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RESUMO
Este artigo visa analisar o que faz de um espaço, um lugar. Assim, tomando como
estudo de caso a Estação da Estrada de Ferro Goiás na cidade de Araguari-MG,
vários elementos são analisados, como paisagem e assentamento, interior e
exterior, terra e céu, orientação e identificação, abstrato e concreto, forma, cor,
textura, luz; partindo de uma conceituação inicial sobre o genius loci, ou espírito do
lugar. A Estação da Estrada de Ferro Goiás tem sua implantação diretamente
relacionada com o desenvolvimento urbano, econômico e cultural da cidade. Três
fases distintas serão abordadas neste trabalho: a fase da implantação das estradas
de ferro na cidade, em especial, a estrada de ferro Goiás e o complexo ferroviário,
tendo como símbolo a estação; a fase do declínio da estrada de ferro e o gradual
abandono do complexo ferroviário e por fim, a restauração da principal edificação do
complexo motivando uma reestruturação da cidade, retomando assim o espírito do
lugar.
*
Artigo elaborado na disciplina de Bioclimatismo na Arquitetura e Urbanismo do Programa de Pós-Graduação
da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília.
** Autora do artigo, na época aluna especial da disciplina, atualmente aluna regular do Programa de Pós-
Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília na área de tecnologia.
Arquiteta urbanista da Divisão de Patrimônio Histórico de Araguari, integrante do Grupo de Pesquisa CEUCP-
Centro de Estudos Urbanos e da Paisagem da UNITRI.
*** Professora doutora da Universidade de Brasília, atua nas áreas de sustentabilidade, bioclimatismo, desenho
urbano, espaço público, arquitetura e clima. Professora da disciplina citada acima e orientadora deste artigo.
2
ABSTRACT
This article aims to analyse what turns a space into a place. So, taking the Station
of Goiás railroad in the city of Araguari-MG as a case to study, several elements are
analyzed, as landscape and settlement, outside and inside, earth and sky, orientation
and identification, abstract and concrete, shape, color, texture, light; starting from an
initial concept on the genius loci, or spirit of the place. The Station of Goiás railroad
has its implantation directly related with the urban, economical and cultural
development. Three periods will be brought up: the implantations of railroads in the
city, in especial, the railroad Goiás and the railroad complex, with its symbol, the
station; the decay period of the railroad and the railroad complex gradual
abandonment, and at last, the restoration of the principal building of the
complex motivating the city restructuration, recovering the spirit of the place.
1 INTRODUÇÃO
Mande notícias
Do mundo de lá
Diz quem fica
Me dê um abraço
Venha me apertar
Tô chegando...
A hora do encontro
É também, despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida...
12
FIGURA 5: Vista dos vagões e das várias linhas férreas. Estação ao fundo (década de 1950)
FONTE: Acervo Geraldo Vieira localizado no Arquivo Público Dr. Calil Porto.
A torre, tal como a da igreja, vista dos vários cantos da cidade dava a
orientação. As relações sociais, os sentimentos, as sensações revelavam a
identificação.
O exterior complementava o interior, não somente pelas janelas e portas, mas
também a plataforma é um elemento que representa de forma clara esta relação,
demonstrando que a soleira que separa o mundo interior do exterior não é mais a da
porta da edificação e sim a do trem.
A relação da arquitetura e do trem era estreita. O cheiro da arquitetura era o
da fumaça do trem. O som da arquitetura, o apito. Outro som, a sirene, indicando
que era hora de começar ou parar de trabalhar. E assim, toda a cidade seguia o
ritmo da ferrovia.
O edifício, a plataforma e a praça são capazes de conjugar a interioridade
com a exterioridade, o aberto e o fechado. O espaço público é confortável, o homem
se sente em casa, é seu mundo interno.
maior número de pontes para vencer os desníveis. Como resultado a antiga Estação
da Goiás foi gradativamente abandonada, bem como os demais edifícios do
complexo, com exceção do prédio das oficinas a Diesel, degradando-se dia-a-dia
tanto pela ação do tempo quanto pelo vandalismo.
Em 1989 o Complexo Ferroviário da Antiga Estrada de Ferro Goiás foi
tombado pelo município devido a sua grande importância do ponto de vista
arquitetônico, histórico, econômico, ou seja, da relevância cultural.
Em 2002, a Divisão de Patrimônio Histórico pediu junto ao estado, o
tombamento estadual, que por ser considerada importante a nível estadual também
foi aceito.
Como resultado das políticas de privatização do governo federal, no ano de
1996 a RFFSA foi extinta. Somente o transporte de cargas permaneceu em
funcionamento por meio de concessões a particulares.
Em 1999, a Prefeitura Municipal de Araguari adquiriu parte do complexo onde
se localiza o edifício da antiga estação e contratou uma empresa para elaborar o
projeto de restauro. A proposta era ocupar a edificação com uso misto,
administrativo e cultural. A obra foi iniciada com a restauração do telhado e depois
paralisada. Assim, a estação novamente ficou abandonada.
FIGURA 10: Vista aérea do Complexo da Estrada de Ferro Goiás, década de 1990.
FONTE: Divisão de Patrimônio Histórico de Araguari-MG.
FIGURA 11: Estação no dia do Mutirão Pró-restauração e algumas pessoas que trabalharam.
FONTE: Divisão de Patrimônio Histórico de Araguari-MG.
DESCE
14 DESCE
13
6
2 8
7 11 11 12
5 8
7
1
2
3 6
5 4 3
10
1
4 9
5 5
4 4
3 3
2 2
1 1
PAVIMENTO TÉRREO
1 - Recepção
2 - Recepção Procuradoria
Folker 3 - Procuradoria
4 - Procurador
5 - Museu Ferroviário
13
6 - Copa/Cozinha
7 - Banco do Brasil
12
11
8 - Tesouraria
10
9
8
9 - Tesoureiro
7
10 - Secretaria de Desenvolvimento/Departamento de Turismo
6
5 11 - Secretaria de Desenvolvimento/Departamento de Turismo
4
SOBE 3
2
SOBE
12 - Sala de Reuniões
1
13 - Reserva Técnica/Sala do Museu
SOBE
14 - Plataforma
1 2 3 4 5
7 7 7 7
7 9
5
12 4 Sacada
2
10 3
11 1
6
PAVIMENTO SUPERIOR
1 - Recepção
2 - Recepção/Sala de Espera Salão Nobre
3 - Gabinete do Prefeito/Sala de Despacho
4 - Gabinete do Prefeito/Sala de Reuniões
5 - Secretário de Gabinete
Mirante
6 - Secretário de Fazenda
7 - Banheiro
8 - DML
9 - Copa
10 - Sala de Espera Secretário de Governo
11 - Apoio/Recepção Secretário de Governo
12 - Secretário de Governo
10
11
12
13
14
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22
2° PAVIMENTO
1 - Cerimonial
A sirene ainda toca, nos mesmos horários, mesmo que não haja uma só
pessoa que cumpra os seus horários, e assim a lembrança é ativada diariamente.
Quando falece algum ferroviário, a sirene toca diferente, o som anuncia que um
companheiro partiu.
FIGURA 17: Vista do Palácio dos Ferroviários a partir da Rua Joaquim Aníbal, 2008.
Pela manhã o sol enche de luz sua fachada frontal ressaltando ainda mais o
amarelo das paredes e o branco dos detalhes. A luz do sol que incide sobre a água
da fonte, reflete o seu movimento nas paredes da estação. O pôr-do-sol banha a
fachada posterior, deixando a fachada principal (frontal) em tons rosados. À noite, a
iluminação artificial juntamente com a fonte jorrando água iluminada em cores
variadas dão um caráter romântico ao local.
Trata-se de um fato singular, um núcleo sólido, referência urbana, sede de
vicissitudes antigas e modernas, enfim, um espaço público efetivo, ponto de
encontro, porto-seguro, um monumento capaz de reorganizar a vida coletiva
trazendo à tona a necessidade emocional e cultural dos habitantes da cidade.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LOUISE, Viviane; BENFICA, Marcelo. 24º Documentário, Série DOCTV III, Café
com Pão, Manteiga Não. Goiás: FUNDAÇÃO PADRE ANCHIETA - TV CULTURA,
2007.