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EDIMAR RUSSI
BLUMENAU
2014
EDIMAR RUSSI
BLUMENAU
2014
PATROCÍNIO ESPORTIVO EM CLUBES EMERGENTES COMO ESTRATÉGIA
Por
EDIMAR RUSSI
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Presidente: Prof. Edson Roberto Scharf, Dr. - Orientador, FURB
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Membro: Profa. Marianne Hoeltgebaum, Dra. – FURB
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Membro: Prof. Luciano Castro de Carvalho, Dr. – FURB
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Membro Externo: Prof. Rudimar Antunes da Rocha, Dr. – UFSC
A realização deste sonho, que exige tanto esforço e tanta dedicação, somente foi
possível em virtude da participação, compreensão e colaboração de pessoas especiais, que
graças a Deus, tive o prazer de conhecer ao longo de minha vida. Mesmo correndo o risco de
não mencionar todos que merecem o crédito por esta conquista, menciono aqui alguns que
direta ou indiretamente fizeram parte desta caminhada e que terão para sempre a minha eterna
gratidão.
Primeiramente agradeço a pessoa que instigou, estimulou e possibilitou a realização
desta pesquisa, meu orientador, Prof. Dr. Edson Roberto Scharf. Profundo amante dos
esportes e assim como eu flamenguista “de carteirinha”, teve papel fundamental para o
alcance do sucesso neste trabalho, sempre acreditando e incentivando a execução desta
pesquisa.
Minha mãe, Sinova Hadlich, uma verdadeira guerreira que nunca mediu esforços
para me ajudar, fazendo o possível e o impossível para possibilitar as melhores condições de
vida a mim e aos meus irmãos. Jamais conseguirei retribuir todo o amor, carinho e dedicação
que me proporcionou.
Meu pai, Elimar Russi, um grande parceiro, sobretudo no inicio de meus estudos,
sempre estando ao meu lado no que fosse necessário.
Meus irmãos, Elimar Russi Filho e Eliomar Russi, carinhosamente chamados de
Nano e Mazi. Meus eternos exemplos, desde cedo me ensinaram os valores corretos da vida e
sempre estiveram ao meu lado. Agradeço também a minhas irmãs Andréia Hadlich e Vivian
Russi, que da mesma forma sempre me incentivaram e fizeram acreditar que este sonho seria
possível.
Agradeço a meu tio Ivo Hadlich, nosso eterno mestre. Um homem íntegro, honesto,
perspicaz. Um verdadeiro sábio. Um legítimo líder, respeitado por toda sociedade, sempre foi
o grande exemplo de nossa família.
Da mesma forma, agradeço a todos os demais membros da nossa família, que sempre
de uma forma ou de outra, auxiliariam em algum momento para que este sonho se
concretizasse.
Ao grupo Rovitex, especialmente ao diretor Vitor Luiz Rambo Júnior, que entendeu
o meu desejo e possibilitou que eu pudesse conciliar os estudos a rotina de trabalho. Estendo
este agradecimento aos companheiros de jornada, principalmente os compradores Silvio
Gesser Júnior e Silvio Gonçalves Júnior, que supriram com maestria os momentos que
precisei estar ausente. Agradeço também o gerente Ademir Marangoni, um verdadeiro
exemplo de profissionalismo e companheirismo, sempre foi para mim mais do que um chefe
ou amigo, mas sim um segundo pai.
Aos companheiros de futebol, Jean Krueger, Jeferson Fernando A. Rosa, Radamés
Luiz Maschio, Luiz Paulo Purcino, Rogério da Silva, Marcos Ricardo Varela e demais
membros da patota Galera da Bola, a qual me orgulho ser um dos fundadores e um dos
responsáveis por mantê-la ativa por estes mais de 10 anos.
A todos os meus professores, desde o primário até a conclusão dos créditos no
mestrado, que sempre serviram de exemplo e me estimularam para que eu pudesse
desenvolver este gosto pelo aprendizado e pela transmissão de conhecimento.
Aos meus colegas de aula, tanto no E.E.B. Dr. Max Tavares D’ Amaral, como no
E.E.B. Prof. João Widemann, como também da FURB, sempre acreditaram no meu potencial
e fizeram com que as tarefas mais árduas, se tornassem prazerosas e leves.
A Universidade Regional de Blumenau, na qual cursei toda a graduação no curso de
Administração – Gestão de Empresas, e que me possibilitou por meio de uma bolsa de
estudos de reegresso, a participação no programa de mestrado.
A Cia. Hering, principalmente aos diretores entrevistados Carlos Tavares D´ Amaral
e Ronaldo Loos, pela atenção com que me atenderam, bem como a Terezinha F. J. Leite a
qual possibilitou perspicazmente a marcação das entrevistas.
Agradeço também ao Clube Atlético Metropolitano, principalmente a seu presidente
Marcelo Georg, um abnegado guerreiro em prol do esporte blumenauense, e que nos atendeu
prontamente. Agradeço também ao meu amigo, o ex-zagueiro do clube, Marcus Vinicius
Moser Loos, popularmente conhecido como Pipo, que mesmo de longe, auxiliou na realização
deste trabalho.
E a todos que, de alguma forma, me apoiaram durante mais esta etapa, muito
obrigado.
RESUMO
A cada ano, aumenta o número de empresas que vislumbram o patrocínio esportivo como
importante estratégia de Marketing. Apresentado como uma alternativa de negócio, o
patrocínio esportivo, além de desempenhar o papel financeiro de auxiliar na sobrevivência de
um clube de futebol, é uma oportunidade de divulgação mercadológica. Diante desse cenário
atual, emergem pesquisas abordando a temática, como os estudos de Zinger e O’Reilly (2010)
que analisaram o patrocínio esportivo como estratégia para pequenas empresas. Porém existe
uma lacuna de conhecimento com relação ao patrocínio realizado em clubes emergentes,
praticado por organizações de grande porte, auxiliando na manutenção desses pequenos
clubes. Nesse sentido, o objetivo geral deste trabalho é analisar o patrocínio esportivo em
clubes de futebol de menor expressão como uma estratégia de Marketing para empresas de
grande porte, atuantes em mercados competitivos. Para atingir esse objetivo geral, três
objetivos específicos foram elencados, a saber: a) identificar os investimentos realizados pela
organização em patrocínios esportivos e ao futebol especificadamente; b) analisar a prática
atual da organização pesquisada com relação aos investimentos em futebol; c) compreender
os motivos que influenciam uma organização competitiva de grande porte a investir em um
clube de futebol de menor expressão no cenário nacional. Foi realizada uma pesquisa
qualitativa, com a coleta de dados realizada por meio de entrevistas com os diretores da Cia.
Hering e com o presidente do Clube Atlético Metropolitano. As entrevistas foram analisadas
por meio da técnica de análise de conteúdo, conforme Bardin (2010). Os resultados
demonstraram que a Cia. Hering tem esse tipo de prática enraizada em sua cultura
organizacional. Na relação desta com o jovem clube blumenauense, fica explícito que o
investimento é de cunho social, principalmente apoiando as categorias de base do time.
Constatou-se que esse patrocínio, mesmo tido como social, apresentou resultados relevantes à
empresa, sobretudo quanto ao brand awareness. Assim sendo, no caso do investimento da
Cia. Hering no Metropolitano, foram dois os tipos de retorno: o social e o reforço da marca.
Apesar de ser uma relação incomum no cenário atual, o investimento de uma organização de
grande porte em um clube de futebol emergente pode ser considerado válido devido aos
retornos sociais e comerciais que o mesmo pode apresentar ao investidor a custos mais baixos
do que se realizado em uma equipe reconhecida nacionalmente. Ou seja, o patrocínio,
praticado de forma social, também apresenta retornos à empresa investidora, e com isso, pode
ser considerado uma estratégia tão válida quanto o patrocínio esportivo mais adotado.
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 13
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 90
1. INTRODUÇÃO
sentimento da paixão que sentem por seu clube do coração, acabam comprando e divulgando
a marca patrocinadora diretamente, adquirindo seus bens e serviços, ou até mesmo
indiretamente, utilizando a camiseta oficial do clube com a logomarca da patrocinadora, por
exemplo (SOARES, 2007).
Dessa forma, o presente trabalho tem por objetivo analisar o patrocínio esportivo em
clubes de futebol emergentes como uma estratégia de Marketing válida para mercados
competitivos.
Na atual conjuntura do futebol, os clubes são tidos como empresas. Da mesma forma
que uma organização comercial, um clube de futebol igualmente oferece seus bens e serviços
com a intenção de cumprir sua missão primária de se manter consistente e aumentar suas
chances de sucesso (PITTS; STOTLAR, 2002).
No Brasil, apesar de a legislação possibilitar tal ação, poucos clubes efetivamente se
transformaram em empresas (AFIF, 2000). Porém, na prática, mesmo estes que não possuem
tal configuração jurídica formalizada necessitam agir da mesma forma como uma organização
comercial, atendendo a seus torcedores como uma empresa atua com seus clientes.
Essa visão do torcedor como cliente surge ao passo em que este auxilia diretamente
na existência de um clube, seja por intermédio de sua paixão, ao consumir bens e serviços,
comprar ingressos, participar em programas de sócio-torcedor, ou outras ações.
Além do torcedor, existem diversas outras fontes de receita que possibilitam a
sobrevivência de um time de futebol: a negociação de direitos federativos de atletas, a licença
para transmissão televisiva de jogos e principalmente a participação financeira de empresas
públicas e privadas, por intermédio de patrocínios esportivos (SILVA; AMORIM FILHO,
2012).
No Brasil, em 2012, o patrocínio esportivo foi a segunda maior fonte de receita dos
clubes, com 14% de toda a arrecadação, ficando apenas atrás das cotas de transmissão de
jogos por parte da televisão, que representou 40% de toda a receita dos clubes no ano (VEJA,
2013). Por outro lado, na Europa, apesar de também ser o segundo colocado no ranking das
fontes de receita, o patrocínio esportivo tem uma maior representação, como na Espanha, na
qual 30% da receita dos clubes advêm do patrocínio esportivo (LUSBEC, 2013).
Em recente pesquisa, constatou-se que atualmente no Brasil, impulsionado pela
realização da Copa do Mundo FIFA 2014 e Jogos Olímpicos Rio 2016, o valor do
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Diante desse cenário, apesar dos crescentes estudos dentro da temática de gestão
esportiva, e mais especificamente de Marketing no esporte, há uma lacuna de conhecimento
em relação ao patrocínio, principalmente o esportivo, realizado em clubes emergentes.
Estudos dessa natureza podem abordar aspectos que emergem dessa relação, impulsionando
as organizações de grande porte a adotarem essa estratégia, auxiliando diretamente a
manutenção dos pequenos clubes. Nesse sentido, carece analisar se o investimento realizado
pode ser considerado uma estratégia de Marketing válida para as empresas competitivas.
Sendo assim, a pergunta de pesquisa deste trabalho se move para saber os motivos
que influenciam uma empresa de grande porte a patrocinar um clube local de futebol
profissional com pouca expressão nacional?
1.2 OBJETIVOS
1.3 JUSTIFICATIVA
Com os altos valores envolvidos nos últimos anos, as relações entre empresas e
clubes de futebol, por intermédio de contribuição financeira na forma de patrocínio esportivo,
têm adquirido considerável destaque no mercado.
O patrocínio esportivo surge como importante alternativa de arrecadação financeira
para os clubes de futebol. Sendo uma das principais fontes de renda da atualidade, esse
vínculo dos clubes com as empresas possibilita o pagamento das despesas básicas dos times,
bem como a possibilidade de estruturação do mesmo, com contratações de jogadores
renomados e ampliação de estádios ou centros de treinamento.
De forma semelhante, o patrocínio esportivo pode ser uma oportunidade para a
empresa que realiza o investimento. O ensejo ocorre de diversas formas, como a aparição da
marca patrocinadora na camisa oficial de jogo ou em placas publicitárias. Além disto, a marca
pode estabelecer um vínculo emocional com o torcedor, servindo como uma estratégia de
Marketing para as organizações que visam obter um diferencial competitivo em seu segmento
de atuação e posicionar suas marcas perante os consumidores (ZENONE, 2006).
Dessa forma, o investimento de uma empresa em forma de patrocínio a um clube de
futebol pode ser considerada uma estratégia de Marketing adequada. Este tipo de estratégia
busca por intermédio de ações integradas, direcionar e deliberar a forma com que a empresa
irá alocar seus recursos, buscando atender às necessidades dos seus clientes
(VARADARAJAN, 2011).
Esta estratégia é frequentemente utilizada por organizações competitivas como Caixa
Econômica Federal, Peugeot, Semp Toshiba, TIM e Unimed. Outro tipo de relação entre
clube e empresa, que ocorre em menor intensidade, é o patrocínio envolvendo uma grande
empresa e um clube de menor expressão no cenário futebolístico nacional, que será objeto de
estudo do presente trabalho.
A produção acadêmica sobre Marketing esportivo no Brasil ainda é restrita, segundo
a base de dados mais recente da ANPAD, necessitando assim de maiores contribuições por
parte da Academia (FAGUNDES et al., 2012). Existem artigos que abordam o patrocínio de
eventos (ROCHA; CAMPOS, 2010); o patrocínio como ferramenta para construção do brand
awareness (SCHARF, 2010); a composição financeira do patrocínio enquanto ativo
(RIBEIRO FILHO, et al., 2008); a análise do impacto do investimento em patrocínio
(MELLACI; PETROKAS; FAMA, 2012); a mensuração de recall de patrocínios
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(GRYNBERG; ROCHA, 2010), entre outros. Existem, ainda, dissertações e teses que
abordam o Marketing esportivo, analisando aspectos como a empresarização de clubes de
futebol (PRONI, 1998); o marketing esportivo à luz do paradigma do Marketing de
relacionamento (MYSKIW; 2006); o impacto do patrocínio no consumidor (GRYNBERG,
2007); o modelo de gestão de Marketing esportivo (SOARES, 2007); a tomada de decisão em
ações de patrocínio (MATTAR, 2007); a descontinuidade de patrocínios (ALMEIDA, 2009),
dentre outros. Porém, não foram encontradas pesquisas, em nível de dissertação ou tese, que
abordassem especificamente a relação que será analisada na presente pesquisa.
Em âmbito mundial, as pesquisas na seara esportiva estão em estágio avançado, no
qual, por exemplo, apenas no viés do patrocínio esportivo, estão disponíveis em plataformas
científicas 50 pesquisas internacionais já publicadas (WEB OF SCIENCE, 2014). Nesse
cenário, tem destaque o trabalho de Zinger e O’Reilly (2010), que aborda o patrocínio
esportivo a partir do investimento de pequenas empresas, como uma perspectiva diferente ao
que se pretende abordar neste presente trabalho.
Já na literatura específica do objeto de estudo da presente pesquisa, apresentam
destaque as monografias de Luzziani (2011) e de Rizzo (2013), nas quais são abordadas
temáticas como a utilização do Marketing esportivo pelas empresas têxteis de Blumenau, e o
Marketing esportivo na gestão do Clube Atlético Metropolitano.
Essa prática do Marketing esportivo cada vez é mais constante. É fato que o futebol
vem passando por um processo de mudança, em que aos poucos a lógica de mercado adentra
o universo futebolístico, exigindo a profissionalização dos atores envolvidos, cenário no qual
emergem os profissionais da administração e, mais especificadamente, os especialistas em
Marketing esportivo (REALE, 2011). De acordo com o autor, esses profissionais visam,
sobretudo, aproveitar as oportunidades advindas da maior gama de possibilidades em
consumo de bens e serviços que os clubes podem oferecer aos seus torcedores,
potencializando esse desempenho.
Outro fator determinante para a escolha do tema do presente trabalho consiste no
acompanhamento que este pesquisador sempre teve primeiramente na área esportiva,
especialmente tendo como viés o futebol, bem como o interesse deste em desenvolver
pesquisas e demais trabalhos na área. A cada ano, segundo Zenone (2006), a
profissionalização dos integrantes ativos desse viés da administração, tido até pouco tempo
como amador e impulsionado pela paixão, faz-se necessária. Além disso, algumas
contribuições que emergem como alternativas para as empresa e clubes são esperadas ao
término desta pesquisa, tais como: motivação para inclusão da estratégia do patrocínio
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Além desta introdução, a presente dissertação está organizada em mais quatro seções.
Nesta primeira seção se apresenta o conteúdo introdutório da pesquisa, bem como a
especificação do problema, o objetivo geral, os objetivos específicos e a justificativa.
Na segunda seção, será abordada a base teórico-empírica da pesquisa. No início do
capítulo se apresenta uma vasta abordagem sobre a área de Marketing, englobando sua
trajetória histórica e demais aspectos, bem como focando no viés do Marketing no esporte,
sobretudo com ênfase no patrocínio esportivo, como estratégia.
Na terceira seção, descrevem-se os métodos utilizados na pesquisa e as ferramentas
utilizadas na coleta e na análise dos dados encontrados.
Na sequência, no capítulo quatro, realizar-se-á a análise dos resultados, levando em
consideração os conceitos emergidos na revisão bibliográfica.
E por fim, na quinta seção, serão elencadas as considerações finais acerca do
presente trabalho, com a abordagem dos principais resultados obtidos de acordo com cada
objetivo proposto, bem como as limitações do estudo e as sugestões para pesquisas futuras.
Descritas as cinco seções que integram esta dissertação, apresenta-se na sequência a
base teórico-empírica encontrada acerca da temática abordada.
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2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1 MARKETING
O Marketing está presente de diversas formas, nas ações do dia a dia das pessoas e
das organizações, se tornando um ingrediente indispensável para o sucesso nos negócios
(KOTLER; KELLER, 2006). Neste capítulo, serão abordados os conceitos centrais do
Marketing, bem como os principais autores dessa importante temática pertencente aos estudos
organizacionais.
as empresas que não cumprirem seu papel social estarão sujeitas ao fracasso, pois os
consumidores tendem a mudar de fornecedor.
2.2 FUTEBOL
caráter amador e iniciando, mesmo que ainda de forma tímida, a profissionalização do futebol
(GUTERMAN, 2009).
No ano de 1914, assim como a FIFA, surge a Confederação Brasileira de Desportos
(CBD), com o intuito de controlar e administrar o futebol no Brasil, a qual posteriormente se
tornou uma associação privada especificadamente do esporte bretão, tendo seu nome alterado
para Confederação Brasileira de Futebol, sob a alcunha de CBF (PLURI, 2014).
Em 1919 o Brasil participou do campeonato Sul-Americano, sagrando-se campeão
continental em cima da seleção uruguaia, com o título sendo decidido na prorrogação, com
gol histórico de Arthur Friedenreich (GUTERMAN, 2009). De acordo com o autor, Fried,
como era conhecido, era filho de uma ex-escrava e foi o primeiro herói do futebol brasileiro,
sendo que, acoplado com seu sucesso, os muros que impediam pobres e negros a participarem
do futebol começaram a ruir.
A partir desse momento, trabalhadores começaram a integrar os times da época,
ressaltando os traços de profissionalismo na modalidade, o que fez com que a era romântica
deste esporte, na qual os atletas praticavam o futebol por amor a camisa, ficasse para trás
(POZZI, 1998).
Com milhares de times profissionais no mundo – sendo 296 destes no Brasil e com
208 federações nacionais no quadro de membros da FIFA (PLURI, 2014), número este
superior inclusive à quantidade de países filiados à Organização das Nações Unidas (ONU),
que conta com 191 filiados (MUNDO ESTRANHO, 2014) –, o futebol atualmente
ultrapassou a simples barreira do esporte, alcançando o nível de negócio em potencial, que
atualmente é tido como um mercado extremamente rentável (CHADWICK, S.; THWAITES,
D.; 2006).
O Clube de Regatas do Flamengo, fundado em 1895, por exemplo, que possui como
alcunha a frase de “o mais querido do Brasil”, devido a ser o time de futebol com a maior
torcida no país, com aproximadamente 40 milhões de torcedores, arrecadou apenas em
bilheterias no ano de 2013 o montante bruto de R$ 44 milhões (PLURI, 2014), apresentando
uma média de R$ 1.257 milhões por jogo e um ticket médio de R$ 59,71 por espectador.
As cifras envolvendo o esporte “bretão” atualmente são milionárias e partem das
mais variadas naturezas: venda de ingressos, transações de jogadores, comercialização de
bens e serviços, patrocínio esportivo, direitos de transmissão, dentre outras. Em 2013, a CBF
faturou R$ 452 milhões, sendo esta alta quantia arrecadada de diversas formas diferentes,
conforme demonstra o Gráfico 1:
27
Direitos de
Transmissão
25%
Patrocínio 65%
número maior de empresas que praticam essa estratégia e cooperam com os clubes (MELO
NETO, 2000; BUHLER; HEFFERMAN; HEWSON, 2007).
Envolvendo atores de todos os níveis, o patrocínio esportivo apresenta alcance amplo
ao atingir direta ou indiretamente clubes, federações, confederações, ligas, atletas,
organizações, torcedores e público em geral (MELO NETO, 2013). Mullin, Hardy e Sutton
(2004) ressaltam que o patrocínio precisa ser útil para todas as partes envolvidas, funcionando
em regime de parceria, com todos os interessados recebendo benefícios e associações que
auxiliem na realização de seus objetivos individuais.
Os benefícios, por parte da empresa patrocinadora, podem ser vistos a curto, médio e
longo prazo. Nesse sentido, Soares (2007) cita como possíveis benefícios: aumento do
reconhecimento do público, rejuvenescimento da marca da empresa, exposição constante da
marca nas mais variadas mídias, reforço da imagem corporativa, simpatia junto ao público,
envolvimento com a comunidade, dentre outras.
Mesmo quando a estratégia de Marketing do patrocínio se apresenta em sua relação
mais comum, isto é, entre uma empresa privada e um clube esportivo, ela pode apresentar
inúmeros desdobramentos e afetar diretamente demais atores, como atletas e dirigentes. Um
exemplo deste como ocorreu na Copa do Mundo FIFA de 1990, na Itália, em que a seleção
brasileira apresentou em seu uniforme de passeio a marca de refrigerantes Pepsi, e os
jogadores, indignados por não receberem nenhuma participação direta da quantia investida
pela empresa, protestaram escondendo o símbolo da marca nas fotos oficiais da seleção na
competição (GUTERMAN, 2009).
Dentro da relação de patrocínio esportivo, existem múltiplos caminhos que os clubes
e empresas exploram atualmente, dentre eles: exposição da marca em uniforme e/ou placas
publicitárias, exploração de arenas esportivas (naming rights), cogestão de equipes, ações
promocionais, entre outros. Mullin, Hardy e Sutton (2004) ressaltam que o patrocínio inclui
diversas atividades associadas a um processo de comunicação, utilizando basicamente o
esporte e o estilo de vida das pessoas para atingir seu público-alvo.
Um desses caminhos é a cogestão, que ocorre por meio de uma parceria de nível
mais elevado entre uma organização patrocinadora e um clube desportivo, na qual a empresa
auxilia diretamente na gestão esportiva do time, fazendo inclusive ações de tomada de decisão
(MELO NETO, 2000). O autor enfatiza que, apesar de esta relação ocorrer em menor
intensidade, existem exemplos clássicos de sucesso, como a parceria entre a S. E. Palmeiras e
a empresa italiana de produtos alimentícios Parmalat. Rocco Jr. (2012) ressalta que, nesse tipo
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de gestão, o clube entra com toda a estrutura necessária e a empresa fornece o apoio
financeiro, imprescindível para o desenvolvimento de um time de futebol profissional.
Essa parceria de cogestão entre a Parmalat e o Palmeiras é considerada por
especialistas como o maior exemplo desse tipo de atividade no Brasil, sobretudo pelos
craques internacionais que passaram pelo clube neste período, como Cafú, Roberto Carlos,
Rivaldo, Edmundo, Arce, Asprilla, dentre outros, e os 11 títulos conquistados, muitos deles de
grande expressão, tais como campeonatos brasileiros e até sul-americanos, como a
Libertadores da América, os quais o clube conquistou nesse período de quase 19 anos em que
a parceria permaneceu vigente (TERRA, 2010).
Já a atividade de exploração do direto sobre o nome de arenas esportivas por
determinado período, conhecida mundialmente por naming right, ainda é pouco explorada no
Brasil, porém esta ação pode auxiliar diretamente na perpetuação da marca junto ao clube e ao
torcedor, sendo amplamente divulgada em diversas mídias e publicações do time e de
campeonatos de que o mesmo participa (ALMEIDA, 2009). Na visão de Aaker e
Joachimsthaler (2007), ter um estádio com o nome da marca é um meio potencialmente
poderoso de aumentar a conscientização, lembrança e a presença da marca junto aos seus
consumidores.
Um dos poucos praticantes de tal estratégia no Brasil, o Clube Atlético Paranaense
após reformar seu estádio, até então batizado como Arena da Baixada, em virtude da região na
qual o mesmo se localiza, negociou o naming right com a empresa Kyocera, renomeando
então seu campo esportivo, passando a se chamar Kyocera Arena (ALMEIDA, 2009). O autor
frisa que, nesse exemplo, um fato ímpar é de que a empresa detentora dos direitos de nome do
estádio paranaense era concorrente direta do então patrocinador máster do clube, a também
fabricante de eletroeletrônicos Philco.
Em termos mundiais, a prática de naming right é consideravelmente difundida, e
grandes clubes possuem importantes marcas explorando o nome de suas arenas, tais como o
Emirates Stadium, do Arsenal F. C. da Inglaterra e a Alianz Arena, do alemão F. C. Bayern
München (HAAG, 2013).
Com relação à aquisição de produtos, os torcedores tendem a optar pela compra de
bens e serviços fornecidos pelas marcas patrocinadoras de seu time preferido. Scharf (2010)
verificou em pesquisa realizada com torcedores brasileiros que a tendência é de que os fãs
optem pela marca patrocinadora tanto nas fases de avaliação, como nas decisões de compra,
mesmo que a patrocinadora seja uma organização com menos tradição do que a concorrência.
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mensurar o retorno do investimento realizado, cessando assim a sua relação com o clube ao
fim do contrato anteriormente firmado (ALMEIDA, 2009).
Além do recall citado anteriormente, é comum no Marketing esportivo a aparição do
brand awareness, que consiste na parcela de visibilidade e reconhecimento da marca
patrocinadora, decorrente das mais variadas formas de exposição, emergidas por
consequência das ações de patrocínio realizadas pelas empresas nos clubes esportivos
(SCHARF, 2010).
Melo Neto (2000) ressalta que é por meio do patrocínio esportivo que uma marca
pode ganhar força, melhorar seu posicionamento de mercado, aumentar seu valor intangível,
adquirindo confiança, respeito e credibilidade perante os consumidores. Atuando como
patrocinador esportivo, as empresas podem utilizar as ações de patrocínio como fator de
alavancagem das suas ações estratégicas de Marketing (MELO NETO, 2013).
Na visão de Pozzi (1998), ao praticar a estratégia de Marketing do patrocínio
esportivo, uma empresa possui diversos objetivos estratégicos que pretende alcançar com o
investimento realizado. Corroborando, Mullin, Hardy e Sutton (2004) elencam alguns fatores
que influenciam frequentemente a decisão de uma empresa de começar a praticar a estratégia
de Marketing do patrocínio esportivo:
- aumento do reconhecimento da empresa e/ou do produto;
- reforçar a percepção pública da empresa;
- identificar a organização com segmentos específicos;
- envolver a empresa na comunidade;
- criar vantagem sobre a concorrência.
Algumas estratégias de direcionamento de mercado podem ser facilitadas com o uso
adequado do patrocínio esportivo, como, por exemplo, no caso do Frigorífico Chapecó,
pequena empresa de embutidos catarinense, que ao fazer uso da estratégia de patrocinar um
time de médio porte paulista, a Portuguesa, atingiu toda sua colônia de torcedores, que
possuía grande presença no seguimento varejista e de panificação no estado, possibilitando
um considerável aumento do recall da marca e, consequentemente, de vendas de seus
produtos em uma região na qual não possuía nenhum vínculo até então (POZZI, 1998).
O patrocínio pode demonstrar potencial superior a outros instrumentos de promoção
no que tange ao impacto da marca na comunidade, conseguindo posicionar a empresa
patrocinadora como uma agente preocupada e interessada no meio em que esta inserida,
buscando retribuir à comunidade (MULLIN; HARDY; SUTTON, 2004).
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tangíveis, na qual, por exemplo, ficam evidentes em ações de propaganda e publicidade, pois
o patrocínio tem a capacidade de desenvolver associações de profundidade, riqueza e
sentimento no relacionamento da marca com o seu potencial consumidor.
Embora em muitos casos a veiculação da imagem da empresa a um clube esportivo
apresente diversos benefícios, existem situações em que apesar do valor investido, a estratégia
não apresenta a eficiência desejada, chegando inclusive a prejudicar a imagem da empresa
(MELO NETO, 2000). Envolvido em diversas denúncias de falcatruas, em 1997, os dirigentes
do Clube de Regatas Vasco da Gama proibiram o acesso da imprensa às dependências da sede
do clube, o que chamou a atenção de toda a mídia, alavancando uma reação imediata de
jornais, televisões e rádios publicando imagens do clube de forma vexatória, e, indiretamente,
do seu então patrocinador, a empresa Data Control, que com a marca estampada nos
uniformes e placas publicitárias, teve sua imagem desnecessariamente desgastada (MELO
NETO, 2000). A empresa que então patrocinava, além do Vasco da Gama, o São Paulo
Futebol Clube, após o ocorrido, foi tão afetada que desistiu de praticar a estratégia de
Marketing nos anos seguintes.
Esse é um dos aspectos negativos do patrocínio esportivo: a dificuldade de controlar
o envolvimento da marca com acontecimentos do esporte, principalmente nas modalidades
coletivas (MORGAN; SUMMERS, 2008). Os autores frisam que esse fato pode ser negativo,
haja vista que atos de mau comportamento e resultados negativos de pessoas envolvidas com
o clube patrocinado, na maioria dos casos, refletem diretamente na má impressão dos
consumidores sob a marca patrocinadora.
Na visão de Zinger e O’Reilly (2010), o desenvolvimento de um patrocínio esportivo
bem sucedido necessita de um compromisso genuíno entre as partes envolvidas, garantindo
maiores possibilidades do aproveitamento eficaz e da consequente ativação desta ferramenta.
Morgan e Summers (2008) alertam que o patrocínio esportivo não pode ser uma
ferramenta de Marketing autônoma, mas sim parte de uma estratégia empresarial, executada
por meio de propostas de valor da marca.
2.4 MARCA
Melo Neto (2000) enfatiza que a concorrência chegou a um estágio em que apenas
preços competitivos, excelência em serviços, produtos de qualidade e tecnologia não são
garantias puras de sucesso empresarial. Nesse ambiente, a marca emerge como fator que
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triângulos e cruzes como símbolos; da mesma forma, a organização Procter & Gamble foi a
primeira empresa a utilizar tal ferramenta em seus produtos (TAVARES, 2008).
Até meados do século XV, as marcas tinham como função primária apenas
identificar a origem do produto e o seu fabricante (TAVARES, 2008). Posteriormente, teve a
função de indicador de identidade, sendo que, a partir do século XVIII, os produtos passaram
a se associar à marca, apresentando nome de gravuras de animais, pessoas famosas, lugares e
origens como nome dos produtores, visando facilitar a lembrança por parte do consumidor
tanto do produto como da própria marca (TAVARES, 2008). Atualmente, o autor afirma que
as marcas se orientam para aumentar o valor percebido do bem através da reputação que este
conota aos seus fabricantes. Scharf (2009, 2012) corrobora afirmando que a marca é um meio
utilizado para o consumidor poder diferenciar os bens similares produzidos por diferentes
fabricantes, facilitando a decisão de compra por parte do consumidor e a demonstração de
diferenciais e garantias por parte das organizações.
Devido a sua importância aos fabricantes e aos consumidores, a marca ao longo do
tempo adquiriu considerável nível de autoridade, emergindo questões legais e de registro com
o intuito de regulamentar e proteger as marcas existentes (SCHARF, 2009, 2012). De acordo
com o autor, essa prática ocorreu em grande parte dos países altamente industrializados,
sobretudo na Inglaterra, em 1870, e nos Estados Unidos, em 1890, com a criação de suas
respectivas leis de marca. Já o Brasil promulgou sua lei em 1875 (SCHARF, 2009, 2012).
Na visão de Tavares (2008), historicamente a marca passou por diversos estágios
evolutivos e incidiu por várias tendências, tais como: características do produto e origem;
nomes pessoais; nomes toponímicos; nomes de produtos e processo; outros nomes e nomes de
Marketing.
A primeira tendência descrita por Tavares (2008) se caracteriza como o início da
utilização das marcas, na qual os criadores de gado efetivamente marcavam com ferro o couro
dos animais, identificando sua origem, assim como outros produtos, dentre eles o açúcar, que
com intuito de rotular a sua característica, recebiam letras especificas para identificar sua
variedade.
Os nomes pessoais, indicados por Tavares (2008) como segunda fase no processo de
construção de marcas, possuíam o objetivo de transferir para os produtos todas as
características pessoais em que os nomes de pessoas consideradas importantes denotavam,
apresentando laços da tradição, do orgulho e da responsabilidade dos primórdios da atividade
até os dias atuais. A americana Ford, de Henry Ford, e a brasileira Cia. Hering, dos irmãos
Bruno e Hermann Hering, são exemplos dessa tendência.
40
produtos já existentes para os novos produtos, podendo auxiliar diretamente na elevação das
vendas em um menor espaço de tempo. A fabricante de eletrodomésticos GE é um exemplo
de organização que utiliza essa prática constantemente.
Por fim, Kotler e Keller (2012) citam a estratégia de submarca, que incide na
combinação de dois nomes na marca de um produto, sendo um deles a própria alcunha da
empresa, conferindo legitimidade ao produto, agregado a um nome individual criado, com o
intuito de particularizar a marca. A fabricante de eletrônicos Hewlett-Packard, popularmente
conhecida como HP, utiliza frequentemente essa estratégia, combinando sua sigla HP aos
nomes dos produtos, tais como: tablet HP 8 e o notebook HP Pavilion.
Na visão de Scharf (2009, 2012), uma marca adquire importância ao passo que
consegue atender às carências do consumidor, exercendo o papel de ponto de referência do
histórico das impressões positivas e negativas tidas pelo cliente, sejam essas referentes ao
produto propriamente dito, ou a questões de distribuição, atendimento, assistência,
comunicação, dentre outros.
Tavares (2008) frisa que a marca tem a capacidade de adicionar valores por meio das
associações que pode proporcionar, contribuindo para que os produtos e a organização sejam
considerados primordiais para atender às expectativas dos consumidores. Nesse sentido,
Scharf (2009) corrobora, ressaltando que, desde seu surgimento, a marca tem sido utilizada
para diversos fins empresariais e apresentado constante crescimento na participação como
elemento das estratégias de mercado das empresas, sobretudo por assumir responsabilidades
perante o mercado.
Assim como um ícone de computador, o qual toda vez que é ativado recuperará o
conteúdo inerente ao mesmo, a marca acomoda uma série de elos ou nós na memória,
retratando suas características, atributos, benefícios e associações (TAVARES, 2008).
As associações, de acordo com Tavares (2008), podem ser de origem primária ou
secundária. Na visão do autor, a associação primária, tida como abstrata, consiste na
lembrança das características, atributos e benefícios que o consumidor associa ao desempenho
do produto diretamente. Já a associação secundária, na visão de Tavares (2008), pode ser vista
como abstrata, pois associa a marca a informações na memória do indivíduo, de acordo com
aspectos experienciais e simbólicos, podendo estes ser advindos de situações almejadas,
valorizadas ou projetadas pelo consumidor.
42
Patrimônio mais importante para a maioria das empresas, o valor da marca, tido
como brand equity, decorre da capacidade da organização proporcionar experiências para o
seu público-alvo, alavancando sua preferência e lealdade perante a escolha da marca
(TAVARES, 2008).
Na visão de Aaker (2007), o brand equity pode ser considerado como um conjunto
de ativos inerentes a uma marca e a um símbolo, acrescentado ou subtraído do valor atribuído
a um produto. Corroborando, Kotler e Keller (2012) afirmam que o brand equity é tido como
o valor agregado que é atribuído a um produto, podendo este refletir no modo em que os
consumidores pensam e agem com relação à marca, impactando diretamente na sua
participação no mercado.
O valor da marca pode ser decorrente da diversidade de seus papéis e ser vista por
várias perspectivas, viabilizando a distinção de produtos, ampliando seu próprio significado e
minimizando a importância dispensada pelo consumidor para a análise do preço na decisão de
compra (TAVARES, 2008).
Kotler e Keller (2012) defendem que o brand equity pode ser reforçado por ações de
Marketing, nas quais estas transmitam coerentemente o significado da marca para os
consumidores, sobretudo com relação a quais são seus produtos, às vantagens que estes
43
podem proporcionar, à forma com que a marca valoriza este produto e em que sentido esta
pode se tornar exclusiva na mente do consumidor.
Apesar de ser uma prática em evidente crescimento, a mensuração do valor da marca
ainda não possui um método universal em consenso, variando este de acordo com a
localização, porte, segmento e tipo das organizações, envolvendo variáveis tangíveis, como
características e atributos do produto, e intangíveis, como seus benefícios e associações
(TAVARES, 2008).
Além dos benefícios funcionais, oferecidos diretamente pelo produto, a proposição
de valor de uma marca pode apresentar diversos benefícios emocionais, fazendo com que o
consumidor envolva determinados sentimentos durante o processo de aquisição ou até mesmo
no uso do produto (AAKER; JOACHIMSTHALER, 2007).
Mesmo que o valor da marca não possa ser medido com precisão, ele tem a
possibilidade de ser estimado, sobretudo identificando o fluxo de rendimento dos principais
mercados de produto dos quais a marca participa, agregando diversos valores de negócio à
própria marca de acordo com sua respectiva participação (AAKER; JOACHIMSTHALER,
2007).
Na avaliação do valor da marca, o indicador mais importante, de acordo com Tavares
(2008), é o seu posicionamento na mente do consumidor, o qual poderá expressar e
quantificar esse índice em valores financeiros, que, em termos gerais, é definido em
decorrência das atividades mercadológicas de uma marca.
De acordo com Aaker e Joachimsthaler (2007), o brand equity apresenta diversas
dimensões, dentre as principais estão a consciência do nome da marca, lealdade ou lealdade à
marca, percepção de qualidade e associações relativas à marca.
A conscientização da marca, segundo Aaker e Joachimsthaler (2007), embora seja
constantemente subavaliada, demonstra efetiva participação nas escolhas dos consumidores,
sobretudo ao afetar suas percepções e preferências.
Com o potencial de afetar diretamente a lucratividade da empresa, a qualidade
percebida é outra dimensão citada por Aaker e Joachimsthaler (2007), a qual influencia as
associações de marca em diversos contextos e momentos.
As associações de marca, na visão de Aaker e Joachimsthaler (2007), podem surgir
na forma de imagens, atributos, situações, símbolos, dentre outras formas que possam ser
vinculadas pelo cliente à marca associada.
Por fim, a lealdade da marca é uma dimensão que está no centro do valor para todas
as marcas, independente da grandeza destas, pois seu intuito é fortalecer a intensidade de cada
44
3. DESIGN METODOLÓGICO
Nesta seção será realizado um breve histórico das organizações que compõem o
universo da pesquisa: a Cia. Hering e o Clube Atlético Metropolitano.
A empresa possui em seu portfólio cinco marcas: Hering, Hering Kids, PUC, Dzarm
e Hering For You. Essas cinco marcas, somadas, lançam seis coleções anuais, estando
disponíveis em 18.215 pontos de venda. Além disso, a organização conta com 74 lojas
próprias, 691 lojas franqueadas no Brasil e 17 no exterior, fazendo com que a empresa de
capital aberto apresente um faturamento anual bruto de R$ 2 bilhões.
Contando com inúmeras estratégias de marketing, dentre elas a do patrocínio
esportivo, a empresa blumenauense investe no futebol desde o ano de 2007, por meio do
patrocínio ao Clube Atlético Metropolitano.
Juventude (RS), Brasil de Pelotas (RS), Mogi Mirim (SP), Botafogo (SP), Boa Vista (RJ),
entre outras. No que tange à quarta divisão do futebol brasileiro, o time blumenauense é o
clube com maior número de participações nessa competição, acumulando cinco
participações consecutivas, de 2010 a 2014.
ao tema estudado, que consiste na realização de uma sessão de discussão individual entre o
entrevistado e o pesquisador.
O tipo de entrevista escolhido foi a semiestruturada ou por pauta. Este procedimento
permite maior profundidade, interação e exploração da realidade dos entrevistados,
descobrindo espontaneamente novas informações a partir de linhas de pensamento pré-
determinadas, possibilitando o surgimento de novas hipóteses e de informações
esclarecedoras, que permitem o aprofundamento das descobertas (VERGARA, 2013; HAIR
Jr. et al., 2005).
Os sujeitos da pesquisa entrevistados são os responsáveis diretos pela relação
comercial nas organizações abordadas, tanto por parte da empresa patrocinadora, a Cia.
Hering, como por parte do time patrocinado, o Clube Atlético Metropolitano. Foram
entrevistadas três pessoas, divididas entre a organização e o time estudado. Por parte da
organização têxtil foram entrevistados: o diretor comercial, Sr. Ronaldo Loos, e o diretor
administrativo, Sr. Carlos Tavares D’Amaral, doravante denominados como Diretor 1 e
Diretor 2, respectivamente. Ambas foram realizadas em Agosto de 2014, com duração
aproximada de 82 minutos. Já com relação ao clube patrocinado, foi entrevistado o atual
presidente (gestão 2013 – 2015), de agora em diante cognominado apenas como Presidente. A
entrevista foi realizada em Setembro de 2014, com duração aproximada de 24 minutos. Diante
das respostas obtidas, se optou pela cessão da coleta, em virtude da saturação dos elementos
encontrados, conforme Thirty-Cherques (2009). Com o intuito de preservar a veracidade das
respostas, as entrevistas foram transcritas ipsis litteris, mantendo os eventuais erros
gramaticais.
Nas pesquisas de natureza qualitativa, como o estudo de caso, não se requer o uso de
métodos e técnicas estatísticas para orientar a análise dos dados por parte do pesquisador,
restando a este analisar os dados coletados indutivamente (SILVA; MENEZES, 2005). Uma
técnica que pode ser utilizada neste tipo de pesquisa é a análise de conteúdo, que auxilia no
tratamento dos dados, identificando o que está sendo dito pelos entrevistados a respeito de
determinados temas (VERGARA, 2012).
Apesar de ser aplicado igualmente em pesquisas quantitativas, o método de análise
de conteúdo tem por objetivo estudar a comunicação entre as pessoas, dando ênfase às
mensagens. Segundo Bardin (2010), a análise do conteúdo é um conjunto de técnicas, não se
49
Definição do tema e
Definição das Execução da análise
do problema de
unidades de análise de conteúdo
pesquisa
Confronto dos
Definição da grade
Revisão da literatura resultados com a
para a análise
teoria de suporte
Dessa forma, como citado anteriormente, nos investimentos iniciais da Cia. Hering
no esporte, de modo geral, vislumbrava-se o resultado comercial, porém o viés social foi aos
poucos se desenvolvendo paralelamente. Uma das justificativas para esse fato se baseia na
origem germânica da empresa, que – assim como as organizações fazem no país europeu –
oferecia opções de lazer aos colaboradores e familiares por meio dos clubes associativos,
conhecidos como associações desportivas. O Diretor 1 faz questão de frisar: “[...] quando esta
história começou, e principalmente a onde a gente tinha as nossas unidades, praticamente não
tinha nada, tinha a empresa e muita pouca coisa, o lazer quase não existia e a empresa fazia
este papel [...]” (Diretor 1). Por meio do esporte, as empresas podem promover opções de
entretenimento e lazer a seus colaboradores e para a comunidade em geral (MELO NETO,
2013). Inclusive, atualmente uma destas unidades associativas, a A.D. Hering, de Blumenau,
conta hoje com um significativo projeto esportivo, na modalidade de futebol de salão, que, no
ano de 2014, em parceria com a cidade de São Caetano do Sul (SP), disputou a Liga Nacional
de Futsal com um time praticamente formado por jovens talentos da base, alcançando o
inédito 5º lugar na classificação geral.
E assim tem sido a rotina da empresa. Ao longo de sua história, por várias vezes a
Cia. Hering realizou investimentos em Marketing esportivo, nas mais diversas modalidades,
mas o projeto do Metropolitano obteve destaque principalmente pela conotação social.
Quando questionado sobre quais os investimentos em patrocínio esportivo a empresa tem
realizado, o Diretor 2 afirmou: “[...] Nós já investimos em vôlei, já investimos em tênis, já
52
Ao investir no futebol de Blumenau (SC), a Cia. Hering, fundada e até os dias atuais
sediada na mesma cidade, tinha a intenção primária de se aproximar da comunidade local, de
acordo com o Diretor 1, possibilitando que jovens da região pudessem ter uma opção de lazer
como ocupação do contraturno escolar. Essa ação permitia aos atletas que apresentassem certo
nível de talento com o esporte, uma oportunidade de se desenvolverem e de se aprimorarem,
incluindo até mesmo um processo de profissionalização, quando possível. De acordo com
Melo Neto (2000), algumas das modalidades de ação social que uma empresa pode adotar
são: proteção da saúde da comunidade, promoção da proteção do menor abandonado, apoio
educacional, assistência social, geração de empregos, dentre outros. Ou seja, a Cia. Hering, ao
adotar a estratégia de Marketing de investir no C. A. Metropolitano, da forma e com o intuito
53
com que investiu, pré-estipulado em seu planejamento inicial, praticou diretamente diversas
dessas ações de cunho social.
É notório que esse é o principal foco da empresa na relação atual. Por mais que a Cia.
Hering investisse diretamente no time profissional, o auxílio à categoria de base era evidente,
seja através de projetos advindos da lei de incentivo ao esporte ou investimento direto, a
empresa sempre buscou ao longo dos sete anos que mantém o patrocínio ao clube, auxiliar
diretamente na formação de atletas e proporcionar que eles almejem crescer na profissão. Essa
intenção é salientada pelo Diretor 2: “[...] Então isso que nos motivou, primeiro a aderir a esse
projeto do Metropolitano. Foi exatamente a base, né? Pra dar essa coisa mais sólida pro
Metropolitano [...]”. Sobre esse aspecto, Melo Neto (2013) ressalta que se pode concluir que
as empresas que investem em soluções para problemas sociais atuais da comunidade, como
nesse caso tirar meninos da rua, visam auxiliar a corrigir uma dificuldade do presente, que
pode se tornar um problema grave no futuro, inclusive para própria empresa, que fica situada
na mesma comunidade.
O presidente do clube concorda, ressaltando a importância da participação da Cia.
Hering nos projetos do time blumenauense:
[...] a empresa teve uma visão muito importante, volto a falar, não somente no lado
profissional, né? Esse lado social, que é nas categorias de base do clube, que a gente está
através de investimento da própria Hering, construindo agora o centro de treinamento do
Metropolitano, clube que existe somente há 12 anos e já começa a construir o seu centro de
treinamento. Então eu acho que essa é a importância da Hering, é em todas as camadas do
clube, ela teve investimento, né? (Presidente)
Na visão de Biscaia et al. (2013), as equipes esportivas precisam deixar claro para
seus torcedores o quão importante é o papel do patrocinador para a sua existência e o alcance
do sucesso desportivo. Conforme o excerto do Presidente, essa importância da Cia. Hering
fica evidente. E assim foi desde o início dos investimentos, em 2007. Mesmo que uma parte
dos valores investidos fosse utilizada no time profissional, o desejo da empresa era contribuir
e financiar a fortificação da base. De acordo com o Diretor 1, o interesse pelo projeto foi
nesse sentido: “[...] o projeto nos parecia interessante, principalmente pelo processo de base
que estava sendo colocado [...]” (Diretor 1). Buhler, Hefferman e Hewson (2007), frisam que
variáveis como o compromisso, a satisfação e a cooperação do patrocinador com o clube
patrocinado influenciam positivamente o sucesso dos patrocínios.
Esse relacionamento em forma de patrocínio esportivo, entre a empresa e o time
blumenauense, na visão do Diretor 1, ultrapassa a barreira apenas mercantil, adentrando no
campo da parceria, pois parte do investimento realizado era diretamente focado, sobretudo,
54
em possibilitar condições dignas de trabalho às categorias de base, como ele frisa: “[...]
Porque o esporte bem feito, ele também exige investimentos bem feitos, [...] exige uma série
de instalações, equipamentos, professores [...]”. Nesse aspecto, o Diretor 2 corrobora:
[...] Então o projeto do Metropolitano, de selecionar crianças né? Nas escolas, e avaliar o
perfil dessa meninada, e aí botar um determinado número de garotos a treinar, a formar essa
base, com psicólogo, com uma série de apoios, né? Que a gente acha que é importante, quer
dizer, você tirar essa meninada da rua [...] (Diretor 2).
Em outras palavras, o Diretor 1 cita que o retorno esperado por parte da Hering era
realmente proporcionar um projeto social de base, oferecendo opção de lazer aos jovens,
integrando-os positivamente na sociedade, possibilitando o crescimento até o nível de atleta
profissional. Esse tipo de apoio fornecido pela Cia. Hering à categoria de base do clube
patrocinado, fornecendo estrutura para o crescimento das crianças, acabou gerando
importantes resultados, inclusive para a marca da empresa, a qual se tornou melhor vista na
comunidade local. Nesse caso, esse retorno da comunidade ocorre, conforme Biscaia et al.
(2013), devido à intenção do patrocinador trabalhar ativamente para demonstrar seu
compromisso com a entidade desportiva.
O projeto da empresa focado nas categorias de base tinha como alicerce o apoio à
criança e a juventude, utilizando diversos núcleos nos bairros de Blumenau (SC) para tirar
meninos da rua e possibilitar que estes não ficassem ociosos, tornando-se presas fáceis ao
mundo das drogas. Esta ajuda à comunidade rendia diretamente um apelo à marca Hering,
tida nesse contexto como um parceiro direto na luta contra alcance dos possíveis vícios aos
jovens. Esse investimento realizado nos atletas de base, inclusive, possibilita retornos
financeiros ao clube, pois os jovens talentos, quando surgem, são negociados com times de
maior expressão. Por outro lado, Gaburro (2013) alerta para o fato de que normalmente no
Brasil todos os investimentos são voltados apenas aos times profissionais, não havendo
preocupação ou investimento significativo de empresa no apoio ao trabalho de base. O autor
ressalta que, por não haver retorno financeiro em curto prazo e pouca cobertura da mídia, o
trabalho de base é uma atividade esportiva que apresenta dificuldades em conseguir
patrocinadores.
Na contramão dessa tendência, a Cia. Hering investiu consideravelmente nas
categorias de base do Metropolitano. Segundo Pozzi (1998), esse esforço da organização
patrocinadora na base acaba criando atitudes positivas por parte da comunidade, que começa a
enxergar o clube e, por consequência, o seu patrocinador, como uma importante alternativa de
ascensão financeira para jovens, sobretudo para classes de baixa renda.
55
Contudo, o Diretor 1 faz questão de frisar de que por mais que as cotas fossem
comercializadas com o intuito geral de auxiliar a fortificação do clube, nenhuma das 200 cotas
de investimento da MIP foi negociada a título de ajuda puramente. Todos os investidores
esperavam algo em troca. Neste sentido, Melo Neto (2000) afirma que o patrocínio esportivo
é uma estratégia diferente da filantropia, mesmo que seja custeando despesas para preparação
de atletas, formação e manutenção de equipes, a empresa patrocinadora espera algum retorno,
nem que seja ao menos obter em troca uma promoção institucional de sua marca, por meio da
exposição desta perante o patrocinado. No caso da Hering, o diretor ressalta que:
O nosso motivo era esse e isso faz todo sentido com aquilo que eu falei sobre os interesses
da empresa e surgiu o Metropolitano como uma esperança de criar uma atividade
sustentável do esporte profissional em Blumenau, mas que isso fizesse com que a gente
tivesse uma base forte, né? (Diretor 1)
O Diretor 2 corrobora:
[...] outra coisa que nos motivou a entrar no projeto do Metropolitano, foi a própria gestão,
porque o futebol tem um problema sério normalmente de gestão. Tem muita cartolagem,
muita coisa que é feita com jeitinho e tal, e aqui a gente entendeu que quem estava
administrando o Metropolitano e isso continua, quer dizer, as pessoas que administram o
Metropolitano, são também empresários, quer dizer, eles administram aquilo de uma forma
diferente do que o futebol normalmente é administrado, e a gente entende isso como sendo
uma possibilidade melhor de ter sucesso. [...] (DIRETOR 2).
vista de acordo com Melo Neto (2013) como característica típica do patrocínio esportivo, no
qual os clubes fazem uso da receita financeira advinda do investimento da organização para
manter a preparação de atletas, a formação e a manutenção das equipes.
Nessa linha, o Presidente adverte que o patrocínio esportivo “[...] é a principal receita
do clube”. Esse fato ocorre, sobretudo, pela falta de verba televisiva, que é tão comum em
clubes da série A e B do Brasil, mas que são escassos nas demais divisões brasileiras. Com
isso, o Presidente ressalta que “[...] efetivamente em torno de 90% da receita depende de
patrocínio destas empresas”. Esse conceito é reforçado por Melo Neto (2013), que ressalta
que o patrocínio é tido por dirigentes e especialistas em Marketing voltado ao esporte como a
principal ação de Marketing do clube, sendo responsável por grande parte de suas receitas.
Esse apoio direto às pessoas, tido como social por parte de organizações a clubes de
futebol, pode ser interpretado como uma ação social empresarial. De acordo com Melo Neto
(2000), esse é o direcionamento de recursos da empresa, com o intuito de gerar benefícios
para determinados grupos ou regiões. O autor ressalta que mesmo que o patrocínio seja social,
este tende a continuar possibilitando a promoção da marca patrocinadora, reforçando sua
imagem perante a comunidade e estreitando os laços com a sociedade. Corroborando, Filizoz
e Fisne (2011) citam que a responsabilidade social pode ser definida com a maneira com que
as empresas procuram alinhar seus valores e comportamento com o seu público interno e
externo.
Nas palavras do Diretor 2, fica explícita a forma com que a Cia. Hering interpreta
esse investimento atual em esportes e sua ligação com a comunidade regional: “[...] o
investimento no Marketing esportivo é um investimento de cunho social e que ele é dado em
função de a gente querer atender a comunidade local, onde a gente esta inserido [...]” (Diretor
2). Mullin, Hardy e Sutton (2004) citam que envolver a empresa na comunidade e
consequentemente reforçar a percepção pública da companhia são fatores que influenciam
diretamente a decisão de uma empresa iniciar uma relação de patrocínio esportivo.
Dessa forma, na relação da Cia. Hering com o Clube Atlético Metropolitano, ficam
evidentes, sobretudo, as intenções de cunho social. Melo Neto (2000) afirma que a ação social
é uma opção estratégica que pode ser utilizada pela empresa como suporte ao seu crescimento
e desenvolvimento.
Seja no campo social, como o investimento da Cia. Hering no Metropolitano, ou até
mesmo em casos de investimentos com o fito comercial, costumeiramente a continuidade do
patrocínio inexiste. Em muitos casos, essa desistência do investidor ocorre devido à falta de
retorno, ou até mesmo por um retorno abaixo do esperado. Esse retorno, no caso da Cia.
Hering, ocorreu de diversas formas, e isso impulsionou a empresa a manter o vínculo
institucional com o clube por um longo tempo, conforme excertos da unidade a seguir.
acabam agregando resultados e benefícios diretos para a empresa e para a comunidade na qual
a mesma está inserida, conforme frisa o Diretor 1:
[...] tem benefícios, quer dizer, o esporte sempre é uma atividade de prazer, [...] de lazer, de
integração, e até de relacionamento e amizade, né? Hora alguns mais alegres e outros não,
mas é isso exatamente o que cria, desde que dentro de um bom senso, as coisas caminhem
bem. Então você atrelar o teu nome a estes momentos, sem dúvida, remete a tua empresa a
esta situação. Então a gente vê isso como uma vantagem, mas a maior vantagem é o bem
estar do cidadão, a gente... os nossos investimentos em atividades esportivas tem sido nisso
(Diretor 1).
Fica notório na frase do Diretor 1 que, embora o foco do investimento seja social,
aspectos como emoção e sucesso, básicos no meio esportivo, são fatores que potencializam e
motivam o investimento por parte da Cia. Hering. Morgan e Summers (2008) confirmam,
afirmando que as empresas patrocinadoras fazem uso dessa emoção, lealdade e do poder que
o desporto proporciona a favor de suas marcas.
Da mesma forma que esse investimento ao longo dos anos apresentou resultados
satisfatórios à Cia. Hering, o Metropolitano também deve grande parte de seu sucesso à
parceria firmada com a empresa blumenauense.
Em vários momentos as falas dos entrevistados induzem a que as categorias de base
e o auxílio à comunidade eram as bandeiras do investimento realizado. Com isso, esperava-se
como resultado que crianças saíssem das ruas e adentrassem ao projeto, e a comunidade
tivesse essa oportunidade próxima ao seu lar, não necessitando enviar seus filhos a outros
municípios ou estados. O que acontecia até então, pois não havia um “trabalho na cidade”
como afirma o Diretor 1. Além disso, Biscaia et al. (2013) alertam para o fato de que,
costumeiramente, quando um patrocinador apoia além do clube, alguns atletas
especificamente, a marca adquire confiança tanto no meio esportivo, como na comunidade, e
com isso tende a melhorar a lembrança dos torcedores com a empresa patrocinadora. Nesse
sentido, a Cia. Hering, ao apoiar e dar estrutura aos jovens da base, inicia um vínculo direto
destes com a marca e, com isso, pode no futuro angariar os louros advindos dessa relação.
Contudo, intrinsecamente, havia um desejo dos investidores de potencializar o time
local, possibilitando que o mesmo adentrasse realmente no cenário nacional. Dessa forma,
esse resultado esperado pela Cia. Hering para o clube Metropolitano era, além de formar
atletas, possibilitar a ascensão do clube no cenário nacional, como cita o Diretor 1,
aumentando a receita da equipe com os direitos televisivos de uma série B do Brasileiro, por
exemplo. Em um dado momento inclusive se esperava alcançar até mesmo o patamar máximo
do futebol nacional, a série A.
Por esse aspecto, o resultado esperado reflete inclusive uma vontade de reforçar a
64
marca, tanto do clube, como até mesmo a da própria empresa, ainda que intrinsecamente, pois
se tinha o objetivo de fazer o clube evoluir e ascender e, com isso, a marca muito
provavelmente cresceria junto. Esse fato ocorreria a custos menores do que se fosse realizado
o investimento em equipes futebolísticas de outras regiões, como frisa o Diretor 1:
[...] daria para gente fazer, com o nosso jeito de ser da região, onde a gente tem mais
controle do que grandes cidades, grandes centros e consequentemente custos mais
ajustados, a gente podia fazer mais com menos, como é normal, não é só aqui, a gente pode
ver pelo interior do Brasil inteiro. É claro que o que se gasta em São Paulo, em Minas, nos
grandes centros, sempre vai ser mais. Os custos são maiores até de moradia, de vida, então,
mas estando em Blumenau, imagina... (Diretor 1).
Nesse momento, fica evidente que um dos retornos esperados, como citado
anteriormente, era o crescimento do desempenho do time blumenauense, e nesse aspecto a
mensuração desse retorno acontece ao passo que a equipe disputou e obteve destaque nas
competições a nível estadual.
Por outro lado, o Diretor 2 ressalta que, apesar de os números comerciais não serem
analisados diretamente, a Cia. Hering pode concluir que o investimento, além de ter tido um
retorno importante ao que tange o cunho social, o lado comercial também obteve considerável
retorno comercial, haja vista as aparições “gratuitas” da empresa quase que diariamente em
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jornais.
Essas aparições, se fossem realizadas em anúncios pagos, certamente custariam um
valor superior ao que é investido diretamente no clube. Cunha (2012) classifica toda e
qualquer aparição da logomarca da empresa nas mídias disponíveis, seja esta impressa ou
televisiva, sem contrapartida financeira, como mídia espontânea. O autor frisa que o foco
desta é a construção da imagem corporativa por meio do retorno em visibilidade. De acordo
com Bezerra (2005), cada uma destas mídias citadas tem sua forma particular de calcular o
retorno. No caso da televisão, são fatores preponderantes: a audiência, o número de spots, o
custo médio do spot, o tempo total de exposição e o valor total do retorno. Já em jornais e
revistas, Bezerra (2005) cita como fatores para cálculo: o número de leitores, o número de
inserções, o custo médio da centímetragem, o total de centímetragem e o valor total do
retorno. Capraro et al. (2011) ressaltam que essa publicidade contribui diretamente no
aumento das vendas, tornando o espetáculo do futebol uma indústria transformadora de
hábitos e culturas. Dolphin (2003) conclui que o crescente uso da estratégia do patrocínio
esportivo está intimamente ligado à grande visibilidade que a mídia espontânea apresenta,
pois a audiência esportiva é capaz de quebrar barreiras culturais e adentrar em contextos nos
quais a propaganda não conseguiria. Morgan e Summers (2008) corroboram, afirmando que
esse é um dos grandes pilares de sustentação do patrocínio esportivo, e que impulsiona as
grandes empresas a adotarem essa estratégia de Marketing.
Essa aparição da marca patrocinadora atrelada ao clube, nas mais variadas mídias,
pode ser vista como um retorno direto à empresa, na visão do Presidente. Ele ressalta que o
Marketing esportivo tem esse efeito, pois contempla dentro de uma mesma forma de
investimento diversos tipos e níveis de divulgação de uma marca. O Presidente ressalta que,
com o surgimento das mídias sociais, esse aspecto tomou maiores proporções, pois tudo que é
exposto nas redes sociais do clube, por exemplo, é visualizado diretamente por todos seus
torcedores, tidos nessas plataformas como seguidores. Durante o Campeonato Catarinense de
2014, por exemplo, no qual o time blumenauense fez excelente campanha, terminando a
primeira fase na liderança da competição, a conta do Facebook do clube alcançou cerca de 15
mil acessos por dia. Esse fato pode ser visto como relevante, pois se trata de um resultado
expressivo, conforme aponta o Presidente:
Então isso é uma loucura, realmente a empresa ela não consegue nem dimensionar o
tamanho do Marketing quando um time chega a uma final de Campeonato Catarinense,
quem sabe até em um Campeonato Brasileiro, que se torna dai um evento disseminado em
nível de jornais do Brasil inteiro, de rádios, de televisão, é uma abrangência enorme
(Presidente)
68
Nesse sentido, Cornwell e Maignan (1998) citam que, apesar de serem inúmeras as
formas que surgiram com o intuito de fazer tal mensuração, as mais utilizadas, porém ainda
não consensuais, são acadêmicas, tais como os métodos baseados em exposição e os métodos
de acompanhamento. Os métodos baseados em exposição monitoram a quantidade e a
natureza de mídia gerada, bem como a estimativa direta e indireta de audiência
(CORNWELL; MAIGNAN, 1998). Já os métodos de acompanhamento, de acordo com os
autores, utilizam pesquisas com torcedores para mensurar a lembrança, o reconhecimento, a
familiaridade e a preferência dos consumidores com relação à marca patrocinadora.
Apoiando, Almeida (2009) ressalta que, apesar de existirem estas inúmeras ferramentas e
métodos, ainda não se encontrou uma forma exata de mensurar o patrocínio esportivo,
sobretudo em virtude da grande gama de aspectos tangíveis e intangíveis que o mesmo
possibilita, tais como: aparição da marca nos meios de comunicação (mídia espontânea),
valores agregados à marca, percepção do consumidor, dentre outros.
A direção da Cia. Hering entende que mesmo que o investimento tenha tido início
com o intuito primário de auxiliar a comunidade, apresentou diversos resultados à marca, e o
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projeto teve mais resultados positivos do que negativos, conforme afirma o Diretor 2. O
Diretor 1 apoia, ressaltando que quando a empresa investe em um negócio positivo, isso
reflete mesmo que indiretamente na marca. Esse excerto possui a corroboração de Cornwell e
Maignan (2008), que ratificam que investimento em patrocínio esportivo possui relação direta
como o aumento da consciência da marca patrocinadora.
Esse aspecto positivo foi um cuidado que a empresa tomou, pois, ainda que
socialmente, se o projeto do Metropolitano apresentasse algum atributo negativo, ou um
fracasso expressivo, isso naturalmente geraria resultados negativos à marca Hering, por mais
que a empresa pudesse não ter qualquer envolvimento direto. Somente o simples fato de seu
logotipo estar estampado no uniforme oficial do clube já poderia denegrir sua imagem em
algum possível fato negativo, assim como aconteceu com a empresa Data Control, quando foi
patrocinadora do C. R. Vasco da Gama, na década de 1990. Melo Neto (2000) relembra que a
empresa da área de TI rompeu o contrato de patrocínio com o clube carioca alegando desgaste
na imagem da marca, devido principalmente à falta de ética por parte da diretoria do clube
carioca. Porém, no caso do Metropolitano, o Diretor 1 ressalta que todos os resultados sempre
foram positivos, sejam estes de ordem social ou comercial, para a marca Hering. Scharf
(2010) ressalta que esses aspectos positivos, emergidos por meio de ações de patrocínio, com
as quais a empresa patrocinadora aparece na mídia como apoiadora e parceira da equipe
desportiva, rendendo-lhes alta visibilidade e reconhecimento da marca, é denominado de
brand awareness.
O Diretor 1 frisa que, devido ao longo período em que a empresa estampou seu
logotipo na camisa do clube blumenauense, a sociedade em geral passou a visualizar uma
forte sinergia entre a marca da empresa e o time de futebol, enxergando ambos diretamente
conectados, como cita: “[...] Não dá pra questionar, eu acho assim, todo mundo quando via o
Metropolitano, via a Hering [...]”. Morgan e Summers (2008) corroboram afirmando que em
casos de patrocínios de longa data, a marca acaba se envolvendo e interligando diretamente
com os acontecimentos do esporte, principalmente nas modalidades coletivas.
Esse fenômeno de dificuldade de distinção entre as marcas da empresa patrocinadora
e do clube patrocinado é típico de relações de médio e longo prazo (CHADWICK, S.;
THWAITES, D.; 2006), como no caso do C. R. Flamengo e a estatal Petrobras, que
compactuaram a estratégia de Marketing por muitos anos. Tavares et al. (2009) lembra que no
caso da equipe carioca, o patrocínio realizado ao longo de 25 anos apresentou como
consequência a associação imediata do clube com a estatal brasileira, transmitindo
implicitamente a visão de que a marca da empresa fosse um componente inerente à imagem
73
do clube.
Devido ao aparente sucesso na história do Metropolitano ao longo dos 7 anos em que
a Cia. Hering o patrocinou, o Diretor 1 acredita que essa gestão positiva do clube se transferiu
para a marca da empresa, proporcionando um maior índice de aceitação e lembrança da
marca, principalmente no estado catarinense. De acordo com o diretor, não era esse o
propósito principal do investimento, mas foi um fator surpreendentemente positivo e que
agregou valor à marca da empresa.
Nesse sentido, o Diretor 2 alerta que um dos grandes fatos que fez com que a Cia.
Hering mantivesse o investimento no clube blumenauense por tanto tempo foi o constante
sucesso do time, que, apesar de não ter sido campeão de nenhum campeonato, sempre se
manteve regular nas disputas, alcançando inclusive por diversas vezes a vaga estadual no
Campeonato Brasileiro da Série D, tornando-se o time com maior número de edições
participadas, disputando 5 das 6 temporadas em que a competição foi realizada.
É óbvio que uma marca como a nossa, que tem 134 anos e é uma marca reconhecida no
cenário nacional e tal, ela também precisa que o time ao qual ela está se associando tenha
mais sucesso do que fracasso. Se o time começar a ter muito fracasso isso pra marca acaba
fazendo mal, né? Então tem que ter essa relação saudável, entre a marca que está
patrocinando e o resultado que o clube está conseguindo oferecer (Diretor 2).
O Marketing esportivo ele é muito amplo, né? Ele tem hoje em nível de mídia, em nível de
placas, em nível de televisionamento, e em nível de treinamento. Os treinos do
Metropolitano hoje eles são filmados para todas as empresas de televisão, e tem as placas
em nível de estádio e as placas até em nível de treinamento, [...] as entrevistas com
treinadores, com os profissionais do clube, jogadores, são feitas diariamente no clube, então
é uma ferramenta que ta praticamente, é quer dizer, todo dia ela esta num jornal, numa
rádio, numa televisão em nível regional e em nível de Brasil, né? (Presidente)
Esse espaço cativo que o esporte possui na mídia o caracteriza como um grande
mercado a ser explorado (SCHARF, 2010). Dessa forma, a Cia. Hering conseguiu por meio
do patrocínio se associar a imagem do clube blumenauense e, como afirma Pozzi (1998),
utilizar desse relacionamento para atingir seus objetivos globais de Marketing.
Além disso, essa aproximação com a comunidade refletiu diretamente no índice de
lembrança da marca por parte dos consumidores. Nessa linha, enxerga-se o patrocínio como
uma ferramenta frequentemente utilizada e que apresenta resultados satisfatórios para a
lembrança da marca. Suas ações rendem alta visibilidade e reconhecimento para a mesma,
principalmente em virtude da aparição das organizações nas mídias como apoiadoras e
parceiras de equipes (SCHARF, 2010).
Em pesquisa recente ainda não publicada, todas as marcas patrocinadoras do clube,
dos mais variados segmentos, foram expostas aos torcedores, para que os mesmos pudessem
indicar qual destas vinha primeiro a sua memória quando se falava de Metropolitano. A
grande maioria dos respondentes citou a Cia. Hering.
Assim como a empresa têxtil, outras organizações que possuem sua marca
nacionalmente reconhecida estavam na pesquisa, tais como Unimed e Taschibra, porém
ambas não tiveram um índice tão notório de retorno como a indústria têxtil. Esse resultado
demonstra o quão elevado é o nível de conexão entre a Cia. Hering e a comunidade local.
Mattar (2007) caracteriza esse envolvimento de uma marca com a comunidade local como
fator decisivo para aumentar a consciência pública da empresa.
Na visão do Diretor 2, esse fato ocorre devido à Cia. Hering, além de ter um longo
tempo de parceria com o clube blumenauense, possuir uma marca nacionalmente conhecida e
com alto índice de recall em todo o país. O Diretor 1 corrobora afirmando que a empresa vê
com muita alegria tal índice de lembrança. Ressalta, porém, que o desejo desde o início foi
fazer um projeto forte, envolvendo toda a comunidade blumenauense, e com isso contar
constantemente com o apoio de outras grandes empresas da cidade, o que praticamente não
aconteceu, por isso a Cia. Hering teve um destaque desse tamanho perante as demais. Além
disso, a Cia. Hering, diferentemente das demais grandes empresas da pesquisa, possui
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junção do nome da empresa e da denominação da sua cidade sede, formando o nome Bayer
Leverkusen.
Em ambos os casos, tanto na relação catarinense entre Angeloni/Criciúma, como na
relação alemã entre Bayer/Leverkusen, a estratégia de Marketing de investir em patrocínio
esportivo foi focada no âmbito local, e não nacional. E no caso da Cia. Hering/Metropolitano,
o pensamento dos diretores não foi diferente: o investimento de uma empresa de grande porte
em um time de futebol local.
olhos do espectador.
Essa aproximação citada anteriormente representou ganhos no valor da marca
Hering, sobretudo regionalmente. Tavares (2008) ressalta que o valor da marca, tido como
brand equity, é o patrimônio mais importante para a maioria das empresas. Kotler e Keller
(2012) complementam, afirmando que o brand equity pode ser reforçado por ações de
Marketing, que transmitam coerentemente o significado da marca para os consumidores,
sobretudo com relação à forma com que a marca pode se tornar exclusiva na mente do
consumidor.
Sendo assim, seja ao ser proprietária de um clube, como a empresa Bayer faz na
Alemanha, seja de forma puramente comercial, como a rede Angeloni faz em Criciúma, ou
ainda com alguma conotação social, como fica explicito na relação da Cia. Hering com o
Metropolitano, o investimento em patrocínio esportivo faz sentido. Essa é a visão dos
executivos da Cia. Hering, que afirmam que a adoção dessa estratégia de Marketing é válida
para a organização, conforme ressalta o Diretor 1:
Então tem diversos exemplos assim que a gente pode entender. A mídia ela faz sentido, o
investimento pode ser esportivo? Sim, agora, o que você quer disso? Você pode tanto fazer
um plano de negócios efetivamente, né? Ai tem que ver se tem toda aderência a isso, ou
você esta no negócio por uma questão de relação comunitária, social, como tem pelo Brasil
a fora, tem os dois lados da historia. Agora, em todos os dois faz sentido, tem todo o
propósito (Diretor 1).
Varadarajan (2011) assevera que esse tipo de estratégia busca, por intermédio de
ações integradas, direcionar e deliberar a forma com que a empresa irá alocar seus recursos,
de acordo com seu planejamento e seus objetivos. Ou seja, nos três exemplos citados, os
recursos das organizações foram alocados de acordo com o planejamento da empresa, seja ele
de cunho particular, comercial ou social.
Nesse sentido, o Diretor 1 ressalta que sempre de alguma maneira o investimento na
estratégia de Marketing, para ser válido, precisa estar ligado com o foco da empresa.
Impreterivelmente, isso vem ocorrendo atualmente, principalmente no futebol. Nessa esfera,
segundo o Diretor 1, as marcas investidoras se interligam com os aspectos únicos da
modalidade. Corroborando, Morgan e Summers (2008) reforçam que, em sua maioria, as
empresas investidoras conseguem aproveitar diretamente os aspectos únicos do esporte, como
sua popularidade, amplitude e sua flexibilidade de classe social e idade.
Desta forma, interpreta-se a ação do patrocínio esportivo como uma estratégia de
Marketing disponível aos executivos organizacionais, para que estes façam uso dessa
atividade em prol da empresa, possibilitando ações de alto alcance a custos menores do que
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outros tipos de estratégias (ZINGER; O’REILLY, 2010). Essas ações podem ainda ser
segmentadas de acordo com o público-alvo que se pretende atingir, neste caso, investindo na
modalidade que possui mais adeptos pertencentes ao público escolhido (MELO NETO,
2000). Empresas que pretendem atingir uma classe que possua um nível de renda mais
elevado tendem a patrocinar modalidades esportivas como o tênis e o golfe, enquanto
organizações de massa focam suas ações em modalidades populares, como o futebol no
Brasil.
O patrocínio esportivo normalmente apresenta três objetivos distintos: aumentar as
vendas, valorizar institucionalmente a marca da empresa e melhorar a comunicação com os
agentes externos (MELO NETO, 2000). Grymberg (2007) corrobora, citando que aumentar o
conhecimento da marca e melhorar sua imagem são os principais objetivos desta estratégia de
Marketing, e que estes contribuem consideravelmente para o incremento do brand equity. No
caso da Hering, apenas o aumento de vendas não pode ser comprovado em números exatos,
mas de acordo com os diretores ele aconteceu, mesmo que regionalmente. Além disso, a
valorização da marca e o estreitamento do laço da empresa com a comunidade foram
objetivos básicos da ação de patrocínio que o clube alcançou com sucesso.
Neste sentido o Diretor 2 frisa que a continuidade da estratégia de Marketing do
patrocínio esportivo no futebol passa por esses resultados positivos, que, no balanço final do
contrato entre a empresa e o clube, precisa apresentar uma relação saudável tanto para a
marca investidora, como também para a agremiação desportiva, ou seja, que o projeto
apresente mais aspectos de sucesso do que de fracasso. Nesse sentido, um patrocínio esportivo
considerado bem sucedido necessita de um compromisso genuíno entre as partes envolvidas,
garantindo maiores possibilidades do aproveitamento eficaz, e da consequente ativação desta
ferramenta tanto para o clube patrocinado, como para a empresa patrocinadora (ZINGER;
O’REILLY, 2010).
Ou seja, mesmo que com objetivos distintos, a relação de patrocínio esportivo entre o
C. A. Metropolitano e a Cia. Hering, pode ser considerada proveitosa, pois, conforme Mullin,
Hardy e Sutton (2004), o patrocínio precisa ser útil para todas as partes envolvidas,
funcionando em regime de parceria, com todos os interessados recebendo benefícios e
associações que auxiliem na realização de seus objetivos individuais. Corroborando, Melo
Neto (2013) afirma que o patrocínio é atrativo para ambos os lados quando tanto o
patrocinador como a equipe patrocinada obtêm ganhos recíprocos e alcançam seus objetivos
estratégicos planejados.
81
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5.1 CONCLUSÃO
Este trabalho teve como objetivo geral analisar o patrocínio esportivo em clubes de
futebol de menor expressão como uma estratégia de Marketing válida para empresas de
grande porte, atuantes em mercados competitivos. Para atingir esse objetivo, foram abordadas
as teorias pertinentes sobre Marketing, patrocínio esportivo e futebol especificadamente. Com
base no referencial teórico utilizado, se optou pela entrevista qualitativa semiestruturada,
adaptando as questões de acordo com os instrumentos já testados e homologados, de Scharf
(2010) e Zinger e O’Reilly (2010), permitindo a apreciação dos dados por meio do método da
análise de conteúdo, conforme Bardin (2010).
Por parte da Cia. Hering, organização estudada, as entrevistas foram realizadas em
nível de diretoria, com o diretor comercial e com o diretor administrativo. Com o intuito de
ratificar as informações obtidas, se entrevistou o atual presidente do Clube Atlético
Metropolitano, time de futebol escolhido como objeto de pesquisa. Para nortear o estudo e
atingir o objetivo geral proposto anteriormente, três objetivos específicos foram delineados.
O primeiro objetivo específico foi identificar os investimentos realizados pela
organização em patrocínios esportivos e ao futebol, especificamente. Foi verificado que a Cia.
Hering tem esse tipo de prática enraizada em sua cultura organizacional. Ao longo de sua
centenária história, por diversas vezes o ambiente desportivo serviu de plataforma para
investimentos de Marketing da empresa. Na década de 1980, por exemplo, a organização
lançou uma coleção de camisetas de clubes de futebol. Essa ação intensificou o esporte em
seu planejamento organizacional. A partir desse momento, a Cia. Hering passou a praticar
constantemente a estratégia do patrocínio esportivo.
O investimento ocorreu de diversas formas, em várias modalidades esportivas
diferentes. Ficou na história da empresa o investimento realizado no time de vôlei feminino
Hering Blumenau, o investimento no futebol de salão e os diversos investimentos no futebol
de campo. Neste esporte, a empresa utilizou a estratégia de patrocinar campeonatos, de expor
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opções de lazer e entretenimento aos colaboradores e familiares por meio dos clubes
associativos.
Após a fortificação dessas associações e a consequente evolução da vida das pessoas,
a empresa passou a buscar novas alternativas de atividades paralelas, e enxergou no futebol
um caminho importante para tal objetivo. Esse caminho emerge, sobretudo, pelo fato de a
modalidade ser a grande paixão do brasileiro.
Nesse sentido, a empresa investiu em um clube de futebol da mesma cidade em que
está situada sua sede, auxiliando diretamente em este se manter ativo, e com grande
possibilidade de crescimento. Com isso, os colaboradores da empresa, movidos pelo interesse
na modalidade, teriam uma alternativa saudável de lazer aos finais de semana. Além disso, o
investimento da empresa na base do clube possibilita tanto o surgimento de novos jogadores,
mantendo um ciclo financeiro ativo autossustentável para o clube, como também desempenha
um importante papel social. Esse papel se torna notório ao possibilitar que jovens advindos de
famílias de baixa renda possam ocupar seu tempo no contraturno escolar com atividades
saudáveis. Com isso, a comunidade teria uma alternativa para afastar seus filhos de atividades
maléficas, tão comuns nos dias atuais, como o uso de drogas.
Assim sendo, seja motivado por possibilitar atividades de lazer aos colaboradores ou
por possibilitar aos jovens uma chance de se tornarem atletas profissionais da modalidade, o
investimento realizado pela empresa Cia. Hering apresentou, mesmo que indiretamente,
resultados significativos à sua marca e, por consequência, aumentou seu brand awareness.
Este aumento, citado pelos diretores da empresa, confirma a hipótese de Cornwell e Maignan
(2008), que afirmam em seus estudos que o investimento em patrocínio esportivo possui
relação direta como o aumento do brand awareness da empresa patrocinadora.
Por meio dos excertos obtidos com os entrevistados, fica evidente que a Cia. Hering
foi ao longo do tempo mudando sua visão sobre o esporte como uma estratégia de Marketing.
Em um primeiro momento, a empresa investia em esporte com o intuito direto de divulgar e
reforçar sua marca. Porém, aos poucos, percebeu-se que, devido ao tamanho da empresa, esta
poderia praticar investimentos que auxiliassem a comunidade.
Esses investimentos, tidos como sociais, ficaram evidentes nessa relação da Cia.
Hering com o Clube Atlético Metropolitano. Porém, além de auxiliar a comunidade,
cumprindo o propósito inicial estipulado nessa relação, a empresa obteve indiretamente
também ganhos comercias e de reforço à marca.
Assim sendo, no caso do investimento da Cia. Hering no Metropolitano, foram dois
os tipos de retorno: o social e o reforço da marca. Em um primeiro momento, a intenção foi
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puramente social. Porém, paralelamente emergiu o reforço da marca, principalmente pelo fato
de que o esporte apresenta diversos benefícios às pessoas, e estas acabam lembrando a marca
apoiadora nesses momentos. Ou seja, ao praticar essa estratégia de Marketing, a Cia. Hering
teve um aumento em seu reconhecimento perante o público, principalmente no ambiente
local, expôs sua marca em diversas mídias espontâneas, reforçando sua imagem corporativa e
atraindo a simpatia junto ao público e, por consequência, se envolveu com a comunidade.
Esses benefícios emergem pelo fato de o futebol envolver aspectos como emoção, lealdade e
sucesso. Embora o foco do investimento realizado tenha sido social, esses são fatores que
potencializam e motivam o investimento.
Dessa forma, se conclui que a adoção da estratégia do patrocínio esportivo por parte
da Cia. Hering no C. A. Metropolitano é uma estratégia de Marketing válida. Apesar de ser
uma relação incomum no cenário atual, o investimento de uma organização de grande porte
em um clube de futebol emergente pode ser considerado válido, sobretudo devido aos
retornos sociais e comerciais que o investimento pode apresentar ao investidor a custos mais
baixos do que se realizado em uma equipe competitiva e já reconhecida nacionalmente. A
título de ganhos futuros, devido ao clube estar consolidado como uma das potências estaduais,
existe a possibilidade deste evoluir no cenário nacional, ascendendo de divisões e alcançando
patamares maiores, como a Série B do Campeonato Brasileiro.
Nesse sentido, entende-se que esta pesquisa apresentou como aspecto relevante o
fato de que o patrocínio, praticado de forma social, também apresenta retornos à empresa
investidora e, com isso, pode ser considerado uma estratégia tão válida quanto o patrocínio
esportivo comum, ou seja, realizado com intuito exclusivo de divulgação e reforço da marca.
A seguir, no quadro XX, um resumo dos principais resultados obtidos pela Cia.
Hering nas suas ações de patrocínio esportivo, especificamente no futebol na relação
estudada.
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Por fim, outra implicação gerencial que emerge com esta pesquisa tange à lembrança
da marca. Por intermédio do branding awareness, além do reforço nas vendas, a empresa
investidora pode atrair novos profissionais. Estes, encantados pela prática da organização,
podem ter o desejo de fazer parte de tal projeto. Ou seja, essa estratégia de Marketing é uma
ação que pode fazer convergir diversos interesses empresariais.
REFERÊNCIAS