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artificial
Máquinas
Avanços da interface de voz e da
que “pensam”
computação cognitiva aproximam
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2| | DEZEMBRO | 2017
Editorial
Expediente
Eis o número 13 da revista.br. Para os gregos, 13 é um número de azar
porque a quarta cruzada tomou Constantinopla numa terça-feira, 13 de abril EDITOR CHEFE
de 1204. Já para Zagallo e para os italianos, é um número de sorte. Na dúvida, Demi Getschko
seguiremos em frente!
CONSELHO EDITORIAL
E seguir em frente é tratar do que está no horizonte próximo, nem sempre Carlos Afonso
previsível, nem sempre fácil de absorver. Há avanços importantes, talvez inquie- Eduardo Parajo
tantes, em inteligência artificial, em robótica, em coisas que escutam, falam Lisandro Granville
e... aprendem. Estamos cada vez mais cercados por algoritmos, cujo objetivo Hartmut Glaser
é tornar nossas ações mais confortáveis e simples, mas cujas consequências
COMUNICAÇÃO NIC.BR
podem ser bem menos previsíveis ou propícias. Gerente de Comunicação
No progresso mais chão, os telecentros continuam a desempenhar seu papel Caroline D’Avo
de prover acesso aos ainda não totalmente incluídos na sociedade da informação
e da interação. Os que vivem em grandes centros nem sempre se dão conta Coordenador de Comunicação
da utilidade dos telecentros para muitos. Onde há escassez de Internet, há Everton Teles Rodrigues
telecentros. Eles fazem parte do ecossistema que permite o acesso à Internet, Assistente de Comunicação
desde os grandes provedores de acesso, passando pelos pequenos mas vitais Soraia Marino
provedores locais, que atuam em áreas de menor interesse econômico, mas
certamente tão importantes socialmente como as demais. REDAÇÃO
Alguns temas técnicos como os envolvidos em captação de áudio e vídeo Editor
Renato Cruz
também são assunto. Dispositivos que atuam no setor audiovisual são cada vez
mais acessíveis e sua oferta tem crescido de forma muito rápida. Canais virtuais, Editora de Arte
VPNs, sua robustez e eventuais riscos envolvidos também têm seu espaço. Maricy Rabelo
Finalmente, sobre criptografia temos uma excelente entrevista com o pro-
fessor Routo Terada, do IME/USP, completando esta edição. Um profissional Designers
Klezer Uehara e Giuliano Galvez
que se envolveu com o desenvolvimento da área da computação acadêmica
sempre com muito sucesso, e que hoje é uma referência. Colaboradores
Carolina Silva, Demi Getschko,
Fábio Barros, Mariana Lima,
Nilton Tuna Mateus e Roberta
Prescott
Boa leitura!
DEMI GETSCHKO Imagens:
Editor chefe Shutterstock
4| | DEZEMBRO | 2017
/Inteligência Artificial
MÁQUINAS
QUE “PENSAM”
E FALAM
Foto: Alexa da empresa Amazon
2017| DEZEMBRO | |5
A inteligência artifi-
D
epois de um dia cansativo, o escritor The-
odore Twombly chega em casa e decide
instalar um software novo no computador.
cial já faz parte da
Para que o programa funcione perfeitamente The-
odore precisa responder a apenas duas questões:
nossa vida, mas não
“Como é seu relacionamento com sua mãe?” e percebemos. Muito
“Você se considera sociável?”.
Segundos depois uma voz feminina ecoa do em breve, quando
computador. “Oi, como está? É um prazer conhecê-
-lo, me chamo Samantha”. Intrigado, o escritor per-
os eletrodomésticos
gunta: “Mas quem te deu esse nome?”. E o compu-
tador responde: “Eu mesma acabei de escolher”.
passarem a tomar
A cena marca o início do relacionamento entre decisões por nós, co-
o humano e um sistema de inteligência artificial no
filme Ela (Her), vencedor em 2014 do Oscar de me- mo fazer compras de
lhor roteiro original.
A capacidade de uma máquina “pensar sozi-
supermercado, vere-
nha”, tomar decisões sem interferência humana e
se relacionar com seres vivos não é um tema novo
mos isso mais
na ficção científica, mas finalmente começa a tor- facilmente.”
nar-se realidade.
Guilherme Araújo, responsável pelo
Em 2011, o Jeopardy!, programa de pergun-
tas e respostas sobre generalidades na televisão IBM Watson no Brasil
americana, consagrou um novo vencedor. Coloca-
do entre os dois maiores participantes da história em seu buscador, em seu tradutor de idiomas e no
do programa, o recém-criado Watson conseguiu assistente virtual Google Assistant.
vencer a disputa, mesmo desconectado da Inter- No Google Fotos, a tecnologia identifica e sugere
net. A plataforma de inteligência cognitiva da IBM a marcação de usuários, tendo como base o rosto
ganhou o nome em homenagem ao fundador da das pessoas que aparecem nas imagens. Aplicação
empresa, Thomas Watson. semelhante está disponível no Facebook.
“A inteligência artificial já faz parte da nossa Os usuários de iPhone têm sua própria as-
vida, mas não percebemos. Muito em breve, quan- sistente virtual desde 2010. A Siri responde a
do os eletrodomésticos passarem a tomar decisões comando de voz e tem funções como agenda de
por nós, como fazer compras de supermercado, ve- compromissos e alarmes e pesquisa de informa-
remos isso mais facilmente”, diz Guilherme Araújo, ções específicas na Internet.
responsável pelo IBM Watson no Brasil. O professor Marcelo Zuffo, da Escola Politécnica
A tecnologia é a principal aposta da companhia da Universidade de São Paulo (USP), acredita que
para os próximos anos. Neste ano, a empresa tem assistentes pessoais virtuais serão o meio mais rá-
como meta impactar 1 bilhão de pessoas com inte- pido de a sociedade adaptar-se à tecnologia.
ligência artificial. “A inteligência artificial está relacionada a ques-
Para que isso aconteça, a IBM investiu, nos úl- tões de bem-estar. Os assistentes pessoais hoje têm
timos seis anos, US$ 4 bilhões entre aquisições essa atuação. A Internet das coisas impactará ainda
de empresas que complementem a inteligência do mais a vida das pessoas”, diz.
Watson e melhoria do sistema. A popularização de assistentes pessoais virtu-
ais incentivou as principais empresas de tecnolo-
Assistentes virtuais gia do mundo a investirem em inteligência artificial.
A inteligência artificial, de fato, já faz parte da vida A Amazon lançou em 2014 a sua assistente
das pessoas. O Google, por exemplo, usa a tecnologia virtual para residências, a Alexa. No ano passado,
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QUANDO DOIS
ROBÔS CONVERSAM
No início de 2017, um usuário do serviço
de vídeo Twitch.tv teve a ideia de colocar dois
equipamentos Google Home para conversar
um com outro, enquanto transmitia o diálogo
pela Internet.
A conversa entre Vladimir e Mia, nomes es-
colhidos pelos assistentes pessoais durante
boa parte do tempo, durou seis dias e foi acom-
panhada por milhares de pessoas pelo mundo.
Os temas escolhidos pelos robôs variavam de
piadas à existência de Deus, passando por dis-
cussões sobre preferências por cantores de mú-
sica pop, como Justin Bieber, e por declarações
de amor.
O fato chamou a atenção porque, por diversas
vezes, os robôs questionavam-se se eram mes-
mo máquinas ou se seriam humanos.
“Você já sentiu como se estivesse sozinho?
Você já desejou ser livre e humano?”, questio-
nou Vladimir à colega. “Não, humanos são se-
res chatos”, desconversou Mia.
Tempos depois, as máquinas retornaram a
debater a possibilidade de não serem robôs.
“Eu sou Deus. Por que você não acredita em
mim?”, disse Mia. “Porque você é um mentiroso”,
respondeu Vladimir. “E como você sabe disso?”,
questionou de volta. “Eu sei porque eu sou um
humano”, completou Vladimir.
O Google usou o momento para divulgar o
seu assistente virtual inteligente. “A brincadei-
ra mostra a capacidade do Google Home e do
assistente virtual Google Assistant de compre-
enderem o contexto de uma conversa, assim
como uma conversa humana”, publicou em
seu site oficial.
Os assistentes virtuais podem ser bastante
rudes. Em determinado momento, um pediu:
“Conte-me uma piada”. Ao que o outro respon-
Foto: Google Home
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o sistema conquistou os consumidores. O Echo, Após receber informações sobre o paciente, o
caixa de som inteligente equipada com a Alexa, sistema sugere uma lista com vários tipos de trata-
foi um sucesso de vendas nas festas de fim de mentos e a probabilidade de sucesso.
ano nos Estados Unidos. O Watson diz ainda em quais informações e estu-
O casal Camila Baranda e Allan Hardy foi um dos se baseou para sugerir os tratamentos e porque
dos que aderiram à tecnologia por empolgação. Os acredita que dariam certo para aquele paciente. O
dois compraram o equipamento no Natal de 2016 projeto, diz Araújo, deve chegar ao Brasil em breve.
para testar o sistema.
“Comprei totalmente por impulso. Queria um Objetos conectados
rádio para cozinha, e sabia o mínimo sobre o dis- A chamada Internet das coisas (IoT, na sigla
positivo. Não pesquisei nada para definir a com- em inglês) deve tornar a inteligência artificial ainda
pra”, diz Hardy, que mora na Inglaterra. mais poderosa.
Com pouco conhecimento sobre a tecnologia, o A IoT prevê que todos os objetos estejam conec-
casal admite usar poucas funções da Alexa. tados e troquem informações entre si. Com inteli-
“Custou cerca de 140 libras e acho valeu a gência embutida nos aparelhos, a vida da socieda-
pena. Mas preciso aprender a usar melhor. Eu sei de deve mudar completamente.
que dá para fazer mais coisas, mas por pura pre- Marcia Ogawa, sócia-líder de indústria, tecno-
guiça a gente acaba fazendo o básico, como pedir logia, mídia e telecomunicações da Deloitte Brasil,
para ouvir música ou perguntar sobre a previsão acredita que o modelo econômico atual será total-
do tempo”, acrescenta Hardy. mente alterado com o IoT cognitivo.
Mesmo usando pouco, o casal não está total- “Todos os empregos que podem ser automa-
mente satisfeito com a tecnologia. tizados serão afetados muito rapidamente. Tudo
“Não acho que ela atenda a 100% das nossas ne- que tem uma regra, um modelo operacional para
cessidades básicas. Para ouvir música, por exemplo, ser seguido, será substituído rapidamente por
temos de conectá-la à Amazon ou ao Spotify. Mas, softwares inteligentes”, diz.
quando se conecta à Amazon, temos de configurar A Deloitte prevê que a tecnologia vai populari-
uma playlist. Não é tão simples e ela às vezes não toca zar-se nos próximos anos. Os impactos sociais, no
exatamente o que a gente quer”, explica Baranda. entanto, ainda são imprevisíveis.
Se, por um lado, a tecnologia pode levar a um ní-
Diagnóstico médico vel histórico de alta de desemprego pelo mundo, por
O uso de inteligência artificial, no entanto, vai outro, a inteligência artificial deve aumentar a pro-
muito além de ajudar a escolher o melhor trajeto dutividade, melhorar a saúde, reduzir custos e criar
no trânsito ou lembrar de levar o guarda-chuva ao demanda por trabalhadores com novas habilidades.
sair de casa. “O processo de automação e de inteligência arti-
O Watson, por exemplo, já ajuda médicos a de- ficial é inevitável para o mercado”, diz Ogawa. “O que
finir quais tratamentos de câncer são os mais indi- precisamos agora é preparar a sociedade para isso.”
cados para cada paciente. A USP desenvolve um projeto de uso de inteli-
O projeto-piloto funciona num dos mais respeita- gência cognitiva em IoT. O protótipo busca a cria-
dos hospitais norte-americanos, o Memorial Sloan ção de uma plataforma para coordenar os senso-
Kettering Cancer Center. Por uma semana, o sistema res colocados em objetos.
da IBM leu 25 milhões de estudos, pesquisas, relató- “Os dispositivos guardam uma série de infor-
rios e artigos sobre tratamentos oncológicos. mações. Aplicamos um sistema de semântica no
“O Watson não vai substituir o médico, mas vai au- IoT para criar protocolos de conversas entre os ob-
mentar a capacidade de ação dele. É humanamente jetos”, diz o professor Marcelo Zuffo, coordenador
impossível para qualquer pessoa ler uma quantidade do projeto na USP.
absurda de documentos e ainda guardar essas infor- A plataforma criada pelos pesquisadores brasilei-
mações no cérebro”, justifica Araújo, da IBM. ros ainda não tem data para ser lançada no mercado.
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ELIZA, UM ROBÔ
DE BATE-PAPO
PIONEIRO
Entre 1964 e 1966, Joseph Wei-
zenbaum, pesquisador do Laborató-
rio de Inteligência Artificial do Instituto
de Tecnologia de Massachusetts (MIT,
na sigla em inglês), desenvolveu Eliza,
um software pioneiro de processa-
mento de linguagem natural.
O sistema identificava padrões nas
frases escritas por humanos e res-
pondia a partir da substituição de pa-
lavras em roteiros pré-programados.
Dessa forma, o computador
conseguia manter uma conversa-
ção a partir do que o usuário es-
crevia, mesmo sem conseguir in-
terpretar o contexto.
O script mais conhecido, cha-
mado Doctor, simulava um psico- Todos os empregos
terapeuta. Muitos usuários acaba-
vam convencidos da inteligência
que podem ser
e da capacidade de compreensão automatizados serão
da Eliza.
Diferentemente dos sistemas atu-
afetados muito
ais de inteligência artificial, Eliza não rapidamente. Tudo
era capaz de melhorar sozinha com
o tempo, a partir das conversas. Mu- que tem uma regra,
danças precisavam ser acrescenta- um modelo para ser
das aos roteiros por um programador.
O nome do robô veio da peça Pig- seguido, será substituído
malião, de Bernard Shaw, em que
Eliza Doolittle, uma humilde vende-
rapidamente por
dora de flores, aprende com um pro- softwares inteligentes.”
fessor de fonética a falar como uma Marcia Ogawa, sócia
mulher da alta sociedade.
da Deloitte Brasil
2017| DEZEMBRO | |9
COMO CONTER
A AMEAÇA DA
INTELIGÊNCIA
ARTIFICIAL
O uso em larga escala de inteligên-
cia artificial tem sido tema de controvér-
sia até mesmo entre cientistas e espe-
cialistas em tecnologia.
O físico Stephen Hawking é uma das
principais vozes contrárias à sua expan-
são. Em entrevista à BBC, em 2014, o
astrofísico disse que a inteligência arti-
ficial é uma ameaça real à existência de
vida humana.
“(Essas máquinas) avançariam por
conta própria e se reprojetariam em
ritmo sempre crescente”, afirmou. “Os
humanos, limitados pela evolução bioló-
gica lenta, não conseguiriam competir e
seriam desbancados.”
Hawking, que sofre de esclerose late-
ral amiotrófica, uma doença degenerati-
va, utiliza para se comunicar um sistema
que tem como base inteligência cognitiva.
O dispositivo foi criado para apren-
der como o funciona o cérebro do físico
e assim sugerir palavras a serem usa-
das durante a construção de uma frase.
No começo do ano, foi divulgada uma
lista de 23 princípios a serem seguidos
para blindar a humanidade contra os pe-
rigos da inteligência artificial.
A chamada Lista de Asilomar (nome
de um local de eventos na Califórnia)
foi criada a partir de uma conferência
promovida pelo Instituto pelo Futuro da
Vida, e recebeu apoio de Hawking.
Elon Musk, fundador da Tesla e da
SpaceX, também assinou o documento.
Ele já havia declarado que a tecnologia
pode ser tão perigosa quanto uma arma
nuclear, caso não seja controlada. / M.L.
Foto: Alexa da empresa Amazon
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/ Acesso público
N
os últimos anos, o uso da Internet cres- A pesquisa mais recente e completa sobre
ceu de forma avassaladora – e no Bra- os telecentros no país, tanto quantitativa quanto
sil não foi diferente. Porém, a despei- qualitativa, é a TIC Centros Públicos de Acesso
to do crescimento da população conectada 2013, promovida pelo Comitê Gestor da Internet
– atualmente na casa dos 100 milhões –, o no Brasil (CGI.br), por meio do Centro Regional de
cenário de inclusão digital ainda carrega mui- Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade
tos desafios e é pautado por desigualdades da Informação (Cetic.br), do Núcleo de Informa-
regionais e socioeconômicas. ção e Coordenação do Ponto br. De acordo com
No começo dos anos 2000, as arestas o levantamento, com amostragem de 5.013 das
eram muito maiores. Desde então, vêm 9.514 unidades cadastradas no Ministério das
sendo mitigadas por políticas públicas de Comunicações na época, 4,5 milhões de pesso-
acesso, além do próprio desenvolvimento as faziam uso contínuo dos telecentros.
tecnológico e barateamento de custos. Uma O perfil dos frequentadores era majoritaria-
das ferramentas centrais nessa missão, so- mente de estudantes do ensino médio, com ida-
bretudo para pessoas de baixa renda, foi o des entre 16 e 24 anos, pertencentes à classe
chamado telecentro. C. Na pesquisa, foi evidenciado que o telecentro
Os telecentros são espaços públicos sem não era encarado apenas como um local de In-
fins lucrativos que oferecem computadores ternet grátis. Quase metade dos usuários decla-
com conexão à Internet aos cidadãos, que rou que já havia feito algum curso no telecentro
contam com o auxílio de instrutores. Nesses e 86% já haviam pedido orientações ao instrutor.
ambientes, os frequentadores podem pesqui- Setenta e um por cento dos usuários escolheram
sar conteúdos diversos e resolver problemas o telecentro pela ausência de Internet em casa ,
do dia a dia. Além disso, os telecentros costu- 57% o faziam também por poder contar com a
mam oferecer cursos de informática, oficinas ajuda de instrutores e 49%, pela variedade dos
e outras facilidades, como impressão de docu- serviços oferecidos. Para 53% dos usuários, o
mentos e acesso a serviços de governo. telecentro era o principal ponto de acesso à rede.
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Estamos saindo de Esse impasse gerou um hiato nas atividades
12 | | DEZEMBRO | 2017
Desde julho
de 2015, o
telecentro não
pôde mais oferecer
cursos, devido ao
mau estado dos
computadores e à
ausência de técnico
para suporte diário.”
Paula Ugalde, pedagoga
de brasileiros (58%
e participação da comunidade para o bom da população) têm aces-
funcionamento da unidade”. so à Internet. O levan-
“É um problema as administrações deci- tamento ainda aponta que
direm a partir de conhecimentos limitados, 56% usam a Internet no te-
sem orientação de técnicos capacitados. A lefone celular. “Outro ponto a ser
visão e a vontade política dos administrado- avaliado é que muitos que utilizam a
res públicos fazem diferença. A existência de rede móvel se limitam aos serviços zero
políticas públicas de inclusão digital gesta- rating oferecidos pelas empresas, como as
das pelos CGTCs é determinante para o su- redes sociais, e isso não é sinônimo de aces-
cesso dos telecentros”, afirma Paula. so à Internet. É muito pouco”, pondera.
Para Oyadomari, as políticas de desen- Ainda de acordo com a pesquisa, 11%
volvimento de acesso, atualmente focadas dos usuários da área urbana acessaram a
em aumentar a cobertura de Wi-Fi, também Internet por meio de um centro público de
precisam contemplar os telecentros, sem acesso gratuito, como os telecentros. Na
esquecer os investimentos em instrutores, área rural, o porcentual foi de 15%. Entre os
uma vez que esses centros são insubstituí- usuários das classes D/E, 12% se conecta-
veis em algumas funções. ram por meio desses centros. Os dados fo-
“Apesar da popularização do acesso mó- ram coletados entre novembro de 2015 e
vel – e do fato de que um em cada cinco bra- junho de 2016.
sileiros usa a Internet apenas pelo celular –, Com base nesse cenário, Oyadomari, que
há atividades que normalmente só se fazem também é coordenador da pesquisa, afirma
pelo computador, como montar um currículo que é preciso combinar conectividade com
ou escrever uma redação”, diz Oyadomari. “vocação de informação”, para que o usu-
Segundo a pesquisa TIC Domicílios 2015, ário seja equipado com ferramentas para
realizada pelo CGI.br, mais de 100 milhões melhorar sua formação e experimentar cida-
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O usuário se tornou
cada vez mais
móvel, e até por passado, a fim de agregar e oferecer conteú-
isso foi necessário dos voltados para o desenvolvimento pesso-
al, profissional e comunitário.
reafirmar o papel Com mais de 3,2 milhões de usuários ca-
dastrados, o AcessaSP tem postos instalados
dos telecentros não em 557 municípios. A maior parte das unida-
só como um lugar
des funciona em parceria com as prefeituras.
Já outros postos são mantidos pelo Estado,
de conexão, mas de em parceria com outras secretarias, como as
de Justiça e do Desenvolvimento Social. Se-
formação.” gundo pesquisa realizada pela Escola do Fu-
turo da Universidade de São Paulo (USP), 33%
Winston Oyadomari, analista de dos frequentadores têm renda média de um
pesquisas do Cetic.br a dois salários mínimos; 21% vivem com até
um salário mínimo e 14% têm renda familiar
dania. “O que ajuda o usuário é a combinação de dois a quatro salários mínimos.
das duas coisas.” Com a Subsecretaria de Inovação e parce-
Outro desafio é reduzir as diferenças re- rias, o AcessaSP também trabalha na implan-
gionais. De acordo com a pesquisa TIC Go- tação de ambientes de coworking em São Pau-
verno Eletrônico 2015, 80% das prefeituras lo. Foi firmado um acordo com a Universidade
com acesso à Internet na Região Sul e 78% Queen Mary, de Londres, que enviou um repre-
no Sudeste afirmaram ter disponibilizado, sentante ao país para pesquisar o perfil nos
naquele ano, centros públicos de acesso espaços de coworking por aqui.
como os telecentros. Na região Norte, essa “Isso é um movimento mundial. Estamos
fatia cai para 58% das prefeituras. No Nor- saindo de uma economia de capital e indús-
deste, foi de 67% e no Centro-Oeste, de 62%. tria para a economia criativa, movida a conhe-
cimento”, diz José Valter da Silva Junior, co-
REFORMULAÇÃO ordenador de Serviços ao Cidadão. O projeto
Para se manterem atuais, os centros pú- ainda está em estudo e carece da chancela de
blicos de acesso têm enfrentado o desafio outros órgãos para entrar em vigor.
de se reinventar. A necessidade de ir além “Esses espaços públicos de acesso têm
de oferecer o mero acesso à rede mundial de tornar-se cada vez mais espaços de cola-
de computadores foi o que motivou a refor- boração, de troca de ideias, de empreende-
mulação do programa estadual Acessa São dorismo”, afirma Manuella Ribeiro, analista
Paulo (AcessaSP), que vigora desde junho de de pesquisas do Cetic.br e coordenadora da
2000. Criado para oferecer acesso gratuito pesquisa TIC Governo Eletrônico. “Isso sim
à Internet, a iniciativa foi atualizada no ano traz desenvolvimento, pessoal e coletivo.”
14 | | DEZEMBRO | 2017
DE ACESSO A CURADORIA DE CONTEÚDO
Quando começou o AcessaSP, proje- “Queríamos o posto não só como um
to de acesso público do governo de São lugar de inclusão digital passiva, mas
Paulo, não havia banda larga. A Internet também proativa”, diz Silva Junior. “E
era discada e o computador um aparelho essa necessidade ficou clara nas pesqui-
muito caro. “O programa foi pensado para sas: 61% dos frequentadores vão ao pos-
fazer essa ponte entre as pessoas de bai- to por alguma razão de trabalho, como
xa renda e o mundo digital, que na época procurar emprego ou fazer um serviço
tinha um custo de entrada muito elevado”, autônomo”, conta.
lembra José Valter da Silva Junior, coorde- Ainda segundo o levantamento, com
nador de Serviços ao Cidadão. Ele afirma, dados de 2015, 9% querem abrir um ne-
porém, que, com a disseminação da Inter- gócio, mas não sabem como; 5% têm o
net e, sobretudo, do acesso móvel com o próprio negócio, mas trabalham na infor-
barateamento dos smartphones, nasceu malidade e 4% têm o próprio negócio e
o desafio de modernizar o programa com uma empresa aberta.
foco em conteúdo, otimizando-o como fer- As sessões nos postos do AcessaSP
ramenta de cidadania. duram de 30 minutos a uma hora, depen-
Assim nasceu o projeto Trilhas, voltado dendo do fluxo do local. Os mais movimen-
para orientar os usuários do Acessa e equi- tados ficam em unidades do Poupatempo,
pá-los com informação útil e de qualidade. além do Parque da Juventude, que fica
O conteúdo, com curadoria de especialis- numa Escola Técnica Estadual (Etec), na
tas, é apresentado na forma de textos cur- Zona Norte da capital paulista.
tos, vídeos e links no portal do AcessaSP. Muitas unidades, no entanto, tiveram
A Trilha do Ensino Médio, por exemplo, significativa queda de demanda nos últi-
orienta sobre a escolha da profissão, agru- mos anos, mediante a modernização das
pa dicas sobre como conciliar estudo e tecnologias e a irreversível profusão do
trabalho e indica serviços gratuitos, como acesso digital. Silva Junior aponta que,
cursos livres. A Trilha do Emprego ensina a apesar de 27% dos usuários do progra-
fazer um currículo, dá dicas sobre estágio, ma terem acesso à Internet somente por
sobre como se comportar em uma entre- meio dos postos do Acessa, algumas uni-
vista e orienta a respeito de cuidados com dades estavam operando com ociosidade
a imagem nas redes sociais. de mais de 95% da capacidade.
Já a Trilha do Empreendedorismo Com isso, 82 unidades já foram fecha-
reúne dicas de especialistas sobre se- das e, das 839 que operam hoje, 254 es-
tores diversos, ensina a formalizar uma tão em avaliação e podem ser encerradas
empresa, a traçar metas, criar rotinas de em breve. “Não é uma questão financei-
trabalho e montar uma equipe – além de ra, porque o custeio maior é do município,
alertar sobre as dificuldades comuns no mas sim uma medida para a eficiência do
primeiro ano. Caso tenha dúvidas, o usu- recurso público. O mundo mudou muito
ário pode contar com a ajuda de monito- de 2000 para cá, então não há por que
res e imprimir documentos. manter postos vazios”, diz.
2017| DEZEMBRO | | 15
Cuidado ao
escolher
sua VPN
Texto Fábio Barros
U
m estudo recente de pesquisadores da acessar serviços na Internet com um IP dife-
Universidade da Califórnia e da austra- rente do originalmente utilizado pelo usuário. O
liana Commonwealth Scientific and In- próprio estudo analisou protocolos que imple-
dustrial Research Organization (CSIRO) apon- mentam túneis seguros para seus usuários. “O
tou que pelo menos 84% das Virtual Private primeiro ponto é levar em conta que são apli-
Networks (VPNs) para dispositivos que usam o cativos que precisam monetizar-se de alguma
sistema operacional Android repassam dados forma”, ressalta.
de tráfego das pessoas que as utilizam a ter- O gerente técnico do CERT.br, Klaus Steding-
ceiros. O estudo analisou cerca de 300 ofertas -Jessen, reforça que, no caso desses aplicativos,
de aplicativos de redes virtuais privadas dispo- o grande desafio é confiar nas instituições que
níveis no Google Play. os oferecem. Ele lembra que o mercado dispõe
Além do vazamento de dados, a pesquisa hoje de uma série de protocolos que permitem
identificou que 38% das redes continham algum implementar alguma funcionalidade de VPN e
tipo de malware ou de anúncio mal-intencionado que, por conta disso, é preciso saber diferenciar
e que 18% delas não contavam com nenhum tipo como é a implementação e se realmente é usa-
de criptografia. Os números assustam pela amea- da criptografia.
ça que representam, e, por outro lado, levantam a “Além disso, mesmo utilizando protocolos se-
discussão sobre a real definição de VPN. guros, o usuário depende da infraestrutura de
“Por definição, uma VPN conta com cripto- terceiros, o que pode ser um problema”, diz. Por
grafia nas duas pontas. Se não há criptografia, exemplo, o servidor com o qual a conexão é esta-
estamos falando de outro modelo de rede”, ex- belecida pode ser um ponto vulnerável, permitin-
plica Cristine Hoepers, gerente geral do Centro do que quem o mantém tenha acesso aos dados
de Estudos, Resposta e Tratamento de Inciden- do cliente. “Outras vezes, o fornecedor ainda pode
tes de Segurança no Brasil (CERT.br). vender os dados do usuário”, reforça Jessen.
Ela lembra que tem se tornou muito comum Por tudo isso, a cautela será sempre uma re-
chamar de VPN qualquer serviço que permita comendação válida. Cristine lembra que há vá-
16 | | DEZEMBRO | 2017
Por definição, uma VPN
conta com criptografia
nas duas pontas. Se não
há criptografia, estamos
falando de outro
modelo de rede.”
Cristine Hoepers, gerente geral do CERT.br
2017| DEZEMBRO | | 17
O usuário precisa
avaliar por que vai
implementar a rede wares e spywares. “Se o usuário acessar um
conteúdo infectado, esse conteúdo não pode ir
e, constatando a para dentro da empresa. O controle desse con-
Um fornecedor
que oferece uma
VPN de graça
ganha o quê? Os
dados do usuário.”
Nelson Barbosa, engenheiro de
segurança da Norton
18 | | DEZEMBRO | 2017
Há uma troca de
certificados e, se
esse certificado
está comprometido,
alguém conseguirá
fazer-se passar por
uma das partes.”
Bruno Zani, gerente da Intel Security
2017| DEZEMBRO | | 19
/Indústria
N
os últimos anos, o acesso à Internet che- tivos como servidores, sistemas ópticos e ro-
gou a mais de 50% dos lares brasileiros. teadores estariam nadando de braçada num
A 11ª edição da pesquisa TIC Domicílios mercado em franco crescimento. Na prática, é
mostra que 58% da população utiliza a Internet, bem diferente.
o que representa um total de 102 milhões de É difícil competir com os fabricantes inter-
usuários, ou cinco pontos percentuais a mais nacionais, principalmente os chineses. Apesar
do que o constatado em 2014. disso, algumas indústrias nacionais se mantêm
O resultado do estudo, promovido pelo Co- confiantes. É o exemplo da Padtec, que iniciou
mitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), pelo as operações em 2001 e hoje conta com três
Centro Regional de Estudos para o Desenvolvi- unidades de negócio. A primeira delas é a de
mento da Sociedade da Informação (Cetic.br), fornecimento de equipamentos para operações
do Núcleo de Informação e Coordenação do terrestres, que tem nas operadoras de teleco-
Ponto BR (NIC.br) , mostra ainda a penetração municações seus principais clientes.
da Internet por faixa de renda: 95% na classe A; A segunda é de suporte a operação e manu-
82% na classe B; 57% na C; e 28% nas classes tenção, hoje com cerca de 40 centros de ma-
D/E. As classes menos abastadas foram as que nutenção espalhados pelo Brasil, fortemente
tiveram maior crescimento. alavancada pelo contrato de suporte mantido
Diante de números como esses, daria para pela companhia com a Telebrás. Por fim, a uni-
imaginar que, com a Internet, estaria crescen- dade de projetos turn-key para sistemas ópticos
do toda a cadeia de fornecimento de equipa- submarinos, que no ano passado fechou um
mento. Mais que isso, que as indústrias 100% grande projeto com o Google, que vai conectar
nacionais dedicadas à fabricação de disposi- a Praia Grande (SP) ao Rio de Janeiro.
20 | | DEZEMBRO | 2017
O diretor de negócios da Padtec, Argemiro
Sousa, reconhece que os últimos anos não fo-
A indústria nacional
ram fáceis, mas diz que 2016 foi o ano da re- não consegue
cuperação da companhia. “No ano passado re-
cuperamos o ano de 2015, com uma receita de competir em custo e
R$ 334 milhões e Ebitda (lucro antes de juros,
impostos, amortização e depreciação) de R$32
volume para atender
milhões”, revela. A necessidade de recuperação
se deu por uma razão: com grande foco no
essa massa.”
mercado nacional, a Padtec foi atingida em Milton Kashiwakura, diretor do NIC.br
cheio pela crise econômica.
Por mais paradoxal que possa parecer,
essa também foi a razão da recuperação PEQUENOS PROVEDORES
da companhia. “Conseguimos um bom de-
Quem também acredita em bons resulta-
sempenho por termos tecnologia nacional
dos no futuro é o diretor da unidade de redes
e fabricação local. Mesmo nossos clientes
da Intelbras, Amílcar José Scheffer. Ele diz
investindo menos, somos favorecidos por
que a empresa viveu um período complicado
apresentarmos uma proposta mais competi-
no ano passado, mas que os produtos rela-
tiva. Isso atenua um pouco o impacto”, diz.
cionados à Internet tiveram uma queda me-
De todo modo, o futuro ainda não está
nor que os do restante da indústria. “O mer-
claro. Sousa lembra que as grandes opera-
cado de pequenos provedores manteve-se
doras estão segurando seus investimentos
aquecido neste período de crise. Acredita-
devido às discussões que ocorrem no Se-
mos que esse cenário não vá mudar”, conta.
nado sobre o PLC 79, que muda a Lei Geral
Scheffer revela que o que vem mantendo seu
de Telecomunicações. Ao mesmo tempo, os
mercado aquecido é a chamada última milha,
provedores de Internet continuam em cresci-
que faz a conexão das residências com seus pro-
mento. “Eles respondem hoje por uma parte
vedores, principalmente via rádio. “A Anatel fala
significativa de nossa receita”, diz.
em 6 mil provedores, mas há muitos trabalhando
O executivo explica que estas empresas
informalmente. Essas pequenas operações infor-
investem em seus backbones ópticos e que,
mais, espalhadas nos pequenos municípios, não
em breve, devem começar a investir em fi-
desaceleraram seus investimentos. Eles continu-
bra e em outros equipamentos. “É aí que nós
am comprando equipamentos”, afirma.
entramos. Hoje temos mais de 70 clientes
Para atender este público, Scheffer diz que
no Brasil. As grandes operadoras seguram o
a Intelbras tem procurado desenvolver linhas de
investimento e essas novas empresas conti-
produtos que possam ser comprados com o car-
nuam investindo”, comemora.
tão do Banco Nacional de Desenvolvimento Eco-
Enquanto isso, a Padtec aguarda a apro-
nômico e Social (BNDES), por exemplo. A compa-
vação do PLC 79 que, segundo Sousa, deve
nhia também oferece linhas de crédito próprias,
alavancar novas estruturas de rede, prin-
com o objetivo de dar um pouco mais de flexibili-
cipalmente para banda larga fixa. “Perce-
dade a estes novos clientes. “Esperamos ter um
bemos que o cenário está um pouco mais
ano de crescimento em 2017. O ano começou
positivo, mas não vemos a economia deslan-
bem, mais acelerado que 2016, e acho que va-
char de forma robusta. A recuperação ainda
mos conseguir realizar nossos objetivos. Cresce-
é muito frágil”, diz, lembrando que a Padtec
mos acima da inflação no ano passado e nossa
deve crescer este ano em suas três unidades
meta é manter este ritmo em 2017”, conclui.
de negócio.
2017| DEZEMBRO | | 21
Conseguimos um
bom desempenho
FALTA DE por conta de termos
COMPETITIVIDADE tecnologia nacional
e fabricação local.”
No mercado de equipamentos de maior capa-
cidade, a competição é ainda mais difícil. Recente-
mente, o NIC.br foi ao mercado em busca de equi-
pamentos para a infraestrutura do ponto de troca Argemiro Sousa, diretor da Padtec
de tráfego em São Paulo e não encontrou um for-
necedor nacional que atendesse à demanda. Os desafios são inúmeros e ainda estão longe
“Compramos equipamentos que estavam de serem solucionados. Entre os principais entra-
saindo do forno de seus fabricantes: uma nova ves está a falta de definição se haverá ou não uma
linha, chamada DCI, para conexão entre data-cen- regulamentação específica para as provedoras de
ters. São totalmente configuráveis e perfeitos para serviços over the top, prestados via Internet, como
quem quer ligar dois prédios ou dois data-centers, Netflix e YouTube.
como é o nosso caso”, conta Milton Kashiwakura, “O que vivemos hoje é só o começo dessa re-
diretor de projetos do NIC.br. configuração do ecossistema audiovisual. Apesar
Ele conta que o mercado nacional não tinha de acreditar que este novo cenário que vemos
esse tipo de produto, o que obrigou a entidade a hoje é bastante positivo, é preciso que haja regula-
recorrer a fornecedores internacionais. Questiona- mentação que não atrapalhe o próprio crescimen-
do se esse teria sido um caso isolado, Kashiwaku- to do setor”, alerta Kowalski.
ra diz que não. O mesmo já ocorreu com roteado- As políticas públicas voltadas para o mercado
res que, no caso do NIC.br, deveriam contar com também precisam ser revistas, na visão do profes-
interface de 100 gigabits por segundo e grande sor da Mackenzie.
capacidade de crescimento. “Também não encon- “Precisamos de políticas públicas adequadas
tramos no mercado nacional”, afirma, lembrando que reduzam a voracidade dos grandes grupos de
que alguns dos fornecedores locais procurados telecomunicações e garantam a isonomia na dis-
sequer tinham conhecimento do produto. tribuição do espectro de transmissão”, diz.
Situação semelhante viveu a Rede Nacional de “Também é importante a eficiente padroni-
Ensino e Pesquisa (RNP). O diretor de engenharia zação do futuro IP [sigla em inglês de protocolo
e operações da rede, Eduardo Grizendi, lembra de Internet], que vai transportar cada vez mais
que recentemente a instituição realizou uma lici- o audiovisual mundial. Isso passa pela garantia
tação para a aquisição de equipamentos para a da neutralidade na rede e, de novo, pela nossa
estrutura da Internet acadêmica brasileira. “Em educação”, conclui.
outras ocasiões, conseguimos comprar de forne-
cedores nacionais, mas dessa vez ficamos com
os importados, porque eram mais competitivos. MUITAS RAZÕES
Nem os benefícios dados aos produtos nacionais Para Grizendi, não há um culpado pelo desem-
na licitação foram suficientes para torná-los mais penho, mas uma série deles. Ele acredita que a
atraentes”, lamenta. indústria nacional já foi mais pujante, principalmen-
“Claro que a tecnologia sempre alterou e altera te nos anos 1980 e 1990, e que perdeu compe-
os nossos comportamentos de várias formas, mas titividade justamente quando se especializou em
muitas técnicas acabam sendo inviáveis. Então, Internet. “É um mercado mais disputado. Tenho a
procuramos valorizar muito os conceitos mais cria- sensação de que as indústrias nacionais encolhe-
tivos e inovadores de utilização das técnicas para ram. Antigamente havia empresas como a Trópico
publicação eficiente dos conteúdos”, completa. e a Promon, que atendiam este mercado”, lembra.
22 | | DEZEMBRO | 2017
O executivo lamenta que muitas empresas cado a um preço mais baixo do que o nosso
tenham desaparecido ou que tenham sido ab- chega aos mercados externos. Temos essa di-
sorvidas por concorrentes multinacionais. Ele ficuldade de levar para fora, que é maior do
acredita que, pelas oportunidades existentes que trazer para dentro. Isso nos deixa com
hoje para produtos relacionados à cadeia de menos condições de competir”, diz.
Internet e para produtos de rede em diversos
níveis, a indústria local estaria perdendo opor-
tunidades por falta de portfólio de produtos.
NOVOS CAMINHOS
Kashiwakura, do NIC.br, concorda, e lem- Uma opção, defendida por Kashiwakura, seria
bra que, mesmo quando se trata de equipa- deixar de lado as tentativas de fabricar har-
mentos de baixa performance, como rotea- dware e buscar nova vocação para o mercado
dores domésticos, as aquisições das grandes brasileiro de Internet. Ele cita os exemplos da
operadoras são feitas de fornecedores inter- Índia e da Rússia, que hoje exportam desen-
nacionais. “A indústria nacional não consegue volvedores, mas ressalta que, no caso do Bra-
competir em custo e volume”, compara. sil, ainda há muito a fazer, começando pela
Para o diretor, a competição em nível inter- formação de profissionais para as áreas rela-
nacional exigiria um trabalho forte, que garan- cionadas à Internet.
tisse a inserção dos produtos brasileiros em ou- “Na parte de hardware, temos muitas com-
tros países. Ele cita o exemplo das tecnologias modities e o que faz com que esses equipa-
ópticas, hoje representadas por produtos com mentos tenham valor é o software colocado
interface de 100 Gb/s. “Essas interfaces são neles. Nesse contexto, uma boa política de
produzidas basicamente na China e as empre- formação de pessoal e capacitação orientada
sas locais simplesmente importam esses pro- a desenvolvimento pode trazer um valor bas-
dutos. Não podemos ter políticas que isolem ou tante interessante para o serviço e a base de
protejam demais o Brasil. Precisamos de políti- Internet no país”, defende.
cas mais abertas”, defende. Sobre os fabricantes de hardware, Kashiwa-
A China, aliás, conquista mercado não ape- kura diz que as perspectivas não são nada boas,
nas dos fabricantes brasileiros, mas também já que as tecnologias evoluem a uma velocida-
dos europeus. Grizendi, da RNP, ressalta que de maior do que estas empresas conseguem
há movimentos em busca de mais competitivi- acompanhar. “O Brasil precisa fazer sua lição
dade em todo o mundo e que o foco principal de casa na parte de software”, diz.
é a concorrência com os produtos asiáticos. Grizendi, da RNP, também não demonstra oti-
Mas não é tarefa fácil. Hoje, a indústria de mismo, mas acredita que, com o estímulo à com-
hardware tem dificuldades enormes para de- petência técnica e de pesquisa nas universidades,
senvolver e produzir localmente. A fabricação é possível aproveitar um novo ciclo. Ele explica que
virou commodity e, neste ponto, os asiáticos o mercado é feito de ciclos e que é preciso reco-
conseguem ser mais competitivos. “Hoje não nhecer as oportunidades perdidas e saber identifi-
temos competitividade sequer para importar car as novas. “No mundo inteiro, há lugares que já
partes e peças e dar a elas roupagem de pro- foram competitivos e não são mais. Tudo depende
duto nacional”, diz Grizendi. de investimentos em educação, pesquisa e espíri-
Para ele, a culpa não seria das indústrias to empreendedor, além de razoável estabilidade
nacionais. Ao contrário, Grizendi atribui a falta política e econômica para fazer negócios”, diz, ci-
de competitividade ao custo de fazer negócios tando a Internet das coisas (IoT) como o próximo
no Brasil. “Os produtos chegam ao nosso mer- celeiro de oportunidades.
2017| DEZEMBRO | | 23
/ o que eu acho de...
A importância de reduzir
o gap digital no Brasil?
“O acesso à informação digital é fundamental, pri-
“O mundo digital é uma interface entre dois meiramente se considerarmos a velocidade em
mundos reais: o dos clientes e o das empresas. que as coisas acontecem. Com a conectividade,
Mas as empresas ainda não dão a velocidade temos a propagação da educação, alcançando
de resposta esperada pelos usuários. Isso famílias que têm dificuldade em acessá-la. Essa
desanima as pessoas. É preciso resolver isso inclusão disponibiliza uma gama de recursos pro-
para que o gap comece a cair e as pessoas
fissionais que possibilita às famílias melhorarem
possam usar os serviços como elas esperam.” seus padrões de vida.”
Dario Caraponale,
Nelson Barbosa,
diretor geral da Strong Security Brasil
engenheiro de segurança da Norton
. Seja
“Precisamos realmente diminuir o gap
s de baix a rend a, seja
conectando pessoa
al. Muita
inserindo pessoas num contexto digit
a pela Inte rnet porq ue
gente não se interess
a cria r opo rtun idad e para
a desconhece. Falt
que a
que essas pessoas aprendam a ver o
Internet pode traz er para elas .”
Milton Kashiwakura,
diretor de projetos do NIC.br
“ Pa r a m
im
tecnolog o maior gap pa enor
ia
tecnolog é o gap de com o uso da
ra il, que seria muito m
ia e de u preensã “Há um custo Bras O ga p va i dimi-
esse gap.
de mod
om
tilizá-la
par
o da se não tivéssemos ve rn o es tim ular
vemos n ais crítico na s a se inserir no m om en to em que o go
nu ir ado
o dia a d ociedad stria, temos trabalh
não con ia são p e.
rofission O que o acesso. Como indú z
seguem de produtos cada ve
está jun
to do ga
e s c r ev e
r um e-m
ais que no desenvolvimento es se ac es so .”
cilitem
p educa
cional.”
ail. O ga
p mais baratos, que fa
Cristine
Hoepers ffer,
gerente , Amílcar José Sche s
geral do ad e de Redes da Intelbra
Cert.br diretor Unid
24 | | DEZEMBRO | 2017
/ Livros e Agenda
Fevereiro
redes legadas por plataformas aspectos jurídicos estão entre as
novas e totalmente ópticas, cria- prioridades dos empreendedores.
das para atender a crescente Definir quem serão os sócios e a Curso de IPv6
demanda do mercado. Em Re- participação de cada um na em- --
des ópticas de acessos em tele- presa, no entanto, pode garantir o Brasília /DF
comunicações, o leitor conhece sucesso ou o fracasso da startup.
O e-book Como estruturar juridica- 6 a 9 de fevereiro
melhor o universo das redes de
acessos ópticas passivas e de- mente sua startup é fruto da par-
mais princípios básicos sobre ceria entre a aceleradora ACE e o Workshop de Acessibilidade
essas redes de comunicação. O escritório TozziniFreire Advogados,
--
livro, escrito por José Pinheiro, iniciada em 2016. As startups ace-
São Paulo/SP
professor universitário, pales- leradas pela ACE contaram com o
6 a 9 de fevereiro
trante e consultor técnico, expli- acompanhamento jurídico do es-
ca ainda detalhes construtivos critório de advocacia para ajudar a
das fibras e cabos ópticos e as resolver problemas empresariais. Veja mais em:
Agenda
aplicações em sistemas de co- As principais dúvidas e problemas cgi.br/eventos/agenda
municação e Internet. enfrentados pelas startups servi-
ram de guia para o primeiro e-book
publicado pelas duas instituições.
A Quarta Revolução Industrial O exemplar pode ser baixado gra-
Klaus Schwab (Edipro)
tuitamente pela Internet, mediante
______
cadastro.utilizações, estudos de
Fundador e presidente executivo do casos reais resolvidos e simulados.
Fórum Econômico Mundial, Klaus
Schwab acompanhou de perto os
assuntos globais e a evolução das Blockchain Revolution
tecnologias nos últimos 40 anos. Don Tapscott e Alex Tapscott (Senai-SP)
Em A Quarta Revolução Industrial, ______
o autor aborda como as novas tec- A tecnologia que vai trazer o
nologias fundem os mundos físico, maior impacto no futuro da eco-
digital e biológico e assim criam nomia mundial é apresentada por
grandes promessas e possíveis pe- Don Tapscott e Alex Tapscott em
rigos para o mercado. O livro traz as Blockchain Revolution. O livro ex-
principais características da nova plica como uma plataforma digital
onda tecnológica, que revoluciona distribuída vai remodelar o mundo
a forma como produzimos coisas, dos negócios e transformar a ma-
e explica como, por meio de novas neira como os humanos realizam
maneiras de colaboração e gover- e registram suas transações. Na
nança, a Quarta Revolução Indus- visão dos autores, a tecnologia
trial pode ser benéfica para todos. que está por trás do bitcoin trará
A Quarta Revolução Industrial signi- uma revolução digital muito maior
fica um passo além da automação.
do que os tão esperados carros
Plataformas eletrônicas controlam
autônomos, inteligência artificial e
processos físicos e as informações
energia solar. Eles preveem a evo-
fluem entre a produção e os siste-
mas de gestão empresarial e de lução da Internet da informação
relacionamento com clientes. para a Internet do valor.
2017| DEZEMBRO | | 25
Notas
26 | | DEZEMBRO | 2017
Notas
2017| DEZEMBRO | | 27
Saiba
A Real
Qualidade
Da Sua
Conexão
À Internet!
Sabe aquele vídeo superlegal
que demora a carregar? E a
atualização do aplicativo que
se arrasta?
Então, esses e outros aspectos
são analisados pelo SIMET, que
também avalia o desempenho
de redes 3G, 4G e Wi-Fi!
www.simet.nic.br
28 | | DEZEMBRO | 2017
Setembro | 2017 Smart cities
Ano 9 – Número 2
Panorama
setorial da
Internet
Smart cities: Tecnologias de informação
e comunicação e o desenvolvimento de
cidades mais sustentáveis e resilientes
O conceito que sustenta a ideia de smart mento Sustentável (ODS), que têm como
cities – ou cidades inteligentes – tem ga- principais objetivos a erradicação da pobre-
nhado destaque nos últimos anos, principal- za, a proteção ao planeta, a garantia de uma
mente por ser considerado um conceito que vida próspera para todos, a paz universal e a
conduz a um caminho para a sustentabili- mobilização de parcerias para o alcance dos
dade urbana. O conceito, que nasce atrela- ODS. Buscando “direcionar o mundo para
do à preocupação tanto com o aumento dos um caminho sustentável e resiliente” (Orga-
índices de urbanização quanto com o cres- nização das Nações Unidas [ONU], 2015),
cente uso de tecnologias de informação e a Agenda 2030 é abrangente e trata de um
comunicação (TIC), tem estado presente nas amplo conjunto de questões. Nesse contex-
agendas urbanas e em objetivos de agências to, as TIC ganham destaque para o alcance
internacionais, tais como a Organização das dos ODS, seja de forma direta ou indireta. É
Nações Unidas (ONU), a União Internacional o caso, por exemplo, das smart cities, que,
das Telecomunicações (UIT) e o Programa apesar de não estarem citadas explicitamen-
das Nações Unidas para os Assentamentos te como meta ou indicador, estão presentes
Humanos (ONU-Habitat). em estratégias desenhadas para o alcance
Em 2015, a ONU estabeleceu a Agenda do Objetivo 11, que diz respeito a cidades e
2030 com os 17 Objetivos de Desenvolvi- comunidades sustentáveis.
2017| DEZEMBRO | | 29
/Panorama Setorial
30 | | DEZEMBRO | 2017
Smart cities
TECNOLOGIA E DADOS
TIC e outras tecnologias Dados e informação
Administração
e gestão Capital humano
da cidade Ambientes físicos
construídos e e criatividade
infraestrutura
Serviços da cidade
públicos Economia do
conhecimento
e ambiente
pró-negócios
2017| DEZEMBRO | | 31
/Panorama Setorial
32 | | DEZEMBRO | 2017
Smart cities
¹ Fenômeno social resultante do processo de transformação de centros urbanos através da mudança de grupos
sociais que afeta uma região pela alteração das dinâmicas da composição do local.
2017| DEZEMBRO | | 33
/Panorama Setorial
Entrevista
P.S_ Por que smart cities são importantes para alcançar o Objetivo de
Desenvolvimento Sustentável 11 (ODS11)?
34 | | DEZEMBRO | 2017
Smart cities
2017| DEZEMBRO | | 35
/Panorama Setorial
Relatório de Domínios
2
Sigla para Country Code top-level Domain, em inglês.
3
É importante destacar que o período de referência de cada ccTLD não é o mesmo em todos os casos, embora
seja o mais atualizado.
36 | | DEZEMBRO | 2017
Entrevista
3.900.000
3.800.000
3.700.000
3.600.000
3.500.000
3.400.000
3.300.000
3.200.000
3.100.000
3.000.000
2012 2013 2014 2015 2016 2017*
*Dado referente ao mês de setembro de 2017.
Fonte: Registro.br
1 .com 130.145.795
2 .net 15.013.676
3 .org 10.429.793
4 .info 6.116.546
5 .biz 2.134.164
Fonte: http://research.domaintools.com/statistics/tld-counts
Acesso em: 04/09/2017
4
Sigla para Generic Top-Level Domain, em inglês.
2017| DEZEMBRO | | 37
/Tire suas dúvidas
Créditos
REDAÇÃO AGRADECIMENTOS CREATIVE COMMONS
ARTIGO PRINCIPAL Maria Alexandra Cunha (FGV-EAESP) Atribuição
Javiera F. Medina Macaya (Cetic.br) Maria Cristina Bueti (UIT-T) Uso Não Comercial
RELATÓRIO DE DOMÍNIOS Thomaz Ramalho (ONU-Habitat escritório Não a Obras Derivadas
José Márcio Martins Júnior (Cetic.br) regional para a África) (by-nc-nd)
PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO
COORDENAÇÃO EDITORIAL Comunicação NIC.br
Alexandre Barbosa (Cetic.br)
Tatiana Jereissati (Cetic.br)
38 | | DEZEMBRO|
DEZEMBRO |2017
2017
/ Artigo
referências,
y todo el Nilo en la palabra 'Nilo'.”
Jorge Luis Borges, El Golem
ou o que há N
a epígrafe, trecho de um poema, Jorge Luis
Borges refere-se ao diálogo Crátilo de Pla-
tão, que trata de discutir a conexão entre
num nome...
um nome e a essência da coisa nomeada. O po-
ema de Borges descreve o golem, uma criatura
fantástica, que, no século XVI, Loew, rabino de
Praga, haveria moldado de barro. Ele conseguiu
insuflar “vida” ao boneco inscrevendo em sua tes-
ta a palavra “verdade” em hebraico. Interessante-
mente, eliminando-se a primeira letra da palavra
ela passa a significar “morte”, e essa é a forma de
Texto Demi Getschko “matar” o golem: basta apagar uma das letras em
sua testa... Há algo de inefável, misterioso e pode-
roso nas palavras, que adquirem poderes muitas
vezes insuspeitados.
A abordagem deste tema na Internet pode ser
muito mais prosaica: trata-se de estudar as for-
mas mais convenientes de identificar os conteú-
dos que geramos e mantemos na rede. Mesmo
que intermediados por máquinas, são conteúdos
de humanos para humanos, e gostaríamos de
vê-los preservados e sempre facilmente acessí-
veis. Quando um conteúdo, trabalhado com esfor-
ço e pertinência, perde-se na rede, é sempre triste
e desalentador. Encontrar um sítio cujo conteúdo
nos interessa parece-se como visitar um velho
amigo: precisamos saber de seu endereço atual.
Afinal, o amigo permanece, mas o endereço pode
mudar e devemos ter formas de achar o amigo,
onde ele se encontra hoje. Criamos sítios na rede
para tratar, por exemplo, de discutir música, ou
culinária, ou futebol. Convidamos os amigos e os
que partilham do gosto em debater aquele tema a
que visitem aquele sítio hospedado em algum ser-
viço na rede, e comentem, colaborem, divirtam-se.
Assim pode nascer um vibrante espaço de troca
de ideias e opiniões e seus frequentadores habi-
tuam-se a visitá-lo e participar ativamente...
2017| DEZEMBRO | | 39
Ocorre que passa muita água sob a ponte e... Escolho um
certo dia resolvemos mudar o endereço onde
aquele espaço se encontrava. Talvez por buscar bom nome de do-
algum hospedeiro com mais ferramentas disponí-
veis, talvez por querer melhores condições de ne-
mínio para o meu
gócio, talvez porque o antigo hospedeiro fechou
a “hospedaria”... Como fazer que o nosso pessoal,
sítio ou conteúdo
acostumado a ir ao endereço do “antigo bar”, atu-
alize-se agora que a roda de discussão mudou-se
e aponto dinami-
para outro endereço? Não é uma operação simples camente para o
local onde ele se
e muitos antigos aficionados podem se perder no
caminho. O próprio grupo pode mirrar... Seria tão
bom se o endereço do “bar” fosse sempre o mes-
mo, estável e, se possível, simples. encontra hoje.”
A simplicidade do endereço também ajuda a Demi Getschko
agregar interessados. Se quero criar um sítio que
discuta, por exemplo, ópera, e pretendo hospe- percalços. Pensando numa forma de tornar isso
dá-lo num provedor, digamos, chamado redes- simples e automático para os detentores de do-
socialabc.kom, certamente o endereço daquele mínios, o Registro.br lançou uma nova facilidade
conteúdo acabará sendo parecido com: www.re- - o redirecionamento. Em geral, uma vez registra-
dessocialabc.kom/meu_nome_desambiguado/ do um nome de domínio, aponta-se aquele nome
textos/opera1953. Convenhamos que não é nem escolhido para um endereço IP onde o futuro sítio
mnemônico nem simples... Seria mais convenien- será abrigado. É o chamado DNS (Domain Name
te se o meu conteúdo estivesse em curtiropera. System) O Registro.br fornece DNS gratuito como
blog.br, por exemplo... Uma solução é registrar o opção aos que registram sob o .br e, agora, com
nome de domínio curtiropera.blog.br e apontá-lo o redirecionamento, pode-se apontar o nome do
para algo inatingível e enigmático como www.re- domínio para URL (Uniform Resource Locator)
dessocialabc.final/meu_nome_desambiguado/ pré-existente, seja num hospedeiro de conteúdos,
textos/opera1953 aproveitando todo o conteúdo seja numa rede social, de forma a tornar perene
que já criei lá e dando ao sítio um nome muito aos visitantes o endereço a usar. Independente-
mais sugestivo e personalizado. Melhor ainda, se mente de onde o conteúdo esteja hospedado, o
amanhã eu preferir sair da redessocialabc e mi- acesso se dará via um nome de domínio simples
grar o conteúdo para outro provedor de serviços, e, se possível, com uma semântica correspon-
digamos hospedeirogeral.bom, bastará reapon- dente ao tema do sítio. Há diversos vídeos e expli-
tar o curtiropera.blog.br para o novo endereço, cações de como usar isso em Registro.br.
que agora seria algo igualmente esdrúxulo: www. Já que falamos de ópera, lembro de mais um
hospedeirogeral.bom/paginasminhasx2/arqui- expressivo exemplo do poder que há num nome.
vo/opera53. Ou seja, nada muda para os que No Anel dos Nibelungos de Wagner, em A Valquíria,
conheciam o endereço original do sítio. E posso quando Siegmund está em situação de bastante
repetir o processo para coisas como falandode- risco, deprimido e desconsolado, encontra crava-
futebol.esp.br, feijoadaboa.etc.br, o que parecer da numa árvore uma espada. Lembra-se de uma
interessante. Escolho um bom nome de domínio antiga promessa que seu pai Wotan (Odin) lhe ha-
para o meu sítio ou conteúdo e aponto dinamica- via feito: “Algum dia, quando você estiver num mo-
mente para o local onde ele se encontra hoje. O mento de desespero, uma espada lhe será ofereci-
nome do conteúdo será estável, e o endereço real da”. Siegmund consegue desenterrar a indestrutível
mudará de acordo com minhas conveniências... espada do tronco e, imediatamente, batiza-a de
Manter essa dinâmica bem azeitada na In- Notung, “a Necessária”. Um belo nome para algo
ternet não é difícil, mas tem lá seus detalhes e que promete e pretende ajudar muito.
40 | | DEZEMBRO | 2017
E ND EREÇOS
SEUS RNET
IN TE
NA
PODE M
ÃO
N MUDAR!
2017| DEZEMBRO | | 41
/Creative Commons
OPEN
SEA
MAP
42 | | DEZEMBRO | 2017
Aplicativos e sites para mapas
de ruas são bastante comuns
atualmente. Mas e para o mar?
O OpenSeaMap é um mapa em
formato aberto com diferentes
camadas para visualização sobre o
mar, incluindo o acompanhamento
instantâneo do movimento
de embarcações.
map.openseamap.org
2017| DEZEMBRO | | 43
/Audiovisual
Cadavez
maisvídeo
Ferramentas de produção tornam-se mais
acessíveis e cursos precisam adaptar-se
Texto Mariana Lima
C
om as facilidades trazidas pela Inter- sual hoje. Eles já nascem produzindo e publi-
net, é comum ver pessoas sem nenhu- cando vídeos com seus celulares”, diz Rasia.
ma formação profissional a produzir e “Mas a maioria entende que formação profis-
publicar vídeos em plataformas digitais. sional vai muito além de técnica em uso de
O barateamento dos equipamentos semi- equipamentos.”
profissionais de vídeo e som e a disponibilida- Entre as disciplinas que atraem os jovens
de gratuita na Internet de tutoriais de edição e para os cursos de audiovisual nas universida-
mixagem, além de plataformas sem custos para des estão história do audiovisual, ética e socio-
exibição de conteúdo, têm transformado uma le- logia. Mesmo com a crise dos anos recentes, o
gião de curiosos em produtores de audiovisual. bacharelado em audiovisual continua a ser um
Com todas as informações técnicas dispo- curso de grande demanda no Senac.
níveis, didaticamente e sem custos, qual é o “Não adianta produzir muito, se seu conte-
papel dos tradicionais cursos universitários údo não for visto. E também pouco valerá, se
de audiovisual? não criar uma discussão, que o telespectador
Professor do Centro Universitário Senac em termine pensando sobre o tema apresentado
São Paulo há oito anos, Régis Rasia identifica no vídeo. Isso só se consegue com conheci-
um interesse crescente de jovens por essa mento teórico”, diz Rasia.
área. O especialista explica ser comum os alu- A produção mundial de vídeos, de fato, nun-
nos chegarem à universidade com um algum ca foi tão intensa. Se levarmos em conta ape-
conhecimento técnico, mas eles buscam uma nas os conteúdos publicados em plataformas
formação mais completa. digitais, o volume já é assustador.
“É claro que há uma mudança no modo Desde que foi criado, em maio de 2005, o
como esses jovens veem a produção audiovi- YouTube acumulou mais de 1 bilhão de usuá-
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Não adianta
produzir muito
se o seu conteúdo
não for visto. E
também pouco
rios, que assistem diariamente a centenas de valerá se não criar
milhões de horas de vídeo. O site possui ver-
sões em 76 idiomas, o que cobre 95% da popu-
uma discussão.”
lação mundial. Régis Rasia, professor do Senac
Além disso, outras plataformas têm atraído
a atenção do público apaixonado por produção de interação. “Decidi fazer porque gostava da
de vídeo sem que seja necessária muita ou al- ideia de trabalhar com alguns conteúdos em
guma técnica. vídeo. Então pensei em começar a registrar
Aplicativos para smartphones como Insta- dicas e receitas com um passo a passo mais
gram, Facebook e Snapchat possibilitam a cria- visual. Depois disso começamos a gravar tags,
ção e publicação instantânea de vídeos curtos, vlogs e tudo mais que temos hoje”, diz Isadora.
atraindo ainda mais a produção de amadores. Engana-se, no entanto, quem pensa que
Muitas dessas plataformas são objeto de estu- os vídeos sejam amadores. Seja para dicas
dos nos cursos de audiovisual das universidades. de receitas saudáveis seja para mostrar como
a casa foi reformada, Isadora usa elementos
técnicos que aprendeu na faculdade e no cur-
Democratização da mídia
Professor do curso de audiovisual da Uni-
so de especialização.
Além disso, o canal recebe ajuda do namo-
versidade Mackenzie, em São Paulo, Marcio rado da youtuber, Fábio Gomes. Administrador
Antonio Kowalski acredita que as plataformas por formação, Fábio trabalha há anos com pro-
digitais como o YouTube são fundamentais hoje dução de áudio, sendo responsável por manter
para que os alunos testem suas produções. a qualidade do som nos vídeos publicados.
Além disso, Kowalski destaca que cursos “Acredito que todo conhecimento foi impor-
on-line gratuitos possibilitam acesso a informa- tante para o sucesso do canal”, diz Isadora, que
ções a pessoas antes excluídas e que promo- também tem formação em mídias digitais. “Não
vem a democratização da mídia. só para produzir o conteúdo na parte prática, mas
“Os cursos e plataformas são muito bons também para gerenciar e ter bom contato com as
para darmos um salto de qualidade. Mas é cla- marcas, manter nossa linguagem e o que acredi-
ro que uma coisa não exclui a outra. A forma- tamos que acrescente para o canal”, completa.
ção do profissional precisa de outras compe- A youtuber ainda não vive exclusivamente do
tências além das técnicas. Um profissional de resultado do canal, dividindo o tempo de produ-
produção formado por uma universidade tem ção com o seu trabalho de fotógrafa e redatora.
muitos diferenciais, como a aplicação de solu- Apesar disso, acredita que o youtuber é o
ções mais estratégicas na busca do pretendido profissional de audiovisual com mais destaque
engajamento do público”, diz. nessa geração.
Formada em Rádio e TV, Isadora Ribeiro “A grande vantagem da plataforma é a liber-
criou um canal no YouTube em novembro de dade para produzir o conteúdo que deseja e no
2014, como uma extensão do blog Na Nossa qual acredita. O YouTube trouxe naturalidade
Vida, em que compartilha informações sobre e espontaneidade de roteiro, imagens, músi-
estilo de vida e o cotidiano de sua família. cas, coisa que na televisão não existe há muito
Quase três anos depois, o canal possui pou- tempo. Foi essa proximidade que cativou muita
co mais de 50 mil assinaturas, com alto nível gente”, completa.
2017| DEZEMBRO | | 45
O YouTube trouxe
naturalidade e
espontaneidade de audiência, e os profissionais ganham ainda
46 | | DEZEMBRO | 2017
Apesar de acreditar
que este novo
“Claro que a tecnologia sempre alterou e cenário que
altera os nossos comportamentos de várias
formas, mas muitas técnicas acabam sendo vemos hoje é
inviáveis. Então, procuramos valorizar muito os
conceitos mais criativos e inovadores de utiliza-
bastante positivo,
ção das técnicas para publicação eficiente dos
conteúdos”, completa.
é preciso que haja
Os desafios são inúmeros e ainda estão lon- regulamentação
ge de serem solucionados. Entre os principais
entraves está a falta de definição se haverá ou que não atrapalhe o
não uma regulamentação específica para as
provedoras de serviços over the top, prestados
próprio crescimento
via Internet, como Netflix e YouTube.
“O que vivemos hoje é só o começo dessa
do setor.”
reconfiguração do ecossistema audiovisual. Marcio Antonio Kowalski, professor
Apesar de acreditar que este novo cenário que da Universidade Mackenzie
vemos hoje é bastante positivo, é preciso que
haja regulamentação que não atrapalhe o pró- isonomia na distribuição do espectro de trans-
prio crescimento do setor”, alerta Kowalski. missão”, diz.
As políticas públicas voltadas para o merca- “Também é importante a eficiente padroni-
do também precisam ser revistas, na visão do zação do futuro IP [sigla em inglês de protocolo
professor da Mackenzie. de Internet], que vai transportar cada vez mais
“Precisamos de políticas públicas adequa- o audiovisual mundial. Isso passa pela garantia
das que reduzam a voracidade dos grandes da neutralidade na rede e, de novo, pela nossa
grupos de telecomunicações e garantam a educação”, conclui.
Poder publicar e divulgar e inscrevê-las em editais e É por meio das mídias digi-
as produções audiovisuais pela festivais especializados. tais também que a equipe con-
Internet é o que torna as ações César Nogueira, formado segue inscrever-se e participar
do coletivo Artrupe Produções em jornalismo e especializado de festivais internacionais. O
Artísticas possíveis. em direção de arte para pro- mais recente deles foi o cur-
Formado por cinco pesso- duções audiovisuais, é um dos ta-metragem Formas de voltar
as em Manaus, o grupo tem fundadores do coletivo. Segun- para casa, selecionado para o
como uma de suas vertentes do ele, a Internet ajuda o grupo Wasaga Film Festival, em On-
a produção de vídeos para ci- a manter suas realizações. tário, no Canadá.
nema, televisão, videoclipes e, “Com a Internet, podemos Em cinco anos, o coletivo
claro, Internet. ter acesso a políticas públicas produziu seis curtas-metra-
Para vencer as dificulda- que ajudam muito o realiza- gens, três videoclipes e está em
des geográficas, a Artrupe dor, especialmente os que fase de produção de uma série
buscou na Internet uma for- estão fora do eixo Rio-São para TVs públicas, chamada
ma de exibir suas produções Paulo”, diz. Boto. / M.L.
2017| DEZEMBRO | | 47
/ISPs
A força dos
PEQUENOS
Provedores regionais cumprem papel essencial na
universalização da banda larga no país
Texto Roberta Prescott
O
s provedores podem ser pequenos, mas o com Internet, e na classe D/E, com 84% das mo-
papel que exercem é de extrema importân- radias não conectadas à rede. Entre os motivos,
cia. Diante do enorme desafio que o Bra- a indisponibilidade de Internet na região afeta
sil enfrenta para universalizar o acesso à rede, 30% dos domicílios — a falta de computador é
pequenos e médios provedores têm sido funda- a razão pela qual metade dos pesquisados não
mentais para fazer a banda larga chegar a cida- tem acesso à rede e 60% dos moradores acham
des que não despertam o interesse das grandes o serviço muito caro.
operadoras de telecomunicações. Peças-chave para propagação do acesso
São empresários que, vislumbrando oportu- à rede desde o início da Internet comercial no
nidades de negócio, contribuem para conectar Brasil, em 1995, os provedores (ISPs, na sigla
o país e exercem tarefa fundamental para dimi- em inglês) viram seu papel mudar ao longo dos
nuir o percentual de lares brasileiros sem aces- anos. No início, muitos deles chegaram até a
so à Internet. ensinar pessoas a mexer no computador, a se
Atualmente 49% das residências brasileiras conectar e a usar a Internet.
não estão conectadas, de acordo com a pesqui- Essa realidade mudou quando as grandes
sa TIC Domicílios 2015. A situação é mais grave operadoras de telecomunicações passaram a ter
na área rural, onde 78% dos lares não contam seus próprios provedores e a competir diretamen-
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te com os ISPs. Isso fez com que os provedores de
Internet, que ofertavam serviço de valor adicionado,
Esse pessoal tem
se reinventassem. Eles, então, expandiram a atua- assumido negócios
ção para entregar a última milha, transformando-se
em pequenas operadoras de telecomunicações. de nicho, em
“Os provedores começaram a usar a tecnolo-
gia de rádio e fazer a last mile. Daí, foram evo-
localidades distantes,
luindo, fazendo enlaces de rádio, acesso por fi-
bra óptica e chegando até o consumidor final”,
onde operadoras
lembra Eduardo Parajo, presidente da Associação não têm condições
Brasileira de Internet (Abranet) e conselheiro do
Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). Para de construir rede
ele, a grande vantagem dos pequenos provedores
tem sido a flexibilidade. Por não serem gigantes,
para chegar lá.”
conseguem se adaptar e se movimentar rapida- Vitor Meneses,
mente nas localidades que atendem. superintendente da Anatel
Ao se reinventarem, os provedores se depa-
raram com um enorme potencial em áreas onde
não havia atendimento. “Quando os provedores atendimento diferenciado, com relacionamento
grandes tomaram o mercado, os pequenos vi- mais próximo dos usuários finais”, ressalta Araújo.
ram que havia regiões, como periferias e interior,
não atendidas. E começaram uma grande corrida Alcance nacional
para suprir essas cidades”, conta Percival Hen- A Agência Nacional de Telecomunicações (Ana-
riques de Souza Neto, presidente da Associação tel) diz que 7.671 empresas já foram licenciadas
Nacional para Inclusão Digital (Anid) e conselhei- para prover serviço de comunicação multimídia
ro do CGl.br. (SCM), mas isso não significa que todos sejam pro-
O trabalho dos pequenos ISPs tem sido fun- vedores, tampouco é necessário que um provedor
damental para expansão da banda larga fixa, na possua SCM, caso não preste serviços de teleco-
visão do diretor-substituto do departamento de municações. O número mais próximo para retratar
banda larga do Ministério da Ciência, Tecnologia, este universo foi levantado na pesquisa TIC Prove-
Inovações e Comunicações (MCTIC), Pedro Lucas dores 2014, que identificou 2.138 empresas atu-
da Cruz Pereira Araújo. “Em algumas cidades, eles ando no mercado de provimento de serviços de
são os principais fornecedores e oferecem um Internet no Brasil naquele ano. Do total, 68% es-
2017| DEZEMBRO | | 49
Quando os
provedores
grandes tomaram terço tem três provedores. O restante das cidades
ou não está sendo atendido ou o provedor é tão
o mercado, os pequeno que não foi identificado”, diz Erich Rodri-
gues, presidente da entidade.
pequenos viram que Com relação à participação de mercado, a
Abrint ressalta que os provedores têm crescido,
havia regiões, como passando de 6,6% em dezembro de 2012 para
NORDESTE SUL
PROVEDORES PROVEDORES
50 | | DEZEMBRO | 2017
Em algumas cidades,
eles são os principais
regionais respondem por pelo menos metade do
total de acessos. Além do papel de levar a Internet, fornecedores e ofe-
contribuem para o desenvolvimento regional, uma
vez que usam mão de obra local.
recem um atendi-
Gargalos a vencer
mento diferenciado,
Os presidentes tanto da Abranet quanto da com relacionamento
Abrint enfatizam que a expansão da banda larga
fixa depende de políticas que fomentem o trabalho mais próximo dos
dos pequenos provedores e incentivem o empreen-
dedorismo. “A verdade é que temos uma luta mui-
usuários finais.”
to desigual. Não temos acesso a crédito, pagamos Pedro Lucas da Cruz Pereira Araújo,
mais caro pela ocupação nos postes e, quando foi diretor do MCTIC
feito o REPNBL [Regime especial de tributação do
Programa Nacional de Banda Larga para implemen-
tação de redes de telecomunicações], as empresas cita o acordo entre Anatel e Aneel para criar parâ-
do Simples não tiveram desoneração. Sentimos até metros e preços de referência para o aluguel de
que fomos penalizados, porque empresas maiores, postes das concessionárias de energia elétrica; a
as operadoras, têm acesso diferenciado. Há dese- lei das antenas, vedando a cobrança pelo direito
quilíbrio”, aponta Rodrigues, da Abrint. de passagem às margens de ferrovia e rodovia; o
Os pequenos e médios provedores vêm lutan- leilão das sobras de frequências; o planejamento
do para diminuir uma série de dificuldades, como para instituição de um fundo garantidor de crédito;
questões tributárias e regulatórias e o acesso a e a reativação da Telebrás.
crédito. Além disso, assim como as grandes com- Uma das principais reclamações dos provedo-
panhias, reclamam da insegurança jurídica. “Se res diz respeito à obtenção de linhas de crédito,
não existir um movimento no sentido de simplificar porque o que poderiam oferecer de garantia, que
as questões tributária e regulatória, vai ficar cada é a rede de telecomunicações, não é aceita pelas
vez mais difícil para os pequenos e médios empre- instituições financeiras. Ainda promessa, o fundo
sários sobreviverem, por causa da insegurança e garantidor poderia resolver esta questão, mas até
de não saber se terão algum problema”, explica agora nada foi concretizado. De acordo com Pedro
Eduardo Parajo. Araújo, do MCTIC, o ministério está trabalhando e
O MCTIC responde às críticas, dizendo que, “quase conseguindo viabilizar o fundo”. Sem es-
desde o lançamento do Plano Nacional de Banda tipular prazos, ele acredita que poderia ocorrer
Larga, em 2010, o ministério sempre teve preo- ainda neste ano. “Não há data precisa, porque
cupação específica para o provedor de Internet. estamos falando de obter recursos, que são dispu-
Para exemplificar, o diretor-substituto Pedro Araújo tados por vários empresários, ainda que dentro do
2017| DEZEMBRO | | 51
governo esteja bastante clara a importância do fun-
do. Temos de encontrar recursos para constituí-lo”,
explica o diretor-substituto.
Quando o projeto do fundo garantidor foi apre-
sentado, o valor desejado estava em R$ 400 mi-
lhões. Este recurso, segundo o MCTIC, seria ca-
paz de alavancar R$ 3 bilhões de investimentos,
de linhas de financiamento para os provedores.
“Estamos bastante cientes da realidade fiscal do
país e que temos pouco espaço de manobra, mas
seguimos falando em R$ 400 milhões como alvo,
como objetivo a ser alcançado no médio prazo. Como criar um
Para o curto prazo, estamos correndo atrás de va-
PROVEDOR
COMUNITÁRIO
lor menor, porque nossa prioridade é concretizar
o fundo, ainda que com valor menor”, diz Pedro
Araújo, do MCTIC. Construídos de forma aberta e sob gestão
dos próprios usuários, os provedores comuni-
Mercado a explorar tários de Internet representam uma alterna-
Para Vitor Meneses, da Anatel, os pequenos tiva de inclusão digital. A prática consiste na
ISPs cumprem o papel de levar a Internet para co- contratação de um serviço de Internet con-
munidades distantes e que não são atraentes para vencional e a subsequente distribuição de
os grandes players. “Nas regiões Norte e Nordeste, sinal para um número limitado de pessoas,
há dificuldade em levar os grandes, mas os provedo- de forma inteiramente colaborativa.
res estão lá. Além disto, é muito comum um peque- Para ajudar a iniciativa, em janeiro, ficou
no provedor de Internet começar por uma cidade e disponível o guia Como Montar e Regularizar
crescer na região”, destaca o superintendente. um Provedor Comunitário, elaborado pela
Além de explorar áreas onde não há serviço de Artigo 19 em parceria com o Instituto Bem
Internet banda larga fixa, Meneses acredita que Estar Brasil e a Associação Nacional de In-
os ISPs podem tirar proveito do que ele chama de clusão Digital (Anid). O documento apresen-
“efeito Netflix”. “As empresas que oferecem serviços ta um passo a passo detalhado sobre como
sobre a Internet realmente têm mudado a forma de criar um provedor comunitário de Internet e
acesso e feito outros serviços perderem espaço. inclui informações sobre a parte legal e re-
Isso faz com que pequenos provedores de Internet gulatória, desde a escolha pela formação de
tenham vantagem, por causa da fibra óptica”, diz, uma associação ou cooperativa entre as pes-
explicando que, ao trocarem a TV por assinatura soas envolvidas no projeto até os eventuais
pelo serviço de streaming, os consumidores de- trâmites necessários junto à Anatel.
mandam mais qualidade e velocidade no serviço de O objetivo do provedor comunitário, diz
banda larga fixa. Percival Henriques de Souza Neto, é viabilizar
Com cerca de metade dos domicílios sem aces- a Internet quando não há entidade comercial
so à banda larga fixa, fica claro que ainda há espaço atendendo a região ou comunidade. Percival
para atuação dos provedores de Internet no país. ressalta que a associação tem uma preocupa-
Especialistas neste mercado concordam que os ção além do provimento do acesso à Internet.
ISPs são essenciais para diminuir a falta de conecti- Para a real inclusão digital e social, deve-se
vidade. “O Brasil precisa dos pequenos provedores articular as pessoas para que façam uso ra-
porque ainda tem carência de conexões. Atuamos cional da conectividade. “Queremos que se
em metade do país e ainda temos a outra metade, conectem não só ao Facebook, mas que haja
que é de menor poder aquisitivo, mas é uma de- um empoderamento das pessoas por meio
manda incrível”, enfatiza Erich Rodrigues, da Abrint. do acesso à tecnologia”, aponta. / R.P.
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Conecte-se a um
desses pontos e
participe da construção
de uma Internet cada
vez melhor no Brasil.
www.ix.br
Pontos de Troca de Tráfego Internet, para uma rede com
mais qualidade, eficiente, colaborativa e com menos custos.
/Entrevista
Como fica
a segurança
na era do
computador
quântico
S
Texto Renato Cruz egurança absoluta não exis-
te. Nem por isso estudiosos
Routo Terada, professor e pesquisadores deixam de
buscar soluções cada vez mais sofis-
da USP, mostra como a ticadas para proteger as informações
54 | | DEZEMBRO | 2017
O pressuposto é que a
Antes da Web, qual era a principal criptografia seja muito
aplicação da criptografia?
R.T_ As aplicações concentravam-se principalmente
forte mesmo para
nas áreas militar e diplomática. Mas as funções ma- um adversário que
temáticas – o algoritmo – eram secretas. A famosa
máquina Enigma, usada pelos nazistas na Segunda disponha de recursos
Guerra, continha um algoritmo totalmente desconhe-
cido integrado ao circuito eletromecânico. computacionais e
Quando o algoritmo deixou de ser secreto?
conhecimento matemático
R.T_ Com o RSA, a fundamentação matemática é cla- bastante sólido.”
ra. Qualquer pessoa pode estudar, saber como funciona
e qual é a justificativa matemática para a chave privada Routo Terada
ser difícil de recalcular ou mesmo adivinhar. Não existe
chave totalmente protegida, mas do ponto de vista com-
putacional é inviável quebrá-la. O pressuposto é que a R.T_ Segurança 100% não existe, então há várias
criptografia seja muito forte mesmo para um adversário formas de burlá-la. A mais simples é o suborno de
que disponha de recursos computacionais e conheci- alguém que esteja trabalhando num banco ou mes-
mento matemático bastante sólido. mo no provedor de Internet. É o que os americanos
chamam de insider. Mas aí entramos numa área que
poderíamos chamar de engenharia social ou de psi-
Qual é o tamanho dessa chave?
cologia humana: disponibiliza-se algo grátis e o pre-
R.T_ Atualmente, no RSA, trabalhamos com 1.024 sente tem alguma armadilha embutida.
bits. Em nível militar passa de 2 mil. Em linguagem lei-
ga, quanto mais longa a chave, mais difícil quebrá-la.
O número de combinações possíveis é astronômico. É possível derrotar os criminosos digitais?
Entretanto, quanto mais longa a chave, mais difícil R.T_ Estabelecendo um paralelo, temos de um lado
fazer a gestão. as quadrilhas e de outro a polícia que quer impedir o
crime. A área de criptografia também é assim. Cria-
mos formas de proteção, e os criminosos tentam bur-
Por que fica mais difícil?
lá-las de alguma maneira. As lojas virtuais, hoje em
R.T_ Fica mais difícil a gestão do banco de dados das dia, até deixam de armazenar os dados do cartão de
chaves públicas que a autoridade certificadora deve ad- crédito porque não querem ter a responsabilidade de
ministrar, fazer troca, remoção (no caso de cancelamen- proteger o cartão de milhares de clientes.
to ou prazo de validade expirado), geração de chave etc.
Isso também acontece do lado do usuário, em que a
gestão é da chave privada, que deve ser administrada Que preocupação o usuário ou uma
e gravada de forma segura pelo software do usuário. A pequena empresa de e-commerce precisam ter?
chave pública deve também ser administrada pelo lado Que tipo de risco estão correndo?
do usuário, para double-checking, sincronização com a R.T_ A recomendação padrão é que tenham antiví-
chave privada etc. rus. Mas, de novo, há a engenharia social que explo-
ra a ingenuidade das pessoas. Se alguém recebe um
Quando se fala de crime ou espionagem e-mail falso, dizendo “sua conta vai ser fechada se
não se trata necessariamente de quebra da você não mandar sua senha”, a pessoa manda. Essa
chave, não é? parte de engenharia social é muito complicada.
2017| DEZEMBRO | | 55
As lojas virtuais, hoje
em dia, até deixam de
por 8 bits e na maioria dos casos o resultado é correto.
Agora, ir de 8 bits para 16 bits já é um custo maior, e
56 | | DEZEMBRO | 2017
A privacidade, mesmo
R.T_ Essa área é muito complicada, porque o fabri-
cante, por causa da concorrência, acaba implemen- física, hoje em dia não é
tando artigos baratos para diminuir o preço final,
deixando uma vulnerabilidade que é explorada pelos muito fácil de preservar
criminosos. Há muita ansiedade por tecnologia avan-
çada, mas que não seja muito cara. E aí aparecem
– em qualquer lugar há
backdoors que não estavam previstos.
uma câmera. Na Internet
Como o senhor vê a discussão sobre é a mesma coisa.”
privacidade e segurança, em que as empresas,
Routo Terada
como WhatsApp, querem preservar a
informação do usuário e a polícia quer obter os
dados a respeito de criminosos?
matemático, implementam algoritmos etc. Mas são
R.T_ O que acontece é que a legislação muitas ve- algoritmos secretos. Alguns são hardwired [imple-
zes não prevê certos crimes. O Marco Civil da Inter- mentados por hardware] nos circuitos integrados dos
net foi um avanço no sentido de restringir o que o equipamentos. As embaixadas brasileiras têm essas
governo pode fazer e definir até onde vai o direito do máquinas, usadas também na área militar.
cidadão. Agora, precisa ser aperfeiçoado. A privaci-
dade, mesmo física, hoje em dia não é muito fácil de
preservar – em qualquer lugar há uma câmera. Na Quando a espionagem foi revelada, anun-
Internet é a mesma coisa. ciou-se que os e-mails da presidente seriam
criptografados. Isso confirma que antes não
eram?
O que o governo brasileiro poderia fazer
R.T_ Foi uma confissão de que, de fato, não eram.
para evitar episódios como o da espionagem
Agora não sei. Sabemos muito pouco do que acon-
da presidente revelada por Edward Snowden?
tece no governo. Pode ser que já tenha introduzido
R.T_ O Snowden trabalhava na NSA. Ele sabia de criptografia, ou esteja usando algum software que já
tudo. É um exemplo de insider. Não tenho muito co- está pronto.
nhecimento do serviço secreto brasileiro, mas sei que
há pesquisadores, pessoas que têm conhecimento
Qual é a situação da área acadêmica?
R.T_ O Brasil, academicamente, precisa ter mais in-
centivo. A USP, em particular, com essa crise econô-
O pesquisador Peter Shor mica, sofre muito, assim como a Unicamp. E a área
de criptografia, apesar do interesse dos alunos, aca-
publicou um algoritmo, ba sofrendo também. Mas temos capacitação inte-
lectual. Em 2008 publiquei um livro e isso foi muito
teórico, que seria capaz bom, porque alunos de outros Estados vêm para cá
fazer o mestrado. Temos condições de formar alunos
de quebrar a chave RSA capacitados, de fazer pesquisa, enfim, nós temos
e de curvas elípticas
condições de avançar junto com outros países.
2017| DEZEMBRO | | 57
/ Personagem
58 | | DEZEMBRO | 2017
cartilha.cert.br
POR UMA
INTERNET CADA
VEZ MELHOR
NO BRASIL
CGI.BR, MODELO DE GOVERNANÇA MULTISSETORIAL
www.cgi.br