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PROBABILIDADE DE RUÍNA COMO CRITÉRIO PARA DEFINIR O COEFICIENTE


DE SEGURANÇA A SER USADO NA PREVISÃO DA CARGA ADMISSÍVEL DE
FUNDAÇÕES POR ESTACAS

Article · January 2002

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Nelson Aoki Mauro Leandro Menegotto


University of São Paulo Universidade Federal da Fronteira Sul
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PROBABILIDADE DE RUÍNA COMO CRITÉRIO PARA DEFINIR O COEFICIENTE DE
SEGURANÇA A SER USADO NA PREVISÃO DA CARGA ADMISSÍVEL DE
FUNDAÇÕES POR ESTACAS

Nelson Aoki1; Mauro Leandro Menegotto2 & José Carlos A. Cintra3

Resumo – A atual filosofia da Norma Brasileira NBR 6122/1996 de Projeto e Execução de Fundações baseia-se no
conceito de coeficiente de segurança global ou parcial. O critério atual para a escolha do coeficiente de segurança
global, quando a capacidade de carga da estaca é estimada a partir de métodos empíricos, é adotar o valor proposto pelo
autor da teoria. Entretanto, o coeficiente de segurança de um estaqueamento deveria estar associado a uma
probabilidade total de ruína. Portanto, na previsão da carga admissível de fundações por estacas, dever-se-ia levar em
conta a forma e a posição relativa das curvas de distribuição estatísticas das solicitações e das resistências. Aplicando-se
este fato, ao caso de estacas tubadas apresentado por [1], verifica-se que a probabilidade de ruína pode ser usado como
um critério racional para definir o coeficiente de segurança, na previsão da carga admissível de fundações por estacas.

Abstract – The updated Brazilian Foundation Code NBR 6122/1996 for Design and Execution of Foundations, allows
the foundation design based on the allowable stress design (ASD) or the load and resistance factor (LRFD) procedures.
The choice of the global safety factor, when the bearing capacity forecast is based on empirical methods, is established
by the authors of the method. Nevertheless, the safety factor would be related to a given total failure probability. Hence,
the prediction of the allowable load depends on the shape and relative position of the demand (load) and suply
(resistance) random variables curves. The application of these concepts in the case of a steel pipe pile job, presented in
[5], shows that the failure probability can be used as a rational criteria to define the safety factors to be used in the
prediction of the piling allowable load.

Palavras-Chave – segurança, probabilidade ruína , estaca tubada.

INTRODUÇÃO

A segurança e confiabilidade de uma fundação, requer a definição do termo fundação e o conhecimento dos
valores das solicitações e resistências referentes a este objeto de estudo. As ações do meio ambiente e as cargas
funcionais agem sobre a obra civil, definida pelo sistema estrutura + maciço de solos, provocando tensões e
deformações em cada seção, de cada parte componente do conjunto, dando origem às linhas de estado nas peças
discretas da estrutura e aos tensores de tensão e/ou deformação, nos elementos contíguos que compõem o contínuo
denominado maciço de solos. Para efeitos de análise, a estrutura pode ser subdividida em superestrutura e subestrutura
e, o maciço de solos, em várias camadas de origem, formação e constituição diversas.
Neste contexto, o conceito de carga admissível, que não se aplica a um elemento isolado de fundação, mas ao
conjunto de elementos da obra de fundação, implica no estudo estatístico da resistência e solicitação atuantes em cada
obra em particular. Ademais, a definição tradicional de fundação, que consta da NBR 6122/96, na qual o elemento
estrutural de fundação (estaca, sapata, etc.) é a própria fundação (sic) faz crer, erroneamente, que a fundação independe
das condições geotécnicas do local de execução. Por isso prefere-se definir elemento isolado de fundação como o
sistema composto por um elemento isolado da subestrutura e o maciço de solo que o envolve [2]. Logo, o conceito de
coeficiente de segurança em fundações implica na existência das funções solicitação e resistência, aplicadas ao conjunto
de elementos isolados de fundação que compõem a obra.
A solicitação atuante no elemento isolado de fundação depende de outras variáveis entre as quais se destacam: a
variabilidade das ações e das cargas externas, a concepção do projeto de fundação (i.e. o lançamento da estaqueamento),
a consideração ou não da interação estrutura – solo, a variabilidade específica das condições geotécnicas locais, etc.
A resistência do elemento isolado de fundação depende, entre outras variáveis, da citada variabilidade das
condições geotécnicas iniciais, devidamente modificadas pelo processo executivo usado na instalação do elemento
estrutural no solo, das dimensões da seção transversal e da profundidade da base deste elemento no maciço de solos.
Estas variabilidades fazem com que as curvas de distribuição estatística da solicitação e da resistência, de uma
obra de fundação, sejam únicas, em cada caso particular da prática. Neste contexto, qualquer medida da segurança ou da
confiabilidade da fundação, resulta ser uma função da posição relativa entre estas curvas e do grau de dispersão que elas

1
Escola de Engenharia de São Carlos - Universidade de São Paulo. Departamento de Geotecnia. Av. Trabalhador
Sãocarlense, 400 - Centro CEP 13566-590 - São Carlos/SP. nelson.aoki@originet.com.br
2
Escola de Engenharia de São Carlos - Universidade de São Paulo. Departamento de Geotecnia. Av. Trabalhador
Sãocarlense, 400 - Centro CEP 13566-590 - São Carlos/SP. mauro_leandro@bol.com.br
3
Escola de Engenharia de São Carlos - Universidade de São Paulo. Departamento de Geotecnia. Av. Trabalhador
Sãocarlense, 400 - Centro CEP 13566-590 - São Carlos/SP. cintrajc@sc.usp.br
apresentam. A segurança é quantificada, seja pela posição relativa das curvas, a qual é a relação entre o valor médio da
resistência e da solicitação, que é denominada coeficiente central ou global de segurança, seja pela diferença entre estes
valores, que é a margem média de segurança [3]. A confiabilidade é quantificada pela probabilidade de ruína ou pelo
índice de confiabilidade da fundação que depende não só da posição relativa como, também, das formas das duas
curvas. Para uma fundação por estacas, definida pela geometria da subestrutura em planta e em profundidade, a escolha
do coeficiente de segurança não pode ser desvinculada da probabilidade de ruína a ela associada [4]. Considerando
constante todas as demais variáveis do problema, a segurança e a confiabilidade de uma fundação por estacas, depende
da posição da superfície que une as bases dos elementos estruturais que compõem a subestrutura, a qual se denomina
por superfície resistente [5] e que é o objeto da análise.
O estudo do comportamento de diversos tipos de estaca em diversas formações geotécnicas tem sido
intensamente pesquisado nos últimos anos. O presente trabalho utiliza os dados constantes no artigo [1], que apresenta
os resultados de 13 provas de carga estática, realizadas em estacas tubadas cravadas no Cais de Alamoa em Santos – SP,
para verificar a aplicação do conceito de probabilidade de ruína como critério racional para definir o coeficiente de
segurança, na previsão da carga admissível de fundações por estacas.

SUPERESTRUTURA E FUNDAÇÃO

Denomina-se estrutura ao sistema formado pela superestrutura e a subestrutura. A superestrutura é formada por
elementos estruturais discretos (vigas, escadas, pilares, lajes, paredes, tirantes, etc.), interligados entre si de maneira a
atender a forma e geometria da arquitetura da obra. A superestrutura é formada por elementos estruturais situados
acima da superfície do terreno, sobre os quais agem as cargas ou ações externas. A Figura 1 apresenta um exemplo de
superestrutura aporticada, em equilíbrio sob ação da resultante das ações F e das solicitações normais S atuantes nas
seções transversais das bases dos pilares.

superestrutura
superfície terreno

ΣS = F

Figura 1. Equilíbrio estático da superestrutura

Na visão tradicional, fortemente influenciada por conceitos da área de engenharia de estruturas, a fundação é a
própria subestrutura, ou seja o conjunto de elementos estruturais que se encontram em contato com o maciço de solo
(sapatas, blocos, vigas de fundação, estacas, tubulões, baldrames, paredes do subsolo, radier, etc.), cuja missão é
receber e transmitir ao maciço de solo, as solicitações (esforços nas ligações com a superestrutura), com segurança,
economia e durabilidade. Na visão geotécnica, a fundação de uma obra deve ser o sistema formado pela subestrutura e
o maciço de solo que a envolve, sendo sua missão a de receber e suportar as solicitações provenientes da
superestrutura. A Figura 2 apresenta o esquema de equilíbrio estático de uma fundação cuja geometria em planta, dos
elementos que formam a subestrutura, supõe-se determinada.

elemento isolado de fundação ΣS = F superfície terreno


maciço de solo

superfície indeslocável
fundação
superfície resistente

ΣR = F maciço indeformável

Figura 2. Equilíbrio estático da fundação

Neste contexto, ao subsistema formado pelo elemento isolado da subestrutura e o maciço de solo que o
envolve, denomina-se elemento isolado de fundação (de mesmo nome). Assim sendo, a fundação pode ser definida
como o sistema formado pelo conjunto de todos elementos isolados de fundação que compõem a obra ou, também,
como o sistema formado pela subestrutura e pelo maciço de solo que a envolve [2] [7].
O maciço de solo ou sistema geotécnico é constituído por várias camadas de solo de gênese, mineralogia e
granulometria variadas, constituindo um meio contínuo sob o local da obra de engenharia civil. O maciço de solo é
limitado pela superfície do terreno, a superfície do indeslocável e, juridicamente, pelo limite do terreno (na realidade
pela projeção em planta do bulbo de pressões, que se estende além dos limites da obra). Além da continuidade física e
da diversidade de origem e formação dos materiais constituintes, a principal característica das diversas camadas de
solo que compõem o sistema geotécnico, é a indefinição da sua forma geométrica.

SUPERFÍCIE RESISTENTE

Ao se abordar o tema de fundação por estacas é fundamental caraterizar o objeto a ser analisado. Na visão
geotécnica verifica-se que a variável que particulariza um estaqueamento, cuja dimensão e geometria em planta já se
encontra previamente definida, é a profundidade alcançada pela subestrutura definida pela superfície resistente, que
torna única a fundação em estudo [5]. Assim, pode-se afirmar que, na fundação profunda, o objeto de estudo é a
superfície resistente. Fixada esta superfície, a fundação será: a) segura, se apresentar coeficientes de segurança
satisfatórios aos estados limites último e de utilização e, b) confiável, se a probabilidade de ruína da fundação for
aceitável para o usuário.
A Figura 3 apresenta um exemplo de superfície resistente da fundação de um pilar de ponte, no Rio de Janeiro -
RJ, detectada na cravação de estacas pré moldadas de concreto centrifugado de 70 cm de diâmetro, com as bases em
solo residual de gnaisse. Nota-se que a irregularidade da superfície e, a grande variação de comprimento entre estacas
próximas, deve-se à atitude sub vertical das camadas de solo neste tipo de formação [8].

Figura 3. Superfície resistente Formação Zona Litorânea da Baia da Guanabara

VARIABILIDADE DA SOLICITAÇÃO E DA RESISTÊNCIA

Os esforços solicitantes atuantes nas peças estruturais decorrem das ações ou cargas que atuam sobre a
estrutura. Assim, a variabilidade da solicitação relaciona-se com as combinações das cargas e com a variabilidade da
magnitude do valor das ações. A variabilidade pode também se originar na escolha do modelo de cálculo da
superestrutura que, via de regra, considera-se com os apoios indeslocáveis, contrariando a realidade física em que as
fundações recalcam. Assim, em um prédio sobre sapatas em argila mole, os pilares internos podem sofrer um alívio e
os da divisa um acréscimo de compressão que pode, inclusive, levar estes pilares à ruptura [9]. Logo, os esforços
solicitantes nas fundações deveriam ser calculados considerando-se a interação superestrutura - fundação. Portanto,
para o mesmo carregamento, considerando constantes todas as demais variáveis do problema, as solicitações nas
fundações dependem apenas da posição da superfície resistente. Finalmente, no próprio ato de se lançar o
estaqueamento, ao se arredondar para mais ou para menos o número de estacas sob um pilar, resulta uma variação no
valor da solicitação atuante sobre um elemento isolado de fundação deste pilar.
A capacidade de carga, ou seja, a resistência na ruptura do elemento isolado de fundação por estaca, depende da
profundidade e das condições geotécnicas finais do maciço de solo (na época em que se quer definir este valor).
Portanto, a resistência do grupo depende da posição da superfície resistente. A solicitação que leva um elemento
isolado de fundação à ruptura pode ser determinada em prova de carga estática ou dinâmica. Constitui ainda motivo de
controvérsia a definição do valor da máxima capacidade de resistência do sistema isolado de fundação. Se este
elemento isolado faz parte da fundação de uma obra, quando a solicitação atingisse este valor de resistência, ocorreria
a ruptura deste ponto de apoio isolado, a menos do efeito de grupo na ruptura. Cada elemento isolado de fundação
apresenta uma resistência individual que depende dos fatores acima enumerados. Por exemplo, a variabilidade espacial
do terreno natural faz com que estacas próximas, com mesma geometria, apresentem diferentes curvas carga - recalque
e diferentes valores de capacidade de carga. Portanto, pode-se afirmar que a resistência de cada elemento isolado da
fundação depende fundamentalmente da profundidade e das condições geológico - geotécnicas finais do maciço de
solo local, ou seja, da superfície resistente que está sendo analisada.

COEFICIENTE DE SEGURANÇA GLOBAL E PARCIAL

As normas (ou a tradição) fazem com que o mesmo valor do fator de segurança seja ilogicamente aplicado a
condições que envolvem grandes faixas de incerteza [10] que, portanto, não refletem a variabilidade dos materiais [11]
e o aspecto probabilista das variáveis envolvidas [12] [13].
As solicitações ou esforços solicitantes nas peças estruturais decorrem do efeito das ações ou cargas aplicadas
na estrutura. A estabilidade do elemento isolado de fundação exige que, em qualquer ocasião, a solicitação seja menor
que a resistência. Define-se coeficiente de segurança de um elemento de fundação isolado, pela relação:
Cs,i = Ri / Si (1)
onde: Cs,i = coeficiente de segurança do elemento isolado; Ri = capacidade de carga do elemento isolado; Si =
máxima solicitação atuante na direção do esforço.

Estendendo-se este raciocínio, pode-se aplicar a análise estatística aos valores das solicitações e das resistências
relativos a todos elementos isolados que compõem a fundação. Nesta análise pressupõe-se que a resistência real do
grupo de elementos isolados de fundação é maior que a soma das resistências individuais dos elementos isolados.
Para uma fundação formada por um conjunto de n elementos isolados, o coeficiente de segurança global Cs
relaciona a resistência média Rm com a solicitação média Sm.
Cs = Rm / Sm (2)
Esse conceito de coeficiente de segurança global baseia-se na crença, largamente difundida no meio técnico, de
que o valor esperado mais provável de ocorrência é o valor médio da variável em estudo. Neste caso desconsidera-se a
dispersão de valores de resistência em torno do valor médio, não importando se o desvio padrão é grande ou pequeno.
Desta concepção resulta a noção de carga admissível Padm, a máxima solicitação que pode ser aplicada com
segurança à fundação, para um dado coeficiente de segurança global em relação à ruptura:
Padm = Rm / Cs (3)
Atualmente a norma NBR6122 prescreve coeficiente de segurança global de: a) CS = 2,0 (no caso de obras sem
provas de carga) e, b) CS = 1,6 (no caso de obras com provas de carga). Assim, de acordo com essa norma, o
coeficiente de segurança global variaria entre:
1,6 < Cs ≤ 2,0 (4)
Na prática considera-se que a solicitação de qualquer elemento isolado de fundação atenda à seguinte condição
de verificação da segurança global:
Si ≤ Padm (5)
Como conseqüência, o real coeficiente de segurança global é maior que o valor Cs da fórmula (2).

A Figura 4 apresenta as curvas de densidade de probabilidade de ocorrência dos esforços solicitantes S e das
resistências R, da fundação de uma determinada obra.

(CS-1).Sm
fS(Si)
probabilidade
Densidade de

fR(Ri)

pF
0 Sm Sk Sd ≤ Rd Rk Rm Ri, Si

Sm (γS-1).Sm (γf –1).Sk Rk.(1-1/γm) Rm.(1-1/γR)

Figura 4. Curvas de solicitações e resistências e de coeficientes de segurança.

Os valores característicos das solicitações e das resistências referem-se à probabilidade de 5% de ocorrência:


Sk = Sm + 1,645 σS; Rk = Rm - 1,645 σR (6)
onde: σS = desvio padrão das solicitações; σR = desvio padrão das resistências. Os coeficientes de variação
correspondentes valem:
vS = σS / Sm e vR = σR / Rm (7)
Na Figura 4 foi adotada a seguinte notação para os coeficientes parciais:
γS = Sk / Sm = (1+1,645.vS);
γR = Rm / Rk = 1/ (1-1,645.vR);
γf = coeficiente parcial de majoração das solicitações;
γm = coeficiente parcial de minoração das resistências.
A verificação da segurança, quando se utilizam coeficientes parciais de segurança, é feita comprovando-se que:
Sd ≤ Rd (8)
onde: Sd = Sk.γf = Sm.γS.γf = solicitação de cálculo; Rd = Rk / γm = Rm / (γm.γR) = resistência de cálculo.
O coeficiente de segurança global corresponde ao produto de coeficientes variáveis e fixos em norma e vale:
CS = (γS . γR) . (γf . γm) = (γvariável) . (γnorma) (9)

PROBABILIDADE DE RUÍNA E ÍNDICE DE CONFIABILIDADE

Qualquer medida da segurança ou da confiabilidade é função da posição relativa e do grau de dispersão das
curvas de densidade de probabilidade da solicitação fS (S) e, da resistência fR (R). Considera-se que estas curvas
referem-se a uma superfície resistente que representa a fundação da obra em estudo. Neste caso a probabilidade de
ruína total, integral que envolve a relação entre a distribuição de solicitação e resistência do grupo, pode ser expressa
[3] por:
8

pF = ∫ FR (R) . fS (S) dx (10)


o

A equação (10) é a convolução em relação à solicitação fS (x) e envolve a probabilidade de ocorrência de


valores correntes de resistências fR (x) iguais às solicitações fS (x). No ponto A das Figuras 4 e 5, a densidade de
probabilidade de solicitação e de resistência são iguais. A curva de densidade de probabilidade do valor pF encontra-se
na região de superposição, ou seja, sob a curva de resistência à esquerda do ponto A e, sob a curva de solicitação à
direita do mesmo ponto. Quanto maior a área sob esta curva, maior a probabilidade de ruína, ou seja, menor a
confiabilidade da fundação (vide Figura 4).
área = FR (x)
probabilidade
Densidade de

fS (S) fR (R)
A

0 x x = S,R
região de superposição sob as curvas S e R
Figura 5. Funções de densidade de probabilidade fR(R) e fS(S)
No método do índice de confiabilidade, para distribuições de resistência e solicitação normais, pode-se
trabalhar com a função margem de segurança Z, mostrada na figura 6:

falha Z<0 Z>0 sobrevivência


Zm= β.σZ
probabilidade

fronteira de ruptura Z = 0 Z=(R-S)


densidade

R = resistência
pF S = solicitação

0 Zm= (Rm - Sm)


Figura 6. Método do índice de confiabilidade
Neste caso a função margem de segurança vale:
Z = (R - S) (11)
A ruína ocorre quando Z = 0 ou seja quando R = S. Portanto, a probabilidade de ocorrência de valores no
intervalo Z = 0 e Z = Zm é uma medida de confiabilidade da fundação. Em termos de unidades σZ (desvio padrão de Z)
este valor é igual a (β.σZ), onde β é denominado índice de confiabilidade, calculável pela expressão:
β = (Rm - Sm)/(σS2 + σR2 )0,5 (12)
Na área da Engenharia de Fundações os autores consideram aceitável o valor β = 3,09, que conduz a uma área
pF = 1,0·10-3, ou seja, cerca de uma probabilidade de ruína em 1000 eventos.

DEFINIÇÃO DE COEFICIENTE DE SEGURANÇA PARA PREVISÃO DA CARGA ADMISSÍVEL

As Figuras 4, 5 e 6, mostram que o critério para a escolha do coeficiente de segurança deve ser associado às
formas das curvas de distribuição estatística de solicitação e resistência. Ao se afastar ou aproximar as curvas fR(R) e
fS(S) aumenta-se ou diminui-se a segurança ou a probabilidade de ruína e as duas variáveis não podem ser tratadas de
forma independente. Portanto, o coeficiente de segurança deve ser associado a uma probabilidade de ruína.
Uma aplicação imediata das noções desenvolvidas neste texto é a da escolha do coeficiente de segurança a ser
aplicado em um determinado método empírico de cálculo de capacidade de carga. Neste caso a verdadeira distribuição
das resistências de determinado tipo de estaca, executada em uma dada formação geotécnica, pode ser conhecida por
meio de provas de carga estática. A Tabela 1 mostra os resultados de 13 provas de carga em estacas tubadas com ponta
fechada executadas no Cais de Alamoa em Santos – SP e as previsões da capacidade de carga pelo método de Aoki &
Velloso (1975) [6], apresentados no artigo [1].
Neste quadro, tendo em vista a diversidade de diâmetros de estacas, a análise estatística das resistências
medidas nas provas de carga estática e previstas no método empírico, foi efetuada em termos de tensão média no
concreto (referida à área da seção transversal homogeneizada do fuste da estaca). O mesmo raciocínio aplica-se às
solicitações. Ademais, os valores calculados de resistência e solicitação, partem da premissa básica de que cada estaca
da tabela, apresenta igual grau de representatividade no estaqueamento estudado.

Tabela 1. Resultados de provas de carga estática e previsão de carga de ruptura por método empírico
Resistência Tensão resistente
Estaca D e A Solicitação Tensão solicitante
nº (mm) (mm) (m²) (kN) Real Prevista (kPa) Real Prevista
(kN) (kN) (kPa) (kPa)
20 460 9,5 0,1799 1600 5193 5039 8893 28861 28005
177 355 8,0 0,1079 900 2616 2048 8341 24248 18980
13 460 9,5 0,1799 1600 3380 4201 8893 18787 23347
140 405 8,0 0,1390 1300 4345 4467 9352 31260 32137
145 355 8,0 0,1079 400 1868 2769 3707 17312 25663
126 355 8,0 0,1079 400 1539 2780 3707 14259 25760
164 355 8,0 0,1079 900 2908 2709 8341 26950 25106
E-1 405 8,0 0,1390 1200 3022 3688 8633 21743 26532
E-61 355 8,0 0,1079 900 2957 2956 8341 27408 27395
237 405 8,0 0,1390 1200 3249 3887 8633 23373 27960
16 405 8,0 0,1390 1200 3347 3912 8633 24081 28140
52 405 8,0 0,1390 1200 3534 4010 8633 25424 28850
52-PT 355 8,0 0,1079 900 2890 2608 8341 26785 24172
Média - - - - - - 7881 23884 26311
Desvio - - - - - - 1874 4818 3160
v (%) - - - - - - 23,79 20,17 12,01
onde: D – diâmetro da estaca; e – espessura da chapa de aço; A – área homogeneizada.

Na Tabela 1 as tensões resistentes correspondem à realidade constatada com provas de carga e à previsão por
método empírico. Considera-se que a previsão é satisfatória quando: a) a resistência média prevista é igual a medida;
b) quando o coeficiente de variação da resistência prevista é igual ao valor medido. No presente caso verifica-se que a
resistência prevista é ligeiramente maior do que a medida (+ 10%) e que o coeficiente de variação previsto é cerca de
60% do valor medido. A diferença entre o coeficiente de variação previsto e real pode ser explicada, entre outros, por:
a) o método levar em conta apenas a variabilidade detectada pelas sondagens; b) representatividade da sondagem
devido à distância até a estaca; c) variabilidade na espessura e atitude das camadas de solo e d) variabilidade
introduzida pela própria execução da estaca.
A Tabela 2 apresenta os resultados das análises realizadas, a partir dos dados da Tabela 1, para:
a) determinação de Cs, β e pF, para a tensão solicitante e as tensões resistentes real e prevista;
b) determinação de pF, β e Sm, para o coeficiente global Cs = 1,6 e as tensões resistentes real e prevista;
c) determinação de pF, β e Sm, para o coeficiente global Cs = 2,0 e as tensões resistentes real e prevista;
d) determinação de Cs, pF e Sm, para o índice de confiabilidade β = 3,09 (valor proposto para obras de fundações) e as
tensões resistentes real e prevista.

Tabela 2. Resultado das análises para as estacas tubadas no Cais de Alamoa em Santos – SP
Sm vS Rm vR
Combinações Caso CS β pF
(kPa) (%) (kPa) (%)
a 3,03 3,10 1/1018 7881 23884
1) tensão solicitante e b 1,60 1,45 1/15 14928 23884
23,79 20,17
tensão resistente real c 2,00 2,14 1/61 11942 23884
d 3,02 3,09 1/1000 7902 23884
a 3,34 5,02 1/3794240 7881 26311
2) tensão solicitante e b 1,60 1,96 1/40 16444 26311
23,79 12,01
tensão resistente prevista c 2,00 2,96 1/646 13156 26311
d 2,06 3,09 1/1000 12767 26311

Para a combinação (1a) de tensão solicitante e tensão resistente real, o coeficiente de segurança é igual a 3,03 e
a probabilidade de ruína associada a tensão admissível de 7881 kPa é igual a 1 para 1018. O coeficiente de segurança é
compatível com as prescrições da norma NBR 6122 e a probabilidade de ruína é compatível com o critério proposto.
Note-se que a fixação arbitrária de coeficientes de segurança global de 1,6 e 2,0 (combinações 1b e 1c) conduz a
probabilidades de ruína inaceitáveis de 1 para 15 e 1 para 61, respectivamente, justificando a eficácia do critério
proposto. Para a combinação (2a) de tensão solicitante e tensão resistente prevista, o coeficiente de segurança é igual a
3,34 e a probabilidade de ruína associada a tensão admissível de 7881 kPa é praticamente igual a zero. A fixação de
coeficientes de segurança global de 1,6 e 2,0 (combinações 2b e 2c) conduz a probabilidades de ruína inaceitáveis de 1
para 40 e 1 para 646, respectivamente. A tensão admissível de 12767 kPa, correspondente a probabilidade de ruína de
1 para 1000, não deve ser utilizada neste caso particular porque o coeficiente de variação da resistência não
corresponde ao valor inferido pelas provas de carga., por razões anteriormente discutidas. Para atender o valor da
tensão admissível de 7902 kPa, a qual corresponde a uma probabilidade de ruína de 1 para 1000 da combinação (1d),
verifica-se que o coeficiente de variação de resistência prevista deveria ser igual a 21,49% ao invés de 12,01% e, neste
caso, o coeficiente de segurança a ser usado no método de previsão seria de 3,33.
O comportamento real deste tipo de estaca pode ser observado na Figura 7 que apresenta as curvas de
densidade de probabilidade na combinação (1a) de tensão solicitante e a tensão resistente real.

S (kN) R (kN) pF sistema


2,5E-04 3,0E-06
DP solicitação & resistência .

2,0E-04 2,4E-06
.
DP ruína sistema

1,5E-04 1,8E-06

1,0E-04 1,2E-06

5,0E-05 6,0E-07

0,0E+00 0,0E+00
0 10000 20000 30000 40000
Solicitação & Resistência (kPa)
Figura 7. Curvas das solicitações, resistências das provas de carga e probabilidade de ruína

A realidade de resistências observadas nas provas de carga (caso a da Tabela 2), indica que o coeficiente de
segurança global é de 3,03. Neste caso, os coeficientes de segurança parciais valem:
γS = Sk / Sm = (1+1,645.0,2379) ∴ γS = 1,391
γR = Rm / Rk = 1/ (1-1,645. 0,2017) ∴ γR = 1,497
γvariável = 1,391 . 1,497 ∴ γvariável = 2,082
γnorma = 3,03 / 2,082 ∴ γnorma = 1,455
Portanto, fixando-se o fator parcial de minoração de resistência γm = 1,2, resulta um coeficiente de majoração
de solicitação γf = 1,213, valor inferior a 1,4 preconizado na norma brasileira NBR 8681. Este fato reforça a
proposição formulada em [14]. Note-se que o Eurocode 7 [15] recomenda γf = 1,0 para pressão de água e cargas
acidentais, γf = 1,1 para cargas permanentes e γf = 1,5 para cargas móveis e ambientais, o que mostra a necessidade de
revisão da norma NBR 8681.

CONCLUSÕES

Em cada caso de obra de fundação por estacas, o critério para a escolha do coeficiente de segurança na previsão
da carga admissível, deve ser feito considerando-se a probabilidade de ruína associada. No caso particular de estacas
tubadas executadas no Cais de Alamoa em Santos – SP, verificou-se que a fixação arbitrária de coeficientes de
segurança global de 1,6 e 2,0 conduziu a probabilidades de ruína inaceitáveis, seja no caso de resistências medidas nas
provas de carga seja no caso de resistências previstas por método empírico. Em ambos os casos a probabilidade de ruína
mostrou ser um critério eficaz para definir o coeficiente de segurança a ser usado na previsão da carga admissível.
O valor do coeficiente de segurança global envolve fatores variáveis e fatores fixos. O coeficiente de majoração
de solicitação γf, componente da parcela fixada em norma, deveria ser reformulado a luz de novos estudos a serem
efetuados com base nos bancos de dados de provas de carga existentes.

AGRADECIMENTO

Agradecemos ao Professor Lázaro Valentin Zuquette pelas valiosas sugestões para o desenvolvimento deste
trabalho.

REFERÊNCIAS

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[13] Kay, J. N. (1993). Probabilistic design of foundations and earth structures. Probabilistic Methods in Geotechnical
Engineering, Balkema, Rotterdam, pp. 49-62.
[14] Oliveira, S.K.F. (1998). Contribuição ao estudo da verificação da segurança das fundações profundas. Dissertação
(Mestrado) - Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo. 106p.
[15] CEN. (1992) Geotechnical Design, general rules. European Committee for Standardization (CEN), Eurocode 7.
Danish Geotechnical Institute, Copenhagen.

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