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Resumo do artigo: “Desigualdades em saúde na Europa: será que a proteção de

rendimento mínimo faz a diferença?” de Regina Jutz

Palavras-chave: níveis de benefícios, desigualdades em saúde, PRM, assistência social,


benefícios de rendimento mínimo, SRH, redistribuição, compressão

Introdução

A pobreza é um fator de risco para problemas de saúde que poderia ser aliviada
com a existência de Estados com melhor assistência social. Ou seja, os benefícios de
rendimento mínimo apoiam as pessoas mais necessitadas e, portanto, devem melhorar
a saúde destas pessoas reduzindo, também, as desigualdades gerais de saúde. Assim, o
autor tem como hipótese que níveis mais elevados de benefícios estão associados a
menores desigualdades na saúde entre os diferentes grupos.

Mesmo nos países mais industrializados ainda existem desigualdades na saúde


tendo em conta o grupo socioeconómico a que os indivíduos pertencem. Indicadores de
generosidade, como regulamentação de benefícios ou tamanho de gastos públicos
específicos, estão associados a uma melhor saúde geral e a uma menor desigualdade de
saúde. Assim, este artigo estuda a proteção de rendimento mínimo (PRM) e seus efeitos
sobre as desigualdades na saúde na Europa.

Os benefícios de rendimento mínimo são concedidos a um nível social mínimo que


permite a participação na sociedade e permitem que os indivíduos atinjam um padrão
básico de vida. Além dos efeitos positivos da assistência social generosa para a saúde de
grupos vulneráveis, pesquisas anteriores constataram consistentemente que políticas e
benefícios sociais generosos estão relacionados com a boa saúde geral da população e
que esses efeitos positivos na saúde não se restringem àqueles que têm direito a receber
benefícios. Portanto, o presente artigo examina, também, se a saúde de grupos de
rendimento médio e alto é afetada positivamente por benefícios mais generosos. Esta
situação pode influenciar o tamanho da desigualdade na saúde da sociedade.

Proteção de rendimento mínimo e desigualdades na saúde na teoria institucional

Este estudo procura explicar porque é que as desigualdades na saúde variam entre
os países, baseando-se na teoria institucional das desigualdades na saúde. A desigualdade
na saúde foi descrita em função de vários fatores sendo que o artigo apenas menciona
dois deles: redistribuição e compressão.

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O primeiro mecanismo, a redistribuição, redireciona recursos entre a população e
muda os determinantes sociais da saúde, de modo que as desvantagens de um grupo e
as vantagens do outro grupo sejam compensadas ou pelo menos reduzidas. A
redistribuição pode ser aplicada à proteção de rendimento mínimo, pois transfere
recursos económicos de contribuintes para aqueles que precisam através da segurança
social. No que diz respeito a este mecanismo o autor presume que os benefícios mais
altos de proteção à renda mínima sejam acompanhados por menores diferenças de saúde
entre os diferentes grupos de rendimento.

O segundo mecanismo, compressão, significa uma mudança na distribuição dos


determinantes sociais da saúde, entendida principalmente como uma compressão na
extremidade inferior ou superior de uma distribuição. Enquanto que a redistribuição
altera a distribuição de rendimento nos dois extremos, o mecanismo de compressão
reflete apenas o impacto num lado da distribuição.

É improvável que grupos de maior rendimento tirem benefício diretamente desta


proteção de rendimento mínimo porque estes benefícios só são atribuídos caso todos os
outros benefícios sociais, como o seguro de desemprego, não estiverem disponíveis para
os indivíduos. No entanto, os grupos de rendimento médio e alto são sobrecarregados
pela redistribuição de rendimento, uma vez que pagam impostos ao rendimento mais
altos e contribuições para a segurança social para apoiar os esquemas de proteção do
rendimento mínimo financiados por impostos.

Por outro lado, os grupos de rendimento mais alto podem beneficiar de políticas
sociais generosas, mesmo sem benefícios monetários uma vez que têm consciência de
que estas podem ter efeitos positivos na saúde da população.

As faltas de compressão, de regulamentação nos rendimentos mais altos, podem


explicar a existência de vantagens em saúde para os grupos de maior rendimento e
também as desigualdades gerais em saúde.

Assim o autor sugere duas hipóteses: primeiro, supõe que quanto mais generosos
os benefícios da proteção do rendimento mínimo, menores serão as diferenças de saúde
entre os grupos. Segundo, supõe que as menores desigualdades em saúde dos países com
benefícios mais generosos se devem a um declínio nas desvantagens de saúde dos grupos
de baixo e médio rendimento, e não a um declínio nas vantagens de saúde dos grupos de
rendimento mais alto.

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Variáveis

A variável dependente é a saúde autoavaliada (SRH – Self-Rated Health). A SRH é


um forte previsor de mortalidade e morbidade. Além disso, a SRH é uma medida
adequada para as desigualdades em termos de saúde. As variáveis explicativas são o
rendimento em quintis, os níveis de benefícios de PRM e algumas variáveis de controlo.

Rendimento em quintis. As desigualdades socioeconómicas na saúde são medidas


através do rendimento líquido total de uma família, sendo que o autor recodificou o
rendimento líquido total de um agregado familiar em categorias quintis.

Níveis de benefício de PRM. A generosidade da PRM foi feita através do nível de


prestações anuais (em 1000 euros PPP - paridade do poder de compra). Os níveis das
prestações são calculados para três tipos de agregado familiar: um agregado familiar de
uma só pessoa sem filhos; uma família monoparental e uma família de dois pais, cada
uma com dois filhos. No que diz respeito à variável utilizada, o autor fez a média dos níveis
das prestações dos três tipos de casos, o que representa o nível anual das prestações de
rendimento mínimo por país. No quadro 1 verificamos os diferentes tipos de programas
de assistência social que incluem os benefícios de rendimento mínimo para cada país
destacando-se para Portugal o rendimento social de inserção.

Variáveis de controlo. Existem algumas variáveis demográficas e socioeconómicas


que podem influenciar a saúde e o rendimento, pelo que devem ser controladas na
análise das desigualdades na saúde: idade, sexo, número de membros do agregado
familiar, educação e estatuto profissional. A nível macroeconómico, o PIB per capita
funciona como uma variável de controlo para ajustar a riqueza nacional, o que afeta a
saúde, a relação entre o rendimento individual e a saúde e o nível de benefícios de
proteção do rendimento mínimo.

Resultados

A tabela 2 mostra os níveis de benefícios de rendimento mínimo, a média etária


normalizada da saúde autoavaliada, as desigualdades na saúde segundo as quotas e o
rácio de saúde autoavaliada "muito boa" de acordo com os quintis de rendimento mais
baixos e mais elevados para 26 países europeus.

A última coluna apresenta o rácio da percentagem das pessoas com estado de


saúde "muito bom" no quintil de rendimento mais elevado em comparação com o mais
baixo, o que constitui um primeiro indicador descritivo das desigualdades no domínio da
saúde. A dimensão crescente do rácio indica desigualdades mais elevadas.

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A PRM varia amplamente em toda a Europa. Em 2012, as prestações mensais de
rendimento mínimo eram de 1842 euros (PPP) na Suíça, em comparação com 155 euros
(PPP) na Bulgária. Os países nórdicos dominam a metade superior dos níveis das
prestações (como mostra a tabela 2) sendo que os países da Europa Oriental se situam
no extremo inferior. Uma comparação entre as prestações da PRM e o rendimento bruto
(em euros para uma única pessoa com rendimentos de um trabalhador médio que
trabalha a tempo inteiro) sublinha que as prestações elevadas significam generosidade:
os países com prestações mensais mais elevadas não são simplesmente países mais ricos,
mas têm frequentemente um rácio mais elevado entre prestações e rendimentos.

Na coluna do intervalo de confiança de 95% podemos verificar que a saúde média


da população foi mais elevada no Chipre, com 4,4 (equivalente a boa saúde) na escala de
resposta de cinco pontos em comparação com o valor mais baixo de 3,7 (equivalente a
uma situação de boa saúde) na Estónia. Também foi visível que os países com menos
rendimentos apresentam mais desigualdades de saúde sendo que existe uma diferença
considerável na percentagem da saúde autoavaliada entre os indivíduos pertencentes ao
quintil 1 e quintil 5.

Como mostra a tabela, as prestações de saúde e o rendimento mínimo estão


relacionados. Os países que se encontram agrupados nos dois grupos mais elevados de
PRM tendem a ter uma melhor saúde da população. Ao descer o quadro, a saúde global
da população deteriora-se com níveis de prestações mais baixos. Um padrão semelhante
pode ser encontrado no rácio que descreve as desigualdades de saúde.

À medida que a PRM aumenta, verificamos maiores desigualdades na saúde, tal


como indicado pela percentagem cada vez mais elevada de pessoas que declaram "muito
bom" estado de saúde no quintil de rendimento mais elevado em comparação com o
mais baixo (última coluna). Há algumas exceções como a Républica Checa e a Polónia.

Análise da saúde autoavaliada

De acordo com pesquisas anteriores, existem fatores que pioram a saúde dos
indivíduos: o aumento da idade, as mulheres (que relatam pior saúde em relação aos
homens) e as pessoas desempregadas. Existem outros fatores que melhoram a saúde dos
indivíduos: um maior número de membros na família (mas apenas até um certo ponto,
sendo que depois disso a saúde é afetada de forma negativa) e uma melhor educação. O
PIB per capita também está associado à saúde de forma positiva.

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Discussão dos resultados

A conclusão principal deste estudo é a de que as desigualdades em saúde entre


os diferentes grupos de rendimentos não são reduzidas através de benefícios de
rendimento mínimo, sendo que, pelo contrário, estas desigualdades são até acentuadas
com níveis generosos de benefícios de rendimento mínimo. Se os níveis de benefícios não
forem generosos, podem reduzir situações de pobreza extrema entre indivíduos com
baixos rendimentos, mas não alteram as desigualdades em saúde entre os grupos de
indivíduos com diferentes rendimentos.

Os indivíduos com rendimentos mais baixos têm assim maior desvantagem em


saúde em comparação com os indivíduos com rendimentos mais elevados sendo que
quanto menor o rendimento, maior a desvantagem em saúde. No entanto, apesar de não
serem reduzidas desigualdades em saúde, quanto maior o nível de generosidade dos
benefícios de rendimento mínimo, melhor é a saúde população em geral, uma vez que os
grupos de indivíduos com rendimentos mais elevados não são prejudicados com a PRM,
mesmo que os benefícios sejam em níveis generosos.

Considerações Finais

Em suma, apesar de os benefícios de rendimento mínimo terem um efeito positivo


na saúde individual, não existem conclusões acerca da relação entre a PRM e as
desigualdades em saúde, sendo necessárias pesquisas adicionais para compreender o
porquê de os grupos de rendimentos mais elevados terem mais vantagens em saúde em
níveis generosos de PRM, por exemplo. Assim, a PRM não é o instrumento apropriado
para reduzir as desigualdades em saúde relacionadas com o rendimento.

As pesquisas adicionais devem considerar a relação semelhante entre a PRM e o


seguro social no que diz respeito às desigualdades em saúde, sendo que como as
contribuições para a segurança social estão vinculadas ao rendimento, os grupos de
rendimentos mais elevados beneficiam de alguns componentes do sistema de segurança
social com base em contribuições, estão mais protegidos pelos seus direitos adquiridos e
podem assim ter uma vantagem em saúde em comparação com os grupos de
rendimentos mais baixos.

Trabalho realizado por: Lígia Gomes (2017254528), Mariana Jordão (2016229479) e


Ana Vanessa Duarte (2017248141).

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Anexos

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