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Um olhar sobre

a metrópole paulistana

Boreal
Um olhar sobre

a metrópole paulistana

Ana Paula Ribeiro


Licenciada em Pedagogia pela Universidade Federal de
São Carlos e em Geografia pela Universidade Paulista.
Professora da rede municipal de ensino de São Paulo.
Editora de livros didáticos.

Daniella Barroso
Licenciada em Geografia pela Universidade de São
Paulo. Professora do Centro Paula Souza, em São
Paulo. Editora de livros didáticos.

1a edição
São Paulo, 2018

Boreal
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Laura Emilia da Silva Siqueira CRB 8-8127)

Ribeiro, Ana Paula; Barroso, Daniella.


Um olhar sobre a metrópole paulistana / Ribeiro, Ana Paula ; Barroso, Daniella.
1a ed. São Paulo: Boreal Edições: 2018.
64 p.; il.; mapas; 20 x 20 cm.

ISBN 978-85-68256-14-5

1. Áreas metropolitanas 2. Cidades: aspectos sociológicos I. Ribeiro, Ana Paula.


II. Barroso, Daniella.

CDU 316.3 CDD 307.76

Índices para catálogo sistemático:

1. Áreas metropolitanas: São Paulo (cidade)


2. Cidades: aspectos sociológicos: São Paulo (cidade)

Edição de texto: Ana Paula Ribeiro e Daniella Barroso


Projeto gráfico: Nina Alves
Cartografia e ilustrações: Alessandro Passos da Costa e Carlos Caminha
Foto de capa: Daniella Barroso
Viver em uma metrópole não é nada fácil. Ainda mais para uma criança. O vaivém de

pessoas e veículos deixa nossa vida agitada e “corrida”. Muitos moradores se queixam de

falta de tempo para muitas atividades, como passear e se divertir, e também para descansar.

Porém, viver em uma metrópole significa estar em contato com muitas ideias e práticas

sociais. Isso encanta muitas pessoas!

Nossa metrópole é a mais populosa da América do Sul. Uma das maiores do mundo.

Entre as milhões de pessoas, há quem nasceu aqui e quem chegou quando criança ou

adulto. Alguns escolheram vir para cá; muitos decidiram permanecer, apesar de todos os

problemas.

Este livro foi escrito por uma paulistana e uma belorizontina. Ambas apaixonadas por

essa metrópole. Nosso principal objetivo é apresentar a vocês aspectos da vida metropolitana

que podem ajudá-los a viver melhor aqui. Bom trabalho!

As autoras.
Sumário

Introdução
Região metropolitana, município, cidade .......................................................... 8

Unidade 1
O que significa viver em uma metrópole? ....................................................... 12
A “correria” do dia a dia .................................................................................................... 14

Ir ao centro? ........................................................................................................................ 18

Uma metrópole e muitos centros ....................................................................................... 21

Unidade 2
Criança tem vez em São Paulo? ........................................................................... 26
Cidade de bairros: o exemplo de Guararema .................................................................. 28

A interligação com cidades vizinhas ............................................................................................. 31

A integração de São Paulo com as cidades vizinhas ...................................................... 34

Brincar em uma metrópole ............................................................................................... 37

Crianças se divertem na metrópole? .................................................................................. 38

Redes de lazer e cultura na metrópole paulistana ......................................................... 40


Unidade 3
Como nos deslocamos em São Paulo? .............................................................. 44
Como percebemos os trajetos do dia a dia? .................................................................... 46

Os principais meios de transporte na metrópole paulistana ........................................ 48

A circulação de carros ........................................................................................................ 50

Os transportes coletivos e a formação da metrópole .................................................... 51

O loteamento das chácaras ............................................................................................................ 52

Unidade 4
Quem vive na metrópole paulistana? ............................................................... 56
A população metropolitana .............................................................................................. 58

O aumento populacional ................................................................................................... 59

A população migrante em São Paulo .................................................................................. 60

Comunidades indígenas na metrópole ............................................................................ 61

Referências bibliográficas ........................................................................................ 64


Região metropolitana,
Introdução
município, cidade...
HUGO MARTINS/FLICKR

Vista aérea de São Paulo (SP, 2015).


Nesta introdução, vamos conhecer
o significado da expressão “região
metropolitana” e sua relação com o
município e a cidade.
A cidade é um tipo de assentamento humano encontrado em grande parte das
sociedades. Na cidade, muitas pessoas compartilham um espaço repleto de elemen-
tos construídos pelo ser humano, como casas, prédios, calçadas, ruas e praças.
O trabalho na cidade é muito parcelado: uns vivem de fabricar coisas, outros são
responsáveis por vendê-las; alguns ensinam a ler e escrever, outros ensinam como
fabricar coisas; há quem seja responsável pelos serviços públicos. Esse parcelamen-
to do trabalho também está cada vez mais presente em atividades agropecuárias,
como a produção de grãos para as indústrias.
O município é uma unidade política criada por lei. O objetivo é organizar a
administração pública. No Brasil, o município é a unidade política mais próxima das
pessoas: prefeitos e vereadores recebem um mandato dos eleitores para ­administrar
o funcionamento dos serviços públicos em todo o território municipal. O município
é, em geral, composto de uma área maior do que a cidade, pois ele abrange tam-
bém o campo.
Quando se usa o termo “metrópole paulistana”, não há uma definição rígida
a respeito da área abarcada. A cidade de São Paulo está fisicamente conectada a
algumas cidades, formando uma grande aglomeração urbana – algumas cida-
des cresceram muito e acabaram encontrando cidades vizinhas. Cada município é
administrado por uma prefeitura e isso pode gerar muita confusão. Para ajudar na
administração, os estados podem criar, por meio de lei, regiões metropolitanas. A
região metropolitana é, portanto, uma unidade administrativa criada por lei.
Algumas instituições são criadas para organizar diversos temas comuns às cida-
des que formam uma região metropolitana. A CPTM, que administra trens urbanos,
e a EMTU, que cuida de ônibus intermunicipais, são empresas criadas para organizar
serviços públicos na Região Metropolitana de São Paulo (ou Grande São Paulo).

10
48°o

MS
MG
Região Metropolitana de São Paulo
RJ

Trópico de capricórnio
Francisco Santa Isabel
Morato Mairiporã
Franco da Rocha PR
OCEANO
Cajamar ATLÂNTICO
Pirapora
do Bom Caieiras
Arujá
Jesus
Guarulhos
Guararema
Santana de
Parnaíba
Itaquaquecetuba

ALESSANDRO PASSOS DA COSTA


Barueri
Osasco Poá
10 Jandira
Carapi- São Paulo
Itapevi cuíba Ferraz de Salesópolis
Vasconcelos Mogi das
Vargem São Caetano Cruzes Biritiba
Grande Taboão Suzano Mirim
do Sul
Paulista Embu das da Serra
Artes Mauá
Riberão
Cotia Diadema Pires
Itapecerica Rio Grande
da Serra da Serra
André
Santo
São Bernardo
do Campo
Embu-Guaçu
São Lourenço
da Serra

Juquitiba
OCEANO ATLÂNTICO

Elaborado com base em dados do Centro de Estudos da Metrópole. Disponível em: <www.fflch.usp.br/
centrodametropole>. Acesso em: 19 maio 2014.

A Região Metropolitana de São Paulo é essa grande área colorida do mapa. Ela é
composta de 39 municípios. As manchas mais escuras indicam as áreas das cidades:
vários municípios têm uma cidade pequena. Explorar esse mapa é muito importante
para compreender aspectos da metrópole que são apresentados a seguir. Nele, es-
tão representados limites políticos e administrativos.
A metrópole é composta de relações de polarização – uma cidade exerce forte
influência sobre outras e passa a comandar a vida dos moradores dessas cidades.
Para traçar seus limites, é preciso escolher dados que representem essa polarização.

11
O que significa viver
Unidade 1 em uma metrópole?

Rua São Bento, em São Paulo (SP, 2017).


TOBITA MATSUKI/FLICKR
A “correria” e a falta de tempo
são algumas das mais frequentes
reclamações feitas pelos moradores
da Grande São Paulo. Por que essa
sensação de estarmos sempre correndo
é uma características das metrópoles?
A “correria” do dia a dia
A sensação de falta de tempo é uma das principais características da vida nas
metrópoles. Na metrópole paulistana, onde vivemos, grande parte das pessoas ocu-
pa todo o seu dia no trabalho e nos deslocamentos para chegar lá e retornar para
casa. Quanto tempo as pessoas que você conhece gastam indo e voltando do tra-
balho? Que outras atividades eles conseguem realizar em seu dia?
Vamos conhecer o dia a dia de uma família que vive na Grande São Paulo e que
é um exemplo de como a vida é tão apressada nessa metrópole.
Paulo é morador de São Bernardo do Campo. Ele trabalha na avenida Berrini, no
Brooklin, em São Paulo. Uma vez por mês, na hora do almoço, ele busca sua filha,

Trecho da Região Metropolitana de São Paulo

48°o Escola da
Amélia
MS
MG

RJ

OSASCO Trópico de capricórnio

PR
OCEANO
ATLÂNTICO

SÃO PAULO Trabalho


Trabalho da do Paulo
Fernanda

Casa da
Amélia
Elaborado com base em dados do Centro de Estudos da Metrópole. Disponível em: <www.fflch.usp.br/
centrodametropole>. Acesso em: 19 maio 2014.

14
Amélia, na escola e a leva ao consultório do dentista. Em uma hora é possível fazer
isso? Ninguém se atreveria a responder essa questão sem saber onde fica a escola e
o consultório do dentista, não é?
Bom, vamos dar uma olhada nesses trajetos no mapa abaixo.
Paulo não vive na mesma casa de sua filha, assim o jeito mais fácil de levá-la ao
dentista é usando seu horário de almoço, que dura apenas uma hora. Para isso, é
preciso evitar ter de ir muito longe! A escolha do dentista levou em consideração a
proximidade entre o consultório e a escola da menina.
Nas metrópoles, precisamos planejar bem onde realizar as atividades do dia a dia
considerando sempre o tempo de deslocamento.

Casa do

ALESSANDRO PASSOS DA COSTA


Paulo

SÃO
BERNARDO
DO CAMPO
875

15
Nesse dia, Amélia acordou às 5h30. Às 6h10, ela e seu avô, Joaquim, já estavam
no ponto de ônibus. Felizmente o ônibus não atrasou e eles desembarcaram na ave-
nida Rebouças, no bairro de Pinheiros, às 6h40! Uma breve caminhada e a menina
chegou a sua escola; seu avô pôde, então, ir para o trabalho. Na saída da escola, às
12h20, seu pai a esperava para irem ao dentista. Eles comeram um sanduíche no
caminho até o consultório. Ao fim da consulta, ela encontrou seu avô. Mas eles não
foram direto para casa: passaram na farmácia, na padaria e no supermercado no
caminho até o ponto de ônibus. Ufa!
No Jardim Bonfiglioli, bairro onde a família vive, há farmácias, padarias e super-
mercados, mas Joaquim prefere o comércio de Pinheiros. Em Pinheiros, os preços são
mais baixos e os locais de comércio estão todos concentrados em uma área pequena

Bairro de Pinheiros, em São Paulo (SP)

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Trópico de capricórnio

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ALESSANDRO PASSOS DA COSTA


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OCEANO
ATLÂNTICO

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Butantã Av.
Re
Av
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Escola
Padaria Supermercado
ria

da Amélia
Lim

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Av. Eusébio
a

Trabalho
do Joaquim Metrô Banco

Ponto
210 de ônibus Correio Dentista

Elaborado com base em dados do Centro de Estudos da Metrópole. Disponível em: <www.fflch.usp.br/
centrodametropole>. Acesso em: 19 maio 2014.

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do bairro, assim ele não precisa caminhar muito para encontrar tudo o que precisa. Ele
aproveita, então, o fato de trabalhar em Pinheiros para ir ao banco, aos Correios, fazer
compras e praticar atividades físicas (duas vezes por semana, ele e sua neta nadam na
piscina pública).
Essa garota tem uma vida corrida! Ela sai de casa às 6h da manhã e só retorna às
5h da tarde! Se ela frequentasse uma escola próxima a sua casa, teria mais tempo para
ficar em casa, brincar e fazer os deveres. Mas seus avós e seu pai trabalham o dia todo
e não podem, ainda, deixá-la ir à escola sozinha e também não querem que fique em
casa sem a companhia de um adulto.
Os avós e o pai de Amélia têm horários rígidos para entrar e sair do trabalho,
por isso, tentam “encaixar” as demais atividades no horário do almoço e na saída
da empresa, de preferência no caminho para tomar a condução.
Se você já morou ou conhece alguém que vive numa cidade pequena, deve estar
pensando que lá também há pessoas cheias de compromisso durante o dia – isso
não ocorre apenas nas metrópoles. É verdade.
Há, no entanto, diferenças importantes:

• Numa cidade pequena, poucas pessoas têm um local de trabalho mui-


to distante da residência. Já nas metrópoles, poucas pessoas vão a pé para o
trabalho.
• Nas cidades pequenas, o comércio fica, em geral, concentrado no centro da cidade
e é fácil e rápido chegar até lá. Ir de um lugar a outro é rápido e, em geral, seguro,
mesmo para as crianças.

17
Cultura urbana
Muitos estudiosos afirmam que essa “correria” cotidiana é parte da cultura ur-
bana, ou seja, é parte da forma como vivemos nas cidades. Observe as pessoas com
quem você convive: quantas passam seus dias sem “se preocupar com o relógio”?
Grande parte dos moradores das metrópoles vive de lá para cá, às voltas com
muitos compromissos com horário marcado. Como as distâncias costumam ser lon-
gas, eles precisam calcular o tempo gasto e até mesmo prever os contratempos. É
uma grande “maratona”!

Ir ao centro?
Amélia e seus avós moram no Jardim Bonfiglioli. Sabemos que ela e seu avô vão
todos os dias a Pinheiros. Assim como eles, muitos moradores do Jardim Bonfiglio-
li dirigem-se a Pinheiros para realizar atividades cotidianas. Pinheiros é um centro
da região oeste de São Paulo. Ali encontramos escritórios, lojas, comércio de rua,
shopping centers, consultórios médicos, clínicas, hospitais etc.
Fernanda, a avô da menina, no entanto, quase nunca vai a Pinheiros. Ela traba-
lha em Osasco e consegue encontrar quase tudo de que precisa na área comercial
da cidade. Na saída do trabalho, ela compra aquilo que falta para o jantar no ca-
minho para o estacionamento, onde guarda seu carro. Ela é também responsável
por comprar o que é pesado e não poderia ser transportado nos ônibus. Ela sempre

18
encontra bons preços no comércio de Osasco, pois lá pode-se encontrar filiais de
diversos estabelecimentos comerciais grandes.
O centro da cidade de Osasco é a principal referência para Fernanda. Ela co-
nhece melhor o comércio de lá do que o do bairro onde mora, o Jardim Bonfiglioli.
Ela deixa o carro em um estacionamento em uma rua do centro e caminha até o
trabalho, por isso sabe onde pode encontrar tudo de que precisa em seu dia a dia.
O pai da Amélia costuma fazer suas compras no centro da cidade de São Ber-
nardo do Campo. Ele desce no terminal de ônibus do centro e caminha até sua
residência. Próximo ao terminal, há padaria, supermercado e muitas lojas. Sempre
que precisa de algo, ele sai do terminal, faz suas compras e depois segue viagem até
sua casa. No Brooklin, onde trabalha, também há muitas lojas, mas os preços são
mais caros do que em São Bernardo do Campo. Por isso, em sua hora de almoço ele
utiliza apenas os bancos e a agência de Correios de lá.

Trabalho Escola da
do Joaquim Amélia

Casa do
Paulo
Trabalho da
Fernanda Trabalho
Casa da do Paulo

ALESSANDRO PASSOS DA COSTA


Amélia

Lojas Supermercado Hortifruti

Correios Banco Natação

Farmácia Açougue Padaria

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Os membros dessa família circulam por diferentes partes da metrópole. Eles
conhecem diversos centros: Pinheiros e Brooklin, na cidade de São Paulo; o centro
da cidade de Osasco e o centro da cidade de São Bernardo do Campo. E moram em
cidades diferentes da metrópole: no bairro do Jardim Bonfiglioli, em São Paulo, e
Nova Petrópolis, em São Bernardo do Campo.
Os centros são espaços de concentração de comércio, de instituições públicas
e de prestação de serviços.

DANIELLA BARROSO
Rua do centro de São
Paulo (SP, 2010).
As prefeituras oferecem, em geral, alguns locais onde os moradores podem ter
acesso a serviços públicos. As câmaras municipais funcionam em um única sede no
município. No judiciário, os fóruns e os tribunais estão, em geral, concentrados em
uma parte da cidade. A concentração dessas instituições colabora para a formação
dos grandes centros.
Há, no entanto, instituições que estão espalhadas pelas cidades, como as agên-
cias bancárias. Os bancos instalam agências em diversos pontos da cidade, com o
objetivo de atender seus clientes e também de convencer outras pessoas a utilizar
seus serviços.

Uma metrópole e muitos centros


A metrópole paulistana tem diversos centros. Ela é formada por vários municípios
e cada município tem seu centro administrativo. Além disso, os municípios mais
populosos, São Paulo e Guarulhos, têm mais de um centro.
Em São Paulo, o município mais populoso da metrópole, podemos identificar
pelo menos três grandes áreas centrais:
• o Centro,
• a Paulista, e
• a Berrini/Marginal Pinheiros.
Há, ainda, muitos outros centros menores, como Pinheiros.
Amélia conhece muito bem o comércio de Pinheiros. Ela circula pelo bairro todos
os dias, a caminho da escola e no retorno para casa. A piscina que ela frequenta
fica em Pinheiros. A biblioteca pública também. E não há oferta desses serviços no
Jardim Bonfiglioli.

21
Todos os meses, seus avós a levam ao Centro. Eles gostam muito de orquestras e
frequentam a Sala São Paulo. O caminho de ônibus é longo, por isso eles preferem
seguir de metrô. Da estação Butantã até a estação Luz, eles levam menos de
20 minutos!
CARLOS CAMINHA

22
Apesar de contarem com o comércio de Pinheiros e Osasco à disposição, Joa-
quim e Fernanda preferem ir ao Brás quando precisam comprar roupas e calçados.
Os preços compensam a longa distância. O comércio atacadista possibilita oferecer
preços mais baixos, atraindo grande quantidade de pessoas.
De todos os passeios que faz com seu
pai e seus avós, Amélia gosta especial-
mente de andar de bicicleta na ciclofaixa
da avenida Paulista. Aos domingos, a cir-
culação de carros é reduzida e duas fai-
xas ficam reservadas para a circulação de
bicicletas.
Além disso, muitas pessoas caminham
pelas calçadas da avenida aos domingos:
algumas estão a caminho do cinema;
outras, em busca de um local para almo-
çar. Há também quem só queira caminhar
um pouco pela avenida.
Na avenida Paulista, encontramos se-
des de diversas instituições financeiras e
industriais. No entanto, esse centro da
cidade se destaca, atualmente, pela gran-
de oferta de atividades culturais e por
receber diversas manifestações de rua.

23
Reflexão
Em 2013, durante o mês de junho, um conjunto de grandes manifestações con-
tra o aumento da tarifa dos transportes públicos movimentou a metrópole paulis-
tana. Após três semanas de manifestações, o aumento da tarifa dos ônibus, trens e
metrôs foi cancelado!

Manifestantes na avenida Paulista em


20 de junho de 2013.

MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL


Os encontros eram marcados pela internet, em redes sociais. As pessoas se con-
centravam em um local de fácil acesso e, então, caminhavam juntas por diversas
avenidas de São Paulo. Um dos principais itinerários incluía a avenida Paulista. Em
um dia de manifestações em São Paulo, dois manifestantes foram entrevistados em
programa de televisão. Um dos entrevistadores perguntou se eles achavam “bom
parar a cidade”.
Leia a seguir a resposta que eles deram.
[José Vicente Filho, coronel da PM] Isso é impossível. 100 mil pes-
soas? Isso travaria completamente a cidade.
[Nina Cappello] E travou completamente a cidade.
[...]
[José Vicente Filho, coronel da PM] Vocês acham bom parar a cida-
de?
[Nina Cappello] Bom, a cidade é travada todos os dias!
[Lucas Oliveira] Vamos pegar qual é o recorde de congestiona-
mento da cidade? Não tinha nenhuma manifestação política. Só tinha
pessoas dentro de seus carros nos recordes de congestionamento.
Nenhuma das manifestações que a gente fez deu recorde de conges-
tionamento. Os recordes foram só as pessoas dentro dos seus carros.
E, aliás, se a gente faz manifestação em uma ou duas vias e isso para a
cidade, isso demonstra que a cidade já está parada e não é culpa nos-
sa que ela está parando. Não é uma questão da nossa mobilização.
Transcrição de trecho do programa Roda Vida, da TV Cultura, exibido em 17 de junho de
2013. Disponível em: <http://youtu.be/BYASRwXiQ4g>. Acesso em: 4 jan. 2014.
Criança tem vez em
Unidade 2 São Paulo?
KONSTANTIN CHRISTIAN/SHUTTERSTOCK
Lugar de trabalhar, lugar de comer,
lugar de passear... e lugar de brincar?
As crianças que crescem na metrópole
paulistana precisam driblar diversos
obstáculos para brincar.
Parte das famílias não permite que crianças brinquem na calçada sem a companhia
de adultos. Em muitos casos, não há espaço para brincadeiras nas calçadas e ruas,
mas o principal impedimento é a insegurança: uma bola que corre para a rua e já se
tem o risco de um atropelamento. Restam praças e parques do bairro. No entanto,
dificilmente os adultos deixam que crianças circulem sozinhas pelo bairro, pois há
sempre tantos desconhecidos transitando pela cidade... isso também é um risco.
Alguns moradores da metrópole paulistana têm saudades da época em que
brincavam na calçada, e até mesmo na rua, junto com outras crianças do bairro.
Houve um tempo que grande parte das ruas dos bairros de São Paulo era ocupada
por crianças em suas brincadeiras. Por que isso mudou tão completamente?

Cidade de bairros: o exemplo


de Guararema
Até algumas décadas atrás, os municípios na Região Metropolitana de São Paulo
eram formados pelo centro da cidade, diversos bairros e uma área rural.
Alguns ainda são assim. Guararema é um desses municípios. Vamos conhecê-lo?
A maior parte do comércio de Guararema fica no centro da cidade. É
principalmente ali que os moradores participam de festas e se encontram para
atividades de lazer. O trecho do centro que fica às margens do rio Paraíba é bastante
movimentado nos fins de semana.
Além da área central, a cidade de Guararema é formada por diversos bairros –
os mais populosos ficam próximos ao centro da cidade. Os moradores dos bairros
contam com alguns estabelecimentos comerciais, como padarias e mercadinhos.

28
Guararema (SP)

48°O

res. Dutra
aP
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Trópico de Capricórnio

OCEANO
Rodovia C ar valh o Pinto ATLÂNTICO
E roles
ALESSANDRO PASSOS DA COSTA

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Centro

Elaborado com base em dados do Centro de Estudos da Metrópole. Disponível em: <www.fflch.usp.br/
centrodametropole>. Acesso em: 19 maio 2014.

29
Bem próximo ao centro da cidade há
diversos espaços de lazer, principalmente
nas ilhas do rio Paraíba do Sul (SP, 2005).

RUBENS CHAVES/PULSAR
No entanto, quando precisam de uma agência bancária ou um cartório, por
exemplo, os moradores devem ir ao centro da cidade.
Grande parte da população conta com escolas de ensino fundamental nos bair-
ros – os moradores da área rural do município precisam se deslocar até um bairro
ou até o centro da cidade. Já as vagas nas escolas de ensino médio estão mais con-
centradas no centro da cidade. Muitos estudantes de Guararema têm de sair todos

30
os dias do bairro onde vivem para ir à escola. Esse vaivém dos alunos de casa para
a escola mostra uma característica das cidades de bairros: os bairros e o centro da
cidade são as referências mais importantes no dia a dia das pessoas.
Quem mora nos bairros, precisa, em geral, do comércio e dos serviços localiza-
dos no centro da cidade. Aqueles que vivem nas áreas rurais contam com o centro
da cidade e com os bairros para essas atividades.
Em uma cidade de bairros, como Guararema, podemos encontrar uma grande
quantidade de ruas com pouco tráfego de veículos e até mesmo terrenos sem cons-
truções que são usados pelas crianças para brincadeiras e jogos.
Além disso, nos bairros em que a vizinhança convive diariamente, as crianças
contam com mais segurança para circular no entorno de suas casas, pois os adul-
tos com os quais cruzam nas ruas são conhecidos. Uma situação perigosa pode ser
notada por um morador com maior frequência do que ocorre nas metrópoles, nas
quais as pessoas convivem pouco.

A interligação com cidades vizinhas


Os moradores de Guararema que decidem prosseguir nos estudos, em uma for-
mação técnica ou universitária, precisam procurar em outro município um local para
estudar. Mogi das Cruzes, Jacareí e São José dos Campos são alguns dos destinos
possíveis – essas cidades próximas a Guararema têm um grande número de escolas
técnicas e universidades.
Há linhas de ônibus intermunicipais ligando diversos locais de Guararema aos
municípios vizinhos, especialmente Mogi das Cruzes e Jacareí. Essas linhas atraves-
sam o município de Guararema pelas rodovias e também por estradas locais.

31
Em intervalos de menos de uma hora, os moradores podem tomar o ônibus, em
diferentes pontos do município, e chegar facilmente aos municípios vizinhos. Assim,
é relativamente simples chegar a Mogi das Cruzes e Jacareí. De Mogi das Cruzes,
partem trens metropolitanos em direção a São Paulo.
Veja no mapa a seguir as ligações viárias de Guararema com alguns municípios
vizinhos.

Guararema e municípios vizinhos

Ro
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oI Jacareí
I

Rodovia
Pinto
Carvalho

ALESSANDRO PASSOS DA COSTA


Guarulhos tra
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Guararema
Mogi das Cruzes
7

São Paulo
Rodovias
Limite da Região
Metropolitana de São Paulo

Elaborado com base em dados da Aneel. Disponível em: <http://sigel.aneel.gov.br/sigel.html>. Acesso em: 8
jun. 2014; Centro de Estudos da Metrópole. Disponível em: <www.fflch.usp.br/centrodametropole>. Acesso
em: 19 maio 2014.

32
As estradas de ligação de Guararema com os municípios vizinhos atravessam
a área rural do município. Muitas propriedades agrícolas foram transformadas em
chácaras e sítios de lazer. Há famílias que usam esses locais em fins de semana e nas
férias – são moradores de cidades próximas e até mesmo de São Paulo. Há, ainda,
pessoas que se sentem cansadas da “correria” da cidade e decidem viver ali.
A facilidade de circulação entre cidades vizinhas atrai cada vez mais novos mo-
radores e também modifica os hábitos dos moradores antigos. Em Guararema, ao
longo de estradas e rodovias foram criados novos bairros e muitas chácaras de lazer.
O município foi, aos poucos, se integrando às cidades vizinhas: muitos moradores
de Guararema buscam o comércio e os serviços das cidades vizinhas, sem recorrer
ao centro do município. Há uma forte concorrência dos shopping centers das cida-
des vizinhas: nesses estabelecimentos as famílias encontram cinemas, lanchonetes
e outras atividades de lazer.
O exemplo de Guararema é importante para compreendermos como ocorre a
integração de cidades. Muito antes de duas cidades se “encontrarem” fisicamente,
já vemos sinais da integração: em geral, uma das cidades começa a atrair todos os
dias uma parte dos moradores do município vizinho, seja para trabalhar ou para
utilizar o comércio e os serviços. Novos loteamentos e bairros se formam ao longo
dos eixos de transporte entre esses municípios, como rodovias, estradas e linhas de
trem. E, então, em muitos casos, as cidades se unem fisicamente.
Em Guararema ocorre, atualmente, um aumento da influência dos municípios
vizinhos na vida dos moradores da cidade. Isso significa que as atividades em Mogi das
Cruzes e Jacareí, principalmente, estão concorrendo com o centro de Guararema e até
mesmo ocupando seu lugar no cotidiano dos moradores.

33
Cultura urbana
Em vez de circular pelas ruas, cada vez mais pessoas preferem ir a grandes cen-
tros comerciais, como galerias e shopping centers. Os shoppings estão muito liga-
dos à formação das metrópoles.
Nessas áreas, são tomadas medidas para melhorar a circulação de veículos, como
a construção de grandes avenidas de trânsito rápido e a diminuição do tempo dos
semáforos. Chamamos esse processo de lógica do automóvel.
Flanar pela cidade, isto é, caminhar sem pressa pelas calçadas, é uma tarefa
difícil em São Paulo. Assim, para muitas pessoas, ir a um local fechado em que se
concentram muitas lojas e a prestação de diversos serviços é uma grande facilidade.

A integração de São Paulo com


as cidades vizinhas
Esse processo de integração aconteceu com a cidade de São Paulo e os mu-
nicípios vizinhos. Até a década de 1950, São Paulo também era uma cidade de
bairros. As cidades foram aos poucos se integrando e até mesmo se encontrando
fisicamente. São Paulo passou a exercer uma influência cada vez mais forte sobre
as cidades vizinhas: muitas pessoas são atraídas a São Paulo diariamente pela oferta
de emprego e de serviços. Essa é uma importante característica das metrópoles: elas
exercem influência na vida de habitantes de outros municípios e mesmo de lugares
distantes de sua área física.

34
DGI-INPE. CBERS 2B.
A linha tracejada indica o limite entre os municípios de São Paulo (à direita) e Osasco (à esquerda). As
cidades dos dois municípios estão fisicamente conectadas. Imagem de 2009.

35
Formação da metrópole paulistana

1881 1905 1914

ALESSANDRO PASSOS DA COSTA


1930 1952 1962

1972 1983 1995

MAUTNER, Yvonne. A periferia como fronteira de expansão do capital. In: DÉAK, Csaba e SCHIFFER, Sueli Ramos
(Orgs.). O processo de urbanização no Brasil. São Paulo: Edusp, 2004. p. 254.

36
Brincar em uma metrópole

Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade,


ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo
de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e
sociais garantidos na Constituição e nas leis.
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes as-
pectos:
[...]
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; [...]
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: <www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 8 jun. 2014.

O Jardim Bonfiglioli, onde Amélia mora, é um bairro residencial – há algumas


ruas com comércio local, mas a maior parte dos quarteirões é composto de casas e
prédios. No entanto, quase não vemos crianças brincando nas pequenas praças do
bairro, nem mesmo em suas ruas e calçadas. Não é difícil imaginar as razões pelas
quais Amélia não brinca na rua.
A avó de Amélia se lembra de quando as ruas do bairro viviam repletas de
crianças brincando: nas ruas, concentravam-se os jogos com bola e nas calçadas,
jogos de figurinhas, bonecas e peões.
Desse período para hoje, a grande mudança é o aumento do trânsito de veículos
nas ruas. Quando foram construídas as primeiras vias no Jardim Bonfiglioli, na
década de 1950, as ruas eram de terra e havia pouca movimentação de carros. As
crianças podiam ocupar calçadas e ruas com pouco risco de atropelamentos!

37

Grafite em muro do
Os avós de Amélia eram adolescentes quando se mudaram para o Jardim
Bonfiglioli. Seus pais conheciam toda a vizinhança. Não eram muitas famílias, pois
o bairro ainda estava se formando e havia poucas casas. No caminho para a escola,
por exemplo, reunia-se uma grande turma de crianças e adolescentes, que era
acompanhada de perto pelos vizinhos.
À medida que o bairro ficou mais populoso, ou seja, que aumentou o número
de moradores, essa situação mudou. Ao andar nas ruas próximas das residências,
a maior parte das pessoas é desconhecida. Essa mudança é muito negativa para
o dia-a-dia das crianças. Nos bairros em que todos se conhecem, as crianças são
mais livres para circular, pois os moradores podem identificar e prevenir situações de
perigo.

Crianças se divertem na metrópole?


Muitas pessoas afirmam que a impossibilidade de se brincar nas ruas impede
as crianças de se divertirem numa metrópole. Será que brincar na rua com outras
crianças é muito diferente de brincar em sua residência?
Na metrópole paulistana, as crianças têm acessos a equipamentos urbanos e
instituições que não existem em todas as cidades.
Na Grande São Paulo, temos uma grande concentração de cinemas, teatros,
centros culturais e museus. Temos, ainda, uma rede de bibliotecas públicas. Em
muitos locais, como parques e centros culturais, podemos assistir a espetáculos e
concertos musicais gratuitos.

38
Cultura urbana
As ruas da metrópole paulistana estão repletas de manifestações artísticas. Di-
versos grafiteiros daqui são reconhecidos como artistas talentosos. Nos muros e
viadutos da metrópole, não é difícil encontrar um grafite ou um lambe-lambe. Esses
panfletos grudados com cola são uma das marcas registradas da cidade.

ANA PAULA RIBEIRO

Grafite em muro no bairro do Cambuci, em São Paulo (SP, 2018).

39
Redes de lazer e cultura na metrópole paulistana
Os equipamentos culturais e esportivos são mal distribuídos na metrópole
paulistana: as áreas mais ricas de São Paulo e de algumas cidades vizinhas concentram
a maior parte dos locais de lazer e cultura. Quando consideramos o estado de
São Paulo e mesmo o país, notamos que a metrópole paulistana concentra esses
equipamentos em nível nacional. Se para muitos de nós, habitantes dessa metrópole,
é preciso percorrer vários bairros para ir ao cinema, para grande parte da população
brasileira, é preciso atravessar municípios para se ter acesso a esse equipamento.
Observe, nos mapas abaixo, que publicações, cinemas, museus e mesmo as
livrarias concentram-se em algumas regiões do país.

Publicações universitárias Museus

Número de publicações Número de museus


26.213 77
25
8.197 São Paulo 1 São Paulo
7

40
Por que é importante ter acesso a esses bens culturais?
Quem vai ao espaço Catavento, por exemplo, tem a oportunidade de participar
de encontros interessantes. Nele estão expostas algumas ideias formuladas por
grandes cientistas. Esse museu científico aborda, de forma divertida, o conhecimento
acumulado a respeito de nosso planeta e das sociedades. Estando em qualquer outra
cidade, poderíamos conhecer essas ideias lendo livros e assistindo a documentários.
No entanto, esse espaço concentrou ali uma grande quantidade de informações,
atraindo muitas pessoas todos os dias. Assim, além do encontro com ideias, também
temos oportunidade de conhecer pessoas de diferentes lugares e origens. Esse é um
tipo de experiência que raramente podemos experimentar em pequenas cidades,
pois esses centros culturais estão geralmente concentrados nas metrópoles.

Cinemas Livrarias
MAPAS:ALESSANDRO PASSOS DA COSTA

Número de cinemas 740


118
24
1 São Paulo São Paulo

THÉRY, Hervé e MELLO, Neli Aparecida de.


Atlas do Brasil: disparidades e dinâmicas do
território. 2. ed. São Paulo: Edusp, 2009. p.
183, 187 e 190.
41
Reflexão
No final de 2013, vários grupos de adolescentes moradores de áreas pobres da
metrópole paulistana marcaram encontros em shoppings centers para se divertir e
fazer amigos, os chamados rolezinhos.
Muitos lojistas, seguranças e até mesmo clientes interpretaram a presença des-
ses jovens nos shoppings como uma ameaça. Eles foram pressionados a sair dos
locais e, em muitas situações, foram intimidados e presos pela polícia.

FERNANDO PEREIRA/SECOM
Debate sobre os rolezinhos, na Prefeitura de São Paulo reuniu Netinho de Paula, então secretário
municipal de Promoção da Igualdade Racial, e três jovens lideranças: da esquerda para a direita,
Vinícius Andrade, MC Chaveirinho e MC Jota L (SP, 2014).
Vários shoppings passaram a selecionar, na entrada, as pessoas que poderiam
entrar em suas instalações, utilizando critérios preconceituosos, como o tipo de
vestimenta e a idade da pessoa. A revista Carta Capital entrevistou um dos organi-
zadores do rolezinho ao Shopping Internacional de Guarulhos, o MC Jota L. Repro-
duzimos alguns trechos de sua fala.
Pra explicar preconceito? Esses dias eu assisti a uns vídeos sobre
os rolezinhos. Tem certos shoppings que estão com segurança na por-
ta selecionando quem entra ou quem não entra. Se você tem “cara
de bandido”, você não entra. Se você tem “cara de que vai gastar”,
você entra. Isso pra mim é um preconceito. [...] Se eu convidasse um
monte de gente rica pra ir ao shopping, você acha que a reação de-
les ia ser assim? Você acha que eles iam entrar com polícia lá, tirando
todo mundo pra fora? Não ia! O dono do shopping ia ser capaz de me
convidar pra levar mais gente. “Pode trazer que está dando lucro!”
Então, como é um monte de gente pobre, preto, eles estão fazendo
isso: estão entrando, batendo em todo mundo e botando pra fora.
[...] A ideia inicial [do rolezinho] é a falta de lazer. A gente não tem
um atrativo... alguma coisa pra fazer. Então, a gente está procurando
o nosso meio, o nosso direito, que é esse. O único lazer que a gente
tinha, desde moleque até hoje, é jogar o futebol aqui onde moro, na
comunidade [Vila Esperança, Guarulhos], empinar pipa e a internet.
São os únicos lazeres que a gente pode ter sem dinheiro.
Transcrição de entrevista com Jefferson Luis, MC Jota L, da revista Carta Capital, publicada
em 24 de janeiro de 2014. Disponível em: <http://youtu.be/KigTaAhV2RQ>. Acesso em:
3 mar. 2014.
Como nos deslocamos
Unidade 3 em São Paulo?
LENA DIAZ/FOTOS PÚBLICAS

Estação Sé, em São Paulo (SP, 2014).


Você anda mais a pé ou em transporte
motorizado? Quando você circula de
ônibus ou de carro, consegue observar a
paisagem? A percepção que nós temos
da cidade depende bastante do meio
de transporte que utilizamos em nossos
deslocamentos.
Como percebemos os trajetos do dia a dia?
Você já conhece o cotidiano da Amélia: ela vai todos os dias, de ônibus, de sua
casa, no Jardim Bonfiglioli, até o bairro de Pinheiros, onde fica sua escola.
Amélia está sempre atenta à paisagem que ela vê pela janela do ônibus. Quan-
do ele está parado em um ponto, ela pode observar o corre-corre das pessoas. O
comércio está quase sempre fechado e muitas pessoas parecem apressadas para
chegar ao trabalho.
Ela, no entanto, não tem tempo para observar cada comércio. Tampouco sabe
como são as calçadas nesse trecho. Esses detalhes são percebidos no caminho feito
a pé: o itinerário do ponto de ônibus até sua escola é muito familiar para a menina.

Observe no desenho ao lado


algumas referências desse traje-
to guardadas por Amélia em sua
memória.

ALESSANDRO PASSOS DA COSTA

46
Nas grandes cidades, é muito comum os moradores indicarem as distâncias entre
os lugares pelo tempo gasto: “da minha casa à escola, são 40 minutos” ou “moro
longe do trabalho, são quase 2 horas até lá”. Duas pessoas que levam 2 horas no
trajeto casa-trabalho não percorrem necessariamente uma mesma distância.
Vamos conhecer alguns exemplos a seguir.

“Eu vou para o meu trabalho de bicicleta. São quase 40 minutos pe-
dalando de onde eu moro, no centro de São Miguel, até a faculdade
onde trabalho, lá no Parque Ecológico do Tietê. Sabe, eu poderia pe-
gar o trem para ir até lá: são apenas 4 estações. Mas era tão cansativo
ficar na plataforma da estação tentando entrar no trem lotado todas
as manhãs... E a volta? Nem gosto de me lembrar.”

“Eu também trabalho na faculdade lá no Parque Ecológico do Tietê.


Eu moro no centro de São Paulo e consigo chegar em 30 minutos. Ca-
minho até a estação da Luz e pego um trem até lá todas as manhãs.”

“Eu uso carro para ir à faculdade. Eu sei que devemos dar preferên-
cia ao transporte público, mas minha situação estava muito difícil. Eu
moro no bairro Bela Vista, em Guarulhos, e minha faculdade fica no
Parque Ecológico Tietê. Para chegar lá, eu precisava pegar 2 ônibus e
levava mais de 2 horas. Sabe quanto tempo levo para chegar à facul-
dade de carro? 25 minutos.”

47
Os principais meios de transporte
na metrópole paulistana
A cada 10 anos, o Metrô faz uma pesquisa para conhecer como os moradores
da metrópole paulistana se deslocam em um dia. Milhares de pessoas são entrevis-
tadas e contam todos os trajetos que realizaram em um dia, assim como os meios
de transporte que utilizaram.
Os transportes coletivos têm estações e pontos de ônibus espalhados pela me-
trópole, mas eles não estão bem distribuídos.
Há uma grande concentração de linhas de trem, metrô e ônibus nas áreas cen-
trais, por isso os moradores dessas áreas têm que caminhar pouco até uma estação
ou ponto de ônibus. Já os moradores de bairros e loteamentos periféricos percorrem
distâncias maiores para tomar o transporte. Muitas pessoas se surpreendem ao des-
cobrir que uma em cada três viagens é feita a pé!
Entre os meios de transporte motorizados, as soluções individuais (carro, moto e
táxi) correspondem a cerca de 30% do total de viagens diárias; já os meios coletivos
(ônibus, metrô, escolar, trem e fretado) somam quase 37% das viagens.
São valores muito próximos: para reduzirmos os congestionamentos e seus efei-
tos, seria necessário aumentar a participação dos meios não motorizados e também
dos motorizados coletivos, especialmente os serviços públicos.

48
Em 2007, houve 38,1 milhões de viagens por dia.

34%
Não motorizados
66%
Motorizados
•A pé
Transporte individual Transporte Coletivo
•Bicicleta
•Carro •Metrô/trem
•Táxi •Ônibus
•Moto •Escolar

ALESSANDRO PASSOS DA COSTA


A pé 33%
Carro 27,3%
Ônibus 23,7%
Metrô 5,8%
Escolar 3,5%
Moto 1,9%
Trem 2,1% Transporte não motorizado
Fretado 1,3% Transporte motorizado
Bicicleta 1%
Táxi 0,3%
Outros 0,1%

0 5 10 15 20 25 30 35

COMPANHIA do Metropolitano de São Paulo. Pesquisa Origem e Destino 2007: síntese das informações da Pesquisa
Domiciliar. São Paulo, dez. 2008. p. 38 e 42.

49
Cultura urbana
Algumas linhas de ônibus percorrem longas distâncias, ligando áreas periféricas
a terminais de ônibus ou a um centro. Muitas pessoas utilizam essas linhas todos os
dias, no mesmo horário. Elas ficam ali por um longo tempo, às vezes mais de uma
hora, dentro de um ônibus e acabam se conhecendo e fazendo amigos.
Já imaginou comemorar seu aniversário no ônibus a caminho do trabalho? Pois
isso acontece a várias pessoas na metrópole paulistana. Elas fazem amigos em suas
viagens diárias e comemoram juntos datas especiais, como aniversários.
Você já fez amigos em lugares menos habituais, como um ônibus?

A circulação de carros
Na metrópole paulistana vivem quase 20 milhões de pessoas. E são cerca de
quatro milhões de automóveis particulares. Como vimos, uma parte significativa das
viagens diárias é feita com carros.
O principal problema de termos uma frota de automóveis particulares tão nu-
merosa é o fato de as pessoas utilizarem os carros em seus trajetos diários. Não há
espaço nas ruas para tantos automóveis circularem ao mesmo tempo.
O elevado número de automóveis causa diversos problemas, como a polui-
ção do ar e os congestionamentos. Com tantos carros nas ruas, diversas ruas e
avenidas ficam completamente cheias de carros, parados ou se deslocando muito
vagarosamente.

50
Os transportes coletivos e a
formação da metrópole
No início do século XX, os bondes eram o principal meio de transporte coletivo
em São Paulo. A cidade de São Paulo era muito pequena, limitada ao que hoje co-
nhecemos como centro histórico e um conjunto de bairros. Havia, ainda, diversos
bairros rurais em diferentes
ponto do município.
A maior parte dos terrenos

GUILHERME GAENSLY/ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO


era ocupado, no entanto, por
chácaras. Chácaras de produ-
ção agrícola, de residência e
também de recreio, onde famí-
lias da cidade passavam fins de
semana e férias.
Outros municípios da me-
trópole paulistana também
apresentavam essa divisão: um
centro, alguns bairros e uma
extensa área de chácaras.

Bonde na rua São Bento, em São


Paulo (SP, 1911).

51
Carroças e charretes ajudavam as pessoas na circulação entre essas áreas, uti-
lizando caminhos, em grande parte, traçados por comunidades indígenas que ha-
bitaram aquelas áreas. Muitas ruas e avenidas atuais acompanham o traçado de
antigos caminhos indígenas, como a rua da Mooca e a avenida Sapopemba.

O loteamento das chácaras


Na década de 1940, ocorreram mudanças significativas nas grandes cidades bra-
sileiras. O governo federal, comandado por Getúlio Vargas, congelou os preços dos
aluguéis de imóveis em 1942 – foi a chamada .
Em São Paulo, essa lei teve muitos efeitos. Muitas edificações era construídas
para serem alugadas e seus proprietários viviam da renda paga pelos inquilinos.
Como não era possível aumentar o valor do aluguel, os proprietários utilizavam
diversos meios para despejar os inquilinos. Muitas famílias despejadas não tinham
como alugar outro imóvel porque os proprietários queriam valores muito elevados,
já que ficariam congelados durante o contrato.
Em São Paulo já havia, nessa época, falta de habitação para os moradores. Os
despejos de inquilinos e a diminuição da oferta de imóveis para alugar pioraram a
crise. Foi nesse contexto que se difundiu, entre a população urbana no Brasil, a ideia
da casa própria.
Os trabalhadores buscaram ter acesso a um imóvel: em São Paulo, muitas famí-
lias se decidiram pela compra de um lote periférico, que era pago em prestações.
Reuniam parentes e amigos em um mutirão para construir um ou dois cômodos
iniciais da residência. Ao longo dos anos, a moradia era aumentada e melhorada,
com o uso de materiais de construção mais resistentes.

52
À medida que chegaram migrantes a São Paulo, atraídos principalmente pela
oferta de empregos, mais e mais chácaras foram divididas em lotes. A maior parte
dos loteamentos era clandestino, ou seja, não tinha sido aprovado pela prefeitura.
Com isso, os loteadores evitavam ter de doar uma parte da chácara para o poder
público e realizar obras de infraestrutura, como serviços de água e eletricidade.
Os moradores dos loteamentos periféricos não contavam com investimentos da
prefeitura na infraestrutura. Foi necessário muita luta, principalmente por meio de
associações de moradores, para que fossem instalados serviços públicos. O trans-
porte público coletivo foi um desses serviços públicos.
Como a prefeitura não reconhecia esses loteamentos ilegais, não era obrigada
a fornecer transporte coletivo. Em diversos loteamentos, esse serviço era oferecido
de forma clandestina, por proprietários de veículos de transporte. Assim nasceram
várias empresas de ônibus coletivo.
Em grande parte da periferia, a população tinha de fazer longas caminhadas
para tomar o ônibus, mesmo após a regularização das linhas clandestinas. Em al-
guns casos, passageiros, cansados de solicitar a extensão das linhas até o lugar onde
viviam, realizavam o chamado “sequestro do ônibus”. Eles obrigavam o motorista
a seguir viagem, para muito além do ponto final, e negociavam com a empresa de
ônibus um novo itinerário para aquela linha.
Atualmente, a metrópole conta com diversos meios de transporte, que atendem
a todas as regiões. Ainda assim, os moradores de áreas periféricas têm, em geral,
uma oferta de transporte público de pior qualidade do que as demais regiões. Em
muitas áreas, o ônibus ainda é o único meio de transporte público.

53
Reflexão
A bicicleta já foi um meio de transporte muito popular em São Paulo. O aumen-
to da circulação de automóveis, no entanto, afastou as bicicletas das ruas, princi-
palmente nas áreas centrais. Na periferia, no entanto, a cultura ciclística continuou
existindo e ainda hoje as bicicletas estão presentes nas paisagens desses lugares.
Na última década, muitas pessoas trocaram meios de transporte motorizados pela
bicicleta. Esse é um movimento mundial: em muitas metrópoles, em todo o mundo,
a bicicleta tem se destacado como uma possibilidade de transporte. Leia, a seguir, o
relato do cantor David Byrne, que vive na cidade de Nova York, nos Estados Unidos.
Venho usando uma bicicleta como meu principal meio de trans-
porte em Nova York desde o início dos anos 80. [...] E continuei peda-
lando, apesar do perigo e de toda a aura nem um pouco descolada,
já que muito poucas pessoas andavam de bicicleta na época. Os mo-
toristas não sabiam dividir as ruas com ciclistas e você acabava sen-
do fechado ou espremido contra os outros carros estacionados mais
ainda do que hoje em dia. Quando fiquei um pouco mais velho, acho
que senti também o quanto pedalar era uma boa maneira de se fazer
algum exercício, mas nem havia pensado nisso quando comecei. Eu
apenas gostava de andar pelas ruas sujas e esburacadas da cidade.
Era fantástico.
[...] Eu me sentia mais ligado à vida nas ruas do que jamais seria
possível se estivesse dentro de um carro ou de algum tipo de trans-
porte público. Podia parar onde bem quisesse; a bicicleta era muitas
vezes (muitas vezes mesmo) mais rápida do que um carro ou um táxi
para se ir do ponto A ao ponto B; e eu não precisava seguir nenhum
caminho predeterminado. A mesma empolgação voltava a cada ci-
dade sempre que eu sentia a brisa e a agitação das ruas passando à
minha volta. Para mim, isso era viciante.
BYRNE, David. Diários de bicicleta. Barueri: Manole, 2010. p. 13-14.

Na ilustração a seguir estão representados diversos meios de transporte. Esse es-


quema gráfico poderia ser acompanhado do registro do que se vê (e se apreende!)
na paisagem ao realizar esses trajetos. Circular em metrô subterrâneo, por exemplo,
gera um “buraco” em
nosso mapa mental,
pois sequer podemos
observar os elementos
construídos na super-
fície. Quando o deslo-
camento é rápido, há
uma menor possibili-

ALESSANDRO PASSOS DA COSTA


dade de apreendermos
muitos elementos da
paisagem.
Quem vive na
Unidade 4 metrópole paulistana?
LENA DIAZ/FOTOS PÚBLICAS

Estação Sé, em São Paulo (SP, 2014).


A população metropolitana é muito
diversa! Muitas pessoas usam o termo
“cosmopolita” para se referir a São
Paulo. Uma cidade cosmopolita é
aquela formada de elementos comuns
a vários países. Seria nossa metrópole
cosmopolita?
A população metropolitana
Caracterização da população da Região Metropolitana de São Paulo

Região Metropolitana de São Paulo: proporção População da Região Metropolitana de São


de homens e mulheres Paulo segundo cor ou raça

2,2%

ALESSANDRO PASSOS DA COSTA


6,2%

Branca
Homens Mulheres Preta
47,4% 52,6% 32,2% 59,3% Parda
Amarela ou
Indígena

Ocupação dos jovens da Região Metropolitana Brasil e Região Metropolitana de São Paulo:
de São Paulo pirâmides etárias

Menos de 1 ano
1 a 4 anos
13,2% 5 a 9 anos
10 a 14 anos

Só trabalha
Região 15 a 17 anos
Metropolitana Brasil
18 a 19 anos
Só estuda
17,4% 49,1% de São Paulo 20 a 24 anos
Trabalha e estuda
25 a 29 anos
Não trabalha,
nem estuda 30 a 39 anos
40 a 49 anos
20,3%
50 a 59 anos
60 a 64 anos
65 a 69 anos
70 anos ou mais

20 15 10 5 0 0 5 10 15 20

IBGE. Síntese de Indicadores Sociais 2012. Rio de Janeiro: 2012. Disponível em: <http://biblioteca.ibge.gov.br/
visualizacao/livros/liv66777.pdf>. IBGE. Síntese de Indicadores Sociais 2009. Rio de Janeiro: 2009. Acesso em: 12
jun. 2014; Disponível em: <www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/
sinteseindicsociais2009/indic_sociais2009.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2014.

58
O aumento populacional
No fim do século XIX, São Paulo e os municípios vizinhos tinham uma população
pequena. A chegada de imigrantes ao país modificou essa situação. São Paulo e mu-
nicípios vizinhos atraíram parte significativa dessas pessoas recém-chegadas ao Brasil.
Crescimento populacional dos distritos de São Paulo e municípios vizinhos (1874-1920)
Município 1874 1920
Sé 9.223 10.967
Santa Ifigênia 4.459 41.407
Brás 2.308 67.074
Mooca   69.209
Cambuci   17.233
Liberdade   38.860
Bela Vista   44.668
Consolação - Jardim América 3.357 46.130
Santa Cecília - Perdizes - Barra Funda   54.161
Bom Retiro   29.804
São Paulo
Santana - Casa Verde - Tucuruvi - Vila Maria   31.202
Belenzinho - Tatuapé   45.828
Penha de França - Vila Matilde 1.883 6.080
Ipiranga - Vila Mariana - Saúde - Vila Prudente   34.676
Butantã   5.319
Lapa   22.001
São Miguel - Itaquera - Lajeado   4.702
Osasco   4.178
Nossa Senhora do Ó - Pirituba - Perus 2.023 5.534
Total – São Paulo 31.364 579.033
Guarulhos (em 1874 era freguesia de São Paulo) 2.604 5.961
Mogi das Cruzes 16.584 29.158
São Bernardo (em 1874 era freguesia de São Paulo) 2.787 25.215
Santo Amaro (foi município independente de 1838 a 1944) 5.470 14.101
Itapecerica (em 1874 era freguesia de Santo Amaro) 4.896 11.830
Cotia 5.024 9.340
Parnaíba 3.338 7.981
Juqueri (em 1874 era freguesia de São Paulo) 2.720 9.098
Jundiaí 7.805 44.437

LANGENBUCH, Juergen Richard. A estruturação da Grande São Paulo: estudo de Geografia urbana. Rio Claro:
Universidade de Campinas, 1968. p. N+69, E=59 e F+55.

59
A população migrante em São Paulo
No livro Brás, Bexiga e Barra Funda, do escritor paulista Antônio de Alcântara
Machado, publicado em 1927, a maior parte dos personagens é de origem italiana.
O nome do livro nos dá uma boa indicação dos bairros onde se concentravam essas
pessoas: o Brás, o Bexiga (a Bela Vista) e a Barra Funda.
Os italianos foram o grupo mais numeroso entre os estrangeiros que chegaram
a São Paulo. Um grande número de italianos e de seus filhos nascidos no Brasil
trabalhou nas fábricas paulistanas.
O bairro do Bom Retiro também tem uma história muito ligada à imigração. A
primeira Hospedaria dos Imigrantes funcionou nesse bairro até a construção do pré-
dio no Brás, onde passou a funcionar em 1888.
No início do século XX, destacavam-se no Bom Retiro os italianos e judeus vin-
dos da Europa. O comércio de roupas, marca do bairro atualmente, teve um grande
impulso com as famílias judias. Há algumas décadas, as confecções de roupas do
Bom Retiro passaram a ser co-
mandadas principalmente por
imigrantes coreanos. E grande

MEMORIAL DA IMIGRAÇÃO JUDAICA


parte dos trabalhadores tem
origem boliviana.

Antigo prédio da primeira sinagoga


paulistana, fundada por imigrantes
judeus no bairro do Bom Retiro, em
São Paulo (SP, 1912).

60
Comunidades indígenas na metrópole
A fundação de São Paulo, em 1554, está muito relacionada à população indí-
gena. A vila de São Paulo de Piratininga foi construída por jesuítas, interessados em
educar crianças indígenas da região.
O próprio nome já indica uma composição original do mundo eu-
ropeu com o mundo tupi. São Paulo, em homenagem ao santo do dia,
e Piratininga, nome de uma aldeia guaianá, que significa em tupi “pei-
xe seco”. Assim, desde os primeiros tempos, influências europeias e
tupis faziam-se sentir na vida dos moradores dessas paragens.
São Paulo 450 anos. De vila da metrópole – a geografia redescoberta. Disponível em:
<www.aprenda450anos.com.br/450anos/vila_metropole/1-1_planalto_paulistano.asp#>.
Acesso em: 12 jun. 2014.

Assim como ocorreu em toda a colônia, a


presença de portugueses na vila de São Paulo de
Piratininga correspondeu, ao longo do tempo, à
diminuição da população nativa. No entanto, as
comunidades indígenas continuam presentes na
metrópole: em 2013, viviam na capital paulista
pouco mais de 12 mil indígenas.

DANIELLA BARROSO
A grande maioria ainda não tem assegurado
seu direito à terra. Na metrópole paulistana exis-
tem apenas três terras indígenas reconhecidas
pelo governo federal – as três se localizam no mu-
nicípio de São Paulo: Jaraguá, Krukutu e Guarani
da Barragem.

61
Reflexão
Nas duas últimas décadas, a metrópole paulistana voltou a receber muitos imi-
grantes estrangeiros.
A comunidade mais numerosa é a de bolivianos – já é grande o número de
paulistanos de origem boliviana, ou seja, filhos de imigrantes que nasceram no
país. Coreanos, chineses e nigerianos também formam comunidades numerosas em
São Paulo.

Feira de imigrantes bolivianos Kantuta, em São Paulo (SP, 2015). MARIANA GONZALEZ/NÚCLEO EDITORIAL/FLICKR
Em 2014, um grande número de haitianos, que havia entrado no país pelo
estado do Acre, na região Norte, foi incentivado a vir para São Paulo. A chegada
repentina desses imigrantes foi muito debatida em toda a metrópole: algumas pes-
soas ficaram surpresas em saber que um grupo tão grande de estrangeiros estava
em busca de melhores condições de vida em nosso país. Reproduzimos a seguir dois
trechos de reportagens que relatam esse movimento.

Na madrugada de domingo para segunda-feira (28), dois ônibus


vindos do Acre chegaram trazendo imigrantes para São Paulo. Na se-
mana passada, os números mostravam 400 pessoas nessa condição e
há uma previsão de que mais 200 cheguem até o final da semana. [...]
Desde 2012, o reduto dos haitianos em São Paulo se tornou a Baixada
do Glicério, na região central da capital paulistana. Em sua maioria,
ficaram alojados na Casa do Migrante, que [...] em 2013 [...] acolheu
cerca de 2,6 mil haitianos.
GOMES, Vinícius. “Chegamos ao nosso limite”, diz padre que acolhe haitianos no centro
de São Paulo. Revista Fórum, 29 abr. 2014. Disponível em: <www.revistaforum.com.br/
blog/2014/04/chegamos-em-nosso-limite-diz-padre-que-acolhe-haitianos-centro-de-sao-
-paulo>. Acesso em: 12 jun. 2014.

Pelo menos 780 haitianos passaram pela Missão Paz, no Glicério, na


região central de São Paulo, desde abril, quando governo do Estado do
Acre começou a pagar passagens de ônibus para os imigrantes conse-
guirem chegar em São Paulo. [...] Hoje, segundo o padre Paolo Parise,
que dirige a Missão Paz, a situação do alojamento é melhor.
780 haitianos passaram por abrigo em SP desde abril. Agência Estado, 28 maio 2014. Dis-
ponível em: <www.brasilpost.com.br/2014/05/28/haiti-abrigo_n_5403651.html>. Acesso
em: 12 jun. 2014.
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