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INTERVENÇÃO E LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL DE INSTITUIÇÕES

FINANCEIRAS - XVI

1. Introdução:

- Dentre as sociedades empresárias que estão relativamente excluídas do Direito


Falimentar, figuram as companhias de seguro, operadoras de planos privados de assistência
à saúde e as instituições financeiras;

- Às instituições financeiras o legislador reservou o processo de liquidação extrajudicial,


previsto na Lei 6.024, de 13 de maio de 1974, excluindo-as parcialmente do regime
falimentar, pois se as mesmas exercem regularmente a atividade financeira, ficam sujeitas
à decretação da falência, porém, se o Banco Central decreta a intervenção ou liquidação
extrajudicial de qualquer instituição, ela não mais poderá falir a pedido do credor. Somente
poderá ocorrer a quebra a pedido do interventor, na intervenção, ou do liquidante, na
liquidação extrajudicial, devidamente autorizados pelo Banco Central;

- Sob o mesmo regime das instituições financeiras, encontram-se as seguintes sociedades


empresárias fiscalizadas pelo BC: as arrendadoras, dedicadas à exploração do leasing
(Res. BC nº 2.309/96) e as administradoras de consórcio de bens duráveis, bem como as
fiscalizadas pela Susep: fundos mútuos e outras atividades assemelhadas (art. 10º, da Lei
5.768/71) e as sociedades de capitalização (art. 4º, do Dec. Lei 261/67);

- O Estado para evitar os efeitos negativos na economia e para preservar os interesses dos
beneficiários do sistema financeiro, reservou para si a autorização do funcionamento das
sociedades empresárias que exercem atividades neste sistema, bem como o da fiscalização
do funcionamento das mesmas. Intervém o Estado no chamado domínio econômico, para
evitar tais efeitos e na preservação destes interesses, principalmente quando essas
empresas se encontram em situação de inadimplência ou oferecendo perigo ao mercado em
geral;

2. Conceito de instituição financeira:

- O art. 17 da Lei nº 4.595/64, estabelece que “consideram-se instituições financeiras, para


os efeitos da legislação em vigor, as pessoas jurídicas públicas ou privadas, que tenham
como atividade principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de recursos
financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de
valor de propriedade de terceiro”;

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-Segundo o § 1º, do art. 18, da Lei 4.595/64, são consideradas instituições financeiras e
atividades assemelhadas as desenvolvidas por:
a) estabelecimentos bancários oficiais e privados;
b) sociedades de crédito, financiamento e investimento;
c) caixas econômicas;
d) bolsas de valores;
e) companhias de seguros; companhias de capitalização;
f) sociedades que efetuam distribuição de prêmios em imóveis, mercadorias ou
dinheiro, mediante sorteio de títulos de sua emissão ou por qualquer forma;
g) pessoas físicas ou jurídicas que exerçam, por conta própria ou de terceiros,
atividades relacionadas à compra e venda de ações e outros quaisquer títulos,
realizando, nos mercados financeiros e de capitais, operações ou serviços de
natureza dos executados pelas instituições financeiras;

3. A intervenção e liquidação extrajudicial:

- Para buscar o saneamento das finanças das instituições financeiras e para preservar os
direitos dos que se beneficiam do sistema financeiro, o Estado poderá adotar os seguintes
regimes extrajudiciais, tenham elas a natureza jurídica de direito privado ou de direito
público: a intervenção extrajudicial e a liquidação extrajudicial:

a) Intervenção extrajudicial:

- Por ter natureza cautelar, o Banco Central intervém na instituição financeira quando se
verificarem as anormalidades previstas no art. 2º, da Lei 6.024/74. Tem como finalidade
proceder ao levantamento da situação econômica-financeira da instituição, e se possível o
saneamento das dificuldades organizacionais ou econômicas da empresa, mediante
afastamento temporário de seus administradores e, eventualmente, a concessão de
assistência financeira;

- A pedido dos administradores da instituição ou por ato de ofício, o presidente do Banco


Central do Brasil – BC, decretará a intervenção, nomeando um interventor com plenos
poderes de gestão. Uma vez publicado o ato de intervenção no DOU, o mesmo produzirá
os efeitos adiante expostos, e sempre que for possível a instituição prosseguirá, durante o
regime da intervenção, com as suas atividades, inclusive com a contratação de novos
negócios, sob a responsabilidade do interventor. Destes atos negociais ou administrativos,
os credores, interessados, e ex-administradores poderão interpor recurso administrativos ao
presidente do BC, dentro de 10 dias a contar do conhecimento do fato;

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- São estes os efeitos produzidos pelo ato de intervenção:

a) suspensão da exigibilidade das obrigações vencidas: por um prazo de 6 meses,


prorrogáveis uma única vez por igual período. Neste prazo o credor não poderá
exigir, de imediato, os créditos que lhe são devidos, e o interventor fará um
levantamento contábil e financeiro da instituição, e poderá, também, tomar outras
providências, dependendo do que for apurado, como de sugerir a liquidação
extrajudicial ou solicitar a autorização para o requerimento da falência, quando o
ativo não for suficiente para cobrir 50% dos créditos quirografários ou quando
julgada inconveniente a liquidação extrajudicial ;
b) suspensão da fluência do prazo para as obrigações vincendas anteriormente
contratadas: assim como as dívidas vencidas, as que se venceram, contraídas
anteriormente à intervenção, tem o seu termo de vencimento prorrogado. Incidem
sobre às dívidas os juros legais ou contratados;
c) Inexigibilidade dos depósitos existentes: os credores de depósito de valores em
contas correntes bancárias, poupanças, aplicações financeiras, não poderão exigir o
levantamento dos respectivos valores;
d) Indisponibilidade dos bens pessoais dos ex-administradores: nos termos do § 1º,
do art. 36, da Lei 6.024/74, os atos de intervenção, liquidação ou falência acarretam
a indisponibilidade dos bens pessoais dos administradores que tiveram gerido a
instituição nos últimos 12 meses, impedindo-os de aliená-los ou onerá-los até a
apuração e liquidação final das suas responsabilidades;
e) Suspensão do mandato dos membros da administração da sociedade: os ex-
administradores têm seu mandato suspenso até o final da intervenção, e suas
atribuições são exercidas unicamente pelo interventor

b) Liquidação extrajudicial:

- Constitui um procedimento administrativo, o qual tem a mesma finalidade do instituto da


falência, ou seja, a apuração do passivo e do ativo, para a venda deste e conseqüente
pagamento aos credores, e, paralelamente, como ocorre com o inquérito judicial, apurar as
causas do estado liquidatório, remetendo as conclusões ao MP para as providencias
judiciais adequadas de natureza criminal ou civil. A decretação far-se-á:
a) ex oficio, pelo BC, nas hipóteses do art. 15, I/Lei 6.024/74;

b) a requerimento dos administradores da instituição, nos termos do art. 15, II/Lei


6.024/74;

c) por proposta do interventor;

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- A publicação do decreto de liquidação extrajudicial no Diário Oficial da União, produz os
seguintes efeitos (art. 18/Lei 6.024/74):

a) suspensão das ações e execuções iniciadas sobre direitos e interesses relativos


ao acervo da entidade liquidanda, não podendo intentar outra enquanto durar
a liquidação, exceto quando houver discordância do credor quanto à decisão
proferida pelo liquidante ou, em grau de recurso, pelo presidente do BC, em relação
ao seu crédito, podendo neste caso prosseguir com a ação suspensa ou propor as que
couberem (art. 27/Lei 6.024/74);

b) vencimento antecipado das obrigações da liquidanda;

c) não atendimento das cláusulas penais dos contratos unilaterais vencidos em


virtude da decretação da liquidação extrajudicial;

d) suspensão da fluência dos juros, mesmo que estipulado contra a massa,


enquanto não integralmente pago o passivo;

e) interrupção da prescrição relativa à obrigação de responsabilidade da


instituição;

f) não reclamação de correção monetária de quaisquer dívidas passivas


(derrogado nesta parte pelo art. 46 das Disposições Constitucionais Transitórias, o
qual sujeita à correção monetária, do vencimento até o seu efetivo pagamento), nem
de penas pecuniárias por infração de leis penais ou administrativas;

g) manutenção da indisponibilidade dos ex-administradores, decorrente de


intervenção ou sua incidência (art. 36, § 1º/Lei 6.024/740);

h) perda do mandato dos membros da administração (art. 50/Lei 6.024/74);

- O liquidante nomeado, nos termos do art. 34/Lei 6.024/74, desempenhará um papel


semelhante ao do Síndico, e o BC ao do juiz da falência, aplicando-se à liquidação
extrajudicial, subsidiariamente, a Lei de Falências, de nº 11.101/2005, a qual revogou o
Dec. Lei nº 7.661/45 (art. 34/Lei 6.024/74). Entretanto o liquidante, também exerce, a
semelhança do juízo falimentar, função de direção do procedimento liquidatório, julgando
as habilitações, em relação a sua legitimidade, valor e classificação, obedecendo a mesma
ordem prevista no concurso falimentar, com recurso ao BC (art. 30/Lei 6.024/74), e decide
a forma de liquidação do ativo e do passivo. O art. 31/Lei 6.024/74, faculta ao liquidante
optar por outras formas de liquidação, como a cessão do ativo a terceiros, organizar ou
reorganizar a sociedade para continuação geral ou parcial da atividade da liquidanda. A
cessação da liquidação extrajudicial ocorrerá nos termos do art. 19/Lei 6.024/74.

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