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Microsporum canis

Microsporose em cães

Breve apresentação do Fungo

O fungo ​M. canis é da Classe Eurotiomycetes, que é referente a fungos


filamentosos, que tem como reservatórios principais os cães e gatos. São capazes de obter
nutrientes a partir da queratina, lipídios, carboidratos e outros substratos. É um fungo de
grande importância veterinária por ter caráter zoonótico sendo transmitido através do
contato direto dos esporos ou contato indireto através de fômites e ambientes
contaminados, sendo este fungo capaz de invadir o extrato córneo e até mesmo o óstio
folicular do hospedeiro. Tamanho e duração da infecção são variados, de acordo com o
estado imunológico do hospedeiro.

Classificação do fungo

Reino: Fungi, Classe: Eurotiomycetes, Ordem: Onygenales, Família: Arthrodermataceae,


Gênero: Microsporum, Espécie: ​Microsporum canis​.

Relato de caso
Um canino, fêmea, da raça Poodle, de 2 anos e 6 meses de idade, foi atendida em
uma clínica veterinária particular com queixa principal de presença de múltiplas lesões
cutâneas generalizadas, compreendendo as áreas da extensão do plano nasal, face lateral
dos membros anteriores e posteriores e região torácica lateral direita. Ao exame clínico,
observaram-se lesões cutâneas alopécicas, pruriginosas, eritematosas, de aspecto circular,
com cerca de 1 cm de diâmetro e presença de alto relevo central com pouca secreção
purulenta. Não foram observadas outras alterações clínicas. Ainda, observou-se que a
proprietária apresentava lesões similares, localizadas na face e principalmente nas regiões
dos braços e antebraços.

● Diagnóstico clínico

Inicialmente, o diagnóstico decorre da anamnese com histórico detalhado do animal.


Em animal e proprietária, foram observadas lesões cutâneas similares, o que levou à
suspeita de dermatofitose (Figura 1). É imprescindível a realização de exames
complementares micológicos para identificar a espécie do fungo causador, favorecendo a
escolha de tratamento adequado e eficaz. Após cultura e análises, o fungo ​Microsporum
caninum foi identificado, causando uma doença com relevante potencial zoonótico e
importância em saúde pública, a microsporose.
Figura 1 - Lesões cutâneas, circulares, alopécicas e pruriginosas, localizadas no plano
nasal de uma cadela da raça Poodle (esquerda) e nos antebraços e braços da proprietária
(direita).

● Diagnóstico laboratorial:

Primeiramente, foi feita a coleta de material biológico para análise. Foi realizada
antissepsia local com álcool 70º GL e em seguida, coleta de material biológico através de
swab estéril, raspado cutâneo com lâmina de bisturi estéril e arrancamento de pelos
presentes nas bordas das lesões do animal. Na proprietária, a coleta foi realizada por meio
da técnica do carpete e raspado cutâneo, após antissepsia prévia com álcool 70º GL. É
importante ressaltar que as amostras foram processadas separadamente.
No exame direto dos pêlos e crostas, realizado através da clarificação em Hidróxido
de Potássio a 20% (Synth®, Labsynth, Diadema, SP) não foram observadas estruturas
fúngicas.
Foi feita análise microscópica para avaliação da presença de parasitismo endothrix
ou ectothrix. Posteriormente, as amostras foram semeadas em meios de cultura ágar
Sabouraud dextrose (Sabouraud Dextrose Agar®, Neogen Corporation-Lansing, Michigan,
USA) acrescido de cloranfenicol e ciclohexemida (Mycobiotic Agar®, Neogen
Corporation-Lansing, Michigan, USA) e incubadas a 25ºC por dez dias com observação
diária. Após 5 dias de incubação, as amostras clínicas tanto humana quanto da cadela
apresentaram crescimento fúngico. As colônias formadas apresentavam aspecto aveludado
e algodonoso, branco no verso da placa de Petri e amarelo-alaranjado no reverso (Figuras 2
e 3).
Foi colocada uma amostra em lâmina de vidro estéril contendo uma gota de Azul de
Lactofenol, seguida da colocação de uma lamínula e observação em microscópio óptico em
aumento de 100 e 400x. Este processo foi realizado diariamente, a fim de uma melhor
visualização das estruturas fúngicas das estruturas fúngicas de reprodução, a qual foi
possível a partir do 10º dia de incubação. Observaram-se numerosas hifas septadas e
hialinas com presença de macroconídios de formato fusiforme, parede espessa e rugosa,
com divisão de 8 a 12 septos, assim como a presença de microconídios (Figura 4), levando
ao diagnóstico de ​Microsporum caninum​.
Figura 2 - Macroscopia fúngica em ágar Sabouraud dextrose com cloranfenicol, de material
biológico cutâneo de canino, evidenciando crescimento de colônias aveludadas, com halos
dispersos em sentido radial e coloração branca a amarelada no verso (esquerda) e
alaranjada no reverso (direita), característico de M. canis

Figura 3 - Macroscopia fúngica em meio ágar Sabouraud-dextrose acrescido de


cloranfenicol e cicloheximida, de material biológico oriundo de humano, demonstrando no
verso (esquerda) crescimento de colônia aveludada, algodonosa e com halos radiais, e no
reverso (direita) coloração alaranjada, característico de ​M. canis.
Figura 4 - Microscopia em coloração de azul de Lactofenol, utilizando aumento de 40x.
Amostras de isolado fúngico oriundo de canino (esquerda) e de humano (direita).
Evidenciam-se a presença de numerosas hifas septadas e hialinas com presença de
macroconídios fusiformes contendo de oito a doze septos, característicos de ​M. canis.​

● Análise crítica do relato:

No relato do caso foi feito o diagnóstico direto e de cultura fúngica, porém este
poderia ser agregado com outros exames para dar maior certeza ao diagnóstico, entretanto
o diagnóstico por cultura fúngica é o mais confiável atualmente.
Outro exame que poderia ser realizado é a Lâmpada de Wood, onde os pelos devem ser
expostos para que possam fluorescer em caso de diagnóstico positivo. é importante
destacar que existem possibilidades de falsos positivo e negativo, nas seguintes situações:
Falso positivo: presença de substâncias como: álcool, éter, derivados de iodo e
mercúrio, sabão e pomadas.
Falso negativo: A coloração se dá devido a presença do metabólito de triptofano
produzido pelo fungo que é produzido apenas em 50 a 70% dos casos.
○ Tratamento: No relato de caso estudado não foi relatado como foi feito o
tratamento. Para este, é necessário realizar tricotomia de animais de pelo
longo, há prescrição de terapia tópica e sistêmica com drogas antifúngicas,
sendo as mais utilizadas, a griseofulvina, o miconazol, o itraconazol, o
cetoconazol e a terbinafina, associando-se a administração das medicações
com rigorosa descontaminação do ambiente a fim de se evitar reinfecções e
disseminação dos esporos. Ainda é possível o uso de shampoos com
gliconato de clorexidina, em concentração de 2 a 3%, associado a outras
medicações e auxiliando no tratamento.
Como um todo, gostamos muito do relato e de como foi exposto detalhadamente o
diagnóstico, feito de forma clara.

Referências
○ https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/veterinaria/article/view/4129
○ https://editoraverde.org/gvaa.com.br/revista/index.php/REBES/article/view/75
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