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Apostila de Sequencias e Séries PDF
Apostila de Sequencias e Séries PDF
Introdução às
Séries Numéricas
Filipe Oliveira, 2011
Conteúdo
2 Propriedades Gerais 12
2.1 Álgebra das séries convergentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.2 Séries grosseiramente divergentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.3 Séries resto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2
1 Introdução às séries numéricas
A0 T0
r r -
-
d1
A corrida inicia-se.
Aquiles precisará de um tempo de t1 = vdA1 para
atingir a posição inicial T0 da tartaruga.
Naturalmente, ao atingir esta posição, a tartaruga já se encontra mais adiante: durante esse
lapso de tempo, percorreu a distância d2 = vT t1 = d1 vvAT .
d1
Instante t = t1 = vA
A1 = T0 T1
r r -
-
d2 = d1 vvAT
Uma vez mais, após esse desse lapso de tempo, a tartaruga já se encontra mais à frente: terá
2
conseguido percorrer a distância d3 = vT t2 = d2 vvAT = d1 vvAT .
3
Instante t = t1 + t2 = t1 + t1 vvA
T
A2 = T1 T2
r r -
- 2
vT
d3 = d1 vA
É certo que a distância que os separa vai sendo reduzida drasticamente...mas também é certo
que este é um processo infinito: sempre que Aquiles atingir a posição prévia da tartaruga, esta
já se encontrará à frente, por muito pouco que seja.
Após repetição deste processo n vezes, temos a seguinte situação:
2 n−1
vT vT vT
Instante t = t1 + t2 + · · · + tn = t1 + t1 vA + t1 vA + · · · + t1 vA
An = Tn−1 Tn
r r -
- n
vT
dn+1 = d1 vA
Zenão argumentava agora que não é possı́vel Aquiles alcançar a tartaruga. Teria de passar
por este processo uma infinidade de vezes, percorrendo uma distância igual à soma infinita de
todas as distâncias dn :
dT otal = d1 + d2 + d3 + · · · + d100 + d101 + · · · + d10000 + d100001 + . . .
o que levaria um tempo total de
tT otal = t1 + t2 + t3 + · · · + t100 + t101 + · · · + t10000 + t100001 + . . .
Estas duas quantidades, sendo iguais à soma de uma infinidade de parcelas todas elas estri-
tamente positivas, são aparentemente infinitas. Com isto, Zenão pretendia demonstrar que todo
o movimento é ilusão, pois no mundo real sabemos que Aquiles alcança facilmente a tartaruga.
Tal seria, de um ponto de vista lógico, impossı́vel...
4
Ou seja, o N -ésimo termo da sucessão das somas parciais é simplesmente a soma dos N
primeiros termos da sucessão original.
Por exemplo, tomando a sucessão de termo geral un = n1 , tem-se
1 1 1 3 1 1 1 11
S1 = = 1, S2 = + = , S3 = + + = . . . etc :
1 1 2 2 1 2 3 6
para todo N ∈ N,
1 1 1
SN = + + ··· + .
1 2 N
Obter uma expressão explı́cita para SN é, em geral, impossı́vel. No entanto, tal pode ser
conseguido nas seguintes situações já estudadas durante o Ensino Secundário:
un = a + (n − 1)r.
u1 + uN 2a + (N − 1)r
SN = N × =N× .
2 2
Por não se tratar de um resultado importante no âmbito do estudo das séries numéricas (que
definiremos mais adiante), não se apresenta uma prova deste resultado, que pode ser encontrada
em qualquer bom manual do 11o ano.
Teorema 1.2.2 Seja (un )n∈N a sucessão geométrica de primeiro termo a e razão r 6= 1, isto
é, para todo n ∈ N,
un = arn−1 .
Então, para todo N ∈ N,
1 − rN
SN = a .
1−r
Deixou-se de fora o caso r = 1, por não se tratar de um caso interessante: nessa situação
un = a para todo n pelo que
SN = u1 + u2 + · · · + uN = a + a + · · · + a = N a.
5
Prova Por definição, SN = u1 + u2 + · · · + uN = a(1 + r + r2 + . . . rN −1 ).
Assim,
SN (1 − r) = a(1 + r + r2 + · · · + rN −1 )(1 − r)
= a[(1 + r + r2 + . . . rN −1 ) − (r + r2 + r3 + · · · + rN )]
= a(1 − rN ).
Dividindo esta igualdade por (1 − r) obtêm-se o resultado pretendido.
Podemos realizar o mesmo cálculo de uma forma um pouco mais formal, envolvendo as pro-
priedades dos somatórios. Dessa forma não precisamos de utilizar reticências (. . . ), que podem
por vezes causar alguma confusão:
N N N N
!
X X X X
SN (1 − r) = (1 − r) arn−1 = a(1 − r) rn−1 = a rn−1 − r rn−1
n=1 n=1 n=1 n=1
N N N N +1
! !
X X X X
= a rn−1 − rn =a rn−1 − rn−1 = a(1 − rN ).
n=1 n=1 n=1 n=2
un = an − an+1 .
1
• un = n(n+1) = n1 − 1
n+1
(tomar an = n1 ),
• vn = sin(n + 1) − sin(n) = (− sin(n)) − (− sin(n + 1)) Mengoli, 1626-1686
(tomar an = − sin(n))
q
n 1 1 1
• wn = ln n+1 = 2 ln(n) − 2 ln(n + 1) (tomar an = 2 ln(n)),
6
Por exemplo,
N
X 1 1
SN = =1− .
n(n + 1) N +1
n=1
De maneira mais geral, aproveitando este tipo de simplificações, é possı́vel determinar ex-
plicitamente a sucessão das somas parciais de muitas outras sucessões, como por exemplo as da
forma
un = an − an+k . (k inteiro fixo )
Não se apresenta aqui um resultado geral (apesar de ser possı́vel fazê-lo). De facto, é bem
menos confuso deduzi-lo caso a caso, utilizando as propriedades dos somatórios, como no exemplo
que se segue:
Exemplo 1.2.3
N N N N
X 1 X1 1 1 1X1 1X 1
SN = = − = −
n(n + 2) 2 n n+2 2 n 2 n+2
n=1 n=1 n=1 n=1
N N +2
1X1 1 X 1 1 1 1 1 1
= − = + − − .
2 n 2 n 2 1 2 N +1 N +2
n=1 n=3
Tem-se
N
X 1 1
lim SN = lim n
= lim 1 − N = 1.
N →+∞ N →+∞ 2 N →+∞ 2
n=1
Isto significa que, de certa forma, se “somarmos a infinidade de parcelas”
1 1 1 1 1 1 1
+ + + . . . 100 + 101 + · · · + 10000 + 10001 + . . .
2 4 8 2 2 2 2
não obtemos uma quantidade infinita como poderı́amos ingenuamente pensar. Obtemos sim-
plesmente o valor 1. Escrevemos
+∞
X 1
= 1.
2n
n=1
7
Este resultado não é assim tão espantoso... É verdade que estamos num certo sentido a somar
uma infinidade de parcelas estritamente positivas. Mas também é verdade que essas parcelas são
cada vez mais pequenas. Aliás, este resultado é muito fácil de perceber intuitivamente: obtém-
se uma boa ilustração desta igualdade tomando um segmento de comprimento 1 e dividindo-o
sucessivamente ao meio.
1
r r r r r r
-
- - --
1 1 1 1
2 4 8 16 (. . . )
Definição 1.3.1 Seja (un )n∈N uma sucessão numérica e (SN )N ∈N a respectiva sucessão das
somas parciais. Diremos que
P
• a série un é convergente se a sucessão (SN )N ∈N é convergente, isto é,
lim SN ∈ R.
N →+∞
P
• a série un é divergente se a sucessão (SN )N ∈N é divergente, isto é,
Em rigor, o que se entende por “série” é o par ordenado de sucessões ((un )n∈N , (SN )N ∈N ).
No entanto, neste curso, apenas usaremos esta palavra no sentido da Definição 1.3.1.
Exemplo 1.3.2
X 1
•
2n
1 X 1
Como vimos, SN = 1 − N
: lim SN = 1. Assim, a série é convergente e tem-se
2 N →∞ 2n
+∞
X 1
= 1.
2n
n=1
8
X
• (−1)n
Nesta situação,
N
X
n 1 2 N −1 se N é ı́mpar
SN = (−1) = (−1) + (−1) + · · · + (−1) =
0 se N é par
n=1
(−1)n é divergente.
P
Logo, lim SN não existe: a série
N →+∞
X
• n
N
X n(n + 1)
Aqui, SN = n= (sucessão aritmética de primeiro termo 1 e razão 1):
2
n=1
P
lim SN = +∞ e a série n é divergente.
N →+∞
+∞
X 1
= 1.
n(n + 1)
n=1
Teorema 1.3.4
Seja (un )n∈N a sucessão geométrica de primeiro termo a 6= 0 e de razão r ∈ R. Então:
9
P
• Se |r| < 1, un é convergente, e tem-se
+∞ +∞
X X a
un = arn−1 = .
1−r
n=1 n=1
P
• Se |r| ≥ 1, un é divergente.
Retirou-se oPcaso a = 0, uma vez que nessa situação a sucessão (un )n∈N é identicamente
nula, pelo que un é obviamente convergente.
Prova
1 − rN a
lim rN = 0:
P
• Se |r| < 1, lim SN = lim a = . Por definição, un
N →+∞ N →∞ N →∞ 1−r 1−r
converge e tem-se
+∞
X a
un = .
1−r
n=1
N
X +∞ se a > 0
• Se r = 1, SN = a = N a −−−−−→
N →+∞ −∞ se a < 0.
n=1
N
X
n 0 se n é par
Se r = −1, SN = a(−1) =
−a se n é ı́mpar.
n=1
P
Em ambos os casos, (SN )N ∈N não é convergente. Por definição, a série un é diver-
gente.
10
vT
Trata-se de o termo geral da sucessão geométrica de primeiro termo a = t1 e razão r = vA .
A série é convergente se |r| = vvAT < 1, isto é vT < vA , o que faz todo o sentido:
Aquiles alcança a tartaruga se e só se for mais rápido do que ela. Nesse caso,
+∞
X a d1
tT otal = tn = = .
1−r vA − vT
n=1
11
2 Propriedades Gerais
Sejam
P (un )P
n∈N e (vn )n∈N duas sucessões numéricas.
Se un e vn são convergentes, então
+∞
X +∞
X +∞
X
P
• un + vn é convergente e un + vn = un + vn .
n=1 n=1 n=1
+∞
X +∞
X
P
• Para todo λ ∈ R, (λun ) é convergente e (λun ) = λ un .
n=1 n=1
Prova
N
X N
X N
X
• Basta observar que para todo N ∈ N, (un + vn ) = un + vn , uma vez que se trata
n=1 n=1 n=1
aqui de uma soma finita. Assim,
N
X N
X N
X +∞
X +∞
X
lim (un + vn ) = lim un + lim vn = un + vn ,
N →+∞ N →+∞ N →+∞
n=1 n=1 n=1 n=1 n=1
P P P
uma vez que un e vn são convergentes. Logo, (un + vn ) é convergente e tem-se a
igualdade anunciada.
N
X N
X
• A prova é análoga, bastando observar que para todo N ∈ N, (λun ) = λ un .
n=1 n=1
X 3
Exemplo 2.1.2 Mostre que +2 arctan(n)−2 arctan(n+1) é convergente e determine
(−5)n
a sua soma.
X
1
X n
• (−5)n = − 15 é a série geométrica de primeiro termo a = − 15 e razão r = − 15 .
1
Como |r| = 5 < 1, esta série é convergente e
+∞
X 1 a 1
= =− .
(−5)n 1−r 6
n=1
12
P
• arctan(n) − arctan(n + 1) é uma série telescópica:
N
X π
arctan(n) − arctan(n + 1) = arctan(1) − arctan(N + 1) −−−−−→ arctan(1) − .
N →+∞ 2
n=1
1 π
=− − .
2 2
Eis um corolário desta propriedade que nos será bastante útil de futuro:
P P
Prova Se Cun é convergente, pelo ponto anterior também o é a série λ(Cun ) para qual-
1
quer valor λ ∈ R. Tomando λ = C ,
X1 X
(λun ) = un é convergente
λ
E o que dizer de da soma de uma série convergente e de uma divergente? E da soma de duas
séries divergentes?
Propriedade 2.1.4 Sejam Sejam (un )n∈N e (vn )n∈N duas sucessões numéricas.
P P P
• Se un é convergente e vn é divergente, un + vn é divergente;
P P
• Se P un e vn são ambas divergentes, nada se pode afirmar à partida sobre a natureza
de un + vn . Esta série poderá ser convergente ou divergente.
13
Prova
P P
• Se un é convergente e vn é divergente:
P
Vamos provar por redução ao absurdo que wn , onde wn = un +vn é uma série divergente.
P P P P
De facto, se wn fosse convergente, vn = wn − un = wn + (−1)un seria uma
série convergente pela Propriedade 2.1.1, o que contradiz a hipótese.
P P
Logo wn = un + vn é obrigatoriamente divergente.
P P
Tomando vn = −1, un e vn são divergentes
P (as sucessõesPdas somas parciais tendem
respectivamente para +∞ e −∞). No entanto, (un +vn ) = 0 é uma série convergente.
P P P P
Tomando agora vn = 1, un e vn são divergentes mas desta feita (un + vn ) = 2
é uma série divergente.
Fica assim claro que somando duas séries divergentes tudo pode acontecer...
Na realidade, uma condição necessária para que uma série seja convergente é que o seu termo
geral tenda para 0:
14
X
lim un 6= 0 ( ou lim un não existe) ⇒ un é divergente.
n→+∞ n→+∞
Desta forma, P
se o limite da sucessão (un )nN não for nulo (ou não existir), podemos afirmar
de imediato que un é divergente. Diremos que esta série é grosseiramente divergente.
P
Prova do Teorema 2.2.1 Seja un uma série convergente e (SN )N ∈N a sucessão das
somas parciais. Por definição de série convergente,
lim SN = l ∈ R.
N →+∞
X n
Exemplo 2.2.2 Determine a natureza da série .
n+1
n 1
lim = lim 1 = 1 6= 0,
n→+∞ n + 1 n→+∞ 1 +
n
X n
pelo que é divergente.
n+1
P
Observação fundamental Existem muitas séries un divergentes tais que lim un = 0. Não
n→+∞
devemos ler a implicação do Teorema 2.2.1 ao contrário!
15
2.3 Séries resto
Nos capı́tulos anteriores apresentámos somatórios e somas de séries com inı́cio na ordem
n = 1. Naturalmente, tal não é obrigatório. Dada uma sucessão (un )n∈N e um inteiro n0 ∈ N,
n0 ≤ N , podemos escrever
N
X 0 −1
nX N
X N
X
SN = un = un + un = (u1 + u2 + · · · + un0 −1 ) + un .
n=1 n=1 n=n0 n=n0
0 −1
nX N
X
Sendo un uma quantidade constante que não depende de N , retira-se facilmente que un
n=1 n=1
N
X
é convergente se e só se un é convergente, e que nesse caso
n=n0
N
X 0 −1
nX N
X
lim un = un + lim un .
N →+∞ N →+∞
n=1 n=1 n=n0
P
Propriedade 2.3.1 Seja un uma série convergente. Então, para todo n0 ∈ N,
+∞
X +∞
X
un = u1 + u2 + · · · + un0 −1 + un ,
n=1 n=n0
+∞
X N
X
onde un = lim un .
N →+∞
n=n0 n=n0
+∞
X 1
Exemplo 2.3.2 Calcule .
n(n + 1)
n=3
+∞
X 1
Sabemos do Exemplo 1.3.3 que = 1.
n(n + 1)
n=1
Assim,
+∞ +∞
X 1 X 1 1 1 1
= − − = .
n(n + 1) n(n + 1) 1(1 + 1) 2(2 + 1) 3
n=3 n=1
Uma outra propriedade que resulta de forma imediata destas observações é a seguinte:
16
Propriedade 2.3.3 Sejam (un )n∈N e (vn )n∈N duas sucessões numéricas que apenas diferem
num número finito de termos, isto é, tais que o conjunto {n ∈ N : un 6= vn } é finito.
P P
Então un e vn são de mesma natureza: ou são ambas convergentes ou são ambas
divergentes.
Este resultado é por vezes enunciado da seguinte forma: “modificar um número finito de
termos de uma sucessão não modifica a natureza da respectiva série.”
P
Definição 2.3.4 Seja un uma série convergente. A sucessão (RN )N ∈N de termo geral
+∞
X
RN = un
n=N +1
P
diz-se a série resto de un .
De maneira evidente:
P
Propriedade 2.3.5 Dada uma série convergente un ,
lim RN = 0.
N →+∞
17
ou seja
+∞
X
RN = un − SN .
n=1
+∞
X
Basta agora passar ao limite: lim RN = un − lim SN = 0.
N →+∞ N →+∞
n=1
18
3 Séries de termos positivos
P
A série un diz-se de termos positivos se ∀n ∈ N, un ≥ 0.
Sabemos da disciplina de Análise Matemática 1 que uma sucessão crescente (SN )N ∈N admite
apenas dois tipos de comportamento:
• Se (SN )N ∈N não é majorada,
lim SN = +∞.
N →+∞
P
Nesta situação, un é por definição divergente.
• Se (SN )N ∈N é majorada,
P
Teorema 3.1.2 Seja un uma série de termos positivos. Então
X
un é convergente ⇔ (SN )N ∈N é majorada.
X cos2 (n)
Exemplo 3.1.3 Mostre que a série é convergente.
2n
19
Trata-se de uma série de termos positivos. Tem-se, para todo N ∈ N,
N N N N
X cos2 (n) X 1 1 1 − 21 1
SN = ≤ ≤ × 1 ≤1− ≤ 1,
2n 2 n 2 1− 2 2
n=1 n=1
onde se usou sequencialmente a definição da sucessão das somas parciais, o facto de se ter, para
todo n ∈ N, cos2 (n) ≤ 1, e a fórmula da soma dos N primeiros termos da progressão geométrica
de primeiro termo 12 e de razão r = 21 .
Acabámos de mostrar que a sucessão (SN )N ∈N é majorada (por 1). Podemos pois concluir pelo
X cos2 (n)
Teorema 3.1.2 que é convergente.
2n
+∞
X cos2 (n)
Infelizmente, não parece muito fácil calcular a soma , em parte por não con-
2n
n=1
hecermos explicitamente o termo geral da sucessão das somas parciais (apenas conhecemos uma
majoração). Em muitos casos, teremos de nos contentar com o conhecimento da natureza das
diferentes séries...
∀n ∈ N, un ≤ vn .
Então X X
vn converge ⇒ un converge.
Prova Sejam (SN )N ∈N e (S̃N )N ∈N as sucessões das somas parciais associadas respectivamente
a (un )n∈N e (vn )n∈N .
20
P
Supondo que vn é convergente, tem-se por definição que lim S̃N = L ∈ R.
N →+∞
Como (S̃N )N ∈N é crescente, podemos afirmar que
∀N ∈ N, S̃N ≤ L.
X arctan(n)
Exemplo 3.2.2 Mostre que a série é convergente.
n(n + 1)
arctan(n) π 1
Basta observar que para todo n ∈ N, 0 ≤ ≤ :
n(n + 1) 2 n(n + 1)
1
Sendo a série de termo geral convergente, também o é a série de termo geral
n(n + 1)
π 1
vn = .
2 n(n + 1)
X arctan(n)
Pelo 1o Critério de Comparação, é convergente.
n(n + 1)
De notar que esta técnica permite determinar a natureza desta série mas infelizmente não
fornece o valor da sua soma. No entanto, atendendo a que para todo n ∈ N,
arctan(n) π 1
≤ ,
n(n + 1) 2 n(n + 1)
tem-se, para todo N ∈ N,
N N N
X arctan(n) X π 1 πX 1
≤ = .
n(n + 1) 2 n(n + 1) 2 n(n + 1)
n=1 n=1 n=1
21
• Como vimos no capı́tulo anterior, a natureza de uma série não é alterada se se modificar
um número finito de termos da sucessão. Por essa razão:
un ≤ vn
• Passando à contra-recı́proca:
X1
Exemplo 3.2.3 Mostre que a série é divergente.
n
X1
A série é chamada de série harmónica. Constatemos que se trata de uma série divergente:
n
Utilizando a desigualdade log(1 + x) ≤ x para todo x ≥ 0, tem-se para todo n ∈ N,
1 1
log 1 + ≤ .
n n
X 1 X1
Vimos que log 1 + é divergente, pelo que a série harmónica é divergente.
n n
então X X
un e vn
possuem a mesma natureza, ou seja, ou são ambas convergentes ou são ambas divergentes.
22
un
Prova lim = l significa que para todo o > 0 escolhido, existe uma ordem N ∈ N tal que
n→+∞ vn
un
∀n ≥ N, − l < ,
vn
ou seja, para n ≥ N ,
un
l−< < l + .
vn
Escolhendo = 2l , e tendo em conta que vn > 0, obtém-se
l 3l
vn < un < vn .
2 2
o Critério de Comparação, deduz-se que se
P
• Da
P lprimeira desigualdade, pelo 1 un converge,
l P
2 v n converge. Como 2 6
= 0, v n converge.
P P
• Da mesma forma, deduz-se da segunda desigualdade que se vn converge, un converge.
P 1
Exemplo 3.2.5 Determine a natureza da série n2
.
Observemos que
1
n2 n(n + 1) 1
lim 1 = lim 2
= lim 1 + = 1 ∈]0; +∞[.
n→+∞
n(n+1)
n→+∞ n n→+∞ n
X 1 X 1
Assim, pelo 2o Critério de Comparação, 2
e possuem a mesma natureza.
n n(n + 1)
Sabemos que a segunda é convergente, logo a primeira também o é.
un X X
No caso de se ter lim = 0, as séries un e vn não têem necessariamente a mesma
n→+∞ vn
natureza.
1 1
Para ilustrar este facto, pode por exemplo tomar-se un = e vn = 2 . No entanto, é válido o
n n
seguinte resultado:
23
então X X
vn converge ⇒ un converge
ou ainda, observando a contra-recı́proca,
X X
un diverge ⇒ vn diverge.
un
Prova lim = 0 significa que para todo o > 0 escolhido, existe uma ordem N ∈ N tal
n→+∞ vn
que
un
∀n ≥ N, < .
vn
Escolhendo por exemplo = 1 e observando que as sucessões são positivas, obtém-se que
un < vn
a partir de uma certa ordem. Pode-se então concluir pelo 1o Critério de Comparação.
24
Somando agora estas desigualdades para n = 2, 3, . . . , N , obtém-se
N Z n N
X 1 X 1
dx ≥ .
xα nα
n=2 n−1 n=2
N
1 1 X 1
(N + 1)1−α − 1 =
Como 1−α < 0, lim , pelo que a sucessão é limitada.
N →+∞ 1 − α α−1 nα
n=2
X 1
Logo, é convergente.
nα
De facto, este assunto nunca foi muito bem explicado...A razão é simples: só agora, com o
estudo das séries, possuimos os instrumentos adequados para compreender este conceito.
Tomemos o exemplo do número
x = 0, (5) = 0, 55555......
Ou seja, aquilo que está escondido por detrás de uma representação em dı́zima infinita é
simplesmente a convergência de uma série:
Definição 3.3.1 Seja x ∈ [0; 1] e (an )n∈N uma sucessão tal que para todo n ∈ N,
an ∈ {0; 1; 2; 3; . . . ; 8; 9}.
25
Note-se que a série é convergente. Basta utilizar o primeiro critério de comparação:
0 ≤ an 10−n ≤ 9.10−n
x = 0, (9) = 0, 999.....
Tem-se
+∞ +∞
1 n 1
X X
−n
x = 0, (9) = 9.10 =9 = 9. 10 1 = 1.
10 1 − 10
n=1 n=1
1 1
(Soma de uma série geométrica de primeiro termo a = 10 e razão r = 10 .)
Qualquer número real que admite uma representação em dı́zima finita admite também uma
representação em dı́zima infinita perı́odica, de perı́odo 9. Em particular:
Não existe unicidade da representação decimal de um número real.
Observação Existem vários processos elementares que permitem verificar a igualdade 0, (9) = 1.
• Seja x = 0, (9). Multiplicando esta igualdade por 10, vem 10x = 9, (9).
Desta forma, 10x − x = 9, (9) − 0, (9) = 9, de onde se deduz que 9x = 9 e x = 1.
1
• Ainda mais simples: multiplique por 3 a igualdade = 0, 333....
3
26
Teorema 3.4.1 Critério de Cauchy
Seja (un )n∈N uma sucessão de termos positivos com
√
lim n
un = r. (r ∈ R+
0 ou r = +∞)
n→+∞
Então:
P
• Se r < 1 , un é convergente;
P
• Se r > 1 (ou r = +∞), un é grosseiramente divergente.
Por outro lado, se r > 1 (ou r = +∞), é imediato que a partir de uma certa ordem
√
n u ≥ 1, ou seja, u ≥ 1n = 1. Logo, a sucessão (u )
P
n n n n∈N não tende para 0: por definição, un
é grosseiramente divergente.
X n − 1 n2
Exemplo 3.4.2 Determine a natureza da série .
n
n2
n−1 n (−1) n
n−1 √ 1
Seja un = . Tem-se un = (un ) n =
n
= 1+ −−−−−→ e−1 .
n n n n→+∞
X n − 1 n2
Como e−1 < 1, pelo Critério de Cauchy, converge.
n
27
√ P
Se lim n
un = 1, o Critério de Cauchy não permite concluir quanto à natureza da série un .
n→+∞
1 √ P1
Por exemplo, tomando un = , temos lim n un = 1 e n é divergente.
n n→+∞
1 √ P 1
Por outro lado, tomando un = 2 , tem-se igualmente lim n un = 1 mas n2
converge...
n n→+∞
Este facto permite deduzir de maneira imediata o Critério dito de D’Alembert (ou Critério da
Razão):
Então:
P
• Se r < 1 , un é convergente;
P
• Se r > 1 (ou r = +∞), un é grosseiramente divergente.
X n2
Exemplo 3.5.2 Determine a natureza da série .
(n!)
n2
Seja un = . Tem-se
n!
(n+1)2
(n + 1)2 n! 1 2 1
un+1 (n+1)!
= n2
= 2 = 1+ −−−−−→ 0.
un n (n + 1)! n n + 1 n→+∞
n!
X n2
Como 0 < 1, pelo Critério de d’Alembert, con-
n!
verge. Jean D’Alembert, 1717-1783
28
4 Séries de termos com sinal variável
P
Prova Seja (un )n∈N uma sucessão tal que |un | é convergente .
Seja wn = |un | + un . Como se tem, para todo x ∈ R, −|x| ≤ x ≤ |x|, para todo n ∈ N
−|un | ≤ un ≤ |un |.
Somando |un | a estas desigualdades, obtém-se
0 ≤ wn ≤ 2|un |.
X (−1)n
Exemplo Determine a natureza da série .
n2
A série
X (−1)n X 1
n2 =
n2
X (−1)n
é convergente, pelo que converge.
n2
29
P P
Caso |un | seja convergente, diremos que un é absolutamente convergente. Por exemplo,
P (−1)n
n2
é uma série absolutamente convergente.
P
Definição 4.2.1 A série un diz-se alternada se para todo n ∈ N
an an+1 ≤ 0,
Nesta secção forneceremos um critério muito interessante que permite concluir quanto à
convergência de certas séries alternadas. Antes de o fazer, precisamos de provar o seguinte lema:
Teorema 4.2.1 Sejam (an )n∈N e (bn )n∈N duas sucessões tais que
• Para todo n ∈ N, an ≤ bn ;
• lim an − bn = 0.
n→+∞
Prova Como (an )n∈N é crescente e (bn )n∈N é decrescente, pelo primeiro ponto
∀n ∈ N, a1 ≤ an ≤ bn ≤ b1 .
Assim, (an )n∈N é crescente e majorada (por b1 ). Da mesma forma, (bn )n∈N é decrescente e
minorada (por a1 ). Por um teorema estudado em Análise Matemática 1, ambas as sucessões são
convergentes. A igualdade dos limites tira-se do último ponto.
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Teorema 4.2.2 - Critério de Leibniz
X
Seja un uma série alternada tal que
• |un | é decrescente;
• lim un = 0.
n→+∞
X
Então un é convergente.
X
Prova Seja un uma série alternada.
Vamos supor que u1 ≤ 0.
(A demonstração é análoga se u1 ≥ 0)
un = (−1)n |un |.
Para todo N ∈ N:
2N
X −1 2N
X
• aN − bN = S2N −1 − S2N = un − un = −u2N = −(−1)2N |u2N | = −|u2N | ≤ 0,
n=1 n=1
pelo que
aN ≤ bN .
2(N +1)−1 2N −1
X X
• aN +1 − aN = un − un = u2N +1 + u2N = −|u2N +1 | + |u2N | ≥ 0
n=1 n=1
já que |uN | é decrescente. Logo (an )n∈N é crescente.
Assim, (S2N −1 )N ∈N e (S2N )N ∈N são adjacentes pelo que possuem o mesmo limite: por um
P
teorema de Análise Matemática 1, (SN )N ∈N é convergente. Por definição, un é convergente.
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P (−1)n
Exemplo Asérie n (dita série harmónica alternada) verifica as condições do Critério de
P (−1)n P 1
Leibniz, pelo que é convergente. Note-se no entanto que n = n é divergente. Assim,
X (−1)n
é semi-convergente .
n
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