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Filipe Duarte Santos - Mec Quantica PDF
Filipe Duarte Santos - Mec Quantica PDF
MECÂNICA QUÂNTICA II
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Bibliografia iii
2 Partı́culas idênticas 60
2.1 Grupo das permutações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
2.2 Construção de vectores simétricos e antisimétricos . . . . . . . . . . . . . . 63
2.3 Relação entre o spin e a estatı́stica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
2.4 Modelo de partı́culas independentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
2.5 Acoplamentos LS e jj . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
2.6 Aproximação de Hartree–Fock . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
2.7 Segunda quantificação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
2.8 Quantificação de um campo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
2.9 Interacção da radiação electromagnética com a matéria . . . . . . . . . . . . 97
2.10 Emissão e absorção de fotões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
2.11 Transições dipolares eléctricas (E1) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
i
ii Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
B Problemas 174
Índice 193
Bibliografia
iii
Capı́tulo 1
1
2 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
Como esta equação é válida para qualquer ponto do espaço podemos escrevê-la sob a forma
Dado que esta relação se verifica para qualquer vector |ψi obtém-se
RR† = R† R = 1 . (1.8)
~
R(a, ~n ) = e−ia~n · J . (1.13)
~L × ~L = i~~L . (1.14)
Vamos mostrar na secção 1.3 que tal processo de determinação generaliza-se a qualquer
operador que satisfaça a idênticas leis de comutação. Este resultado é particularmente
significativo porque as leis de comutação (1.14) constituem, por si próprias, equações que
definem um operador de momento angular. A razão deste facto está em que é possı́vel
deduzir aquelas leis de comutação partindo apenas da equação (1.13) que define o momento
angular ~J .
Para provar esta afirmação vamos considerar duas rotações sucessivas com ângulos de
rotação infinitesimais e fazer o estudo das diferenças que resultam de as aplicar em ordem
inversa. Note-se que as propriedades dos operadores de momento angular são independentes
do valor do ângulo de rotação. Assim a utilização de rotações infinitesimais não introduz
nenhuma quebra de generalidade e tem a vantagem de simplificar consideravelmente a
análise. Do estudo das rotações sabe-se que numa rotação de um ângulo infinitesimal da
em torno de um eixo definido pelo versor ~n , a equação (1.1) toma a forma (ver figura 1.1)
Vamos considerar duas rotações infinitesimais segundo eixos distintos que, para simplificar
a argumentação, se fazem coincidir com os eixos dos x e y. Por aplicação da equação (1.15)
obtém-se
Esta equação mostra que o comutador das rotações infinitesimais em torno dos eixos dos x
e y é equivalente ao deslocamento provocado por uma rotação infinitesimal de um ângulo
dax day em torno do eixo ~e z . Tem-se pois que
Fazendo o desenvolvimento das exponenciais até à segunda ordem nos ângulos infinites-
imais dax e day obtém-se
Como esta equação é válida independentemente do valor dos ângulos dax e day conclui-se
que
[Jx , Jy ] = iJz . (1.22)
~J × ~J = i~J (1.23)
~J 2 = J2 + J2 + J2 (1.25)
x y z
comuta com Jz
[~J 2 , Jz ] = 0 (1.26)
1
Lembrar que: ~a × (~b × ~c ) = (~a · ~c )~b − (~a · ~b )~c .
Capı́tulo 1. Momento angular e grupos de simetria 5
[~J 2 , ~J ] = 0 , (1.27)
tal como se tinha já provado para o caso particular do momento angular orbital.
Como ~J 2 e Jz comutam vamos procurar determinar o espectro destes observáveis e os
seus vectores próprios comuns. Note-se que poderiamos ter escolhido os pares de observáveis
~J 2 , Jx ou ~J 2 , Jy em lugar de ~J 2 , Jz . Os resultados obtidos em qualquer destes casos são
análogos.
Vamos representar por |jmi os vectores próprios normalizados comuns a ~J 2 e Jz
Nestas equações j é, por ora, apenas um ı́ndice que serve para distinguir os valores próprios
de ~J 2 . Como Jx é hermı́tico o valor médio de J2x é necessariamente positivo ou nulo.
Aplicando o mesmo raciocı́nio a J2y e J2z conclui-se que
donde se obtém
nj ≥ m2 . (1.33)
É agora útil introduzir os operadores
J+ = Jx + iJy , (1.34a)
J− = Jx − iJy . (1.34b)
Recorde-se que já nos referimos a operadores análogos no caso particular do momento
angular orbital [9]. Por aplicação das equações (1.23) e (1.27) obtém-se
[~J 2 , J± ] = 0 , (1.35)
[Jz , J± ] = ±J± , (1.36)
Verifica-se assim que J± |jmi são vectores próprios comuns a ~J 2 e Jz pertencentes aos valores
próprios nj e m ± 1. Por outro lado, de acordo com a definição inicial dos vectores |jmi,
tem-se
J± |jmi = Γ± |jm ± 1i , (1.39)
6 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
onde Γ± é uma constante que, em certos casos, poderá ser nula. A equação (1.39) mostra que
a actuação com J+ e J− em |jmi tem por resultado aumentar ou diminuir de uma unidade
o número quântico m. Por esta razão os operadores J+ e J− designam-se operadores de
levantamento e abaixamento.
Dado que o conjunto de valores de m é limitado, como mostra a equação (1.33), existe
um valor máximo m2 e um valor mı́nimo m1 para os quais se verificam as equações
J+ |jm2 i = 0 , (1.40)
J− |jm1 i = 0 . (1.41)
Utilizando a relação
J∓ J± = ~J 2 − Jz (Jz ± 1) (1.42)
e aplicando os operadores J− e J+ , respectivamente às equações (1.40) e (1.41) obtém-se
e portanto
nj = m2 (m2 + 1) = m1 (m1 − 1) . (1.43)
Desta relação obtém-se
(m2 + m1 )(m2 − m1 + 1) = 0 , (1.44)
e porque m2 ≥ m1 , conclui-se que
m2 = −m1 . (1.45)
Como os valores sucessivos de m diferem de um número inteiro não negativo, m2 − m1
é um número inteiro não negativo que representamos por 2j:
m2 − m1 = 2j . (1.46)
Estes resultados para j inteiro são coincidentes com os que se obtiveram para o momento
angular orbital. Os valores semi-inteiros de j correspondem a um outro tipo de momento
angular a que se dá o nome de spin. Em qualquer caso o número quântico j é o momento
angular do sistema. Se um sistema fı́sico com momento angular total J~ se encontra num
estado próprio de ~J 2 , pertencente ao valor próprio j(j +1), diz-se que tem momento angular
j. Ao conjunto dos 2j + 1 estados descritos pelos vectores |jmi, todos com o mesmo j,
dá-se o nome de multipleto.
Capı́tulo 1. Momento angular e grupos de simetria 7
O conjunto das equações (1.49) e (1.51) permite determinar os elementos de matriz dos
operadores de momento angular. Em particular tem-se
1.4 Spin
A descoberta do spin das partı́culas elementares foi um passo muito importante no conhec-
imento da estrutura da matéria. O spin é um momento angular intrı́nseco e constitui um
fenómeno puramente quântico, sem analogia em mecânica clássica. No caso particular do
electrão o spin é um observável cuja origem encontra justificação na equação relativista de
Dirac. Porém, a origem do spin não está igualmente elucidada para outras partı́culas ele-
mentares. Aqui vamos apenas fazer o estudo do spin de um ponto de vista fenomenológico.
Voltaremos a este assunto na secção 1.9.
Enquanto o momento angular orbital só pode ter valores inteiros o spin pode ser inteiro
ou semi-inteiro. Muitas das mais importantes partı́culas, como por exemplo, os electrões,
nucleões e muões têm spin 21 . O fotão tem spin 1 enquanto que, por exemplo, as partı́culas
∆++ , ∆+ , ∆0 e ∆− têm spin 23 . Do ponto de vista histórico o conceito de spin foi ini-
cialmente proposto para o electrão por Uhlenbeck e Goudsmith em 1925, como meio de
interpretação do espectro de energia de átomos alcalinos.
8 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
Quando se trata de spin é usual designar o operador de momento angular (~J) pela letra
~S e o momento angular (j) pela correspondente letra s. Comecemos pelo caso particular
em que s = 21 . É útil introduzir o operador
~σ = 2~S (1.54)
~σ × ~σ = 2i~σ . (1.56)
σi σj + σj σi = 2δij (1.57)
e
σj σk = iσl . (1.58)
Nestas relações cada um dos ı́ndices i, j, k designa x, y, z. Tendo presente o espectro de σi
obtém-se
Tr σi = 0 , (1.59)
det σi = −1 , (1.60)
Como qualquer matriz bidimensional pode escrever-se sob esta forma as matrizes de Pauli
e a matriz identidade constituem um conjunto completo de matrizes 2 × 2. Utilizando as
equações (1.59) e (1.60) obtém-se
1 1
b = Tr A , ~a = Tr (~σ A) . (1.63)
2 2
Falou-se apenas dos operadores de spin de uma partı́cula. Interessa agora consid-
erar as funções de onda desta partı́cula. Se, por exemplo, utilizarmos a representação
de Schrödinger há que especificar a posição da partı́cula e também o seu estado de spin. O
Capı́tulo 1. Momento angular e grupos de simetria 9
espaço vectorial dos estados da partı́cula, E, é o produto tensorial do espaço Es relativo às
variáveis dinâmicas de spin, pelo espaço de configuração Er , relativo às restantes variáveis
dinâmicas, por vezes designadas de variáveis orbitais:
E = Er ⊗ Es . (1.64)
O vector que descreve uma partı́cula de spin s localizada na posição ~r e com projecção do
spin m segundo o eixo dos z é
|~r mi = |~r i|smi . (1.65)
Enquanto que ~r , nesta equação, corresponde a um conjunto de três variáveis contı́nuas, m
é uma variável discreta que toma 2s + 1 valores.
Os vectores (1.65) constituem os vectores de base da representação de Schrödinger
normal para uma partı́cula de spin s. Expressa nestes vectores a partição da identidade é
XZ
|~r mih~r m|d~r = 1 . (1.66)
m
é constituı́da por um conjunto de 2s+1 funções ψm (~r). Utilizando a equação (1.66) obtém-se
para a norma de |ψi
s
X Z
hψ|ψi = |ψm (~r )|2 d~r . (1.68)
m=−s
|ψm (~r)|2
é a densidade de probabilidade de posição relativa à projecção m do spin segundo
o eixo dos z.
Desenvolvendo |ψi na base de vectores |smi obtém-se
s
X
|ψi = |ψm i|smi , (1.69)
m=−s
~ = Q L
M ~ . (1.77)
2m
Recorde-se que esta relação é a mesma que existe em mecânica clássica para uma partı́cula
numa órbita circular e com momento angular orbital L ~.
Para um electrão é usual escrever a equação (1.77) sob a forma
~ = −µB L
M ~ , (1.78)
~
onde, em conformidade com a convenção adoptada neste capı́tulo, o momento angular L
está expresso em unidades de ~. Na relação (1.78)
q~
µB = = 9.27 × 10−24 JT−1 (1.79)
2me
é o magnetão de Bohr sendo q a carga eléctrica elementar positiva.
O momento magnético dipolar do electrão associado ao spin é
~ e = −ge µB S
M ~ , (1.80)
Capı́tulo 1. Momento angular e grupos de simetria 11
e a constante ge designa-se por razão giromagnética. A teoria de Dirac do electrão prevê que
seja ge = 2. Num modelo mais realista que resulta de efectuar a quantificação do campo
electromagnético obtém-se α
ge = 2 1 + = 2.00232 , (1.81)
2π
sendo α a constante de estrutura fina.
No caso do protão a relação (1.80) escreve-se usualmente sob a forma
~ p = gp µN S
M ~ (1.82)
onde
q~
µN = ' 5.05 × 10−27 JT−1 (1.83)
2mp
é o magnetão nuclear e mp é a massa do protão. A medição do momento magnético dipolar
do protão dá gp = 5.59 em lugar do valor gp = 2 previsto pela teoria de Dirac. Para o
neutrão obtém-se gn = −3.83 em lugar do valor nulo previsto pela mesma teoria. Estes
resultados indicam que o protão e o neutrão têm uma estrutura interna, em contraste com
o electrão que aparentemente é uma partı́cula pontual.
Se compararmos os momentos magnéticos do electrão e do protão verifica-se que, essen-
cialmente devido à diferença de massa, o momento magnético do protão é cerca de 103
vezes menor que o do electrão. Este facto tem especial importância no estudo dos efeitos
de campos magnéticos sobre átomos e também como fundamento de métodos para obter
feixes de núcleos polarizados em aceleradores de partı́culas. Na secção 1.9 voltaremos a
falar sobre o momento magnético dipolar a propósito da interacção entre o spin de uma
partı́cula e um campo magnético exterior.
é também um operador de momento angular pois que satisfaz às regras de comutação (1.23).
Efectivamente tem-se
~J × ~J = (~J 1 + ~J 2 ) × (~J 1 + ~J 2 ) = i(~J 1 + ~J 2 ) = i~J . (1.85)
Como ~J é um momento angular, ~J 2 e ~Jz são observáveis compatı́veis. É fácil verificar que
~J 2 , Jz comutam também com ~J 2 e ~J 2 , embora não comutem com J1z e J2z . Em conclusão
1 2
temos dois conjuntos completos de observáveis em E:
b) o conjunto ~J 21 , ~J 22 , ~J 2 , Jz .
Vamos designar os vectores próprios comuns do conjunto b), normalizados, por |j1 j2 jmi,
onde, de acordo com a anterior notação, j(j + 1) e m são os valores próprios de ~J 2 e Jz .
O sub-espaço vectorial E(j1 , j2 ) do espaço E relativo aos valores próprios j1 e j2 de ~J 21
e ~J 22 tem dimensão (2j1 + 1)(2j2 + 1). Tanto o conjunto dos vectores |j1 m1 j2 m2 i como o
conjunto dos vectores |j1 j2 jmi constituem uma base no espaço E(j1 , j2 ). Consequentemente
a partição da identidade pode escrever-se sob as duas seguintes formas
X
|j1 m1 j2 m2 ihj1 m1 j2 m2 | = 1 , (1.86)
m1 ,m2
X
|j1 j2 jmihj1 j2 jm| = 1 . (1.87)
j,m
Multiplicando ambos os membros da equação (1.86) por |j1 j2 jmi obtém-se uma relação
entre os vectores de base das duas representações
X
|j1 j2 jmi = |j1 m1 j2 m2 ihj1 m1 j2 m2 |j1 j2 jmi . (1.88)
m1 ,m2
m = m1 + m2 . (1.95)
Em conclusão o espectro de ~J 2 é
j = j1 + j2 , j1 + j2 − 1, . . . , |j1 − j2 | . (1.98)
Diz-se que os três números j1 , j2 , j satisfazem a uma relação triangular. Para que o co-
eficiente (j1 m1 j2 m2 |jm) não seja necessariamente nulo deverão ser satisfeitas as relações
(1.95), (1.98) e ainda j1 ≥ |m1 | e j2 ≥ |m2 |. Note-se porém que a verificação destas relações
não é condição suficiente para o não anulamento do coeficiente C.
Resta-nos agora abordar o problema do cálculo dos coeficientes C. Aplicando o operador
J± à equação (1.88) obtém-se
p X
J± |jmi = j(j + 1) − m(m ± 1) (j1 m1 j2 m2 |jm ± 1)|m1 m2 i =
m1 ,m2
X hp
= (j1 m1 j2 m2 |jm) j1 (j1 + 1) − m1 (m1 ± 1) |m1 ± 1 m2 i+ (1.99)
m1 ,m2
p i
+ j2 (j2 + 1) − m2 (m2 ± 1) |m1 m2 ± 1i .
14 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
Por esta razão diz-se que o estado com s = 0 constitui um singleto e os estados com s = 1
constituem um tripleto.
Os vectores (1.112) obtêm-se a partir dos vectores (1.113) por meio de uma transformação
unitária que é usual escrever sob a forma
Xp
|j1 j2 (j12 )j3 jmi = (2j23 + 1)(2j12 + 1)W (j1 j2 jj3 ; j12 j23 )|j1 j2 j3 (j23 )jmi . (1.114)
j23
Aos W (j1 j2 jj3 ; j12 j23 ) dá-se o nome de coeficientes de Racah. Devido à equação (1.114)
só poderão ser diferentes de zero se forem satisfeitas quatro relações triangulares envolvendo
os seis argumentos, designadamente: (j1 , j2 , j12 ), (j12 , j3 , j), (j2 , j3 , j23 ) e (j1 , j23 , j). Como
a transformação (1.114) é unitária fácil é concluir que os coeficientes de Racah satisfazem
à relação de ortonormalidade
X
(2j23 + 1)(2j12 + 1)W (j1 j2 jj3 ; j12 j23 )W (j1 j2 jj3 ; j12 j23 ) = δj12 j12
0 . (1.116)
j23
Por vezes em lugar dos coeficientes de Racah utilizam-se os sı́mbolos 6-j de Wigner, definidos
por ( )
j1 j2 j12
= (−1)j1 +j2 j3 +j W (j1 j2 jj3 ; j12 j23 ) . (1.117)
j3 j j23
Existe um número considerável de relações de simetria e de identidades que são satisfeitas
pelos coeficientes de Racah. Porém não vamos apresentá-las aqui, sendo fácil encontrá-las
em livros especializados sobre a teoria do momento angular.
A adição de quatro ou mais momentos angulares faz-se essencialmente por um processo
análogo ao que se acabou de descrever para três momentos angulares.
Antes de terminar esta secção sobre adição de momentos angulares importa salientar
que a palavra spin utiliza-se, não só para designar o spin de uma partı́cula elementar ou
pontual (por exemplo, o electrão), mas também para designar o momento angular total
de uma partı́cula composta por outras partı́culas. É o caso dos núcleos atómicos, cujo
momento angular total se chama por vezes spin, embora seja soma do spin e do momento
angular orbital de cada um dos nucleões constituintes. Pode pois dizer-se que o deuterão
tem spin 1 ou, alternativamente, momento angular total 1.
A interpretação fı́sica dos elementos das matrizes Dj é muito simples: Djm0 m (R) é a ampli-
tude de probabilidade de obter, numa medição de Jz , o valor próprio m0 quando o sistema
se encontra no estado “rodado” descrito pelo vector R|jmi.
Há agora que caracterizar a rotação por meio de determinados parâmetros e obter
os elementos da matriz Dj em função destes parâmetros. Vamos utilizar os ângulos de
Euler para parametrizar as rotações. Estes ângulos definem-se por meio de três rotações
sucessivas. Primeiro, uma rotação de um ângulo α em torno do eixo dos z, pela qual se
obtém um sistema de coordenadas x1 , y1 , z1 . Em seguida, uma rotação de um ângulo β
em torno do eixo dos y1 que define um sistema de coordenadas x2 , y2 , z2 . Finalmente, uma
rotação de um ângulo γ em torno do eixo z2 através da qual se obtém um sistema de
coordenadas x3 , y3 , z3 . Estas sucessivas rotações são esquematizadas na figura 1.2. Note-
-se que as rotações se efectuam no sentido directo (sentido contrário ao movimento dos
ponteiros de um relógio para um observador colocado ao longo do eixo de rotação com
os pés na origem) e que os domı́nios de variação dos ângulos de Euler são 0 ≤ α < 2π,
0 ≤ β ≤ π, 0 ≤ γ < 2π.
O operador de rotação que descreve a transformação do sistema de coordenadas x, y, z
para x3 , y3 , z3 é
R = e−iγJz2 e−iβJy1 e−iαJz . (1.120)
Esta expressão tem o inconveniente de que nela intervêm diferentes sistemas de coordenadas.
O operador Jy1 , por exemplo, é o operador transformado de Jy pela transformação unitária
exp(−iαJz ) correspondente à primeira rotação. Assim, utilizando a equação
R(n, ~n 0 ) = R(m, m
~ )R(n, ~n )R(−m, m
~) (1.121)
obtém-se
e−iβJy1 = e−iαJz e−iβJy eiαJz . (1.122)
Analogamente o operador exp(−iγJz2 ) é dado por
Este resultado mostra que a rotação descrita pela equação (1.120) é equivalente a aplicar
três rotações sucessivas cujos ângulos de rotação se ordenam por ordem inversa de (1.120)
mas sempre em torno de eixos de rotação do sistema de coordenadas inicial. Substituindo
a equação (1.124) em (1.18) e recorrendo a (1.49) obtém-se
0
Djmm0 (α, β, γ) = e−iαm djmm0 (β)e−iγm (1.125)
Substituindo (1.90) em (1.130) e tendo em atenção que os vectores |j1 j2 jmi são linearmente
independentes obtém-se a chamada série de Clebsch–Gordan,
Djmm0 (R) = (j1 m1 j2 m2 |jm)(j1 m01 j2 m02 |jm0 )Djm1 1 m0 (R)Djm2 2 m0 (R) . (1.131)
X
1 2
m1 ,m2 ,m01 ,m02
Por um método análogo, partindo da equação (1.90), obtém-se a seguinte relação inversa
de (1.131):
Por outro lado se j é inteiro existe uma relação simples entre as matrizes Dj e os harmónicos
esféricos r
4π
Dlm0 (α, β, 0) = Ylm ∗ (β, α) . (1.135)
2l + 1
A propósito de harmónicos esféricos note-se ainda que por aplicação directa da equação
(1.119) se obtém
0
X
Ylm (θ0 , φ0 ) = Dlm0 m (α, β, γ)Ylm (θ, φ) , (1.136)
m0
e também
∗
Djmm0 (α, β, γ) = Djm0 m (−γ, −β, −α) . (1.140)
Finalmente, utilizando a equação (1.139) pode exprimir-se a unitariedade das matrizes Dj
pelas relações
X j ∗ ∗
Dmm00 (R)Djm0 m00 (R) =
X j
Dm00 m (R)Djm00 m0 (R) = δmm0 . (1.141)
m00 m00
[A, ~J ] = 0 . (1.143)
De um ponto de vista prático é por vezes difı́cil verificar por aplicação directa da equação
(1.144) se um determinado conjunto de operadores Tkq constituem ou não as componentes
de um tensor irredutı́vel. Esta verificação pode efectuar-se mais simplesmente determinando
as regras de comutação de Tkq com ~J . Para demonstrar que este processo é equivalente
vamos considerar uma rotação de um ângulo infinitesimal dα em torno de um eixo de
rotação definido pelo versor ~n . O correspondente operador de rotação é
~
R(dα, ~n ) = e−idα~n · J ∼
= 1 − idαJn , (1.145)
e portanto X
[Jn , Tkq ] = hkq 0 |Jn |kqiTkq0 . (1.147)
q0
Em conclusão um tensor irredutı́vel Tkq fica definido por meio da equação (1.144), que
descreve as propriedades de transformação nas rotações, ou pelas regras de comutação
(1.148).
Para concretizar estes conceitos consideremos um campo vectorial A ~ . Com as suas
componentes cartesianas Ax , Ay , Az é possı́vel construir um tensor irredutı́vel de primeira
ordem cujas componentes Alq se designam por componentes esféricas do vector A ~ . Para
exprimir as componentes esféricas em função das componentes cartesianas vamos efectuar
sobre A ~ uma rotação R.
De acordo com a lei de transformação das grandezas vectoriais a transformada pela
rotação R da componente Au = A ~ · ~u do vector A,
~ segundo o versor ~u, é (Au )R = A
~ · ~u0 , em
0
que ~u = R~u. Em particular numa rotação R(dα, ~n) de um ângulo de rotação infinitesimal
dα em torno de um eixo definido pelo versor ~n , tem-se
~e 0i = ~e i + dα~n × ~e i , i = x, y, z , (1.149)
~
onde ~e i são os versores segundo os eixos coordenados. Efectuando o produto interno de A
por ~e 0i conclui-se que o vector transformado A~ R se pode escrever sob a forma
~R = A
A ~ − dα~n × A
~ . (1.150)
A ~ R−1
~ R = RA (1.151)
Capı́tulo 1. Momento angular e grupos de simetria 23
onde R é o operador de rotação. No caso de uma rotação infinitésima R(dα, ~n) a utilização
da equação (1.145) permite concluir que
h i
~R=A
A ~ − idα Jn , A
~ , (1.152)
desprezando o termo quadrático em dα. Por comparação entre as equações (1.150) e (1.152)
obtém-se h i
~ = −i~n × A
Jn , A ~ . (1.153)
Escolhendo ~n segundo os três eixos coordenados obtêm-se as regras de comutação das
componentes de ~J com as componentes de A. ~ Em particular, escolhendo ~n segundo o eixo
dos x obtém-se
[Jx , Ax ] = 0 , [Jx , Ay ] = iAz , [Jx , Az ] = −iAy . (1.154)
Tal como seria de esperar as relações de comutação das componentes do momento angular
constituem um caso particular das equações (1.153).
Para identificar as componentes esféricas de A~ basta agora escrever as equações (1.153)
sob a forma das regras de comutação (1.148). Como a única componente de A ~ que comuta
com Jz é Az a equação (1.148a) permite concluir que A10 = Az . Substituindo esta relação
em (1.148b) e utilizando de novo a equação (1.153) obtém-se
√
A1±1 2 = [J± , Az ] = ∓(Ax ± iAy ) . (1.155)
~ são
Em conclusão as componentes esféricas do vector A
1
A1±1 = ∓ √ (Ax ± iAy ) , (1.156a)
2
A10 = Az . (1.156b)
No caso particular do vector de posição ~r é fácil verificar, utilizando a tabela 1.2, que as
suas componentes esféricas são proporcionais aos harmónicos esféricos Y1µ (θ, φ)
r
4π
rµ = r Y1µ (θ, φ) . (1.159)
3
Um tensor cartesiano, qualquer que seja a sua ordem, pode sempre decompôr-se numa
soma de tensores irredutı́veis. No caso de um vector vimos como se obtêm as componentes
esféricas a partir das componentes cartesianas. Um tensor cartesiano de segunda ordem é
decomponı́vel numa soma de três tensores irredutı́veis de ordem k = 0, 1, 2. Efectuada a
decomposição de um tensor nas suas componentes irredutı́veis torna-se imediato obter a
sua lei de transformação nas rotações por aplicação da equação (1.144).
24 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
s
(−1)l dl−m
2l + 1 (l + m)! imφ −m
Ylm (θ, φ) = l · e (sin θ) (sin θ)2l
2 l! 4π (l − m)! d(cos θ)l−m
Yl−m (θ, φ) = (−1)m Ylm ∗ (ver tabela 1.1)
r r
3 3
Y10 = cos θ Y11 =− sin θeiφ
4π 8π
r r r
1 5 15 1 15
Y20 = 2 1
(3 cos θ − 1) Y2 = − sin θ cos θe iφ 2
Y2 = sin2 θe2iφ
2 4π 8π 4 2π
r r
1 7 1 21
0
Y3 = 3
(5 cos θ − 3 cos θ) Y3 =1
sin θ(1 − 5 cos2 θ)e−iφ
4 π 8 π
r r
2 15 7 2 2iφ 3 5 7
Y3 = cos θ sin θe Y3 = − sin3 θe3iφ
4 30π 8 5π
Tabela 1.2: Primeiros harmónicos esféricos Ylm (θ, φ), para l = 1, 2, 3 e 0 ≤ m ≤ l, calcula-
dos em computador. A expressão genérica para Ylm , no topo, foi extraı́da dos apontamentos
da cadeira de Mecânica Quântica I do prof. Noémio Marques [9].
Esta operação tem o nome de produto escalar dos tensores U e V. O factor que antecede o
somatório no segundo membro da equação (1.161) foi introduzido para que, ao substituir o
coeficiente C pelo seu valor, o produto escalar apresente a forma mais simples
X
T00 (Uk , Vk ) = (−1)q Ukq Vk−q . (1.162)
q
Capı́tulo 1. Momento angular e grupos de simetria 25
~ e V
Como aplicação desta definição note-se que o produto interno de dois vectores U ~
identifica-se com o produto escalar das suas componentes esféricas
X
~ 1, V
T00 ( U ~ 1) = ~ 1q V
(−1)q U ~ 1−q = U
~ ·V
~ . (1.163)
q
onde (j 0 kTk kj) é uma quantidade designada por elemento reduzido de matriz que é ape-
nas função dos momentos angulares j e j 0 . Isto significa que a dependência nos números
quânticos magnéticos m0 , q, m está inteiramente contida no coeficiente (jmkq|j 0 m0 ). Este
facto implica a existência de fortes regras de selecção nos elementos de matriz do operador
Tkq . Recordando as propriedades dos coeficientes C conclui-se que
m0 = m + q , (1.165a)
0
|j − k| ≤ j ≤ j + k , (1.165b)
são condições necessárias para o não anulamento do elemento de matriz hj 0 m0 |Tkq |jmi.
Estas regras de selecção aplicam-se frequentemente tanto em espectroscopia atómica como
em espectroscopia nuclear e sub-nuclear.
j 0 (j 0 + 1) − m0 (m0 ∓ 1)hj 0 m0 ∓ 1|Tkq |jmi = j(j + 1) − m(m ± 1)hj 0 m0 |Tkq |jm ± 1i+
p p
(1.167)
hj 0 m0 |T00 |jmi = (jm00|j 0 m0 )(j 0 kT00 kj) = δjj 0 δmm0 (j 0 kT00 kj) . (1.168)
Esta relação mostra claramente que os elementos de matriz de um escalar são independentes
de m.
Como se sabe as componentes esféricas de um vector constituem um tensor irredutı́vel
de primeira ordem. Consideremos a aplicação deste resultado ao operador de momento
angular ~J . Se representarmos por Jµ as componentes esféricas deste operador, recorrendo
às equações (1.52), (1.53) e a uma tabela de coeficientes C obtém-se
(j 0 kJkj) = δjj 0
p
j(j + 1) . (1.170)
Devido às suas propriedades de transformação nas rotações o harmónico esférico Ykq (θ, φ)
é um tensor irredutı́vel de ordem k. Os elementos de matriz entre estados próprios do
momento angular orbital |lmi são
Z
q 0∗
0 0
hl m |Yk (θ, φ)|lmi = Ylm0 (θ, φ)Ykq (θ, φ)Ylm (θ, φ)dΩ , (1.171)
Este elemento reduzido de matriz é nulo se l +l0 +k fôr impar. Com efeito a equação (1.101)
implica que (l0k0|l0 0) só não é necessariamente nulo para l + k + l0 = par.
Como último exemplo de aplicação vamos considerar o chamado teorema da projecção.
Por aplicação do teorema de Wigner–Eckart e recorrendo à relação (1.169) demonstra-se
que
~ |jmi = δjj 0 hjm0 |( T
hj 0 m0 | T ~ · ~J )~J |jmi , (1.174)
j(j + 1)
sendo T~ um operador vectorial arbitrário. Como o produto interno T ~ · ~J é um escalar os
seus elementos de matriz são independentes de m. Consequentemente a equação (1.174)
implica que
~ ~
~ |jmi = δjj 0 (jk T · J kj) hjm0 |~J |jmi .
hj 0 m0 | T (1.175)
j(j + 1)
Esta relação (teorema da projecção) mostra que os elementos de matriz de um tensor ar-
bitrário de primeira ordem são proporcionais aos do momento angular ~J .
Capı́tulo 1. Momento angular e grupos de simetria 27
~ = − 1 ~v × E
B ~ (1.176)
c2
onde
~ = 1 dV ~r
E (1.177)
q dr r
é o campo eléctrico produzido pelo potencial de Coulomb V , representando por q a carga
eléctrica do protão. Combinando estas equações obtém-se
~ = ~ dV ~
B l (1.178)
me qc2 r dr
com ~l em unidades de ~.
O campo magnético B~ interactua com o momento magnético dipolar de spin do electrão
por meio de uma força que deriva do potencial − M ~ e·B
~ . Recorrendo às equações (1.80) e
(1.178) tem-se
2
−M~ e·B~ = ~ 1 dV ~l · S ~ . (1.179)
me c2 r dr
2
Devido ao pequeno valor desta razão torna-se possı́vel determinar o efeito do potencial spin-
órbita no espectro de energia do átomo de hidrogénio por meio da teoria das perturbações.
De acordo com os resultados obtidos no apêndice A as variações de energia são dadas em
primeira ordem de aproximação pelos valores próprios da matriz que representa o operador
Vls numa base de vectores próprios do hamiltoniano não perturbado.
Interessa pois procurar uma base que diagonaliza Vls . Designando por
J~ = ~l + S
~ (1.183)
~L · ~S = 1 (~J 2 − ~L 2 − ~S 2 ) . (1.184)
2
Este operador é manifestamente diagonal numa representação cujos vectores de base são
X 1
|nljmi = ms lml jm |nlml ms i (1.185)
m ,m
2
s l
onde
1
|nlml ms i = |nlml i ms . (1.186)
2
|nlml i são os vectores definidos por
em que Rnl representa a parte radial das funções próprias do hamiltoniano do átomo de
m m
hidrogénio, definida a partir de (µ = mpp+mee é a massa reduzida do átomo de hidrogénio)
e Ylml é um harmónico esférico como os apresentados na tabela 1.2. | 12 ms i são spinores que
descrevem o estado de spin do electrão. Utilizando as equações (1.180), (1.184) e (1.185)
obtém-se
e2 ~2
Z
3 2 1
hnljm|Vls |nljmi = 2 2
j(j + 1) − l(l + 1) − Rnl (r) dr (1.188)
4me c 4 r
Capı́tulo 1. Momento angular e grupos de simetria 29
Tal como se poderia prever logo no inı́cio, a partir da expressão do potencial Vls , há um
aumento de energia quando j = l + 21 , para ~l paralelo a S ~ , e uma diminuição de energia
quando j = l − 2 , isto é, para ~l antiparalelo a S.
1 ~ O potencial spin-órbita remove em parte a
degenerescência dos valores próprios da energia do átomo de hidrogénio. Por exemplo, para
n = 2 existem oito estados independentes, todos com a mesma energia E2 . Por acção do
potencial spin-órbita o nı́vel de energia E2 desdobra-se em três nı́veis a que correspondem
os estados |2p 23 mi, |2s 12 mi e |2p 12 mi conforme se representa na figura 1.3.
Ao desdobramento dos nı́veis de energia provocado pela força spin-órbita dá-se o nome
de estrutura fina. Para prosseguir no estudo do espectro de energia do átomo de hidrogénio
haveria agora que combinar os efeitos relativistas com os efeitos resultantes da interacção
spin-órbita. Porém, este estudo deve fazer-se no quadro da teoria relativista do electrão de
Dirac, que prevê tanto o spin do electrão como a força spin-órbita.
Para além da estrutura fina existe também no espectro de energia do átomo de hidrogénio
um desdobramento de nı́veis provocado pela interacção do spin do electrão com o momento
magnético dipolar M ~ p do protão, dado pela equação (1.82). O potencial desta interacção
é também da forma − M ~ e·B~ sendo agora B ~ o campo magnético provocado pelo momento
magnético dipolar M ~ p . Este tipo de interacção designa-se por interacção hiperfina nos
nı́veis do átomo de hidrogénio.
Considerámos aqui apenas o caso do hidrogénio. Porém, devido à sua natureza, as
interacções spin-órbita e hiperfina manifestam-se em todos os átomos, qualquer que seja
o seu número atómico. Note-se ainda que a interacção spin-órbita desempenha um papel
determinante na interpretação do espectro de energia dos núcleos atómicos.
~ = 1 (B
A ~ × ~r ) . (1.190)
2
~ no hamiltoniano
Substituindo A
1 2
H= (~ ~ )2 + V (r) = p~ + 2q A
p + qA ~ · p~ + 1 q 2 A
~ 2 + V (r) (1.191)
2me 2me 2me 2me
~ A
e notando que ∇ ~ = 0 obtém-se
p2 q~ ~ ~ q 2 ~ 2
H= + V (r) + B ·l+ B × ~r , (1.192)
2me 2me 8me
sendo V o potencial de Coulomb e q a carga do protão. O terceiro termo no segundo
~
membro desta equação, chamado termo paramagnético, resulta da interacção do campo B
30 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
com o momento magnético dipolar resultante do movimento orbital do electrão, dado pela
equação (1.78). O quarto termo, chamado termo diamagnético, é o potencial de interacção
entre o campo magnético B ~ e o campo magnético por ele induzido no átomo.
~
O campo magnético B interactua também com o momento magnético de spin do electrão
M~ e , por meio do potencial −M ~ e · B.
~ Finalmente há ainda que considerar o potencial spin-
-órbita ξ(r)~l · S.
~ Adicionando estes potenciais a (1.192) e fazendo ge ' 2 na equação (1.80)
obtém-se
p2 2
~ + q B
2
H= + V (r) + ξ(r)~l · S
~ + µB (~l + 2 S
~)· B ~ × ~r . (1.193)
2me 8me
Num campo magnético B ~ de fraca intensidade o quarto termo no segundo membro desta
equação é pequeno relativamente ao potencial spin-órbita e o último termo pode desprezar-
-se por ser quadrático em B ~ . Nestas condições podemos tomar
HB = µB (~l + 2 S
~)· B
~ (1.194)
p2
H0 = + V (r) + ξ(r)~l · S
~ . (1.195)
2me
Vamos pois calcular os elementos de matriz de HB entre vectores |nljmi, definidos pela
relação (1.185), dado que estes vectores diagonalizam H0 . Tendo presente o teorema de
projecção (equação (1.175)) conclui-se que a matriz hnlj 0 m0 |HB |nljmi é diagonal desde que
se escolha o eixo dos z segundo a direcção do campo aplicado B ~ . As variações de energia
são dadas por
m
jm = µB Bhnljm|Lz + 2Sz |nljmi = µB B j
(~L + 2~S ) · ~J
j . (1.196)
j(j + 1)
Reparando que
(~L + 2~S ) · ~J = (~J + ~S ) · ~J = ~J 2 + ~L · ~S + ~S 2 (1.197)
e utilizando a equação (1.184) obtém-se a fórmula do efeito de Zeeman,
Nesta relação,
1 3 1
gj = 1 + j(j + 1) + − l(l + 1) = 1 ± (1.199)
2j(j + 1) 4 2l + 1
ga gb = gc . (1.201a)
Ega = ga E = ga (1.201c)
para qualquer ga de G.
ga ga −1 = ga −1 ga = E . (1.202)
Um grupo diz-se finito ou infinito conforme seja finito ou infinito o número dos seus
elementos. Em mecânica quântica têm especial interesse os grupos contı́nuos. Estes são
grupos infinitos cujos elementos se identificam por meio de um conjunto de parâmetros
contı́nuos. Um grupo diz-se abeliano se a multiplicação fôr comutativa.
As translacções no espaço, ~r 0 = ~r + d~ , constituem um exemplo de um grupo contı́nuo
em que os elementos dependem de três parâmetros, designadamente, as componentes do
vector de translacção d~ .
As rotações no espaço tridimensional constituem também um grupo contı́nuo com três
parâmetros, que se designa por R3 .
Os grupos de simetria molecular ou grupos pontuais constituem outro exemplo do con-
ceito de grupo com grande importância em fı́sica quântica. Estes grupos consistem em
determinadas transformações ortogonais no espaço que descrevem a simetria das moléculas
e de um modo mais geral a simetria de figuras geométricas, tais como sólidos regulares.
Se num grupo G existe um subconjunto de elementos que constitui um grupo G0 diz-
-se que G0 é um subgrupo de G. A identidade é necessariamente um dos elementos de G0
porque a sua presença é essencial para garantir os postulados de definição de um grupo. É
fácil encontrar exemplos de subgrupos no grupo das rotações R3 . O conjunto das rotações
em torno do mesmo eixo constitui um grupo contı́nuo e abeliano designado por R2 . Os
elementos de R2 ficam caracterizados apenas por um parâmetro que é o ângulo de rotação.
O conjunto das matrizes Aji (ga ) constitui uma representação matricial do grupo G.
Em mecânica quântica estamos especialmente interessados nas representações cujo espaço
de representação é o espaço vectorial dos estados do sistema fı́sico que nos interessa ou um
seu subespaço. Consideremos pois que o espaço de representação E é um espaço de funções
de onda ψ(~r ) com norma finita. O espaço E diz-se invariante para um grupo G de trans-
formações das coordenadas ~r se, pertencendo ψ(~r) a E, a função ψ(ga −1~r) pertence também
a E, para todos os elementos ga de G. Nestas condições podemos definir uma representação
A do grupo G no espaço E por meio da relação
A(ga )ψ(~r ) = ψ(ga −1 ~r ) = ψ 0 (~r ) . (1.206)
É imediato verificar que esta relação satisfaz à condição (1.203). Com efeito tem-se
A(ga )A(gb )ψ(~r ) = A(ga )ψ(gb −1 ~r ) = A(ga )ψ 0 (~r ) = ψ 0 (ga −1 ~r ) =
(1.207)
= ψ(gb −1 ga −1 ~r ) = ψ (ga gb )−1 ~r = A(ga gb )ψ(~r ) .
Quanto à relação (1.204) ela é evidente em face da definição (1.206). A utilização da função
ψ 0 (~r ) nas equações (1.206) e (1.207) serviu para salientar que a operação de A numa função
ψ(~r ) está definida apenas quando os argumentos de ψ são as coordenadas não transformadas
~r .
Introduzindo uma base ortonormada de funções {ψi (~r )} no espaço E obtém-se uma
representação matricial para o grupo G por meio da relação
X
A(ga )ψi (~r ) = ψi (ga −1 ~r ) = ψi0 (~r ) = Aji (ga )ψj (~r ) . (1.208)
j
para todos os elementos ga de G. É fácil verificar que o conjunto das funções ψa (~r ) define
um subespaço invariante para o grupo G. Embora as funções ψa (~r ) não sejam em geral
linearmente independentes é sempre possı́vel construir com elas uma base ortonormada.
Temos agora os elementos suficientes para definir as representações redutı́veis e irre-
dutı́veis. Se um subespaço E1 de E é invariante e o seu complemento ortogonal E2 é também
invariante, para o mesmo grupo G, a representação A de G, no espaço E, diz-se redutı́vel.
Se, porém, não é possı́vel encontrar um subespaço E1 de E com esta propriedade, a repre-
sentação A e o espaço E dizem-se irredutı́veis. É importante chamar a atenção para o facto
de ser essencial na definição de redutibilidade que tanto o subespaço E1 como o subespaço
E2 sejam invariantes. No caso particular da representação ser unitária a invariância de E1
implica necessariamente a invariância do seu complemento ortogonal E2 .
E = E1 + E 2 + E3 + . . . , (1.210)
embora esta redução não seja necessariamente única. No que respeita aos operadores A(ga )
a redução da representação A de G pode escrever-se simbolicamente sob a forma
onde A(α) (ga ) é a representação irredutı́vel do grupo G no espaço Eα . Note-se que o segundo
membro da equação (1.211) não é propriamente uma soma porque os operadores A(α) (ga )
operam em espaços vectoriais distintos Eα . A redução da representação matricial de A(ga ),
correspondente à equação (1.211), traduz-se pela matriz
A(1) 0 0 ··· 0
0 A(2) 0 · · · 0
A(3) · · · 0 ,
A= 0 0 (1.212)
.. .. ..
. . .
0 0 0 0
Capı́tulo 1. Momento angular e grupos de simetria 35
onde A(α) (ga ) é uma matriz quadrada com a dimensão do subespaço Eα . Na construção da
matriz (1.212) escreveram-se os elementos de uma base {ψi } em E sob a seguinte ordem;
primeiro os elementos pertencentes a E1 , depois os elementos pertencentes a E2 e assim
sucessivamente. Cada uma das matrizes A(α) (ga ) constitui uma representação matricial
irredutı́vel do grupo G. Demonstra-se que no caso particular em que o grupo G é abeliano
as representações irredutı́veis são unidimensionais.
(α)
Se {ψi } constituir uma base em Eα tem-se, por aplicação da equação (1.208),
(α)
X (α) (α)
A(ga )ψi = Aji (ga )ψj . (1.213)
j
Um conjunto de funções {ψ (α) } que satisfaz à relação (1.213) diz-se que se transforma como
uma representação irredutı́vel A(α) do grupo G.
(α)
De igual modo um conjunto de operadores Oi cujo transformado por A(ga ) satisfaz à
relação
(α)
X (α) (α)
A(ga )Oi A(ga )−1 = Aji (ga )Oj (1.214)
j
Eα×β = Eα ⊗ Eβ (1.219)
(γ)
Para γ e n fixos, o conjunto de funções ξni constitui uma base no espaço de representação
(γ)
Eγ . O ı́ndice n serve para distinguir as diferentes bases de vectores ξni que é possı́vel
Capı́tulo 1. Momento angular e grupos de simetria 37
construir em Eγ por meio das combinações lineares (1.222). Esta situação dá-se apenas no
caso de o coeficiente bγ na equação (1.220) ser maior do que 1. Se os bγ forem todos iguais
a 1, o ı́ndice n torna-se desnecessário.
Os coeficientes Cn (αkβl|γi) definidos pela equação (1.222) desempenham um papel
perfeitamente análogo aos coeficientes de Clebsch–Gordan na equação (1.88). Por esta
razão são usualmente designados por coeficientes de Clebsch–Gordan do grupo G.
No caso de representações irredutı́veis e unitárias, e de acordo com a equação (1.216),
(α) (β)
as funções normalizadas ψk e φl satisfazem às relações de ortonormalização
D 0
(α ) (β 0 ) (α) (β)
E
ψk0 φl0 ψk φl = δα0 α δβ 0 β δk0 k δl0 l cαβ . (1.223)
(γ)
De igual modo as funções ξni , definidas pelas equações (1.222), satisfazem a relações
análogas de ortonormalização. Isto significa que a transformação (1.222) é unitária e con-
sequentemente os coeficientes de Clebsch–Gordan do grupo G satisfazem a
X
Cn∗ (αkβl|γi)Cn0 (αkβl|γ 0 i0 ) = δnn0 δγγ 0 δii0 , (1.224a)
k,l
X
Cn∗ (αkβl|γi)Cn (αk 0 βl0 |γi) = δkk0 δll0 . (1.224b)
n,γ,i
(α)
Os elementos de matriz de operadores Ok , que se transformam como a representação
irredutı́vel A(α) de um grupo G, têm propriedades notáveis. Consideremos os elementos
(γ) (α) (β) (β) (γ)
de matriz hψi |Ok |ψl i entre vectores |ψl i e |ψi i que se transformam comoE a rep-
(α) (β)
resentação irredutı́vel A e A do grupo G. Ao aplicar ao produto Ok ψl
(β) (γ) a lei de
transformação (1.225) obtém-se
E X
(α) (β) (γ)
Ok ψ l = Cn∗ (αkβl|γi)|Ωni i . (1.226)
n,γ,i
(γ)
Por meio do produto escalar por hψi | e recorrendo de novo à relação de ortogonalização
(1.216) conclui-se que
D E X D
E
(γ) (α) (β)
ψ i Ok ψ l = Cn∗ (αkβl|γi) ψ (γ)
O(α)
ψ (β) (1.227)
n
n
onde hψ (γ) kO(α) kψ (β) in são quantidades independentes de k, l, i, designadas por elementos
(α)
reduzidos de matriz dos operadores Ok .
A relação (1.227) traduz o chamado teorema de Wigner–Eckart dada a sua manifesta
semelhança com a equação (1.164). Um dos aspectos mais interessantes deste importante
teorema é mostrar que as leis de transformação a que os vectores e operadores obedecem são
suficientes para prever muitas das propriedades dos elementos de matriz. Em particular,
torna-se possı́vel prever as regras de selecção a que estão sujeitos, isto é, as relações a que os
argumentos dos elementos de matriz devem satisfazer para que não sejam necessariamente
nulos.
38 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
onde o segundo membro é também um elemento do grupo G. Isto significa que os cn são
funções dos an e dos bn
cn = fn (a1 , a2 , . . . , as ; b1 , b2 , . . . , bs ) . (1.229)
Vamos admitir que os parâmetros do grupo são escolhidos de tal modo que a identidade
corresponde a ter an ≡ 0
A(0, 0, . . . , 0) = 1 . (1.231)
Quando os parâmetros an têm valores próximos de zero e considerando apenas os termos
lineares em an do desenvolvimento de A(~a ) tem-se
X
A(~a ) ' 1 + an Xn . (1.232)
n=1
√
Multiplicando os operadores Xn por i = −1 obtêm-se geradores hermı́ticos
Zn = iXn . (1.236)
Os números cqnp , chamados constantes de estrutura do grupo G, são os mesmos para todas
as representações do grupo.
Teorema 1.3. Qualquer conjunto de operadores Xn , definidos num espaço vectorial E,
constituem os geradores de uma representação A de G em E, se satisfazem às relações de
comutação (1.237).
Para dar um exemplo de aplicação do teorema 1.1 consideremos o caso particular de
um grupo G, abeliano, com um único parâmetro que satisfaz à lei de multiplicação
(α)
As propriedades de transformação das funções ψi podem também caracterizar-se através
das relações X
(α) (α)
Xn ψi = X(α)
n ψj (1.242)
ji
j
40 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
que, devido à equação (1.232), são equivalentes a (1.241). Nesta lei de transformação,
(α)
(Xn )ji é a matriz que representa o operador Xn no espaço de representação de A(α) (~a ).
Isto significa que no caso de um grupo contı́nuo, para conhecer as propriedades de trans-
formação de um conjunto de funções basta verificar se uma transformação induzida por
valores infinitesimais dos parâmetros do grupo é determinada pelos operadores infinitesi-
mais de acordo com a equação (1.242).
(α)
Um conjunto de operadores Oi transforma-se como a representação irredutı́vel A(α) (~a)
do grupo G se
(α)
X (α) (α)
A(~a )Oi A−1 (~a ) = Aji (~a )ψj . (1.243)
j
(α)
Tal como no caso anterior a lei de transformação dos operadores Oi pode caracterizar-se
por meio de relações onde apenas intervêm os operadores infinitesimais do grupo. Efecti-
vamente, substituindo a equação (1.232) e (1.243), obtém-se
h i X
(α) (α)
Xn , Oi = X(α)
n Oj . (1.244)
ji
j
onde ψ(~r ) é uma função de onda do sistema, define uma representação A do grupo G no
espaço E. Importa salientar que, sendo ~r uma notação simbólica, a transformação ~r 0 = ga~r
efectua-se no espaço das coordenadas que descrevem os graus de liberdade do sistema fı́sico
e não forçosamente no espaço relativo aos vectores de posição.
O operador H0 transformado do hamiltoniano H por A(ga ) é, como se sabe, H0 =
A(ga )HA−1 (ga ). Se H é invariante nas transformações A(ga ), isto é, se
momento angular, vamos dar outros exemplos de grupos de simetria que são importantes
no estudo da interacção nuclear.
A verificação da equação (1.246) significa que H comuta com os operadores A(ga ). Estes
não são todos necessariamente constantes do movimento pois podem não ser hermı́ticos.
Contudo, se A(ga ) não depende explicitamente do tempo conclui-se, por aplicação das
equações do movimento de Heisenberg, que o valor médio de A(ga ) é constante. Como
consequência das relações existentes entre elementos de simetria, os operadores A(ga ) não
são independentes. Para cada grupo G existe um número mı́nimo de operadores A(ga )
com os quais é possı́vel gerar, por meio da operação de multiplicação, os restantes oper-
adores da representação A. Por redução da representação A de G no espaço E obtêm-se as
representações irredutı́veis de G, que vamos designar por A(α) .
Quais as conclusões que se tiram sobre o espectro e as funções da energia quando existe
um grupo de simetria do hamiltoniano? Comecemos por observar que os valores próprios da
energia E (α) podem ser classificados ou etiquetados por meio de um ı́ndice α que caracteriza
a representação irredutı́vel A(α) de G (em certos casos é necessário utilizar dois ou mais
ı́ndices α, β, . . ., correspondentes às representações A(α) , A(β) , . . . para classificar os valores
próprios). Conclui-se também que a energia E (α) tem uma degenerescência de ordem igual
ou superior à dimensão da representação A(α) .
Estas duas propriedades resultam de o subespaço EE relativo a um valor próprio E de H
ser invariante para o grupo G. Se ψ é uma função própria de H pertencente ao valor próprio
E, a função ψ 0 = A(ga )ψ é também uma função própria de H pertencente ao mesmo valor
próprio. Com efeito utilizando a equação (1.246) tem-se
A operação com A(ga ) nas funções próprias ψ define uma representação de A do grupo G no
espaço EE . Se fôr irredutı́vel nesta representação identifica-se com uma das representações
A(α) . Neste caso a dimensão da representação é igual à ordem de degenerescência do valor
próprio E que, por essa razão, podemos passar a designar por E (α) . Se a representação
de A no espaço EE fôr redutı́vel há que decompô-la nas suas representações irredutı́veis
A(α) + A(β) + . . .. Neste caso, menos frequente, a ordem de degenerescência do valor próprio
da energia E é superior à dimensão de qualquer uma das representações A(α) , A(β) , . . . e
torna-se necessário usar a notação E (α,β,...) .
No primeiro caso, em que a ordem de degenerescência de E (α) é igual à dimensão da
representação irredutı́vel A(α) , a degenerescência diz-se essencial. No segundo caso, em
que duas ou mais representações irredutı́veis do grupo de simetria ocorrem para a mesma
energia, a degenerescência diz-se acidental ou dinâmica. Esta situação resulta em geral da
existência de um grupo maior de simetria relativamente ao qual o espaço EE é irredutı́vel.
Encontrámos já exemplos deste tipo de degenerescência acidental no átomo de hidrogénio
e no oscilador harmónico.
Tal como os valores próprios de H, as correspondentes funções próprias ψ (α,β,...) classifi-
cam-se usando um ou mais ı́ndices α, β, . . . (relativos às representações A(α) , A(β) , . . .) con-
forme o subespaço EE é ou não irredutı́vel. Em cada um dos subespaços irredutı́veis Eα
de EE podemos construir, com as funções próprias pertencentes ao valor próprio E, uma
(α)
base ortonormada ψi que se transforma como a representação irredutı́vel A(α) de G. Ao
(α)
conjunto de funções ψi dá-se o nome de multipleto.
42 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
Dado que as funções próprias de H podem classificar-se por meio das representações ir-
redutı́veis do grupo de simetria G, os elementos de matriz de operadores que se transformam
como uma representação irredutı́vel do mesmo grupo satisfazem às regras de selecção decor-
rentes do teorema de Wigner–Eckart (secção 1.10.4). Estas regras de selecção têm grande
importância para analisar as propriedades fı́sicas do sistema que se pretende descrever com
o hamiltoniano H.
1.12 Grupo R3
O estudo breve e esquemático que se realizou fornece os elementos essenciais para considerar
a aplicação da teoria dos grupos ao caso do grupo R3 . Como se sabe, uma rotação em 3
dimensões fica caracterizada por 3 parâmetros que podem ser o ângulo de rotação a e
dois dos ângulos polares que definem a posição do eixo de rotação ~n . Alternativamente,
podemos escolher os três parâmetros ax = anx , ay = any , az = anz onde nx , ny , nz são
as componentes cartesianas do vector ~n . Com esta parametrização a equação (1.15), que
traduz a operação geométrica de rotação de um ângulo infinitesimal da em torno do eixo
de rotação ~n , escreve-se sob a forma
X
R(da, ~n )~r = ~r + daj (~e j × ~r ) , (1.248)
j=x,y,z
Xj = ~e j × . (1.249)
De acordo com o teorema 1.2 as relações de comutação (1.251) são as mesmas para todas
as representações de R3 .
Consideremos agora a representação de R3 no espaço E dos vectores de estado de um de-
terminado sistema fı́sico. Neste caso uma rotação é representada pela relação (1.13). Vamos
utilizar a equação (1.13) e considerar uma rotação de um ângulo infinitesimal da em torno
de um eixo de rotação ~n . Mantendo apenas os termos lineares em da no desenvolvimento
de R obtém-se
~ X
R(da, ~n ) = e−ida~n · J ' 1 − i daj Jj . (1.252)
j=x,y,z
Capı́tulo 1. Momento angular e grupos de simetria 43
A comparação entre as equações (1.232) e (1.252) permite deduzir que os operadores in-
finitesimais são −iJj , onde Jj são as componentes do momento angular total do sistema.
Substituindo Xj por −iJj nas equações (1.251) obtêm-se de novo as relações de comutação
(1.22) das componentes do momento angular. Em conclusão, as componentes Ji do mo-
mento angular são proporcionais aos operadores infinitesimais do grupo R3 .2 Por vezes, para
o grupo das rotações R3 utiliza-se o sı́mbolo O+ 3 que designa o grupo das transformações
ortogonais em 3 dimensões com determinante igual a +1. O3 é o grupo das transformações
ortogonais em 3 dimensões e inclui as inversões do espaço.
O estudo das representações de R3 foi já realizado na secção 1.6. As representações
irredutı́veis, designadas por Dj , dependem de um único ı́ndice j, cujos valores são j =
0, 21 , 1, . . ., e têm dimensão 2j + 1. Os vectores de base no espaço de representação de Dj
podem escolher-se de tal modo que se transformam como as representações do subgrupo
R2 das rotações em torno do eixo dos z. Efectivamente estes vectores, designados por |jmi,
satisfazem à relação
e−iaJz |jmi = e−ima |jmi , (1.253)
portanto
jX
1 +j2
D ×D
j1 j2
= Dj . (1.255)
j=|j1 −j2 |
A partir desta equação deduz-se facilmente uma relação entre os elementos de matriz
das três representações Dj que nela intervêm. Tendo presente que, de acordo com a equação
(1.88), os coeficientes C transformam a base constituı́da pelo produto tensorial de vectores
|j1 m1 i|j2 m2 i na base de vectores |jmi obtém-se
(j1 m1 j2 m2 |jm)(j1 m01 j2 m02 |jm0 )Djm1 1 m0 Djm2 2 m0 = Djmm0 ,
X
(1.256)
1 2
m1 ,m2
m01 ,m02
que é afinal a série de Clebsch–Gordan que tinhamos já deduzido por outra via na secção
1.6.
Um conjunto de 2k + 1 operadores Tkq que se transforma como a representação irre-
dutı́vel Dk do grupo R3 constitui, como se sabe, um tensor irredutı́vel de ordem k. A
equação (1.144), que descreve a lei de transformação dos Tkq , é um caso particular da
relação (1.243). Alternativamente um tensor irredutı́vel Tkq pode caracterizar-se pelas
suas relações de comutação com as componentes Ji do momento angular, dado que estas
são proporcionais aos operadores infinitésimais de R3 . Consequentemente, as relações de
comutação (1.147) constituem um caso particular das equações (1.244).
Finalmente, reconsideremos o teorema de Wigner–Eckart. A aplicação da relação geral
(1.227) ao grupo R3 conduz imediatamente à equação (1.164). Neste caso não existe so-
matório em n porque, conforme foi já salientado, cada representação Dj aparece apenas
uma única vez na redução do produto tensorial de representações irredutı́veis.
1.13 Isospin
Na secção anterior considerou-se a simetria do hamiltoniano associada à operação de rotação.
Esta simetria é uma simetria externa porque, em última análise, diz respeito à posição das
partı́culas constituintes do sistema fı́sico no espaço a 3 dimensões. Além das simetrias
externas as partı́culas manifestam também simetrias internas que dizem respeito às suas
propriedades intrı́nsecas. O estudo das propriedades das simetrias internas permite apro-
fundar o conhecimento das interacções fundamentais da natureza.
Pensa-se que as forças da natureza se podem classificar em quatro tipos fundamen-
tais: gravitacional, electromagnética, nuclear fraca e nuclear forte. Estas interacções fun-
damentais distinguem-se em especial por terem intensidades e alcances muito diferentes.
Convencionando o valor 1 para a intensidade da força nuclear forte, as intensidades das
forças nuclear fraca, electromagnética e gravitacional têm, respectivamente, uma ordem de
grandeza aproximada de 10−3 , 10−6 e 10−37 . No que respeita ao alcance, as interacções
electromagnética e gravitacional têm longo alcance enquanto que o alcance das interacções
nucleares forte e fraca é apenas cerca de 10−15 m e 10−16 m.
Na interacção nuclear forte manifesta-se uma simetria com o nome de isospin que, de
certo modo, constitui uma generalização do tipo de simetria associada às rotações. O estudo
breve do isospin a que vamos proceder, para além do seu interesse no contexto da teoria da
interacção nuclear forte, permite também exemplificar e concretizar alguns dos conceitos
introduzidos nas secções anteriores.
Capı́tulo 1. Momento angular e grupos de simetria 45
Porém, antes de iniciar este estudo, importa fazer algumas considerações preliminares
sobre o conceito de partı́cula. A observação essencial é a de que em fı́sica, uma partı́cula
considerada como um objecto sem estrutura interna, não é necessariamente um conceito
com significado universal. Um determinado sistema fı́sico poderá comportar-se como uma
partı́cula para uma determinada gama de energias e não para outras energias mais elevadas.
Por exemplo, um átomo de 4 He constitui uma partı́cula de spin zero se apenas estamos a
considerar fenómenos no hélio lı́quido que envolvam energias inferiores à energia de excitação
do átomo de hélio. Se houver excitação electrónica o modelo de partı́cula para o hélio já
não é aplicável. Somos forçados a reconhecer que o átomo de 4 He é constituı́do por uma
partı́cula α e por dois electrões. Porém, ao provocar a colisão de raios γ com o 4 He, o
modelo de partı́cula para o núcleo 4 He deixa, por sua vez, de ser válido: o núcleo torna-se
dissociável, revelando assim a sua estrutura interna. Finalmente, em colisões de energia
ainda mais elevada, os protões e neutrões constituintes do núcleo de 4 He apresentam sinais
de estrutura interna e estados excitados. De novo, o modelo de partı́cula, agora ao nı́vel
dos protões e neutrões, deixa de ter pleno fundamento.
Consideremos agora a interacção nuclear forte ou simplesmente interacção forte. Con-
forme foi já referido, as partı́culas susceptı́veis de interactuarem por meio da interacção
forte chamam-se hadrões. O protão e o neutrão são hadrões dado que a interacção forte
se manifesta entre dois protões, entre dois neutrões e entre um protão e um neutrão. É
curioso observar que o protão e o neutrão, que passaremos a designar, respectivamente,
pelas letras p e n, são partı́culas com bastantes semelhanças. Ambas têm o mesmo spin 12
e as massas mp = 938.28MeV/c2 e mn = 939.57MeV/c2 são muito próximas. Sob o ponto
de vista da interacção electromagnética o protão tem uma carga eléctrica positiva simétrica
da carga eléctrica do electrão enquanto que o neutrão é uma partı́cula neutra. Porém, o
resultado de experiências realizadas com protões e neutrões mostra que, excluindo o efeito
da interacção electromagnética, as forças que se exercem entre os pares pp, pn e nn são
iguais até uma aproximação da ordem de 2%. Isto significa que, com boa aproximação,
a interacção nuclear forte entre protões e neutrões é independente da carga eléctrica das
partı́culas.
Estes factos levam-nos a admitir que o protão e o neutrão constituem dois estados
distintos de uma mesma partı́cula a que se dá o nome de nucleão. Com estes dois estados
podemos construir um espaço vectorial através da correspondência
" # " #
1 0
|pi ≡ , |ni ≡ . (1.257)
0 1
O facto de a interacção forte ser independente da carga eléctica passa agora a traduzir-se
pela sua invariância em transformações que, por exemplo, transformam o vector |pi no
vector |ni. Como, devido aos postulados básicos da mecânica quântica, apenas estamos
interessados nas transformações de vectores que preservam a norma, vamos considerar o
conjunto das matrizes unitárias de duas dimensões.
Este conjunto de matrizes constitui um grupo que se designa por U2 . Um elemento
genérico de U2 pode escrever-se sob a forma geral
" #
iγ α β
A=e , (1.258)
−β ∗ α∗
46 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
Como as matrizes (1.259), proporcionais às matrizes de Pauli, são as matrizes que represen-
tam as componentes do momento angular para um spin s = 12 , elas satisfazem às relações
de comutação (1.23). Isto significa, de acordo com o teorema 1.3 da secção 1.10.5, que SU2
constitui uma representação de R3 . Note-se, porém, que esta representação de R3 não é fiel
porque cada elemento do grupo das rotações está associado a um par de elementos de SU2 ,
conforme se mostrou na secção 1.6.
As representações irredutı́veis de SU2 são as mesmas de R3 . Vamos designá-las, no
contexto presente do estudo do isospin, por DI , onde I = 0, 21 , 1, . . .. O número quântico
I é chamado isospin (por vezes designa-se também por spin isotópico ou spin isobárico) e
constitui uma das propriedades intrı́nsecas dos hadrões.
A hipótese de conservação do isospin nas interacções fortes exprime-se pela relação
[HF , Ij ] = 0 , j = x, y, z (1.260)
onde HF é a parte do hamiltoniano que descreve a interacção forte. A verificação da equação
(1.260) significa que o grupo SU2 ou, por outras palavras, o grupo das rotações no espaço de
isospin, é um grupo de simetria para o hamiltoniano HF . Como consequência desta simetria,
os hadrões deverão aparecer em multipletos de dimensionalidade 2I + 1, formados portanto
por 2I + 1 partı́culas com massas aproximadamente iguais. As partı́culas pertencentes
ao mesmo multipleto de isospin distinguem-se por terem cargas eléctricas diferentes e as
diferenças de massas são atribuı́das a efeitos de natureza electromagnética.
Em particular, os dois estados |pi e |ni do nucleão constituem um dubleto com I =
1
2 . Usualmente convenciona-se que os estados |pi e |ni correspondem respectivamente aos
valores próprios + 12 e − 12 de Iz . Esta é a convenção implı́cita nas equações (1.257) e (1.259).
Os três mesões π + , π 0 , π − constituem um tripleto com I = 1 em que Iz toma os valores
1, 0, −1, respectivamente. Mencionemos ainda os conjuntos de partı́culas Σ+ , Σ0 , Σ− e
∆++ , ∆+ , ∆0 , ∆− que constituem mais dois exemplos de multipletos em que I = 1 e I = 32 .
A conservação do isospin nas interacções fortes tem importantes consequências na inter-
pretação da estrutura do núcleo atómico e permite proceder a uma classificação dos nı́veis
de energia. Com efeito, os estados próprios da energia de núcleos atómicos isóbaros, isto
é, com igual número de massa A, classificam-se em multipletos de estados com o mesmo
isospin. Estados pertencentes ao mesmo multipleto têm funções de onda com profundas
semelhanças, sendo por isso designados estados análogos . A diferença de energia entre
estados análogos é essencialmente devida à interacção electromagnética.
Capı́tulo 1. Momento angular e grupos de simetria 47
Para concretizar ideias tome-se o caso de um sistema formado por dois nucleões. O
isospin deste sistema é I = 0 ou I = 1 pois resulta da adição de duas partı́culas com isospin
1
2 . Assim, os estados de dois nucleões constituem um singleto e um tripleto descritos por
vectores análogos aos vectores (1.109) e (1.110)
1
|00i = √ (|p1 i|n2 i − |n1 i|p2 i) (1.261)
2
|11i = |p1 i|p2 i , (1.262)
1
|10i = √ (|p1 i|n2 i + |n1 i|p2 i) , (1.263)
2
|1 − 1i = |n1 i|n2 i . (1.264)
Massa Spin Número Carga Isospin Hipercarga Representação Vida Principal
Partı́cula Sı́mbolo (MeV/c2 ) JP bariónico Q I Iz Y SU3 média tipo de
B (s) declı́nio
48
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Bosões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Fotão γ — 1− — — — — — — Estável —
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Leptões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Electrão e∓ 0.511 1/2 0 ∓1 — — — — Estável —
Muão µ∓ 105.66 1/2 0 ∓1 2.20 × 10−6 eνν
Tau τ 1784.1 1/2 0 ∓1 — — — — 3.1 × 10−13 µνν, eνν,
hadrões
Neutrino e νe 0 (< 0.2keV) 1/2 0 — — — — — Estável —
Neutrino µ νµ 0 (< 2.1) 1/2 0 — — — — — Estável —
Neutrino τ ντ 0 (< 35) 1/2 0 — — — — — Estável —
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Mesões ..............................................................
M π0 135.0 0− 0 0 1 0 0 8 0.9 × 10−16 γγ
e π∓ 139.6 0− 0 ∓1 1 ∓1 0 8 2.6 × 10−8 µ+ν
s K∓ 493.7 0− 0 ∓1 1/2 ∓1/2 ∓1 8 1.2 × 10−8 µν, 2π, 3π
õ K0 497.7 0− 0 0 1 0 0 8 9 × 10−10 π + π − , 2π 0
0
e K 497.7 0− 0 0 1 0 0 8 5.2 × 10−8 3π, πeν, πµν
s η0 549 0− 0 0 0 0 0 8 3 × 10−19 2γ, 3π, 2πγ
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Bariões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Protão p 938.28 1/2+ 1 1 1/2 1/2 1 8 > 6 × 1037
Neutrão n 939.57 1/2+ 1 0 1/2 −1/2 1 8 9.18 × 102 pe− ν e
H Σ+ 1189.4 1/2+ 1 1 1 1 0 8 0.80 × 10−10 pπ 0 , nπ +
Σ0 1192.5 1/2+ 1 0 1 0 0 8 < 10−14 Λγ
i Σ− 1197.4 1/2+ 1 −1 1 −1 0 8 1.48 × 10−10 nπ −
Λ 1115.6 1/2+ 1 0 0 0 0 8 2.58 × 10−10 pπ − , nπ 0
p Ξ0 1315 1/2+ 1 0 1/2 1/2 −1 8 2.96 × 10−10 Λπ 0 , Λγ
Ξ− 1321 1/2+ 1 −1 1/2 −1/2 −1 8 1.65 × 10−10 Λπ −
e ∆++ 3/2+ 1 2 3/2 3/2 1 10 pπ +
∆+ 3/2+ 1 1 3/2 1/2 1 10 pπ 0 , nπ +
1231 5 × 10−24
0 +
r ∆ 3/2 1 0 3/2 −1/2 1 10 pπ − , nπ 0
∆− 3/2+ 1 −1 3/2 −3/2 1 10 nπ −
õ Σ+∗ 3/2+ 1 1 1 1 0 10 Λπ + , Σπ
Σ0∗ 1385 3/2+ 1 0 1 0 0 10 1 × 10−23 Λπ 0 , Σπ
e Σ−∗ 3/2+ 1 −1 1 −1 0 10 Λπ − , Σπ
Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
O deuterão, formado por um neutrão e um protão, não tem estados análogos dado que é
o único núcleo estável com A = 2. Isto significa que o deuterão se identifica com o estado
singleto e tem portanto I = 0.
Estados análogos pertencentes a tripletos de isospin foram identificados em muitos
núcleos, por exemplo, no conjunto de três núcleos 18 O (Iz = −1), 18 F (Iz = 0), 18 Ne
(Iz = 1). A invariância da interacção nuclear forte nas transformações de isospin tem
também importantes consequências nas colisões entre núcleos atómicos e, de uma forma
geral, nas colisões entre hadrões.
1.14 SU3
Experiências realizadas em aceleradores de partı́culas que permitem atingir energias ele-
vadas conduziram à descoberta, nos últimos trinta anos, de um grande número de novas
partı́culas. Se numa colisão de protões com protões a energia do feixe incidente excede
cerca de 300MeV a energia no referencial do centro de massa é suficiente para materializar
mesões π. Com feixes de mesões π, produzidos daquele modo, pode em seguida provocar-se
a colisão com outras partı́culas. Gera-se assim uma imensa variedade de novas partı́culas
que lentamente vão sendo organizadas em esquemas classificativos baseados nas suas pro-
priedades intrı́nsecas e nos tipos de interacções a que estão sujeitas. Na tabela 1.3 (página
48) indicam-se algumas das propriedades das partı́culas mais estáveis.
Excluindo o fotão, as partı́culas podem dividir-se em dois grandes grupos; os hadrões que
são sensı́veis à interacção nuclear forte e os leptões que são insensı́veis àquela interacção. Por
sua vez os hadrões subdividem-se nos mesões e nos bariões de acordo com uma classificação
baseada no número bariónico, a que adiante nos referimos. Pensa-se que todas as partı́culas,
incluindo o fotão, são sensı́veis à interacção gravitacional. A interacção nuclear fraca actua
em todos os hadrões e leptões mas não actua no fotão. Finalmente, o fotão, os hadrões
e os leptões, com excepção dos neutrinos, são sensı́veis à interacção electromagnética. Na
tabela 1.3 está indicado, para cada partı́cula, a massa, o spin, a paridade intrinseca, a carga
eléctrica, o isospin, outros números quânticos a que nos vamos referir seguidamente, a vida
média e os modos principais de declı́nio. A inserção de uma barra, como por exemplo em
0
K , significa que se trata da antipartı́cula de K0 . O conceito de antipartı́cula diz respeito
à mecânica quântica relativista e será introduzido no capı́tulo 4. De momento importa
apenas mencionar que existe uma antipartı́cula para cada partı́cula, ainda que, por vezes,
seja muito difı́cil produzi-la. A antipartı́cula tem a mesma massa e spin da partı́cula
mas carga de sinal oposto. Algumas partı́culas neutras, como o π 0 , identificam-se com as
respectivas antipartı́culas.
A vida média τ de uma partı́cula é a constante que intervém na sua lei de declı́nio
exponencial exp(−t/τ ). Se τ tem um valor pequeno isso significa que a partı́cula é pouco
estável e decai rapidamente. Um dos aspectos mais curiosos da tabela 1.3 é a enorme
variação que se observa na vida média das partı́culas.
Antes de analisar esta variação interessa considerar o modo como se manifesta a existên-
cia das partı́culas que não são estáveis. Na realidade estas partı́culas constituem estados
intermédios em processos de colisão e correspodem aos picos que se observam na secção
eficaz daqueles processos em função da energia. Assim, por exemplo, o ∆++ identifica-se
com um pico na secção eficaz de colisão de um feixe de mesões π + com protões localizado a
50 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
~ 6.63 × 10−34
t' = ' 10−23 s . (1.265)
∆E 6.80 × 10−11
A vida média de uma partı́cula relativamente a certo tipo de declı́nio é determinada pela
interacção fundamental que é responsável por esse declı́nio. Na interacção nuclear forte, as
incertezas na energia são da ordem das centenas de MeV, pelo que as vidas médias são, como
se viu, da ordem de 10−23 s. As vidas médias correspondentes a declı́nios provocados pela
interacção nuclear fraca são tipicamente da ordem de 10−8 a 10−10 s. Quanto à interacção
electromagnética, a ordem de grandeza das vidas médias é 10−16 s.
Y
Q = Iz + . (1.266)
2
Esta relação tem o nome de fórmula de Gell-Mann–Nishijima e é efectivamente satisfeita
por todos os hadrões. Do ponto de vista histórico o número quântico que inicialmente se
usou para interpretar a lei de conservação da hipercarga foi a estranheza, representada pelo
sı́mbolo S e que se relaciona com Y por meio da relação
S =Y −B . (1.267)
A grandeza B que intervém nesta equação tem o nome de número bariónico e fundamen-
ta-se na estabilidade do protão. Com efeito o protão, embora tendo uma massa muito
superior à dos mesões π e K, não sofre um declı́nio que, por exemplo poderia ser do tipo
Capı́tulo 1. Momento angular e grupos de simetria 51
primeiras linhas e colunas. Podem ainda formar-se mais dois grupos SU2 nos restantes dois
espaços bidimensionais. Os operadores infinitésimais destes subgrupos são X4 , X5 , 21 (X3 +
2 X8 ) e X6 , X7 , 2 (−X3 + 2 X8 ). O grupo R3 é também um subgrupo de SU3 dado que as
1 1 1
De acordo com a interpretação fı́sica proposta para SU3 o grupo de isospin identifica-se com
um dos subgrupos SU2 e a hipercarga com o operador 3i X8 . Esta a razão de se ter usado a
notação I+ , I− , Iz e Y nas relações (1.269). É usual designar os restantes dois subgrupos de
SU2 por grupos de spin U e spin V.
Para salientar a analogia com o momento angular, vamos definir os operadores
13
Uz = Y − Iz , (1.270a)
22
1 3
Vz = − Y + Iz . (1.270b)
2 2
Figura 1.4: Malha para representar multi- Figura 1.5: Deslocamentos provocados por
pletos de SU3 . acção dos operadores I± , U± e V± .
Figura 1.6: Representação dos multipletos (00), (10), (20), (11) e (30) de SU3 . A dimensão
dos multipletos é dada pela equação 1.276. Na representação de D(10) (figura do meio, em
cima) cada ponto no vértice do triângulo representa um quark. Na representação de D(11) ,
os dois pontos no centro do hexágono correspondem aos casos I = Y = 0 e I = 1, Y = 0.
Os multipletos (00), (10), (20), (11), (30), . . . correspondentes aos primeiros valores de p, com
p ≥ q, estão representados na figura 1.6 e têm, respectivamente, a dimensão:
Figura 1.8: Representação dos tripletos (10) e (01) e correspondência com quarks e anti-
quarks.
1.14.3 Quarks
Curiosamente, todos os hadrões, cuja existência está hoje em dia bem estabelecida do ponto
de vista experimental, agrupam-se em multipletos de SU3 de dimensionalidade 1, 8 e 10.
Os mesões em multipletos de dimensão 1 e 8 e os bariões em multipletos de dimensão 1, 8
e 10. A ausência das representações de SU3 de dimensionalidade 3 e 6 deverá certamente
ter algum significado fı́sico. A justificação foi dada em 1964 por M. Gell-Mann e G. Zweig
através de um modelo no qual os hadrões são todos formados a partir de três objectos
fundamentais que correspondem aos vectores do tripleto (10) de SU3 .
Aqueles objectos, a que Gell-Mann deu o nome de quarks, são designados pelas letras
u (up), d (down) e s (strange). Os antiquarks u, d, s correspondem aos três vectores do
multipleto (01) de SU3 . Na figura 1.8 estão indicados os tripletos (10) e (01) e a corre-
spondência com os quarks e antiquarks. O par d, u constitui um dubleto de isospin (I = 12 )
com hipercarga Y = 13 , enquanto que s é um singleto de isospin (I = 0) com hipercarga
Y = − 32 . Por substituição destes valores na equação (1.266) conclui-se que os quarks e os
antiquarks têm carga fracionária. O quark u tem carga 23 e os quarks d e s carga − 13 .
No modelo de quarks, o modo como os quarks e antiquarks se combinam para constituir
os hadrões é determinado pelas regras de redução em componentes irredutı́veis do produto
Capı́tulo 1. Momento angular e grupos de simetria 57
Sabor u d s u d s
Spin 1/2 1/2 1/2 1/2 1/2 1/2
B 1/3 1/3 1/3 −1/3 −1/3 −1/3
Q 2/3 −1/3 −1/3 −2/3 1/3 1/3
I 1/2 1/2 0 1/2 1/2 0
Iz 1/2 −1/2 0 −1/2 1/2 0
Y 1/3 1/3 −2/3 −1/3 −1/3 2/3
S 0 0 0 0 −1 1
tensorial das representações irredutı́veis de SU3 . Efectuando o estudo deste tipo de redução
conclui-se que o produto tensorial das representações D(10) e D(01) se reduz num singleto e
num octeto
D(10) × D(01) = D(00) + D(11) . (1.277)
O produto de três tripletos (10) decompõe-se num singleto (00), dois octetos (11) e um
decupleto (30)
D(10) × D(10) × D(10) = D(00) + 2D(11) + D(30) . (1.278)
As relações de redução (1.277) e (1.278) levaram Gell-Mann a postular que os mesões
são formados por um quark e um antiquark e os bariões por três quarks. Em consequência,
cada quark tem um número bariónico B = 31 e cada antiquark tem um número bariónico
B = − 31 . Na tabela 1.4 estão indicados os números quânticos associados aos quarks e
antiquarks.
A hipótese de os mesões e bariões serem formados por quarks e antiquarks implica
também, de acordo com as regras de adição do momento angular, que os quarks têm spin
1
2 . Cada quark pode, pois, encontrar-se em dois estados distintos correspondentes aos
dois valores da projecção do spin. Sendo assim, os seis estados possı́veis dos quarks são
u ↑, u ↓, d ↑, d ↓, s ↑, s ↓. Estes estados geram um espaço a 6 dimensões no qual o conjunto
das matrizes unitárias de determinante igual a 1 constitui o grupo SU6 . Se, por exemplo,
efectuarmos o produto tensorial do sexteto dos estados de quarks pelo sexteto dos estados
de antiquarks a redução em representações irredutı́veis de SU3 gera, como seria de esperar,
os multipletos de mesões que se observam experimentalmente.
Temos agora todos os elementos necessários para construir os estados de hadrões a partir
dos estados de quarks. Vamos apenas considerar como exemplo o hiperão ∆++ do decupleto
da figura 1.7, que apresenta valores máximos para Iz e Y . Consultando as tabelas 1.3 e
1.4, obtém-se para o vector que descreve a partı́cula ∆++ num estado em que o spin tem
projecção m = 32
∆ , m = 3 = |u ↑ u ↑ u ↑i .
++
(1.279)
2
A presença dos três quarks u garante que o ∆++ tem Iz = 23 e Y = 1. Admite-se que os
três quarks no ∆++ estão em estados s, pelo que o spin 32 é a soma dos spins de cada um
58 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
dos quarks. Os vectores que descrevem as restantes partı́culas do decupleto da figura 1.7
obtém-se a partir de (1.279) por sucessiva aplicação dos operadores de abaixamento I− , U−
e V− relativos ao isospin, spin U e spin V. A tı́tulo de exemplo repare-se que, por aplicação
da equação (1.51), tem-se
I− |ui = |di , I− |di = 0 , I− |si = 0 . (1.280)
Para obter vectores com projecção do spin m < 32 há que aplicar o operador de abaixamento
do spin, S− . A construção dos vectores que descrevem as partı́culas pertencentes aos octetos
faz-se de modo análogo. Por exemplo, o vector que descreve a partı́cula K+ do octeto de
mesões da figura 1.7 é
1
|K+ i = √ (|s ↑ s ↓i − |u ↓ s ↑i) . (1.281)
2
De um modo geral os multipletos de hadrões com massas mais elevadas correspondem à
existência de movimentos relativos entre os quarks com momento angular orbital diferente
de zero.
Ao analisar a tabela 1.4 não restam dúvidas de que os quarks têm propriedades sur-
preendentes. Tanto o número bariónico como a hipercarga e a carga eléctrica apresentam
valores fraccionários. Contudo, e apesar de uma busca intensa e sistemática, não se ob-
servam partı́culas cuja carga eléctrica seja uma fracção da carga eléctrica elementar. Na
realidade, os quarks não foram directamente observados no laboratório. Esta situação não
invalida a teoria dos quarks, que, inegavelmente, introduz uma profunda simplificação con-
ceptual nos esquemas classificativos das partı́culas e além disso possui um notável poder
de previsão no domı́nio da espectroscopia. Mais ainda, todos os hadrões observados têm
propriedades que se podem interpretar no contexto do modelo de quarks. Por exemplo, o
modelo permite explicar os momentos dipolares magnéticos dos bariões admitindo que os
quarks u e d têm massas aproximadamente de 300MeV.
Tal como em qualquer teoria, o modelo de quarks para além de permitir interpretar
determinado conjunto de observações coloca também questões novas. Se os quarks têm de
facto uma massa relativamente pequena, da ordem de 300MeV, porque razão ainda não se
observaram no laboratório?
Foram propostas várias explicações para esta dificuldade. Admite-se a existência de
mecanismos que forçam o confinamento dos quarks numa zona muito restrita do espaço
e provocam a materialização da energia em colisões de alta energia que, em princı́pio,
serviriam para separar os quarks constituintes dos hadrões. Assim, ao procurar separar
o quark q do antiquark q num mesão, a energia posta em jogo, em lugar de os separar,
materializa-se sob a forma de um par quark–antiquark de modo a constituir um novo mesão,
de acordo com o esquema da figura 1.9. Este assunto continua a ser fonte de investigação
activa e permanecem muitos problemas inexplicados.
Repare-se que o vector (1.279) descreve um estado de três partı́culas idênticas mas não
satisfaz às regras de simetrização cujo estudo se vai realizar no próximo capı́tulo. Por outras
palavras, o estado descrito pelo vector (1.279) não obedece ao princı́pio de exclusão de Pauli.
A solução para este problema foi obtida através da introdução de um novo número quântico
que permite compatibilizar o anterior modelo de quarks com os requisitos de simetrização
dos estados. Voltaremos a este assunto no capı́tulo 2.
Ao finalizar esta secção é oportuno salientar que a simetria de SU3 e o modelo de quarks
apenas permitem interpretar um aspecto parcial das propriedades de interacção forte. As
Capı́tulo 1. Momento angular e grupos de simetria 59
Partı́culas idênticas
Duas partı́culas dizem-se idênticas se todas as suas propriedades intrı́nsecas (massa, spin,
carga eléctrica, . . . ) forem iguais. Em mecânica quântica esta identidade significa que não
existe nenhum meio de observação ou experimentação capaz de distinguir entre si duas
partı́culas idênticas. Exemplifiquemos; todos os protões do universo, qualquer que seja
a região do espaço onde se concentre a sua densidade de probabilidade de posição, são
rigorosamente idênticos e não existe processo de os distinguir uns dos outros.
Nos sitemas de partı́culas idênticas, aquela identidade entre partı́culas dá origem a
propriedades de grande importância e generalidade. A verificação experimental destas
propriedades constitui um dos maiores triunfos da mecânica quântica.
onde |iip significa que a partı́cula p se encontra no estado descrito pelo vector |ii, constituem
um conjunto completo e ortonormado de vectores para o sistema de n partı́culas.
Vamos definir um operador de permuta ou troca de 2 partı́culas (a que atribuimos os
números 1 e 2) como o operador linear P12 que satisfaz à relação
60
Capı́tulo 2. Partı́culas idênticas 61
P212 = 1 . (2.3)
P†12 = P−1
12 . (2.6)
Se o sistema tiver mais de duas partı́culas idênticas (n > 2) existem outros operadores
de permuta que envolvem a troca de mais de duas partı́culas. Para concretizar consideremos
n = 3. Como se sabe, existem neste caso 3! permutações a que correspondem os operadores
de permuta P123 , P312 , P231 , P132 , P213 e P321 . Em particular tem-se
É fácil verificar que qualquer operador de permuta pode decompôr-se num produto de
operadores de permuta de duas partı́culas. Por exemplo, para o operador da equação (2.7)
tem-se
P312 = P12 P13 = P23 P12 = P13 P23 . (2.8)
Embora a decomposição em operadores de permuta de duas partı́culas não seja única, o
número de permutas de duas partı́culas é invariável. Uma permutação diz-se par ou ı́mpar
conforme o número de permutas de duas partı́culas em que se decompõe é par ou ı́mpar.
Em geral os operadores de permuta não comutam entre si. Para exemplificar considerem-
-se os operadores P12 e P13 que satisfazem às relações
Os operadores de permuta são todos unitários dado que podem sempre exprimir-se
como produto de operadores unitários de troca de duas partı́culas. Contudo não são todos
hermı́ticos porque, como se viu, os operadores de permuta de duas partı́culas em geral não
comutam.
O conjunto das operações de permuta de n objectos constitui um grupo a que se dá
o nome de grupo das permutações e se representa por Sn . Com efeito é simples verificar,
com base nas propriedades anteriormente demonstradas, que os operadores de permuta
satisfazem à definição de grupo, enunciada na secção 1.10.1.
Seja O(1, 2, . . . , n) um observável que descreve uma variável dinâmica num sistema
constituı́do por n partı́culas idênticas. Os números 1, 2, . . . , n representam os ı́ndices que
identificam as partı́culas. O observável O é necessariamente invariante para a permutação
de partı́culas. Em particular isso implica que
Esta comutatividade verifica-se para cada um dos n! operadores de permuta das n partı́culas.
Em conclusão
[P, O(1, 2, . . . , n)] = 0 , (2.12)
onde P é um qualquer dos operadores de permuta do grupo Sn . Um observável que satisfaz
às relações (2.12) diz-se simétrico. De acordo com esta definição as variáveis dinâmicas dos
sistemas de partı́culas idênticas são descritas por observáveis simétricos.
Por aplicação da relação (2.12) ao caso particular do hamiltoniano H(1, 2, . . . , n) de um
sistema de n partı́culas idênticas obtém-se
qualquer que seja a permutação P. Um vector com esta propriedade diz-se simétrico. A
outra representação corresponde ao vector antisimétrico |ψa i, caracterizado pela equação
onde Pqr é o operador de permuta das duas partı́culas q e r, arbitrárias. De acordo com os
resultados anteriores a equação (2.15) implica também que
d
i~ U(t, t0 ) = HU(t, t0 ) (2.17)
dt
e
U(t0 , t0 ) = 1 . (2.18)
qualquer que seja P. Conclui-se assim que se o estado do sistema no instante t0 é simétrico
ou antisimétrico esta propriedade (caracterizada pelas equações (2.14) ou (2.16)) é ainda
válida no tempo t > t0 .
n!
1 X
S= Pq , (2.20)
n!
q=1
n!
1 X
A= (−1)pq Pq , (2.21)
n!
q=1
S† = S , (2.22)
†
A =A. (2.23)
64 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
Pq S = S , (2.24a)
pq
Pq A = (−1) A , (2.24b)
2
S =S, (2.24c)
A2 = A , (2.24d)
AS = SA = 0 . (2.24e)
Estas equações mostram que S|ψi é um vector simétrico e A|ψi é um vector antisimétrico.
Por esta razão dá-se a S e A o nome de operador de simetrização e operador de anti-
simetrização, respectivamente.
Consideremos agora o resultado da aplicação de A sobre o vector (2.1). É fácil verificar
que o vector resultante se pode escrever sob a forma
|ii1 |ii2 . . . |iin
√ 1 |ji1 |ji2 . . . |jin
|ψa i = n!A|i1 j2 k3 . . . ln i = √ . .. .. . (2.26)
n! .. . .
|li |li . . . |li
1 2 n
√
Introduziu-se o factor n! para garantir que o vector antisimétrico |ψa i é normalizado. O
determinante da equação (2.26) designa-se por determinante de Slater.
Ao observar o vector |ψa i conclui-se que ele possui a propriedade notável de ser nulo
se dois ou mais números i, j, k, . . . , l, que caracterizam os estados quânticos, forem iguais.
Este resultado constitui o princı́pio de exclusão de Pauli. De acordo com este princı́pio dois
fermiões idênticos não podem encontrar-se no mesmo estado quântico.
Nos estados simétricos não se aplica o princı́pio de exclusão de Pauli e portanto dois
bosões idênticos podem ocupar o mesmo estado quântico. Sendo assim é conveniente usar
para o vector (2.1) a notação
|ini jnj knk . . . lnl i = |ii1 . . . |iini |jini +1 . . . |jini +nj . . . |lin . (2.27)
O factor numérico no segundo membro desta equação foi introduzido para que |ψs i fique
normalizado.
corresponde à representação D(00) isto significa que os bariões deverão ser descritos por
estados singletos no que respeita à cor. Esta conclusão está de acordo com as propriedades
observadas nos bariões conhecidos. No caso particular do ∆++ o vector de estado é
1
|∆++ i = √ (|ua (1)ub (2)uc (3)i − |ua (1)uc (2)ub (3)i − |ub (1)ua (2)uc (3)i+
6 (2.31)
+ |ub (1)uc (2)ua (3)i + |uc (1)ua (2)ub (3)i − |uc (1)ub (2)ua (3)i) .
p2λ
H(λ) = + V(~r λ ) (2.33)
2m
onde V(~r ) é um potencial comum a todas as partı́culas.
Os observáveis H(λ) e V(~r λ ) designam-se por operadores de 1-partı́cula porque depen-
dem apenas das coordenadas de uma só partı́cula. H(λ, µ) descreve a interacção entre as
partı́culas λ e µ e é uma função simétrica das coordenadas destas partı́culas. Aos oper-
adores deste tipo dá-se o nome de operadores de 2-partı́culas. O hamiltoniano do conjunto
de Z electrões de um átomo, dado por
n n
X −Ze2 X e2 X p2λ
H = + + (2.34)
4π0 rλ 4π|~rλ − ~rµ | 2m
|λ=1 {z } λ<µ
| {z }
λ=1
| {z }
Soma dos potenciais Repulsão Energia cinética
(atractivos) a que cada (corresponde a um
electrão está sujeito operador de 1-partı́cula)
Nesta relação,
p2λ
Hm (λ) = + Vm (~rλ ) , (2.36)
2m
onde Vm ( ~r ) é um potencial médio que poderá incluir os efeitos das interacções entre
partı́culas. No caso mais simples podemos identificar Vm (~r ) com o potencial de uma só
partı́cula V(~r ), presente na equação (2.30).
O hamiltoniano Hpi descreve um modelo de partı́culas independentes no qual não se con-
sideram explicitamente as interacções entre partı́culas. Embora esta aproximação pareça,
à primeira vista, demasiado drástica, é extremamente útil tanto no estudo da estrutura
atómica como no estudo da estrutura nuclear.
No modelo de partı́culas independentes é relativamente simples determinar os valores
próprios e os vectores próprios da energia. Admitamos que se conhecem os valores próprios e
os vectores próprios dos operadores Hm (λ). Vamos designar estes vectores por |iiλ utilizando
a mesma notação já adoptada na equação (2.1)
satisfaz à equação
Hpi ψ(1, 2, . . . , n) = Eψ(1, 2, . . . , n) , (2.40)
onde
E = Ei + Ej + . . . + El . (2.41)
Capı́tulo 2. Partı́culas idênticas 69
é também uma solução da equação (2.40) correspondente à mesma energia. De acordo com
o princı́pio de exclusão de Pauli os ı́ndices de estados i, j, . . . , l nas equações (2.39), (2.41) e
(2.42) são distintos. Em conclusão os determinantes de Slater (2.42) são funções próprias da
energia no modelo de partı́culas independentes e o espectro de energia é dado pela equação
(2.41).
E0 = Ei + Ej + . . . + El (2.43)
onde nx , ny , nz são números inteiros positivos ou negativos. Por aplicação desta condição
~
à onda plana e−i k ·~r ) obtém-se um conjunto ortonormado de funções
1 ~
ψ~k (~r ) = √ ei k ·~r , (2.45)
L 3
onde
2πnx 2πny 2πnz
kx = , ky = , kz = , (2.46)
L L L
70 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
e cada uma das variáveis nx , ny , nz toma os valores ±1, ±2, . . .. Com efeito é fácil verificar
que Z
ψ~∗k 0 (~r )ψ~k (~r )d~r = δkx0 kx δky0 ky δkz0 kz . (2.47)
L3
Note-se ainda que o conjunto das funções ψ~k é completo no espaço vectorial das funções
que odebecem à condição de periodicidade (2.44).
No modelo de fermiões livres as funções ψ~k são funções próprias da energia de uma
só partı́cula e portanto constituem exemplos das funções ψi definidas através das equações
(2.37) e (2.38). Vamos procurar estabelecer uma relação entre o número de fermiões livres
e a energia de Fermi do sistema.
Para valores elevados de L é razoável considerar que as componentes de ~k são variáveis
contı́nuas. Sendo assim o número de estados cujo momento linear não excede o valor ~kF
é dado pelo integral
3 ZkF
k 3 L3
Z
L 2
k dk dΩ = F 2 . (2.48)
2π 6π
0
Admitindo que as partı́culas têm spin 21 existem dois estados de spin para cada conjunto
de valores de nx , ny , nz . Consequentemente o número de fermiões idênticos que no estado
fundamental do sistema têm momento linear igual ou inferior a ~kF é
kF3 L3
n= . (2.49)
3π 2
Designando por ν = nL−3 a densidade de partı́culas no cubo obtém-se
√3
kF = 3π 2 ν , (2.50)
Por outro lado como ν −1/3 é aproximadamente igual ao espaçamento d entre fermiões
obtém-se
λF
d' . (2.53)
2
Esta relação significa que para diminuir d, kF aumenta, sendo pois necessário elevar a energia
cinética dos electrões. Estes factos têm especial relevância em astrofı́sica para entender os
mecanismos de evolução das estrelas.
A pressão que resiste à compressão de um gás de fermiões livres, por vezes chamada
pressão de degenerescência, é dada por
r
dEtot. 3~2 3 π 4 n5
p=− = , (2.54)
dV 5m V5
onde Etot. é a energia total das n partı́culas calculada com base na equação (2.49). Numa
estrela em que a massa não é muito elevada atinge-se o equilı́brio entre a pressão gravita-
cional e a pressão de degenerescência dos electrões e protões para um determinado valor do
volume V . Se a massa é superior a um certo limite torna-se favorável, do ponto de vista en-
ergético, que os electrões se combinem com os protões por meio do processo e− + p → n + ν;
forma-se assim uma estrela de neutrões.
Importa salientar que a hipótese de os electrões num metal e os neutrões numa estrela de
neutrões não interactuarem entre si constitui uma simplificação pouco realista. Um estudo
mais aprofundado deste problema revelaria que é o próprio princı́pio de exclusão de Pauli a
garantir que os resultados obtidos com a referida simplificação são razoáveis, como primeira
aproximação.
2.5 Acoplamentos LS e jj
Vamos continuar a analisar o modelo de partı́culas independentes para um sistema de
fermiões idênticos. Até agora não consideramos expliticamente o momento angular na
construção dos vectores de estado do sistema. Para concretizar pensemos nos electrões
de um átomo isolado. Como o momento angular total ~J é uma constante do movimento
interessa-nos obter funções de onda que seja funções próprias de ~J 2 e Jz .
A construção daquelas funções de onda no modelo de partı́culas independentes depende
essencialmente dos hamiltonianos Hm (λ) cuja escolha é feita com base no conhecimento da
dinâmica do sistema. As duas situações mais importantes são a de considerar apenas um
potencial central e a de adicionar ao potencial central um potencial de tipo spin–órbita. Os
hamiltonianos de uma só partı́cula correspondentes são
P2λ
Hc (λ) = + V(~rλ ) (2.55)
2m
P2
HS0 (λ) = λ + V(~rλ ) + VlS (rλ )~L λ · ~S λ (2.56)
2m
onde λ = 1, 2, . . . , n.
O hamiltoniano (2.55) é particularmente útil para fazer o estudo da estrutura atómica
porque nos átomos, em especial para valores baixos do número atómico, o potencial spin–
–órbita é pouco intenso relativamente ao potencial central e pode, por isso, considerar-se
72 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
~2 1 d2 l(l + 1)~2
− r+ + V (r) Rnl (r) = Enl Rnl (r) (2.58)
2m r dr2 2mr2
e χms (λ) é um spinor de spin 12 com projecção ms segundo o eixo dos z. A letra i representa
o conjunto de números quânticos n, l, ml , ms por meio de uma correspondência biunı́voca
com a sucessão i = 1, 2, 3, . . . , ∞.
O momento angular orbital ~L λ e o spin ~S λ do electrão comutam com o hamiltoniano
(2.55). Como o hamiltoniano do sistema é
X
H= Hc (λ) ,
λ
é uma constante do movimento sempre que o átomo constitua um sistema isolado. Isto
significa que, qualquer que seja a escolha feita para os hamiltonianos de 1-partı́cula, os
observáveis ~J 2 e Jz (cujos valores são determinados pelos números quânticos J e M ) são
constantes do movimento.
Capı́tulo 2. Partı́culas idênticas 73
conforme se mostrou na secção 1.9.1. Como ~Lλ e ~Sλ não comutam com HS0 (λ) os operadores
~L e ~S não são constantes do movimento. Porém o momento angular total do electrão λ
~j l = ~J λ + ~S λ
comuta com HS0 (λ). O tipo de acoplamento que consiste em construir funções próprias de
~J 2 , Jz com as funções próprias de ~j 2 , jλz , dadas na equação (2.62), chama-se acoplamento
λ
jj.
Em espectroscopia os estados com valores definidos para J, L, S, são designados pela
notação 2S+1 LJ onde L ocupa o lugar de uma das letras s, p, d, . . . , consoante L = 0, 1, 2, . . ..
Dado que num sistema isolado a energia é independente do número quântico magnético
M os 2J + 1 estados do multipleto 2S+1 LJ têm todos a mesma energia. Se no modelo
de partı́culas independentes considerarmos apenas potenciais centrais a energia é também
independente da orientação relativa entre L ~ eS
~ e portanto independente de J. Multipletos
com valores distintos para J mas com valores iguais para L e S têm a mesma energia. Com
a inclusão do potencial spin–órbita a energia dos multipletos 2S+1 LJ torna-se dependente
de J.
Fizeram-se algumas considerações de carácter geral sobre o modo mais conveniente de
proceder à adição dos momentos angulares dos fermiões em função do tipo de hamiltoniano
de 1-partı́cula. Para além deste problema há que garantir a antisimetria das funções de
onda. Comecemos pelo caso do acoplamento LS.
O determinante de Slater (2.42) construido com as funções de onda (2.57), embora seja
uma função própria de Lz e Sz , não é, em geral, uma função própria de ~L2 e ~S2 . Para obter
funções de onda antisimétricas, que sejam também funções próprias de ~L2 e ~S2 , é necessário
formar combinações lineares
X
ψa (L, ML , S, MS ) = cα ψaα (ML , MS ) (2.63)
α
onde ψaα (ML , MS ) são determinantes de Slater, todos com o mesmo valor de ML e MS . Os
coeficientes cα calculam-se por meio de técnicas especiais que se encontram descritas em
livros especializados de fı́sica atómica e nuclear.
Há um caso particular em que o determinante de Slater (2.42) é uma função própria
de L̃2 e S̃2 . Trata-se do caso em que o determinante descreve uma camada completa ou
fechada. Uma camada é um conjunto de estados com o mesmo valor de n e l. Quando
completa a camada é ocupada por 2(2l + 1) electrões e, devido ao princı́pio de exclusão
de Pauli tem necessariamente ML = MS = 0. Como apenas se pode formar um estado
independente com as 2(2l + 1) funções de onda de um electrão esse estado tem L = S = 0.
Com toda a generalidade conclui-se que o sistema formado por fermiões idênticos, que
constitui uma camada fechada, está num estado 1 s0 . Quando se procura determinar as
74 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
com
L + S = par (2.69)
para que, em face das relações (2.66) e (2.67), se garanta a antisimetria da função de onda.
Consideremos agora o acoplamento jj. O determinante de Slater construido com as
funções (2.62), embora seja uma função de Jz , não é, em geral, uma função própria de ~J 2 .
Para obter funções próprias de ~J2 é necessário, à semelhança do que se fez no caso anterior,
formar combinações lineares.
X
ψa (J, M ) = c0α ψaα (M ) (2.70)
α
onde ψaα (M ) são determinantes de Slater, todos com o mesmo valor de M . A determinação
dos coeficientes c0α é em geral complicada, mas existem técnicas especiais para efectuar o
seu cálculo.
No acoplamento jj designa-se por camada o conjunto de estados com o mesmo valor de
n, l, j. O número máximo de fermiões idênticos que podem ocupar a mesma camada é 2j +1.
Tal como no acoplamento LS, o determinante de Slater que descreve uma camada fechada
Capı́tulo 2. Partı́culas idênticas 75
onde ψnljm é dado pela equação (2.62). Utilizando novamente as propriedades de simetria
dos coeficientes C obtém-se
dado que, nos fermiões, j é semi-inteiro. Em conclusão J só pode tomar os valores pares
2j − 1, 2j − 3, . . . , 2, 0, de modo a garantir a antisimetria da função de onda.
O modelo em camadas do núcleo atómico é um modelo de partı́culas independentes.
Como primeira aproximação obtém-se uma descrição razoável do espectro de energia dos
núcleos e de outras importantes propriedades da estrutura nuclear utilizando o acoplamento
jj no modelo em camadas. Os estados nucleares podem classificar-se por meio do isospin
porque este é, embora aproximadamente, um bom número quântico. Estes estados são nec-
essariamente antisimétricos para a troca de nucleões dado que entre eles existe a interacção
nuclear fraca capaz de converter um neutrão num protão e vice-versa. Uma função de
onda de um núcleo é pois, no caso mais geral, uma combinação linear de termos que são o
produto de uma função orbital por uma função de spin e por uma função de isospin, com
a referida propriedade global de antisimetria.
Sı́mbolo
H He Li C N O Ne Na Mg K Ca
quı́mico
Configuração
1s1 1s2 1s2 2s1 1s2 2s2 2p2 1s2 2s2 2p3 1s2 2s2 2p4 1s22 s2 2p6 [Ne]3s1 [Ne]3s2 [Ar]4s1 [Ar]4s2
electrónica
1a energia de
13.6 24.5 5.4 11.3 14.6 13.6 21.5 5.1 7.6 4.3 6.1
ionização (eV)
A primeira regra de Hund tem a sua origem no facto de que os estados de maior
S correspondem geralmente a uma função de onda que é simétrica na parte de spin e
portanto antisimétrica na parte orbital. Esta última propriedade diz que os electrões se
mantêm afastados e por isso baixa a energia do estado. A segunda regra de Hund baseia-se
essencialmente no mesmo mecanismo.
A terceira regra de Hund diz respeito ao desdobramento provocado pela interacção spin–
–órbita em multipletos com igual L, S mas diferente J. Se a camada incompleta está mais
de metade cheia o estado fundamental tem o valor máximo J = L + S. A justificação desta
regra reside essencialmente nas propriedades da interacção spin–órbita a que nos referimos
na secção 1.9.1.
Consideremos agora a aplicação das regras de Hund ao caso particular do boro e do
carbono. No boro a camada 2p está menos de metade preenchida portanto o estado funda-
mental é o 2 p1/2 . No carbono o estado fundamental é 3 p0 dado que este é o multipleto de
maior S e menor J.
Na tabela 2.1 está indicada a configuração electrónica do estado fundamental de alguns
átomos juntamente com a respectiva energia de ionização. É informativo verificar nesta
tabela a aplicação das regras de construção dos estados atómicos e a sua correlação com
as propriedades quı́micas dos elementos. A especificação dos valores de L, S, J dos estados
fundamentais é importante em parte pelo facto de as regras de selecção das transições
electromagnéticas permitirem determinar os correspondentes números quânticos dos estados
Capı́tulo 2. Partı́culas idênticas 77
excitados. Estas regras de selecção, para transições dipolares eléctricas (secção 2.11), são
∆S = 0 (2.73a)
∆L = ±1 (2.73b)
∆J = 0, ±1, 0 → 0 proı́bido , (2.73c)
onde ∆X = Xj − Xi representa a diferença entre o valor final e inicial da variável X. Por
aplicação destas relações torna-se possı́vel fazer o estudo detalhado da estrutura atómica
através da análise dos espectros de radiação.
A terminar esta secção é curioso observar que não são as caracterı́sticas da estrutura
atómica que limitam o número de elementos observados na natureza. A razão de não
existirem naturalmente átomos com número atómico Z > 100 está apenas no facto de os
núcleos destes átomos sofrerem cisão espontânea.
Como as funções ψi (λ) são, por hipótese, ortonormadas os integrais no último membro da
equação (2.76) são todos nulos excepto aquele em que Pq é o operador identidade. Portanto,
em conclusão, X
hψa |F|ψa i = hψi |f|ψi i . (2.78)
i
onde o somatório em i se estende aos n estados distintos de 1-partı́cula presentes na função
de onda ψ(1, 2, . . . , n).
Consideremos agora um operador de duas partı́culas
X
G= g(λ, µ) . (2.79)
λ<µ
Por meio de uma dedução análoga à anterior conclui-se que o valor médio de G no estado
descrito pelo determinante de Slater é
XXZ
hψa |G|ψa i = (−1)pq Pq ψ ∗ (1, 2, . . . , n)g(λ, µ)ψ(1, 2, . . . , n) (2.80)
λµ q
onde ψ(1, 2, . . . , n) é a função de onda (2.39). Devido à ortonormalização das funções ψi (λ)
os únicos integrais não nulos, no segundo membro da equação (2.80), correspondem aos
casos em que o operador de permuta Pq é a identidade ou o operador de permuta das
partı́culas λ, µ. Assim obtém-se
X Z
hψa |G|ψa i = ψi∗ (1)ψj∗ (2)g(1, 2)ψi (1)ψj (2)dξ1 dξ2
i<j
Z
− ψi∗ (1)ψj∗ (2)g(1, 2)ψj (1)ψi (2)dξ1 dξ2 = (2.81)
X
= (hψi ψj |g|ψi ψj i − hψi ψj |g|ψj ψi i)
i<j
onde o somatório se estende a todos os pares de valores distintos de i, j, com i < j, que
intervêm na função de onda (1, 2, . . . , n).
O segundo termo no interior do parêntesis da equação (2.81) é chamado termo de troca,
dado que os ı́ndices i, j se encontram trocados no vector ket relativamente ao vector bra, e
desempenha um papel importante na descrição dos estados do sistema de fermiões idênticos.
O primeiro termo dentro do parêntesis é chamado termo directo.
Capı́tulo 2. Partı́culas idênticas 79
Com base nos resultados anteriores é imediato obter o valor médio do hamiltoniano
(2.32) num estado descrito pelo determinante de Slater (2.42). Utilizando as equações
(2.78) e (2.81) obtém-se
X X
E = hψa |H|ψa i = hψi |H(1)|ψi i+ |hψi ψj |H(1, 2)|ψi ψj i − hψi ψj |H(1, 2)|ψj ψi i| . (2.82)
i i<j
Foi já referido na secção anterior que os determinantes de Slater não são em geral funções
de onda com valores bem definidos para o momento angular total. Conforme se utiliza
o acoplamento LS ou jj há que proceder à construção de funções de onda antisimétricas
ψa (L, ML , S, MS ) ou ψA (J, M ) expressas genericamente pelas equações (2.63) ou (2.70). O
cálculo do valor médio de H para estas funções de onda, embora bastante mais complicado,
reduz-se também a integrais de tipo análogo aos que intervêm na equação (2.82).
δhψ|H|ψi = 0 , (2.86)
Z
i6=j (2.89)
−Ei δψi∗ (1)ψi (1)dξ1 + (termo complexo conjugado) = 0
onde os ı́ndices i e j percorrem todos os valores presentes na função (2.84). Como esta
equação é válida para quaisquer variações δψi∗ e δψi e estas variações são independentes
conclui-se que
(H(1) + Ui (1) − Ei ) ψi (1) = 0 (2.90)
onde X
Ui (1) = hψj (2)|H(1, 2)|ψj (2)i (2.91)
j
j6=i
A partir desta relação e seguindo uma dedução análoga à que se utilizou para o método de
Hartree obtém-se
X X
H(1)ψi (1) + hψj (2)|H(1, 2)|ψj (2)iψi (1) − hψj (2)|H(1, 2)|ψi (2)iψj (1) − Ei ψi (1) = 0
j j
(2.94)
onde as somas em j se estendem a todos os estados presentes no determinante (2.42). O
conjunto de n equações acopladas (2.94), chamadas equações de Hartree–Fock, difere de
(2.90) apenas pela presença dos termos de troca, resultantes de se ter usado uma função
de ensaio antisimétrica.
A equação (2.94) pode descrever-se sob uma forma semelhante a (2.90)
Z
H(1)ψi (1) + U(1, 3)ψi (3)dξ3 − Ei ψi (1) = 0 . (2.95)
2
Tradução da expressão “self-consistent” em lı́ngua inglesa.
82 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
construidos com vectores de uma só partı́cula |ii, onde i = 1, 2, 3, . . . , ∞. Vamos escolher
a fase no vector (2.97) de acordo com a convenção de ser i < j < · · · < l.
Capı́tulo 2. Partı́culas idênticas 83
O resultado de actuar com a†i sobre um vector |n1 n2 . . .i obtém-se directamente a partir
dos elementos de matriz de ai na representação {|n1 n2 . . .i}, utilizando a equação (2.101).
Conclui-se assim que
No caso de ser ni = 1 o factor 1 − ni garante que o segundo membro desta equação é nulo.
Se fôr ni = 0 a actuação com a†i cria uma partı́cula no estado i.
Em conclusão os operadores ai e a†i produzem, a menos de um factor de fase, vectores em
que o número de ocupação do estado i sofre um decréscimo e acréscimo de uma unidade ou
produzem o vector nulo sempre que tal variação não seja possı́vel em virtude da limitação
nos valores de ni . Fisicamente tais operações correspondem pois a aniquilar e criar uma
partı́cula no estado i. Esta é a razão porque os operadores ai e a†i se chamam operadores
de aniquilação e criação no estado i.
Partido das equações (2.101) e (2.104) e utilizando a notação
{ai , aj } = ai aj + aj ai (2.105)
O operador
Ni = a†i ai (2.109)
é o operador de número do estado i pois que
Vamos designar o estado correspondente ao vácuo, isto é, à total ausência de partı́culas,
por |0i. Se há apenas uma partı́cula e esta encontra-se no estado i, o estado do sistema é
descrito pelo vector
a†i |0i = |0 . . . 0 ni = 1 0 . . .i . (2.113)
análogamente qualquer dos vectores |n1 n2 . . .i pode obter-se por acção sucessiva dos oper-
adores de criação sobre o vácuo. Em particular tem-se
Repare-se que devido à ordenação dos operadores de criação de tal modo que i < j < . . . < l
não existe nenhum factor de fase no segundo membro da equação (2.114). A utilização
Capı́tulo 2. Partı́culas idênticas 85
da equação (2.114) torna possı́vel substituir as operações com os vectores |n1 n2 . . .i por
operações com os operadores de criação e aniquilação. Esta substituição introduz uma
simplificação notável nos cálculos.
A representação cujos vectores de base são |n1 n2 . . .i designa-se por representação dos
números de ocupação e o método que consiste em a utilizar, conjuntamente com o formal-
ismo dos operadores de criação e aniquilação, tem o nome de segunda quantificação. A
segunda quantificação foi originariamente introduzida na teoria quântica dos campos onde
constitui um elemento fundamental de análise.
Como se exprimem os operadores de 1 e 2 partı́culas na representação dos números de
ocupação? Para responder a esta questão vamos começar por considerar o operador de
1-partı́cula
Xn
F= f(λ) . (2.115)
λ=1
O elemento de matriz de f(1) entre dois estados de 1 partı́cula ψi (1) e ψj (1) é hi|f|ji =
hψi |f|ψj i. Vamos definir o operador F que representa f na representação dos números de
ocupação pela igualdade
hi|F|ji = hi|f|ji = h0|ai Fa†j |0i (2.116)
relativa a estados de 1-partı́cula. A relação (2.116) é satisfeita, qualquer que seja o par de
valores i, j, se fizermos
hk|f|lia†k al .
X
F= (2.117)
k,l
Por utilização das equações (2.114) e (2.117) conclui-se que os elementos de matriz de F
entre estados |n1 n2 . . .i com o mesmo número de partı́culas são dados por
É fácil verificar que o elemento de matriz (2.118) só é diferente de zero em dois casos:
1. quando os números de ocupação à esquerda e à direita são todos iguais excepto dois;
onde o ı́ndice i percorre todos os valores correspondentes a estados ocupados em |n1 n2 . . .i.
Repare-se que obtivemos novamente a equação (2.78), agora por meio da utilização da
representação dos números de ocupação.
Consideremos um operador de 2-partı́culas
X
G= g(λ, µ) . (2.121)
λ<µ
e o factor 12 resulta de que os elementos de matriz hij|g|kli e hji|g|lki são iguais. O valor
médio de G̃ num estado |n1 n2 . . .i é dado por
1 X
hn1 n2 . . . |G̃|n1 n2 . . .i = hij|g|klih0|as . . . ar (a†i a†j ak al )a†r . . . a†s |0i . (2.124)
2
i,j,k,l
Os termos do somatório no segundo membro só não são nulos se o operador entre parêntesis
criar e aniquilar as mesmas partı́culas. Esta condição implica que seja i = l e j = k ou
i = k e j = l. As duas possibilidades correspondem respectivamente ao termo directo e ao
termo de troca. Obtêm-se pois
1X
hn1 n2 . . . |G̃|n1 n2 . . .i = (hij|g|iji − hij|g|jii) (2.125)
2
i6=j
O operador
Ni = b†i bi (2.133)
é o operador de número de estado i e
∞
X
N= Ni (2.134)
i=1
é o operador de número de partı́culas. Tais operadores satisfazem às equações aos valores
próprios
Os vectores |n1 n2 . . .i podem construir-se por sucessiva aplicação dos operadores de criação
sobre o vácuo. Com efeito, recorrendo à equação (2.131) obtém-se
∞
Y 1 † ni
|n1 n2 . . .i = √ b |0i . (2.137)
i=1
ni ! i
A representação cujos vectores de base são |n1 n2 . . .i designa-se por representação dos
números de ocupação. Tanto para fermiões como para bosões o método que consiste em
utilizar a representação dos números de ocupação e o formalismo dos operadores de criação
e aniquilação tem o nome de segunda quantificação. Os ı́ndices j, k identificam os estados
de 1-partı́cula.
Na secção seguinte vamos mostrar que a segunda quantificação constitui um formalismo
essencial para se proceder à quantificação de um campo em mecânica quântica.
~
~ = −∂A ,
E ~ =∇×A
B ~ . (2.139)
∂t
Capı́tulo 2. Partı́culas idênticas 89
As ondas descritas pela equação (2.138) propagam-se no vácuo e numa direcção ~k, perpen-
dicular aos vectores E ~ eB ~ , com a velocidade da luz c.
De acordo com o segundo postulado fundamental da mecânica quântica, o potencial
vector A~ deverá ser descrito por um operador que actua no espaço vectorial dos estados
do sistema. Para caracterizar este operador é conveniente começar por proceder ao desen-
volvimento de A ~ (~r , t) em série de Fourier. Podemos admitir, sem perda de generalidade,
que o volume V onde se efectua o desenvolvimento é um cubo de aresta L, centrado na
origem, e no qual A ~ satisfaz a condições de fronteira periódicas. Como A
~ é real, tem-se
~ (~r , t) = √1
X X
A c~k α (t)~u~k α (~r ) + c∗~k α (t)~u∗~k α (t) (2.140)
V ~ α=1,2
k
onde
~
~u~k α (~r ) = ~ (α) ei k ·~r . (2.141)
Nestas relações ~ (1) e ~ (2) são dois versores, chamados vectores de polarização, escolhidos
de modo que ~ (1) , ~ (2) e ~k constituam um triedro ortogonal directo. Esta escolha é
necessária para que o potencial vector A ~ seja solenoidal e a transversalidade dos campos
~ ~ ~
E e B relativamente à direcção k seja garantida. Conforme se mostrou na secção 2.4.1 as
condições de fronteira periódicas nas faces do cubo obrigam as componentes dos vectores ~k
que intervêm nas equações (2.140) e (2.141) a satisfazerem às relações (2.46). Tais relações
podem escrever-se abreviadamente sob a forma
2πn
kx , ky , kz = , n = ±1, ±2, ±3, . . . . (2.142)
L
Importa ainda chamar a atenção para o facto de que os vectores ~u~k α obedecem às seguintes
relações de ortonormalidade
Z
1
~u∗~k 0 α0 ~u~k α d~r = δ~k 0 ~k δαα0 . (2.143)
V
V
estendido ao volume V é
2 X X 2 ∗
H= k c~k α (t)c~k α (t) . (2.147)
µ0
~k α=1,2
1
q~k α = √ c~k α + c∗~k α , (2.148)
c µ0
iω
p~k α = − √ c~k α − c∗~k α , (2.149)
c µ0
A relevância das novas funções está em que constituem um conjunto de variáveis canónicas
pois satisfazem às equações de Hamilton–Jacobi
∂H dp~ ∂H dq~
= − kα , = kα . (2.151)
∂q~k α dt ∂p~k α dt
onde
N~k α = b†~ b~k α (2.157)
kα
é o operador de número do estado ~k, α. Note-se que ao utilizar a equação (2.150) em lugar da
equação (2.147), para substituir as
P variáveis
P1 clássicas por operadores quânticos, obter-se-ia
no hamiltoniano um somatório 2 ~ω que obviamente gera uma infinidade. Porém,
~k α
1
na realidade, o termo é desprezável quando há um número muito elevado de fotões
2 ~ω
no campo, situação em que a electrodinâmica clássica constitui uma boa aproximação.
92 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
que nos dá o momento linear no campo de radiação. Consideremos agora a dependência no
tempo dos operadores b~ (t) e b†~ (t) que se encontram expressos na descrição de Heisen-
kα kα
berg. Por integração da equação do movimento de Heisenberg para b~k α obtém-se
Confirma-se, pois, a hipótese de Planck, segundo a qual a energia do campo de radiação só
pode variar de modo discreto por saltos de ~ωi . Estes quanta de energia correspondem a
partı́culas que não interactuam entre si e a que se dá o nome de fotões. n~k i αi é o número
de fotões que se encontram no estado caracterizado pelo par de valores ~k i αi . O estado do
campo de radiação fica completamente caracterizado através do número de fotões que se
encontram em cada um dos estados ~k i , αi , isto é, através dos números n~k i αi .
A energia de um fotão de tipo ~k i , αi é
Por outro lado, utilizando a equação (2.158) conclui-se que o momento linear de um fotão
do tipo ~k i , αi é
p~ i = ~~k i . (2.164)
Capı́tulo 2. Partı́culas idênticas 93
E 2 = m2 c4 + p2 c2 , (2.165)
que o fotão tem massa nula. O estado do fotão fica completamente caracterizado pelo
momento linear ~~ki uma vez que é também necessário especificar o valor de α, que identifica
o vector de polarização ~ (α) . Como ~ (α) é um vector, sabe-se da teoria do momento angular
(secção 1.7) que constitui um tensor irredutı́vel de ordem 1 e portanto corresponde a um
momento angular igual a 1. Isto significa que o fotão tem spin igual a 1.
Escolhendo o eixo dos x e y segundo ~ (1) e ~ (2) , respectivamente, podem definir-se
vectores de polarização circular
1
~ (±) = ∓ √ ~ (1) ± i~ (2) = ~e ±1 (2.166)
2
onde ~e ±1 são os vectores de base esféricos definidos na equação (1.157). Os vectores ~ (1) e
~ (2) descrevem estados de polarização linear enquanto que os vectores ~ (+) e ~ (−) descrevem
estados de polarização circular direita e esquerda, respectivamente. Verifica-se (ver secção
2.9) que os vectores ~ (±) estão associados a uma projecção do spin do fotão segundo o eixo
dos z de m = ±1. Dado que ~ (1) , ~ (2) e ~k constituem um triedo directo e como resultado da
nossa escolha de eixos, o vector ~k coincide com o eixo dos z. A inexistência de um estado
com projecção m = 0 segundo a direcção de propagação da onda electromagnética resulta
da condição de transversalidade ~k · ~ (α) = 0 e tem a sua origem no facto de o fotão ter
massa nula. Em conclusão o spin do fotão apenas pode ser paralelo ou antiparalelo a ~k .
Os resultados anteriores conduzem a uma interpretação fı́sica muito clara para b~k i αi e
†
b~k i αi: são os operadores de aniquilação e criação de fotões do tipo ~k i , αi . Procedendo de
novo à substituição (2.155), agora na equação (2.140), obtém-se
r
c ~µ0 ~ ∗ ~
b~k α (0)~ (α) ei( k ·~r −ωt) + b†~ (0)~ (α) e−i( k ·~r −ωt) .
X X
~ (~r , t) = √
A (2.167)
V 2ω kα
~k α=1,2
que é inferior a 2pc. De acordo com o princı́pio de incerteza tempo–energia o sistema está
3
Exceptuam-se os neutrinos que, como se sabe, são insensı́veis à interacção electromagnética.
Capı́tulo 2. Partı́culas idênticas 95
Figura 2.2: As figuras (a) e (b) correspondem a diagramas de Feynman de ordem 2 para
a troca de fotões entre um electrão e um positrão. Na figura (c) é representada a troca de
um fotão virtual que se materializa num par electrão–positrão. O tempo evolui da base das
figuras para o topo.
O facto de este valor ser muito mais elevado do que a constante de estrutura fina e2 /~c '
1/137 mostra que a interacção nuclear forte, tal como o nome indica, é muito mais intensa
do que a interacção electromagnética. Na teoria de Yukawa conclui-se que a troca singular
de mesões π origina um potencial entre nucleões da forma
− ar
2e
V (r) = −g . (2.175)
r
onde o alcance a é dado pela equação (2.173). Este potencial, designado por potencial de
Yukawa, constitui apenas um aspecto parcial da dinâmica da interacção nuclear forte.
A nı́vel dos hadrões, uma vez reconhecida a sua estrutura interna, torna-se necessário
interpretar as forças que se exercem entre quarks. Recentemente foi proposta uma teoria
para descrever a interacção entre quarks, chamada cromodinâmica quântica, que apresenta
muitas analogias com a electrodinâmica quântica. Nesta teoria postula-se a existência de 8
partı́culas neutras e sem massa designadas por gluões que são os veı́culos da força nuclear
forte entre quarks, tal como o fotão é o veı́culo da força electromagnética. Tanto o fotão
como os gluões são partı́culas de spin 1 pelo que têm o nome comum de bosões vectoriais.
Quando um quark emite ou absorve um gluão, muda de cor mas mantém o sabor. Por
exemplo, a emissão de um gluão poderá transformar um quark u vermelho num quark u
azul ou amarelo mas não pode transformar um quark u num quark d ou s. Como os gluões
são os quanta da interacção nuclear forte isto significa que a cor constitui um aspecto
fundamental daquela interacção.
De acordo com a cromodinâmica quântica a interacção nuclear forte que se exerce entre
hadrões constitui uma manifestação da força ligante dos quarks que resulta da troca de
gluões. Trata-se de uma situação análoga à que se observa em fı́sica molecular onde a
força de van der Waals é apenas um ténue vestı́gio da interacção electromagnética que liga
os electrões aos núcleos. Note-se, porém, que a interpretação das forças nucleares entre
hadrões (por exemplo, entre um protão e um neutrão) com base na cromodinâmica não foi
ainda completamente conseguida e permanecem muitos problemas em aberto.
H = Hγ + HZ + Hint (2.177)
onde
Z
p~ 2i Ze2 e2
X X
HZ = − + (2.178)
2me ri |~r i − ~r j |
i=1 i<j
onde |Ai é um vector próprio da energia do átomo e |n~k 1 α1 n~k 1 α2 . . .i são os vectores que
descrevem os estados estacionários do campo de radiação (equação (2.160)).
O tipo de fenómeno de interacção que se pretende estudar fica caracterizado pelos
estados inicial e final do sistema átomo e campo de radiação. Consideremos a absorção
de um fotão ~k , α por um átomo que inicialmente se encontra no estado descrito pelo
vector |Ai e passa para o estado descrito pelo vector |Bi. De acordo com a equação
(A.20) o único elemento de matriz que intervém na amplitude de probabilidade em primeira
ordem de aproximação é hB; n~k α − 1|Hint |A; n~k α i onde, para simplificar a notação, não se
representam os números de ocupação relativos aos estados nos quais não há alteração do
número de fotões. O termo quadrático em A ~ na equação (2.179) não dá contribuição para
aquele elemento de matriz porque mantém o número de fotões ou altera-o de ±2. Quanto
ao termo dependente do spin vamos desprezá-lo porque, especialmente no caso dos átomos,
é muito mais pequeno do que o primeiro.
Em conclusão, os únicos termos que vão intervir no cálculo da amplitude de probabil-
idade de absorção são proporcionais a A ~ · p~ . Tendo presente a equação (2.167) verifica-se
que o operador A ~ · p~ é do mesmo tipo que a perturbação sinusoidal da equação (A.41).
Podemos sempre admitir, sem perda de generalidade, que o campo de radiação é “ligado”
no instante t = 0 no qual o átomo se encontra no estado descrito pelo vector |Ai. Vamos,
pois, fazer uma aplicação directa ao caso presente dos resultados obtidos na secção A.4.
Utilizando as equações (2.167) e (2.130) obtém-se para o elemento de matriz relativo à
absorção de um fotão
r * Z +
qc n~k α ~µ0 −iωt X
~
hB; n~k α − 1|Hint |A; n~k α i ' e × B ei k ·~r i p~ i · ~ (α) A . (2.181)
me 2ωV
i=1
Por uma dedução semelhante baseada nas mesmas aproximações conclui-se que o elemento
de matriz relativo à emissão de um fotão ~k , α é dado por
s * Z +
qc n~k α + 1 ~µ0 iωt X
−i~k ·~
ri (α) ∗
hA; n~k α + 1|Hint |B; n~k α i ' e × A e p~ i · ~ B .
me 2ωV
i=1
(2.182)
Combinando as equações (A.45b) e (2.182) obtém-se para a probabilidade de emissão, na
unidade de tempo, de um fotão com momento linear compreendido num ângulo sólido dΩ
centrado em ~~k e com energia ~ω = ~ck
Z D E 2
q 2 n~k α + 1 X −i~k ·~r i ∗
Γe = π A e p~ i · ~ (α) B ρ~ω,dΩ . (2.183)
2
0 me ωV
i=1
Por uma dedução inteiramente análoga, feita a partir da equação (2.181), conclui-se
que a probabilidade de absorção na unidade de tempo de um fotão com momento linear
compreendido num ângulo sólido dΩ centrado em ~~k e com energia ~ω é
E 2
Z
q 2 n~k α ω X D
i~k ·~r i
Γa = 2 B e p~ i · ~ (α) A dΩ . (2.187)
8π 0 me ~c 2 3
i=1
1
n~k α = ~ω . (2.192)
e kT −1
Vamos admitir que há um equilı́brio entre os processos de emissão e absorção para
todas as energias. Isto significa que o sistema constitui um corpo negro. Nestas condições
a energia do campo de radiação por unidade de volume no intervalo de frequência angular
compreendido entre ω e ω + dω é dado por
3
ω2
2~ω 4π L
E(ω)dω = dω . (2.193)
~ω
e kT −1 V 2π c3
O factor adicional 2 que se introduziu no segundo membro resulta dos dois valores possı́veis
da variável α que caracteriza o estado de polarização do fotão. A distribuição de energia
ω
pela frequência da radiação ν = 2π e por unidade de volume é, pois,
8πh ν 3
E(ν) = . (2.194)
c3 e kT
~ω
−1
Esta relação é a célebre lei de radiação de Planck obtida por este fı́sico em 1900 e que abriu
caminho para a teoria quântica do século XX.
Z∞
E= E(ν)dν = aT 4 . (2.195)
0
8π 5 k 4
a= = 7, 56 × 10−16 J m−3 o C−4 (2.196)
15h3 c3
2.10.3 Laser
Há determinadas circunstâncias em que a interacção de um campo de radiação com átomos
origina fenómenos interessantes que estão na origem de aplicações tecnológicas actualmente
com grande valor. Admitamos que num conjunto de átomos se consegue obter uma per-
centagem elevada do número total de átomos no mesmo estado excitado. Em seguida
faz-se incidir sobre o sistema fotões do tipo ~k, α com energia correspondente a determinada
transição atómica cujo estado inicial é o referido estado excitado. Devido ao factor n~k α + 1
na equação (2.186) a introdução dos fotões ~k , α vai provocar um aumento espectacular na
probabilidade de declı́nio dos átomos excitados, por emissão de fotões ~k , α. Gera-se assim
um feixe intenso, coerente e monocromático de radiação. Este é essencialmente o princı́pio
do funcionamento do laser (Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation).
No caso particular do laser de He–Ne o elemento activo é uma mistura dos gases hélio
e néon. O gás de néon é a fonte de emissão estimulada de radiação enquanto o gás de
hélio é o agente que produz a inversão de população (relativamente à lei de distribuição de
Maxwell–Boltzmann) nos átomos de néon. Esta inversão dá-se para alguns dos estados do
hélio, excitam-se em colisões entre átomos de hélio e néon. Os átomos de néon excitados
emitem fotões que são confinados por meio de espelhos criando deste modo o meio ambiente
necessário à emissão estimulada.
obtém-se
i~
[H0 ,~r ] = − ~p (2.201)
me
onde H0 é o hamiltoniano que descreve o movimento do electrão no átomo. Note-se que a
relação (2.201) já não é exacta no caso de existir em H0 um potencial não-local. Substituindo
a equação (2.201) no elemento de matriz da equação (2.199) conclui-se que
ime
hA|~p |Bi = − (EB − EA )hA|~r |Bi = −ime ωhA|~r |Bi . (2.202)
~
Obter-se-ia a mesma expressão final para a probabilidade de emissão procedendo à substi-
~ · ~p por ~r · ~E (a menos de factores de proporcionalidade) no hamiltoniano de
tuição de A
interacção. Fica assim justificada a designação de aproximação dipolar eléctrica.
Calculemos o elemento de matriz (2.202) entre dois estados atómicos |JA MA i e |JB MB i
com valores bem definidos para o momento angular total e a sua projecção segundo o eixo
dos z. Por aplicação das equações (1.158) e (1.159) ao vector ~r obtém-se
r
4π X µ ∗
~r = r Yl (θ, φ)~e µ . (2.203)
3 µ
O elemento de matriz no último membro destas relações calcula-se facilmente por aplicação
do teorema de Wigner–Eckart pois que rYlµ é um tensor irredutı́vel de primeira ordem
∗
hJA MA |rYlµ (θ, φ)|JB MB i = (−1)µ (JB MB l − µ|JA MA )(JA krYl kJB ) . (2.205)
|JB − JA | = 0 , (2.206a)
0 → 0 proı́bido . (2.206b)
Note-se ainda que os vectores |JA MA i e |JB MB i têm necessariamente paridades opostas
porque ~r é um operador polar.
Do ponto de vista da interpretação fı́sica as regras de selecção (2.206) traduzem o facto
de que numa transição E1 a variação do momento angular resulta apenas do spin do fotão
emitido. Admitamos que o momento linear ~ ~k do fotão emitido está dirigido segundo o
104 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
eixo dos z. Vamos caracterizar o estado de polarização do fotão através dos vectores de
polarização circular definidos na equação (2.166). Recorrendo às relações
~e 0 · ~e ∗±1 = ~e −1 · ~e ∗1 = 0 , (2.207a)
~e 1 · ~e ∗1 = ~e −1 · ~e ∗−1 =1, (2.207b)
MB = MA + µ . (2.208)
Pode acontecer que inicialmente o conjunto de átomos esteja polarizado. Isto significa
que os estados |JB MB i correspondentes a diferentes valores de MB não têm todos a mesma
probabilidade (2JB + 1)−1 pressuposta na dedução da equação (2.210). Há, pois, que
modificar a equação (2.210) no sentido de nela fazer intervir as probabilidades relativas a
cada um dos estados |JB MB i. Esta é uma situação tı́pica em que é conveniente utilizar
a matriz densidade pois que, em geral, desconhece-se o valor da projecção do momento
angular total MB para cada um dos átomos constituintes do sistema.
Capı́tulo 2. Partı́culas idênticas 105
aproximação dipolar eléctrica é relativamente pior. É, pois, frequente haver necessidade de
considerar outras transições multipolares além de E1, concorrentes para a mesma proba-
bilidde de transição entre dois estados nucleares.
Capı́tulo 3
As experiências em que se provoca a colisão entre partı́culas constituem uma das técnicas
experimentias mais importantes da microfı́sica. Esta constatação torna-se bem clara num
breve relance sobre a história da fı́sica moderna. Recorde-se que foram as experiências de
colisão entre feixes de partı́culas α e átomos de ouro que levaram Rutherford a postular a
existência do núcleo atómico. Experiências do mesmo tipo, realizadas também por Ruther-
ford, revelaram a existência de uma estrutura interna no núcleo. Actualmente em fı́sica das
altas energias as colisões entre partı́culas constituem um dos métodos essenciais de análise
das interacções fundamentais e também o meio de produção das próprias partı́culas, como
é o caso dos mesões π.
A teoria quântica das colisões aplica-se tanto em fı́sica atómica como em fı́sica nuclear
e sub-nuclear, constituindo actualmente um ramo muito importante da mecânica quântica.
Vamos fazer apenas uma breve introdução aos conceitos e métodos fundamentais da teoria,
deixando de fora técnicas especı́ficas dos seus vários domı́nios de aplicação e também alguns
aspectos da sua, por vezes complexa, fundamentação matemática. Por outro lado limitar-
-nos-emos a um tratamento não-relativista da teoria das colisões.
107
108 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
impedir que partı́culas provenientes directamente da fonte sejam também contadas no de-
tector. O fluxo de partı́culas dispersadas segundo o ângulo de dispersão θ0 da figura 3.1 é
geralmente uma fracção pequenı́ssima do fluxo total de partı́culas incidentes.
Em geral o número de partı́culas dispersadas que se detectam numa experiência de
dispersão varia com a energia do feixe incidente. Interessa, pois, que o espectro de energia
das partı́culas do feixe incidente tenha um pico tão pronunciado quanto possı́vel para uma
determinada energia de tal modo que, na prática, se possa considerar que a colisão se
dá a uma energia bem definida. Idealmente o feixe incidente deveria ser perfeitamente
monocromático. Tal, porém, não é realizável devido ao princı́pio de incerteza de Heisenberg,
uma vez que o feixe está colimado. O facto de o feixe incidente estar colimado significa
que a função de onda é um trem de ondas que, como se sabe, não é uma função própria da
energia.
Nas colisões distinguem-se vários tipos de fenómenos de dispersão aos quais nos vamos
agora referir. O mais simples é a dispersão elástica ou colisão elástica de duas partı́culas,
processo que se pode representar simbolicamente por
a+b→a+b (3.1)
ou
a(b, b)a . (3.2)
Nesta última notação pressupõe-se que a primeira letra designa as partı́culas do alvo e a
primeira letra dentro do parêntesis designa as partı́culas do feixe incidente. A dispersão
elástica caracteriza-se pelo facto de a energia cinética das partı́culas antes e depois da colisão
ser a mesma.
Se num processo de dispersão as partı́culas incidentes ou do alvo tiverem estrutura
interna é possı́vel que alguma delas sofra uma alteração no seu estado interno. Neste caso a
energia cinética total das partı́culas antes e depois da colisão é diferente e o processo designa-
-se por dispersão inelástica ou colisão inelástica. Note-se ainda que a colisão entre duas
partı́culas com estrutura interna pode também originar alterações na própria composição
das partı́culas. Nestas circunstâncias diz-se que há colisão com rearranjo. Embora, dado o
seu significado, seja preferı́vel guardar a palavra ‘dispersão’ apenas para designar colisões
Capı́tulo 3. Teoria das colisões 109
elásticas ou inelásticas, por vezes também se usa a expressão ‘dispersão com rearranjo’
como sinónima de colisão com rearranjo. Em particular, numa colisão com rearranjo, pode
dar-se a desintegração das partı́culas incidentes em duas ou mais partı́culas: tais processos
designam-se por processos de dissociação ou desintegração (este conceito tem em inglês o
nome de “break-up”).
Uma colisão com rearranjo na qual emergem duas partı́culas resultantes da redis-
tribuição ou rearranjo dos constituintes elementares das partı́culas incidentes representa-se
simbolicamente por
a+b→c+d (3.3)
ou
a(b, c)d . (3.4)
p + p → p + n + π+ (3.5)
4. O alvo deverá ser fino para que se possa desprezar a dispersão múltipla, isto é, a
dispersão resultante da interacção sucessiva com várias partı́culas do alvo.
Estas condições são necessárias para que a secção eficaz σ0 (θ0 , φ0 ) obtida a partir da equação
(3.6) descreva efectivamente o efeito da interacção entre uma partı́cula do feixe e uma
partı́cula do alvo. Em particular, as condições 3 e 4 servem para garantir que cada processo
de colisão envolve apenas uma só partı́cula do alvo.
Repare-se que, de acordo com a equação de definição, σ0 (θ0 , φ0 ) tem as dimensões de
uma área. Por integração sobre a esfera obtém-se a secção eficaz total
Z
σ = σ0 (θ0 , φ0 )dΩ0 . (3.7)
Se um determinado processo de dispersão tem uma secção eficaz elevada isso significa
que a probabilidade do referido processo se dar é elevada. Por exemplo, a probabilidade
relativa dos vários processos de dispersão é determinada pelo valor da secção eficaz total
de cada processo.
Em determinadas aplicações da teoria quântica das colisões no domı́nio da energia nu-
clear, interessa definir uma secção eficaz total por unidade de volume, σ/V , a que se dá
o nome de secção eficaz macroscópica. Neste contexto σ designa-se por secção eficaz mi-
croscópica.
Vamos supor que o potencial V (~r ) decresce mais rapidamente do que 1/r, quando r
tende para o infinito. Esta condição exclui o potencial de Coulomb para o qual é necessário
utilizar um método de análise especı́fico no estudo das soluções da equação (3.11). Voltare-
mos ao caso do potencial de Coulomb numa outra secção.
Na ausência de um alvo, e portanto de um potencial V (~r ), a função de onda (solução
da equação (3.11)) que descreve o feixe incidente é exp(ikz) sendo
r
2mE
k= . (3.12)
~2
Tal como no referencial do laboratório escolhemos também no referencial do centro de
massa o eixo dos z coincidente com o vector de onda ~k do feixe incidente. Na presença
de um alvo, que dispersa as partı́culas do feixe incidente, a onda plana exp(ikz) já não
descreve um estado estacionário de dispersão. O comportamento assimptótico (fora do
alcance do potencial) da solução da equação (3.11) que efectivamente descreve aquele estado
estacionário é
eikr
lim ψ(~r ) = C eikz + f (θ, φ) (3.13)
r→∞ r
onde C é uma constante. Esta forma assimptótica tem uma interpretação fı́sica muito
simples e sugestiva. O primeiro termo dentro do parêntesis é a onda plana que descreve o
feixe incidente e à qual já nos referimos. O segundo termo é uma onda esférica divergente
com a mesma energia da onda plana incidente e descreve partı́culas dispersadas pelo alvo.
Numa qualquer direcção, definida pelos ângulos θ, φ, a dependência radial deste último
termo é eikr /r. Com efeito esta função satisfaz à equação
eikr
(∇2 + k 2 ) =0 (3.14)
r
para r > 0. O factor 1/r garante que o número de partı́culas dispersadas através de uma
esfera centrada no alvo não depende da distância r ao alvo.
Como a dispersão não é em geral isotrópica a amplitude da onda esférica divergente é
função da direcção (θ, φ) que se considere. Esta dependência angular é dada pela função
f (θ, φ) a que se dá o nome de amplitude de dispersão.
Consideremos agora o caso em que as partı́culas incidentes têm spin s e potencial V
dependente do spin. Nestas circunstâncias a dispersão poderá provocar a polarização do
spin das partı́culas incidentes. Por outras palavras isto significa que, após a colisão, os
estados |smi têm em geral diferentes probabilidades mesmo que o feixe incidente não esteja
polarizado, isto é, que todos os estados |smi, com m = −s, −s + 1, . . . , s − 1, s, tenham no
feixe incidente igual probabilidade. Se admitirmos que no feixe incidente todas as partı́culas
estão no estado |smi, assimptoticamente o vector |ψ (m) i, que descreve o correspondente
estado estacionário de dispersão, é
eikr
D E
(m) ikz
lim ~r ψ =C e + f(θ, φ) |smi . (3.15)
r→∞ r
O ı́ndice superior (m) em |ψ (m) i foi introduzido para significar que o vector contém uma
onda plana na qual a projecção do spin é m e não deverá confundir-se com as funções ψm (~r)
definidas na equação (1.67).
Capı́tulo 3. Teoria das colisões 113
A amplitude de dispersão f da equação (3.15) é, neste caso, um operador que actua no
espaço do spin da partı́cula. Definindo
Esta relação constitui o ponto de partida para o estudo dos fenómenos de polarização
em colisões. Tais fenómenos são particularmente úteis para fazer um estudo especı́fico da
dependência da interacção V no spin.
Nesta secção fez-se uma descrição estacionária da dispersão. Com efeito, o feixe é rep-
resentado por meio de uma onda plana. Porém, como se viu na secção 3.1, a representação
por meio de uma onda plana constitui uma idealização, uma vez que o feixe incidente é
colimado e portanto deverá ser descrito por um trem de ondas. Este trem de ondas ocupa
apenas uma região do espaço relativamente bem definida e muda de posição ao longo do
tempo. Ao fazer o estudo do movimento do trem de ondas obtém-se uma descrição tempo-
ral da dispersão. Numa das próximas secções vamos mostrar que as descrições estacionária
e temporal são inteiramente equivalentes.
φ = φ0 . (3.18)
representada na figura 3.2. ~v 1(L) e ~v 1(CM) são as velocidades da partı́cula 1 nos referenciais
do laboratório e centro de massa e ~v é a velocidade do centro de massa. Com base na
relação (3.19) é imediato concluir que
sin θ
tan θ0 = , (3.20a)
γ + cos θ
onde
m1
γ= . (3.20b)
m2
114 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
Naturalmente, se a massa das partı́culas incidentes é muito menor do que a massa das
partı́culas do alvo tem-se θ0 ∼
= θ. No caso particular de uma colisão entre partı́culas de
igual massa γ = 1 e consequentemente
θ
θ0 = . (3.21)
2
Esta relação implica que no referencial do laboratório não há partı́culas dispersadas com
ângulos de dispersão θ0 > π2 . Se γ > 1, enquanto θ varia de 0 a π, θ0 varia entre 0 e um
ângulo máximo de arcsin(1/γ).
As secções eficazes nos referenciais do laboratório e centro de massa relacionam-se com
base na constatação de que o número n0 de partı́culas dispersadas, dado pela equação (3.6),
é invariante na mudança de referencial. Tem-se pois
ou ainda, utilizando
dΩ(θ, φ) = sin θdθdφ , (3.23)
vem
σ0 (θ0 , φ0 ) sin θ0 dθ0 dφ0 = σ(θ, φ) sin θdθdφ , (3.24)
sendo σ0 (θ0 , φ0 ) e σ(θ, φ) as secções eficazes nos referenciais do laboratório e centro de
massa. Substituindo as equações (3.18) e (3.20a) em (3.24) obtém-se
(1 + γ 2 + 2γ cos θ)3/2
σ0 (θ0 , φ0 ) = σ(θ, φ) . (3.25)
|1 + γ cos θ|
Note-se que a secção eficaz total é invariante na mudança de referencial pois o número
total de partı́culas dispersadas é independente do modo de descrição do processo de colisão.
As equações de transformação entre referenciais generalizam-se facilmente à dispersão
não elástica. Admitamos que no canal de entrada de determinado processo de dispersão
temos partı́culas 1 e 2 com massas m1 e m2 e no canal de saı́da temos partı́culas 3 e 4 com
massas m3 e m4 . Admitamos também que uma quantidade de energia Q é convertida de
energia interna das partı́culas 1 e 2 em energia cinética das partı́culas 3 e 4,
Ef = Ei + Q . (3.26)
Capı́tulo 3. Teoria das colisões 115
Figura 3.3: Onda esférica emergente da colisão de uma onda plana com um alvo pontual.
Esta equação é muito importante porque relaciona uma grandeza de carácter experi-
mental — a secção eficaz diferencial, σ(θ, φ) — com a amplitude de dispersão f (θ, φ) que
caracteriza a solução da equação de Schrödinger nas regiões do espaço cuja grande distância
ao alvo as coloca fora do alcance do potencial.
Importa chamar a atenção para o facto de que o vector de fluxo relativo à forma as-
simptótica completa de ψ(~r ), dada pela equação (3.13), contém termos de interferência
entre o feixe incidente e a onda esférica emergente. Estes termos não se consideraram na
dedução da equação (3.34). Porém, na prática, não estão presentes na região de detecção
das partı́culas dispersadas devido à colimação do feixe incidente conforme se mostra na
figura 3.3. A sua existência resulta de se ter representado idealmente o feixe incidente por
meio de uma onda plana.
É frequente o potencial V de interacção, entre as partı́culas do feixe incidente e as
partı́culas do alvo, ser central. Neste caso a dispersão apresenta simetria cilı́ndrica relati-
vamente à direcção do feixe incidente, que se escolheu para eixo dos z. Isso implica que
tanto a amplitude de dispersão como a secção eficaz diferencial são independentes de φ.
Capı́tulo 3. Teoria das colisões 117
~2
(∇2 + k 2 )ψ(~r ) = V (~r )ψ(~r ) (3.40)
2m
onde k é dado pela relação (3.12). Para resolver esta equação vamos utilizar o método das
funções de Green. A função de Green, G0 (~r , ~r 0 ), do operador que, no primeiro membro da
equação (3.40), actua sobre ψ(~r ), define-se pela equação
~2
(∇2 + k 2 )G0 (~r , ~r 0 ) = δ(~r − ~r 0 ) . (3.41)
2m
Para a determinar basta ter presente a identidade
eikr
(∇2 + k 2 ) = −4πδ(~r ) . (3.42)
r
1
r é uma distribuição derivável em todas as ordens cujo laplaciano é dado por
1
∇2 = −4πδ(~r ) . (3.43)
r
Utilizando esta relação e recorrendo às propriedades do laplaciano é imediato obter a iden-
tidade (3.42). Finalmente, por comparação entre as equações (3.41) e (3.42) obtém-se
0
m eik|~r −~r |
G0 (~r , ~r 0 ) = − . (3.44)
2π~2 |~r − ~r 0 |
k 2 2
Esta é a função de Green de uma partı́cula livre com energia E = ~2m . Repare-se que a
∗ 0
função complexa conjugada G0 (~r , ~r ) é também uma função de Green do mesmo operador.
Temos já os elementos necessários para prosseguir com a resolução da equação (3.40).
Substituindo a função Z
χ(~r ) = G0 (~r , ~r 0 )V (~r 0 )ψ(~r 0 )d~r 0 (3.45)
na equação (3.40) verifica-se que constitui uma solução particular. Como se sabe a solução
geral obtém-se adicionando a χ uma solução geral da equação homogénea. Em conclusão, se
ψ satisfaz à equação (3.40), ψ −χ é necessariamente uma solução da equação de Schrödinger
de uma partı́cula livre
~2
(∇2 + k 2 )(ψ − χ) = 0 . (3.46)
2m
Dado que nos interessa identificar a solução da equação (3.40) com o comportamento
assimptótico (3.13) vamos determinar o comportamento assimptótico da função χ. Para
grandes valores de r tem-se
s
~r · ~r 0 r0 2 ~r · ~r 0
lim |~r − ~r 0 | = r 1 − 2 2 + 2 = r − + ... . (3.47)
r r r
Capı́tulo 3. Teoria das colisões 119
m eikr
Z
~ 0
lim χ(~r ) = − e−i k ·~r V (~r 0 )ψ(~r 0 )d~r 0 . (3.49)
r−
→∞ 2π~2 r
ˆ
~
k
eikr (+) ~ˆ
~
lim = (2π)−3/2 ei k ·~r + f ( kb ) , (3.51a)
r −→∞ r
ˆ
~k
b
e−ikr (−) ~ˆ
~
lim = (2π)−3/2 ei k ·~r + f ( kb ) . (3.51b)
r −→∞ r
~kˆ
b
120 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
Finalmente, por aplicação das equações (3.34) e (3.52a), obtém-se para a secção eficaz
diferencial 4 D
2 2π
2
~ (+) 2
E
(+)
σ(θb , φb ) = f (θb , φb ) = m kb V ψ . (3.53)
~
Esta fórmula simples constitui um importante ponto de partida para deduzir métodos
aproximados de cálculo da secção eficaz. Porém, se se pretende calcular σ(θ, φ) exactamente,
é necessário resolver a equação de Schrödinger para determinar ψ (+) na região assimptótica.
p2
H0 = (3.54)
2m
aquela equação escreve-se sob a forma
(+)
(E − H0 )G0 =1. (3.55)
(+)
G0 é o operador de Green cujos elementos de matriz são
(+) 0
h~r | G0 ~r = G0 (~r , ~r 0 ) . (3.56)
(−)
A função de Green G∗0 (~r , ~r 0 ) define o operador de Green G0 através da equação
(−) 0
h~r | G0 ~r = G∗0 (~r , ~r 0 ) . (3.57)
(±) † (∓)
G0 = G0 . (3.58)
m e±ikr
D E Z
(±) ~ 0
lim φ(±) (~r ) = lim ~r G0 ψ = − e∓i k ·~r ψ(~r 0 )d~r 0 . (3.59)
r→∞ r→∞ 2π~2 r
Capı́tulo 3. Teoria das colisões 121
Devido ao decrescimento muito lento em 1/r a função de onda φ(±) não é de quadrado
(±)
somável. Isto significa que, de um ponto de vista estritamente matemático, G0 não são
operadores definidos no espaço de vectores de estado do sistema, ou mais geralmente, no
espaço de Hilbert.
(±)
Contudo os operadores G0 podem obter-se como limite de operadores no espaço de
Hilbert. Consideremos o operador (z −H0 )−1 , chamado resolvente de H0 , onde z é a variável
complexa. Este operador é definido no espaço de Hilbert e analı́tico (isto é, os elementos
de matriz na representação de Schrödinger são funções analı́ticas) para todos os valores de
z, com excepção dos valores próprios de H0 . Isto significa que (z − H0 )−1 apresenta um
corte ao longo do semi-eixo real positivo. O comportamento deste operador na vizinhança
do eixo real interessa-nos particularmente, pois satisfaz à relação
(±) 1
G0 = lim , (3.60)
→0+ E − H ± i
onde → 0+ significa que tende para zero por valores positivos. Se z tende para E por
(+)
valores situados acima do eixo real (Im z > 0), (z − H0 )−1 tende para G0 ; se z tende para
(−)
E por valores situados abaixo do eixo real (Im z < 0), (z − H0 )−1 tende para G0 .
Demonstração. Para demonstrar a relação (3.59) comecemos por observar que os operadores
do segundo membro são diagonais na representação do momento linear. A passagem da
representação do momento linear para a representação de Schrödinger faz-se por meio da
relação !−1
Z
~ 2 k0 2
−1
0 −3 ~ 0 ·(~ −~ 0)
i k r r
d~k 0 .
~r (z − H0 ) ~r = (2π) e z− (3.61)
2m
Introduzindo as variáveis r
~ = ~r − ~r 0 , 2mz
R ξ= , (3.62)
~2
com o objectivo de efectuar a integração angular, obtém-se
+∞ 0
k 0 eik R
Z
m 1
~r (z − H0 )−1 ~r 0 = − 2 dk 0 .
(3.63)
π~ R 2πi k0 2 − ξ 2
−∞
(+) (+)
A função integranda tem, para z = E + i ( > 0) dois pólos em ξ1 e ξ2 e para
(−) (−)
z = E − i dois pólos em ξ1 e ξ2 . A presença do factor exp(ik 0 R) na função integranda
da equação (3.63) garante que o valor do integral não se modifica ao fechar o contorno da
integração por meio de uma semi-circunferência de grande raio, situada acima do eixo real.
Torna-se assim possı́vel calcular o integral por meio do método dos resı́duos. Os limites,
(±)
quando → 0, dos resı́duos nos pontos ξ1 são respectivamente 12 exp(±ikR). Utilizando
as equações (3.62) e (3.63) obtém-se
0
m e±ik|~r −~r | D (±) 0 E
1 0
lim ~r ~r = − = ~r G0 ~r , (3.64)
→0+ E − H0 ± i 2π~2 |~r − ~r 0 |
Para efectuar as operações algébricas que intervêm na teoria das colisões é mais con-
veniente utilizar os operadores de Green em lugar das correspondentes funções de Green.
Porém, é necessário ter especial cuidado nas manipulações com os operadores de Green.
Em particular, note-se que as equações
(±) (±)
(E − H0 )G0 = G0 (E − H0 ) = 1 (3.65)
(±)
são apenas válidas para vectores de norma finita e não significam que G0 seja o inverso
de E − H0 . Como se sabe, E − H0 não possui inverso, dado que E é um valor próprio de
H0 .
Consideremos agora o hamiltoniano H do sistema de duas partı́culas,
H = H0 + V . (3.66)
e também D D
ψ (±) = ~k 1 + VG(∓) . (3.75b)
3.8 Matriz T
Terminada esta digressão sobre o formalismo dos operadores de Green é oportuno recon-
siderar a relação (3.52a) entre a amplitude de dispersão e o vector ψ (+) que descreve o
estado estacionário de dispersão. Torna-se agora conveniente introduzir um ı́ndice a no
vector E E
= 1 + G V ~k a ,
(+) (+)
ψa (3.76)
para caracterizar o momento linear ~ka do feixe incidente. Vamos considerar a matriz definida
pela relação D E D E
~k b T ~k a = ~k b V ψ (+) , (3.77)
a
Devido à conservação da energia a medição da secção eficaz diferencial dá-nos apenas in-
formação directa sobre a matriz T na camada da energia.
Substituindo a relação (3.76) em (3.77) obtém-se o operador
T = V + VG(+) V (3.79)
1
T(z) = V + V V. (3.80)
z−H
Este operador é uma função analı́tica de z para todos os valores de z que não pertencem
ao espectro de H. Admitamos que o espectro de H é constituı́do por uma parte discreta
para E < 0 e por uma parte contı́nua para E > 0. T(z) tem um pólo sempre que z é igual
à energia de um estado ligado e apresenta um corte no semi-eixo real positivo que, como
se sabe, corresponde às energias dos estados estacionários de dispersão. De acordo com a
sua definição o operador T é o limite de T(z) quando z → E (E > 0) por valores situados
acima do eixo real (Im z > 0).
124 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
(+)
Multiplicando a equação (3.79) à esquerda e à direita por G0 e utilizando as equações
(3.71) e (3.72) obtém-se
(+)
G0 T = G(+) V , (3.81)
(+)
TG0 = VG(+) . (3.82)
Substituindo a equação (3.82) em (3.71) obtém-se
(+) (+) (+)
G(+) = G0 + G0 TG0 . (3.83)
(+)
Como G0 é um operador conhecido a equação (3.83) mostra claramente que os operadores
G(+) e T são equivalentes para descrever a dispersão pelo potencial V. Por outro lado,
substituindo a equação (3.81) na equação de definição (3.79), obtém-se
(+)
T = V + VG0 T . (3.84)
Esta importante equação tem o nome de equação de Lippmann–Schwinger para o oper-
ador T e constitui o ponto de partida de vários métodos para efectuar o cálculo de T. Se, ao
nı́vel da equação (3.84), obtivermos uma aproximação para a matriz T torna-se imediata-
mente possı́vel calcular a secção eficaz, utilizando a equação (3.78), sem que seja necessário
determinar explicitamente a forma assimptótica de ψ (+) (~r ), por resolução da equação de
Schrödinger.
onde ~r é o vector de posição relativa entre as duas partı́culas. Note-se que a descrição em
termos de grupos de onda no vector ~r é equivalente a uma descrição em termos de grupos
de onda tanto para as partı́culas do feixe como para as partı́culas do alvo.
Procuremos então determinar a solução da equação (3.87) que descreve o processo de
dispersão realizado nas condições anteriormente enunciadas. Tal solução caracteriza-se por
meio de condições de fronteira no espaço e no tempo. ψ (+) deverá resultar da evolução de
um grupo de ondas que para t → −∞ é livre, isto é, anula-se na região onde a interacção V
entre as partı́culas é diferente de zero. Esta condição pode formular-se matematicamente
com o auxı́lio de um grupo de ondas ψ0 que evolui de acordo com o hamiltoniano H0 de
uma partı́cula livre. Vamos exigir que, no limite em que t → −∞, seja
i i
lim e− ~ Ht ψ (+) (~r , 0) = e− ~ H0 t Ψ0 (~r , 0) . (3.88)
t→−∞
Nesta equação e nas seguintes admite-se que a operação de passagem ao limite significa
ser nulo o limite da norma da diferença entre as funções do primeiro e segundo membros.
Portanto não se exige uma igualdade entre as funções de onda para que todos os pontos do
espaço o que, fisicamente, não é justificável.
A relação (3.88) pode também escrever-se sob a forma
i i
Ψ(+) (~r , 0) = lim e ~ Ht e− ~ H0 t Ψ0 (~r , 0) = Ω(+) Ψ0 (~r , 0) . (3.89)
t→−∞
De modo análogo define-se uma solução Ψ(−) da equação (3.87) que tende para um grupo
de ondas livre quando t → +∞
i i
Ψ(−) (~r , 0) = lim e ~ Ht e− ~ H0 t Ψ0 (~r , 0) = Ω(−) Ψ0 (~r , 0) . (3.90)
t→+∞
Embora os operadores de Møller tenham sido definidos no espaço das funções de quadrado
somável é possı́vel estender o seu domı́nio de modo a incluir funções de onda de norma in-
finita, em particular funções próprias do momento linear. Consideremos
E então a aplicação
~
dos operadores de Møller a um vector próprio do momento linear k . Esta operação define
os vectores E E
(±) (±) ~
ψ = Ω k . (3.94)
Z0
E i i
E
e± ~ t e ~ Ht e− ~ Et ~k dt =
(±)
ψ = lim ±
→0 + ~
∓∞
(3.95)
Z0
i
E ±i E
e ~ (H−E∓i)t ~k dt = lim
~
= lim ± k .
→0 + ~ →0 E ± i − H
+
±∞
1 E E
~
±i k = ~k (3.96)
E ± i − H0
obtém-se
E
(±)
E 1 1 ~
Ψ = lim ±i 1 + V k =
→0 + E ± i − H E ± i − H0
(3.97)
E 1 E
= ~k + lim V ~k .
→0+ E ± i − H
que
(±)são
afinal as equações de Lippmann–Schwinger (3.75a). Isto significa que os vectores
ψ , definidos pela equação (3.94), identificam-se com os vectores que descrevem os
estados estacionários de dispersão, cujo comportamento assimptótico é dado pela relação
(3.13). Fica assim demonstrada a equivalência entre as descrições temporal e estacionária
da dispersão.
3.10 Matriz S
Procuremos agora relacionar os operadores de Møller com a secção eficaz diferencial de
um processo de dispersão. A evolução temporal de um grupo de ondas, produzido num
acelerador de partı́culas e posteriormente dispersado num alvo, é descrita pela função de
(+)
onda ψa que, para t = 0, se relaciona com um grupo de ondas livre ψ0a através da
equação (3.89). O ı́ndice a nestas funções serve para caracterizar as propriedades do grupo
de ondas inicial, em particular o seu momento linear médio ~~ka . A probabilidade de detectar
Capı́tulo 3. Teoria das colisões 127
†
D E
S~k = ~k b Ω(−) Ω(+) ~k a (3.100)
~
bba
†
S = Ω(−) Ω(+) (3.102)
SS† = 1 . (3.104)
são também soluções das equações do movimento. Nestas circunstâncias diz-se que há
simetria na inversão do tempo.
Esta simetria verifica-se, por exemplo, quando a força depende de um potencial escalar.
Porém, no caso de uma partı́cula carregada num campo magnético é evidente que, em geral,
não existe simetria na inversão do tempo. A simetria seria restaurada se incorporassemos
no sistema as partı́culas carregadas cujo movimento é responsável pelo campo magnético.
Procuremos agora traduzir a operação de inversão do tempo em mecânica quântica.
Admitamos que um determinado sistema quântico conservativo se encontra no tempo t0 no
estado |ψ(t0 )i. Este vector satisfaz à equação
d
i~ |ψ(t0 )i = H|ψ(t0 )i . (3.106)
dt0
Ao efectuar a transformação de variável t0 7→ −t obtém-se
d
−i~ |ψ(−t)i = H|ψ(−t)i . (3.107)
dt
Para manter a forma da equação de Schrödinger torna-se agora necessário mudar i em −i.
Tal é possı́vel se se proceder à conjugação complexa da equação (3.107), depois de expressa
numa determinada representação. O operador que efectua esta transformação é o operador
de conjugação complexa, K0 . Aplicando K0 à equação (3.107) obtém-se
d 0
i~ |ψ (−t)i = H0 |ψ 0 (−t)i (3.108)
dt
onde
Importa salientar que a definição das equações (3.109) e (3.110) pressupõe a utilização
de uma determinada representação. Numa representação com vectores de base {|ξi} elas
exprimem-se sob a forma
Das considerações anteriores conclui-se que, para haver simetria na inversão do tempo
é necessário existir um operador unitário W tal que
d
i~ K|ψ(−t)i = HK|ψ(−t)i . (3.114)
dt
Nesta equação,
K = WK0 (3.115)
é o operador antiunitário de inversão no tempo. Em conclusão a invariância na inversão do
tempo traduz-se pela relação de comutação
[K, H] = 0 . (3.116)
No caso de haver simetria na inversão do tempo o vector de estado obtido por inversão do
tempo é
|ψinv (t)i = K|ψ(−t)i (3.117)
e satisfaz à equação de Schrödinger.
Consideremos o caso particular de uma partı́cula sem spin num potencial V (~r ). Dado
que, na representação de Schrödinger, H é representado por uma matriz real tem-se H0 = H
e portanto o operador de inversão do tempo K identifica-se com K0 . Como consequência
deste facto os operadores transformados de ~r e ~p na inversão do tempo são, como seria de
esperar,
Por utilização das equações (3.118) e (3.119) conclui-se ainda que a inversão do tempo
inverte o sentido do momento angular orbital
K = e−iπSy K0 . (3.126)
Em particular no caso de um vector próprio do momento linear |~kmi = |~ki|smi (para uma
partı́cula com spin s) obtém-se, utilizando a equação (1.134),
E EX E
~ ~ −iπSy ~ s 0 s−m ~
K|kmi = − k e |smi = − k Dm0 m (0, π, 0)|sm i = (−1) − k − m . (3.127)
m0
A interpretação fı́sica desta relação é evidente em face das caracterı́sticas dos operadores
(±) (±)
|ψ~ i. Enquanto |ψ~ i contém assimptoticamente uma onda esférica divergente e uma
k k
onda plana com momento linear ~k , o vector transformado por inversão do tempo, contém
assimptoticamente uma onda esférica convergente e uma onda plana com momento linear
−~k .
Consideremos agora a aplicação de K aos operadores de Møller. Se K comuta com H
tem-se
i i
Ke ~ Ht = e− ~ Ht K . (3.130)
Assim, tendo presente a forma das relações (3.91), conclui-se que
e também
KSK−1 = S† . (3.133)
Finalmente, substituindo esta relação na definição da matriz S e tendo presente a antiuni-
tariedade de K
D E D E∗
S~k ~k a = ~k b K† S† K ~k a = ~k b K† S† K ~k a =
b
D E∗ D E (3.134)
= −~k b S† −~k a = −~k a S −~k b = S−~k a −~k .
b
onde
θ
q = 2k sin (3.142)
2
e θ = arccos( ~k b · ~k a /k 2 ) é o ângulo de dispersão. Quando q aumenta, a amplitude de
dispersão de Born tende para zero devido, por um lado, à presença de q no denominador
e, por outro, à presença do factor oscilante sin(qr). Em conclusão, para energias elevadas,
a secção eficaz decresce com a energia incidente e decresce também com θ quando θ varia
de 0 a π. Num potencial com alcance R a secção eficaz concentra-se numa pequena região
angular centrada na direcção de incidência e definida pela condição q . R−1 .
Capı́tulo 3. Teoria das colisões 133
e−αr
V(r) = V0 (3.144)
r
que foi já discutido na secção 2.8.3. Efectuando o integral da equação (3.141) obtém-se a
amplitude de dispersão
2mV0 1
f (+) (θ) = − 2 . (3.145)
~ α + q2
2
Repare-se que, conforme se tinha já concluido no caso geral, a secção eficaz diferencial
decresce com a energia incidente e com o ângulo de dispersão θ. A secção eficaz total
obtém-se por integração no ângulo sólido dΩ e é dada por
4m2 V02
Z
4π
σ = σ(θ)dΩ = 4
. (3.147)
~ α (α + 4k 2 )
2 2
Apresenta-se a aproximação de Born, porém não se discutiu ainda sobre a sua vali-
dade. No estudo da validade da aproximação de Born a observação fundamental é a de
que ela resulta de desprezar o segundo termo no segundo membro da equação (3.50a).
Consequentemente a aproximação será razoável desde que
~
ψ (~r ) − (2π)−3/2 ei k ·~r 1
(+)
(3.148)
σ 4πR2 (3.149)
onde σ é a secção eficaz total. Nesta relação 4πR2 é a chamada secção eficaz geométrica por
ser a secção eficaz que, de um ponto de vista estritamente clássico, corresponde ao alcance
do potencial.
134 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
~2 2
− ∇ + V(r) u(r, θ, φ) = Eu(r, θ, φ) (3.150)
2m
eikr
ikz mv
lim u(r, θ, φ) = A e + f (θ, φ) , com k = . (3.151)
r→∞ r ~
A outra é dada pela equação (3.51a) que, como se sabe, descreve a condição de fronteira
caracterizadora de um estado de dispersão. Por comparação entre estas duas fórmulas
assimptóticas torna-se possı́vel determinar as constantes Al que intervêm na equação (3.150)
e relacionar os desvios de fase δl com a amplitude de dispersão.
Vamos admitir que o potencial tem simetria esférica e escolher um sistema de coorde-
nadas esféricas θ, φ com eixo polar segundo o vector de onda ~k do feixe incidente. Por
utilização das equações (3.151), (3.150), obtém-se2
!
il eikr
− 32
X lπ
(2π) (2l + 1) sin kr − Pl (cos θ) + f (θ) =
kr 2 r
l
1 X Al lπ
= (2l + 1) sin kr − + δl Pl (cos θ) . (3.152)
4π kr 2
l
1
Por exemplo, nas cadeiras de Introdução à Fı́sica Moderna ou Mecânica Quântica I.
2
Pl (cos θ) é o polinómio de Legendre de grau l, que pode ser obtido a partir da função geradora
∞
1 X
G(z, t) = √ = Pl (z) .
1 − tz + t 2
l=0
Ver, por exemplo, no livro de Schiff [13], secção 19: “Scattering by spherically simmetric potencials”.
Capı́tulo 3. Teoria das colisões 135
Figura 3.4: Se uma partı́cula clássica tem um parâmetro de impacto b que é menor que o
alcance R para o potencial deflector, então é afectada.
A função e2iδl que intervém nos termos desta série tem uma interpretação fı́sica muito
simples. Como o potencial é central o operador S é diagonal na base constituida pelas
funções de onda de uma partı́cula livre, φklm . Consequentemente podemos escrever
Esta relação mostra que a secção eficaz diferencial depende apenas do momento linear k
e dos desvios de fase δl . Se δl = 0 a onda parcial l não contribui para a secção eficaz.
Por integração da equação (3.126) sobre a esfera e recorrendo a relações de ortogonalidade
conclui-se que a secção eficaz total é
π X
2iδl
2 4π X
σ= (2l + 1) e − 1 = 2 (2l + 1) sin2 δl . (3.158)
k 2
k
l l
O método das ondas parciais consiste no cálculo da secção eficaz utilizando a série (3.154)
truncada a partir de um valor do momento angular orbital lmax tal que as contribuições das
ondas parciais com l > lmax são desprezáveis. Admitamos que o potencial V (r) tem, a partir
de uma distância R, valores suficientemente pequenos para que se possa ignorar. Sendo
assim é razoável tomar R como o valor que caracteriza o alcance do potencial. Conclui-se
que as ondas parciais com l kR não são afectadas pelo potencial e portanto os respectivos
desvios de fase são nulos. Repare-se que esta relação é concordante com a mecânica clássica.
Efectivamente uma partı́cula clássica com momento angular l~ e momento linear ~k tem
um parâmetro de impacto b = l/k. Se b R, isto é, se l kR, então a partı́cula não é
afectada pelo potencial, tal como se representa na figura 3.4.
136 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
1
σ(θ) = sin2 δ0 , (3.159a)
k2
4π
σ = 2 sin2 δ0 . (3.159b)
k
Um exemplo deste tipo de situação encontra-se na dispersão protão–neutrão a baixa
energia (E < 5MeV) dado que a força nuclear tem um alcance muito pequeno, da ordem
de 10−15 m. Note-se, porém, que na dispersão protão–protão é necessário considerar, para
qualquer energia incidente, ondas parciais com l > 0 devido ao longo alcance do potencial
de Coulomb.
3.14 Ressonâncias
Um dos fenómenos mais interessantes nos processos de colisão são as ressonâncias. Uma
ressonância traduz-se por um pico, mais ou menos pronunciado, na secção eficaz quando
esta se mede em função da energia. As ressonâncias observam-se tanto em fı́sica atómica,
como em fı́sica nuclear e sub-nuclear e constituem um precioso meio de informação sobre
as propriedades das interacções que intervêm no processo de dispersão.
Existem vários caminhos teóricos para realizar o estudo das ressonâncias. Em todos eles
se admite que uma variação brusca da secção eficaz com a energia na vizinhança de uma
energia de ressonância Er indica a existência de um estado quase-ligado, com energia Er , do
sistema constituı́do por uma partı́cula do feixe incidente e uma partı́cula do alvo. Se o feixe
incidente tem uma energia tal que no referencial do centro de massa a energia disponı́vel
é Er , há uma forte probabilidade de o projéctil vir a constituir um estado metaestável
com o alvo. A vida média τ deste estado é maior do que o tempo gasto pelo projéctil a
percorrer a região do espaço em que há interacção com o alvo. Para energias próximas de
Er a função de onda toma valores anormalmente elevados na região de interacção devido
à elevada probabilidade de presença nessa região. A largura a meia altura, Γ, do pico na
secção eficaz correspondente à ressonância está relacionada com a vida média τ por meio
da relação de incerteza tempo-energia
~
Γ= . (3.160)
τ
Ao fazer o estudo do poço quadrado de potencial unidimensional encontram-se exemplos
de ressonâncias. Estas ressonâncias correspondem a uma probabilidade máxima de trans-
missão de uma onda plana através do poço de potencial.
Capı́tulo 3. Teoria das colisões 137
Γ/2
sin δl (E) = q . (3.161)
(E − Er )2 + (Γ/2)2
No caso mais simples em que não há outras contribuições para o desvio de fase a secção
eficaz total da onda parcial l obtém-se combinando as equações (3.158) e (3.161)
4π (Γ/2)2
σl (E) = (2l + 1) . (3.162)
k2 (E − Er )2 + (Γ/2)2
Esta importante relação é conhecida pelo nome de fórmula de Breit–Wigner e tem uma
aplicação muito frequente em fı́sica nuclear. A secção eficaz dada pela fórmula de Breit–
–Wigner, representada na figura 3.5, apresenta um máximo centrado em Er (com largura Γ
a meia altura), caracterı́stico de um processo de dispersão ressonante. Em geral há outras
contribuições para o desvio de fase δl , provenientes de processos de dispersão onde não há
formação de estados intermédios. Estes processos introduzem modificações na fórmula de
Breit–Wigner que, porém, não vamos aqui considerar.
Consequentemente a solução é
sendo
σ0 = arg Γ(1 + iη) . (3.172)
Ao comparar as equações (3.13) e (3.170) conclui-se que, assimptoticamente, tanto
o termo correspondente ao feixe incidente como o termo correspondente à onda esférica
divergente são distorcidos por factores de fase logarı́tmicos. Esta distorção resulta da força
de Coulomb ter um alcance infinito: por maior que seja a distância que separa as duas cargas
não podemos nunca considerar desprezável a força de Coulomb. Em mecânica clássica o
fenómeno análogo traduz-se pelo facto de a trajectória das partı́culas nunca ser rectilı́nea,
por maior que seja a distância ao alvo.
Recorrendo às equações (3.34) e (3.171) obtém-se a secção eficaz diferencial de Coulomb,
!2 2
Z1 Z2 e2
2 η θ
σC (θ) = |fC (θ)| = θ
= cosec4 . (3.173)
2k sin2 2
2mv 2 2
Esta é a célebre fórmula de Rutherford, obtida inicialmente com a mecânica clássica e veri-
ficada nas conhecidas experiências de colisão de partı́culas α com núcleos pesados que rev-
elaram a existência do núcleo atómico. É uma notável coincidência o facto de que, no caso
particular da dispersão de Coulomb, tanto a mecânica quântica como a mecânica clássica
conduzem exactamente à mesma fórmula para a secção eficaz. Se não fosse esta identi-
ficação entre as previsões clássica e quântica o modelo de Rutherford para o núcleo atómico
provavelmente só teria surgido mais tarde, após o aparecimento da mecânica quãntica em
1925.
Capı́tulo 4
140
Capı́tulo 4. Mecânica quântica relativista 141
Uma delas é através da equação de Klein–Gordan que descreve partı́culas sem spin. A
outra via corresponde à equação de Dirac que descreve partı́culas de spin 1/2 e cujo estudo
ocupa a maior parte deste capı́tulo. Antes de introduzir estas equações é apropriado rever
brevemente os conceitos fundamentais da teoria da relatividade restrita que nos vão ser
úteis.
x1 = x , x2 = y , x3 = z , x4 = ict . (4.6)
Por outras palavras isto significa que adoptamos no espaço-tempo uma métrica formal-
mente euclideana em que uma das coordenadas é um imaginário puro. A escolha das
coordenadas de Minkowski é talvez preferı́vel numa introdução à teoria quântica relativista
dada a analogia que estabelece entre o espaço-tempo relativista e o espaço euclideano.
Porém tem a desvantagem de não conduzir a um formalismo inteiramente covariante em
que as coordenadas são todas reais.
Com toda a generalidade as transformações de Lorentz definem-se pela condição de
manterem invariante a expressão
X 4
2
s = xµ xµ (4.7)
µ=1
1p dt
dτ = −dxµ dxµ = . (4.18)
c γ
dxµ dxµ dt
uµ = = = (γ~v , iγc) (4.19)
dτ dt dτ
uµ uµ = −c2 . (4.20)
E = mγc2 (4.22)
e
p~ = mγ~v (4.23)
E2
pµ pµ = −m2 c2 = p~ 2 − , (4.25)
c2
e portanto
p
E= p2 c2 + m2 c4 . (4.26)
144 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
~r 7→ ~r · , p~ 7→ −i~∇ (4.27)
pµ pµ + m2 c2 Ψ(x) = 0 .
(4.29)
−c2 ~2 ∇2 + m2 c4 − E 2 ψ(~r ) = 0 .
(4.31)
Esta equação determina o espectro de energia de uma partı́cula livre. Se a partı́cula tem
p · ~r /~) e, por substituição na equação (4.31), obtém-se
momento linear p~ é ψ(~r ) = exp(i~
p
E = ± c2 p2 + m2 c4 . (4.32)
Designando p
|E| = + c2 p2 + m2 c4 (4.33)
encontram-se duas soluções da equação de Klein–Gordan para uma partı́cula livre de mo-
mento linear p~
i
Ψ± (x) = e ~ (~p ·~r ∓|E|t) . (4.34)
A solução com o sinal + tem uma energia positiva |E| e a solução com o sinal − tem uma
energia negativa −|E|.
O aparecimento de energias positivas e negativas gera um problema de interpretação
fı́sica. Repare-se que não é possı́vel pôr simplesmente de parte as soluções de energia
negativa pois que as soluções de energia positiva não constituem um conjunto completo.
Capı́tulo 4. Mecânica quântica relativista 145
∂Ψ∗
i~ ∗ ∂Ψ
ρ= Ψ − Ψ . (4.35)
2mc2 ∂t ∂t
Esta escolha justifica-se porque a partir da equação (4.29) e da sua complexa conjugada
é possı́vel deduzir para ρ a equação de continuidade
∂ρ
+ ∇ J~ = 0 (4.36)
∂t
~
J~ = Re (−iψ ∗ ∇ψ) (4.37)
m
Contudo ρ pode ser positivo ou negativo pelo que não é possı́vel interpretá-lo estritamente
como uma densidade de probabilidade de posição. Por exemplo, no caso particular ds ondas
planas Ψ± , dadas pela relação (4.34), tem-se
|E|2
ρ± = ± . (4.38)
mc2
Por outro lado, para que a interpretação proposta para a equação (4.36) seja aceitável,
é necessário provar que tal equação é covariante nas transformações de Lorentz. A demon-
stração da covariância é imediata ao reparar que
~
jµ = (Ψ∗ ∂µ Ψ − Ψ∂µ Ψ∗ ) = J~ , icρ (4.39)
2mi
é manifestamente um quadrivector. Com este quadrivector, chamado quadrivector de den-
sidade de corrente, constrói-se a relação covariante
∂µ jµ = 0 (4.40)
pµ 7→ pµ − QAµ . (4.42)
Com esta transformação gera-se uma interacção entre a partı́cula com momento linear
pµ e o campo electromagnético descrito pelo potencial Aµ . Esta interacção, a que se dá
frequentemente o nome de interacção mı́nima, por ser a mais simples, deverá descrever a
interacção entre fotões e partı́culas com carga eléctrica. Note-se, porém, que é possı́vel
imaginar outros tipos de interacção entre as cargas e o campo electromagnético.
Substituindo a relação (4.42) em (4.29) obtém-se
X4
(pµ − QAµ )2 + m2 c2 Ψ(x) = 0 . (4.43)
µ=1
Esta equação é também uma equação de Klein–Gordan embora para um carga −Q de sinal
contrário. Se Ψ(x) é solução da equação de Klein–Gordan relativa a uma carga Q isso
implica que Ψ∗ (x) é solução da mesma equação relativista a uma carga −Q.
A conjugação complexa da função de onda equivale, no caso presente, a uma operação
que tem o nome de conjugação de carga. Esta operação realiza a transformação das
partı́culas nas respectivas antipartı́culas, que como foi já referido, têm igual massa e spin,
Capı́tulo 4. Mecânica quântica relativista 147
e cargas eléctricas de igual módulo mas de sinal oposto. O facto de Ψ e Ψ∗ serem soluções
da equação de Klein–Gordan para cargas eléctricas de sinais opostos significa que a teoria
prevê a existência de antipartı́culas. Esta propriedade é comum a todas as equações da
mecânica quântica relativista e traduz-se pela existência de uma antipartı́cula para cada
espécie de partı́cula.
Como a conjugação complexa da função de onda (4.30) inverte o sinal da frequência
conclui-se que a função complexa conjugada de uma solução da equação (4.42) com energia
negativa é uma solução da equação (4.45) com energia positiva. Assim, para interpretar uma
solução de energia negativa, há que passar à função complexa conjugada e tomá-la como
uma solução de energia positiva para uma partı́cula com carga eléctrica de sinal contrário.
Em particular a onda plana Ψ− (x), dada pela relação (4.34), descreve uma antipartı́cula
com energia |E| e momento linear −~ p.
No que respeita ao quadrivector densidade de corrente é fácil verificar que a conjugação
de carga transforma jµ em −jµ . Com efeito ao substituir, na equação (4.45), Ψ por Ψ∗ e
Q por −Q obtém-se um quadrivector jµc que satisfaz à relação
Este resultado torna-se compreensı́vel se jµ fôr intepretado como uma densidade de corrente
de carga eléctrica, em unidades de carga eléctrica elementar positiva q e não como uma
densidade de corrente de probabilidade de posição. De acordo com esta interpretação J~
é o vector de fluxo da carga eléctrica e ρ a respectiva densidade de probabilidade, ambas
em unidades de q. É, pois, natural que tanto J~ como ρ mudem de sinal quando se efectua
a operação de conjugação de carga dado que as antipartı́culas têm carga eléctrica de sinal
oposto.
Com esta reinterpretação para jµ , a equação (4.40) passa a traduzir a conservação da
carga eléctrica e não a conservação da probabilidade de posição. Fica deste modo aberta
a possibilidade de haver variação no número de partı́culas, isto é, de se darem fenómenos
de criação e aniquilação de partı́culas, preservando contudo a carga eléctrica total. Na
realidade tais fenómenos são, como se sabe, muito frequentes especialmente para energias
elevadas. Por outro lado repare-se que a existência de estados de energia negativa sugere a
possibilidade de se darem transições espontâneas para estes estados.
Estes factos sugerem que a equação de Klein–Gordan deve analisar-se no quadro de um
formalismo para sistemas de muitas partı́culas, embora ela seja formalmente uma equação
de uma só partı́cula. A resolução desta dificuldade consegue-se por meio da segunda quan-
tificação da equação de Klein–Gordan. Com esta quantificação, que não vamos aqui re-
alizar, obtém-se uma interpretação fı́sica da equação de Klein–Gordan, na qual as soluções
da equação passam a ser operadores de campo.
É fácil verificar que sendo ψ uma função própria do momento angular orbital a equação
(4.49) gera uma equação radial formalmente análoga à equação
2
e2
~ 2
∇ + E+ ψ(~r ) = 0 (4.50)
2m r
H2 = c2 ~p 2 + m2 c4 . (4.55)
Capı́tulo 4. Mecânica quântica relativista 149
Como as componentes de α
~ e β não comutam necessariamente tem-se
2
H2 = c~
α · ~p + βmc2 = c2 (~ α · ~p )2 + mc3 (~ ~ ) · ~p + β 2 m2 c4 .
αβ + βα (4.56)
α · ~p )2 = ~p 2 ,
(~ (4.57a)
α
~ β + βα
~ =0, (4.57b)
2
β =1. (4.57c)
αi2 = β 2 = 1 , (4.58a)
αi β + βαi = 0 , (4.58b)
αi αj + αj αi = 0 , para i 6= j , (4.58c)
sendo α
~ = α1~e x + α2~e y + α3~e z e i, j = 1, 2, 3. Definindo
α4 = β , (4.59)
αµ αν + αν αµ = 2δµν (4.60)
As equações (4.60) definem aquilo a que se chama uma álgebra de Clifford e desem-
penham um papel importante em mecânica quântica relativista. Ao procurar formar novos
operadores por sucessiva multiplicação dos αµ verifica-se que 16 é o número máximo de
elementos independentes na álgebra de Clifford. Consequentemente, se pretendermos rep-
resentar os operadores αµ por meio de matrizes, 4 é a dimensão mı́nima destas matrizes.
Contudo, se nos limitarmos, por razões óbvias de simplicidade, a utilizar matrizes 4 × 4,
existem infinitos conjuntos distintos de matrizes que representam os operadores αµ . Cada
um destes conjuntos constitui uma possı́vel representação para os αµ . Importa salientar que
estas representações são apenas modos de traduzir os operadores αµ por meio de matrizes
e nada têm a ver com as representações de grupos referidas na secção 1.10.
150 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
4.3.1 Spin
Utilizando as relações de comutação (4.60) obtém-se
~ ×α
α ~ = 2 (α2 α3~e x + α3 α1~e y + α1 α2~e z ) . (4.64)
~S × ~S = − 1 ((α3 α1 α1 α2 − α1 α2 α3 α1 ) ~e x + (α1 α2 α2 α3 − α2 α3 α1 α2 ) ~e y +
4
+ (α2 α3 α3 α1 − α3 α1 α2 α3 ) ~e z ) = i~S . (4.66)
é uma matrix 4 × 4 escrita sob a forma de uma matrix 2 × 2 cujos elementos são matrizes
2 × 2 e σx , σy , σz são as matrizes de Pauli dadas na equação (1.61). Em particular tem-se
" # 1 0 0 0
1 σz 0 10 −1 0 0
Sz = = (4.70)
2 0 σz 2 0 0 1 0
0 0 0 −1
1
são os vectores próprios de Sz . χ1 , χ3 são vectores próprios pertencentes ao valor 2 e χ2 , χ4
são vectores próprios pertencentes ao valor próprio − 21 .
O adjunto do spin (4.73) é
h i 4
X
†
ψ = ψ1∗ ψ2∗ ψ3∗ ψ4∗ = ψµ∗ χ†µ (4.75)
µ=1
e portanto a grandeza
4
X
†
ψ ψ= |ψµ |2 (4.76)
µ=1
é definida positiva. Veremos que se interpreta como a densidade de probabilidade de posição
do estado descrito pelo spinor de Dirac ψ.
Em conclusão verifica-se que em mecânica quântica relativista uma partı́cula de spin
1
2 é descrita por spinores com 4 dimensões enquanto em mecânica quântica não-relativista
os spinores têm 2 dimensões (secção 1.4). Vamos procurar interpretar este facto na secção
seguinte.
Figura 4.1: Espectro de energia de uma partı́cula livre com massa própria m.
Consequentemente os spinores que descrevem partı́culas livres com momento linear p~ podem
escrever-se utilizando duas formas alternativas
Ua
U(~
p ) = N c~σ · p~ , (4.82a)
Ua
E + mc2
c~σ · p~
U
2 b
p ) = N E + mc
U(~ . (4.82b)
Ub
c2 p2 Ua = (E 2 − m2 c4 )Ua . (4.84)
A normalização dos spinores de ondas planas ψ, dados pela equação (4.77), pode obter-
-se impondo condições de fronteira periódicas num cubo de aresta L, tal como se procedeu
na secção 2.4.1. Utilizando as equações (4.77), (4.88) e (4.90) obtém-se para os spinores de
Dirac normalizados de uma partı́cula livre
s
mc2 (ν) ~
(ν)
ψ (~r ) = U (~ p )ei k ·~r , ν = 1, 2, 3, 4 (4.91)
|E|V
com o integral estendido ao volume V do cubo. A função de onda completa de uma partı́cula
livre é s
mc2 (ν) i
Ψ(ν) (~r , t) = U (~p )e ~ (~p ·~r −Et) (4.93)
|E|V
sendo E = |E| para ν = 1, 2 e E = −|E| para ν = 3, 4.
4.4.1 Helicidade
Procuremos agora interpretar os spinores U(ν) ( p~ ) no que respeita ao spin. É imediato
verificar que para p~ = 0 os quatro spinores
1 0 0 0
0 1 0 0
U(1) (0) = , U(2) (0) = , U(3) (0) = , U(4) (0) = (4.94)
0 0 1 0
0 0 0 1
Figura 4.2: Um electrão de energia negativa pode absorver um fotão de energia superior a
2me c2 e passar a um estado de energia positiva, provocando a aparecimento de uma lacuna
no vácuo e de um electrão de energia positiva.
ou
γ → e− (E > 0) + e+ (E > 0) . (4.99)
A este processo dá-se o nome de produção de um par electrão–positrão. Trata-se de um
fenómeno frequente quando raios γ de elevada energia penetram na matéria. A produção de
pares dá-se no campo eléctrico de um núcleo atómico que adquire parte do momento linear
do fotão. Com efeito repare-se que para garantir a conservação da energia e do momento
linear a produção de um par não pode dar-se no vazio.
O processo inverso de (4.98) é
e− (E > 0) → e− (E < 0) + 2γ , (4.100)
ou
e− (E > 0) + e+ (E > 0) → 2γ . (4.101)
Tal como no caso anterior, por exigência de conservação da energia e do momento linear
há produção de dois fotões em lugar de um fotão.
O facto de se ter recorrido de modo algo artificioso ao princı́pio de exclusão de Pauli
para compatibilizar a equação de Dirac com os dados de observação experimental revela
que não é possı́vel interpretar tal equação apenas como uma equação de uma só partı́cula.
Por outro lado há que procurar incluir no formalismo da teoria o declı́nio β no qual há
produção de electrões e positrões isolados, isto é, sem ser aos pares.
Para exemplificar consideremos o declı́nio β + em que, devido à interacção nuclear fraca,
p → n + e+ + ν . (4.102)
Embora este declı́nio não se dê num protão livre, porque viola a conservação de energia,
ele observa-se em protões ligados num núcleo atómico. Se interpretamos o positrão emitido
como uma lacuna no “mar” de electrões de energia negativa permanece a questão de saber
onde está o electrão que anteriormente ocupava essa lacuna. É, pois, evidente que o declı́nio
(4.102) implica a não conservação do número de electrões.
A busca de uma solução para estes problemas revela ser necessário proceder à segunda
quantificação da equação de Dirac. Com efeito, a quantificação do campo de Dirac, feita de
modo essencialmente análogo à quantificação do campo electromagnético, leva ao apareci-
mento de operadores de criação e aniquilação de electrões e positrões com os quais se torna
possı́vel uma interpretação fı́sica correcta dos declı́nios β.
~d
p4 = − , (4.107)
c dt
d
que resulta de proceder à substituição E 7→ i~ dt .
Sendo Bµ um quadrivector arbitrário utiliza-se com frequência em mecânica quântica
relativista a notação abreviada
X
γµ Bµ = γµ Bµ = B
. (4.108)
µ
p − imc)|ψi = 0 .
( (4.109)
γ5 = γ1 γ2 γ3 γ4 (4.117)
Γ0 7−→ 1
Γ1 . . . Γ4 7−→ γµ
Γ5 . . . Γ10 7−→ iγµ γν (4.118)
Γ11 . . . Γ14 7−→ iγµ γν γλ = iγη γ5
Γ15 7−→ γ5 .
Na segunda coluna os ı́ndices são distintos sendo, por exemplo, µ < ν no caso de γµ γν , para
efeitos de contagem de produtos independentes. O factor i introduzido em alguns casos
serve apenas para manter os operadores Γn hermı́ticos.
Os Γµ satisfazem às três propriedades seguintes:
Γn Γm = anm Γl . (4.119)
Capı́tulo 4. Mecânica quântica relativista 161
3. Finalmente,
Γn Γm = ±Γm Γn . (4.121)
Para cada Γn há oito operadores Γm que comutam e oito operadores Γl que anticomutam
com Γn . Os Γn (n = 1, 2, . . . , 16) satisfazem ainda a quatro importantes teoremas.
Teorema 4.3 (lema de Schur). Se uma matriz M comuta com γµ para todos os valores
de µ, então M é um múltiplo da matriz identidade.
Teorema 4.4 (teorema de Pauli). Dados dois conjuntos de matrizes γµ e γµ0 que satis-
fazem à equação (4.114), existe uma matriz S, não singular, tal que γµ0 = Sγµ S−1 .
A demonstração destes teoremas, que não vamos aqui apresentar, faz-se essencialmente com
base nas propriedades fundamentais (4.119)–(4.121).
O teorema de Pauli permite demonstrar que a forma da equação de Dirac é indepedente
da representação matricial que se utiliza para os γµ . Admitamos que a equação de Dirac
está escrita sob a forma mc 0
γ 0 ∂µ + ψ =0 (4.122)
~
onde γµ0 são quatro matrizes que constituem uma determinada representação matricial para
os operadores definidos pelas equações (4.114). Será que a equação de Dirac mantém a
mesma forma quando passarmos a utilizar outras matrizes γµ para representar os mesmos
operadores? Devido ao teorema de Pauli existe uma matriz S não singular tal que
Para anular o sinal − na quarta componente de ∂µ∗ vamos multiplicar a equação (4.128) à
direita por γ4 e utilizar as relações (4.114). Obtém-se assim
mc †
−∂µ ψ † γ4 γµ + ψ γ4 = 0 , (4.130)
~
equação que vamos escrever sob a forma
mc
∂µ ψγµ − ψ=0, (4.131)
~
onde
ψ = ψ † γ4 (4.132)
se define como o spinor adjunto de ψ.
Multiplicando a equação (4.110a) à esquerda por ψ, a equação (4.131) à direita por ψ
e somando, obtém-se
jµ = icψγµ ψ . (4.135)
Capı́tulo 4. Mecânica quântica relativista 163
Finalmente, por comparação com a equação (4.39) conclui-se que, na equação de Dirac, a
densidade de probabilidade de posição é dada por
ρ = ψ†ψ . (4.137)
Esta é manifestamente uma grandeza definida positiva em contraste com a situação encon-
trada no caso da equação de Klein–Gordan.
De acordo com a interpretação fı́sica atribuida a jµ , o vector ψ † c~
α ψ é a densidade de
corrente de probabilidade ou vector de fluxo. Consequentemente c α ~ deverá identificar-se
com o operador de velocidade da partı́cula,
~v = c~
α . (4.138)
Apêndice A
164
Apêndice A. Perturbações dependentes do tempo. Método variacional 165
U−1 −1 −1
I (t, 0)|ψI (t, 0)i = UI (t, 0)U0 (t, 0)|ψ(t)i = |ψ(0)i . (A.6)
dUI
i~ = VI UI , (A.8)
dt
onde
VI = U−1
0 VU0 (A.9)
é a perturbação na descrição intermédia. Conforme se pretendia obteve-se uma equação
cujo segundo membro não contém H0 explitamente. A equação (A.6) e a condição inicial
UI (0, 0) = 1 podem condensar-se na equação integral,
Zt
1
UI (t, 0) = 1 + VI (t0 )UI (t0 , 0)dt0 (A.10)
i~
0
semelhante à equação
Zt
i
U(t, t0 ) = 1 − H(t0 )U(t0 , t0 )dt0 (A.11)
~
t0
para o operador de evolução U(t, t0 ) entre os instantes t e t0 [9]. Porém, a equação (A.10) é
preferı́vel como ponto de partida para efectuar aproximações dado que UI varia no tempo,
mais lentamente do que U, conforme se conclui da comparação das equações (A.2) e (A.8).
Ao substituir o primeiro termo do segundo membro da equação (A.10) na função inte-
granda, obtém-se
Zt
1
UI (t, 0) ' 1 + VI (t0 , 0)dt0 . (A.12)
i~
0
Esta aproximação piora quando t aumenta pois corresponde a admitir que UI (t, 0) ' 1. A
iteração do processo que conduziu à equação (A.12) produz o desenvolvimento
∞
X
UI (t, 0) = 1 + UI (n) (t, 0) (A.13a)
n=1
1
Na descrição de Schrödinger a evolução do sistema é determinada pelos vectores de estado, quando
os operadores não dependem explicitamente do tempo. Na descrição de Heisenberg, os vectores de estado
não dependem do tempo, ficando essa dependência contida explicitamente nos operadores. Ver curso de
Mecânica Quântica I [9].
166 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
onde
n Z t Zt1 tZn−1
1
UI (n) (t, 0) = dt1 dt2 · · · dtn VI (t1 ) · · · VI (tn ) (A.13b)
i~
0 0 0
e 0 < tn < · · · < t1 < t. Esta série tem o nome de série de Dyson. O ı́ndice n caracteriza a
ordem de aproximação do cálculo de UI (t, 0). Importa salientar que na função integranda os
hamiltonianos VI (t1 )VI (t2 ) · · · VI (tn ) estão ordenados por valores crescentes do tempo. Esta
ordenação resulta da natureza causal da evolução no tempo. No caso de ser [VI (t), VI (t0 )] =
0, para t 6= t0 , a ordem dos factores na equação (A.13b) torna-se arbitrária, demonstrando-se
que
Zt Zt Zt
∞ n
X 1 1 1
UI (t, 0) = 1 + dt1 · · · dtn VI (t1 ) · · · VI (tn ) = exp VI (t0 )dt0 .
i~ n! i~
n=1 0 0 0
(A.14)
Note-se porém que, geralmente, os hamiltonianos relativos a tempos diferentes não comu-
tam, de modo que é necessário utilizar a equação (A.13).
Na prática é extremamente difı́cil calcular mais do que o primeiro e o segundo termos
de desenvolvimento (A.13). Por vezes este desenvolvimento converge muito lentamente
ou diverge. Apesar destas dificuldades a série de Dyson tem sido utilizada com grande
sucesso em electrodinâmica quântica, mecânica estatı́stica quântica e em outros domı́nios
importantes da fı́sica.
Como seria de esperar a soma das probabilidades Pα0 α (t), para todos os estados |α0 i, é igual
a um: X X
Pα0 α (t) = hα|U† |α0 ihα0 |U|αi = hα|αi = 1 . (A.18)
α0 α0
i 0 Zt
e− ~ E t 0
hα0 |U(t, 0)|αi = eiωt Vα0 α (t0 )dt0 . (A.20)
i~
0
Nesta equação
Vα0 α (t) = hα0 |V(t)|αi (A.21)
e
E0 − E
ω= (A.22)
~
é a frequência angular correspondente à diferença de energia entre os estados |αi e |α0 i, por
vezes designada frequência angular de Bohr. Finalmente, substituindo a equação (A.20) e
(A.16) obtém-se
t 2
Z
1
iωt0 0 0
Pα0 α (t) = 2 e Vα0 α (t )dt . (A.23)
~
0
Como foi já referido esta aproximação deverá piorar à medida que t aumenta. Em especial,
note-se que, na primeira aproximação, a probabilidade Pα0 α (t) é nula se o elemento de
matriz Vα0 α (t) se anular para qualquer t.
O termo com n = 2 na equação (A.13a) corresponde à segunda ordem de aproximação.
Recorrendo às equações (A.9) e (A.13b) obtém-se
2 X Z t Zt1
0 1 i 0 i 00 (t −t ) i
hα |UI(2) (t, 0)|αi = dt1 dt2 e ~ E t1 Vα0 α00 (t1 ) e− ~ E 1 2
Vα00 α (t2 )e− ~ Et2 .
i~
α00 0 0
(A.24)
Na segunda ordem de aproximação intervêm todos os estados |α00 i através dos elementos de
matriz Vα0 α00 e Vα00 α . Este importante facto interpreta-se como significando que os estados
|α00 i intervêm na transição de |αi para |α0 i como estados intermédios virtuais. Repare-se
em particular que a condição Vα0 α (t) ≡ 0 anula, conforme já se referiu, a probabilidade de
transição em primeira ordem de aproximação embora não necessariamente em segunda or-
dem de aproximação. Na prática recorre-se raramente à segunda ordem devido à dificuldade
em calcular o segundo membro da equação (A.24).
168 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
1
∆t · ∆E ≥ ~ . (A.28)
2
Nesse caso, porém, ∆t é um tempo caracterı́stico da evolução do sistema, enquanto que na
equação (A.27) t é o intervalo de tempo durante o qual actua a perturbação V.
À medida que o tempo passa, diminui a largura da banda de energias correspondentes
às transições mais prováveis e aumenta o valor do máximo de f (t, ω), em ω = 0. Com
efeito, repare-se que f (t, 0) = t2 . No limite t → ∞ a função f (t, ω) é dada por
A probabilidade de transição entre dois estados |αi e |α0 i, degenerados, com a mesma
energia E 0 = E, é uma função crescente do tempo
t2 |Vα0 α |2
Pα0 α (t) = . (A.30)
~2
O facto de, eventualmente, esta probabilidade ultrapassar o valor 1 significa que a primeira
ordem de aproximação se torna inadequada para valores elevados de t. Na prática admite-
-se que a primeira ordem de aproximação é razoável desde que a probabilidade Pα0 α (t) seja
muito menor do que 1. Isso implica que
~
t . (A.31)
Vα0 α
Apêndice A. Perturbações dependentes do tempo. Método variacional 169
f (t = 1, ω) f (t = 2, ω) f (t = 3, ω) f (t = 4, ω) lim f (t, ω)
t→∞
Figura A.1: Representação gráfica da função f (t, ω), para −20 ≤ ω ≤ 20 para diversos
valores de t: (da esquerda para a direita, no topo) t = 1, 2, 3, 4 e t → ∞. O gráfico de
superfı́cie representa f (t, ω) para −10 ≤ ω ≤ 10 e 0 ≤ t ≤ 10. O eixo de simetria do gráfico,
ω = 0, cresce com t2 . Gráficos obtidos em computador.
A probabilidade de transição entre dois estados |αi e |α0 i com energias distintas é uma
função periódica do tempo com perı́odo de 2π/ω. O valor médio desta probabilidade de
transição é
2π/ω
Z
ω 2 2
Pαα0 = 2
|Vα0 α | f (t, ω)dt = 0 2
|Vα0 α |2 . (A.32)
2π~ (E − E)
0
Temos admitido que os observáveis α̂ têm espectro discreto. Porém, interessa consid-
erar especificamente situações em que a energia E 0 do estado final |α0 i pertence à parte
contı́nua do espectro de H0 . Neste caso o ı́ndice α0 é contı́nuo e Pα0 α (t) é uma densidade
de probabilidade. De acordo com o 4o postulado, não se pode medir a probabilidade de
transição para um estado |α0 i mas sim para um conjunto de estados definido por um deter-
minado domı́nio de variação do ı́ndice α0 . A probabilidade de transição para um conjunto
de estados correspondentes a um domı́nio D de α0 é
Z
2
PDα (t) = hα0 |U(t, 0)|αi dα0 .
(A.33)
D
onde
dΩ = sin θdθdφ (A.36)
é o elemento de ângulo sólido em coordenadas esféricas, no espaço dos ~k. Da equação (A.35)
conclui-se que
dk km m√
ρ(E) = k 2 = 2 = 3 2mE . (A.37)
dE ~ ~
Repare-se que, neste exemplo, a densidade de estados depende apenas da energia.
Temos agora todos os elementos necessários para calcular a probabilidade PDα em
primeira ordem de aproximação. Utilizando as equações (A.24), (A.33) e (A.34) obtém-se
∆β 0
Z
PDα (t) = 2 ρ(β 0 , E 0 )|Vα0 α |2 f (t, ω)dE 0 . (A.38)
~
D
2πt
PDα (t) = |Vα0 α |2 ∆β 0 ρ(β 0 , E) , E∈D (A.39a)
~
Este resultado reflecte de novo o facto de que uma perturbação constante só pode induzir
transições entre estados cujas energias não diferem, aproximadamente, por mais de 2π~/t.
A probabilidade PDα (t) dada pela equação (A.39a) cresce exponencialmente ao tempo.
Consequentemente a probabilidade de transição por unidade de tempo e por unidade de
intervalo na variável β é
2π 0
Γ= |hα |V|αi|2 ρ(β 0 , E) . (A.40)
~
Este importante resultado é conhecido pelo nome de regra de ouro de Fermi em virtude
da sua frequente aplicação. Na relação (A.40), |αi e |α0 i são, respectivamente, os estados
inicial e final do sistema, ambos com a mesma energia E, e ρ(β 0 , E) é a densidade de estados
para o estado final |α0 i.
Apêndice A. Perturbações dependentes do tempo. Método variacional 171
ω = ω0 , (A.43a)
e
ω = −ω0 . (A.43b)
Estes máximos estão bem separados em energia desde que t 2π/ω0 .
Quando a frequência angular da perturbação coincide com o módulo da frequência
angular associada à diferença de energia entre os estados inicial e final do sistema, produz-
-se um fenómeno de ressonância que se traduz por um forte aumento da probabilidade
Pα0 α (t). As energias dos estados finais nas condições de ressonância são
Um vector ket arbitrário |φi, pertencente ao espaço dos vectores de estado do sistema, tem
por desenvolvimento
X∞
|φi = ci |ψi i . (A.47)
i=0
hφ|H|φi
E[φ] = ≥ E0 . (A.49)
hφ|φi
Nesta equação E[φ] é um funcional no espaço dos vectores de estado do sistema. Repare-se
que a igualdade na equação (A.49) obtém-se apenas quando todos os coeficientes ci são
nulos excepto c0 . Nesse caso |φi é o vector próprio de H pertencente ao valor próprio E0 .
De modo mais geral demonstra-se que o funcional E[φ], definido pela equação (A.49), é
estacionário na vizinhança dos valores próprios de H. O acréscimo δE[φ] quando |φi passa
a |φi + |δφi satisfaz à relação
δE[φ] = 0 , (A.52)
é satisfeita para
hψ|δφi + hδφ|ψi = 0 , (A.53)
onde
|ψi = (H − E[φ])|φi . (A.54)
Apêndice A. Perturbações dependentes do tempo. Método variacional 173
Como a relação (A.53) é satisfeita para todo o ket infinitesimal |δφi, |ψi é o vector nulo e
portanto
H|φi = E[φ]|φi . (A.55)
Em conclusão, o funcional E[φ] é estacionário apenas para os vectores próprios de H e
os valores estacionários de E[φ] são valores próprios de H. Este teorema tem o nome de
princı́pio variacional de Rayleigh–Ritz.
O princı́pio de Rayleigh–Ritz serve de base para a determinação aproximada dos valores
próprios de H. Para tal há que começar por escolher um conjunto de vectores |φ(a)i,
dependentes de um certo número de parâmetros que abreviamos por a. Os vectores |φ(a)i,
chamados vectores de ensaio, devem ser escolhidos segundo critérios fı́sicos de modo a
simularem, tanto quanto possı́vel, os vectores próprios de H que se pretendem conhecer.
Após obter o funcional E[φ(a)], para os vectores de ensaio, é necessário determinar os
extremos de E[φ(a)] no espaço dos parâmetros a. De acordo com o princı́pio variacional,
estes extremos constituem valores aproximados para alguns dos valores próprios de H.
Em certos casos o conjunto dos vectores de ensaio |φ(a)i constitui um sub-espaço vec-
torial no espaço dos vectores de estado do sistema. Nesta situação o método variacional
equivale a resolver a equação aos valores próprios de H apenas no sub-espaço vectorial da
funções de ensaio. Este facto pode facilitar apreciavelmente a determinação aproximada do
espectro de H.
Apêndice B
Problemas
1
1. Suponha que o estado de spin de uma partı́cula de spin 2 é, numa representação que
diagonaliza S̃2 e Sz , dado pelo vector de componentes
i
!
3
√ .
2 2
3
174
Apêndice B. Problemas 175
4. Mostre que, sendo A hermı́tico, o valor espectável hψ|A2 |ψi não pode ser negativo,
hψ|A2 |ψi ≥ 0 ,
P|~r i = | − ~r i .
R† |~r i = |R−1 ~r i .
7. Considere o operador ~σ = 2~s onde ~s é o operador vectorial de spin para uma partı́cula
de spin 21 . Demonstre as seguintes relações, justificando
(a) σi σj + σj σi = 0 , i 6= j ≡ x, y, z.
(b) σx σy σz = i.
(c) Sendo A ~ eB
~ operadores vectoriais que comutam com ~σ mas não necessariamente
entre si,
~
~σ · A ~ =A
~σ · B ~ ·B
~ + i~σ · A~ ×B
~ .
(a) Quais os valores possı́veis do momento angular total dos electrões? Note que
ambos os electrões se encontram em estados s.
(b) Represente os estados de spin dos electrões por |+ii , |−ii onde i = 1, 2 e
1
(Sz )i |±ii = ± |±ii .
2
Utilizando uma tabela escreva os estados próprios do spin total dos dois electrões
em função dos estados |±ii , para os valores possı́veis do spin total.
176 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
(c) Qual a simetria, no que respeita à troca de partı́culas, dos estados próprios do
spin total?
(d) Qual o valor do spin total dos electrões no estado fundamental da molécula de
hidrogénio?
det ei M = ei Tr M = 1 .
que a projecção do spin segundo uma direcção e sentido definidos pelo versor ~n com
coordenadas polares θ = π4 , ϕ = π4 seja m = 12 ? Recorra a uma tabela de matrizes D.
12. Considere um vector próprio de L̃2 e Lz , |lmi = |20i. Admita que este estado é rodado
de um ângulo β em torno do eixo dos y. Determine a probabilidade de o novo estado
ter m = 0, m = ±1 e m = ±2.
m00
Apêndice B. Problemas 177
16. Verifique que o operador de troca de partı́culas P12 no espaço de spin de duas
partı́culas de spin 12 se pode escrever sob a forma
1
P12 = + 2~s 1 · ~s 2
2
onde ~s i é o operador vectorial de spin da partı́cula i.
17. Considere um electrão num campo magnético exterior uniforme B ~ . Demonstre que
~ é independente do
o valor médio da componente da projecção do spin ~s segundo B
tempo.
18. Considere um sistema formado por duas partı́culas de spin 21 . O observador A mede as
componentes do spin de uma das partı́culas (s1x , s1y , s1z ) enquanto que o observador B
mede as componentes do spin da outra partı́cula. Suponha que o sistema se encontra
num estado singleto do spin total.
(a) Qual a probabilidade de o observador A obter o valor s1z = ~2 quando o obser-
vador B não efectua medições? Resolva o mesmo problema para s1x = ~2 .
(b) O observador B determina que o spin da partı́cula 2 é s2z = ~2 , isto é, que a
partı́cula 2 se encontra num estado próprio de sz pertencente ao valor próprio ~2 .
Que podemos nós então concluir sobre o resultado das medições efectuadas por
A se:
i. A mede s1z ;
ii. A mede s1x ?
Justifique as respostas.
19. Suponha que um electrão se encontra num potencial central num estado de energia
bem determinada cuja função de onda é função própria simultaneamente dos oper-
adores H (energia), L̃2 , ~J 2 , Jz pertencentes aos valores próprios En , l(l + 1), j(j + 1)
e m, respectivamente (L̃ é o operador de momento angular orbital e ~J é o operador
de momento angular total).
(a) Determine os valores próprios de Lz e sz 1 que pode obter numa medição si-
multânea de Lz e sz . Considere que, fixado l, j pode ter vários valores.
(b) Determine as probabilidades de obter os valores próprios referidos em (19a) numa
medição simultânea de lz e sz para os vários valores de j, fixado l.
(c) Determine os valores médios de Lz e de sz nos estados |nljmi para os vários
valores de j e m, fixado l.
20. Considere uma partı́cula cujos operadores vectoriais de posição, momento linear e
momento angular orbital são ~r , ~p , L̃, respectivamente. Demonstre as relações
[xi , lj ] = iijk xk , [pi , lj ] = iijk pk ,
onde xi , pi , Li são as componentes cartesianas dos operadores vectoriais r̃, p̃, L̃, uti-
lizando as leis de comutação entre as componentes de ~r e ~p. (Note que l̃ está expresso
em unidades de ~.)
1
~s é o operador vectorial de spin do electrão.
178 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
Djm0 m (R) = (j1 m1 j2 m2 |jm)(j1 m01 j2 m02 |jm0 )Djm1 0 m (R)Djm2 0 m (R) .
X
1 1 2 2
m1 m2
m01 ,m02
~
Sugestão: aplique o operador de rotação R = e−iθ~n · J ao vector |jmi considerando que
~J = ~J 1 + ~J 2 .
23. Considere o operador vectorial de posição ~r = x~ex + y~ey + z~ez e represente por r1µ = rµ
(µ = −1, 0, 1) as componentes esféricas desse operador vectorial.
(c) Um tensor cartesiano de segunda ordem Tij pode decompor-se na soma de três
tensores irredutı́veis de ordem 0, 1 e 2. No caso particular em que
Tij = Ui Vj ,
~,V
onde U ~ são vectores, as componentes dos referidos 3 tensores irredutı́veis são
dadas por
1~ ~ 1
k=0 : T00 = − U · V = (U+1 U−1 + U−1 V+1 − U0 V0 )
3 3
1 ~ ~
k=1 : T1q = √ U ×V
i 2 q
T = U±1 V±1
2±2
1
k=2 : T2±1 = √ (U±1 V0 + U0 V±1 )
2
1
T20 = √ (U+1 V−1 + 2U0 V0 + U−1 V+1 )
6
~ ,V
Nestas equações Uq , Vq são as componentes esféricas de U ~ . Considere o caso
~ ~ 2 q
em que U = V = ~r e demonstre que T2q ∝ r Y2 (θ, ϕ).
28. Demonstre que sendo Uk1 q1 e Vk2 q2 tensores esféricos de ordem k1 e k2 , respectiva-
mente, X
Tkq = (k1 q1 k2 q2 |kq)Uk1 q1 Vk2 q2
q1 ,q2
29. Mostre que os números 1, −1, i, −i com a operação de multiplicação formam um grupo.
Construa a tabela de multiplicação do grupo.
31. Considere uma representação unitária A(ga ) de um grupo G num espaço E. Mostre
que a invariância de um sub-espaço E1 de E para o grupo G implica necessariamente
a invariância do complemento ortogonal, E2 , de E1 em E.
32. Demonstre que os geradores de uma representação unitária de um grupo de Lie são
hermı́ticos.
34. (a) Mostre que a forma geral de um elemento do grupo U2 das matrizes unitárias
2 × 2 é !
α β
U = eiγ
−β ∗ α∗
(c) Com base nos resultados das alı́neas (34a) e (34b) demonstre que os elementos
de SU2 se podem escrever sob a forma
~
U = e−iθ~n · I
onde θ é real, ~n é um vector unitário e
! ! !
1 0 1 1 0 −i 1 1 0
Ix = , Iy = , Iz = .
2 1 0 2 i 0 2 0 −1
(c) Prove que A e S são operadores de projecção ortogonais (isto é, prove que são
hermı́ticos, têm valores próprios 0 e 1 e o seu produto é igual a zero).
(d) Mostre que apenas para n = 2 se tem A + S = 1.
H = E~s 1 · ~s 2 .
~ 0 tem a direcção e sentido do eixo dos zz. Utilizando a teoria das perturbações
em que E
dependentes do tempo calcule a probabilidade de o átomo se encontrar
Nota: não procure efectuar os integrais radiais mas efectue as outras integrações.
52. Deduza a lei da radiação de Planck a partir das probabilidades de absorção e emissão
de fotões ~k , α na unidade de tempo.
Apêndice B. Problemas 185
53. (a) Na aproximação dipolar eléctrica diga e justifique quais as transições permitidas
ou proibidas no átomo de hidrogénio em primeira ordem de aproximação
2s → 1s 2p → 1s 3d → 2s 3d → 2p 4f → 3d
~ (~r , t) = √1
X
A c~k α (t)~u ~k α (~r ) + c∗~k α (t)~u ∗~k α (~r )
V ~
k ,α
onde
2πni
~ ~
~u ~k α = ~ α ei k · k ,
, com i = x, y, z e ni = ±1, ±2, . . ..
ki =
L
Demonstre que a energia do campo é dada por
Z
1 ~ 2 d~r = 2
X
H= ~2+B
0 µ0 E k 2 c∗~k α (t)c~k α (t) .
2µ0 µ0
V ~k ,α
57. Demonstre que as matrizes αi e β são hermı́ticas, com valores próprios ±1, de di-
mensão par e com traço nulo.
~ · ~p + βm mostre que
59. (a) Sendo H = α
onde !
~ = ~σ 0
Σ .
0 ~σ
~ . Que
(b) Com base nos resultados obtidos mostre que [H, ~J ] = 0 onde ~J = l̃ + 12 Σ
conclusões tira deste resultado?
p = γ µ pµ mostre que
60. (a) Sendo pp = p2 .
(b) Demonstre que
p +m
−p +m
Λ+ =
, Λ− =
2m 2m
são operadores de projecção sobre os estados de energia positiva e negativa,
respectivamente.
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186
Apêndice B. Problemas 187
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188 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
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Apêndice B. Problemas 189
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K. For any section Entitled “Acknowledgements” or “Dedications”, Preserve the Title of
the section, and preserve in the section all the substance and tone of each of the con-
tributor acknowledgements and/or dedications given therein.
190 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
L. Preserve all the Invariant Sections of the Document, unaltered in their text and in their
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M. Delete any section Entitled “Endorsements”. Such a section may not be included in the
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Apêndice B. Problemas 191
Entitled “Acknowledgements”, and any sections Entitled “Dedications”. You must delete
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192 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
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Índice
193
194 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos
idempotência, 64 observável
interacção hiperfina, 29 simétrico, ver observável, simétrico
interacção mı́nima, 146 operador
irredutı́vel S, 127, ver matriz S
representação, 17 T, 123, ver matriz T, ver operador T,
tensor, 21 equação de Lippmann–Schwinger
isospin, 44 adjunto, 61
antiunitário, 129
largura a meia altura, 136 de 1-partı́cula, 67
laser, 102 de 2-partı́culas, 67
lei de radiação de Planck, 101 de abaixamento, 6
lei de Stefan–Boltzmann, 101 de aniquilação, 84, 87, 93
leptões, 49 de antisimetrização, 64
limite de Euler, 125 de Casimir, 39
método das funções de Green, ver função de conjugação complexa, 128
de Green de criação, 84, 93
método das ondas parciais, 135 de Green, 120
método dos multiplicadores de Lagrange, de inversão no tempo, 129
ver multiplicadores de Lagrange de levantamento, 6
método dos resı́duos, 121 de momento angular (vectorial), 150
magnetão de Møller, 125
de Bohr, 10 de número, 84
nuclear, 11 de número de estado, 87
mar de Fermi, ver mar, Fermi de número de partı́culas, 84, 87
massa própria, 143 de permuta, 60
materialização de partı́culas, 109 de projecção, 64
matriz de simetria, 40
elemento reduzido, 37 de simetrização, 64
matriz S, 127 de troca, ver de permuta, operador
matriz T, ver matriz de transição resolvente, 121
na camada da energia, 123 operador de número, 91
matriz de transição, 123 operadores
matrizes de Pauli, 8 de Green, ver operadores de Green,
mesões, ver mesões, hadrões equações de Lippmann–Schwinger
momento quadripolar, 179 EL, ver multipolares eléctricos, oper-
multipleto, 6, 41 adores
estados análogos, 46 ML, ver multipolares magnéticos, op-
singleto, 16 eradores
tripleto, 16 multipolares eléctricos, 105
multiplicadores de Lagrange, 80 multipolares magnéticos, 105
tipo eléctrico, 105
número bariónico, 50 tipo magnético, 105
196 Mecânica Quântica II — Filipe Duarte Santos