Introdução: “The concept of empathy is used to refer to a wide range of
psychological capacities that are thought of as being central for constituting
humans as social creatures allowing us to know what other people are thinking and feeling, to emotionally engage with them, to share their thoughts and feelings, and to care for their well–being. Ever since the eighteenth century, due particularly to the influence of the writings of David Hume and Adam Smith, those capacities have been at the center of scholarly investigations into the underlying psychological basis of our social and moral nature. Yet, the concept of empathy is of relatively recent intellectual heritage.”
1 – Historical Introduction: O termo empatia foi introduzido para a língua inglesa
por Edward Titchener (1867–1927), e antes disso o termo “sympathy” é que era comumente usado para se referir a este fenômeno. Os escritos de David Hume são um bom candidato para núcleo conceitual do fenômeno, ao dizer que “the minds of men are mirrors to one another”. Esse conceito é o centro da teoria de Theodor Lipps (1851–1914), que foi de quem Edward traduziu o termo “Einfühlung”, “sentir em”. Lipps foi quem trouxe o termo do contexto das investigações sobre estética para o das investigações socio e psicológicas. Alguns fenomenólogos pontuaram como que experienciamos algo como sendo belo tão imediatamente quanto os próprios dados dos sentidos. Para Lipps quando ao experienciar um objeto externo o sujeito sente movimentos em seu próprio corpo, essa sensação é experimentada como sendo no objeto externo, como se eu sentisse no objeto em questão. Quando essa sensação é afirmativa, eu sinto o objeto como belo, e feio quando é o contrário. A percepção estética empática é sempre a experiência de um outro ser humano como em comparação, se percebe algo como bonito em analogia a outro corpo humano. É a mesma percepção que reconhece uma mente em outro ser vivo, e ela tem origens em um fenômeno de imitação interna, em que eu imito o estado mental de outra pessoa com base no que é possível observar dela. Assim, como o sujeito que imita não é consciente da imitação, ele apenas reconhece os sentimentos do outro e os sentimentos de si. O conceito de empatia se estende para todas as atividades mentais. 2 – Empathy and the Philosophical Problem of Other Minds: Lipps defendia que a empatia era o meio epistêmico primário para o reconhecimento de outras mentes. Seu argumento era apelativo na medida em que criticava a solução de Mill para o problema das outras mentes, a inferência por analogia. i.) Another person X manifests behavior of type B. ii.) In my own case behavior of type B is caused by mental state of type M. iii.) Since my and X’s outward behavior of type B is similar, it has to have similar inner mental causes. (It is thus assumed that I and the other persons are psychologically similar in the relevant sense.) Therefore: The other person’s behavior (X’s behavior) is caused by a mental state of type M. Lipps critica esse enquadro argumentativo por considera-lo autocontraditório, pois ao invés de fornecer alguma explicação para o que consiste da semelhança e diferença das outras mentes, ele parte de um entendimento cartesiano onde não se é capaz de reconhecer outras mentes em primeiro lugar. Então se teria que pensar num novo e completamente outro “eu” que não sou eu. Ainda que a crítica dele seja bem reputada, não é claro como o conceito de empatia de Lipps soluciona o problema. A tradição fenomenológica critica Lipps por essa razão e por considerar que ele não toma dados fenomenológicos para consideração do seu conceito, mas toma emprestado seu conceito de empatia. A diferença é que “empatia” para essa tradição é um dado tal como o dado dos sentidos, um ato experiencial sui generis, um ato perceptual que considera como atos mentais são expressos pelo corpo. 2.1 – Mirror Neurons, Simulation, and the Discussion of Empathy in the Contemporary Theory of Mind Debate O debate sobre empatia foi revivido pela psicologia do senso comum dos anos 80. Numa empreitada similar à da filosofia do senso comum e da linguagem comum estes psicólogos visam enriquecer e avaliar as crenças populares sobre como se interpreta, explica e alcança as outras mentes. Em contraste, os teóricos da simulação concebem nossas capacidades ordinárias de ler outras mentes como pobres de conhecimento, onde eu não utilizo do senso comum mas na verdade me coloco como modelo único para a atividade mental de todas as outras mentes. Além do mais, as descobertas recentes dos chamados neurônios-espelho podem ser entendidas como provendo a evidência empírica para a ideia de Lipps de empatia como imitação interna. Com a ajuda dessa descoberta os cientistas referem-se ao fato de que há uma sobreposição entre a percepção das ações de outras pessoas e as áreas de estímulo cerebral no sujeito que percebe estas ações quando executa as mesmas ações observadas. Isso vale também para percepção de expressões faciais. Esses neurônios são pensados como constituindo a multiplicidade da nossa intersubjetividade, possibilitando a percepção dos atos de outras pessoas como orientados por objetivos determinados. A evidência desses neurônios serem ativados em uma área cerebral diferente da percepção de objetos físicos sugere que já temos de pronto uma capacidade primária de percepção de objetos e outra capacidade primária de percepção das outras mentes. Entretanto essa descoberta não está livre de críticas. Há quem formule que a ciência da ressonância cerebral mais pressupõe do que comprova; ou que destaca que não é exatamente um espelho, que por exemplo ao perceber a dor alheia nós não espelhamos a dor, apenas o sentimento de aversão ao objeto da dor; e o quanto e como é espelhado varia em relação a quem é observado e se a dor é justificada pela punição ou pela medicina. Ainda se deve notar que o ler de mentes do cotidiano não deve ser restrito ao campo da empatia básica. Não apreendemos apenas que o outro “quer pegar o copo”, também buscamos entender o seu comportamento num contexto social determinado, usando toda a abrangência do nosso conhecimento psicológico sobre crenças e desejos, e por isso houveram teóricos que defenderam uma distinção entre uma empatia básica e uma complexa. Relacionado a isso há o debate sobre se a empatia é o método das ciências humanas e se ele deve ser distinguido do seu uso das ciências naturais, uma vez que nas ciências humanas poderia se desenvolver um outro conceito, similar a este de uma empatia complexa, sendo porém usado como “o ato interpretativo de julgar ações alheias como cultural e narrativamente determinadas” ou como uma ato perceptual simples e distinto, que nem os fenomenólogos. 3 – Empathy as the Unique Meth od of the Human Sciences No decorrer do século XX empatia passou a ser associado ao conceito de entendimento, um conceito da tradição hermenêutica com vistas de explicar os métodos usados na apreensão de textos, artes e atitudes. Houve uma distinção entre o entendimento quando aplicado às ciências humanas e quando aplicado às ciências naturais. Autores como Dilthey assumiam que esse ato de imitação interna e transporte mental fazia parte do entendimento de qualquer fato histórico, mas essa interpretação psicológica terminou por ser elencada como sendo apenas uma forma entre outras do método de entendimento histórico. Para além da filosofia das ciências humanas, nas tradições analítica e continental o conceito de empatia era visto como epistemicamente ingênuo e amplo demais. Na filosofia da ciência o conceito era investigado como questionamento normativo sobre como justificar uma explicação ou interpretação. 3.1 – The Critique of Empathy in the Context of a Hermeneutic Conception of The Human Sciences First, empathy is no longer seen as the unique method of the human sciences because facts of significance, which a historian or an interpreter of literary and non- literary texts are interested in, do not solely depend on facts within the individual mind. In reading a text by Shakespeare or Plato we are not primarily interested in finding out what Plato or Shakespeare said but what these texts themselves say. Second, conceiving of understanding other agents as being based on empathy is seen as an epistemically extremely naïve conception of the interpretation of individual agents, since it seems to conceive of understanding as a mysterious meeting of two individual minds outside of any cultural context. Individual agents are always socially and culturally embedded creatures. Understanding other agents thus presupposes an understanding of the cultural context within which an agent functions. Moreover, in the interpretive situation of the human sciences, the cultural background of the interpreter and the person, who has to be interpreted, can be very different. 3.2 – The Critique of Empathy within the Context of a Naturalist Conception of The Human Sciences Aqueles pensadores que negam essa distinção entre entendimento e explicação são chamados de naturalistas na filosofia das ciências sociais. E isso leva a diferenças metodológicas. Na filosofia naturalista das ciências sociais a empatia tem um papel heurístico mas não cumpre o papel de dar justificativas – prover leis razoáveis para a explicação dos eventos. Consequently, Hempel’s objection against empathy retain their force as long as one maintains that reason explanations (we explain actions in terms of an agent’s reasons) are a form of ordinary causal explanations and as long as one conceives of the epistemic justification of such explanations as implicitly appealing to some empirical generalizations. Folk psychological explanations have to be understood as being tied to the domain of rational agency. Most plausibly—given our persistent inability to solve the frame problem—recognizing which of another agent’s thoughts are relevant in specific contexts requires the practical ability of reenacting another person’s thoughts in one’s own mind. Empathy’s central epistemic role has to be admitted, since beliefs and desires can be understood only in this manner as an agent’s reasons. 4 – Empathy as a Topic of Scientific Exploration in Psychology Throughout the early 20th century, but particularly since the late 1940’s, empathy has been an intensively studied topic of psychological research. Here empathy, or what was then called sympathy, was regarded to play a central role in constituting human beings as social and moral creatures allowing us to emotionally connect to our human companions and care for their well-being. É possível distinguir duas tradições de pesquisa da psicologia sobre a empatia: a primeira seria a do estudo da abrangência e precisão da empatia enquanto fenômeno emocional, aquele que pesquisa estando interessado em determinar a confiabilidade e precisão desta habilidade em perceber e reconhecer os traços de personalidade contínuos de outros, suas atitudes e valores, e estados mentais ocorrentes. Se pesquisa também quais fatores e como estes influenciam na empatia, por exemplo, idade, gênero, história familiar, estabilidade emocional, qualidade das relações interpessoais, inteligência ou se depende de motivações específicas do observador. A outra tradição de pesquisa é aquela que considera a empatia como um fenômeno ou afeto emocional, até mesmo relacionando suas descobertas com a questão de motivação moral posta por filósofos. Essa tradição está interessada em: (i) o desenvolvimento de meios para medir a empatia enquanto traço disposicional de crianças e adultos e enquanto resposta situacional a casos específicos; (ii) os fatores que respostas empáticas e disposição dependem em; (iii) a relação entre empatia e comportamento pró-social e de desenvolvimento moral. Antes de partir para a discussão da relação da pesquisa psicológica sobre empatia com a filosofia moral é necessário introduzir distinções conceituais ao considerar estudos empíricos do caso. Quem buscar a literatura sobre a empatia emocional afetar-se-á pelo fato de como empatia é inicialmente definida com uma amplitude muito vasta. Se for definida como “an observer’s reacting emotionally because he perceives that another is experiencing or is about to experience an emotion”, reações emocionais tais como inveja, pena ou alívio serão tidas como empáticas. Por isso neste contexto é útil distinguir, conforme foi-se afinando o entendimento de empatia, entre emoções que (a) são reativas mas são reações orientadas por si (b) ou pelos outros; e se elas pressupõem (c) ciência da distinção entre eu e os outros (d) ou não. i. Contagio emocional: Ocorre quando o sujeito sente emoções similares a de outrem por meramente estar associados a eles, e.g. pânico por que todos na minha volta estão em pânico. O contágio não requere que o sujeito esteja ciente que está sentindo porque os outros sentem, isto é, ciente do próprio contágio, assim sendo o sujeito experimenta as sensações como se fossem próprias. ii. Empatia afetiva propriamente dita: Entendida de modo mais estreito é o compartilhamento vicário de um afeto. Há diferença entre os autores. Para uns, é necessário que o empata e aqueles empatizados tenham estados afetivos similares. Para outros isso não é necessário se houver o envolvimento de processos psicológicos que fazem alguém ter sentimentos que são mais congruentes com a situação de outra pessoa do que com a sua própria. ↦ Essa definição inclui casos como se sentir triste ao ver uma criança que não sabe da sua própria doença terminal feliz. Diferente do contágio, empatia pressupõe a habilidade de diferenciação. Sentir-se triste ao ver outra pessoa triste só é empatia se essa não for uma reação à minha própria vida, e sim uma reação a vida de quem está sendo visto. Assim sendo não é empatia estar feliz ao ver os próprios filhos felizes, pois isso é uma resposta emocional apropriada pela minha própria perspectiva de mundo. De acordo com isso não basta ter uma reação similar, meu estado afetivo deve direcionado ao mesmo objeto intencional. Há também aqueles que tem uma consideração mais ampla, em que o foco não é no compartilhamento vicário de emoções e sim de reações a crenças e desejos. Esse especialmente o caso dos teóricos que consideraram a empatia como um meio epistêmico, o que levou a posterior distinção entre compartilhamento afetivo e tomada de perspectiva. iii. Simpatia: É uma emoção sui generis que tem a emoção e situação negativa do outro como objeto da perspectiva de alguém que se importa. Assim simpatia é sentir concernimento por quem tem necessidades, sentir o outro a partir de uma perspectiva elevada do sofrimento do outro como algo que precisa ser aliviado. É plausível assumir que a empatia leva a simpatia, mas essa não é uma relação necessária. É suficiente que se reconheça que o outro sofre sem ter emoções congruentes com o seu sofrimento. Importante considerar que as vezes a angústia empática pode levar à fadiga de compaixão, um caso apenas de angústia pessoal distinto das outras condições mencionadas. iv. Angústia pessoal: É uma emoção reativa que responde a emoção negativa de outra pessoa. Entretanto é diferente da simpatia pois nesse caso o sofrimento alheio não me deixa mal pelo outro, apenas me deixa mal. O estresse pessoal não é congruente com o estresse alheio, ele define minha própria visão de mundo. Ainda que seja conceitualmente necessário diferenciar entre essas reações emocionais, admite-se que não é fácil discriminá-las empiricamente pois tendem a acontecerem juntas. 5 – Empathy, Moral Philosophy, and Moral Psychology A filosofia moral sempre esteve interessada na psicologia moral e em articular uma estrutura motivacional do agente moral em vistas de explicar a importância da moralidade na vida humana. Julgamentos morais supostamente demandam da vontade do agente e fornecem razões e padrões normativos para agir de certa maneira. Os julgamentos morais nos cobram da perspectiva da postura moral onde se deixa para trás a perspectiva do amor próprio e não nos concebemos uns aos outros como amigos ou inimigos, ou pertencentes ao grupo ou estranhos ao grupo, sendo todos de uma comunidade moral. Enfim, a moral requere que as nossas motivações baseadas em razões morais sejam sem interesse próprio. A importância da moral é: explicar como os humanos se interessam pela moralidade e porque devemos nos preocupar com isso e porque devemos considerar juízos feitos a partir da perspectiva moral como tendo autoridade sobre nós; nos permitir entender como pode ser que se aja de maneira altruísta de modo a corresponder às demandas feitas a nós pela postura moral. Para responder essas questões é necessário explicar a relação dos nossos interesses morais à nossa constituição psicológica e como as demandas morais são endereçadas apropriadamente a sujeitos que têm tal estrutura psicológica. O desafio dessa empreitada é encaixar uma descrição realista da psicologia humana com a universalidade e validade dos juízos morais, uma vez que a motivação humana e seus mecanismos psicológicos sempre são situacionais, locais e limitados, e que o viés cognitivo de grupo é um traço universal da psicologia humana. Uma das tentativas de solucionar esse problema é relacionar esses desejos filosóficos com o papel central que a simpatia e a empatia teriam ao constituir-nos como agentes sociais e morais com capacidade de responder à juízos morais. Dessa mesma forma a empatia foi saudada por diversos pesquisadores contemporâneos como a base do juízo moral, ou como o traço evolutivo da moralidade, ou como a força com capacidades revolucionárias, ou o solvente universal para solucionar os problemas humanos. Foi também criticada pela sua capacidade de cair indefesa para os vieses do aqui e agora. As perguntas que serão consideradas para a importância da questão são se a empatia sempre motiva de modo altruísta, se é enviesada e parcial ao grupo, e como se pode pensar no caráter normativo dos juízos morais sob a luz das nossas capacidades empáticas. 5.1 – Empathic and Altruistic Motivation Teve um psicólogo social, Daniel Batson, que fez experimentos para defender sua tese de que a empatia/simpatia leva a comportamentos altruístas. Essa tese seria uma crítica às várias interpretações sumárias do fenômeno da empatia como sendo associado a motivações egoístas, como o medo de consequências negativas de culpa ou represálias sociais ou busca por consequências positivas de recompensa. Batson não pretendia defender que não é possível que haja motivações egoístas nem que a empatia sempre leva ao comportamento altruísta. Ao invés disso ele pretendia demonstrar a evidência de comportamentos altruístas e casos em que a empatia leva ao altruísmo. Se o agente vai ajudar ou não outra pessoa depende no quão forte são suas motivações altruístas e que custos o agente teria em ajudar. Os experimentos de Batson consistem em manipular a situação de sujeitos e manipular sua empatia sentida por um alvo observado. A evidência seria o comportamento altruísta registrado, que não poderia ser visto como tendo objetivos pessoais. Batson assume que a empatia pode ser manipulada ora por manipular a similaridade percebida pelo sujeito com o alvo ora por manipular a perspectiva de ação dos sujeitos. O resultado dos experimentos é aberto para discussão. São propostos como provando que tem sim casos onde os sujeitos que foram levados a considerar como se sentiriam na pele do alvo terminaram por tomar uma atitude altruísta mesmo tendo também uma opção de fuga fácil. Houveram críticas se o fenômeno registrado foi uma sensação de altruísmo ou de identificação, ou que o experimento não poderia prever que os sujeitos estavam na verdade fugindo de ter sentimento de culpa. O fato é que Batson cobrou mais rigor e precisão daqueles que defendem o egoísmo. Os ganhos de Batson não são conclusivos em validar a tese de que a empatia é a base da moralidade ou que a empatia nunca levaria a um conflito moral. Por fim, os experimentos não decidem a questão se uma capacidade de ler mentes através da empatia é necessária pra moralidade uma vez que Batson a considera como um fenômeno e não como capacidade. 5.2 – Empathy, Its Partiality, Suscetibility to Bias, and Moral Agency Uma das mais compreensíveis descrições entre a empatia e sua relação com o desenvolvimento moral de um sujeito foi feita por Martin Hoffman. Para Hoffman a empatia é uma disposição biológica para o comportamento altruísta. Ele concebe a empatia como se dando a partir de vários tipos de estímulos, nos permitindo responder empaticamente a uma variedade de pistas de angústia dadas por outra pessoa. Hoffmann menciona mimica, condicionamento clássico, associação direta como sendo mecanismos de ação rápida e automática que produzem resposta empática. Mecanismos que demandam mais cognição seriam associação mediada e tomada de papéis. Hoffman distingue entre seis ou mais estágios de desenvolvimento de respostas empáticas indo de reação ao choro entre recém-nascidos, estresse empático egocêntrico, estresse empático quase-egocêntrico, empatia, empatia por outro além da situação e empatia por um grupo. Os exemplos em ordem são contágio emocional, procurar amparo na própria mãe ao ver a dor de outra criança, tentar confortar a outra criança com coisas que confortariam a si próprias, comportamento pró-social. Hoffman está ciente a empatia é limitada em especial pelos vieses do aqui e agora. E também das limitações do seu enquadro conceitual pontuando que considerar a empatia como um dos princípios da moralidade não quer dizer que circunscreve todo o campo da moral, em que contém também o conhecimento de princípios morais abstratos. Porém ele defende que a ação moral requer a empatia como base motivacional, e que apesar das limitações a empatia é a cola da sociedade. Nesse contexto, o último estágio do desenvolvimento empático é o “testemunho”, no sentido em que a resposta e tão intensa que um sujeito se compromete completamente em ajudar. As críticas que Hoffman recebeu consistem em enfatizar que há uma tendência a empatizar mais facilmente com pessoas mais atraentes, pessoas que nos são próximas e se seu sofrimento é saliente para quem observa. São considerados o viés de grupo e os casos de “empatia contrária”, e nota-se que uma resposta empática pode levar a uma reação violenta. A pesquisa continua em aberto. Até agora o que se pode afirmar é que: empatia por si só não é suficiente para nos manter no caminho da moralidade; se a empatia é um recurso limitado ou um fenômeno motivacional que suas limitações são devido nossa relutância em ativar essa capacidade ou não é algo que necessita de mais investigação empírica; que as emoções de vergonha, culpa ou raiva são tão enviesadas quanto a empatia (certamente no contexto do budismo a simpatia parece ser menos enviesada). Tem autores que sugerem que ao invés de abandonar essa via de investigação, deve-se reformar a empatia alcançando princípios regulados pela razão. Há também uma breve diferença quando se investiga os fenômenos de tomada de perspectiva e simpatia, que parecem ser positivos para a caridade e cooperação, reduzir preconceitos e aguçar a sensibilidade a injustiças. Esses ganhos são raros quando se tratam de grupos com disparidades de e competições por poder. 5.3 – Empathy, Moral Judgement, and the Authority of Moral Norms Outras áreas importantes para se considerar o papel da empatia em considerações morais é em questões sobre como e se a empatia contribui para a nossa habilidade de distinguir entre normas convencionais e normas morais, no fazer juízos morais, e como a empatia pode se apelar para a empatia ao explicar a autoridade destes julgamentos. São questões de ordem normativa. Normas morais são aquelas que expressam referência aos direitos, à justiça, e ao bem estar do outro, e têm um padrão de resposta específico associado a elas. Julga-se que seu escopo seja mais abrangente, e que sua violação seja uma ofensa mais séria do que outras normas. O fato de a empatia ter viés de grupo não e uma evidência contra se ela tem um papel na diferenciação entre normas morais e convencionais. É de importância central para o acesso do papel da empatia nessa distinção a pesquisa sobre a natureza da psicopatia e do autismo, uma vez que ambas patologias são pensadas como causando déficit na capacidade empática, e que a psicopatia é pensada como dificultando a capacidade de distinguir entre uma norma moral de uma convencional, ainda que não tendo dificuldades com a tomada de perspectiva, que nem o autismo. Mais especificamente, psicopatas tem dificuldades em processar expressões de medo, tristeza e nojo. A partir daí o papel da empatia é inconclusivo. Alguns pesquisadores interpretam as evidências de suas pesquisas como demonstrando não que a psicopatia é causada por que o paciente é incapaz de sentir especificamente a empatia, mas por ser incapaz de sentir fortes emoções num geral, pelo seu sangue-frio, ou até por falta de capacidades cognitivas e prudenciais. Por essa perspectiva, um psicopata pode entender que algo é moralmente errado e simplesmente não se importar. Em relação ao autismo, argumenta-se que sua dificuldade em tomar papeis e em empatizar não o impedem de distinguir entre normas morais e convencionais, mas lhes falta flexibilidade em avaliar a seriedade da violação moral diante de dilemas morais ou violação acidental das normas. Filósofos estão interessados em explicar mais do que a base psicológica da nossa consciência de normas morais. A empatia é usada pelos sentimentalistas morais, que veem a moralidade ligada à nossa resposta emocional a ações nossas e de outrem, como explicando a natureza dos juízos morais. Hume sugeriu que os juízos morais são baseados em sentimentos de aprovação moral, que por sua vez são mediados pela nossa capacidade de empatizar – de viver e pensar sobre os prazeres e dores dos outros – para considerar os benefícios das ações de alguém para si e para os outros. Ele insistia que a empatia deve ser regulada por um ponto de vista geral e equilibrado. O problema é a dificuldade de entender como Hume distinguiria em seus julgamentos algo como ruim e algo como moralmente errado. Um pesador que pensou na empatia como tendo um papel constitutivo na moral foi Michael Slote. Ele sugere que a empatia é central para a aprovação moral enquanto nós espectadores de uma ação empaticamente tomamos o agente alvo como tendo ou não agido empaticamente. Ações morais são julgadas pelo quão empáticas elas foram. Assim, os vieses da empatia seriam os reguladores morais, sendo mais moralmente relevante aquela ação mais enviesada (se a empatia tende a priorizar crianças do grupo, atentar contra elas é um crime mais grave). É questionável se toda a motivação moral é empática, alguém poderia agir pensando somente em uma concepção “do que é mais certo” e não nas dores e prazeres dos envolvidos. Também é questionável se todos os vieses da empatia devessem ser incluídos nas intuições morais. Por fim, “ser aceitável” não parece valorizar a ação moral. O interesse filosófico é por questões normativas genuínas para tentar responder se devemos nos importar com a moralidade e com as demandas morais feitas a nós. Ao culpar os outros moralmente avaliamos seu comportamento assumindo que eles estão comprometidos com padrões morais como se fossem seus e não como se fosse imposição nossa desses padrões a eles. Se juízos morais forem apenas sobre cumprir com expectativas emocionais dos outros sobre mim a moralidade não é mais do que uma pressão de grupo. Evitando essas críticas que os simpatizantes da empatia encontram em Adam Smith o desenvolvimento empático dos aspectos morais. Smith concebe a empatia não um sentimento que assume as emoções alheias mas uma tomada de perspectiva imaginativa. Assim a tomada de perspectiva é se colocar na situação do outro, imaginar como ele responderia, como pensou e como se sentiu; em trazer o ponto de vista de outrem para o nosso, reconhecemos como responderíamos, pensaríamos e nos sentiríamos naquele caso, e daí sim nos faríamos o nosso juízo moral de aprovação ou desaprovação. Além do mais, esse julgamento teria base na nossa capacidade de empatizar com o ponto de vista do espectador imparcial, a quem apelaríamos para a correção moral. Esse refazer do ponto de vista imparcial é uma demonstração do nosso comprometimento com a prática de sentir uns aos outros como criaturas racionais e emocionais, incluindo a perspectiva do outro como um comprometimento a sua dignidade.