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Teste de compreensão oral 5

Nome de família
A avó do meu pai tem noventa anos e chama-se
Benedita.
A mãe do meu pai tem sessenta e quatro anos e
chama-se Benedita.
A irmã mais velha do meu pai há mais de dez anos
5 que tem vinte e nove, e chama-se Benedita.
Eu vou nos quinze e também me chamo Benedita.
Tudo isto – conforme o meu pai não se cansa de
repetir – por causa de uma antepassada chamada
Benedita, que um dia meteu duas pistolas à cintura e
10 veio por aí abaixo à cata de franceses.
A história passou-se há uma data de anos, no tempo
de Napoleão, quando Portugal aguentou com três
invasões francesas e andava o povo todo a fugir dos
soldados estrangeiros que roubavam, matavam,
15 saqueavam e destruíam tudo por onde passavam.
A minha professora de História gaba sempre muito os
meus conhecimentos deste “período conturbado da
nossa existência”. Se ela vivesse em minha casa, ao
lado do meu pai, iria rapidamente perceber que só um
20 surdo não ficaria a conhecer toda esta história que o meu pai repete dia sim, dia não. Mas eu
faço um ar superior e prefiro deixá-la pensar que é tudo interesse meu. Adiante.
Ao que parece, a minha antepassada não era para graças e, antes que os franceses
chegassem à sua porta, resolveu ser ela a ir ao encontro deles e meter-lhes uns bons chumbos
na barriga.
25 E é por causa deste feito heroico que, na família do lado do meu pai, todas as filhas mais
velhas carregam com o seu nome.
[…]
A minha mãe, que não tem nada a ver com a história, não liga muito aos atos heroicos da
trisavó Benedita e fica muda, lá no seu canto, de cada vez que o meu pai se lembra de evocar a
antepassada. Para sermos bem exatos, é preciso dizer que ela não é bem, bem nossa trisavó.
30 É ainda muito mais para lá disso. O Diogo uma vez fez as contas e, como chegou à conclusão
de que ela era nossa avó em sexto grau, chamou-lhe “hexavó”.
– Então a gente não chama hexágono a um polígono de seis faces? – perguntava ele.
O meu pai apreciou muito a sabedoria do meu irmão, mas fez-lhe saber que a nossa
antepassada não era uma figura geométrica e por isso ele que não se fizesse engraçadinho e
35 lhe chamasse trisavó, como toda a gente.
– Para simplificar – disse o meu pai.
– Mas está errado – murmurou o Diogo.
Alice Vieira, Trisavó de pistola à cinta e outras histórias, Ed. Caminho, 2001

1 DIAL7 © Porto Editora


Teste de compreensão oral

Nome ________________________________________N.º _____ Turma _____ Data______________

Avaliação _____________________________________________ Professor(a) ___________________

Título do texto ouvido: Nome de família


Indica se são verdadeiras (V) ou falsas (F) as seguintes afirmações:

V F

a. A narradora é uma jovem de quinze anos.

b. Ela chama-se Benedita por causa de uma antepassada da família da mãe.

c. Na família da narradora, para além dela própria, existem atualmente mais


três pessoas com o nome Benedita.

d. A antepassada era considerada uma heroína porque lutara contra os


franceses, no tempo de Napoleão.

e. Contava-se que ela recebera as tropas francesas à porta de sua casa, a


tiro.

f. Por esse motivo, todas as raparigas da família passaram a chamar-se


Benedita.

g. No entanto, para a narradora esse nome é um fardo.

h. Por causa da antepassada, a narradora leu muitas coisas sobre a época


histórica em que ela viveu.

i. No entanto, a professora de História da narradora não gosta do seu ar


superior quando ela mostra os seus conhecimentos.

j. A mãe da narradora não dá muita importância aos feitos heroicos da


antepassada.

k. Embora se refira à heroína como trisavó, na realidade ela é familiar da


narradora em sexto grau.

l. Diogo, o irmão da narradora, achava que, por esse motivo, se deviam referir
à antepassada como “hexavó”.

2 DIAL7 © Porto Editora


m. O pai observou que era mais simples chamarem-lhe trisavó.

n. Diogo concordou com o pai.

3 DIAL7 © Porto Editora

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