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U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D O E S TA D O D O R I O D E

JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS – CCH


LICENCIATURA EM HISTÓRIA

MONOGRAFIA

A IMPORTÂNCIA DA FRANÇA ANTARTICA NA FUNDAÇÃO DA CIDADE DE SÃO


SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO

Aluno:

Matrícula:

Polo:

LUIZ ANTONIO FERREIRA


A IMPORTÂNCIA DA FRANÇA ANTARTICA NA FUNDAÇÃO DA

CIDADE DE SÃO SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO

Monografia submetida ao corpo docente da Escola de História da Universidade Federal


do Estado do Rio de Janeiro- UNIRIO, como parte dos requisitos necessários a
obtenção do grau de licenciado em História, sob a orientação do professor Ms. Rubens
da Mota Machado e da leitora crítica professora Ms. Lívia Nascimento Monteiro.

PIRAÍ

2018
A IMPORTÂNCIA DA FRANÇA ANTARTICA NA FUNDAÇÃO DA CIDADE
DE SÃO SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO

Aprovado por

Prof. Ms Rubens da Mota Machado – Orientador

Profª Ms. Livia Nascimento Monteiro – Leitora crítica

PIRAÍ

2018
¨O céu de repente anuviou
E o vento agitou as ondas do mar
E o que o temporal levou
Foi tudo que deu pra guardar
Só Deus sabe o quanto se labutou
Custou mas depois veio a bonança
E agora é hora de agradecer
Pois quando tudo se perdeu
E a sorte desapareceu
Abaixo de Deus só ficou você¨

Serginho Merti &


Claudinho Guimarães
Dedico ao meu pai Antônio (in memorian) que emigrou para

este país como tantos portugueses. Pai e amigo que jamais me

abandonou.

Minha incentivadora, minha namorada, amiga, amante,


companheira e tão amada esposa Márcia.

Aos meus maravilhosos filhos meu filho Pedro Antônio e minha


filha Maria Antônia.
Agradecimento
Primeiro agradeço a Deus, que muito me ajuda e me deu a oportunidade de me
reinventar e alcançar este momento de realização, apesar muitos acreditarem que
este momento não chegaria, no entanto, ele está chegando. Fazendo uma analogia
com uma partida de futebol: começa aos 48 minutos do primeiro tempo e se encerra
aos 52 mim do segundo tempo. Iniciei esta graduação com 48 anos e a encerrarei aos
52 anos. Ao meu pai (in memorian) que me ensinou a sempre ser honesto, a minha
mãe que muito tem incentivado, com seu exemplo de superação, as minhas irmãs,
sobrinhos e demais parentes, é difícil agradecer sem correr o risco de desmerecer
alguém. Ao meu orientador professor Ms. Rubens da Mota Machado pela sua preciosa
orientação e paciência, a professora Ms. Livia Nascimento Monteiro, leitora critica
desta monografia, aos meus amigos e colegas que começaram a trilhar este caminho
comigo em 2014, com nossas discussões sobre as ADs e APs, aos tutores do CEDERJ
que sempre estiveram prontos a responder a qualquer dúvida, aos meus filhos, Pedro
Antônio pela paciência e pronta ajuda, a minha filha Maria Antônia que sempre
acreditou e incentivou, agradeço imensamente a minha esposa Márcia, que tem
segurado todos os problemas, para que eu consiga alcançar este sonho, te agradeço
muito, Márcia te amo.
Resumo

No século XVI, mais precisamente, entre os anos de 1555 a 1565, a Baía de


Guanabara foi palco da colonização francesa na América, este episódio ficou conhecido
na historiografia do Rio de Janeiro como França Antártica, empreendimento este
liderado pelo nobre almirante francês Nicolau Durand de Villegagnom. Os franceses,
no século XVI, iniciaram um processo de colonização em regiões pouco exploradas por
portugueses e espanhóis, no caso de Portugal já havia um conflito com a monarquia
francesa que não aceitava a divisão de terras do tratado de Tordesilhas, Portugal que já
navegava pelo litoral do Rio de Janeiro desde 1502, mas não demonstrava nenhum
interesse em fundar uma cidade na região, já que a mesma era geograficamente
acidentada e os Tamoios, que eram os habitantes nativos, não gostavam do tratamento
dispensado pelos portugueses. Devemos ressaltar que os principais locais da
colonização portuguesa estavam na Bahia, em Pernambuco e na capitania de São
Vicente.

O objetivo desta monografia é demonstrar que a fundação da cidade do Rio de Janeiro


se deve em grande parte ao receio de Portugal de perder seus domínios na América para
a França mais do que propriamente em colonizar a região de forma efetiva com
características econômicas e culturais de uma colônia portuguesa.
Abstract

In the age of XVI, more precisely, between the years of 1555 to 1565, the Bay of
Guanabara has been the stage of the French colonization in America, this period has
become known inside the historiography of Rio de Janeiro as Antarctic France, this
development was led by the noble French admiral Nicolau Durand de Villegagnom. The
French’s, in the age of XVI, had begun a process of colonization on regions that were
low explored by the Portuguese’s and the Spanish’s, in the case of Portugal , they
already had a conflict with the French monarchy that didn’t accepted the share of lands
of the Treaty of Tordesillas, Portugal that already sailed by the coast of Rio de Janeiro
in 1502, didn’t had shown interest in found a city in the region, as the same was
geographically rugged and the Tamoios, that were the native habitants, didn’t liked the
treatment played by the Portuguese’s. We should emphasize that the main colonization
areas were in Bahia, in Pernambuco and in the Capitany of São Vicente.

The objective of this monography is to demonstrate that the found of the city of Rio de
Janeiro it’s owned, most part of, because Portugal was afraid that they would lose their
territory in America to France, more than colonize the region with characteristics
economic and cultural of a Portugal colony.
Sumário

-Introdução...............................................................................P.01
-Capítulo I: Portugal e França..............................................P.08
-Capítulo II: Justificativa francesa para fundar uma colônia no
Brasil e como procedeu............................................................P.12
-Capitulo III: A ação e reação Portuguesa a ameaça
francesa.....................................................................................P.18
-Conclusão................................................................................P.26
-Fontes......................................................................................P.30
-Bibliografia.............................................................................P.33
1

1. Introdução
A presente monografia refere-se a pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso
II (TCC II).

Tem como objetivo analisar e compreender como a presença francesa no litoral


da região da baía de Guanabara, através da fundação da França Antártica, pelo nobre
almirante francês Nicolau Durand de Villegagnom (1514-1571), influenciou na decisão
de Portugal de fundar e colonizar a região da baía de Guanabara. Como nos relatam
historiadores como Capistrano de Abreu1, que nos relata que o Brasil por algum tempo
não sabia se era português ou francês, já que a presença francesa em nosso litoral era
constante. Devemos ressaltar que Capistrano de Abreu utiliza fontes do século XIX,
tendo já se passado mais de trezentos anos da colonização portuguesa quando de sua
análise. Capistrano de Abreu em sua obra “Capítulos de História Colonial”, já citava:

“Por que os tupinambás se aliaram constantemente aos franceses e os


portugueses tiveram a seu favor os tupiniquins, não consta na História, mas o
fato é incontestável e foi importante; durante anos ficou indeciso se o Brasil
ficaria pertencendo aos peró (portugueses) ou aos maïr (franceses) ´´ (ABREU,
1985, p.42).

Capistrano de Abreu, também relatou as aventuras francesas em terras da baía de


Guanabara, porém, o referido autor não se deteve na importância da colonização francesa para a
fundação da cidade do Rio de Janeiro, no entanto, suas impressões sobre a presença francesa
demonstram claramente a importância da colonização francesa para Portugal.

O historiador Francisco Adolfo de Varnhagen2(1816-1878) ao elaborar


sua obra “História do Brasil” escrita no século XIX nos relata que a França Antártica
seria formada por protestantes, configurando verdadeiro ares de combate santo a
fundação da cidade. As narrativas francesas mostravam que a colônia francesa abrigava
diferentes tendências religiosas, o que levou a conflitos internos, causando sua
desintegração.

1
ABREU, Capistrano de. Capítulos da História Colonial, tomo I – vol.1. São Paulo: DIFEL, 1985.
2
VARNHAGEN, Francisco Adolfo de, Visconde de Porto Seguro, Historia Geral do Brasil. 10. Ed. Belo
Horizonte – São Paulo, Itatiaia – EDUSP,1981. 3v
1

Segundo o historiador Francisco Cosentino3, Portugal já havia descoberto o


Brasil, mas os franceses se faziam presentes de forma constante e marcante em nosso
litoral principalmente, através da realização do escambo com os nativos, Cosentino
também fala de como os franceses e espanhóis andavam pelo litoral brasileiro devido à
pouca presença portuguesa, ele escreve:

“No início da segunda década do século XVI o litoral das terras do Brasil já era
conhecido dos portugueses. Entretanto, a presença eventual abriu espaço para a
frequência de franceses e espanhóis. Os franceses negociavam o pau tintorial da
terra e os castelhanos, na ausência de demarcação da linha de Tordesilhas,
regularmente transitavam a caminho do rio da Prata. ”

Com o propósito de entendermos o descrito acima, será feito um breve relato da


situação de Portugal e da França no século XVI.

Portugal no início do século XVI já era detentor de um próspero e consolidado


império ultramarino, após abrir o caminho para a Índia com o navegador Vasco da
Gama (1469-1524), criou uma rota alternativa para a chegada das especiarias a Europa,
fazendo com que esta nova rota influenciasse na economia do Mediterrâneo.

Entre os anos de 1505 e 1515, Portugal consolidou seu império ultramarino no


oceano Índico, com colônias em Goa, Ceilão, Malaca, postos na Índia, e mais as
conquistas na África com suas feitorias em vários destes territórios e o descobrimento
do Brasil em 1500. Portugal completou seu império ultramarino, um império mercantil
de abrangência mundial, como uma sociedade do Antigo Regime, controlada pela
aristocracia portuguesa que com esta expansão mercantil garantiu a manutenção de seus
privilégios.

Sergio Buarque de Holanda4 no seu livro “Raízes do Brasil” também nos fala do
método de colonização portuguesa, de seu estilo de colonização um tanto

3
COSENTINO, Francisco Carlos. ¨Construindo o Estado do Brasil: instituições, poderes locais e poderes
centrais¨. In: FRAGOSO, João Luís Ribeiro e GOUVÊA, Maria de Fátima (Orgs.). ¨O Brasil Colonial 1443-1580¨.
1. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014, volume 1, p. 521-586

4
HOLANDA, Sergio Buarque de &PANTALEÃO, Olga. ¨Franceses, holandeses e ingleses no Brasil
quinhentista¨. In: Holanda, Sergio Buarque de (org). ¨História geral da civilização brasileira: a época com¨, São
Paulo, 27 (1): 2008, p.98
2

descompromissado, mais voltado para o empreendimento capitalista do que o de tomar


posse da terra e efetivamente colonizar a mesma com hábitos e tradições portuguesas,
exemplo é que em 1503 na região de Cabo Frio os portugueses construíram uma
pequena feitoria que não passava de uma paliçada em torno de uma cabana com uma
pequena horta. O autor também nos fala sobre o modelo de colonização portuguesa, que
segundo ele é um modelo de colonização destinado somente à exploração comercial,
divergindo do modelo espanhol, ele nos informa em sua celebre obra “Raízes do Brasil”
como ocorria a colonização:

“Na América portuguesa, entretanto, a obra dos jesuítas foi uma rara e
milagrosa exceção. Ao lado do prodígio verdadeiramente monstruoso de
vontade e de inteligência que constituiu essa obra, e do que também aspirou a
ser a colonização espanhola, o empreendimento de Portugal parece tímido e mal
aparelhado para vencer. Comparado ao dos castelhanos em suas conquistas, o
esforço dos portugueses distingue-se principalmente pela predominância de seu
caráter de exploração comercial, repetindo assim o exemplo da colonização no
período histórico da Antiguidade, sobretudo da fenícia e da grega; os
castelhanos, ao contrário, querem fazer do país ocupado um prolongamento
orgânico do seu. ” (HOLANDA, 2008, p.98)

O historiador José Honório Rodrigues5, em seu livro História da História do


Brasil, chama atenção que o rei de Portugal, D. Manuel I (1469-1521), agia como um
autêntico capitalista da época e como o comércio com Portugal era regido pelo
monopólio exclusivo do Estado, Portugal se considerava detentor de todos os direitos
comerciais sobre as terras do Brasil, porém estes direitos não eram respeitados por
outras nações, que desejavam lucrar com as terras do novo mundo.

Uma destas poderosas nações era a França, que diferente, de Portugal, só


começou um processo de colonização e expansão territorial a partir da metade do século
XV, em áreas pouco exploradas por portugueses e espanhóis. A França na metade do
século XVI, começou a organizar expedições em direção as terras do novo mundo, a
mesma vinha da longa “Guerra dos Cem Anos”, a coroa francesa vivia em constante
desentendimento com a burguesia, haviam também constantes desentendimentos
religiosos, era uma nação com graves problemas internos, desta forma a coroa francesa

5
RODRIGUES, José Honório, História da História do Brasil,1913, São Paulo: Ed. Nacional. P.37.
3

passou a incentivar a pirataria, com a carta do corso. Havia um intenso tráfico de


troncos de árvores de pau-brasil, papagaios, plantas tropicais, estas mercadorias eram
trocadas, pelos marinheiros franceses, por bugigangas que agradavam aos nativos, estes
mesmos marinheiros eram muito amistosos com os nativos, inclusive em diversas
oportunidades se ofereciam como voluntários para viver entre os nativos, aprendendo
sua língua e costumes, esta intensa exploração proporcionava lucros fabulosos aos
comerciantes franceses, que incentivavam o saque das possessões portuguesas e
espanholas, este comércio irritava bastante aos portugueses.

A historiografia sobre o período nos relata que o monarca francês não aceitava e
nem concordava com a divisão imposta pelo Tratado de Tordesilhas, como nos relata
Frei Vicente de Salvador6 em seu livro História do Brasil: 1500-1627

“Também el-rei Francisco de França desejoso de ter parte nos grandes


proveitos, que diziam tirar-se destas terras, começou a arguir novas dúvidas
sobre a demarcação que entre si os reis de Portugal fizeram com os de Castela,
da qual ele se lançara de fora sendo requerido para isso, e agora sentia muito a
renúncia, que tinha feito. Donde se veio a dizer, que pelo desgosto, que tinha
destes dois reis de Portugal e Castela repartirem entre si o mundo, e o
demarcarem à sua vontade, consentia andarem os seus vassalos pelo mar tão
soltos, que não somente roubavam os navios, mas cometiam as ditas terras, e as
queriam povoar, principalmente as do Brasil, como adiante veremos. ”

Capistrano de Abreu e Adolfo Varnhagem também discorrem brevemente sobre


o assunto, relatando que o monarca francês respondeu ao tratado de Tordesilhas com
uma provocação declarando a política do “mar livre” ou mare liberum, o tratado de
Tordesilhas dividia entre Portugal e a Espanha as terras que fossem descobertas. É
atribuído ao Rei da França Francisco I (1494-1547) a célebre frase “o sol brilha para
todos e desconheço a cláusula do testamento de Adão que dividiu o mundo entre
portugueses e espanhóis”. No entanto, para o monarca francês as terras deviam
pertencer a quem as ocupasse primeiro, é interessante ressaltar que as potências
europeias não levavam em consideração que as terras já estavam habitadas.

6
FREI, Vicente do Salvador. História do Brasil. São Paulo; Rio de Janeiro: Weiszflog Irmãos, 1918. P.632
4

A historiadora Maria Fernanda Bicalho 7 demonstra que Portugal em claro


empreendimento capitalista terceirizou a colonização brasileira utilizando-se de sua
vassalagem.

A Coroa portuguesa, a princípio reagiu à presença dos navios franceses no litoral


brasileiro, organizando em 1516 e 1527 as chamadas “expedições guarda costas” com a
finalidade de percorrer a costa brasileira e expulsar os invasores, entretanto esta
presença eventual dos portugueses não foi suficiente para coibir a frequência com que
franceses e espanhóis navegavam e comercializavam pela costa brasileira. Mas como
nos relata a historiografia do período isso não foi o suficiente. Esta presença francesa,
despertou em Portugal o desejo e a necessidade de fundar uma cidade, e não de apenas
formar mais um povoado, como era de costume pelos portugueses, que formavam
povoados com a finalidade de apenas explorar comercialmente suas possessões.

Devemos ressaltar que na baía de Guanabara os portugueses não eram aceitos


pelos nativos, que reagiam ferozmente a sua presença, vale, também, ressaltar que a
baía de Guanabara já era conhecida pelos navegadores portugueses desde 1502, quando
foi explorada pela primeira vez pelo navegador português Gaspar de Lemos, porém
depois deste primeiro contato inicial a região permaneceu sem nenhuma importante
presença portuguesa, sem nenhum marco português de valor na região. Podemos
afirmar, mediante consulta e análise de vários documentos que Portugal não tinha
interesse em povoar ou mesmo explorar a região já que, a carta envida por Pero Vaz de
Caminha, que é marcada como a certidão de nascimento do Brasil, informava ao
monarca português que a terra era maravilhosa mas parecia desprovida de metais
preciosos, como relatava Caminha.

“Nella até agora não podemos saber que haja ouro nem prata, nem nem-uma
cousa de metal, nem de ferro, nem lho vimos; pero a terra em si é de muito bons
ares, assi frios e temperados como... ”

“...pero o melhor fructo que nella se póde fazer me parece que será salvar esta
gente, e esta deve ser a principal semente que vossa alteza em ella deve lançar; e
que hi não houvesse mais que ter aqui esta pousada pera esta navegação de
Calecut abastara; quanto mais disposição para nella cumprir e fazer o que vossa
alteza tanto deseja, a saber: accrescentamento da nossa Santa Fé. ”

7
BICALHO, Maria Fernanda B.¨ A França Antártica, o corso, a conquista e a “peçonha luterana”, 2008.
5

O navegador Américo Vespúcio também descreve suas primeiras impressões


sobre as novas terras ao monarca português:
“No meio da multidão de gentes e coisas novas, Vespúcio não perdeu a cabeça,
educada na frieza da mercatura... “Se eu me propusesse a contar as coisas que vi
nesta navegação”, escreve a Soderini, “não teria papel bastante; mas pode-se
dizer que nela não encontramos nada de proveito, exceto infinitas árvores de
pau-brasil, de canafístula, as de que se tira a mirra e outras mais maravilhas da
natureza, que seriam longas de referir...”.

Devido a estes informes o rei de Portugal vai procurar arrendar as terras, pois
não havia grande interesse na colonização de terras brasileiras. A capitania mais
próxima da futura cidade do Rio de Janeiro, e de maior prestigio era a de São Vicente,
que foi uma das capitanias hereditárias originais, tendo como seu primeiro donatário
Martim Afonso de Souza (1490-1564). O interesse português só vai surgir com a
presença francesa, como as cartas encontradas na obra de Joaquim Verissimo Serrão 8
demonstram.

A breve colonização francesa compreende o período que vai de 1555 a 1565, no


tempo em que existiu a conturbada colônia francesa, os franceses procuraram
estabelecer raízes econômicas e religiosas como é bem demonstrado pela historiografia
sobre o período, mas divergências religiosas e a falta de apoio econômico do Estado
europeu fizeram com que naufragasse a empreitada francesa. Aproveitando-se desta
situação conturbada, em 1560 o português Mem de Sá (1500-1572) vai expulsar os
franceses do forte Coligny, temporariamente, e seu sobrinho também português Estácio
de Sá (1520-1567) vai fundar a cidade do Rio de Janeiro em 1565, cidade que viria a se
tornar em outro período a capital do “Reino Unido de Portugal e dos Algarves”.
Entretanto, os franceses continuaram na região até 1567, quando são expulsos

8
SERRÃO. Joaquim Verissimo (org.). O Rio de Janeiro no século XVI; documentos de arquivos portugueses.
Lisboa, Edição da Comissão Nacional de Comemorações do IV centenário do Rio de Janeiro,1965. 2v.
6

definitivamente, como relatam os jesuítas Manuel da Nobrega9 (1517-1570) e José de


Anchieta10 (1534-1597).

9 NÓBREGA, Manuel da. Cartas do Brasil e mais Escritos do Padre Manuel da Nóbrega. Belo Horizonte:
Editora Itatiaia, 2000.

10 ANCHIETA, de José Anchieta, P. José de. Cartas, Informações, Fragmentos Históricos e Sermões. Belo

Horizonte, Itatiaia/São Paulo, EDUSP (Cartas Jesuíticas 3; Col. Reconquista do Brasil, 2a. série, vol. 149), 1988.
7

Capitulo I: Portugal e França

Portugal no século XVI era um Estado envolvido em conquistar e expandir seu


Império e comércio e a exaltação da fé católica, com a descoberta do caminho marítimo
para as Índias e o “achamento” do Brasil. Portugal se transformou na primeira nação
europeia a ter um império ultramarino. Para assegura seus domínios, Portugal construiu
fortalezas e feitorias na África, Japão e América, em meados do século XVI Portugal
mantinha mais de cinquenta feitorias na rota entre a África e o Japão, os portugueses
dominaram por quase um século o comércio ao longo do oceano Índico, transportando
para a Europa especiarias. Para isso tinha uma administração centralizada na figura de
seu monarca, possuía uma elite voltada para o comércio com outros Estados europeus e
com a expansão marítima. A cultura portuguesa do século XVI estava profundamente
influenciada pelo Renascimento, principalmente pelas ideias renascentistas da Itália,
Portugal também era um reino muito ligado a fé cristã, dando também um enorme
caráter religioso a sua expansão marítima, como podemos observar pela utilização do
símbolo da Ordem de Cristo, uma cruz dos templários vermelha e branca. A
colonização do Brasil também vai ser de grande importância para a Igreja, que desejava
expandir a fé católica para as novas terras. Portugal praticava uma colonização de
exploração comercial, que já havia dado resultados em outras colônias, instalavam
pequenos povoados, com pouquíssima infraestrutura como nos relatam alguns autores,
como Francisco Carlos Cosentino.

“No início da segunda década do século XVI o litoral das terras do Brasil já era
conhecido dos portugueses. Entretanto, a presença eventual abriu espaço para a
frequência de franceses e espanhóis. Os franceses negociavam o pau tintorial da
terra e os castelhanos, na ausência de demarcação da linha de Tordesilhas,
regularmente transitavam a caminho do rio da Prata. ”

O monarca português D. Manuel a princípio não se interessou em colonizar a


região, pois ainda era muito mais interessante o comércio com as Índias, as informações
enviadas ao rei de Portugal davam conta de vastas matas do pau-brasil, mas esta riqueza
de forma alguma superava os lucros obtidos com o comércio de especiarias com o
Oriente. Portugal se limitava as expedições de reconhecimento, pois foi informado que
não havia indícios de metais preciosos, preferindo concentrar seus esforços no lucrativo
comércio com as Índias, ainda assim a Coroa portuguesa organizou duas expedições, em
1501 e 1503 comandadas por Gonçalo Coelho (1451-1512), tinham por objetivo
8

explorar as novas terras, e por onde passaram deram nome aos acidentes geográficos
que avistaram.

Na expedição de 1503, os portugueses construíram uma feitoria em Cabo Frio,


no atual estado do Rio de Janeiro, a feitoria nada mais era que uma paliçada erguida em
torno de uma cabana, uma pequena horta, até 1504, outras três feitorias foram erguidas
nos atuais estados do Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia. Essas feitorias eram
utilizadas para a proteção territorial e também para armazenar a única fonte comercial
que de imediato interessou aos portugueses: o pau-brasil, a descoberta do pau-brasil na
América foi uma ótima notícia para Portugal, pois sua exploração se tornaria a principal
atividade econômica dos portugueses na região até 1530. A coroa portuguesa declarou o
monopólio do pau brasil não permitindo a exploração sem prévia autorização ou
pagamento de tributos por essa exploração, mas essa cobiçada matéria-prima, também
se tornou fonte de cobiça de outras nações, como os espanhóis, ingleses e franceses.
Devemos ressaltar que neste período as Américas encontravam-se divididas entre
espanhóis e portugueses pelo tratado de Tordesilhas, tratado este que era reconhecido
pela Igreja e pelo papa, porém não era respeitado pelas nações poderosas da época.

Ainda assim nos primeiros trinta anos do domínio português no Brasil não havia
nenhum plano de colonização efetiva, os portugueses utilizavam a mão de obra indígena
para fazer a extração predatória do pau-brasil, praticavam o escambo como forma de
comercio com os nativos através dos agentes da Coroa metropolitana, e com estes
agentes também vinham as missões catequizadoras das populações nativas.

As ações de caráter militar, conhecidas como “expedições guarda costas”,


tinham como finalidade garantir o controle do território e a submissão das populações
indígenas. É sabido que no caso do Brasil, o que motivou as ações conquistadoras foi o
desejo de enfrentar as resistências indígenas, a implantação da economia açucareira,
inviabilizar a atividade de corsários, principalmente os franceses, que se aproveitando
da escassa colonização inicial portuguesa, procurou estreitar relacionamentos
proveitosos com grupos indígenas da costa, essas ações francesas possuíam interesses
coloniais e geopolíticos na região, Portugal só mantinha relações com a França através
de tratados comerciais, e também discussões sobre os resultados provocados pela
atividade do corso na costa brasileira.
9

O autor J. Pandiá Calógeras 11em seu livro Formação histórica do Brasil (1930),
relata as disputas diplomáticas entre a Coroa portuguesa e a francesa sobra as atividades
dos comerciantes franceses ele observa ““[...] os meios próprios [...] de enfrentar a
contenda consistiram em fixar ao longo da costa atlântica núcleos permanentes de
população” (CALÓGERAS, 1980, p. 6), acrescenta: “[...] restavam por descobrir-se os
meios e modos de utilizar a colônia econômica e defensivamente”. Para tanto, ter-se-ia
adotado método análogo ao das ilhas do Atlântico (CALÓGERAS, 1980, p.8).

Portugal nesse período tinha como seu principal foco de política externa as
alianças com a Espanha, eram alianças sanguíneas, tratados comerciais e marítimos,
porém com o conhecimento progressivo do Brasil, das riquezas e das possibilidades que
a colonização poderia proporcionar a Portugal deu-se início a colonização.

O que levou a fundação da cidade do Rio de Janeiro foi exatamente, o novo


desejo de colonização de Portugal e da empresa colonial francesa, que se mostrava bem
próspera, pois a mesma precedeu a presença portuguesa na região da baia de Guanabara,
ou seja, a tentativa de ocupação francesa nesta região.

Neste capítulo também discorro, brevemente, sobre a situação da França no


momento do projeto colonial conhecido como França Antártica, seu projeto de
colonização, diferente de Portugal se iniciou tardiamente. A França era um país
dividido por desavenças religiosas e políticas, estes problemas atrasaram a sua presença
efetiva no Novo Mundo, estas disputas retardaram a formação do Estado Absolutista e,
portanto, dificultaram o desenvolvimento capitalista da França.

O processo de colonização exercido pelos franceses só teve início a partir da


metade do século XVI, a participação da França na colonização do continente
americano aconteceu tardiamente em relação as nações ibéricas. Este atraso é
comumente ligado à falta de interesse do próprio Estado em empreender um programa
de expansão marítima e os constantes desentendimentos entre a Coroa e a classe
burguesa, estes desentendimentos envolveram os interesses da nobreza e o alto clero,
controladores da burocracia do Estado e do outro lado, os interesses dos novos grupos
burgueses que passaram a defender a teoria calvinista e tinham interesse em se opor a
facção real e ficaram conhecidas como “Guerras de Religião”. Deste modo as lutas

11 CALÓGERAS, J. Pandiá. Formação histórica do Brasil. 8. Ed. São Paulo: Nacional,1980


10

internas na França ao longo do século XVI paralisaram ou comprometeram o processo


de expansão/colonização na América como podemos perceber pelo episódio de
colonização relacionado a baía de Guanabara. Durante o século XVI, os franceses
organizaram algumas expedições que tinham como objetivo a América: a maioria das
expedições era composta de piratas e corsários - a pirataria reconhecida pela carta do
corso- dedicando-se ao ataque e ao saque das possessões luso-espanholas.

O historiador Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-1878) ao elaborar sua obra


“História do Brasil”, escrita no século XIX, nos relata sobre uma França Antártica
formada por protestantes, sugerindo que o enfrentamento tinha conotação de “guerra
santa” na fundação da cidade do Rio de Janeiro. As narrativas francesas mostravam que
a colônia francesa abrigava diferentes tendências religiosas, o que levou a conflitos
internos, causando sua desintegração.

Outros caracterizam a colonização francesa como um empreendimento


econômico particular, outros ainda procuram caracterizar a França Antártica como um
sentido religioso - tendo em vista a disputa religiosa na França entre católicos e os
protestantes franceses, conhecidos por huguenotes, - e alguns que viam esta colonização
pelo viés mercantil a qual almejava a exploração e ocupação definitiva destas terras,
pois o monarca francês acreditava no sucesso do empreendimento, devido ao
conhecimento dos marinheiros franceses sobre o litoral brasileiro e as relações cordiais
que mantinham com os índios.

Em 1555, a primeira tentativa de ocupação colonial francesa atingiu a costa


brasileira, mais precisamente na baia de Guanabara. Nesta região criaram a chamada
França Antártica, onde vários calvinistas franceses, alguns poucos católicos, e alguns
criminosos recrutados nas prisões francesas, estabeleceram relações amistosas com a
população nativa, empreendendo a extração de madeira. Ao mesmo tempo, tinham
interesse em fundar uma base naval fortemente armada que iria garantir os interesses
franceses na região.
11

Capitulo II: Justificativa francesa para fundar uma colônia no


Brasil e como procedeu.

Como já relatamos acima, a França começou tardiamente seu processo de


expansão e colonização no Atlântico, Francisco I, monarca francês, não aceitava e nem
concordava com a divisão imposta pelo Tratado de Tordesilhas. O monarca francês
respondeu ao tratado com uma provocação declarando a política do “mar livre” ou mare
liberum, o tratado dividia entre Portugal e a Espanha as terras que fossem descobertas.
No entanto, para o monarca francês as terras deviam pertencer a quem as ocupassem
primeiro, é interessante ressaltar que as potências europeias não levavam em
consideração que as terras já estavam habitadas. O monarca francês incentivou a prática
do corso contra as embarcações portuguesas, demonstrando que o corso era um
empreendimento planejado pelas monarquias em um claro movimento de guerra naval,
visto que a França não conseguia competir no campo marítimo com Portugal, que já
possuía vasta experiência em navegação oceânica. Desta forma podemos afirmar que os
franceses não descobriram o Brasil, mas estiveram por aqui desde o início do século
XVI.

Os marinheiros franceses frequentavam a costa do Brasil desde o descobrimento,


os comerciantes franceses buscavam se inserir no comércio de especiarias, procuravam
negociar com as populações indígenas nas costas norte e sul do Brasil, estabelecendo
pequenas bases, que logo eram destruídas pelos portugueses, uma das regiões mais
importantes para esse comércio francês era Cabo Frio, onde o contato com grupos
indígenas tornou-se constante, intenso e amistoso, pois os indígenas acreditavam que os
franceses não representavam uma ameaça para a terra, na medida em que não tinham o
desejo de ocupa-la e ao mesmo tempo obtinham instrumentos úteis para a caça ou a
guerra contra outras tribos. Neste período muitos franceses perseguidos em sua pátria,
foram deixados, largados no Brasil, viveram entre os indígenas e aprenderam a língua e
se tornaram interpretes, facilitando esse relacionamento com os indígenas. Essa situação
seria de grande importância para explicar, a organização da Confederação do Tamoios,
que apoiou os franceses na luta contra os portugueses

Os lusitanos tinham muita dificuldade em fazer valer o monopólio imposto pelo


Tratado de Tordesilhas, visto que o tráfico de mercadorias foi muito importante durante
a primeira metade do século XVI.
12

Travando diálogo com Francisco Carlos Cosentino, o mesmo também fala de


como os franceses e espanhóis andavam pelo litoral brasileiro devido à pouca presença
portuguesa, ele escreve:

“No início da segunda década do século XVI o litoral das terras do Brasil já era
conhecido dos portugueses. Entretanto, a presença eventual abriu espaço para a
frequência de franceses e espanhóis. Os franceses negociavam o pau tintorial da
terra e os castelhanos, na ausência de demarcação da linha de Tordesilhas,
regularmente transitavam a caminho do rio da Prata. ”

Sergio Buarque de Holanda, em seu livro “Franceses, holandeses e ingleses no


Brasil quinhentista” também, nos relata que a presença de franceses na costa brasileira
não era novidade, pois o mesmo afirma que na primeira metade do século XVI é
registrada a presença dos franceses “desde a boca do Amazonas até a costa catarinense”.

Maria Fernanda B. Bicalho, também, fala sobre a presença francesa no litoral


brasileiro, no seu artigo “França Antártica, o corso, a conquista e a “peçonha luterana” ”
, utilizando para isto as disputas luso-francesas no Atlântico, disputas que aconteciam
segundo a historiografia através do escambo praticado pelos franceses com os nativos,
os franceses também praticavam o corso, com as bênçãos do seu governante. A autora
utiliza em sua análise correspondências do governador geral da época, Tomé de Souza,
onde o mesmo relata suas visitas as vilas e povoações que se encontravam na costa
brasileira e a atuação dos franceses, pedindo precauções ao monarca português.

O historiador britânico Robert Southey12 (1774-1843) ao escrever sua obra


“História do Brasil” narra a chegada, o tráfico com as tribos indígenas e a instalação dos
franceses no local da futura cidade do Rio de Janeiro, onde o mesmo relata que houve
um planejamento para esta colonização:

“Após longa e penosa navegação entrou Villegagnon no Rio de Janeiro; bem


combinado havia sido o plano da expedição, o lugar bem acolhido, e hostis aos
portugueses e dispostas a favor dos franceses, com quem muitos já traficavam,
as tribos indígenas. ” ¨ (SOUTHEY, 1965, p.273)

Southey demonstra em seu texto que os franceses, inteligentemente, usavam as


hostilidades indígenas contra os portugueses, tornando assim a colonização mais fácil.

12
SOUTHEY, Robert, ¨História do Brasil¨. 3ª Ed., Vol.1, São Paulo: Obelisco, 1965, p.273
13

Dialogando também com a autora Ana Arruda Callado13 e com o seu


interessante artigo “História e ficção na França Antártica”, a autora nos relata como é
difícil separar a história da ficção no caso da França Antártica, inclusive citando como
exemplo a obra de Andre Thevet, pois os documentos da época são produzidos de
acordo com os interessados em sua produção, que selecionam os elementos que lhes
interessa, e que os assuntos referentes a França Antártica não são de fácil manuseio.

“A dificuldade de separar história e ficção. Lembrando o seminário, realizado


neste mesmo Museu Histórico Nacional, sobre "A história é outra estória". A
chuva ácida de Léry e o animal que vive de vento, de Thevet. A própria teoria
de bom selvagem como prova da visão fantasiosa dos cronistas da França
Antártica. As belas biografias ficcionais de Serge Elmalan e Chermont de Britto
e a cuidadosa biografia não ficcional de Vasco Mariz. Quando o que importa é a
versão e não o fato. ” (CALLADO,2008, p.1)

É consenso na historiografia que o livro de Andre Thevet14 é um ponto de


partida para os primeiros estudos brasilianistas, ao narrar suas aventuras com
Villegagnon por terras brasileiras, ao escrever sua obra “As Singularidades da França
Antártica”.

Thevet não fala que os franceses invadiram o Brasil, também não fala sobre a
expulsão dos franceses, a impressão que temos é que os franceses simplesmente se
apossaram de terras abandonadas. Quando revisitamos seu livro nos parece mais um
episódio de aventura rocambolesca, envolvendo aventuras, pirataria, lutas religiosas e
diplomáticas, o autor faz também referências de passagem a portugueses e espanhóis,
porém em nenhum momento seus relatos podem ser desmerecidos.

Ao prosseguir com nossa pesquisa também podemos citar o interessante artigo


de Ronald José Raminelli15 sobre as peculiaridades do texto de André Thevet com seu
artigo intitulado “Escritos, Imagens e Artefatos: ou a viagem de Thevet à França
Antártica”:

“Por meio de escritos, imagens e artefatos, frei André Thevet, cosmógrafo do


rei da França, recriava plantas, animais, povos e geografia do Novo Mundo. Os
recursos gráficos e as coleções permitiam-no mobilizar informações, comprovar

13
CALLADO, Ana Arruda, ¨História e Ficção na França Antártica¨, HISTÓRIA, São Paulo, 27 (1): 2008, p. 1
14
THEVET, André, 1502-1590. ¨As singularidades da França Antártica¨/André Thevet, 1978.
15
RAMINELLI, Ronald José, ¨Escritos, imagens e artefatos: ou a viagem de Thevet à França Antártica¨.
História[online]. 2008, Vol.27, n.1, pp.195-212
14

seus registros escritos e, por certo, disponibilizar esses dados ao rei, nobres e
demais curiosos. Os avanços da imprensa tornaram possível o conhecimento
sobre mundos distantes, saber que atingia, cada vez mais, um público mais
vasto, enquanto as coleções permaneceram restritas ao circuito aristocrático.
Pretende-se, portanto, investigar os “elementos americanos” escolhidos e
recolhidos por Thevet para testemunhar sua viagem e torná-la presente, ou
representada, para seus contemporâneos. ” (RAMINELLI, 2008, p.01)

Ao monarca francês, Francisco I, é atribuída uma inteligente e insolente frase “o


sol brilha para mim assim como para todos os outros: o que eu gostaria era de ver a
cláusula do Testamento de Adão que me exclui da divisão do mundo”. Desta forma o
monarca apoia as pretensões de seus súditos sobre o direito de colonizar e comerciar
pelo Atlântico, chegando mesmo a conseguir do papa Clemente VII (1478-1534) 219º
Papa da Igreja Católica, uma interpretação mais compatível com seus interesses em
relação ao Tratado de Tordesilhas, admitindo que a divisão do mundo assinada em 1494
se vincula apenas as terras então conhecidas e não as terras posteriormente descobertas
por Portugal e Espanha.

Sérgio Buarque de Holanda em seu livro: “História Geral da Civilização


Brasileira- Tomo I: A época colonial- do descobrimento à expansão territorial” nos
recorda e afirma que a presença francesa na região da Guanabara data de antes da
chegada de Pedro Alvares Cabral, assim demonstrando que os franceses já
desenvolviam relações comerciais, se é que podemos falar assim, com os indígenas
brasileiros.

Porém é outro monarca francês, Henrique II (1519-1559), que vai incentivar a


colonização do Brasil por seus súditos, como já relatamos os franceses já faziam tráfico,
segundo os portugueses, de pau-brasil, papagaios, macacos e outros animais exóticos, é
em 1550 na cidade de Rouen que comerciantes franceses promovem uma festa com
temática brasileira, que incluía nativos brasileiros para homenagear o novo monarca
francês e sua esposa Catarina de Médici. Nesse mesmo período, a França sofria com
intensos conflitos entre católicos e protestantes. Fugindo das perseguições religiosas,
um grupo de protestantes franceses, liderados pelo almirante Coligny, que possuía
grande prestígio junto ao monarca francês e desejava um refúgio seguro para seus
companheiros huguenotes que haviam caído em desgraça. Henrique II resolveu investir
na montagem de uma colônia de protestantes (huguenotes) em terras brasileiras, em
15

1555 uma expedição parte do porto de Le Havre com o objetivo de construir um


estabelecimento francês no Brasil, que ficou conhecido como França Antártica, este
empreendimento era liderado por Nicolas Durand de Villegagnon, que partiu da França
com 600 pessoas constituída de católicos, protestantes (huguenotes) e alguns criminosos
recrutados das prisões francesas, pois como precisava de uma tripulação e dispondo de
poucos recursos para contratar bons marinheiros, ao mesmo tempo em que não era fácil
encontrar quem estivesse disposto a encarar tal empreitada. Villegagnon percorria as
várias prisões francesas prometendo liberdade aos que aceitassem fazer parte da viagem,
um estratagema que também era usado por portugueses e espanhóis que desejavam
esvaziar suas prisões.

Talvez devido a contratação desses presos para fazer parte da tripulação e dos
colonos que seguiram na expedição, ou quem sabe pela precariedade das instalações, da
quantidade de trabalho e da severidade de Villegagnon, o almirante francês teve alguns
problemas disciplinares com seus comandados, pois fazia algumas exigências aos
franceses – como o casamento forçado com as nativas – não foram atendidas por alguns
de seus subordinados, vários destes subordinados fugiram para as matas e passaram a
viver com os nativos.

Paulo Knauss16 em seu trabalho intitulado “No Rascunho do Novo Mundo: os


espaços e os personagens da França Antártica”, trata dos conflitos entre os franceses que
levaram a desestruturação do empreendimento francês, não buscando os motivos que
levaram Portugal a empreender uma eficiente colonização do território da baía de
Guanabara.

“Entre 1555 e 1560, os acontecimentos em torno da ocupação francesa na baía


de Guanabara entrelaçaram diferentes fatos que caracterizam a historicidade da
empresa colonizadora, demarcando o evento como expressão do seu tempo.
Desse modo, destaca-se a liderança do comandante Nicolas Durand de
Vilegagnon, cavaleiro da Ordem Malta, com voto de castidade e pobreza, assim
como chama a atenção a participação de protestantes franceses, conhecidos
como huguenotes. As disputas religiosas europeias transferiram-se para as terras
do Brasil, instalando-se na Guanabara. A França Antártica representou um
exercício de construção do mundo colonial, e as querelas que a envolveram

16KNAUSS, Paulo. ¨No rascunho do Novo Mundo: os espaços e os personagens da França Antártica¨. História
vol.27 no.1 Franca 2008
16

permitem identificar diferentes projetos que rascunharam o Novo Mundo.”


(KNAUSS, 2008, p.26).

Desta forma a tarefa de comandar a implantação da colônia França Antártica,


esta colônia francesa na América do Sul coube ao Almirante Nicola Durand de
Villegagnon. Em novembro de 1555, Villegagnon chegou a baía de Guanabara com
cerca de 600 colonos, entre protestantes e católicos e, como quase todas as expedições,
com populações de colonos alguns criminosos recrutados. Vieram também o frade
André Thevet (1502-1590) e o pastor protestante Jean de Lery 17 (1536-1613), que mais
tarde escreveriam o que viram nas novas terras, estabeleceram-se em uma pequena ilha
chamada pelos nativos de Serijipe (atual ilha de Villegagnon), em alguns meses
Villegagnon solicitou ao rei Henrique II o aumento do efetivo de três a quatro mil
soldados profissionais, operários para ajudar nas construções e algumas mulheres para
casar com os franceses que aqui viviam. Nesta região viviam os índios Tamoios, que,
havia já alguns anos, comercializavam com os franceses e eram contrários a presença
portuguesa na região, a nova colônia recebeu o nome de França Antártica, diante da ilha
Villegagnon iniciou a construção do povoado de Henriville, que ganhou esse nome em
homenagem ao rei francês, no local foram erguidas casas e uma olaria.

17 LÉRY, Jean de. Viagem à terra do Brasil. Tradução integral e notas de Sergio Milliet. Biblioteca do Exército

Editora, 1961.
17

Capitulo III: A ação e reação Portuguesa a ameaça francesa.

A região geográfica, que a cidade do Rio de Janeiro ocupa atualmente, foi


descoberta no dia 1° de Janeiro de 1502 por uma expedição portuguesa comandada por
Gaspar de Lemos, que acreditou ter chegado à foz de um grande rio. Batizando, assim, a
baía com o nome de Rio de Janeiro, porém, a cidade só vai ser fundada em 1° de março
de 1565, após a expulsão dos franceses.

Existem diversos relatos de viagens, aventuras, piratarias, aves exóticas, fauna


exuberante, descrição sobre os habitantes, sua exuberância e sua selvageria, descrições
de que o relacionamento com os franceses era amigável, já com os portugueses os
habitantes não eram de fácil trato, os portugueses consideravam os nativos selvagens. O
número de literatura que aborda de forma não ficcional a importância da França
Antártica para a fundação da cidade do Rio de Janeiro não é grande.

Como já observamos nos primeiros anos da colonização do Brasil, os


portugueses praticavam uma colonização de exploração comercial, na qual já tinham
obtido sucesso em suas colônias, construíam pequenos povoados com pouquíssima
infraestrutura. Devido as notícias que recebeu sobre as novas terras, o monarca
português não demonstrava, e também não possuía recursos financeiros e nem recursos
humanos, para iniciar uma efetiva colonização, pois Portugal na década de 1520 passava
por sérios problemas financeiros com a perda do monopólio do comércio de especiarias.

Por volta de 1530, Portugal envia ao Brasil sua primeira expedição colonizadora
sob o comando de Martin Afonso de Souza, esta expedição visava o povoamento e a
defesa da nova terra, somente no ano de 1534, o rei D. João, terceirizou a colonização
do Brasil, criando as capitanias donatárias, sendo que a baía de Guanabara pertencia a
Capitania de São Vicente, seriam necessários mais trinta anos para a fundação do Rio de
Janeiro.

Como consta na historiografia da fundação da cidade de São Sebastião do Rio de


Janeiro, através dos autores como André Thevet, Jean Lery, Francisco Adolfo de
Varnhagen, Capistrano de Abreu, José de Anchieta, Manuel da Nobrega, Joaquim
Verissimo de Serrão, podemos ver que a mesma foi fundada por Estácio de Sá no dia 1º
de março de 1565. O objetivo da fundação da cidade foi a expulsão dos franceses, que já
se encontravam no local há dez anos.
18

Os portugueses na época procuraram dar a fundação da cidade do Rio de Janeiro


um cunho de Cruzada contra os infiéis franceses, atribuindo a batalha que ocorreu antes
da fundação da cidade a participação de São Sebastião, ou seja, este evento seria uma
guerra santa.

Mesmo antes da fundação da França Antártica pelos franceses, Portugal já vinha


travando conflitos diplomáticos com a França, devido ao Tratado de Tordesilhas e dos
constantes ataques de navios de corsários franceses as caravelas portuguesas, as relações
entre os dois países foram intensas devido ao quadro geopolítico europeu, então
dominado pelo conflito do quadro expansionista português, visto que durante o reinado
de Francisco I se intensificou a prática do corso, que colidia com os interesses
portugueses provocando tensões entre os dois reinos.

Os portugueses já tinham preocupações com os corsários franceses como


podemos perceber em trecho da carta de Diogo Gouveia, Reitor em Paris e agente
diplomático de D. Manuel, entre 1512 e 1521, sendo representante dos proprietários de
navios junto ao rei da França, como consta no livro de Ivan Alves Filho18, “Brasil, 500
anos em documento. ”

“Senhor, Eu escrevi a Sua Alteza acerca desses franceses que foram presos no
Brasil em o verão passado, como estando eu aqui por Todos-os-Santos, o
almirante me mandara chamar que era vindo antes que o rei (aqui) viesse
estranhando muito este negócio e muito mais a morte de um Pero Serpa, grande
piloto e mestre da nau destes presos, dizendo-me que escrevesse a Vossa Alteza
e a D. Antonio que bastara tomar-lhe o seu, mas por que eles não furtaram
senão que resgataram da sua grande mercadoria (sic) e forçá-los e tê-los presos,
que eram coisas e itens, sem cólera. Porém, no fim me disse que assim Vossa
Alteza queria proceder que cumpriria ir por outra via. Eu já por muitas vezes lhe
escrevi o que me parecia deste negócio e que este já agora não era o acertar, que
a primeira devera ser isto, que a verdade era dar, senhor, as terras a vossos
vassalos [...]” (ALVES FILHO, 1999, p. 41).

D. Manuel, em 1516, envia o navegador Cristóvão Jacques para patrulhar a costa


brasileira, ficaram conhecidas como expedições guarda costa, para desestimular os
corsários franceses em suas incursões pelo Atlântico, conseguiu aprisionar vários

18
FILHO, Ivan. Brasil ALVES, 500 anos em documentos. Rio de Janeiro. Mauad, 1999.
19

franceses no rio da Prata, era conhecido pela violência com que tratava os corsários,
destruía suas embarcações e confiscava suas cargas, mandava os prisioneiros para
Portugal ou os executava.

Sérgio Buarque de Holanda em seu livro “História Geral da civilização


Brasileira” apresenta o empreendimento francês na baia de Guanabara em conjunto com
outras ameaças externas, como pode ser percebido em sua obra ele apresenta uma
sucessão de eventos nos quais também aparece a França Antártica:

“Já se assinalou, em capítulo precedente que o início da colonização portuguesa


do Brasil foi em grande parte determinado pelo empenho da coroa Lusitana em
sustar a atividade dos entrelopos e corsários da Bretanha ou da Normandia,
prejudiciais ao seu monopólio. Antecedendo tanto aos ingleses quanto aos
holandeses em suas investidas sobre o nosso litoral, não se limitam eles, como
os primeiros, à prática da pirataria e do contrabando. Em mais de uma ocasião,
conseguem pôr pé firme na costa do Brasil, contando para isso com a fidelidade,
que souberam captar, das tribos tupinambás, de sorte que pouco lhes faltou para
nela se fixarem definitivamente” (HOLANDA,1960, 1 vols. p, 98)

Em 1532, navios portugueses que aportaram em Málaga para reabastecimento,


desconfiaram do navio francês “Peregrina”, aprisionaram o mesmo e descobriram em
seu interior uma grande quantidade de produtos contrabandeados do Brasil. Entre 1534
e 1536, o rei de Portugal dividiu o Brasil em “donatárias” ou “capitanias”, como a alta
nobreza não se interessou em receber estas terras, o rei dividiu estas terras entre sete
conquistadores que lutaram nas Índias e África, quatro funcionários graduados, e um
militar, Pero Gois que é um dos donatários que escreve carta a D.Manuel relatando e
pedindo providencias sobre a presença francesa no Brasil.

O historiador Joaquim Verissimo Serrão em seu livro “O Rio de Janeiro no


século XVI”, reuniu diversos documentos históricos em que podemos ler cartas que
relatam diversos encontros de portugueses com franceses no litoral brasileiro, um
exemplo é a carta de Pedro de Gois a D. João III com notícias do Brasil e referindo-se a
um combate que travou com um galeão francês, encontrado na baia de Cabo Frio, carta
esta datada de 28 de setembro de 1551. Devemos ressaltar que Serrão utilizou como
20

fonte o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Corpo Cronológico, sendo as mesmas


publicadas no livro História da Colonização Portuguesa do Brasil.

“..., amanheceo me dentro no Rio sem ver nenhuma nao como todo soube
dos Ymdios como na Baya de Cabo Frio estava hüa não grande carregada,
detriminei me lloguo ir buscalla say lloguo o mesmo dia fora da nao que poderia
aver onde estava vynte llegos nam ssey porque mas llogo na primeira noute se
perdeo de mim há milhor caravela que llevava e da milhor gente que era omde
hya Christovam Cabral hum capitão provedor mor com todos os seus
oficiaes......

....corry toda a Baya Fremosa que he a do Cabo Frio e as ate a do Sallvador sem
aver nada mas ja no cabo dela ouve vysta de hum gualleão framces muito
grande pasamte de duzentos toneis o quoall estava surto amtre hä ilhota e a terra
firme em sima de muitos baixos ha roda dele...”(SERRÃO, p.192)

Serrão também apresenta uma carta do governador Tomé de Sousa ao rei D.João
III com notícias várias e referência aos corsários franceses no Rio de Janeiro, datada de
18 de julho de 1551:

“...Pêro de Guoees a jda daqui pera São Vicente nom topou não Algüa de
cosayros e depois de poer o provedor moor e o ouvidor geral em São Vicente
pera usarem de seus officios se apercebeo o milhor que pode e de mais gente da
terra he tornou outra vez a correr a costa ate o rio de janeiro que he aguora a
mayor escala de cosayros e nom achou cosayro algum. E topou entre os índios
dous franceses hum grande linguoa e outro ffereyro brasil pera quando tornasse
a não que ali os deyxara os ouve a mão per suas industrias que as sabe melhor
que ninguém ...

Daqui por diante se ffara o que V. A. mandar e tornou-se a São Vicençe a tomar
os officiaes pera se tornar a esta cidade e tornando da vynda outra vez a entrar
no Rio de Janeiro topou ahi nova que no Cabo Frio que são da hij dezoyto
léguas estava hua nao de cosayros franceses, trazia o capitão moor duas
caravellas e hum bragantim partiu se pera ir pelejar com ella e acertou hüa das
caravellas de que era capitão Christovan Cabral de se apartar nestas xbij legoas
de seu capitam ffoy a demandar Pêro de Guoes com a sua caravela e com o
bragantim e pelejou com a nao dous dias e meo que estava ella apercebida de
gente e artilharia...”(SERRÃO, p.194).
21

O documento continua relatando fatos com interesse para a história do Brasil,


mas não sobre o Rio de Janeiro, desta forma não procederei sua total transcrição,
podendo o leitor que se interessar observar as fontes indicadas.

Vou transcrever aqui uma carta de Francisco Portocarrero datada de 20 de abril


de 1555 para D. João III, também sobre a presença de corsários no Rio de Janeiro, como
podemos perceber sete meses antes da fundação da França Antártica.

“Senhor- os dias passados por vya de Pernãobuquo escrevy a V. A. dando-lhe


conta como me mandava a esta terá com ho governador Dom Duarte da Costa
pera o nela servir no carguo de capytão mor e que até então não sayra nunqua
fora desta cidade avendo muitos franceses polla costa e roubando barquoas e
navios.s.hua nao nos Petiguares sem gemte e a rezão era por a gemte da terra ter
fomes e os propios franceses vão colher ho brazyll ao mais quinze e vinte
leguoas pola terá demtro ficando a nao somente com seis ou sete pessoas
nãos,... E tão bem no arrecife de Dom Rodrigo carregarão duas naos e no porto
dos framceses disse carregarão três esto soubemos por pessoas que as vyrão e
de dentro desta Baya lhes vay resguate porque este ano vyerão as suas pataxas a
Tutupera que é doze leguoas desta Baya e pedindo lheu como asima tenho dito
os navios poes que estavão follguando e fazendo gasto a V. A. sem lhe fazer
nenhum serviço somente...” (SERRÃO, p.201-202)

Prosseguindo com as cartas sobre a situação da colonização francesa no Rio de


Janeiro, chegamos ao ano de 1560, momento em que após a morte de D. João III,
assumiu o trono como regente a sua esposa Catarina da Áustria, visto que o herdeiro do
trono português D. Sebastião era apenas uma criança em uma das cartas, Mem de Sá
informa ter vencido a batalha contra os franceses tomando o forte da ilha de
Villegagnom, discorrendo que houve um forte cerco e que ocorreram outras duas
batalhas contra os Tupinambás. Informa ainda que os colonos pleiteavam a sua
majestade o envio de mais homens e a necessidade da fundação de uma cidade no Rio
de Janeiro, os relatos tratam o conflito como uma ameaça ao Império português, carta
datada de 31 de março de 1560.

“Agora o vi quando corri a costa: porto seguro esta para se despouoar por causa
do capitao: os ilheos, se lhe nao acudira, ouuerase de perder e ouueraõ de matar
o capitão: No espirito Santo estão tres filhos de Vasco Fernandez Coutinho,
moços sem barbas e todos saõ capitães; os de Saõ Vicente estaõ casi
22

aleuantados. Se V. A. quer o Brasil pouoavo he necesareo ter outra ordem nos


capitaes como jaa escrevi.” (SERRÃO, p.210-211)

Observamos que com a recente expulsão dos franceses Mem de Sá sentiu-se


estimulado a fazer novos requerimentos a coroa com o propósito de ocupar as terras do
Brasil e do Rio de Janeiro, nesta carta Mem de Sá fala da tomada do forte de Coligny no
Rio de Janeiro, carta datada de 17 de junho de 1560, vou citar somente o último
parágrafo:

“Polo que me parece muito serviço de V. A. mandar pouoar este Rio de Janeiro
para segurança de todo Brasil e desttoutros maos pensamēntos porque se os
franceses o tornaraõ a povoar ei medo que seja verdade o que o Vila ganhaõ
dizia que todo o poder d’Espanha nem do gram turco o poderaa tomar”. Ele leva
muito deferente ordem co gentio do que nos levamos: he liberal em estremo cõ
eles, e fazkhes muita justiça: ēforca os franceses por culpas sem processos: cõ
isto hee muito timido dos seus e amado do gentio: o gentio hee muito e dos
maes valentes da costa: em pouco tempo se podia fazer muito forte.”
(SERRÃO, p.212-213)

Mem de Sá menciona nesta carta o medo que sentia de que os franceses


voltassem a povoar o Brasil, e alerta, ainda a coroa de que povoar o Rio de Janeiro era
imprescindível para a completa segurança de todo o território. O governador chama
atenção que a força dos franceses era fundamentada justamente nas sólidas alianças
entre indígenas e franceses. Brás Cubas em carta de 25 de abril de 1562, enviada a D.
Sebastião, menciona aliança entre franceses e indígenas, e propõe a fundação de uma
cidade no Rio de Janeiro;

“Mamde vossa alteza olhar por esta terra he mamde prover de polvora de
bombarda e d’espingarda e pelouros e chumbo e bombardeiros porque tem
muita necessidade diso e com breviedade porque he muito a meude combatida
dos comtrayros he tenho grande arreceo que perqua se Vossa Alteza a não prove
logio e não manda povoar o Rio de Janeiro porque nam aja franceses que
favoreçãi estes contrairos que são muito nosos vizinhos porque os framceses lhe
dão muitas armas de foguo e muita polvora com que lhes dão muito hanimo
pera cometerem o que quiserem como fazem.” (SERRÃO, p.219-220)

Os portugueses obtiveram uma vitória parcial contra os franceses ao atacar o


forte Coligny, na ilha de Serigipe, e conseguiram faze-los bater em retirada, mas
23

ficaram impossibilitados de persegui-los devido as avarias provocadas pelos combates


em inúmeras embarcações, e por causa destas avarias abandonaram a região, os
sobreviventes franceses e os índios que eram seus aliados se refugiaram com outras
tribos indígenas.

Maria Fernanda Bicalho7 também comenta sobre esta retirada dos franceses e
sobre a importância de Manuel da Nobrega e de José de Anchieta no combate aos
franceses;

“No entanto, muitos franceses conseguiram escapar, embrenhando-se


pelo continente, voltando mais tarde à Baía, onde permaneceram
mantendo contato com novos navios provenientes da França, que
continuaram freqüentando a Guanabara à procura de especiarias e,
sobretudo, de paubrasil. Somente em 1565, uma expedição comandada
por Estácio de Sá, e da qual participaram alguns jesuítas, como Nóbrega
e Anchieta, expulsou definitivamente os os franceses remanescentes
daquela região, restabelecendo o domínio luso e fundando, para garanti-
lo, a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. ” (BICALHO, 2008, p.
15).

Com a saída dos portugueses, os franceses retornaram e ocuparam novamente o


forte Coligny, com o objetivo de resistir e defender a França Antártica, os franceses já
contavam com o apoio dos indígenas da região sempre mantendo boas relações com os
mesmos, deste modo os índios consideravam os portugueses como sendo um “inimigo
comum” para eles e os franceses.

Incentivados pelos franceses os índios das tribos Tamoios uniram-se a outras


tribos com o objetivo de guerrear contra os portugueses, este episódio ficou conhecido
como a Confederação Tamoio, porém os jesuítas Manoel da Nobrega e José de
Anchieta, conseguiram contornar essa aliança firmando um Armistício com os índios,
pondo fim a aliança dos índios com os franceses, embora temporária, a trégua deixou o
governador geral Mem de Sá livre para tentar desalojar os franceses da baía de
Guanabara. Encarregou para isso seu sobrinho Estácio de Sá, a frente de 220
portugueses, Estácio de Sá desembarcou na baía de Guanabara em fevereiro de 1565, no
dia 1º de março fundou ali um arraial com o nome de São Sebastião do Rio de Janeiro.

7
BICALHO, Maria Fernanda B.¨ A França Antártica, o corso, a conquista e a “peçonha luterana”, 2008.
24

No contexto da expulsão dos invasores franceses, e com a finalidade de


assegurar a posse do cobiçado território a Coroa portuguesa, mandou fundar em 1565
por Estácio de Sá, a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, nome em homenagem a
São Sebastião e ao patrono do rei de Portugal D. Sebastião. Ressaltando que os
confrontos ainda persistiram até 1567, embora a disputa pela posse da região envolvesse
franceses e portugueses, foram os índios de ambos os lados que tiveram maior
participação no combate, sofrendo as maiores baixas.

Entre os europeus as baixas foram pequenas, com a vitória, em tom de conquista


histórica e mesmo mística, pois os portugueses atribuíam a participação no combate a
São Sebastião, coube aos portugueses o fim da sonhada França Antártica.
25

Conclusão:

A França Antártica é um momento da história do Rio de Janeiro pouco


conhecido, pouco explorado, mas é também o episódio mais marcante da presença
francesa no Brasil, no entanto, geralmente, é narrado em três ou quatro parágrafos dos
livros escolares, sendo contextualizado como parte das invasões francesas no Brasil,
mas a realidade é que os franceses estiveram presentes no Brasil desde os primeiros
anos da descoberta e da pré colonização.

A França Antártica é um episódio histórico que deu origem a grande quantidade


de obras incluídas na historiografia do período, as fontes primarias do período são
principalmente os livros dos cronistas franceses, que aqui estiveram com Villegagnon,
os já mencionados Jean De Lery e sua “Histoire d’um Voyage fait em la terre du Bresil,
autrement dite de l”Amerique” (LERY,1578) e Andre Thevet com o seu ‘ Les
Singularize de la France Antarctique autrement nommee Amerique &de plusiers terres
et isles decouvertes (THEVET, 1557) crônicas cheias de aventuras e criaturas
fantásticas, que povoaram o imaginário europeu, as cartas trocadas entre donatários e a
coroa, os escritos dos jesuítas.

Os franceses tinham como seu principal objetivo fundar uma colônia em


território brasileiro para poder participar ativamente do lucrativo mercado de exploração
comercial, em apoio aos comerciantes franceses, junto com o objetivo comercial os
franceses protestantes queriam também fundar uma colônia no Brasil para viverem
longe da perseguição religiosa que sofriam na França, onde fosse viável professar e
expandir sua fé.

Porém a colonização da França Antártica se mostrou um empreendimento


fracassado, tanto em termos ideológicos como em termos políticos. Em relação aos
termos ideológicos, os diversos desentendimentos religiosos entre os colonos franceses
que acabaram por trazer suas divergências religiosas, atravessando o Atlântico, para a
nova colônia, e falhou em termos políticos visto que o monarca francês deixou de
conceder seu apoio a Villegagnon em momento decisivo para a nova colônia.

Os franceses tinham a intenção de estabelecer um núcleo permanente de


colonização e exploração da terra, tanto é que com estas poucas pessoas que vieram
26

com a intenção de se estabelecer aqui, trataram logo de fazer alianças com os indígenas,
para que pudessem prosperar e combater os portugueses.

Portugal ao perceber o que estava acontecendo com suas possessões do outro


lado do Atlântico precisou tomar uma atitude criando a Cidade de São Sebastião do Rio
de Janeiro para proteger a região.

Acredito que os relatos historiográficos apresentados demonstram que a


princípio Portugal não tinha a intenção e também a capacidade econômica de colonizar
efetivamente o Brasil, tanto é que o monarca português se utilizou dos membros de sua
baixa nobreza para colonizar minimante o Brasil, autores como Varnhagem e
Capistrano de Abreu deixam bem claro que o Brasil era uma terra que ainda se
encontrava sem uma colonização definitiva, que buscasse um efetivo crescimento e
desenvolvimento, os portugueses só utilizavam o Brasil como ponto de parada e
reabastecimento para sua rota de comercio de especiarias com a Índia, ainda não
reconheciam o potencial comercial da região, devemos ressaltar como já foi dito
anteriormente, que os portugueses não encontravam vida fácil com os nativos, eram
vistos como exploradores e invasores da terra quando de sua chegada e nos primórdios
do seu projeto de colonização, pois utilizavam de grande violência e exploração com os
nativos.

Na obra de Joaquim Verissimo Serrão “O Rio de Janeiro no século XVI”, o


autor faz uma compilação de diversas cartas de donatários, navegadores e colonos que
enviavam a D. João III, solicitando uma rápida intervenção na baía de Guanabara, com
o intuito de acabar com as pretensões francesas, utilizei os mesmos para mostrar como
estava desguarnecido o litoral brasileiro, principalmente o Rio de Janeiro.

Foi apresentado a versão de diversos historiadores sobre a França Antártica, e


todos são unanimes na descrição sobre a primeira aventura oficial francesa em nosso
litoral, ressalto que o monarca francês desejava a fundação da colônia francesa no
Brasil, mas também não queria entrar em conflito aberto com Portugal, devido a isso o
seu apoio não foi dado de forma aberta, a ocupação efetiva do Brasil por Portugal,
também se deve a pressão de outras nações europeias, como a própria Espanha, a
Inglaterra e mais tarde a Holanda, que também queriam lucrar com a s terras do Novo
Mundo mas estas nações não foram ousadas como a França.
27

A França Antártica foi muito importante na fundação da cidade do Rio de


Janeiro, como observamos Portugal temia perder seu domínio sobrea os novos
territórios na América, pois a sua fundação assegurou o domínio de Portugal sobre a
colônia na segunda metade do século XVI, deste modo a França Antártica foi o
elemento necessário para que Portugal deflagrasse a ocupação definitiva das terras
brasileiras, devemos lembrar que a região do Rio de janeiro formava parte das
Capitanias de São Vicente (região de Caraguatatuba até Macaé) e do Espírito Santo
(acima de Macaé), foi preciso que se passassem 65 anos do descobrimento para que
Portugal se conscientizasse da necessidade de uma cidade nesta região.

Além disso, a presença de estrangeiros na região colocava em perigo não só o


domínio sobre esta área, mas também havia o receio de que dominassem pontos
específicos do litoral, sendo esta uma área estratégica até mesmo para controlar as rotas
do Rio da Prata, e Portugal só o fez devido à presença francesa com a França Antártica.
Acredito que a ocupação francesa no Rio de Janeiro não era só uma aventura, nem de
cunho religioso, e sim instalar núcleos de colonização para o comércio com a Metrópole
e interferir no comércio marítimo com as Índias, transformando a presença francesa no
Novo Mundo em algo permanente, abrindo caminho para interferir no monopólio
ibérico sobre o Novo Mundo, pois acreditavam que Portugal não ofereceria grande
resistência aos seus planos.

Devemos ressaltar que a fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro


nasceu com uma função claramente defensiva e para que Portugal tivesse uma base de
apoio para a colonização efetiva da região, e que a mesma também se aproveitou de um
momento de fraqueza da França Antártica, pois seu principal líder, Nicola Durand de
Villegagnon havia retornado a França em 1560 para solicitar mais ajuda a coroa
francesa para defender a colônia dos ataques dos portugueses.

Portanto acredito que a França Antártica foi importante para a colonização


efetiva do Brasil e a fundação da cidade que séculos mais tarde se tornaria capital do
Império Português, depois capital do Império do Brasil, capital da República, a cidade
que durante muitos anos influenciou os destinos políticos deste país.

A cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, de curioso destino, nasceu


francesa, acolheu em seus braços os franceses, como viria a acolher tantos milhões de
pessoas, de imigrantes em suas terras, onde seu fundador morreu por uma flecha
28

perdida. Uma cidade que não comemora o seu dia de fundação, mas comemora o seu
santo padroeiro com um feriado, sempre maltratada, vilipendiada por maus políticos,
mas que é amada por seus moradores, que é conhecida em todo o mundo como cidade
maravilhosa, cantada em verso e prosa ou como diria o poeta Tom Jobim “ Minha alma
canta, vejo o Rio de Janeiro, estou morrendo de saudades, Rio teu mar, praias sem fim,
Rio você foi feito pra mim...”
29

Fontes:

As fontes previstas para serem utilizadas nesta monografia são as fontes


disponíveis na historiografia sobre a fundação da cidade do Rio de Janeiro. São fontes
históricas quinhentistas que possibilitam a interpretação da conquista da América
portuguesa durante o século XVI, algumas pertencentes a época em que ocorreu o
projeto França Antártica. Elas estão inseridas no contexto histórico, como
correspondências produzidas entre navegadores, o governador do Brasil e a coroa
portuguesa, documentos da época em que eram demonstradas a insatisfação do monarca
francês com a divisão imposta pelo Tratado de Tordesilhas, livros escritos a época por
navegadores franceses sobre a colonização da França Antártica, são fontes públicas com
as quais alguns historiadores já trabalharam, mas que sempre podem ser vistas por um
novo olhar, são de fácil localização, em sites de bibliotecas públicas, na internet e sites
de bibliotecas portuguesas, bem como alguns livros adquiridos por mim, no decorrer da
pesquisa e que se encontram em minha biblioteca particular.

ABREU, Capistrano de. Ensaios e Estudos. Rio de Janeiro: Ed. da Sociedade


Capistrano de Abreu / Livraria Briguiet, 1938, p. 30.

ANCHIETA, José de. Cartas, Informações, Fragmentos Históricos e Sermões. Belo


Horizonte: Editora Itatiaia, 1988.

BELCHIOR, Elysio de Oliveira. Conquistadores e povoadores do Rio de Janeiro. Rio


de janeiro, Livr. Brasiliana Edit, 1965. (col. Vieira Fazenda-1).

LÉRY, Jean de. Viagem à Terra do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia / São Paulo: Ed.
USP, 1980. A primeira edição é de1578.

NÓBREGA, Manuel da. Cartas do Brasil e mais Escritos do Padre Manuel da


Nóbrega. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 2000.

SÁ, Mem de. Instrumentos dos Serviços por Mem de Sá. Anais da Biblioteca Nacional
do Rio de Janeiro. 1905. n.27.

SERRÃO. Joaquim Verissimo (org.). O Rio de Janeiro no século XVI; documentos de


arquivos portugueses. Lisboa, Edição da Comissão Nacional de Comemorações do IV
centenário do Rio de Janeiro,1965. 2v.
30

SOUTHEY, Robert, História do Brasil. London, Longman, 1810-1819. 3v. (tradução


brasileira: História do Brasil. Belo Horizonte – São Paulo, Itatiaia – EDUSP, 1981. 2v.)

THEVET, André. As Singularidades da França Antártica. Belo Horizonte: Itatiaia / São


Paulo: Ed. USP

VARNHAGEN, Francisco Adolfo de, Visconde de Porto Seguro, Historia Geral do


Brasil. 10. Ed. Belo Horizonte – São Paulo, Itatiaia – EDUSP,1981. 3v

Do Link da SciELO (banco de dados bibliográfico, biblioteca digital e modelo


cooperativo de publicação de periódicos científicos brasileiros de acesso aberto) extrai
os artigos dos historiadores: Paulo Knauss, Maria Fernanda B. Bicalho e Ana Arruda
Callado.
Dos links listados abaixo, foram pesquisados os livros que constam na
bibliografia;
●biblioteca do Exército (Casa do Barão do Loreto, instituição cultural do Exército
Brasileiro que contribui para o provimento, a edição e a difusão de meios bibliográficos
necessários ao desenvolvimento e aperfeiçoamento da cultura profissional seja militar e
geral);
●biblioteca da Marinha (especializada nas áreas de História Geral, História do Brasil,
História Naval, História Militar e Cartografia, tem um acervo de aproximadamente 67
mil exemplares, entre livros, folhetos, periódicos e mapas, a Biblioteca da Marinha);
●biblioteca do Senado (fundada em 1826, tem por finalidade fornecer suporte
informacional necessário às atividades desenvolvidas no âmbito do Senado Federal e do
Congresso Nacional);
●arquivo da cidade do Rio de Janeiro (que tem como função o recolhimento, a
preservação e a organização dos fundos documentais produzidos pelo governo no
âmbito municipal, além dos arquivos privados em depósito);
●biblioteca Nacional (mais antiga instituição cultural brasileira é responsável pela
execução da política governamental de captação, guarda, preservação e difusão da
produção intelectual do País);
●Museu Histórico Nacional (fundado em 1600 Biblioteca especializada em História do
Brasil, História da Arte, Museologia e Moda, do Arquivo Histórico, com importantes
documentos manuscritos).
Dos links do Real Gabinete Português (biblioteca fundada por emigrantes portugueses
em 1843), e do Arquivo Nacional da Torre do Tombo (serviço dependente da Direção
Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas, integrado na Secretaria de Estado da Cultura da
rede portuguesa de arquivos), foram extraídas as cartas enviadas ao rei de Portugal.
31

Links acessados:

●http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-90742008000100009

●http://www.scielo.br/pdf/his/v27n1/a04v27n1.pdf

●http://www.scielo.br/pdf/his/v27n1/a08v27n1.pdf

●https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/1022/201089.pdf?sequence=4

●www.bibliex.ensino.eb.br/

●http://www.worldcat.org/title/singularidades-da-franca-antartica-a-que-outros-
chamam-de-america/oclc/703420769

●https://www,bn.gov.br

●www.museuhistoriconacional.com.br

●http://wwwO.rio.rj.gov.br/arquivo/publicações-biblioteca.html

●www.realgabinete.com.br/

●www.arquivonacional.gov.br/br

●http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co
antt.dglab.gov.pt/pesquisar-na-torre-do-tombo/

●https://www.marinha.mil.br/dphm/
32

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VARNHAGEN, Francisco Adolfo de, Visconde de Porto Seguro, Historia Geral do
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