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Introdução: “The concept of empathy is used to refer to a wide range of

psychological capacities that are thought of as being central for constituting


humans as social creatures allowing us to know what other people are thinking and
feeling, to emotionally engage with them, to share their thoughts and feelings, and
to care for their well–being. Ever since the eighteenth century, due particularly
to the influence of the writings of David Hume and Adam Smith, those capacities
have been at the center of scholarly investigations into the underlying
psychological basis of our social and moral nature. Yet, the concept of empathy is
of relatively recent intellectual heritage.”

1 – Historical Introduction: O termo empatia foi introduzido para a língua inglesa


por Edward Titchener (1867–1927), e antes disso o termo “sympathy” é que era
comumente usado para se referir a este fenômeno. Os escritos de David Hume são um
bom candidato para núcleo conceitual do fenômeno, ao dizer que “the minds of men
are mirrors to one another”. Esse conceito é o centro da teoria de Theodor Lipps
(1851–1914), que foi de quem Edward traduziu o termo “Einfühlung”, “sentir em”.
Lipps foi quem trouxe o termo do contexto das investigações sobre estética para o
das investigações socio e psicológicas. Alguns fenomenólogos pontuaram como que
experienciamos algo como sendo belo tão imediatamente quanto os próprios dados dos
sentidos. Para Lipps quando ao experienciar um objeto externo o sujeito sente
movimentos em seu próprio corpo, essa sensação é experimentada como sendo no objeto
externo, como se eu sentisse no objeto em questão. Quando essa sensação é
afirmativa, eu sinto o objeto como belo, e feio quando é o contrário.
A percepção estética empática é sempre a experiência de um outro ser humano como em
comparação, se percebe algo como bonito em analogia a outro corpo humano. É a mesma
percepção que reconhece uma mente em outro ser vivo, e ela tem origens em um
fenômeno de imitação interna, em que eu imito o estado mental de outra pessoa com
base no que é possível observar dela. Assim, como o sujeito que imita não é
consciente da imitação, ele apenas reconhece os sentimentos do outro e os
sentimentos de si. O conceito de empatia se estende para todas as atividades
mentais.
2 – Empathy and the Philosophical Problem of Other Minds:
Lipps defendia que a empatia era o meio epistêmico primário para o reconhecimento
de outras mentes. Seu argumento era apelativo na medida em que criticava a solução
de Mill para o problema das outras mentes, a inferência por analogia.
i.) Another person X manifests behavior of type B.
ii.) In my own case behavior of type B is caused by mental state of type M.
iii.) Since my and X’s outward behavior of type B is similar, it has to have
similar inner mental causes. (It is thus assumed that I and the other persons are
psychologically similar in the relevant sense.)
Therefore: The other person’s behavior (X’s behavior) is caused by a mental state
of type M.
Lipps critica esse enquadro argumentativo por considera-lo autocontraditório, pois
ao invés de fornecer alguma explicação para o que consiste da semelhança e
diferença das outras mentes, ele parte de um entendimento cartesiano onde não se é
capaz de reconhecer outras mentes em primeiro lugar. Então se teria que pensar num
novo e completamente outro “eu” que não sou eu. Ainda que a crítica dele seja bem
reputada, não é claro como o conceito de empatia de Lipps soluciona o problema.
A tradição fenomenológica critica Lipps por essa razão e por considerar que ele não
toma dados fenomenológicos para consideração do seu conceito, mas toma emprestado
seu conceito de empatia. A diferença é que “empatia” para essa tradição é um dado
tal como o dado dos sentidos, um ato experiencial sui generis, um ato perceptual
que considera como atos mentais são expressos pelo corpo.
2.1 – Mirror Neurons, Simulation, and the Discussion of Empathy in the Contemporary
Theory of Mind Debate
O debate sobre empatia foi revivido pela psicologia do senso comum dos anos 80.
Numa empreitada similar à da filosofia do senso comum e da linguagem comum estes
psicólogos visam enriquecer e avaliar as crenças populares sobre como se
interpreta, explica e alcança as outras mentes. Em contraste, os teóricos da
simulação concebem nossas capacidades ordinárias de ler outras mentes como pobres
de conhecimento, onde eu não utilizo do senso comum mas na verdade me coloco como
modelo único para a atividade mental de todas as outras mentes.
Além do mais, as descobertas recentes dos chamados neurônios-espelho podem ser
entendidas como provendo a evidência empírica para a ideia de Lipps de empatia como
imitação interna. Com a ajuda dessa descoberta os cientistas referem-se ao fato de
que há uma sobreposição entre a percepção das ações de outras pessoas e as áreas de
estímulo cerebral no sujeito que percebe estas ações quando executa as mesmas ações
observadas. Isso vale também para percepção de expressões faciais. Esses neurônios
são pensados como constituindo a multiplicidade da nossa intersubjetividade,
possibilitando a percepção dos atos de outras pessoas como orientados por objetivos
determinados. A evidência desses neurônios serem ativados em uma área cerebral
diferente da percepção de objetos físicos sugere que já temos de pronto uma
capacidade primária de percepção de objetos e outra capacidade primária de
percepção das outras mentes.
Entretanto essa descoberta não está livre de críticas. Há quem formule que a
ciência da ressonância cerebral mais pressupõe do que comprova; ou que destaca que
não é exatamente um espelho, que por exemplo ao perceber a dor alheia nós não
espelhamos a dor, apenas o sentimento de aversão ao objeto da dor; e o quanto e
como é espelhado varia em relação a quem é observado e se a dor é justificada pela
punição ou pela medicina.
Ainda se deve notar que o ler de mentes do cotidiano não deve ser restrito ao campo
da empatia básica. Não apreendemos apenas que o outro “quer pegar o copo”, também
buscamos entender o seu comportamento num contexto social determinado, usando toda
a abrangência do nosso conhecimento psicológico sobre crenças e desejos, e por isso
houveram teóricos que defenderam uma distinção entre uma empatia básica e uma
complexa. Relacionado a isso há o debate sobre se a empatia é o método das ciências
humanas e se ele deve ser distinguido do seu uso das ciências naturais, uma vez que
nas ciências humanas poderia se desenvolver um outro conceito, similar a este de
uma empatia complexa, sendo porém usado como “o ato interpretativo de julgar ações
alheias como cultural e narrativamente determinadas” ou como uma ato perceptual
simples e distinto, que nem os fenomenólogos.
3 – Empathy as the Unique Meth od of the Human Sciences
No decorrer do século XX empatia passou a ser associado ao conceito de
entendimento, um conceito da tradição hermenêutica com vistas de explicar os
métodos usados na apreensão de textos, artes e atitudes. Houve uma distinção entre
o entendimento quando aplicado às ciências humanas e quando aplicado às ciências
naturais. Autores como Dilthey assumiam que esse ato de imitação interna e
transporte mental fazia parte do entendimento de qualquer fato histórico, mas essa
interpretação psicológica terminou por ser elencada como sendo apenas uma forma
entre outras do método de entendimento histórico.
Para além da filosofia das ciências humanas, nas tradições analítica e continental
o conceito de empatia era visto como epistemicamente ingênuo e amplo demais. Na
filosofia da ciência o conceito era investigado como questionamento normativo sobre
como justificar uma explicação ou interpretação.
3.1 – The Critique of Empathy in the Context of a Hermeneutic Conception of The
Human Sciences
First, empathy is no longer seen as the unique method of the human sciences because
facts of significance, which a historian or an interpreter of literary and non-
literary texts are interested in, do not solely depend on facts within the
individual mind. In reading a text by Shakespeare or Plato we are not primarily
interested in finding out what Plato or Shakespeare said but what these texts
themselves say.
Second, conceiving of understanding other agents as being based on empathy is seen
as an epistemically extremely naïve conception of the interpretation of individual
agents, since it seems to conceive of understanding as a mysterious meeting of two
individual minds outside of any cultural context. Individual agents are always
socially and culturally embedded creatures. Understanding other agents thus
presupposes an understanding of the cultural context within which an agent
functions. Moreover, in the interpretive situation of the human sciences, the
cultural background of the interpreter and the person, who has to be interpreted,
can be very different.
3.2 – The Critique of Empathy within the Context of a Naturalist Conception of The
Human Sciences
Aqueles pensadores que negam essa distinção entre entendimento e explicação são
chamados de naturalistas na filosofia das ciências sociais. E isso leva a
diferenças metodológicas. Na filosofia naturalista das ciências sociais a empatia
tem um papel heurístico mas não cumpre o papel de dar justificativas – prover leis
razoáveis para a explicação dos eventos.
Consequently, Hempel’s objection against empathy retain their force as long
as one maintains that reason explanations (we explain actions in terms of an
agent’s reasons) are a form of ordinary causal explanations and as long as one
conceives of the epistemic justification of such explanations as implicitly
appealing to some empirical generalizations.
Folk psychological explanations have to be understood as being tied to the domain
of rational agency. Most plausibly—given our persistent inability to solve the
frame problem—recognizing which of another agent’s thoughts are relevant in
specific contexts requires the practical ability of reenacting another person’s
thoughts in one’s own mind. Empathy’s central epistemic role has to be admitted,
since beliefs and desires can be understood only in this manner as an agent’s
reasons.
4 – Empathy as a Topic of Scientific Exploration in Psychology
Throughout the early 20th century, but particularly since the late 1940’s, empathy
has been an intensively studied topic of psychological research. Here empathy, or
what was then called sympathy, was regarded to play a central role in constituting
human beings as social and moral creatures allowing us to emotionally connect to
our human companions and care for their well-being.
É possível distinguir duas tradições de pesquisa da psicologia sobre a empatia: a
primeira seria a do estudo da abrangência e precisão da empatia enquanto fenômeno
emocional, aquele que pesquisa estando interessado em determinar a confiabilidade e
precisão desta habilidade em perceber e reconhecer os traços de personalidade
contínuos de outros, suas atitudes e valores, e estados mentais ocorrentes. Se
pesquisa também quais fatores e como estes influenciam na empatia, por exemplo,
idade, gênero, história familiar, estabilidade emocional, qualidade das relações
interpessoais, inteligência ou se depende de motivações específicas do observador.
A outra tradição de pesquisa é aquela que considera a empatia como um fenômeno ou
afeto emocional, até mesmo relacionando suas descobertas com a questão de motivação
moral posta por filósofos. Essa tradição está interessada em: (i) o desenvolvimento
de meios para medir a empatia enquanto traço disposicional de crianças e adultos e
enquanto resposta situacional a casos específicos; (ii) os fatores que respostas
empáticas e disposição dependem em; (iii) a relação entre empatia e comportamento
pró-social e de desenvolvimento moral. Antes de partir para a discussão da relação
da pesquisa psicológica sobre empatia com a filosofia moral é necessário introduzir
distinções conceituais ao considerar estudos empíricos do caso.
Quem buscar a literatura sobre a empatia emocional afetar-se-á pelo fato de como
empatia é inicialmente definida com uma amplitude muito vasta. Se for definida como
“an observer’s reacting emotionally because he perceives that another is
experiencing or is about to experience an emotion”, reações emocionais tais como
inveja, pena ou alívio serão tidas como empáticas. Por isso neste contexto é útil
distinguir, conforme foi-se afinando o entendimento de empatia, entre emoções que
(a) são reativas mas são reações orientadas por si (b) ou pelos outros; e se elas
pressupõem (c) ciência da distinção entre eu e os outros (d) ou não.
i. Contagio emocional: Ocorre quando o sujeito sente emoções similares a de
outrem por meramente estar associados a eles, e.g. pânico por que todos na minha
volta estão em pânico. O contágio não requere que o sujeito esteja ciente que está
sentindo porque os outros sentem, isto é, ciente do próprio contágio, assim sendo o
sujeito experimenta as sensações como se fossem próprias.
ii. Empatia afetiva propriamente dita: Entendida de modo mais estreito é o
compartilhamento vicário de um afeto. Há diferença entre os autores. Para uns, é
necessário que o empata e aqueles empatizados tenham estados afetivos similares.
Para outros isso não é necessário se houver o envolvimento de processos
psicológicos que fazem alguém ter sentimentos que são mais congruentes com a
situação de outra pessoa do que com a sua própria. ↦ Essa definição inclui casos
como se sentir triste ao ver uma criança que não sabe da sua própria doença
terminal feliz. Diferente do contágio, empatia pressupõe a habilidade de
diferenciação. Sentir-se triste ao ver outra pessoa triste só é empatia se essa não
for uma reação à minha própria vida, e sim uma reação a vida de quem está sendo
visto. Assim sendo não é empatia estar feliz ao ver os próprios filhos felizes,
pois isso é uma resposta emocional apropriada pela minha própria perspectiva de
mundo. De acordo com isso não basta ter uma reação similar, meu estado afetivo deve
direcionado ao mesmo objeto intencional. Há também aqueles que tem uma consideração
mais ampla, em que o foco não é no compartilhamento vicário de emoções e sim de
reações a crenças e desejos. Esse especialmente o caso dos teóricos que
consideraram a empatia como um meio epistêmico, o que levou a posterior distinção
entre compartilhamento afetivo e tomada de perspectiva.
iii. Simpatia: É uma emoção sui generis que tem a emoção e situação negativa do
outro como objeto da perspectiva de alguém que se importa. Assim simpatia é sentir
concernimento por quem tem necessidades, sentir o outro a partir de uma perspectiva
elevada do sofrimento do outro como algo que precisa ser aliviado.
É plausível assumir que a empatia leva a simpatia, mas essa não é uma relação
necessária. É suficiente que se reconheça que o outro sofre sem ter emoções
congruentes com o seu sofrimento. Importante considerar que as vezes a angústia
empática pode levar à fadiga de compaixão, um caso apenas de angústia pessoal
distinto das outras condições mencionadas.
iv. Angústia pessoal: É uma emoção reativa que responde a emoção negativa de
outra pessoa. Entretanto é diferente da simpatia pois nesse caso o sofrimento
alheio não me deixa mal pelo outro, apenas me deixa mal. O estresse pessoal não é
congruente com o estresse alheio, ele define minha própria visão de mundo.
Ainda que seja conceitualmente necessário diferenciar entre essas reações
emocionais, admite-se que não é fácil discriminá-las empiricamente pois tendem a
acontecerem juntas.
5 – Empathy, Moral Philosophy, and Moral Psychology
A filosofia moral sempre esteve interessada na psicologia moral e em
articular uma estrutura motivacional do agente moral em vistas de explicar a
importância da moralidade na vida humana. Julgamentos morais supostamente demandam
da vontade do agente e fornecem razões e padrões normativos para agir de certa
maneira. Os julgamentos morais nos cobram da perspectiva da postura moral onde se
deixa para trás a perspectiva do amor próprio e não nos concebemos uns aos outros
como amigos ou inimigos, ou pertencentes ao grupo ou estranhos ao grupo, sendo
todos de uma comunidade moral. Enfim, a moral requere que as nossas motivações
baseadas em razões morais sejam sem interesse próprio. A importância da moral é:
explicar como os humanos se interessam pela moralidade e porque devemos nos
preocupar com isso e porque devemos considerar juízos feitos a partir da
perspectiva moral como tendo autoridade sobre nós; nos permitir entender como pode
ser que se aja de maneira altruísta de modo a corresponder às demandas feitas a nós
pela postura moral. Para responder essas questões é necessário explicar a relação
dos nossos interesses morais à nossa constituição psicológica e como as demandas
morais são endereçadas apropriadamente a sujeitos que têm tal estrutura
psicológica.
O desafio dessa empreitada é encaixar uma descrição realista da psicologia
humana com a universalidade e validade dos juízos morais, uma vez que a motivação
humana e seus mecanismos psicológicos sempre são situacionais, locais e limitados,
e que o viés cognitivo de grupo é um traço universal da psicologia humana. Uma das
tentativas de solucionar esse problema é relacionar esses desejos filosóficos com o
papel central que a simpatia e a empatia teriam ao constituir-nos como agentes
sociais e morais com capacidade de responder à juízos morais. Dessa mesma forma a
empatia foi saudada por diversos pesquisadores contemporâneos como a base do juízo
moral, ou como o traço evolutivo da moralidade, ou como a força com capacidades
revolucionárias, ou o solvente universal para solucionar os problemas humanos. Foi
também criticada pela sua capacidade de cair indefesa para os vieses do aqui e
agora. As perguntas que serão consideradas para a importância da questão são se a
empatia sempre motiva de modo altruísta, se é enviesada e parcial ao grupo, e como
se pode pensar no caráter normativo dos juízos morais sob a luz das nossas
capacidades empáticas.
5.1 – Empathic and Altruistic Motivation
Teve um psicólogo social, Daniel Batson, que fez experimentos para defender
sua tese de que a empatia/simpatia leva a comportamentos altruístas. Essa tese
seria uma crítica às várias interpretações sumárias do fenômeno da empatia como
sendo associado a motivações egoístas, como o medo de consequências negativas de
culpa ou represálias sociais ou busca por consequências positivas de recompensa.
Batson não pretendia defender que não é possível que haja motivações egoístas
nem que a empatia sempre leva ao comportamento altruísta. Ao invés disso ele
pretendia demonstrar a evidência de comportamentos altruístas e casos em que a
empatia leva ao altruísmo. Se o agente vai ajudar ou não outra pessoa depende no
quão forte são suas motivações altruístas e que custos o agente teria em ajudar.
Os experimentos de Batson consistem em manipular a situação de sujeitos e
manipular sua empatia sentida por um alvo observado. A evidência seria o
comportamento altruísta registrado, que não poderia ser visto como tendo objetivos
pessoais. Batson assume que a empatia pode ser manipulada ora por manipular a
similaridade percebida pelo sujeito com o alvo ora por manipular a perspectiva de
ação dos sujeitos.
O resultado dos experimentos é aberto para discussão. São propostos como
provando que tem sim casos onde os sujeitos que foram levados a considerar como se
sentiriam na pele do alvo terminaram por tomar uma atitude altruísta mesmo tendo
também uma opção de fuga fácil. Houveram críticas se o fenômeno registrado foi uma
sensação de altruísmo ou de identificação, ou que o experimento não poderia prever
que os sujeitos estavam na verdade fugindo de ter sentimento de culpa. O fato é que
Batson cobrou mais rigor e precisão daqueles que defendem o egoísmo.
Os ganhos de Batson não são conclusivos em validar a tese de que a empatia é
a base da moralidade ou que a empatia nunca levaria a um conflito moral. Por fim,
os experimentos não decidem a questão se uma capacidade de ler mentes através da
empatia é necessária pra moralidade uma vez que Batson a considera como um fenômeno
e não como capacidade.
5.2 – Empathy, Its Partiality, Suscetibility to Bias, and Moral Agency
Uma das mais compreensíveis descrições entre a empatia e sua relação com o
desenvolvimento moral de um sujeito foi feita por Martin Hoffman. Para Hoffman a
empatia é uma disposição biológica para o comportamento altruísta. Ele concebe a
empatia como se dando a partir de vários tipos de estímulos, nos permitindo
responder empaticamente a uma variedade de pistas de angústia dadas por outra
pessoa. Hoffmann menciona mimica, condicionamento clássico, associação direta como
sendo mecanismos de ação rápida e automática que produzem resposta empática.
Mecanismos que demandam mais cognição seriam associação mediada e tomada de papéis.
Hoffman distingue entre seis ou mais estágios de desenvolvimento de respostas
empáticas indo de reação ao choro entre recém-nascidos, estresse empático
egocêntrico, estresse empático quase-egocêntrico, empatia, empatia por outro além
da situação e empatia por um grupo. Os exemplos em ordem são contágio emocional,
procurar amparo na própria mãe ao ver a dor de outra criança, tentar confortar a
outra criança com coisas que confortariam a si próprias, comportamento pró-social.
Hoffman está ciente a empatia é limitada em especial pelos vieses do aqui e
agora. E também das limitações do seu enquadro conceitual pontuando que considerar
a empatia como um dos princípios da moralidade não quer dizer que circunscreve todo
o campo da moral, em que contém também o conhecimento de princípios morais
abstratos. Porém ele defende que a ação moral requer a empatia como base
motivacional, e que apesar das limitações a empatia é a cola da sociedade. Nesse
contexto, o último estágio do desenvolvimento empático é o “testemunho”, no sentido
em que a resposta e tão intensa que um sujeito se compromete completamente em
ajudar.
As críticas que Hoffman recebeu consistem em enfatizar que há uma tendência a
empatizar mais facilmente com pessoas mais atraentes, pessoas que nos são próximas
e se seu sofrimento é saliente para quem observa. São considerados o viés de grupo
e os casos de “empatia contrária”, e nota-se que uma resposta empática pode levar a
uma reação violenta.
A pesquisa continua em aberto. Até agora o que se pode afirmar é que: empatia
por si só não é suficiente para nos manter no caminho da moralidade; se a empatia é
um recurso limitado ou um fenômeno motivacional que suas limitações são devido
nossa relutância em ativar essa capacidade ou não é algo que necessita de mais
investigação empírica; que as emoções de vergonha, culpa ou raiva são tão
enviesadas quanto a empatia (certamente no contexto do budismo a simpatia parece
ser menos enviesada). Tem autores que sugerem que ao invés de abandonar essa via de
investigação, deve-se reformar a empatia alcançando princípios regulados pela
razão.
Há também uma breve diferença quando se investiga os fenômenos de tomada de
perspectiva e simpatia, que parecem ser positivos para a caridade e cooperação,
reduzir preconceitos e aguçar a sensibilidade a injustiças. Esses ganhos são raros
quando se tratam de grupos com disparidades de e competições por poder.
5.3 – Empathy, Moral Judgement, and the Authority of Moral Norms
Outras áreas importantes para se considerar o papel da empatia em
considerações morais é em questões sobre como e se a empatia contribui para a nossa
habilidade de distinguir entre normas convencionais e normas morais, no fazer
juízos morais, e como a empatia pode se apelar para a empatia ao explicar a
autoridade destes julgamentos. São questões de ordem normativa. Normas morais são
aquelas que expressam referência aos direitos, à justiça, e ao bem estar do outro,
e têm um padrão de resposta específico associado a elas. Julga-se que seu escopo
seja mais abrangente, e que sua violação seja uma ofensa mais séria do que outras
normas. O fato de a empatia ter viés de grupo não e uma evidência contra se ela tem
um papel na diferenciação entre normas morais e convencionais.
É de importância central para o acesso do papel da empatia nessa distinção a
pesquisa sobre a natureza da psicopatia e do autismo, uma vez que ambas patologias
são pensadas como causando déficit na capacidade empática, e que a psicopatia é
pensada como dificultando a capacidade de distinguir entre uma norma moral de uma
convencional, ainda que não tendo dificuldades com a tomada de perspectiva, que nem
o autismo. Mais especificamente, psicopatas tem dificuldades em processar
expressões de medo, tristeza e nojo. A partir daí o papel da empatia é
inconclusivo. Alguns pesquisadores interpretam as evidências de suas pesquisas como
demonstrando não que a psicopatia é causada por que o paciente é incapaz de sentir
especificamente a empatia, mas por ser incapaz de sentir fortes emoções num geral,
pelo seu sangue-frio, ou até por falta de capacidades cognitivas e prudenciais. Por
essa perspectiva, um psicopata pode entender que algo é moralmente errado e
simplesmente não se importar. Em relação ao autismo, argumenta-se que sua
dificuldade em tomar papeis e em empatizar não o impedem de distinguir entre normas
morais e convencionais, mas lhes falta flexibilidade em avaliar a seriedade da
violação moral diante de dilemas morais ou violação acidental das normas.
Filósofos estão interessados em explicar mais do que a base psicológica da
nossa consciência de normas morais. A empatia é usada pelos sentimentalistas
morais, que veem a moralidade ligada à nossa resposta emocional a ações nossas e de
outrem, como explicando a natureza dos juízos morais. Hume sugeriu que os juízos
morais são baseados em sentimentos de aprovação moral, que por sua vez são mediados
pela nossa capacidade de empatizar – de viver e pensar sobre os prazeres e dores
dos outros – para considerar os benefícios das ações de alguém para si e para os
outros. Ele insistia que a empatia deve ser regulada por um ponto de vista geral e
equilibrado. O problema é a dificuldade de entender como Hume distinguiria em seus
julgamentos algo como ruim e algo como moralmente errado.
Um pesador que pensou na empatia como tendo um papel constitutivo na moral
foi Michael Slote. Ele sugere que a empatia é central para a aprovação moral
enquanto nós espectadores de uma ação empaticamente tomamos o agente alvo como
tendo ou não agido empaticamente. Ações morais são julgadas pelo quão empáticas
elas foram. Assim, os vieses da empatia seriam os reguladores morais, sendo mais
moralmente relevante aquela ação mais enviesada (se a empatia tende a priorizar
crianças do grupo, atentar contra elas é um crime mais grave). É questionável se
toda a motivação moral é empática, alguém poderia agir pensando somente em uma
concepção “do que é mais certo” e não nas dores e prazeres dos envolvidos. Também é
questionável se todos os vieses da empatia devessem ser incluídos nas intuições
morais. Por fim, “ser aceitável” não parece valorizar a ação moral.
O interesse filosófico é por questões normativas genuínas para tentar
responder se devemos nos importar com a moralidade e com as demandas morais feitas
a nós. Ao culpar os outros moralmente avaliamos seu comportamento assumindo que
eles estão comprometidos com padrões morais como se fossem seus e não como se fosse
imposição nossa desses padrões a eles. Se juízos morais forem apenas sobre cumprir
com expectativas emocionais dos outros sobre mim a moralidade não é mais do que uma
pressão de grupo. Evitando essas críticas que os simpatizantes da empatia encontram
em Adam Smith o desenvolvimento empático dos aspectos morais. Smith concebe a
empatia não um sentimento que assume as emoções alheias mas uma tomada de
perspectiva imaginativa. Assim a tomada de perspectiva é se colocar na situação do
outro, imaginar como ele responderia, como pensou e como se sentiu; em trazer o
ponto de vista de outrem para o nosso, reconhecemos como responderíamos,
pensaríamos e nos sentiríamos naquele caso, e daí sim nos faríamos o nosso juízo
moral de aprovação ou desaprovação. Além do mais, esse julgamento teria base na
nossa capacidade de empatizar com o ponto de vista do espectador imparcial, a quem
apelaríamos para a correção moral. Esse refazer do ponto de vista imparcial é uma
demonstração do nosso comprometimento com a prática de sentir uns aos outros como
criaturas racionais e emocionais, incluindo a perspectiva do outro como um
comprometimento a sua dignidade.

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