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Daniel Raviolo - Júlio Lira - Karina Mota

ENSINANDO E APRENDENDO
COM O JORNAL ESCOLAR

2006
Eu!... Trabalhar com
jornal escolar?
A professora Alice hesitou bastante quando a convidaram a produzir um jornal
escolar. “Mais uma dessas novidades...”, pensou com ceticismo; “além disso, como
vou publicar um jornal, se não sou jornalista?”.

Contudo, em pouco tempo, Alice descobriu que publicar um jornal não era ne-
nhum “bicho papão”, e - melhor ainda - que ele facilitava bastante o seu trabalho.
Os alunos e alunas entendiam melhor a função social da escrita e participavam
mais, motivados pela publicação de seus textos. Por outro lado, a própria Alice
sentiu-se valorizada e orgulhosa pelo seu trabalho.

Nesta publicação acompanharemos um pouco da experiência da profes-


sora Alice e conheceremos alguns exemplos de conexão entre o projeto
pedagógico e a produção de textos para o jornal. Além disso, rece-
beremos algumas recomendações práticas muito úteis. Tudo ti-
rado da experiência!

Lendo a apostila o professor(a) constatará que o jor-


nal é uma ferramenta adequada aos propósitos
educativos da escola. Mais do que isso, desco-
brirá que fazer um jornal junto com seus
alunos pode ser uma ótima oportu-
nidade para seu próprio desen-
volvimento pessoal. E isso
realmente importa!
O projeto pedagógico escolhido pela escola tra-
tava do tema a importância da educação . Alice de-
Carta
cidiu aproveitar a oportunidade para trabalhar o Texto escrito na primeira pessoa
gênero correspondência. Ela mostrou aos alunos
(do singular ou plural) com o
dois tipos de carta, uma publicada no jornal da
cidade e outra, de tipo familiar, que tinha rece- objetivo de estabelecer uma
bido de uma t ia do i nte rior. Pa r t i ndo de ste s comunicação direta com o
exemplos, debateu acerca da possibilidade de, destinatário ou os destinatários.
por meio das cartas, manifestar pensamentos, A carta pode ser dirigida tanto
sentimentos e participar da vida pública.
para pessoas conhecidas, como
Para animar a conversa, a profe ssora Ali- para autoridades. Sua função
ce perguntou se alguém na sala já havia es-
social também se caracteriza pela
crito alguma correspondência. Propôs em
seguida que todos escolhessem uma pessoa diversidade: é meio de expressão
para quem gostariam de escrever a respei- de afetividade, opiniões,
to da impor tância da educação. Foi um al- protestos etc.
voroço... Car tas para mãe s, amigos e Pa-
pai Noel!
Querido amigo Júlio,
Ao final da atividade os alunos leram Por que você abandonou a
suas cartas. Após debate, de comum escola? Você não gostava das
acordo foram selecionadas para o jor- professoras ou dos alunos? Se
nal cartas que algumas crianças tinham você quiser voltar venha que nós
todos estamos esperando. Não
escrito para colegas fora da escola. Ali- esqueça que nós somos seus
ce, junto com a turma, providenciou o amigos e seus irmãos na alegria,
envio das demais, utilizando envelopes na tristeza, na doença e nas coi-
e explicando para as crianças como sas que você precisa. Já que
você tem uma mãe que não liga
preenchê-los. para você, não se esqueça de
nós. Me desculpe, eu estou fa-
lando tudo isso porque eu gosto
Resultados de você, não quero ver você so-
frendo que nem outros meninos
e meninas. Receba esta carta
As crianças perceberam os ele- com muito amor de sua grande
mentos básicos do processo de amiga.
comunicação (sujeito, receptor Edinalda, 2ª série B
e mensagem); expressaram
sua afetividade, bem como
seus pontos de vista. ho, ei
Joãozin ois fiqu
Colega e escrevendo p o c ê d e i -
v
No debate para escolher Estou lh p e n a p o r q u e q u e v a i
u i t a o r a o
as cartas que seriam pu- c o m m s t u d a r, e a g g a , s e m e s -
e e l e
blicadas, agiram como xou d u futuro? Co alguém ou
e r
verdadeiros cidadãos, ser do s ais poderá se é mesmo de
j a m o ta
para uma finalidade de
tudo
j a r u m e m p r e g difícil por isso
arran uito to er-
vai ser m do mui
bem comum. O exercí- pedreiro o c ê e s t á a g i n a e d e i x e d e
v l
cio serviu também para pense, lte para a esco s daqui es-
estimular a inteligência , v o t o d o .
rado n o de rua, olte. Abraços
e n i v
emocional. ser m ocê
s que v 2ª série
B
peramo Juliana

Ensinando e aprendendo com o jornal escolar 3


NO
DE OLHO
BAIRRO
m u i-
D urante as reuniões de planejamen-
a ir r o a c o n te c e m to, os professores comentavam sempre a
Em nosso
b c la -
a s b o a s e r u in s , é necessidade de se aproximarem da vida da
ta s c o is a s
; c o is cimentos
d o s aconte comunidade. A professora Alice decidiu tra-
ro. Mas
u m da água
te s f o i a v in d a balhar essa questão por meio de textos opi-
m a is im p o
r ta n tr a v é s
d e n o s s as casas a nativos dos alunos.
o
p a r a d e n tr .
G E C E
da CA s pro- De início ela conversou com seus alunos,
C A G E CE vai no
A água d a s de
e lh o r e s c o n d iç õ e l- solicitando que apre sentassem os problemas
p o r c io n a
r m para a
r a p r iv il é g io do bairro. A seguir Alice propôs a redação de
v id a , o q u e e ém usu-
o r a p o d e m o s ta m b textos sobre o assunto. Ela explicou que pri-
guns, ag meiro se deve apresentar a situação, deixando
e bem.
f r u ir d e s s oramen-
d is s o o u tr o s m e lh o b a ir - para dar a opinião depois. Para reforçar, leu
A lé m ao noss um pequeno artigo de opinião publicado no jor-
ta m b é m chegaram s E s c o l a s ,
to s a na
: reform il u - nal local.
ro como c a lç a m e n to e n a
no
m e lh o r ia s Alice dividiu os alunos em grupos e solicitou
d a s ruas.
m in a ç ã o co- que apontassem, por escrito, alguma coisa do
it o q u e foi só um o
d
I s s o , a c r e e c is a m o s d e m u it bairro que ele s acham injusta ou errada. Tam-
is , p r de saúde
,
meço, po n ç a , p o s to s bém pediu para fazerem desenhos.
g u r a
m a is : s e
c r e c h e s .. . Após o momento da redação, os alunos apre-
a lh o , d e
s d e m a is tr a b sentaram e debateram seus textos com os cole-
P r e c is a m o o nosso
e n h o p a ra fazer gas. Entre todos, escolheram aquele que seria
m a is e m p r.
sce publicado no jornal. Alice ainda os orientou a
b a ir r o c r e e A lm e id
a.
P e r e ir a d hã. fazer um mural com o título “De olho no bairro”,
A d r ia n a S A II – Man
r r o –
Tia S o c o no qual todos os trabalhos foram expostos.

Resultados

Opiniao
~ Com essa atividade as crianças sentiram-
se responsáveis por sua comunidade.
“Isto nunca tinha acontecido antes”, dis-
Texto através do qual o autor se um dos pais; “achei muito positivo
expõe seus pensamentos acerca meu filho se intere ssar pelo bairro”.
de um tema. Em geral, a
opinião é composta de uma A professora Alice avalia que os alunos
associaram a escrita à ação social pela
introdução na qual se apresenta melhoria de qualidade de vida. Além dis-
uma situação, seguida de so, notou que o exercício ajudou as cri-
anças a manifestar seus pensamentos com
argumentação demonstrando lógica e coerência.
um ponto de vista.
Normalmente o ar tigo de
opinião é finalizado com uma
proposta ou uma reflexão.

4 Ensinando e aprendendo com o jornal escolar


Como forma de engajar seus alu-
nos na campanha contra a Dengue,
que ameaça a saúde dos moradores
do bairro, a profe ssora Alice deci-
Anúncio
Educativo
diu trabalhar anúncios educativos.
Após falar sobre a epidemia,
lançou aos alunos a idéia que
completassem a seguinte frase:
“se eu pudesse eu diria às pesso-
Gênero que tem como objetivo
as da minha comunidade que...”
conscientizar ou informar os
Alice sintetizou as discussões
leitore s sobre determinado
mostrando a relevância das men-
sagens imaginadas e a importância assunto. Sua principal
da circulação de idéias. Disse para característica é o poder de
a turma que muitas pessoas usam os síntese: com poucas palavras e
anúncios para apresentar suas idéi- imagens deve seduzir os leitores.
as. Para ilustrar, mostrou alguns mo-
delos de publicidade educativa.
Ao perceber que os alunos tinham
entendido bem o assunto, Alice soli-
citou que cada um produzisse um
anúncio contra a Dengue, com texto
e de senho. Qua ndo os a núncios fica-
ram prontos, os alunos organizaram
uma exposição e escolheram o melhor
para ser publicado no jornal. “Fiquei
surpresa!”, disse Alice. “Eles ficaram
muito concentrados”.

Resultados

Os alunos se sentiram participantes de


uma luta pela saúde comunitária. Eles en-
tenderam o princípio da comunicação de
massa, bem como características da co-
municação aplicada à publicidade.

“As pro duçõe s das crianças foram exce-


lentes”, avalia a professora. “Eles conse-
guiram expressar suas idéias através de
formas muito simples”.

Ensinando e aprendendo com o jornal escolar 5


P ensando no projeto mensal dos ciclos, que tra-
tava do mundo da comunicação, a professora Alice
provocou um debate sobre os t ipos de not iciários
que os alunos já haviam visto. Em seguida mostrou
o grande trunfo do dia: uma caixa de papelão imi-
Plano tando uma TV. Com os meninos encantados, ela apre-
de Em sentou a proposta de fazer um jornal televisivo de
Estam ergênc
de seca os enfrentad ia faz-de-conta. Cada um deles deveria investigar um
, e tam o mais
trabalh bém um um ano fato novo da escola ou da sua vizinhança, desco-
o
para su . Nossos pais ano de muit brindo o que aconteceu, onde e quando aconteceu.
sten trab os
Exemp tar a família. alham muito
fazem lo: C
cerca, c ortam capim No dia seguinte, Alice solicitou que cada um
Ganh acimbõ , broca
e m, deles escrevesse sua notícia. Ela ficou bem aten-
temos f a m 9 0 r e a i s s e outros.
amílias p
que tem o r m ê s . O n d ta t irando dúvidas e apre sentado suge stõe s e
10 pess e quest ionamentos relativos à reescrita e à revi-
oas.
são.
D e p o i s a c o n te c e u a a p re s e n t a ç ã o d o
telejornal, com grande sucesso. Para terminar
a atividade, a professora Alice organizou uma
pequena votação, para os alunos escolherem
as notícias que seriam publicadas no jornal
da escola.

Resultados

O fato de elaborarem uma notí-

Notícia
cia sobre a escola ou a comuni-
dade levou os alunos a conhecer
melhor o mundo em que vivem .

Ao buscar informações para es-


Este gênero se caracteriza como um crever uma notícia, os alunos
puderam realizar uma pequena
registro objetivo dos fatos; o autor pesquisa, base da construção de
procurando passar mais informações qualquer tipo de conhecimento.
do que opiniões. Na notícia o
jornalista procura re sponder algumas A escolha pelos alunos das ma-
térias que seriam publi-cadas no
perguntas clássicas: o que jornal levou-os a refletir sobre
aconteceu? por que, como, quando e a importância dos meios de co-
onde aconteceu? quem está municação.
envolvido?

6 Ensinando e aprendendo com o jornal escolar


O primeiro ciclo e stava engajado num
projeto referente à situação da criança. A
professora Alice decidiu trabalhar sobre o Es-
Ilustraçao
~
tatuto da Criança e do Adolescente com seus
alunos, utilizando desenhos. Imagem utilizada pelo jornal na
forma de fotografia, desenho,
Ela procurou na biblioteca da escola um
exemplar do Estatuto e partiu para o desafio caricatura ou charge.
de tornar essa lei algo de fácil compreensão.
Alice iniciou a conversa com a turma a par-
tir da questão: “De que uma criança precisa
para ser feliz?” Ao comentar as respostas, fez
associações aos direitos da criança e, em se- Direitos da criança
guida, listou-os no quadro. Deu cont inuidade
ao debate com a pergunta: “O que uma crian-
ça pode fazer para tornar os outros felizes em
casa, na escola...?” Ela associou as respostas
aos deveres da criança e novamente os listou
no quadro.
Em seguida sugeriu que os alunos, em du-
Lazer Educação Saúde
plas, ilustrassem alguns dos direitos e deve-
res da criança. Alice estimulou as crianças a
exibirem as ilustrações em um mural e a se-
lecionarem aquelas que iriam para o jornal.
Junto com a turma, refletiu sobre os
acordos (direitos e deveres) que são feitos
ao longo dos tempos para que as pessoas
convivam melhor, e falou ainda como, mui- Família Moradia
tas vezes, as crianças têm seus direitos des-
re speitados. Encer rou a aula apre sentan-
do o estatuto para seus alunos.
Deveres da criança

Resultados

A atividade possibilitou a refle-


xão sobre os fundamentos do Não jogar Chegar cedo Não riscar as
conceito de cidadania, com um lixo no chão à escola paredes da
escola
debate sobre responsabilida-
des e direitos das crianças.

A turma teve elementos


para entender e se posi-
cionar criticamente quan-
to à situação das crianças
no Brasil e no mundo. Respeitar a Prestar
professora e os atenção à
colegas aula
Alunos 2º Ciclo

Ensinando e aprendendo com o jornal escolar 7


O projeto escolar daquele mês tinha por
tema a importância da literatura. A professora
Alice pensou que um gênero interessante para
ser trabalhado em sala de aula seria o conto,
que é mais curto e que prenderia a atenção
da turma. Selecionou para tanto um dos
contos de que ela gostava, para ser lido
para a turma.
A leitura foi prazerosa, pois Alice tem
o dom de fazer com que as crianças ima-
ginem mil cenas à proporção em que lê.
Em seguida debateu com as crianças um
pouco da história do autor e o conto.
Para estimular a imaginação de seus
alunos, Alice pediu que cada um rees-
Cavalo crevesse a estória com um final dife-
de pau
Era u rente, ilustrando-a à sua maneira.
não tin ma vez uma
h m
quem b a brinquedos. enina que Ao final da aula, solicitou aos alu-
rincar,
um dia ela vivi E nem com nos que apresentassem o texto e a ilus-
e l a foi a triste,
profess m
ora ens para a escola as tração para o restante do grupo. Alice
valo de inou a f e a
a
um, ela pau, ela apre zer um ca- comentou o valor das diferentes solu-
n
o u t r a s morava numa deu e fez ções criadas pelos pequenos escrito-
crinaça f
nham b s t a m b avela e as res. Um trabalho foi selecionado para
r i n q u ed ém não
para ela
s apren o s . E l a e n s i t i - ser publicado no jornal da escola.
Então deram nou
e
v e l a a g , todas as cria fizeram.
o n
elas fic r a t i n h a u m ças da fa-
aram m brinque
E viver uito do,
am feli felizes.
zes par Resultados
a sempr
e.
M
aria, 5ª
série B

A atividade permitiu que as cri-


anças se aproximassem à litera-
tura narrativa, despertando ne-
las a vontade de ler e escrever

Conto:
contos.

Possibilitou ainda que elas tra-


balhassem a coerência e a lógi-
ca, ordenando causas e conse-
Texto que tem por objetivo qüências dos acontecimentos,
narrar uma história que, em bem como estimulou a criati-
vidade e a percepção do valor
geral, é fictícia. Neste gênero da imaginação.
não se tem uma preocupação
informat iva, diferenciando-se
desta forma da notícia.

8 Ensinando e aprendendo com o jornal escolar


A seleção dos textos

Numa oportunidade, Alice selecionou para pu-


blicação o texto de uma criança que tinha sofrido sé-
rias queimaduras num acidente doméstico. Ela expli-
cou à turma que achava que a menina merecia o re-
conhecimento, porque apesar da adversidade conti-
nuava na escola. Os colegas apoiaram esse ponto de
vista com uma salva de palmas. “ Eu sabia que o tex-
to não era o melhor da sala, mas a menina precisava
levantar o moral, porque estava bastante abalada”,
c o m e n t a a p ro fe s s o r a . “A p ó s t e r s u a m a t é r i a
publicada ela melhorou muito sua integração e parti-
cipação” .
Resultados como esse surgem do reconhecimen-
to que a própria criança e as pessoas que a cer-
cam fazem de seu trabalho, quando publicado no
jornal. Por isso, nem sempre é conveniente pu-
blicar o melhor texto da aula. Publicar trabalhos
de alunos que precisem de apoio especial por
qualquer circunstância é uma boa estratégia.

“Minha matéria não saiu”


Entretanto, a quantidade de textos que po- Dicas
dem ser publicados no jornal é limitada, por
falta de e spaço. Está aí um gra nde risco. z Sempre que possível é recomendável trabalhar
Se não forem tomadas algumas precau- textos coletivos que, além de proporcionarem
ções, um projeto que deveria aumentar a a socialização do grupo, representam toda uma
turma no jornal.
auto-confiança pode vir a ter efeito con-
trário, com os alunos sentindo-se z A professora pode promover dinâmicas para
frustados e preteridos. que os alunos escolham eles mesmos os tex-
tos a serem publicados, seja através de debate
Um caso ilustra bem este risco: no
ou até de eleição.
dia da distribuição do jornal, as cri-
anças avançaram procurando seus z O educador pode escolher ele mesmo um tex-
exemplare s. Tiago, um garoto de 9 to, mas sempre explicando seus motivos. Um
anos, folheou e imediatamente ras- bom exemplo é quando e scolhe um trabalho
gou o jornal em mil pedaços. Es- de um aluno que tem melhorado muito e, por
tava furioso porque o seu dese- isso, merece ser reconhecido.
nho não t i nha sido publicado.
z Obviamente é necessário evitar que sejam sem-
O que fazer para aproveitar o pre os mesmos alunos que tenham seus traba-
jornal no reforço da auto-esti- lhos publicados no jornal. O profe ssor de ve
ficar atento para dar opor tunidades a todos.
ma dos alunos, evitando frus-
trações? Veja algumas dicas
z Os trabalhos não veiculados no jornal podem
ao lado. ser valorizados em outros e spaços, como mu-
rais, caixas de recados, correios etc.

Ensinando e aprendendo com o jornal escolar 9


Erros em debate

Publicar ou não textos com erros? Eis uma questão que


agita muitas escolas. A professora Alice sustenta que o fato
de os textos terem visibilidade pública no jornal é um óti-
mo estímulo para os alunos valorizarem a revisão, sobre-
tudo através de trabalhos coletivos em sala de aula.
Porém ela sabe que a revisão é uma situação didáti-
ca. Quando são trabalhados textos de alunos que ape-
O men
ino e se nas começaram a escrever, o importante é focar a revi-
navio u são nas questões de coerência e coe são. A revisão
Era um dos erros ortográficos irá ganhando importância à me-
a vez u
navio. m meni dida em que o professor sentir que o aluno consegue
Ela sai no seu
serto d a para
ia o na p e s ca e na expressar seus pensamentos de forma lógica.
minino vio afu
quaze q ndou e
ue ia se o Mas como seguir essa recomendação quando sabe-
alogou.
Pedro, mos que os erros dos alunos são lidos pelos familia-
1º ciclo
res e pela comunidade escolar? Será que os próprios
alunos não gostariam de apresentar textos impecáveis
e, para tanto, de receber a ajuda dos professores? Por
outro lado, qual é o limite da revisão para os alunos se
identificarem com suas matérias e serem reconhecidos
como autore s?
O importante é que os professores tenham consciên-
cia tanto do potencial do jornal escolar para o aprimora-
u
m e n ino e se mento da redação, através da revisão, como do risco de se
O
navio o e seu
cometer excessos que desvirtuem os textos dos alunos, “in-
ventando” uma capacidade de expressão escrita inexistente.
menin
r a u m a vez um a p e s c a r e
E par Em todo caso é prudente informar aos leitores sobre a
v i o . E la saía a fundou
. O
na a v i o natureza da publicação, inserindo uma mensagem como a se-
ia o n u.
certo d e a f o g o
quase s 1º ciclo guinte: “Este jornal publica textos de alunos em fase de alfabe-
menino Pedro,
tização. Seja tolerante com eventuais erros”.

Dicas

z A professora escreve na lousa o(s) texto(s) escolhido(s) para representar a


sala no jornal. Conversa sobre a importância do jornal, sobre a opinião que
os leitores terão do trabalho da escola e da sala de aula. Propõe que todos
juntos façam a revisão do texto. A seguir solicita que alguém leia em voz alta.
Os alunos interrompem a leitura a medida em que descobrem erros ou têm
sugestões a fazer.

10 Ensinando e aprendendo com o jornal escolar


Formando leitores

Uma agitação percorre as carteiras. Dicas


Os alunos se impacientam, não querem
aguardar sua vez. Um ou outro grita
“ Aqui, aqui! ”. Outros esticam o braço. HABILIDADES NA
A professora Alice procura acalmar os LEITURA DE TEXTO
mais afoitos. É o jornal escolar sendo
distribuído. JORNALíSTICO (*)
“O momento em que o jornal é dis-
z Reconhecer a configuração de um jornal: de
tribuído em sala de aula é mágico”, dis- que é feito um jornal? como as letras e pá-
se Alice. “Dá gosto ver os alunos tão ginas se arranjam? em que é diferente de
interessados pela leitura”. De fato, um livro?
os estudantes passam o jornal todo
em revista, procurando novas ma- z Identificar as diferentes partes do jornal: o
que são matérias? o que é expediente? o que
térias, autores conhecidos, assun-
é prestação de contas?
tos polêmicos, recadinhos, avi-
sos... z Identificar diferentes tipos de texto: quem é
Esta movimentação toda fez capaz de encontrar a notícia? e recadinhos?
e publicidade?
Alice procurar aproveitar me-
lhor o intere sse dos alunos, z Identificar diferentes funções dos textos:
para melhor explorar o po- para que serve uma notícia, uma publicida-
tencial do jornal. Ela se ins- de, o expediente? Para que serve a man-
pirou nas “dicas” ao lado. chete? por que ela tem as letras maiores?

z Relacionar textos a seus leitores: para quem


determinado texto foi escrito? a pessoa que
escreveu queria se comunicar com quem?

z Localizar e retirar informações: o que este


texto nos informa? Fazer perguntas especí-
ficas, relacionadas a um ou outro aspecto
do texto.

z Compreensão global de um texto: de que


trata esta matéria?

z Sintetizar informações: como você contaria


essa história em poucas frases?

z Identificar causas e conseqüências de fatos:


como isto começou? isso vai parar por aí
ou vai ter conseqüências?

(*) Texto de referência: “Leitor de jornal,


perspectiva metodológica”, Leiva de
Figueiredo Viana Leal, Revista Presença
Pedagógica, Maio/Junho 1996.

Ensinando e aprendendo com o jornal escolar 11


Com a palavra, as crianças

O jornal escolar é uma ferramenta que se


presta bem para o aperfeiçoamento da ora-
lidade. Quem não gosta de comentar a notícia
que leu? Quem nunca leu em voz alta uma notí-
cia que achou interessante? Quem nunca parti-
cipou de uma polêmica envolvendo informações
veiculadas pelos meios de comunicação?
“Trabalhar a oralidade com as crianças é per-
mitir que elas vivam situações de expressão que
os cidadãos adultos já vivem ”, observa a profes-
sora Alice. “As matérias pre sente s no jornal da e s-
cola são bons motivos para as crianças falarem so-
bre si, relatarem suas experiências, externarem suas
opiniões e, principalmente, debaterem sobre o que
pensam e sentem...”
Mesmo antes de escrever a criança já pode conversar
sobre assuntos que fazem parte do dia-a-dia do seu bair-
ro, da sua cidade, do seu país. O aluno pode participar da
vida pública na qualidade de sujeito sem perder a condi-
ção infantil. Cidadania deixa de ser a palavra já desgastada
de tanto mau uso e passa a reluzir de tanta vitalidade.

Dicas

VOCÊ DECIDE
z O professor pode fazer do momento da escolha do texto
que irá para o jornal excelente opor tunidade de debate.
Qual é a car ta que vamos enviar para o jornal? Porque
esse assunto e não tal outro? Com jeito, ele pode levar os
alunos, mesmo os mais pequeninos e pequeninas, a terem
consciência do papel formador da opinião pública pre sen-
te na comunicação.

z “O nosso bairro ou nossa e scola e stá precisando de que


tipo de matérias?” pode ser uma pergunta chave.

z A preparação do texto, quando realizado através de traba-


lho em grupo, é uma situação que fomenta nos alunos o
hábito da troca de conhecimentos.

z Par ticipar da seleção da matéria que irá para o jornal já é


um exercício de cidadania, de valorização do diálogo e da
lógica pre sente nas argumentaçõe s.

12 Ensinando e aprendendo com o jornal escolar


CONCLUSÃO QUE É UM INÍCIO

Nas páginas desta cartilha a professora Alice


guiou nossos passos, para mostrar-nos como, sem
muito esforço, é possível resgatar a função social da
escrita, a paixão pela leitura e, fundamentalmente,
tornar os momentos de aprendizagem mais prazerosos.
Quem é a professora Alice? A professora Alice,
que também poderia ter sido o professor Pedro, so-
mos todos nós, profissionais da educação que acre-
ditamos no potencial de nossos alunos e alunas, e
sobretudo em nosso próprio potencial para inventar
outras maneiras de ser e de viver.
A publicação do jornal escolar Primeiras Letras
tem esse significado: um ato de criação que dá aos
professores e professoras o direito de voltar a ser cri-
ança, para descobrir novas opções, novas possibili-
dades e, no final das contas, terminar a jornada com
a satisfação do enriquecimento pessoal.
Esta cartilha é o fruto do envolvimento de muitas
pessoas com essa idéia. A elas, nossos agradecimen-
tos e o compromisso de trabalharmos para que mais
e mais professoras e professores possam utilizar e
desfrutar esta ferramenta que o projeto Primeiras Le-
tras coloca a seu alcance.

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