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INTRODUÇÃO
O projeto surge pela necessidade do Sindicato, quando em 1986, sua direção é assumida pelo
grupo de oposição, chamado de “Zé Peão”. Este era formado por operários, que tinham o
objetivo de construir um grupo que efetivamente lutasse pela classe com melhorias das
condições de trabalho e resgate da cidadania dos trabalhadores da construção. Este grupo
necessitava formar novas frentes na luta pelos direitos dos trabalhadores e contava com os
próprios operários. Todavia, constataram o baixo nível de escolarização entre os mesmos, o
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Graduandas do Curso de Pedagogia - UFPB
que configurava um problema para o desenvolvimento organizacional do próprio sindicato,
uma vez que os operários não tinham acesso às fontes de informações por falta de
escolarização. O Projeto Escola Zé Peão, surge para minimizar este problema alfabetizando
estes operários no local de trabalho firmando uma parceria com a Universidade Federal da
Paraíba (UFPB)/ Programa de Pós-Graduação em Educação que desenvolve uma metodologia
voltada para esses operários na formação dos educadores que atenderão esta clientela.
Na terceira parte, retratamos sobre a formação do educador, cujo perfil é desenvolvido para
atuar com este público de acordo com suas especificidades.
Para compreender a trajetória da EJA, se faz necessário contextualizar o percurso pelo qual tal
educação percorreu desde o fim do regime militar em 85 e mais especificamente nos anos 90.
Com o fim do regime militar e a extinção do Mobral, em 1985, na Nova República surge a
Fundação Educar que tinha a responsabilidade de coordenar ações para erradicação do
analfabetismo em 10 anos. Em 1989, convoca juntamente com o MEC, um grupo de
especialistas que trabalhavam com a EJA, para juntos discutirem e prepararem o “Ano
Internacional da Alfabetização”, atendendo a definição da UNESCO para o ano de 1990.
Este grupo passou a ser chamado de Comissão Nacional para o Ano Internacional da
Alfabetização (CNAIA), que acaba sendo desarticulada através da extinção da Fundação
Educar no governo de Fernando Collor. A EJA é penalizada, sendo transferida a
responsabilidade de atuação e manutenção através das ONG’s. Ainda em 1990, no Ano
Internacional da Alfabetização (CNAIA), por todo o país, são realizados debates, seminários,
congressos por entidades governamentais e não governamentais com o objetivo de discutir e
apresentar propostas para a erradicação do analfabetismo no Brasil. Neste mesmo ano, o
então Presidente Collor lança (PNAC) Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania que
pretendia reduzir em 70% o número de analfabetos no país nos 5 anos seguintes. Dentro deste
contexto cria-se o Mova (Movimento de Alfabetização).
Sabendo, que durante a década de 90 a EJA passou por várias transformações no sentido de
melhoramento, é importante destacar que essa modalidade não deve ser vista como
compensatória, pois ninguém pode ser compensado por um conhecimento que “perdeu”, deve
sim ser reparado em seu direito a educação como garante a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDBEN) acima evidenciada. Essa modalidade de alfabetização deve
respeitar os diferentes espaços de aprendizagens, formais, não-formais e informais para que os
jovens e adultos possam desenvolver seus conhecimentos, qualificações e evidentemente suas
capacidades. É preciso, portanto, como afirma a resolução CNE/CEB 1/2000, considerar os
princípios de equidade, diferença e proporcionalidade, na conjectura de uma pedagogia
própria para a EJA.
Neste contexto surge a parceria do Sindicato da Construção Civil com a UFPB, com uma
proposta de alfabetização que atendesse a demanda de operários nos canteiros de obra, pois o
que se observava era que havia:
De acordo com o texto Prêmio do PEZP, o Sindicato via o analfabetismo como obstáculo para
a construção e desenvolvimento de um sindicato democrático e participativo. O PEZP, surge
então como forma de minimizar essa desigualdade social ao mesmo tempo que possibilita ao
operário acesso a qualificação profissional, bem como instrumentalizá-los no conhecimento
de seus direitos e resgate de sua cidadania.
Para Paulo Marcelo, fundador do Grupo Zé Peão e hoje diretor do Sindicato, a importância da
alfabetização para o Sindicato, “não fica só no ato de ler e escrever e ai entra a proposta
pedagógica do projeto que antes de tudo pretende formar cidadãos, vendo por este ângulo, as
contribuições para os operários da construção e para o sindicato são imensas, pois o fato de
fazer com que as pessoas entendam um pouco da realidade da vida, já deixa os participantes
do projeto mais imponderados. Com inclusão dos temas que chamamos de transversais,
como saúde, meio ambiente drogas , violência, segurança, entre outros, achamos que
estamos contribuindo com a formação e a transformação das pessoas que na maioria não
entendem nem a importância do mundo do trabalho.”
Desta forma, para a alfabetização dessa clientela em particular precisava de uma metodologia
específica, respeitando seu contexto e necessidades. Ao tratar de “contextualização”, autores
como Pavanello (1995) e Brousseau (1996), procuram esclarecer o significado desse trabalho
no processo de produção de conhecimento. Pavanello, com base em Brousseau, afirma que
contextualizar significa apresentar o conteúdo ao aluno por meio de uma situação
problematizadora, compatível com uma situação real que possua elementos que dêem
significado ao conteúdo. Para ela, contextualizar é provocar no aluno a necessidade de
comunicar algo a alguém, é provocar a necessidade de representar uma situação, discutir
sobre essa situação criada e o que está envolvido nela. Nesta perspectiva, a UFPB/ Programa
de Pós-Graduação em Educação, propõe um projeto original que atendesse a esse público e a
essa demanda, surgindo, então, os princípios de alfabetização do PEZP.
Sendo assim, apresentar o conteúdo ao aluno por meio de uma situação problematizadora,
compatível com uma situação real que possua elementos que dêem significado ao conteúdo.
É provocar no aluno a necessidade de comunicar algo a alguém, é provocar a necessidade de
representar uma situação, discutir sobre essa situação criada e o que está envolvido nela. O
princípio da significação operativa “busca captar este confronto dinâmico entre teoria e
prática sem impor a teoria como camisa de força e sem submeter a experiência à tirania do
cotidiano.” (IRELAND, 2000, p. 4)
O terceiro princípio, o da especificidade escolar, é definido pela prática escolar do ensino da
escrita, da matemática e da dimensão política do processo. A escola busca identificar os
conhecimentos adquiridos pelos alunos e ajusta os conteúdos aos níveis apresentados,
considerando a fala do aluno como elemento de grande importância, fazendo-o sujeito no
processo de ensino-aprendizagem, articulando ao conteúdo social que será veiculado pela
escola de acordo com a sua necessidade e ritmo. Os temas discutidos são registrados pelos
alunos em forma de texto.
No processo das atividades em sala de aula (canteiros), os educadores são acompanhados pela
equipe pedagógica através de atendimento individualizado na sala do projeto durante a
semana. Recebem visitas das coordenadoras pedagógicas e posterior avaliação do processo
didático; participação em seminários/eventos organizados por outras instituições; reuniões
semanais (às sextas-feiras) durante as quais são discutidas e aprofundadas questões referentes
à prática educativa do projeto; participação nas assembleias do sindicato, considerada parte
importante da formação do professor por lhe possibilitar uma melhor compreensão da
dimensão política da prática educativa; e reuniões semestrais de avaliação, envolvendo
coordenação, professor e aluno.
Esta realidade pode ser observada no processo de formação dos educandos através de suas
sistematizações, que é o registro reflexivo do que aconteceu em sala de aula baseado na
elaboração dos planos de aula . Esse desenvolvimento se dá de forma gradativa contribuindo
para a formação do educador popular.
Diz Paulo Freire: “O bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a
intimidade do movimento de seu pensamento. Sua aula é assim um desafio [...]”.(FREIRE,
2008, p. 86)
“Como prática estritamente humana jamais pude entender a educação como uma experiência
fria, sem alma, em que os sentimentos e as emoções, os desejos, os sonhos devessem ser
reprimidos por uma espécie de ditadura reacionalista.” (FREIRE, 2008, p. 145)
Neste sentido, eu, enquanto professora da turma, reconhecendo os fatores dispostos acima,
procurei desenvolver relacionamento de afeto e respeito pelos alunos, trabalhando a
autoestima, fazendo-os participantes do processo de ensino-aprendizagem, envolvendo-os e
despertando o espírito criativo de cada um deles.
Uma experiência interessante ocorreu recentemente após visitar o Planetário. No dia seguinte
os desafiei a construírem um sistema solar. Minha proposta era de um sistema solar que
flutuasse. Não poderia ser um sistema solar qualquer, pois este ficará na exposição de
aniversário de 20 anos do PEZP. Levei o desenho e perguntei o que eles achavam. A
princípio ficaram temerosos, dizendo que não daria certo. “Professora, vamos fazer um
cartaz, isso é muito difícil! Isso é coisa de artista!” disse Sebastião. - Sei que vocês podem
fazer mais que um cartaz, por isso os desafio a construir algo personalizado, bonito – uma
obra de arte! Usando sobras de material do canteiro, argumentei. Após algumas tentativas,
conseguimos encontrar o material ideal, que suportava o peso dos planetas e que poderia ficar
suspenso – um arame de fachada (este arame serve de prumo para nivelar parede) e arame de
cerca elétrica. Separamos o material e combinamos reservar um tempo da aula para a
confecção da nossa obra de arte. A cada etapa vencida, a cada dificuldade ultrapassada,
percebi que os alunos ganhavam confiança na elaboração de nosso projeto. Vencida uma
etapa, lançava outro desafio, pois conforme Ausubel (1982) através da palavra, o educador
pode diminuir a distância entre a teoria e a prática na escola, capacitando-se de uma
linguagem que ao mesmo tempo desafie e leve o aluno a refletir e sonhar, conhecendo a sua
realidade e os seus anseios, fazendo com que o aluno caminhe e se desenvolva. Resgatando a
fala do aluno Flaviano, ele fala do desafio: “- era um pouco difícil para fazer. Não imaginava
da gente conseguir fazer uma coisa tão bonita. Praticando, deu tudo certo!” Francisco
Sobrinho (TST) escreveu: “No início achei que era difícil, mas depois começou a desenrolar e
saiu...”
Para mim, como educadora, é muito importante poder vivenciar o retorno da prática
pedagógica através do desenvolvimento do aluno. Participar do PEZP foi o diferencial na
minha formação acadêmica, cuja área de aprofundamento é Educação de Jovens e Adultos.
Poder conhecer a realidade de vida dos meus alunos e perceber o potencial de cada um deles e
estimulá-los a acreditar que conseguem... não tem preço!
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 38ª ed. São
Paulo: Editora Paz e Terra. 2008.
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APL (Alfabetização na Primeira Laje), para aos operários/alunos que não têm o domínio da escrita; e TST
(Tijolo sobre Tijolo), destinado aos operários com domínio elementar da leitura e da escrita.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. 6ª ed. São Paulo.
Editora Unesp, 2000.
TIMOTHY, Ireland; LIMA, Paulo Marcelo (Coord.). Prêmio Educação para a Qualidade
do Trabalho, 1998.