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na Hierarquia e na Disciplina.
Rio de Janeiro
2015
CC (FN) ANDRÉ LUIZ GUIMARÃES SILVA
na Hierarquia e na Disciplina.
Rio de Janeiro
Escola de Guerra Naval
2015
AGRADECIMENTO
Vivemos, atualmente, em um mundo em que a competitividade tem sido uma das grandes
questões no mundo empresarial. Nesse ambiente altamente competitivo é que surgiu o
conceito de gestão por competência e o emprego desse modelo no mundo empresarial poderá
significar a sobrevivência da empresa ou uma vantagem competitiva perante as demais. Tanto
a Marinha do Brasil, quanto o Exército Brasileiro adotaram, recentemente, programas de
gestão de pessoas baseados em competências. O desafio desses programas é o de obterem
resultados satisfatórios em um sistema hierarquizado e regido pelo modelo de organização
taylorista, dois aspectos conflitantes ao emprego da gestão por competências. Dessa forma,
esta monografia teve por escopo fazer uma reflexão acadêmica sobre o emprego da Gestão
por Competências nas Forças Armadas, buscando, nas teorias, avaliar se os prováveis
resultados a serem obtidos com um novo programa compensariam os esforços necessários à
sua implementação (mudanças estruturais e de conduta das Forças) e, caso afirmativo, que
aspectos deveriam ser observados para que o modelo obtenha o máximo de sucesso. Optou-se,
então, por realizar uma pesquisa descritiva, apoiada em recursos bibliográficos e documentais.
A estratégia traçada para conduzir o estudo nos moldes do trabalho científico foi estudar a
metodologia do programa de gestão de recursos humanos que foi implementado no Exército
Brasileiro. Por fim, concluiu-se que é possível e extremamente vantajoso o emprego da
Gestão por Competência nas Forças Armadas e o que o Comprometimento Organizacional
pode ser considerado como o grande Fator Crítico de Sucesso para qualquer modelo que
venha a ser adotado pelas Forças. Finalmente, propõe-se às Instituições Militares que envidem
esforços para reduzir os níveis de insatisfação existentes na tropa, uma vez que a satisfação no
trabalho gera o comprometimento que, por sua vez, é fundamental para que haja a
cooperação, atingindo assim, todos os objetivos previstos.
We live now in a world where competitiveness has been one of the major issues in the
corporate world. In this highly competitive environment is that the concept of competence
management and employment of this model in the corporate world could mean the survival of
the company or a competitive advantage vis-à-vis the others. Both the Navy of Brazil, as the
Brazilian Army adopted recently, people management programs based on skills. The
challenge of these programs is to obtain satisfactory results in a tiered system and governed
by the taylorist organization model, two conflicting aspects of employment of management
skills. Thus, this monograph was scope do academic reflection on the use of management
skills in the military, seeking, in the theories, assess whether the likely results to be obtained
with a new program would compensate the efforts necessary for its implementation (structural
changes and conduct of forces) and, if so, what aspects should be observed so that the model
get the maximum success. We decided, then, to do a descriptive research, supported by
bibliographic and documentary resources. The strategy mapped out to conduct the study in
accordance with the scientific work was to study the methodology of the human resources
management program which was implemented in the Brazilian Army. Finally, it is concluded
that it is possible and extremely advantageous the use of Competency-based management in
the armed forces and what the Organizational Commitment can be considered as the critical
success Factor for any model to be adopted by the forces. Finally, it is proposed to military
institutions to make efforts to reduce levels of dissatisfaction in the military, once the job
satisfaction raises the commitment and this, in turn, is essential for there to be cooperation,
reaching all the objectives laid down.
4 CONCLUSÃO....................................................................................................... 37
REFERÊNCIAS.................................................................................................... 40
6
1. INTRODUÇÃO
estabilidade monetária fizeram com que as estratégias empresariais se voltassem cada vez
mais para a longevidade das empresas. Nesse cenário altamente competitivo, o que irá
diferenciar uma empresa de todas as outras são as pessoas que nela trabalham e podem ou não
apenas como simples recursos, tão frios quanto às máquinas e materiais. Na era da
competências que são fundamentais para gerar o crescimento organizacional, entretanto, todas
as características humanas não terão valia se as organizações não valorizá-las e não alavancá-
obrigou as organizações a mudarem a forma como viam as pessoas e a Gestão de Pessoas por
Competências (GPC) tem se mostrado como a ferramenta ideal para melhorar o desempenho
complexo, devido, basicamente, a três aspectos fundamentais que irão impactar em mudanças
(PORTO, 2010) e, dessa forma, identificaram o potencial do modelo de GPC como uma
militares. Assim, tanto a Marinha do Brasil (MB), quanto o Exército Brasileiro (EB), após um
questionamentos que emergem daí são: Os prováveis resultados obtidos com um novo
aspectos deverão ser observados para que o modelo obtenha o máximo de sucesso?
humanos compensarão todo o esforço necessário para a sua implementação e, uma vez
confirmada essa hipótese, definir o principal Fator Crítico de Sucesso (FCS)2 da aplicação da
GPC nas Forças Armadas e propor algumas ações a serem adotadas pelas Forças para que
Para ascender ao objetivo, optou-se por realizar uma pesquisa descritiva, apoiada
1
As Forças Armadas [...] são Instituições nacionais, permanentes e regulares, organizadas com base na
hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República e dentro dos limites da lei
(BRASIL, 1999).
2
Pode ser definido como o número limitado de áreas que devem apresentar resultados minimamente satisfatórios
para garantir o sucesso do desempenho competitivo organizacional. Por isso, essas áreas devem estar sob
constante atenção da gerência, garantindo o resultado final bem-sucedido (ROCKART, 1979).
8
robustez às conclusões. A estratégia traçada para conduzir o estudo nos moldes do trabalho
científico foi estudar: a teoria por trás da GPC, buscando identificar o seu FCS e sua
conceitos da GPC têm potencial para obter resultados que compensem os esforços necessários
finalmente, amparado pelos pontos fortes e fracos extraídos do SGD, propor ações para que as
refere aos chamados “Pilares das Competências”, aos aspectos fundamentais citados
fim, fruto de uma análise, serão listados os pontos fortes e fracos desse sistema, visando
validar ou não essa forma de gestão e propor algumas ações para a implementação da GPC
Por fim, o capítulo quatro será composto pelas conclusões e considerações finais,
trabalho.
que, apesar das diferentes definições, o sentido da palavra é único (ANDRADE; SOARES,
2005).
Requisitos de Sucesso da GPC3, o FCS, uma breve comparação entre o Sistema Hierarquizado
sustentação para este trabalho e permitir o prosseguimento das análises referentes ao emprego
3
Expressão criada, didaticamente, pelo autor para agregar três aspectos considerados, em sua análise, como
fundamentais na implementção da GPC.
10
universidades, nos livros, no trabalho etc.; a habilidade é o saber fazer, é tudo o que
utilizamos dos nossos conhecimentos no dia a dia; e a atitude é o que nos leva a exercitar
Conforme Leme (2005, p18), citado por Smaneoto e Cassol (2014), conhecimento
comportamental.
bem trabalhado, contribuirá para o atingimento dos objetivos traçados pelas organizações.
específica executada. Mas, uma vez adquirido, dificilmente é transferível. Trata-se mais de
ao dispositivo técnico, mas indispensável, pois sem ele o sistema técnico não pode funcionar.
Trata-se de um subproduto do sistema técnico, que passa a uma condição primeira de sua
apreendido pela experiência individual; ele é difícil de se exprimir dentro de uma linguagem
cumprimento da tarefa. Para Chanaron e Perrin (1986), mesmo que uma parte do saber fazer
seja transferida para a "lógica" de uma nova máquina, os trabalhadores precisam criar novos
relação do colaborador com as próprias máquinas. O saber fazer permite (por meio de sinais
evolução das percepções captadas pelos sentidos (olfato, visão, audição, tato) é extremamente
apreender esses fenômenos é que se adquire pela vivência (CRIVELLARI; MELO, 1989).
uso dos sentidos. Prever panes, estabilizar processos, otimizar a realização de manobras
Podem ser consideradas como o conjunto de valores, crenças e princípios que são
formados no decorrer da vida. Estão relacionados com o querer ser e o querer agir e implicam
organizações, o pilar mais valorizado atualmente é a atitude, pois contribui de forma decisiva
Na próxima seção iremos abordar o emprego da GPC sob a ótica dos gestores, ou
seja, serão apresentados os três requisitos a serem analisados pelos gestores antes de
maior diferencial para empresa, permitindo os subsídios necessários para o estudo da seção
seguinte, que versa sobre o FCS da GPC. Importante salientar que essa análise não abordará o
conhecimento e a habilidade, haja vista considerar que as organizações já ocupam seus cargos
diferencial às empresas, colocar em prática a GPC é uma tarefa bastante complexa, devido,
competência é algo que uma determinada pessoa possui e que é percebida pelos outros. Para
tanto, não adianta a competência ser visível, é necessário que seja também percebida sua
existência.
resultado é que cada colaborador manifeste uma ótica diferente e só parcialmente adequada a
próximo capítulo, essa problemática da “Percepção das Competências” será minimizada pela
Avaliação Somativa.
que acorda e já põe a mente para trabalhar a fim de realizar a maior quantidade de tarefas
possíveis dentro do menor tempo. Estar comprometido com o resultado é sentir-se de fato,
MARQUES, 2000). O questionamento que emerge daí é o seguinte: até que ponto é possível
indivíduo com a organização, que o motiva a dar algo de si: sua energia e sua lealdade
empresa. Pode ser um fenômeno estrutural que ocorre como resultado de transações
Ainda que não tenha um conceito único, o propósito básico dos teóricos
QUADRO 1, será apresentada uma síntese das três linhas de pesquisa existentes que
organização.
15
QUADRO 1
Linhas de pesquisa que refletem sobre as motivações para o comprometimento das pessoas
com a organização
ENFOQUE CARACTERÍSTICAS
Identificação do indivíduo com as metas organizacionais, bem como
Afetivo a interiorização de seus valores, assumindo-os como próprios.
Vínculo muito mais forte com a organização.
2.2.3 Situação
realização de uma ação específica”. O evento narrado abaixo ilustrará essa variável
situacional da GPC.
Churchill (1874-1965) era exatamente o que o Reino Unido necessitava naquele momento.
16
Ainda embasado pelos velhos conceitos e movido pelo seu ódio incondicional à Alemanha,
sua vida foi baseada no tradicionalismo inglês e no modelo de colonização que tornou a Grã
Bretanha uma nação detentora de 51 colônias espalhadas pelo globo. No final da guerra, os
ingleses viram o seu império se desmanchar como um castelo de cartas. E a insatisfação se fez
sentir nas urnas. Churchill teve que suportar a humilhação de ser derrotado e ser substituído
por Clement Attlee4 (BLAINEY, 2010). O perfil de Winston Churchill, essencial para os
mantidas e criadas.
irá definir FCS relacionados a seu negócio. O que se propõe nesse trabalho é fazer uma breve
análise sobre o modelo genérico de GPC e, coerente com os aspectos que foram estudados
nesse trabalho, selecionar o Requisito de Sucesso de maior impacto no emprego da GPC e que
4
Clement Richard Attlee (1883-1967) foi político inglês e primeiro-ministro do Reino Unido entre os anos de
1945 e 1951. Sucedeu a Winston Churchill como primeiro-ministro após a derrota dos conservadores para o
Partido Trabalhista nas eleições de maio de 1945 (JAGO, 2014).
17
longo da carreira desses funcionários, à medida que forem demonstrando (ou que sejam
191). É aqui que ocorre o forte vínculo do indivíduo com a organização, na qual ele investirá
possam escolher as pessoas certas para cada situação específica, dessa forma, também é um
Após essa breve análise dos Requisitos de Sucesso, chegou-se à conclusão que o
comprometimento organizacional são recentes e, por isso mesmo, pouco consistentes em sua
O treinamento também faz parte dessa dinâmica organizacional, uma vez que
(Tannenbaum et al., 1991). Nessa linha, Saks (1995) argumenta, fundamentado em suas
pesquisas, que os efeitos do treinamento podem ser atribuídos, em parte, aos efeitos do
requisitada.
novatos.
basearam sua iniciativa. O taylorista, que se apoia na burocracia e, assim, padroniza a conduta
individual dos empregados, provocando uma previsibilidade de ações típica das organizações
modelo gerencial (managerial), pelo contrário, valoriza e estimula a simplicidade das relações
(1998) afirmarem que o estilo gerencial responde favoravelmente àquilo que se refere à
elemento cooperação, visto que, de acordo com Barnard (1979), a cooperação do indivíduo no
trabalho varia em função do atendimento (satisfação) das suas necessidades. Não considerar a
satisfação seria reflexo da soma dos benefícios que seriam contrastados com os custos de
saída, ou ainda como resultado dos benefícios concedidos pela organização e que explicariam
o sentimento de “culpa” que estaria associado ao seu desligamento. Dentro desse raciocínio, a
mais macro na orientação do indivíduo em relação à sua organização (Rusbult & Farrell,
Se um indivíduo acha que seus motivos estão sendo satisfeitos pelo que ele
faz, ele continua o seu esforço cooperativo; em caso contrário, ele não o faz.
... Assim, a eficiência de um sistema cooperativo é a sua capacidade de
manter-se a si mesmo, pelas satisfações individuais que proporciona. A
situação também pode ser chamada sua capacidade de equilíbrio, o
balanceamento das cargas por meio das satisfações, o que se transforma em
continuidade.
PUCPR concluiu que a satisfação no trabalho, em sua dimensão afetiva, está intimamente
assim como figura no conjunto de vantagens a serem perdidas; portanto são percebidas como
complemento, a satisfação no trabalho também reflete uma condição dada pela organização,
algo que é provido por um sistema que não mereceria (reciprocity norms) ser abandonado
capacidade de fazer com que os indivíduos se mantenham filiados a ela por obrigação moral.
diretamente nas variáveis internas de Chiavenato (2008), quais sejam: ambiente de trabalho;
Organização Militar (OM) não possui autonomia para atuar nos campos da carreira, salário ou
recrutamento e seleção, porém poderá atuar de forma positiva nos demais, buscando o
comprometimento de seus militares com sua OM, contribuindo, dessa forma, com a obtenção
21
comprometido, visando obter o máximo da cooperação mútua e, assim, cumprir todas as suas
metas e objetivos com excelência, será envidar o máximo de esforços de modo a obter um
ganhou mais peso com a teoria clássica da administração, e sua utilização ainda é muito
Uma das principais transformações corporativas que vêm por aí diz respeito à
equipes multidisciplinares. Tais grupos serão criados e depois desfeitos de acordo com a
necessidade de cada empreitada, ou seja, durarão o prazo que for necessário. Quem ditará as
prioridades e supervisionará a execução das tarefas será o líder do projeto – e não mais o
chefe do departamento, um profissional sem futuro. Nesse novo sistema de gerir o trabalho e
com as suas competências, sejam elas técnicas, gerenciais, culturais ou de comunicação. Esse
modelo de organização é uma das modalidades descritas por Thomas Malone, professor da
22
Sloan, a escola de negócios do MIT5, e autor de O Futuro dos Empregos. Segundo o autor, as
empresas estão percebendo que sistemas flexíveis podem ajudar a assegurar que o talento seja
distribuído com mais eficiência do que é possível nas hierarquias tradicionais, em que as
que ditam as tarefas, como fica a hierarquia? Quem manda em quem? Depende. Na empresa
autonomia, mas ele será diferente do atual. Essa maneira mais fluida de trabalhar e de se
corporativo – que ainda valoriza salas fechadas e cadeiras de espaldar alto para os seniores.
Elas estão com os dias contados, assim como o velho sistema de administração por comando e
controle, popularizado no Brasil pela expressão “manda quem pode, obedece quem tem juízo”
(SPOTORNO, 2015).
cargos que ocupam e pelo poder que têm sobre o desenvolvimento de suas carreiras
(SPOTORNO, 2015).
definidos e previsíveis;
5
Massachusetts Institute of Technology.
23
(SPOTORNO, 2015).
formal, e será pelas linhas de comando e de comunicação que a organização funcionará. Pode
ser observado que ao se projetar essa organização altamente formal, ela estava se
aproximando de uma máquina, conforme já observado por Morgan (1996). Embora esse tipo
de organização tenha sido idealizado para atender a uma nova concepção de trabalho advinda
da Revolução Industrial, sua influência está presente em muitas organizações ditas modernas
(SPOTORNO, 2015).
hierarquização das empresas, é importante salientar que, nas Forças Armadas, não só do
Brasil, mas no mundo como um todo, o modelo tradicional permanece bastante sólido.
Logicamente esse modelo hierarquizado apresenta uma série de limitações para o emprego da
Gestão por Competências em sua forma mais pura, porém é o modelo que continua
apresentando resultados.
A solução adotada nas Forças Armadas e que foi evidenciada nesse trabalho pela
melhores resultados que os anteriores ainda é cedo para afirmar, porém foi a forma encontrada
hierarquia e da disciplina.
problema;
autodesenvolvimento.
gestores e colaboradores que não sabem agir e encarar a nova forma de gestão, questionando-
Alguns fenômenos que fazem parte das dificuldades percebidas são a falta de tempo para se
inovar nos novos métodos, falta de capacitação para novos papéis e o desconhecimento do
novo futuro.
Forças Armadas também vivenciam diariamente a relação das instituições com as pessoas e
Competência, buscando identificar como esses conceitos poderiam contribuir para uma
melhor gestão de seu pessoal com foco em obter melhores resultados. Tanto a MB, quanto o
empregar a GPC.
do Pessoal Militar do Exército (SGD) e por fim os pontos fortes e fracos desse sistema,
buscando propor ações a serem adotadas pelas Forças Armadas de modo a obterem o máximo
constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, e destinam-se a defender a Pátria
do Presidente da República e dentro dos limites da lei (grifo nosso) (BRASIL, 1999). Esse
26
sobrevivência.
parte de todos e de cada um dos componentes desse organismo (grifo nosso) (BRASIL, 1999).
diante de uma realidade bastante distinta, quando comparadas à realidade do mundo civil,
QUADRO 2
Características da Carreira Militar
CARACTERÍSTICA DESCRIÇÃO
A possibilidade iminente de um dano físico ou da morte é um
Risco de vida. fato permanente. Assim, o exercício da atividade militar, por
natureza, exige o comprometimento da própria vida6.
O militar em atividade não pode exercer qualquer outra
Dedicação Exclusiva. profissão, o que o torna dependente exclusivamente de seus
vencimentos.
Disponibilidade O militar se mantém disponível para o serviço ao longo das 24
Permanente. horas do dia, sem, por isso, possuir direito a reivindicar
6
V. art. 31, I, da Lei nº 6.880/80.
27
CARACTERÍSTICA DESCRIÇÃO
qualquer remuneração extra, compensação de qualquer ordem
ou cômputo de serviço especial.
O militar pode ser movimentado, em qualquer época do ano,
para qualquer região do país, indo residir, em alguns casos, em
Mobilidade Geográfica
locais inóspitos e destituídos de infraestrutura de apoio à
família.
As atribuições que o militar desempenha, não só por ocasião
de eventuais conflitos, para os quais deve manter-se sempre
Vigor Físico
preparado, mas também, cotidianamente, nos tempos de paz,
exigem-lhe elevado nível de saúde física e mental.
Mesmo quando na inatividade, o militar permanece vinculado
Vínculo com a profissão à sua profissão, devendo manter-se pronto para atender a
eventuais convocações e ao retorno ao serviço ativo.
de enfoque que deve ser explorado pelas lideranças que atuam dentro de um ambiente
militar.
os preocupantes índices de evasão que vêm ocorrendo dentro das Forças Armadas. Entre os
jovens oficiais da MB, por exemplo, as evasões encontram patamares superiores às médias
históricas.
Segundo Chiavenato7 (2008 citado por Porto, 2010), “existem dois tipos de
7
CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 3. ed.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. 579 p.
28
Ainda segundo Chiavenato (2008), a rotatividade não é uma causa, mas o efeito
de empregos no mercado de trabalho etc. Dentre as variáveis internas estão a política salarial
de trabalho. A estrutura e a cultura organizacional são responsáveis por boa parte dessas
variáveis internas.
criar um sistema simples (para que possa ser operado por todos) e objetivo (para que não
comprometimento de todo o pessoal que compõe esse sistema. Tudo isso dentro de um
questionamento: que aspectos devem ser trabalhados para que se obtenha o máximo dessa
colaboração nas Forças Armadas? Para responder a essa pergunta passaremos a estudar o
SGD, com o propósito de determinar seus pontos fortes e fracos para, finalmente, propor
sendo considerada como um dos indicadores da qualidade da gestão dos recursos humanos. É
preciso, no entanto, que se reconheça que não é um processo absolutamente objetivo e livre de
(BRASIL, 2015).
“[...] gerentes são relutantes em oferecer uma opinião franca e ter uma
discussão honesta com seus subordinados por temerem prejudicar o
relacionamento com seu pessoal, do qual dependem para ter o trabalho
realizado. Por outro lado, empregados consideram seus gerentes inábeis ao
discutir seus desempenhos e inefetivos ao orientá-los no desenvolvimento de
suas capacidades. Outros reclamam dos sistemas de avaliação, considerados
burocráticos e trabalhosos, em face do valor agregado à organização. Isso faz
com que avaliados e avaliadores considerem, muitas vezes, a Avaliação do
Desempenho como um mal necessário a ser mitigado e não como um
processo essencial que produz resultados vitais para a organização e o
profissional.”
(Pulakosi).
desempenho profissional, buscando dois objetivos finalísticos: o primeiro, com foco nas
ferramentas e alternativas oferecidas pela literatura sobre o assunto, com suas potencialidades
e limitações, bem como larga experiência do Exército, com mais de 40 anos de avaliação
sistemática. A avaliação no SGD será realizada pela análise das competências básicas,
3.3.1 O Sistema
Desempenho do Pessoal Militar do Exército, aprovada em 2014, para que o sistema passasse a
2014).
definição das competências considerou-se, além dos estudos realizados, uma pesquisa de
opinião com mais de 10 mil militares, de General de Exército (posto mais alto) a Terceiro-
por oficiais e praças e atribuiu-se a cada cargo um rol de competências a serem avaliadas. As
Assim, um militar passará a ser avaliado com base nas oito competências básicas,
um dos objetivos fundamentais do SGD, favorecendo ainda maior exercício da liderança pela
segundo semestre é realizada a Avaliação Somativa, a ser utilizada nos processos decisórios
da Força, também com vistas ao Avaliado. Caso discorde de seu conceito, o Avaliado poderá
fazer suas observações no próprio SGD, as quais seguirão para o Homologador8. Antes de
critério, considerado como merecedor do “Alto Desempenho”, pauta essa que distingue o
8
O Comandante, Chefe ou Diretor é o responsável pelo processo de avaliação dos militares de sua OM e,
normalmente, será o Homologador das avaliações (BRASIL, 2014).
32
processos, que a grande maioria dos militares deverá estar posicionada nos descritores de
2015).
militares, o exercício da liderança em todos os níveis e uma maior efetividade no apoio aos
Homologador, a quem compete, em última análise, proceder aos juízos de valores que
Exército, a primeira etapa da implantação do SGD é conhecer o Sistema, o que está sendo
até junho próximo todos os participantes do processo de avaliação, totalizando mais de 50 mil
militares.
Por meio da análise do que foi estudado nos capítulos anteriores foi possível a
identificação de pontos fortes e de pontos fracos que têm relação direta com o sucesso do
a) Pontos Fortes:
9
Entidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, com registro no Ministério Público/RJ. Atua no
desenvolvimento de projetos de ensino, pesquisa e extensão, voltados à assistência educacional, cultural e à
saúde.
34
pessoal;
b) Pontos Fracos:
- sistema hierarquizado;
GPC nas Forças Armadas, o estudo desenvolvido acerca do SGD demonstrou que o sistema,
da forma em que foi concebido, possui, efetivamente, potencial para: subsidiar a melhoria do
As ações que serão propostas às Forças Armadas visam reforçar os pontos fortes e
35
minimizar os efeitos dos pontos fracos, com o propósito de permitir que os programas de GPC
a) a determinação para o emprego desses modelos deve emanar dos mais altos
b) o Planejamento Estratégico das Forças não só deverá estar muito bem definido,
fundamental que todos saibam onde a Força está e onde pretende chegar;
positivamente os instruendos;
interesse à medida que forem sendo identificadas pelo sistema (entende-se por
execução);
e desenvolvimento.
37
4 CONCLUSÃO
mundo empresarial vivencia nos dias de hoje, pois os modelos de gestão anteriores não mais
conceito vai além, uma vez que a atitude, o “querer fazer”, desse colaborador também deverá
ser considerada. Primordial, também, para o sucesso desse modelo é que a organização possua
Quando analisamos as Forças Armadas fica evidente que esse modelo não poderia
ser absorvido exatamente como o é no mundo empresarial e isso se deve, basicamente, por
que: as Forças Armadas são instituições nacionais permanentes e regulares, com base na
hierarquia e na disciplina; as Organizações Militares que compõem cada uma das Forças
precisam trabalhar com os recursos humanos que possuem, pois ao contrário da maioria das
empresas, não realizam entrevistas de emprego, visando buscar as pessoas adequadas para
cada função; e seu pessoal, os militares, têm uma carreira caracterizada por atividade
ter que trabalhar com o quem está disponível, foi criar um sistema focado em desenvolver, em
o investimento em alguns “talentos”, mas sim uma ferramenta que busca a evolução de todo o
conjunto. Naturalmente, durante esse processo, poderão ser identificados militares com níveis
38
De uma forma geral, apesar do SGD ser um modelo muito recente, este trabalho
o emprego da Gestão por Competência nas Forças Armadas e que os possíveis resultados
compensarão os custos da implementação. Tal afirmação pode ser comprovada com base nos
objetivos definidos pelo Exército Brasileiro no SGD: subsidiar a melhoria do desempenho dos
os níveis.
Organizacional dos militares envolvidos no sistema como sendo o FCS não só para o SGD,
mas para qualquer modelo que venha a ser adotado pelas três Forças. Dessa forma, propõe-se
que, tanto a MB, quanto o EB e a Força Aérea Brasileira (FAB), adotem medidas de modo a
obter um maior grau de satisfação de seu pessoal, que visem melhorar o ambiente de trabalho,
Militar na qual servem, num primeiro nível, e, num segundo nível, com a própria Força. Esse
comprometimento irá gerar toda a cooperação necessária para que os objetivos anteriormente
Por fim, o programa adotado pela Força deverá dispor de um banco de dados, a
39
das competências dos militares, com intuito de permitir, em situações especiais, o emprego
na forma que mais se aproximaria do ideal: “a pessoa certa, com a capacitação adequada, no
10
Palestra realizada pela Diretoria-Geral de Pessoal da Marinha para o CEMOS-2015, na Escola de Guerra
Naval, em 26 mar. 2015.
40
REFERÊNCIAS
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