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DENYS CUCHE A NOCAO DE CULTURA NAS CIENCIAS SOCIAIS PREFACIO DE FERNANDO GANDRA ANOGAO DE CULTURA NAS CIENCIAS SOCIAIS 32 aDicho ‘truvo ona (wouveute tormon) Denys cucHE smapucto 1+ edigio: Dezembro 1999 2. edigio revista: Janeiro 2004 10; 972-754-246-8 13; 978-972-754-246.8, enero tron 250 031/06 (© Bomoxs La Decouvenre, Panis, 1996, 2001 © Fou pe Sécuto- EDIGOES, SOCIEDADE UNIPESSOAL, LOA, LisHon, 2003, Tm OTRIUNFO DO CONCEITO. DE CULTURA Sc 0 conceito, ou pelo menos a ideia, de cultura se impde, a inves tigacio sistemitica sobre o funcionamento da cultura em geral ou dias culturas em particular nlo se desenvolve de maneira igualmente importante em todos os paises onde a etnologia comega a afiemar~ -se. E nos Estados Unidos que o conceito tem melhor acolhimento € 0 dmbito da antropologia norte-americana que ira conhecer 0 aprofundamento tedrico mais notavel. Neste contexto cientifico particular, a investigagao sobre a questo da ou das cultura( tio verdade que filar de antropologia americana ou de ““antropo- logia cultural” vem a ser quase a mesma coisa. A consagragio cientifica do termo “cultura” é de tal ordem nos Estados Unidos que a palavra é rapidamente adoptada no seu, sentido antropol6- {co por disciplinas vizinhas e, em particular, pela psicologia e pela sociologia. As razées do sucesso A investigagio cientifica nunca é por completo independente do ccontexto em que é produzida. Ora, 0 contexto nacional americano € muito especifico, por comparagio com os contextos nacionais 59 europeus, Os Estados Unidos representam-se a si proprios desde sempre como um pais de imigrantes de diferentes origens culearais. [Nos Estados Unidos, a imigraglo funda e precede, portanto, a nagio que se reconhece como nagao plusiténica (© mito nacional americano, segundo o qual a legitimidade da idadania quase se vincula & imigragio ~o Americano € um imi- grante ou um descendente de imigrantes -, esti na base de um modelo de integracio nacional original que admite a formagio de comunidades étnicas particulares. A pertenga do individuo 3 nagio caminha muitas vezes a par da sua participagio reconhecida numa comunidade particular; ¢ por isso que a identidade dos america zos foi qualificada por alguns de “identidade de trago de unio” pode-se com eftito ser “italo-americano”, “polono-americano”, “judeu-americanc Daqui resulta aquilo a que houve quem chamasse um “federaismo cultural” [Schnapper, 1974] que permite a expressio piblica das culturas particulares que nio sio, no entanto, a purae simples reproducio das cultaras de origem dos imigrantes, mas a sua adaptacio e a sua reinterpretagio em fungi do novo ambiente social ¢ nacional. £ de notar, no entanto, que o mito americano leva a considerar 0s indios, que nio so, por definicio, imigrantes, ¢ 0s negros, cuja migragao foi forcada, como nio sendo americans de parte inteira Pelas mesmas razies hist6ricas, a sociologia americana nascente privilegia a investigagio sobre o fenémeno da imigracio e das rela- ges interétnicas. Os sociélogos da Universidade de Chicago, pri- eiro centro de ensino ¢ de difisio da sociologia nos Fstados Uni- dos, colocam no nile das suas anilises a questo dos estrangeiros na cidade, contribuindo assim para promover um campo de estudo essencial para as sociedades modemnas, que em Franca s6 se de- senvolveri e obteri certo reconhecimento muito tardiamente, nos anos 70. E que, a0 contririo dos Estados Unidos, a Franga nio se concebe como um pais de imigragio, apesar de todavia o ser de modo macigo ¢ estrutural desde a segunda metade do século XIX. A representagio unitiria da nagio, conjugada com a exaltagio da civilizacio francesa, concebida como modelo universal, explica em parte o fraco desenvolvimento da reflexio sobre a diversidade cul- 60 ‘ural nas cigncias sociais que, durante muito tempo, foi uma carac- teristica francesa. Inversamente, © contexto proprio dos Estados Unidos favoreceu uma interrogagio sistematica sobre as diferengas clturais e sobre os contactos entre as culturas, na seri muitas vezes qualificada, por vezes com uma conotacio pejorativa, de “culturalista”. Tomado no singular, © qualificativo mostra-se redutor: com efito, nfo existe agrupar os culeuralismos em trés grandes primeiro é herdeiro directo do magistério de Boas ¢ cencaraa cultura na perspectiva da hist6ria cultural. O segundo esfor- sa-te por elucidar as relagdes entre cultura (colectiva) e personali- dade (individual). © terceiro considera a cultura como urn sistema de comunicagio entre 0s individuos. (O legado de Boas: a histéria cultural Entre todas 28 vias abertas por Boas, seria 2 investigagio sobre a dimensio histérica dos fenémenos culturas a ser principalmente retida pelos seus sucessores imediatos. Estes tltimos, nomeadamente Alfred Kroeber ¢ também Clark Wiser, vio esforgar-se por dar conta do processo de distribuigio no espago dos elementos cultu- ris, Extraem dos etnélogos “

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