra, à qual se acha vinculada ou da qual exerce
atribuições.

Art. 7º Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:


I - que se notifique o COATOR do conteúdo da petição inicial,
enviando-lhe a segunda via apresentada com as cópias dos
documentos, a fim de que, no prazo de 10 (dez) dias, preste as
informações;
II - que se dê ciência do feito ao órgão de representação judicial da
PESSOA JURÍDICA interessada, enviando-lhe cópia da inicial sem
documentos, para que, querendo, ingresse no feito;

* Na lei antiga não havia essa intimação, de forma que os coatores acabavam engavetando a
intimação para prestar informações, sem que a pessoa jurídica sequer tivesse conhecimento
do ato que deu motivo ao pedido de MS.

Quem é a AUTORIDADE COATORA para fins de MS?

Antes da Lei 12.016 Depois da Lei 12.016

Havia 2 correntes: A definição de autoridade coatora é, agora,


legal; e segundo ela, pode ser autoridade
(1) Autoridade coatora era coatora tanto aquele que PRATICA quanto
aquele que PRATICAVA o ato (não o quem tem ORDENADO o ato atacado:
subalterno). Art. § 3o Considera-se autoridade
(2) Autoridade coatora era coatora aquela que tenha
aquele que ORDENAVA o ato. praticado o ato impugnado ou da
qual emane a ordem para a sua
prática.

Situações especiais quanto à AUTORIDADE COATORA

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 164


(a) ATO COATOR PRATICADO EM ÁREAS DISTINTAS (situação comum em matéria tributária)

É possível, neste caso, que sejam impetrados vários MS’s (um para cada área) ou
apenas um, neste caso, tendo como autoridade coatora o superior hierárquico dos
coatores de cada ato.
Ex: empresa que atua em todo o Estado é autuada pela Receita várias cidades, pelo
mesmo motivo. O MS pode ser impetrado em cada cidade, ou na capital do Estado.

(b) MS CONTRA ATO COMPLEXO

Ato complexo é aquele que precisa da conjunção de vontade de órgãos distintos para a
prática do ato. Neste caso, o MS deve ser impetrado contra a autoridade final, a que
manifesta a última vontade.

Súm. 627, STF - No mandado de segurança contra a nomeação de magistrado da


competência do Presidente da República, este é considerado autoridade coatora,
ainda que o fundamento da impetração seja nulidade ocorrida em fase anterior do
procedimento.

(c) ATO COMPOSTO

Ato composto é aquele em que um órgão decide e o outro apenas homologa. Ex:
demissão de servidor público – aplicada pela chefia imediata e depende da
homologação da chefia mediata.
Neste caso, o MS deve ser impetrado contra a autoridade que HOMOLOGA o ato.

(d) ATO PRATICADO POR ÓRGÃO COLEGIADO  ATO COLEGIADO

Será considerado como autoridade coatora deste ato o PRESIDENTE do órgão.


Ex: MS em caso de concurso público deve ser impetrado contra o presidente da
comissão.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 165


INDICAÇÃO ERRÔNEA DA AUTORIDADE COATORA

É o caso em que se indica como autoridade coatora quem não tenha ordenado ou praticado o
ato.

Apesar da forte crítica doutrinária no sentido de que o jurisdicionado não é


obrigado a saber os meandros da Administração, a jurisprudência do STJ e STF é
firme no sentido de que o caso é de EXTINÇÃO DO MS, vedada a possibilidade
de correção.

 O art. 6º, §4º, da LMS permitia a correção dessa indicação errônea, mas esse
dispositivo foi VETADO.

TEORIA DA ENCAMPAÇÃO

Essa teoria consiste na defesa do ato pela autoridade equivocadamente indicada como autora,
caso em que restaria suprida a errônea indicação, com possibilidade de julgamento do MS.

CONDIÇÕES

A partir do RMS 10.484/DF, a jurisprudência estabeleceu a necessidade de presença


de 4 condições para a aplicação da teoria da encampação:

1) Que o encampante seja superior hierárquico do encampado.


2) Em virtude da encampação, não se altere a competência
absoluta do órgão jurisdicional competente para o conhecimento MS.
3) As informações prestadas pela autoridade encampante
devem enfrentar diretamente a questão, não se dignando a, exclusivamente,
alegar ilegitimidade.
4) Quando for real a dúvida quanto a autoridade coatora.

AUTORIDADES PÚBLICAS POR EQUIPARAÇÃO

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 166


Art. 1o Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e
certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que,
ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer
violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que
categoria for e sejam quais forem as funções que exerça.
§ 1o Equiparam-se às autoridades, para os efeitos desta Lei, os representantes
ou órgãos de partidos políticos e os administradores de entidades autárquicas,
bem como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas naturais no
exercício de atribuições do poder público, somente no que disser respeito a
essas atribuições.
§ 2o Não cabe mandado de segurança contra os atos de gestão comercial
praticados pelos administradores de empresas públicas, de sociedade de
economia mista e de concessionárias de serviço público.

São considerados autoridade pública por equiparação, nos termos da lei:

 Representantes de partidos políticos (competência da Justiça Eleitoral)

 Administrador de autarquias e fundações de direito público (o legislador


errou: essas pessoas SÃO autoridades públicas, e não por equiparação) – Ex: reitor de
universidade pública.

 Dirigentes de pessoas jurídicas ou pessoas físicas que exerçam


ATRIBUIÇÕES do Poder Público
O termo “atribuição” da norma compreende não só a delegação, mas também qualquer
atividade, autorizada ou não, em que o particular faça as vezes do Estado (a nova LMS fala
em atribuição e não mais em delegação: independetemente de ser delegada ou não,
sendo a atividade atribuída ao Poder Público, caberá MS).
Ex. financiamento por banco particular do SFH, atendimento em hospital particular pelo
SUS, etc.

Súm. 510, STF - PRATICADO O ATO POR AUTORIDADE, NO EXERCÍCIO DE


COMPETÊNCIA DELEGADA,CONTRA ELA CABE O MANDADO DE SEGURANÇA
OU A MEDIDA JUDICIAL.

 Dirigentes de empresas públicas, sociedade de economia mista e


concessionárias nos atos de gestão pública

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 167


A lei faz um condicionamento – que já era feito pela súm. 333 do STJ, qual seja:
GESTÃO PÚBLICA.
Em se tratando de atos de gestão empresarial, não caberá MS.

Súm. 333, STJ - Cabe mandado de segurança contra ato praticado em


licitação promovida por sociedade de economia mista ou empresa pública

LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO E UNITÁRIO

Quando o ato atacado tiver um beneficiário, ele, necessariamente, deverá figurar no pólo
passivo, ao lado da autoridade impetrada.

Súm. 631, STF - Extingue-se o processo de mandado de segurança se o impetrante


não promove, no prazo assinado, a citação do litisconsorte passivo necessário.

Súm. 701, STF - No mandado de segurança impetrado pelo ministério público contra
decisão proferida em processo penal, é obrigatória a citação do réu como
litisconsorte passivo.

Súm. 202, STJ - A impetração de segurança por terceiro, contra ato judicial, não se
condiciona a interposição de recurso.

(5) INTERVENÇÃO DE TERCEIROS

No julgamento do MS 24.414/DF, o STF firmou entendimento de que NÃO CABE intervenção de


terceiros do MS, em virtude de se tratar de um procedimento sumaríssimo (questões de
terceiro devem ser tratados pelas vias ordinárias).

STF, MS 24.414/DF
1. INTERVENÇÃO DE TERCEIRO. Assistência. Mandado de segurança. Inadmissibilidade.
Preliminar acolhida. Inteligência do art. 19 da Lei nº 1.533/51. Não se admite assistência em
processo de mandado de segurança. 2. LEGITIMIDADE PARA A CAUSA. Passiva.
Caracterização. Mandado de segurança. Impetração preventiva contra nomeação de juiz de
Tribunal Regional do Trabalho. Ato administrativo complexo. Presidente da República.
Litisconsorte passivo necessário. Competência do STF. Preliminar rejeitada. Aplicação dos
arts. 46, I, e 47, caput, do CPC, e do art. 102, I, "d", da CF. O Presidente da República é
litisconsorte passivo necessário em mandado de segurança contra nomeação de juiz de
Tribunal Regional do Trabalho, sendo a causa de competência do Supremo Tribunal Federal.
3. MANDADO DE SEGURANÇA. Caráter preventivo. Impetração contra iminente nomeação de
juiz para Tribunal Regional do Trabalho. Ato administrativo complexo. Decreto ainda não
assinado pelo Presidente da República. Decadência não consumada. Preliminar repelida. Em
se tratando de mandado de segurança preventivo contra iminente nomeação de juiz para
Tribunal Regional do Trabalho, que é ato administrativo complexo, cuja perfeição se dá
apenas com o decreto do Presidente da República, só com a edição desse principia a correr
o prazo de decadência para impetração. 4. MAGISTRADO. Promoção por merecimento. Vaga
única em Tribunal Regional Federal. Lista tríplice. Composição. Escolha entre três únicos
juízes que cumprem todos os requisitos constitucionais. Indicação de dois outros que não
DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 168
pertencem à primeira quinta parte da lista de antiguidade. Recomposição dessa quinta parte
na votação do segundo e terceiro nomes. Inadmissibilidade. Não ocorrência de recusa, nem
de impossibilidade do exercício do poder de escolha. Ofensa a direito líquido e certo de juiz
remanescente da primeira votação. Nulidade parcial da lista encaminhada ao Presidente da
República. Mandado de segurança concedido, em parte, para decretá-la. Inteligência do art.
93, II, "b" e "d", da CF, e da interpretação fixada na ADI nº 581-DF. Ofende direito líquido e
certo de magistrado que, sendo um dos três únicos juízes com plenas condições
constitucionais de promoção por merecimento, é preterido, sem recusa em procedimento
próprio e específico, por outros dois que não pertencem à primeira quinta parte da lista de
antiguidade, na composição de lista tríplice para o preenchimento de uma única vaga.

Obs.

Apesar do entendimento do STF, há na doutrina quem sustente o cabimento de ASSISTÊNCIA


LITISCONSORCIAL (esses são aqueles que entendem que o réu no MS é a pessoa física, de
forma que a pessoa jurídica interessada poderia se manifestar no MS como assistente
litisconsorcial).

(6) COMPETÊNCIA NO MS

6.1. Critério funcional / hierárquico (foros privilegiados)

Previsão:

Art. 102, I, d, CF - Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal,


precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
d) o "habeas-corpus", sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas
alíneas anteriores; o mandado de segurança e o "habeas-data" contra atos do
Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do
próprio Supremo Tribunal Federal;

Art. 105, I, b, CF - Compete ao Superior Tribunal de Justiça:


I - processar e julgar, originariamente:
b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de
Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do
próprio Tribunal;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999)

Art. 108, I, c, CF - Compete aos Tribunais Regionais Federais:


DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 169
I - processar e julgar, originariamente:
c) os mandados de segurança e os "habeas-data" contra ato do próprio Tribunal
ou de juiz federal;

Obs.
Nas Constituições Estaduais estão as regras de competência contra
as autoridades estaduais e municipais.

Súmulas:

 Súm. 41, STJ - O Superior Tribunal de Justiça não tem


competência para processar e julgar, originariamente, mandado de segurança
contra ato de outros tribunais ou dos respectivos órgãos

 Súm. 624, STF - Não compete ao Supremo Tribunal Federal


conhecer originariamente de mandado de segurança contra atos de outros
tribunais.

 Súm. 433, STF - É competente o tribunal regional do trabalho


para julgar mandado de segurança contra ato de seu presidente em execução de
sentença trabalhista.

ATENÇÃO!

O MS é uma das pouquíssimas ações cíveis que têm foro privilegiado.

DICA PARA CONCURSO:

Aplica-se a regra do “top julga top” (julgador de grau igual para autoridade coatora, no
âmbito de sua atuação)
Ex: MS contra governador julgado pelo TJ (top do Executivo estadual julgado pelo top do
Judiciário estadual); MS contra Min. STJ julgado pelo STJ (2º grau do Judiciário julgado pelo 2º
grau do STJ);

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 170


No crime, a regra é diversa (o julgador é sempre um grau superior).

Exceções à regra do “top julga top”:

1. MS contra ato do juiz de 1º grau = competência do Tribunal


competente para o recurso (seguindo a regra, outro juiz julgaria).

Súm. 376, STJ – compete a turma recursal processar e julgar o MS contra ato de
juizado especial

Mas cuidado: o STF, no RE 576.847/BA (fl.144) entendeu


que não cabe MS contra ato de juiz do JEC.

2. Quando o vício a ser atacado for a própria incompetência do


colégio recursal, caso em que o MS não será julgado pelo próprio colégio, mas
sim pelo TJ ou TRF.
STJ, RMS 17.542/BA

6.2. Critério material (JE, JT, JF, JEst.)

Para se chegar ao critério material, é porque não há prerrogativa de foro (competência da 1ª


instância). O que define a competência por esse critério material é a CATEGORIA FUNCIONAL
da autoridade.

Exemplos:

- Expulsão de filiados: MS contra dirigente de partido político = autoridade eleitoral =


Justiça Eleitoral
- MS contra ato de delegado regional do trabalho = JT (art. 104, CF)
- MS contra autoridades vinculadas à União e à autarquias e EP federais = JF (109, I e VIII,
CF)

Competência nos MS contra CONCESSIONÁRIAS de serviço público

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 171


Esse é um ponto bastante controverso. Para definir quem deve julgar o MS nesses casos, é
preciso observar o art. 2º da LMS, segundo o qual é preciso analisar o status da delegação:

• Delegação de serviço público da União = competência da JF


• Delegação de serviços públicos de outros entes = competência da J. Estadual

Art. 2o Considerar-se-á federal a autoridade coatora se as


consequências de ordem patrimonial do ato contra o qual se requer
o mandado houverem de ser suportadas pela União ou entidade por
ela controlada.

Ex: MS contra concessionária de energia elétrica para religar energia é de competência da JF;
mas as demais ações [ex: ação cautelar, ação de obrigação de fazer (religar energia)] é de
competência da J. Estadual. O mesmo acontece com a universidade particular (escola de
ensino superior).

6.3. Critério valorativo

No que tange ao valor da causa, nacionalmente falando, este critério apenas define a
competência dos juizados. E a regra é:

NÃO CABE MS NO JUIZADO!

Art. 3º, §1º, Lei 10.259/01 - Não se incluem na


competência do Juizado Especial Cível as causas:
I - referidas no art. 109, incisos II, III e XI, da
Constituição Federal, as ações de mandado de
segurança, de desapropriação, de divisão e
demarcação, populares, execuções fiscais e por
improbidade administrativa e as demandas sobre
direitos ou interesses difusos, coletivos ou individuais
homogêneos;

Art. 2º, §1º, Lei 12.153/09 - Não se incluem na


competência do Juizado Especial da Fazenda Pública:
I – as ações de mandado de segurança, de
desapropriação, de divisão e demarcação, populares,
por improbidade administrativa, execuções fiscais e as

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 172


demandas sobre direitos ou interesses difusos e
coletivos;

6.4. Critério TERRITORIAL

No MS, o critério territorial é de natureza ABSOLUTA, uma vez que criado em favor do interesse
público.

 O MS será impetrado no DOMICÍLIO FUNCIONAL DA AUTORIDADE


COATORA, pouco importando onde o ato tenha sido praticado.

(7) PROCEDIMENTO DO MANDADO DE SEGURANÇA

O mandado de segurança é sempre uma ação civil (de rito especial e sumário),
independentemente da natureza do ato atacado.

E sendo assim, na ausência de normas específicas, aplica-se


subsidiariamente o CPC.

7.1. PETIÇÃO INICIAL

Art. 6o A petição inicial, que deverá preencher os requisitos estabelecidos


pela lei processual, será apresentada em 2 (duas) vias com os
documentos que instruírem a primeira reproduzidos na segunda e
indicará, além da autoridade coatora, a pessoa jurídica que esta
integra, à qual se acha vinculada ou da qual exerce atribuições.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 173


 A petição inicial deve estar acompanhada de PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA.

Exceção  em uma única hipótese dispensa-se que a inicial não esteja


acompanhada de prova pré-constituída (§1º): quando a prova estiver em poder
da autoridade coatora ou de 3º.

§ 1o No caso em que o documento necessário à prova do alegado se


ache em repartição ou estabelecimento público ou em poder de
autoridade que se recuse a fornecê-lo por certidão ou de terceiro, o
juiz ordenará, preliminarmente, por ofício, a exibição desse
documento em original ou em cópia autêntica e marcará, para o
cumprimento da ordem, o prazo de 10 (dez) dias. O escrivão extrairá
cópias do documento para juntá-las à segunda via da petição.
§ 2o Se a autoridade que tiver procedido dessa maneira for a própria
coatora, a ordem far-se-á no próprio instrumento da notificação.

 Além de indicar a autoridade coatora, o Impetrante deve indicar também a qual pessoa
jurídica essa autoridade pertence.

Motivo: o art. 7º da nova LMS determina a intimação da pessoa jurídica, a fim de que
esta seja informada acerca da existência de MS contra um de seus funcionários,
evitando que a autoridade coatora simplesmente se omita quanto à prestação de
informações que lhe é solicitada.

 VALOR DA CAUSA:

Não há regra especial na LMS. Sendo assim, aplica-se subsidiariamente as regras do


CPC – art. 259 –, segundo as quais o valor da causa deve representar o conteúdo
econômico da demanda.

Art. 259. O valor da causa constará sempre da petição inicial e será:


I - na ação de cobrança de dívida, a soma do principal, da pena e dos
juros vencidos até a propositura da ação;
II - havendo cumulação de pedidos, a quantia correspondente à soma
dos valores de todos eles;
III - sendo alternativos os pedidos, o de maior valor;
IV - se houver também pedido subsidiário, o valor do pedido principal;
V - quando o litígio tiver por objeto a existência, validade,
cumprimento, modificação ou rescisão de negócio jurídico, o valor do
contrato;
VI - na ação de alimentos, a soma de 12 (doze) prestações mensais,
pedidas pelo autor;
VII - na ação de divisão, de demarcação e de reivindicação, a
estimativa oficial para lançamento do imposto.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 174


7.2. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE

Nesse momento, o juiz tem 3 opções:

(A)Determinar a emenda da inicial (CPC, art. 284)

Art. 284, CPC. Verificando o juiz que a petição inicial não preenche
os requisitos exigidos nos arts. 282 e 283, ou que apresenta defeitos
e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito,
determinará que o autor a emende, ou a complete, no prazo de 10
(dez) dias.
Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá
a petição inicial.

(B)Indeferir a inicial.

No MS, o juiz pode indeferir a inicial por 4 razões:

1. Vícios processuais – art. 6º, §5º, LMS.


Art. 6º, § 5o Denega-se o mandado de segurança nos casos
previstos pelo art. 267 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de
1973 - Código de Processo Civil.

2. Falta de direito líquido e certo (prova pré-


constituída) – art. 10, LMS.

Art. 10. A inicial será desde logo indeferida, por decisão


motivada, quando não for o caso de mandado de segurança
ou lhe faltar algum dos requisitos legais ou quando
decorrido o prazo legal para a impetração.
§ 1o Do indeferimento da inicial pelo juiz de primeiro grau
caberá apelação e, quando a competência para o
julgamento do mandado de segurança couber
originariamente a um dos tribunais, do ato do relator caberá
agravo para o órgão competente do tribunal que integre.
§ 2o O ingresso de litisconsorte ativo não será admitido
após o despacho da petição inicial.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 175


3. Decadência – art. 23

Art. 23. O direito de requerer mandado de segurança


extinguir-se-á decorridos 120 (cento e vinte) dias, contados
da ciência, pelo interessado, do ato impugnado.

Em 1, 2 e 3 não há apreciação do mérito. Cuidado: a decadência na LMS, ao contrário do que


acontece no CPC, não leva à apreciação do mérito. Nestas 3 hipóteses, diz-se que há
CARÊNCIA DA IMPETRAÇÃO.

De acordo com a súmula 304 do STF, bem como o art. 19 da LMS, extinto o MS sem a
apreciação do mérito, nada impede o ajuizamento de ação própria.

Art. 19. A sentença ou o acórdão que denegar mandado de segurança,


sem decidir o mérito, não impedirá que o requerente, por ação própria,
pleiteie os seus direitos e os respectivos efeitos patrimoniais.

Súm. 304, STF - DECISÃO DENEGATÓRIA DE MANDADO DE SEGURANÇA (carência de impetração), NÃO
FAZENDO COISA JULGADA CONTRA O IMPETRANTE, NÃO IMPEDE O USO DA AÇÃO PRÓPRIA.

4. Aplicação do art. 285-A do CPC – julgamento


liminar de ações repetitivas

Art. 285-A. Quando a matéria controvertida for


unicamente de direito e no juízo já houver sido proferida
sentença de total improcedência em outros casos
idênticos, poderá ser dispensada a citação e proferida
sentença, reproduzindo-se o teor da anteriormente
prolatada. (Incluído pela Lei nº 11.277, de 2006)
§ 1o Se o autor apelar, é facultado ao juiz decidir, no
prazo de 5 (cinco) dias, não manter a sentença e
determinar o prosseguimento da ação.
§ 2o Caso seja mantida a sentença, será ordenada a
citação do réu para responder ao recurso.

Essa hipótese configura apreciação do mérito.

(C)Admitir a impetração.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 176


Se o juiz admite a impetração, ele toma 3 atitudes:

1. Apreciar a liminar – art. 7º, III, LMS

2. Notificar a autoridade coatora para informações em 10 dias –


art. 7º, I, LMS
De acordo com o STJ, essa notificação tem natureza de

citação.

3. Cientificar do órgão de representação judicial da pessoa


jurídica – art. 7º, II, LMS

Art. 7o Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:


I - que se notifique o coator do conteúdo da petição inicial,
enviando-lhe a segunda via apresentada com as cópias dos
documentos, a fim de que, no prazo de 10 (dez) dias, preste as
informações;
II - que se dê ciência do feito ao órgão de representação judicial
da pessoa jurídica interessada, enviando-lhe cópia da inicial sem
documentos, para que, querendo, ingresse no feito;
III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando
houver fundamento relevante [FUMUS BONI JURIS] e do ato
impugnado puder resultar a ineficácia da medida [PERICULUM IN
MORA], caso seja finalmente deferida, sendo facultado exigir do
impetrante CAUÇÃO, FIANÇA OU DEPÓSITO, com o objetivo
de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica.

LIMINAR

 REQUISITOS: fumus boni juris + periculum in mora

 CONDIÇÃO: a concessão de liminar pode ser condicionada à prestação de


caução
(novidade na nova LMS, contra a qual a OAB ajuizou ADI)

 Uma vez concedida a liminar, o feito passa a ter prioridade

 EFEITOS:

- uma vez julgado improcedente o MS, fica automaticamente revogada a liminar.

Súm. 405, STF – Denegado o mandado de segurança pela sentença, ou no


julgamento do agravo, dela interposto, fica sem efeito a liminar
concedida, retroagindo os efeitos da decisão contrária.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 177


 RECURSO: agravo de instrumento

 LIMITES de cabimento da liminar e da concessão de tutela antecipada contra o Poder


Público  não será concedida liminar para:
- ordenar compensação de crédito tributário
- liberação de mercadorias provenientes do exterior
- em favor de servidor público (equiparação ou reclassificação,

Obs.

O STF, no julgamento da ADC 04, afirmou que as limitações à


concessão de liminar em face do Poder Público são
constitucionais.

Texto de lei

Art. 7o Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:


I - que se notifique o coator do conteúdo da petição inicial, enviando-lhe
a segunda via apresentada com as cópias dos documentos, a fim de
que, no prazo de 10 (dez) dias, preste as informações;
II - que se dê ciência do feito ao órgão de representação judicial da
pessoa jurídica interessada, enviando-lhe cópia da inicial sem
documentos, para que, querendo, ingresse no feito;
III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver
fundamento relevante [FUMUS BONI JURIS] e do ato impugnado puder
resultar a ineficácia da medida [PERICULUM IN MORA], caso seja
finalmente deferida, sendo facultado exigir do impetrante CAUÇÃO,
FIANÇA OU DEPÓSITO, com o objetivo de assegurar o ressarcimento
à pessoa jurídica.
§ 1o Da decisão do juiz de primeiro grau que conceder ou denegar a
liminar caberá agravo de instrumento, observado o disposto na Lei
no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.
§ 2o Não será concedida medida liminar que tenha por objeto a
compensação de créditos tributários, a entrega de mercadorias e bens
provenientes do exterior, a reclassificação ou equiparação de
servidores públicos e a concessão de aumento ou a extensão de
vantagens ou pagamento de qualquer natureza.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 178


§ 3o Os efeitos da medida liminar, salvo se revogada ou cassada,
persistirão até a prolação da sentença.
§ 4o Deferida a medida liminar, o processo terá prioridade para
julgamento.
§ 5o As vedações relacionadas com a concessão de liminares previstas
neste artigo se estendem à tutela antecipada a que se referem os arts.
273 e 461 da Lei no 5.869, de 11 janeiro de 1973 - Código de Processo
Civil.

7.3. INFORMAÇÕES

As informações são prestadas em 10 dias (não se aplicam art. 188 e 191 do CPC)

- As exceções de incompetência, impedimento e suspeição são apresentadas nas


próprias “informações”, ou seja, não têm autonomia.

- TERMO INICIAL:
O prazo de 10 dias conta-se a partir da juntada aos autos do comprovante de
recebimento da notificação (AR ou mandado).

Art. 11. Feitas as notificações, o serventuário em cujo cartório corra o feito juntará
aos autos cópia autêntica dos ofícios endereçados ao coator e ao órgão de
representação judicial da pessoa jurídica interessada, bem como a prova da
entrega a estes ou da sua recusa em aceitá-los ou dar recibo e, no caso do art.
4o desta Lei, a comprovação da remessa.

- Quem subscreve as informações é a própria AUTORIDADE, e não seu


advogado (que pode até assinar junto, mas não sozinho).

- Prestadas as informações, cessa a atividade da autoridade coatora (as


informações são o 1º e o último ato da autoridade coatora).

A autoridade coatora apenas representa a pessoa jurídica. Assim, os


demais atos do MS ficarão a cargo da pessoa jurídica (recurso, intimação,
cumprimento de ordens, etc.)

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 179


- Prevalece na doutrina o entendimento de que as informações têm
natureza de CONTESTAÇÃO.

Fredie Didier defende posicionamento isolado no sentido de que as informações


têm natureza de PROVA.

- Não prestação das informações = não há REVELIA no MS.


Motivo: entre os atributos do ato administrativo está a presunção de licitude /
legalidade. Assim, cabe ao autor do MS comprovar o contrário.

MS 20.822/DF – STF
CASSAÇÃO DE APOSENTADORIA - AGENTE DE POLÍCIA FEDERAL - INEXISTÊNCIA DE
PROVA DA RESPONSABILIDADE DISCIPLINAR - INVIABILIDADE DE SUA ANÁLISE EM SEDE
MANDAMENTAL - INIMPUTABILIDADE DO IMPETRANTE - EXISTÊNCIA DE PERÍCIA IDÔNEA
AFIRMANDO A SUA PLENA CAPACIDADE DE AUTODETERMINAÇÃO - ALEGAÇÃO DE
IRREGULARIDADES FORMAIS - AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO - DESNECESSIDADE DE A
CASSAÇÃO DE APOSENTADORIA SER PREVIAMENTE AUTORIZADA PELO TRIBUNAL DE
CONTAS DA UNIÃO - MANDADO DE SEGURANÇA INDEFERIDO. - O processo mandamental
não se revela meio juridicamente adequado à reapreciação de matéria de fato e nem
constitui instrumento idôneo à reavaliação dos elementos probatórios que, ponderados
pela autoridade competente, substanciam o juízo censório proferido pela Administração
Pública. - Refoge aos estreitos limites da ação mandamental o exame de fatos despojados
da necessária liquidez, pois o iter procedimental do mandado de segurança não comporta
a possibilidade de instauração incidental de uma fase de dilação probatória. - A noção de
direito líquido e certo ajusta-se, em seu específico sentido jurídico, ao conceito de
situação que deriva de fato certo, vale dizer, de fato passível de comprovação
documental imediata e inequívoca. - As informações prestadas em mandado de
segurança pela autoridade apontada como coatora gozam da presunção juris tantum de
veracidade. Incumbe ao impetrante, em conseqüência, ao argüir a nulidade do processo
administrativo-disciplinar, proceder à comprovação, mediante elementos documentais
inequívocos, idôneos e pré-constituídos, dos vícios de caráter formal por ele alegados. - A
conotação jurídico-disciplinar de que se acha impregnada a cassação de aposentadoria -
que constitui pena administrativa - torna inaplicável, quando de sua imposição, a Súmula
nº 6 do STF, que só tem pertinência nas hipóteses de revogação ou anulação do ato
concessivo da aposentadoria. O Presidente da República, para exercer competência
disciplinar que privativamente lhe compete, não necessita de prévio assentimento do
Tribunal de Contas da União para impor ao servidor inativo a pena de cassação de
aposentadoria, não obstante já aprovado e registrado esse ato administrativo pela Corte
de Contas.

7.4. INSTRUÇÃO

Não há esta fase no MS, na medida em que a prova precisa ser pré-constituída.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 180


7.5. MINISTÉRIO PÚBLICO

Art. 12. Findo o prazo a que se refere o inciso I do caput do art. 7o desta Lei,
o juiz ouvirá o representante do Ministério Público, que opinará, dentro do
prazo improrrogável de 10 (dez) dias.
Parágrafo único. Com ou sem o parecer do Ministério Público, os autos serão
conclusos ao juiz, para a decisão, a qual deverá ser necessariamente
proferida em 30 (trinta) dias.

Pela LMS, o MP funciona como fiscal da lei, da ordem pública, como órgão
opinativo.

Obs.

• Para vários MPs, esta norma do art. 12 da LMS deve ser interpretada de
acordo com a CF/88, de modo que é o representante do MP que deve definir, no caso
concreto, se há interesse público que exija a atuação do MP.

• O MPMG, tal como Gajardoni, entende que o legislador é quem define o


interesse público e, neste sentido, o teria feito no art. 12 da LMS. Assim, o MP atua em
todos os MS’s, qualquer que seja o seu objeto.

De qualquer forma, o que é pacífico é o entendimento de que o que gera


nulidade do processo é a falta de oportunidade de manifestação do MP, e
não da própria manifestação.

7.6. SENTENÇA

Art. 13. Concedido o mandado, o juiz transmitirá em ofício, por intermédio


do oficial do juízo, ou pelo correio, mediante correspondência com aviso de
recebimento, o inteiro teor da sentença à autoridade coatora e à pessoa
jurídica interessada.
Parágrafo único. Em caso de urgência, poderá o juiz observar o disposto no
art. 4o desta Lei.

Natureza: MANDAMENTAL

Sentença mandamental é aquela que impõe uma obrigação e emite uma ordem,
cujo descumprimento gera crime.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 181


Intimação:
Prolatada a sentença, tanto a autoridade coatora quanto a pessoa jurídica interessada serão
intimadas.

Honorários advocatícios
Consolidando o entendimento da súmula 512 do STF, pacificou-se que o MS é isento de
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. Cabe, porém, condenação por litigância de má-fé.

Art. 25. Não cabem, no processo de mandado de segurança, a interposição


de embargos infringentes e a condenação ao pagamento dos honorários
advocatícios, sem prejuízo da aplicação de sanções no caso de litigância de
má-fé.

7.7. RECURSO

Contra a sentença proferida em sede de MS cabe APELAÇÃO.

Art. 14. Da sentença, denegando ou concedendo o mandado, cabe


apelação.
§ 1o Concedida a segurança, a sentença estará sujeita obrigatoriamente ao duplo
grau de jurisdição. [reexame necessário]
§ 2o Estende-se à autoridade coatora o direito de recorrer.
§ 3o A sentença que conceder o mandado de segurança pode ser executada
provisoriamente, salvo nos casos em que for vedada a concessão da medida
liminar.
§ 4o O pagamento de vencimentos e vantagens pecuniárias assegurados em
sentença concessiva de mandado de segurança a servidor público da
administração direta ou autárquica federal, estadual e municipal somente
será efetuado relativamente às prestações que se vencerem a contar da data
do ajuizamento da inicial.

 Efeitos:

- Em regra, a apelação só terá efeito


devolutivo. Não há EFEITO SUSPENSIVO.
- Exceção: caberá efeito suspensivo nas
mesmas hipóteses em que é vedada a concessão de liminar.

 Legitimidade recursal:

(1) Partes = autor + pessoa jurídica


DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 182
(2) Autoridade coatora (art. 14, §2º)

A autoridade coatora só poderá recorrer nos casos


em que a sua esfera pessoal tenha sido atingida.
Caso contrário, não terá ela interesse.
Ex: no MS reconhece-se a prática de crime pela
autoridade coatora, com envio de docs ao MP para
sua apuração.

(3) MP

7.8. REEXAME NECESSÁRIO

Art. 14, § 1o Concedida a segurança, a sentença estará sujeita


obrigatoriamente ao duplo grau de jurisdição.

O STJ já pacificou o entendimento de que não se aplica o art. 475 do CPC, que estabelece
exceções ao reexame necessário [havendo regra própria na LMS, não se aplica a norma geral]

7.9. EXECUÇÃO

 Obrigação de fazer = esta execução segue as regras do 461 do

CPC

 Obrigação de dar = esta execução segue as regras do 461-A do

CPC

 Obrigação de pagar:

- Pessoa Jurídica de Direito Privado: aplica-se o art. 475-J, CPC


- Pessoa Jurídica de Direito Público; aplica-se o art. 730 do
CPC

Atenção!

No caso de obrigação de pagar, é preciso atenção ao disposto no art. 14, §4º, do LMS, além das
súmulas 269 e 271 do STF: o MS não pode ter efeito pretérito.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 183


Ex: Servidor público não ter reajuste em janeiro. Ele impetra MS em abril. Não há liminar contra
o poder público. 4 anos depois há o trânsito em julgado. O servidor só poderá executar as
prestações a partir de abril, e não as de jan., fev. e mar.

Art. 14, §4o O pagamento de vencimentos e vantagens pecuniárias


assegurados em sentença concessiva de mandado de segurança a
servidor público da administração direta ou autárquica federal,
estadual e municipal somente será efetuado relativamente às
prestações que se vencerem a contar da data do ajuizamento da
inicial.

Súm. 269, STF – O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança.

Súm. 271, STF – Concessão de mandado de segurança não produz efeitos


patrimoniais em relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados
administrativamente ou pela via judicial própria.

7.10. ÚLTIMAS QUESTÕES PROCESSUAIS

(A) DESISTÊNCIA

Não se aplica o art. 267, §4º, do CPC. Assim, a desistência do MS não depende de
concordância da parte contrária. Há, inclusive, julgado do STJ nesse sentido.

(B) DECADÊNCIA

O MS tem de ser impetrado no prazo de 120 dias.

Art. 23, LMS - O direito de requerer mandado de segurança


extinguir-se-á decorridos 120 (cento e vinte) dias, contados
da ciência, pelo interessado, do ato impugnado

Natureza:

Prevalece o entendimento de que o prazo do art. 23 tem natureza DECADENCIAL.

Doutrina minoritária, porém, dentre os quais Leonardo Faria Cunha e Gajardoni, entende que
este prazo tem natureza própria, e não decadencial. Isso porque decadência é mérito, de
forma que, reconhecida, não se pode mais exercer o direito. No MS porém, o reconhecimento
da inobservância desse prazo não gera impossibilidade de exercício do direito. Para salvar o
termo, o prof. sugere dizer que a decadência, no MS, é da VIA e não do direito.

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 184


Constitucionalidade:

Para Nelson Nery, como a CF não limitou o prazo de MS, a lei não poderia fazê-lo.
O STF, porém, editou a súmula 632, estabelecendo que o prazo de 120 é constitucional.

Súm. 632, STF - É constitucional lei que fixa o prazo


de decadência para a impetração de mandado de
segurança.

Termo inicial

 Para os atos COMISSIVOS, o termo inicial é a ciência – art. 23, parte final.
Regra geral, essa ciência acontece por meio da intimação.

 Para os atos OMISSIVOS, há 2 posições na doutrina:

- Se há prazo para a manifestação da autoridade fixado em lei, o


termo inicial da decadência é o fim deste prazo.
- Se a lei não fixa prazo para a manifestação da autoridade, não tem
início o prazo decadencial (o ato omissivo é permanente).

 Para os atos IMINENTES, quando o ato ainda não aconteceu, portanto, não corre a
decadência (hipótese de MS preventivo).

Pedido de Reconsideração

Este pedido não interrompe o prazo de decadência!

Súm. 430, STF - Pedido de reconsideração na via administrativa não


interrompe o prazo para o mandado de segurança.

(8) OBSERVAÇÕES QUANTO MS COLETIVO


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Aula online
8.1. DIREITOS METAINDIVIDUAIS TUTELÁVEIS PELO MS COLETIVO

• 1ª posição: AMPLIATIVA  todos! (difusos, coletivos e individuais homogêneos)

[prevalece na doutrina]

• 2ª posição: RESTRITIVA  art. 21, p.u., L. 12.016/09  só se presta à defesa de direito


coletivos e individuais homogêneos, e não dos difusos.

Fundamento: para os direitos difusos há outros meios de tutela!

8.2. COISA JULGADA NO MS COLETIVO

Não se aplica o microssistema processual coletivo!


Neste particular, afastam-se as regras dos arts. 103 e 104 do CDC porque há regra própria,
conforme art. 22, L. 12.016/09:

Art. 22. No mandado de segurança coletivo, a sentença fará coisa


julgada limitadamente aos membros do grupo ou categoria substituídos
pelo impetrante.
§ 1o O mandado de segurança coletivo não induz litispendência para as
ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o
impetrante a título individual se não requerer a desistência de seu
mandado de segurança no prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência
comprovada da impetração da segurança coletiva.

DIFERENÇAS:

 Efeitos da coisa julgada

REGRA:
• Difusos – erga
• Coletivo – ultra pars
• Ind. Hom. - erga

DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 186


MSC: Seja para os coletivos ou para os individuais homogêneos, os efeitos da
coisa julgada serão sempre ULTRA PARS (restrito aos membros).

 Coisa julgada in utilibus

REGRA: pode-se suspender a ação individual.


MSC: condiciona a coisa julgada in utilibus à desistência da ação individual.
Objetivo: fazer com que, desacolhido o MSC a parte não mais possa
impetrar MS individual em virtude da ocorrência da decadência do prazo
para a sua impetração.

8.3. LIMINAR INAUDITA ALTERA PARS

Art. 22, §2º L. 12.016/09 ( = art. 2º, L 8.437)  veda liminar inaudita altera pars contra o Poder
Público; para concessão de liminar, exige-se oitiva do representante judicial.

Art. 22. No mandado de segurança coletivo, a sentença fará coisa


julgada limitadamente aos membros do grupo ou categoria substituídos
pelo impetrante.
§ 2o No mandado de segurança coletivo, a liminar só poderá ser
concedida após a audiência do representante judicial da pessoa jurídica
de direito público, que deverá se pronunciar no prazo de 72 (setenta e
duas) horas.

8.4. DEMAIS REGRAS

Tudo o mais sobre MS coletivo segue as regras do MS individual.

Livros:

Comentários à nova lei do MS, Ed. RT, vários autores (entre eles: Luis Manoel Gomes Jr.)
Mandado de Segurança, Cássio Scarpinela, Ed. Saraiva
Comentários à nova LMS, Ed. Método, F. Gajardoni e outros

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DIREITOS DIFUSOS e COLETIVOS – pág. 188

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