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ORIENTAÇÕES GERAIS SOBRE SEGURANÇA DE MULHERES

Não é novidade que as mulheres estão mais expostas aos mais diversos tipos
de violência do que os homens. A violência de gênero se caracteriza por um
tipo de exposição às agressões físicas, sexuais, psicológicas, simbólicas e
patrimoniais que ocorrem pela estrutura de desigualdade de direitos contra
pessoas do gênero feminino.

Na nossa sociedade, as mulheres não são consideradas sujeitos de direitos,


mas objetos de dominação masculina. A inferiorização da mulher e o controle
do seu corpo, de sua sexualidade é uma forma de constrangê-la e submetê-la
socialmente.

A dominação é exercida pela tutela, controle, correção, agressão operada pelo


poder familiar, biomédico, religioso, estatal e social. As relações de poder
macrossociais se expressam no nosso cotidiano.

Segundos dados do IPEA de 2016, uma mulher é estuprada no Brasil a cada


11 minutos. Em momentos de ascensão de forças conservadoras e
reacionárias, como o que estamos vivendo, quem sempre se ferrou, irá se
ferrar antes e mais do que outros grupos. Esse é o caso das mulheres. O
discurso do presidente eleito teve como plataforma o ataque ao direito das
mulheres, LGBTs e negras e negros. Apesar das propostas punitivistas contra
o estupro, o novo presidente não possui nenhum compromisso com a pauta da
igualdade de gênero, do combate ao racismo e à LGBTfobia. Pelo contrário.
Seu grupo político é fortemente comprometido com as pautas fundamentalistas
cristãs que criminalizam estudos e movimentos por igualdade de gênero.
Dessa forma, a realidade de ataque aos direitos se intensificará e tem se
expressado no cotidiano de nossas relações sociais.

Nunca foi tranquilo circularmos no espaço público, seja nas ruas ou nos
transportes públicos coletivos ou particulares. Todas temos inúmeros casos
para contar de assédio nas ruas, nos ônibus, nos táxis, no metrô, no Uber.

Se usamos aplicativos de relacionamento, a maioria de nós utiliza estratégias


de encontro em locais públicos, conferência de informações pelo medo de
sermos estupradas e mortas.

A maioria de nós já foi assediada ou abusada por alguém que não esperava e
era de confiança como amigos, primos, tios e até mesmo irmãos, pais e
padrastos.

Temos estratégias quando andamos nas ruas durante a noite e mesmo durante
o dia porque torcemos que se formos abordadas, que seja apenas para
assaltar.
No contexto de explicitação da misoginia e legitimação do machismo, essas
cenas serão mais comuns e nossa exposição será maior. Existem outras
condições que intensificam as violências e estão atravessadas por condições
de classe, raça/ etnia, identidade sexual, orientação sexual, posicionamento
político.

Uma mulher transexual negra, prostituta, pobre, moradora da periferia e de


esquerda sofrerá mais intensamente as consequências da fascistização das
relações sociais do que uma mulher cis branca heterossexual que mora em
Pinheiros. Porém, mesmo sabendo as diferenças entre os atravessamentos
dos marcadores sociais da diferença, concordamos que o fato de sermos
mulher nos coloca em posição de desigualdade em relação aos homens e
somos atacadas por essa condição.

A noção de rede é fundamental. Para a maioria das dicas de segurança, a


defesa está em manter contato com outras pessoas de confiança e não se
isolar.

Por isso, propomos a discussão sobre temas que achamos pertinentes:

 Uso de aplicativos de relacionamento: procurar marcar em locais


públicos e procurar conexões com local de trabalho, onde mora e passar
para alguém de confiança.

 Uso de transporte público coletivo:


o O que fazer quando percebemos que estamos sendo
assediadas?

 Uso de transporte público individual: verificar nota e comentários sobre o


motorista, compartilhamento de viagens com pessoas de confiança.

 Circulação noturna:
o Atenção em volta;
o Procurar não andar sozinha.

 Uso de substâncias:
o Procurar não perder a consciência se estiver sozinha ou com
pessoas pouco conhecidas;
o Se for beber muito ou usar outras substâncias, preferir locais com
poucas pessoas e pessoas de confiança que sejam mais
colaborativas e não potenciais abusadores ou pessoas
negligentes;

 Relacionamentos afetivos:
o As relações no espaço público tenderão a ser mais hostis para
mulheres. Conversar com o parceiro sobre ambiente de confiança
e maior igualdade nas relações afetivas e domésticas. Isso
contribui para nos sentirmos mais acolhidas e diminui as chances
de adoecimento. É bastante sufocante ser mulher e lidar com a
desigualdade e o aumento da violência nos diversos espaços.
Quanto mais as relações sociais próximas forem confiáveis, mais
fortalecidas e menos fragilizadas ficamos para lidarmos com as
agressões no cotidiano.

 Defesa pessoal:
o Podemos usar armas leves?
o Quais? Em quais circunstâncias?
o Treinamento físico
o Estratégia do escândalo: quando usar?

 Comunicação:
o Evitar que o celular fique sem bateria.

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