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Bent

Martin Sherman

1ª edição digital
Tradução de Bruno Caçador
ISBN 978-65-00-01505-8

Bruno Caçador, 2020


Samuel French© 1979
Todos os direitos reservados.

Mongaguá, 2020
ATO 1
Cena 1
(A sala de estar de um apartamento. Pequeno. Mobília esparsa. Uma mesa com plantas.
Uma porta à direita leva ao corredor externo. Está próxima à saída da cozinha. À
direita, uma saída para o quarto, e, próximo, uma saída para o banheiro)
(Max entra do quarto, vestindo um roupão, de ressaca. Está muito difícil lidar com a
realidade de estar acordado. Ele esbarra na planta da prateleira. Ele está olhando
para o caminho feito, do quarto até ali, por cima das paredes. Desliga o rádio, vai
até o banheiro, acende a luz)
Max: Ó, Deus! (Olhando-se no espelho) Ó, Deus!
(Entra Rude da cozinha, olha pela sala. Vai até a mesa de canto EM, pega uma
garrafa e dois copos. Max gargareja e cospe. Rude percebe e, ao sair com copos e
garrafa, liga o rádio. Enquanto Rude sai da cozinha, Max vem de fora do banheiro.
Ele desliga o rádio e cambaleia até um banquinho. Consegue sentar sobre ele,
estremece, e fica de pé ao sentir uma contusão na nádega direita. Cai na poltrona,
colocando uma almofada debaixo dele. Enquanto se ajeita no assento, Rude entra
da cozinha com uma xícara de café. Vem por cima da mesa de canto e oferece café.
Max não reage)
Rude: Aqui. (Entrega a xícara para Max; Max olha e não toma) Aqui. (Passa o café por
baixo do nariz de Max) Café!
Max: (Pega a xícara) Obrigado.
(Rude se inclina e beija Max. Max toma um gole do café. Rude examina o
apartamento, bate suas mãos juntas. Ele está tentando irritar Max, e com sucesso)
Rude: Está tarde. Já são quase três horas. A gente dormiu mesmo. (Cruza os braços.
Olha ao redor. A fala dele é constante) Eu perdi a aula. (Ele atravessa para a EB,
na ponta da poltrona, pega um copo) Detesto dançar quando perco a aula. Faz
mal para os músculos. E não tem lugar para se aquecer no clube. (Vai pra cima da
mesa de canto com o copo. Ele esvazia as cinzas dentro do copo – audivelmente.
Max responde) Eu detesto aquele clube de qualquer maneira. O piso não é nada
bom. É cimento. Você não deveria dançar no cimento. Isso acaba com meu

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tornozelo. Havia sido coberto com madeira. Na noite passada, antes da
apresentação, eu me arrebentei na madeira – muito mesmo. (Bate o pé três
vezes. Max se estremece em cada batida) – e eu podia ouvir o cimento. Eu vou
reclamar. Vou mesmo. (Joga o cinzeiro de metal em cima da mesa de canto. Max
reage. Rude se vira para o rádio, pego o copo sobre ele, liga a rádio e sai para a
cozinha)
(Max senta, com olhar fixo e em silêncio)
Max: Ó, Deus.
(Max alcança o rádio, mas não pode alcançar o botão. Rude volta da cozinha com
uma jarra de água. Ele se move B, sorri para Max, que retribui com um sorriso fraco.
Rude vai até as plantas, olha e grita. Max se assusta)
Rude: As plantas estão morrendo. (Mostra para Max uma planta da prateleira B) A luz
é ruim neste apartamento. (Devolve a planta para a estante e rega cada uma
delas na prateleira de cima enquanto conversa) Queria que tivéssemos um lugar
decente. E que um dos seus negócios viesse de novo. Ó, me escute, quero um
lugar maior. (Ajoelha e rega as plantas da prateleira de baixo) A qualquer
momento Rosen vai bater na nossa porta, você sabe disso, querendo o dinheiro
do aluguel. Nós estamos três semanas atrasados. Ele sempre vem num
domingo. O que são três semanas? Ele pode esperar. Bem, pelo menos, eu
tenho um novo emprego. (Atravessa até o rádio e rega as plantas sobre ele) Serei
pago na quinta-feira. Se Greta mantiver o clube aberto. O negócio vai mal. Bem,
eu acho que isso quer dizer que não posso reclamar do cimento, né? A coisa é,
eu não quero dançar com o tornozelo ruim. (Atravessa até a porta da cozinha,
vira-se para Max) Mais café?
(Max segura a xícara. Rude pega a xícara e sai para a cozinha. Max tira os pés do
banquinho, ajeita as almofadas EB, encosta as costas, fecha os olhos e respira
fundo)
Max: Um. Dois. Três. Quatro. Cinco. (Respira fundo pela segunda vez) Seis. Sete. Oito.
Nove. Dez.

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(Rude volta da cozinha, dá a xícara de café para Max. Rude cruza DB assobiando.
Rega as plantas DB)
Max: Ok. Me conte.
Rude: O quê?
Max: Você sabe.
Rude: Não...
Max: Qual é!
Rude: Eu não sei. (Senta do lado direito da espreguiçadeira) Escute, você acha que eu
devo pedir o dinheiro do aluguel emprestado pra Lena? Ela é uma pessoa tão
boazinha. Embora não sinta nada por música. O que é loucura, ela tem uma boa
postura. (Estende a perna direita ao extremo) Pernas perfeitas. Teddy quer fazer
uma dança para ela em silêncio total. Você acha que é uma boa ideia? (Senta ao
lado do banquinho B, empurrando os pés de Max para fora do banco) Apesar de
que não há lugar nenhum pra fazer isso. Não há trabalho. Lena perdeu aquela
turnê. Então ela não pode nos emprestar o dinheiro. (Levanta e vai para a
cozinha A. Max agarra o seu braço direito. Rude deixa a jarra de regar à direita do
banco) Quer comida?
Max: Só me diga.
(Pelas próximas linhas há um cabo de guerra entre eles)
Rude: O quê?
Max: Deve ser péssimo mesmo.
Rude: O que deve ser péssimo?
Max: É por isso que você não vai me contar.
Rude: Contar o que?
Max: Não minta para mim.
Rude: Eu não estou mentindo nada.
Max: Eu vou me odiar, não vou? (Silêncio) Não vou?
Rude: Eu vou preparar o café da manhã. (Atravessa a porta da cozinha. Vira-se para
Max)
Max: Eu fui podre mesmo?

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Rude: Ovos e queijo. (Sai para a cozinha)
Max: Eu não quero ovos.
Rude: Bem, nós somos sortudos por tê-los. Eu os roubei do clube. Eles não precisam
de ovos. (Entra na cozinha e atravessa CA) As pessoas vão lá para beber. E ver
um show magnífico. Ó, garoto, é divertido, porque aquele show arrasta. Você
sabe, eu fico tão envergonhado que tenho que pensar em outras coisas
enquanto estou dançando. (Cruza até a poltrona, pega as roupas, pendura as
camisas nos ganchos da porta da frente. Move as calças dobradas EM) Preciso
pensar na lista de compras, podem dizer, lá fora, que você não está pensando
em chapéus de palha ou lótus –
Max: Pare!
Rude: Digo, aparenta mesmo; especificamente quando está na lista de compras. Sua
cara parece muito deprimida, quando você não pode pagar as compras...
(Max se move para trás de Rude. Ele o abraça. As mãos sobre a boca dele. Sua
cabeça à direita da de Rude)
Max: Pare com isso!
(Rude tenta falar. Max aperta a mão na boca)
Max: Pare com isso! Eu quero saber o que eu fiz.
(Solta sua mão da boca dele. Rude beija Max)
Rude: (Sorri) Eu te amo.
(Sai na cozinha com as calças. Max para por um momento, então, na próxima
linha, cruza pela estante de plantas, pega uma em cada mão e atravessa para CA)
Max: Rude! Suas plantas! Eu vou arrancar as pequenas bastardas pelas raízes se você
não me contar.
(Rude entra da cozinha, atravessa por B, por baixo e à direita de Max, que segura
as plantas atrás e começa a contar. Nas próximas linhas, Rude tenta pegar as
plantas chegando por trás de Max. Eles rodeiam uma vez)
Rude: Não, você não vai fazer isso.
Max: Quer apostar? Eu fiz semana passada.
Rude: Você matou uma. Quer dizer.

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Max: Vou fazer isso de novo.
Rude: Não toque nelas. (Agarra as plantas, vira e encara DB, falando com elas)
Você tem que ser bom com as plantas. Elas podem ouvir você, e tudo. (Para as
plantas) Ele sente muito. Não quis fazer isso. Apenas está de ressaca.
Max: (Inclina-se à esquerda de Rude) O que foi que eu fiz?
(Silêncio)
Rude: (Devolve as plantas à estante. Pelas próximas falas ele passa pela mesa de canto
à esquerda de Max, pega a xícara) Nada demais.
Max: Eu não consigo me lembrar de nada. E quando eu não lembro isso quer dizer...
Rude: Não quer dizer nada. Você bebeu muito. Isso é tudo. O de sempre.
(Na CM Max enfrenta Rude e abaixa o ombro esquerdo do roupão para mostrar um
hematoma)
Max: Como eu consegui isso?
Rude: (Abaixa a xícara e vai até Max. Ele examina o machucado) O que é isso?
Max: Ai! (Afasta) Não toque.
Rude: Eu quero ver.
Max: Então olhe. Você não tem que tocar.
Rude: O que é isso?
Max: O que parece? Uma grande marca preta e azul. (Vira de costas para Rude. Ele tira
o roupão e mostra um hematoma no bumbum esquerdo) Há mais outra aqui.
(Mostra uma marca no seu braço)
Rude: Nossa!
Max: Como eu consegui elas?
Rude: Você caiu. (Tira e limpa seus óculos com o roupão)
Max: Como?
Rude: Alguém empurrou você.
Max: Quem?
Rude: Um cara.
Max: Que cara?
Rude: Amigo do Nicky.

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Max: Quem é Nicky?
Rude: Um dos garçons do clube.
Max: Qual deles?
Rude: O ruivo.
Max: (Vai até a poltrona) Eu não me lembro dele.
Rude: Ele é um gordinho.
Max: (Deita na poltrona – do lado esquerdo, protegendo a direita do seu bumbum) Por
que o cara me empurraria?
Rude: (Vai até o lado esquerdo da poltrona) Você pediu para o Nicky vir pra casa
conosco.
Max: Pedi?
Rude: Sim.
Max: Mas ele é gordo!
Rude: Só um pouquinho.
Max: Um ménage à trois com um gordo?
Rude: Não um ménage à trois. Um ménage à douze. Você convidou todos os garçons. E
todos ao mesmo tempo. Você estava subindo na mesa, convidando todo
mundo.
(Rude e Max riram disso. Max está se divertindo com essa história. Ele deita de
volta na poltrona, ainda protegendo seu bumbum)
Max: Nossa! E depois?
Rude: O amigo do Nicky empurrou você da mesa.
Max: E…
Rude: Você caiu no chão, encima de um cara vestido de couro.
Max: O que ele estava fazendo no chão?
Rude: Eu não sei. (Pega papel do chão e amassa)
Max: A Greta ficou nervosa?
Rude: Ela não ficou feliz. (Pausa) Estava tarde. Quase todo mundo havia ido embora.
E você estava muito bêbado. As pessoas gostam de você bêbado. (Bate o jornal

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na cabeça de Max, vai para a mesa de canto, à esquerda) (Pausa) Vou fazer
alguma comida. (Vai até a porta da cozinha)
Max: Eu não quero comida. Por que você não me impediu?
Rude: (Para e se vira para Max) Como eu posso parar você?
Max: Não me deixe beber.
Rude: Ah. Com certeza. Quando você fica deprimido?
Max: Eu estava deprimido?
Rude: Claro.
Max: Eu não me lembro do porquê.
Rude: Então beber funcionou, não é?
(Volta para a cozinha. Para. Wolf entra do quarto, passa pelo EA da poltrona. Ele
encara Max, espreguiça e sorri. Ele está pelado. Max fica olhando para ele)
(Um homem loiro, na faixa dos seus vinte anos, entra, com olhos sonolentos, sai do
quarto. Ele está pelado)
Homem loiro: Bom dia.
(Vai para o banheiro. Max senta e fica olhando o quarto)
Max: Rude!
Rude: (Entra da cozinha, carrega o pano de prato, para bem na porta) O que?
Max: Quem era ele?
Rude: Quem era o que?
Max: (Levanta e atravessa apontando para o banheiro) Aquela! Aquela pessoa!
Rude: Ah. Sim. Ele. Loiro?
Max: Sim.
Rude: E grande?
Max: Sim.
Rude: É aquele cara que você caiu em cima.
Max: O cara vestido de couro?
Rude: Sim. Você trouxe ele para casa. (Vai para a cozinha)
Max: Rude! Suas plantas!

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Rude: (Entra da cozinha e dá muitos passos B) Trouxe ele pra casa. É isso. Ele veio com
você. Todo aquele couro, todas aquelas correntes. Você o chamava de seu
pequeno stormtrooper. Você ofendeu todos os amigos dele. Não sei porquê eles
não bateram em você, mas não bateram. Eles foram embora. E você o trouxe
pra casa.
Max: E nós fizemos um ménage à trois? (Encosta-se na porta e se esconde com roupas)
Rude: (Atravessa a porta pela esquerda) Talvez vocês dois tiveram um ménage à trois.
Max, isso não existe. Você escolhe os caras. Você acha que está fazendo isso
para mim também. Mas não está. Eu não gosto disso. Você e os outros caras
sempre acabam me ignorando de qualquer jeito. Além disso, na noite passada,
você e seu pequeno stormtrooper começaram a ficar agressivos, um com o
outro, e eu sei que agora a dor é muito chique, mas eu não gosto, porque dor
machuca, então eu fui dormir. (Passa pela mesa de canto, à esquerda, pega a
xícara e derrama café nas plantas sobre o móvel). Aqui, Walter, tome um pouco
de café.
Max: Walter?
Rude: Eu estou nomeado as plantas. Elas são minhas amigas.
(Sai com a xícara para a cozinha. Wolf entra do banheiro, enrolado numa toalha.
Ele tem uma toalha em volta do seu pescoço. Ele para na porta da cozinha, à
esquerda. Ele sorri para Max. Max cobre sua cabeça com a camisa pendurada)
Max: Rude!
(Volta da cozinha com a jarra de água. Ele para próximo à porta quando vê Wolf)
Rude: Ah. Tem uma roupa lá – lá no quarto.
(Aponta para o quarto. Wolf afaga a bochecha direita de Rude. Ele passa pela
direita abaixo de Max, dá uma volta, sorri, arremessa a toalha do pescoço no lado
direito do bumbum de Max, ri e sai para o quarto. Há um momento de silêncio,
então Rude passa pelo banquinho e senta. Max deixa a camisa cair)
Max: Desculpe-me.
Rude: Está tudo bem.

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(Max ajoelha e rasteja até Rude em linha reta. Ele coloca sua cabeça sobre o ombro
direito de Rude)
Max: Eu sou uma pessoa podre. Por que eu sou tão podre? Por que eu faço essas
coisas? Mas ele é lindo, não é?
(Rude acaricia a cabeça de Max)
Eu não lembro de nada. Não lembro o que nós fizemos na cama. Por que eu nem
me lembro? (Max senta na poltrona)
Rude: (Abraça a jarra de água) Você estava bêbado. E chapado de cocaína.
Max: Isso também?
Rude: Sim.
Max: De quem era a coca?
Rude: Da Anna.
Max: Eu não lembro.
Rude: Você fez uns esquemas de pegar uma remessa pra vender.
Max: Uma remessa?
Rude: Sim.
Max: Jesus! Quando?
Rude: Eu não sei.
Max: Isso pode ser tanto do dinheiro do aluguel.
Rude: A Anna vai lembrar.
Max: Certo. (Dá um tapinha no braço de Rude) Opa – dinheiro do aluguel. (Indica Wolf
no quarto) Você acha que... Talvez... Nós podíamos...
Rude: O quê?
Max: (Vai até CA) Peça.
Rude: Quem?
Max: Ele.
Rude: Você está brincando.
Max: Por que não?
Rude: Não conhecemos ele.
Max: Eu dormi com ele. Eu acho. Eu pergunto como que foi isso?

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Rude: Você pegou ele por uma noite, e vai pedir para ele emprestar o dinheiro do
aluguel?
Max: Bem, você sabe como eu sou.
Rude: Claro.
Max: Eu posso convencer as pessoas a fazer coisas.
Rude: Claro.
Max: Posso tentar.
Rude: Não vai funcionar. Ele acha que você é rico.
Max: Rico?
Rude: Você falou pra ele que era rico.
Max: Ótimo!
Rude: E polonês.
Max: Polonês?
Rude: Você fez um sotaque.
(Ri, coloca a jarra do lado direito do banquinho e sai para a cozinha. Wolf entra do
quarto e passa DB de Max. Pausa. Max olha pra ele)
Max: Oi.
Loiro: Oi. A roupa está pequena. Eu pareço abobado.
Max: Você fica bem.
Loiro: Fico? Você também. (Vai até Max, segura ele pelo bumbum e começa a mordiscar
sua bochecha, segue até morder o seu mamilo esquerdo. Max luta para se afastar)
Hummm...
Max: Agora não.
Loiro: Mais tarde então.
Max: Sim. Mais tarde.
Loiro: No campo.
Max: Campo?
Loiro: Sua voz está diferente.
Max: Aé?
Loiro: Você não tem um sotaque.

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Max: Só quando estou bêbado.
Loiro: Ah.
Max: Na noite passada – foi bom?
Loiro: (Passa pela esquerda da espreguiçadeira) O que você acha?
Max: Estou perguntando.
Loiro: Você tem que perguntar?
(Fica olhando para Max. Rude entra da cozinha com uma xícara de café. Ele
atravessa CA, ele oferece café na mão direita)
Rude: Um cafézinho?
Loiro: Sim. Obrigado.
(Não para de olhar fixamente. Estende a mão esquerda para Rude. Rude não se
move. Pausa. Wolf se vira para ele, que troca a xícara da mão direita para a
esquerda e segura. Wolf sorri, pega o café e atravessa para sentar na poltrona.
Então dá um gole do café...)
Esse lugar...
Max: Sim?
Loiro: É muito... (Para – silêncio)
Max: Pequeno?
Loiro: Isso. Exatamente.
Max: Eu acho que é.
Loiro: Pessoas como você são estranhas, mantendo lugares assim na cidade. Eu não
encontro pessoas como você tanto assim. Mas estou interessado em você, o seu
tipo.
Max: Escuta...
Loiro: Ah, olha, não importa, quem você é, quem eu sou. Eu estou de férias. Isso que
importa. O campo vai ser legal.
(Levanta e atravessa para a espreguiçadeira com a xícara. Ele coloca o café na
mesa de canto ao lado direito. Ajoelha-se para Max e o puxa contra ele, massageia
o seu pescoço. Rude vai para o banquinho e senta-se na ponta B)
Max: O que que tem o campo?

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Loiro: A casa. Sua casa. Sua casa de campo!
(Max olha para Rude pelas próximas nove linhas)
Max: Minha casa de campo?
Rude: Ah. Isso. Eu esqueci de dizer pra você sobre isso. Nós vamos dirigindo pra lá
esta tarde.
Max: Para nossa casa de campo?
Rude: Sua casa de campo.
Max: Como chegamos lá?
Rude: De carro.
Max: Meu?
Rude: Isso.
Max: Isso. Por que nós não ficamos aqui?
(Tenta sentar. Wolf o puxa de volta contra ele pelos ombros)
Loiro: Não faça piadas. Você me prometeu dois dias no campo.
Max: O seu nome.
Loiro: Sim?
Max: Eu esqueci o seu nome.
Loiro: Wolf.
Max: Wolf? (Olhando para Rude, gargalha) Bom nome.
Wolf: Eu não esqueci o seu.
(Levanta Max apoiando-o por baixo dos braços)
Max: Desce, desce, Wolf.
(Wolf solta Max, que escorrega para baixo e se apoia sobre as coxas dele)
Max: Olha, Wolfie, eu não tenho um carro.
Wolf: Claro que tem.
Max: Não.
Wolf: Você me mostrou. Na rua. Apontou ele lá fora.
Max: Eu apontei? Não era meu.
Wolf: Não era seu?
Max: Não. Eu também não tenho nenhuma casa no campo.

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Wolf: Claro que tem. Você me contou tudo sobre ela.
Max: Eu estava mentindo.
Wolf: (Empurra Max para cima e se ajoelha) Eu não gosto de mentiras. Você não me
quer com você, é isso? Talvez eu não seja bom o bastante para você. Rico o
suficiente. Meu pai fabricava relógios. Que não é grande coisa. (Levanta à
esquerda da espreguiçadeira) É isso, barão? (Pausa)
(Max olha para Rude. Os dois riem)
Max: Barão?
Rude: Não olhe pra mim. Disso eu não sabia! (Vira segurando a expressão do rosto)
Max: Barão.
(Começa a rir enquanto se deita. Há uma batida na porta)
Rude: (Levanta e vai até a espreguiçadeira, pega um papel e dobra) Rosen!
Max: Merda!
(Rude passa pela mesa de canto, pega o cinzeiro)
Wolf: Você gosta de rir de mim, barão?
(Max vai até a porta e checa estar fechada. Rude sai para a cozinha com o jornal e
o cinzeiro. Mais uma batida)
Max: (Vai à esquerda de Wolf, ele o está encarando) Ouça, Wolf, querido, você é
mesmo muito gentil e muito fofo e gostei bastante de você, (Rude entra da
cozinha e atravessa quase até o banquinho) mas você vê, eu não sou essa
maravilha, porque eu tenho o hábito de ficar bêbado e chapado e confiante e
fazer as coisas acontecerem. Acredite em mim, eu não sou um barão. (Max
ultrapassa Rude por cima e coloca o braço ao redor de Rude) E essa não é a
baronesa. Não há casa de campo. Não há nenhum dinheiro. Eu não tenho
qualquer dinheiro. (Max cruza DM) Às vezes tenho. Às vezes vendo cocaína, às
vezes encontro pessoas para investir nos negócios, às vezes... bem, eu peço
dinheiro, veja, e eu sou bom nisso, e, em poucas semanas, eu terei dinheiro
novamente. Mas, por agora, nada. (Max ultrapassa Rude por cima, o abraça)
Rude e eu não podemos pagar nosso aluguel. Este aluguel. Bem aqui. Este
muquifo. Que é tudo o que nós temos. E aquele homem batendo na porta é o

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nosso proprietário. E ele vai nos jogar pra fora. Porque não podemos pagar
nosso aluguel. (Vai à esquerda de Wolf) Lá fora, nas ruas, Wolf. (Abraça Wolf)
Cheias de sujeira, vermes. (Beija Wolf) E piolhos. (Beija Wolf) E... urina. (Beija
Wolf) Mijo! (Beija Wolf) A menos que alguém possa nos ajudar nessa. A menos
que alguém nos dê uma mãozinha. (Beija Wolf) Essa é a verdade.
(Solta Wolf do abraço e passa pela esquerda da porta. Wolf se levanta, de costas à
espreguiçadeira B)
Veja, você não acredita em mim, vou mostrar a você. Bem ali fora, nós temos,
assim como nos filmes, o proprietário ganancioso. (Max segura a maçaneta e o
trinco) Fanfarra, por favor.
(Rude imita o som de uma trombeta assoprando no bico da jarra)
Aqui está ele, o único e inigualável, Abraham Rosen!
(Max desliza o trinco e abre a porta. Guarda 1 e Guarda 2 estão em pé do lado de
fora [1 E – Capitão da Gestapo e Oficial nazista – 2 D]. Ao vê-los, Max fecha a
porta batendo)
Aquele não é Rosen!
(Os guardas empurram a porta até abrir. Max cambaleia de volta para Rude. Os
guardas entram. O Guarda 1 olha ao redor, vê Wolf e aponta para ele)
Capitão: ELE!
(Guarda 2 começa por Wolf. Ele atira café na cara dele)
Wolf: Não!
(Começa a ir para o quarto. O Oficial vai atrás dele. Coloca a planta de pé entre eles
e sai do quarto. O guarda atira a planta para fora do seu caminho e sai do quarto.
Max tenta ir para a porta. Rude continua estático)
Max: Idiota! Corre!
(Olha para Rude e corre atrás dele, pega a jarra, a joga na cadeira, agarra Rude e
puxa ele pra fora da porta da frente. Batidas. Tiros. Wolf desanda para fora do
quarto, puxando a cortina pra fora da haste. Ele cai sobre a espreguiçadeira com a
cabeça no fim de B. Guarda 1 entra seguido do Guarda 2. O Guarda 1 vai até o
Wolf, monta sobre ele, puxa sua cabeça para cima pelos cabelos, tira uma faca)

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Capitão: Wolfgang Granz, nós temos uma ordem para sua prisão. Você resistiu. Que
pena.
(Inclina a cabeça de Wolf para trás e corta sua garganta. Wolf cai de costas. Coloca
a faca na bainha e sai pela porta da frente, seguido pelo Guarda 2)
Fim da Cena 1

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Cena 2
(Greta senta no trapézio. Ela canta numa voz sedutora e abafada)
Greta: Ruas de Berlim
devo deixar você logo
Ah!
Você vai me esquecer?
Eu realmente estive aqui?

Encontre-me um bar
nas ruas asfaltadas
onde os garotos são bonitos
eu não posso amar
por mais do que um dia
mas um dia é o bastante nessa cidade.

Encontre-me um rapaz
com dois olhos azuis da cor do oceano
e mostre a ele nenhuma piedade
arranque fora os seus olhos
ele nunca precisa ver
como eles comem você vivo nessa cidade.

Ruas de Berlim
devo deixar você logo
ruas de Berlim,
você se importa?
Ruas de Berlim,
você vai chorar
se eu desaparecer,
de repente, pelo ar?

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Ruas de Berlim,
você vai chorar
se eu desaparecer,
de repente, pelo ar?
Greta: Certo, Vitor, feche as cortinas. (Entra pela porta, abaixa sombra, liga as luzes)
Meus heróis! Onde vocês estão? Bestas!
(Cruza CM em linha reta. Enquanto vai ao camarim, dá um gole de café e coloca
conhaque nele, então senta na cadeira. Max atravessa a porta e espia pela direita
na escuridão. Ele senta no banquinho próximo à DM. Greta começa a retocar a
maquiagem e a tirar os sapatos. Rude dá um passo na direção dela)
Rude: Está seguro?
Greta: O quê?
Rude: Para nós irmos para casa?
Greta: Suas bichas burras, vocês não têm nem cérebros? Não, não está seguro.
Rude: Eu quero ir pra casa.
Greta: Vocês não podem. Não podem ir a lugar nenhum.
(Rude volta-se para Max e começa)
Rude: Eu tenho que pegar minhas plantas.
Greta: Ah, Jesus! Esqueça suas plantas. Vocês não podem ir pra casa. Não podem
conversar com amigos, nem tentem ver Lena. Ela é uma boa criança, e vocês
irão colocá-la em muitos problemas. E claro que vocês não podem ficar aqui.
(Levanta, perna esquerda na cadeira, solta a liga e tira a meia-calça) Vocês
entenderam? Vocês têm que deixar Berlim.
Rude: Por quê? Eu moro aqui, trabalho aqui.
Greta: Não, não trabalha. Você está demitido.
Rude: Eu não entendo. O que nós fizemos? Por que deveríamos ir embora? (Senta na
cadeira)
Greta: Não saiam. Fiquem. (Segue até o rack no final à esquerda, deixa a meia-calça
usada e pega uma peça nova, volta para sua cadeira, senta e troca de calça) Sejam
bestas mortas. Quem se importa com isso? Eu não.

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Max: (Olha pra cima) Quem era ele?
Greta: Quem era quem?
Max: O loiro?
Greta: (Para) Wolfgang Granz. (Continua a vestir a meia)
Max: O que isso significa?
Greta: Ele era namorado do Karl Ernst.
Max: Quem é Karl Enrst?
Greta: Em que mundo vocês vivem? Vocês, rapazes, não ficam nenhum pouco
curiosos sobre o que está acontecendo?
Max: Greta, sem sermão. Quem é Karl Ernst?
Greta: Agente Von Helldorf. Vocês conhecem Von Helldorf?
Max: O chefe das patrulhas em Berlim.
Greta: Não acredito nisso. Vocês, na verdade, ouviram de alguém. Certo. É o segundo
no comando da SA, logo abaixo de Ernst Rohm.
Rude: Ah. Ernst Rohm. Eu o conheço.
(Max e Greta ficam olhando para ele)
Ele é uma bicha gorda, com aquelas cicatrizes horríveis no rosto, um grande
partido mesmo, amigo do pessoal de Hitler, anda por aí com um monte de caras
bonitos. Vai para todos os clubes; Uma vez me sentei à mesa dele. Ele já esteve
aqui também, não esteve?
Max: Rude, cale a boca.
Rude: Por quê?
Max: Só cale a boca, tá? (Para Greta) Então?
Greta: Então Hitler prendeu Rohm na noite passada.
Max: Você está brincando. (Passa para a esquerda de Greta) Ele é o braço-direito de
Hitler.
Greta: Era. Ele está morto. Assim como qualquer um que esteja no alto patamar na SA
está morto. Sua ceninha em cima daquela mesa não foi o grande evento da
noite. (Levanta, cruza CA e pega o vestido no rack) Foi uma noite sangrenta. A
cidade está em pânico. Vocês não viram os soldados nas ruas? A SS. Como você

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chegou aqui de roupão? Garoto, você tem uma puta sorte, é isso. (Joga o vestido
sobre a cadeira, pega a chibata e joga sobre o vestido) Von Helldorf, Ernst, seu
amigo loiro, o comando – estavam planejando um golpe. Eu não acredito nisso.
Que inferno, deixem eles se matarem, quem liga? (Brinca com o agasalho e a
chibata) E, diferentemente, é o fim do clube. Enquanto Rohm ficava por aí, um
clube gay ainda era ok. De qualquer forma, é quem vocês tinham, meu bem –
Wolfgang Granz. Espero que ele seja uma boa foda. (Passa pela cadeira e estala
os dedos, indicando Max para se levantar. Ele levanta e atravessa da CM para EA)
Qual é a diferença? Vocês pegaram o cara errado, afinal.
(Senta na cadeira e começa com a maquiagem. Max vai para a poltrona)
(Rude fica à direita de Max e coloca sua mão esquerda no ombro direito dele)
Rude: Podemos nos explicar. Não é como se nós o conhecêssemos.
Greta: Claro. Explique isso tudo para a SS. Vocês não explicam. Não mais. Sabe,
vocês, gays, não são muito populares, de jeito nenhum. Era o Rohm quem
mantinha as bichas em paz. Foi como Rohm manteve só vocês seguros. Agora
são como os judeus. Mal amados, meu bem, mal amados.
Rude: E você?
Greta: Eu? Todo mundo sabe que eu não sou gay. Eu tenho esposa e filhos. Claro que
isso não importa muito nos dias de hoje, não é? Mas – ainda não sou gay!
Quanto a isso... (Faz “carão”) Eu vou aonde o dinheiro está. Estava. (Pega o
espelho de mão, encara CM e arruma a maquiagem)
Max: (Levanta) Dinheiro.
Greta: Isso.
Max: Dinheiro. (Vai à esquerda de Greta por A de Rude) Ah! Greta!
Greta: O que há com vocês?
Max: Quanto?
Greta: Quanto o quê?
Max: Quanto eles deram pra você?
Greta: (Rindo) Ah. (Remove as flores do vaso, tira um bolo de dinheiro e o segura no alto
para Max) Esse tanto.

19
Max: E você contou pra eles onde o Granz estava?
Greta: Contei, inferno – mostrei a eles o seu prédio.
Rude: (Passa a sentar à direita da poltrona) Greta, você não fez isso.
Greta: Por que não? Você não brinca com a SS. Não tem jeito, é só o que ele faria, o
seu grande partido. (Max vai deitar sobre a prateleira do rack) Ele também gosta
de dinheiro. Só não era muito bom em conseguir isso. Eu, eu sou dinamite. Aqui.
Vou fazer um favor para vocês. Peguem isso. (Retira um tanto das contas)
Rude: Não pegue.
Greta: Vai ajudá-los.
Rude: Não queremos isso.
Max: (Vai à esquerda de Greta) Cale a boca, Rude.
Rude: Pare de me falar pra…
Max: Cale a boca! (Pega o dinheiro, conta e atira ele sobre a penteadeira) Não é o
suficiente. Queremos de mais.
Greta: Então pegue mais.
Max: (Vai até CM e se vira, aponta para ela) Se eles nos pegarem, isso não vai ajudar
você.
Greta: Ah? Uma ameaça? (Pausa) É o seguinte. Vou fazer um favor para vocês.
Peguem um pouco mais. (Vai até a esquerda da porta, para e retira um pouco mais
de dinheiro e oferece a eles. Max pega) Eu já me aproveitei muito da bondade de
vocês, então estou devolvendo um pouquinho. Levem tudo. (Oferece todo o bolo
de dinheiro)
Max: Tá.
(Segue até Greta e pega o dinheiro. Ela abre a porta e vai à direita até o rack ao
final)
Greta: Agora saiam.
Max: (Para Rude) Vamos...
Rude: Onde? (Virado para B) Não vou sair de Berlim.
Max: Nós temos que sair.
Rude: Não temos.

20
Max: Estão nos procurando.
Rude: Mas eu moro aqui.
(Max bate a porta)
Max: Vamos...
Rude: Eu paguei as aulas de dança pelas próximas duas semanas.
Max: Jesus! Vamos!
Rude: (Vai de C para DB) Se você não tivesse ficado tão bêbado...
Max: Não comece.
Rude: Por que você teve que levá-lo pra casa?
Max: Como eu vou saber? Eu não me lembro.
Rude: Você estragou tudo.
Max: É. Eu sempre estrago. Faça o seguinte. Por que nós já não separamos por aqui?
(Cruza pela esquerda do namorado) Então você se vira sozinho, tudo bem? Volte
para suas aulas de dança. Eles podem atirar em você no meio de um arabesco.
Pegue metade. (Oferece o dinheiro a Rude)
Rude: Eu não quero.
Max: Então foda-se! (Guarda o dinheiro no bolso e vai até a porta)
(Greta atravessa pela esquerda de CA. Max para na porta)
Greta: Max. Ele não pode lidar com isso sozinho. Olhe pra ele. (Olha para Rude. Max
olha para ele. Então ela olha de Max e, então, para Rude. Ela estala seus dedos
para ele)
Pegue a mão dele, bobinho.
(Rude vai até Max. Coloca sua cabeça no ombro direito dele. Segura sua mão
esquerda com a sua direita segura a mão de Max. Greta aprova.)
Tudo bem. (Ela vai à penteadeira para pegar o conhaque)
Rude: Para onde vamos?
Greta: (Para e se volta para eles) Não! Não digam nada na minha frente. Saiam.
(Max e Rude saem. Greta vai até a porta e fecha, apoia-se contra ela, tira a peruca e
lança sobre a poltrona. Sai)
BLACKOUT
Fim da Cena 2

21
Cena 3
Luzes acesas sobre um parque em Colônia.
(Fred começa a leitura de um jornal ao fim do lado direito do banco. Max cruza pela CA,
acima do lado esquerdo do banco e vê Fred. Passa pelo lado direito do banco,
acende um cigarro e retorna para a esquerda. Para de andar)
Freddie: Sente-se.
(Max senta do lado esquerdo. Os dois estão de cabeça levantada. Fred dobra o jornal e o
coloca no colo. Eles acenam os chapéus)
Max: (Ri gentilmente) Ah, Tio Freddie.
Freddie: Não é divertido.
Max: É, sim.
Freddie: A família toma conta de mim. Mas você. Jogando isso na cara de todo
mundo. Não me surpreendo que eles não queiram fazer nada com você. Por que
você não poderia ter ficado quieto sobre isso? Estabilizado, casado, com alguns
garotos pagos para ficar ao lado. Sem que ninguém soubesse disso. Argh! Pegue
essa passagem. (Desliza o jornal e o envelope pelo banco)
Max: Não posso. Pare de oferecer isso para mim. (Fred pega o jornal e o envelope e
coloca no colo)
Freddie: Olhe para lá.
Max: Onde?
Freddie: Logo ali. (Indica para fora à direita) Está vendo ele?
Max: Quem?
Freddie: De bigode.
Max: Sim.
Freddie: Bonitinho.
Max: Eu acho.
Freddie: Acha que ele é bicha?
Max: Não me importo.
Freddie: Já se passaram dois anos que você anda por aí. Com aquele bailarino. A
família sabe de tudo sobre isso. Você não pode viver desse jeito. (Coloca o jornal

22
com o envelope no banco e os empurra na direção de Max. Ele estende a mão e
toca no tio) Pegue essa passagem.
Max: (Olha para Fred) Eu preciso de duas.
Freddie: (Olha para Max) Eu não consigo duas.
Max: Claro que consegue.
Faz de conta que somos estranhos. Tendo uma conversinha no parque.
Perfeitamente normal. Faça algo inocente. (Fred não olha para Max. Ele lê)
Alimente os pombos.
Max: Não tem nenhum pombo.
(Fred desliza o envelope para Max através do banco. Troca de posição para olhar
Max)
Freddie: Aqui.
(Volta a ler. Max coloca o envelope dentro do seu casaco)
Max: Você parece bem, tio Freddie.
Freddie: Você parece mais velho.
Max: O que tem nisso?
Freddie: Seus documentos e uma passagem para Amsterdã. (Coloca o jornal no colo)
Max: Uma passagem?
Freddie: Sim.
Max: Merda.
(Fred está assustado e olha ao redor)
Freddie: Mantenha sua voz baixa. Lembre-se, somos estranhos. Apenas uma
conversa casual. Totalmente normal.
Max: Uma passagem. Eu falei para você no telefone...
Freddie: (Sério) Uma passagem. Isso é tudo.
Max: Não posso aceitá-la. Porra, eu mataria por isso. Aqui.
(Desliza o envelope de volta para Fred. Ele levanta e sai à esquerda) Mesmo assim,
obrigado.
Freddie: (Cobre o envelope com o jornal) Sente-se. Não foi fácil conseguir novos
documentos para você. Se a família descobrisse...

23
(Max senta no fim do banco à direita)
Tenho que ser cuidadoso. Eles aprovaram uma Lei, você sabe. Não somos mais
permitidos a ser bichas. Não podemos sequer nos beijar ou abraçar. Ou
fantasiar. Podem prender você por ter pensamentos bichas.
Freddie: (Afasta a mão e olha para a direita) Sim. Acho que ele é uma bicha. Você tem
que ser muito discreto agora. O que é isso? Você o ama?
Max: Quem?
Freddie: O bailarino.
Max: Jesus
Freddie: Você ama?
Max: Não seja idiota. O que é amor? Bobagem. Já sou adulto agora. Só me sinto
responsável.
Freddie: Bichas não dão conta desse tipo de responsabilidade.
(Max dá risada)
Por que você está rindo?
Max: Essa palavra. Bichas. Olha, você acha que é um feriado? (Termina o cigarro)
Estamos perambulando demais pelo campo; Nós acampamos em algum lugar
por aí e, então, de repente, eles estão checando documentos e temos que sair
correndo; Agora estamos morando fora de Colônia, numa floresta maldita! Num
agrupamento de barracas – você está pronto pra isso? Eu numa barraca! Com
centenas de pessoas chatas desempregadas. Pelo menos a maioria deles não
tem emprego; eles não estão fugindo da Gestapo. Não estou preparado pra isso,
tio Freddie. Fui criado pra ficar confortável. Como você. Certo. Tenho zombado
por aí por muito tempo. Você está certo. A família e eu devemos nos acertar.
Então. Que tal um acordo? Duas passagens para Amsterdã. E duas identidades
novas. Assim que chegarmos em Amsterdã, eu abandono ele. E eles podem me
ter de volta.
Freddie: Talvez eles não queiram você de volta. Isso faz dez anos.
Max: Eles me querem. É um bom negócio. Eu sou filho único. (Pausa) Lembra daquele
casamento que meu pai quis arranjar? O pai dela também tinha fábricas de

24
botão. Li sobre ela nos jornais; Ela é uma viúva elegível, morando em Bruxelas.
Faça os arranjos de novo. Eu me casarei com ela. Nossas fábricas de botão
podem dormir com as dela. É um bom negócio. Você sabe. E, de repente,
quando tudo isso estiver acabado, você pode me trazer de volta para a
Alemanha. Se eu quiser um rapaz, eu o alugarei. Como você. Serei um discreto,
quieto... Bicha. Justo o bastante? É o que meu pai sempre quis. Só consiga tirar
nós dois vivos daqui!
Freddie: Terei que pedir para o seu pai.
(Max vira o corpo para Fred. Profundo contato visual)
Max: Faça isso. Peça para ele.
Freddie: Não posso fazer coisas por mim mesmo. Não agora. (Indica o envelope no
banco) Apenas isso.
Max: Não posso aceitar isso.
(Fred pega o jornal e o envelope e os coloca sobre seu colo)
Freddie: Ele está olhando nessa direção. Ele deve ser da polícia. Não. É uma bicha.
Tem olhos de bicha.
(Max vira para B)
Ainda assim. Você não pode arriscar. Melhor você ir. (Coloca o envelope no
casaco) Apenas seja discreto. Perfeitamente normal. Eu pedirei para o seu pai.
Max: Logo?
Freddie: Sim. Posso ligar pra você? (Lendo)
Max: Na floresta?
Freddie: Me ligue. Na sexta-feira.
(Max levanta e vira à esquerda do banco. Vira de volta para Fred e encara B)
Max: Você parece muito bem, tio Freddie.
(Fred olha para Max e acena o chapéu. Volta à leitura. Max acena o chapéu para
ele. Pausa. E sai CA. Enquanto Max sai, Fred dobra o jornal. Parece confiante.
Sorriso pequeno. Sai de cena)
BLACKOUT
Fim da Cena 3

25
Cena 4
A floresta.
Em frente a uma barraca.
(Rude entra EA, atravessa para DB por CM, colocando sua mochila à direita da área da
fogueira. Cruza pela direita da CM, então atravessa por trás das árvores à
esquerda, pega madeira e leva para a área de fogo, joga sobre ela e acende. Senta.
Retira o queijo, a maçã e uma faca do bolso. Eles estão embrulhados em um
guardanapo. Abre ele sobre seu colo e assopra o fogo)
Rude: (Corta a primeira fatia de queijo e deixa na ponta da faca. Coloca a maçã no chão)
Queijo! Max!
(Max entra da barraca CEA, carregando uma mochila. Joga ela ao lado esquerdo
do fogo. Levanta de trás da fogueira com o pé esquerdo sobre a mochila. Rude
oferece o queijo na faca para ele)
(Rude come o queijo. Max dá um passo adiante da mochila e senta em cima dela,
na frente de Rude. Está de aquecendo)
Max: Onde você conseguiu o queijo? Roubou?
Rude: Eu não roubo. Eu cavei um buraco.
Max: Você o que?
Rude: (Come) Cavei um buraco. À direita, do lado de fora de Colônia. Estão
construindo uma estrada. Você pode se inscrever lá toda manhã, se chegar na
hora. Eles não conferem seus documentos. E também é um bom exercício, para
os ombros. Estou ficando com ótimos ombros. Mas... Dançar com os pés nunca
mais. Aqui. (Dá um pedaço de queijo) Coma!
Max: Não quero comida. (Come o queijo) Você não teria que cavar buracos. Quero
comida de verdade, pelo amor de Deus. (Pega o queijo) Olhe pra isso. É um
queijo nojento. Você não sabe nada sobre queijo. Olhe para todas essas
barracas. Não há ninguém com quem conversar em nenhuma delas. (Come o
queijo. Cospe ele e segura o pedaço na mão direita) Não tem gosto.
Rude: (Pega o pedaço de queijo e come) Eles não vão comer isso. Eu vou. Tenho maçãs
também. (Faz malabares com duas maçãs)

26
Max: Odeio maçãs.
Rude: Então passe fome. (Para com os malabares e continua) O que você fez hoje,
enquanto eu estava cavando?
Max: Nada.
Rude: Você não estava aqui quando eu voltei.
Max: Fui à cidade.
Rude: Se divertir?
(Dá uma olhada rápida ao redor. Max se inclina para Rude)
Max: Devo conseguir novos documentos para nós e passagens para Amsterdã.
Rude: Você disse isso em Hamburgo.
Max: Eu não fiz nada em Hamburgo.
Rude: Você disse isso em Stuttgard.
Max: Vai recitar a lista agora?
Rude: Por que não? Estou cansado dos seus planos. (Para com o malabarismo e come
um pedaço do queijo) Você tem razão. Esse queijo fede. (Joga o queijo no chão)
Não quero comer isso.
(Max pega o queijo e oferece para Rude)
Max: Você tem que comer.
Rude: Jogue fora. (Atira o queijo no chão)
Max: Vai ficar doente se não comer.
Rude: E daí?
Max: Tá bom. Fique doente.
Rude: Não. Não quero ficar doente. (Pega o queijo de volta e come) Se eu ficar doente,
você vai me deixar pra trás. Você está só esperando eu ficar doente.
Max: Ah – lá vamos nós.
Rude: Você adoraria se eu morresse.
Max: (Levanta) Rude! (Senta)
Rude: (Atravessa para o lado de cima de Max sobre a mochila A) Sabe o que eu fico me
perguntando?
Max: O que?

27
Rude: Se nós só tivéssemos nos entregado para a SS naquele dia e explicado tudo –
poderia ser pior do que isso?
Max: Talvez não.
Rude: Talvez não. (Troca de lado e senta sobre a mochila) Você quer dizer sim, muito
pior. Não diga talvez não. É o que você quer. Você quer que eu me mate.
(Descasca a maçã)
Max: Só quero que a gente fique fora daqui. Essas barracas horríveis. Não tem ar.
Estamos dentro, mas sem ar. Não posso respirar. Posso conseguir nos colocar
para fora da fronteira.
Rude: Por que simplesmente não atravessamos?
Max: O que você quer dizer?
Rude: Esse cara, no trabalho hoje, estava me contando que é fácil atravessá-la.
Max: Ah, simples, claro. Você apenas caminha e está do outro lado. Claro, eles atiram
em você.
Rude: Ele disse que sabia dos lugares.
Max: Lugares?
Rude: Lugares por onde atravessar. Eu falei pra ele conversar com você.
Max: Aqui?
Rude: Sim.
Max: (Passa para o lado acima de Rude e se inclina para ele) Falei pra você, nós não
queremos que ninguém saiba que estamos aqui, ou que estamos tentando
atravessar a fronteira. Você é tão burro assim?
Rude: Não sou burro.
Max: Ele poderia contar pra polícia.
Rude: Tá. Então eu sou burro. Por que não tentamos mesmo assim?
Max: Porque...
Rude: Por que?
Max: Um plano.
Rude: O que?
Max: (Senta sobre a mochila de novo) Estou trabalhando num plano.

28
Rude: Com quem?
Max: Não posso contar pra você.
Rude: Por que não?
Max: Isso estraga tudo. Se eu contar pra você antes disso acontecer. Então não
aconteceria. Sou supersticioso.
Rude: Desde quando você fala isso?
Max: Você vai saber...
Rude: O que?
Max: Que estou tentando.
Rude: Isso é loucura. Nós estamos no meio de uma selva...
Max: Floresta.
Rude: (Gritando) Floresta. Sou bailarino, não Robin Hood.
(Max indica para Rude abaixar a voz)
Caminhei longe com meus pés. Mas você não tem ideia. Fica trabalhando em
planos. Você trabalhava com planos em Berlim, você trabalha com planos na
selva.
Max: Floresta.
Rude: Selva. Eu quero ir embora daqui. Eu poderia. Encontrei um cara em Frankfurt.
Ele estava na cidade “trabalhando num negócio”. Era um cara velho e rico.
Poderia ter ficado com ele. Poderia ter ficado com ele para conseguir sair do
país. Lembro que ele me queria mesmo. Mas não, tive que me lembrar de você.
Não é justo pra você. Você está certo. Sou burro. (Joga comida no chão) Você
teria agarrado a primeira chance. Só fica rondando por aí, esperando que eu
morrer. (Puxa o casaco até as orelhas) Acho que você envenenou o queijo.
Max: É o seu queijo. Engasgue com isso. Por favor, engasgue com isso. Você não sabe
o quanto quero que você se engasgue com isso. Cristo! (Pega a faca, a maçã e o
queijo e guarda no bolso)
(Rude coloca a mão A sobre a perna de Max A puxando o casaco)
Rude: Me fale sobre o plano.
Max: Não.

29
Rude: Fala, vai.
Max: Não. Não, mesmo! Confie em mim. Apenas confie em mim.
Rude: Aonde você está indo? (Afasta pela direita)
(Max joga a faca no chão do palco e vai até DB, em frente às árvores, andando
acima de Rude)
Max: Tenho que sair daqui. Não consigo respirar. Vou dar uma volta.
Rude: (Levanta) Não pode. Não tem aonde andar. Apenas barracas e floresta.
Max: Estou com febre.
Rude: O que?
Max: Estou com febre! Queimando.
Rude: É um truque.
(Passa à esquerda de Max para sentir sua testa com a mão esquerda. Max afasta
com a mão direita)
Max: Já sei. Estou mentindo. Cai fora.
Rude: Deixe eu sentir. (Sente a testa dele) Você está com febre.
Max: É o queijo. Você me envenenou. Mas que inferno. (Anda até o final de A e senta
sobre a mochila) Vou morrer na selva.
Rude: Floresta.
(Os dois gargalham)
(Max chuta a mochila para Rude sentar)
(Ele senta)
(Silêncio)
Max: Lembra da cocaína?
Rude: Sim.
Max: Queria cocaína.
Rude: Sim.
Max: O que você queria?
Rude: Óculos novos.
Max: Como assim?
Rude: Meus olhos mudaram. Preciso de uma nova receita. Queria óculos novos.

30
Max: Em Amsterdã.
Rude: Com certeza.
Max: Em Amsterdã. Cocaína e óculos novos. Vai por mim.
(Rude começa a tocar Max e para)
Plantas. Você vai ter plantas. Incríveis plantas holandesas. E aulas de dança
holandesas. Seus pés voltarão. E não vai mais cavar buracos. Terá que desistir
dos seus ombros novos também.
(Rude senta)
Sabe o que mais? Podemos comprar um cachorro holandês.
(Eles riem)
Todo mundo teria um cachorro. Não sei porque não tivemos um em Berlim.
Vamos ter um em Amsterdã. Acredite em mim.
(Pausa)
Rude: Como está sua febre?
Max: Queimando.
(Rude encosta na testa de Max, deixando sua mão sobre ela)
Max: Não.
Rude: Desculpa, Max. (Faz carinho na cabeça dele)
Max: Não.
Rude: Eu amo você de verdade.
(Coloca a mão de Max na perna dele A)
Max: NÃO.
(Rude afasta)
Se eles nos verem... das outras barracas... eles estão sempre olhando...
poderiam nos expulsar... por nos tocarmos... temos que ter cuidado... temos que
ter cuidado...
Rude: Tá bom. (Começa a cantar – “Ruas de Berlim”)
Max: O que você está fazendo?

31
Rude: Cantando. Bom, estamos sentados em volta de uma fogueira. É quando as
pessoas cantam. Assim como... a Juventude de Hitler faz. Eles também cantam
suas velhas canções favoritas. Claro que eles também não permitem se tocarem.
Max: Não tenha tanta certeza.
Rude: Bem, é injusto se eles podem e nós não. (Canta)
Encontre-me um bar
nas ruas asfaltadas
Os dois: Onde os garotos são bonitos
(Max encosta na perna de Rude de leve. Rude segura a mão dele)
Eu não posso amar
por mais do que um dia
(Max tira o casaco e joga sobre as mãos deles. Riem)
MAS um dia é o bastante
nessa cidade.
Vozes: (Da escuridão) Lá! São eles!
(Max e Rude levantam. Cobrem o rosto com as mãos. Enquanto disfarçam o lugar,
Max senta na extremidade DB, Rude senta no chão, próximo dele)
(Uma luz forte ilumina os dois)
Outra voz: (Da escuridão) Maximilian Berber. Rudolf Hennings. Mãos ao alto. Vocês
estão presos.
BLACKOUT
Fim da Cena 4

32
Cena 5
(Um assobio de trem é ouvido)
(Som de um trem correndo sobre os trilhos da noite. De novo um assobio de trem)
(Um círculo de luz se aproxima)
(É um trem para transportar prisioneiros. Vemos um pequeno canto. Cinco
prisioneiros estão sob a luz – dois homens com roupas de civil, Rude e Max, um
homem nos seus vinte anos, vestindo um uniforme listrado, com um triângulo rosa
costurado nele)
(Um guarda caminha pelo círculo. Ele carrega um rifle)
(Silêncio)
(Horst está na beliche debaixo E, de cabeça para baixo B. Max senta ao final de B,
abaixo da beliche D. Rude senta à sua esquerda, no chão. Sua primeira fala é para
Max)
Rude: Aonde você acha que estão nos levando?
(Silêncio)
(Os outros prisioneiros desviam o olhar)
(O guarda anda pelo círculo de luz)
(Silêncio)
(Rude desliza até Horst)
Desculpa. (Para o prisioneiro próximo a ele) Vocês foram julgados?
(O prisioneiro não responde)
Max: Rude!
(Rude volta até Max)
(Silêncio)
(Rude e Max olham um para o outro. Ambos estão aterrorizados. Rude começa a
esticar sua mão, mas recua logo)
(Um grito é ouvido – fora, além do círculo. Rude e Max olham um para o outro e se
viram em seguida)
(Silêncio)

33
(O Oficial entra da CA e cruza até CB, à esquerda de Rude. Guarda 1 segue ele e
fica de pé à sua esquerda. Guarda 2 entra depois de duas batidas. Para no meio do
caminho abaixo do beliche. Descansa o seu pé direito sobre a cama debaixo, da
direita. Rude olha em direção ao oficial, depois para Max. A primeira fala do Oficial
é para o Guarda 1, que percebe o óculos de Rude)
Oficial: Óculos. (Silêncio)
(Fala para Rude)
Me dê seu óculos.
(Rude entrega seu óculos ao Oficial. Olhando de Max para o Oficial. Oficial
examina o óculos e mostra ao Guarda 1)
Óculos. Sinal de inteligência.
Rude: O quê?
Oficial: (Sorri) Fique de pé.
(Rude levanta. Está assustado. Oficial coloca o óculos em CB)
Pise nos seus óculos.
(Rude olha para Max e para o Oficial)
Pise neles.
(Rude tenta e pisa nele)
Levem ele.
(Oficial indica para o Guarda 1. Rude se segura firme no beliche. Guardas 1 e 2
agarram ele e o levam embora CA. Rude luta com ele)
Rude: Max!
(Rude olha para Max. O guarda puxa Rude para fora – do círculo. O Oficial sorri)
Oficial: Óculos.
(Chuta o óculos para Max. Sai por CA, olhando de relance para ele)
(Max fica rígido. Ouve-se um grito)
(Silêncio)
(Max levanta em torno do final do beliche. Rude grita novamente)
(O homem vestindo o triângulo rosa, Horst, aproxima de Max. Toca nele)
Horst: Não.

34
(Ele tira a mão de Max e olha direto para frente)
(O guarda anda pelo círculo de luz)
Não se mexa. Você não pode ajudá-lo.
(Rude grita. Max se vira para B)
(Silêncio)
Max: Isso não está acontecendo.
Horst: Está acontecendo.
(Max percebe Horst. Ele rasteja para CM, o lado oposto do beliche esquerdo)
Max: Para onde estão nos levando?
Horst: Dachau.
Max: Como você sabe?
Hors: Eu já fui transportado antes. Eles me levaram até Colônia, para um filme de
propaganda. O bem-estar do triângulo rosa. Agora é a volta para Dachau.
Max: Triângulo rosa? O que é isso?
Horst: Gay. Se você for gay, é o que você veste. Se você for um judeu, uma estrela
amarela. Político – um triângulo vermelho. Criminoso – verde. O rosa é o mais
baixo. (Olha para frente)
(O guarda anda pelo círculo de luz)
(Rude grita. Max olha para fora DA)
Max: (Max cobre a cabeça com as mãos) Isso não está acontecendo. Isso não pode
estar acontecendo. (Silêncio)
Horst: Me escute. (Cochicha no ouvido esquerdo de Max) Se sobreviver ao trem, você
tem uma chance. Aqui é onde eles arrebentam você. Você não pode fazer nada
pelo seu amigo. Nada –
(Rude grita. Max se lança contra a beirada do beliche direito)
Se tentar ajudá-lo, vão matar você. Se tentar cuidar dos machucados dele, vão
matar você. (Horst se inclina à beirada do beliche, na direção de Max) Mesmo se
você vir – o que fizeram com ele, escute – escute o que eles fazem com ele – eles
vão matar você. Se quer sobreviver, ele não pode existir.
(Rude grita. Max vai se contorcendo até o canto do beliche direito)

35
Max: Não está acontecendo.
(Rude grita)
Horst: Ele não tem chance. Ele usava óculos.
(Rude grita)
Se quer ficar vivo, ele não pode existir.
(Rude grita)
Está acontecendo.
(Horst deita, virando o rosto à esquerda da parede. Quando Rude grita, Max
levanta, fica confuso e senta novamente no canto do beliche direito)
Max: Não está acontecendo... Não está acontecendo...
(Guardas 1 e 2 arrastam Rude de CM. Atravessam de CM para EB. Guarda 1 está
do lado esquerdo de Rude. Guarda 2, ao lado direito do corpo. O Oficial segue para
ficar de frente para o Guarda 2)
Oficial: (Para Max) Quem é esse homem?
Max: Eu não sei. (Para de murmurar, olha para frente de cabeça erguida)
(Oficial olha para o Guarda 2, sorri e fala para Max)
Oficial: Seu amigo?
(Silêncio)
Max: Não.
(Rude geme)
Oficial: Olhe para ele.
(Max não olha. Está agitado)
Oficial: Olhe!
(Max olha para ele. O Oficial bate no peito de Rude, enquanto olha para Max. Ele
grita e Max olha distante para o chão)
Oficial: Seu amigo?
Max: Não.
(Continua a focar no chão e fecha os olhos. O oficial bate no peito de Rude. Ele
grita)
Oficial: Seu amigo?

36
Max: Não. (Continua olhando para frente)
Oficial: Bata nele.
(Max encara o Oficial perplexo)
Assim.
(Bate no peito de Rude. Ele grita. Max continua de cabeça erguida e fecha os olhos)
Oficial: Bata nele.
(Max não se mexe)
Seu amigo?
(Oficial passa por Max DB, encara Rude)
Seu amigo?
Max: Não.
(Levanta um pouco. Passa por Rude hesitante, enquanto olha para o Oficial. Fecha
os olhos, acerta o peito de Rude e corre de volta para se sentar ao canto do beliche
direito DB)
Oficial: Abra seus olhos.
(Max abre seus olhos)
De novo.
(Max aproxima devagar. Olha para o Oficial e, com os olhos abertos, bate rápido
no peito de Rude)
De novo!
(Max bate no peito Rude)
De novo!
(Max ataque o peito de Rude repetidamente, enquanto Guardas 1 e 2 ajeitam Rude
para ele)
Chega.
(Solta Max. Guardas 1 e 2 liberam Rude, que cai no chão, abaixo do beliche direito.
Max fica no canto do beliche debaixo direito B. Oficial dá passos para CB)
Oficial: Seu amigo?
Max: Não.
Oficial: (Sorri) Não.

37
(Guardas 1 e 2 saem CA. Há uma pausa e logo o Oficial também sai. Rude geme e
chama por Max. Max senta no canto do beliche debaixo direito B. Ele fecha os
olhos, segura na beirada da cama e respira fundo)
Max: Um. Dois. Três. Quatro. Cinco. (Respira fundo mais uma vez) Seis. Sete. Oito.
Nove. Dez.
(Rude chama o nome de Max. Max olha para frente)
(A luz ofusca sobre Max, quase no blackout – Então, repentinamente, os holofotes
expandem e incluem outros três prisioneiros. Um raio de luz solar pela)
(Rude está caído nos pés de Max)
(O guarda anda pelo círculo de luz)
(Silêncio)
(Junto às luzes, o Oficial entra CM acompanhado do Guarda 1. Cruza de CM para
EA. Guarda 1 se posiciona acima dele. Max continua no beliche, sem reconhecê-los)
Oficial: Levante-se.
(Max levanta)
(Olha para Max) Vamos ver. (Para o guarda) Leve-o daqui. (Guarda 1 pega Max e
sai com ele por CM. O Oficial vai até Rude e o chuta com a bota)
Morto.
(O oficial sai CA. Enquanto as luzes abaixam, os prisioneiros nos beliches do meio
rastejam para fora, soltam os trincos, girando as unidades. Horst se arrasta para
fora do beliche. Kapo move um barril por B, até o final esquerdo da parede. Todos
os prisioneiros levam bacias das camas e formam uma fila. Prisioneiro 1, no barril,
Prisioneiro 2, Horst, Prisioneiro 3, Max)
Fim da Cena 5

38
Cena 6
(Luz acende de um lado do palco. Um barril largo está no chão. Um prisioneiro
funcionário (kapo) fica de pé atrás do barril, com uma grande concha. Ele mistura a
sopa. O kapo veste um triângulo verde no seu uniforme. Os prisioneiros vêm, um a
um, com tigelas nas suas mãos, para serem alimentados. Todos usam uniformes de
prisioneiros)
(Prisioneiro 1 pega a sopa, segue para a esquerda até o final da parede à direita e senta,
olhando para a esquerda. Prisioneiro 2 pega a sopa, segue para a direita até o fim
da parede à esquerda, de frente para B. A vez de Horst. Consegue sua sopa no
barril)
Horst: Só sopa. Você misturou a parte de cima. Não tem nada nisso, só água. Sem
carne, vegetais... Nada.
Kapo: Pegue o que você tem.
Horst: (Segura a concha) Me dá um pouco de carne.
Kapo: (Empurra de volta) Sua bicha! Pegue o que você tem!
(Empurra Horst pra longe, que vai até DB. Quando Max passa pelo Prisioneiro 2, ele
senta. Horst senta no final da parede à direita. Max pega sua sopa. Ele é
subserviente do kapo. Max segue à esquerda no fim da parede direita e se inclina
contra a parede. Kapo retira o barril entre as paredes e sai CA. Max acena pra Horst
e vai se sentar perto dele, à esquerda)
(Blackout)
(A luz aumenta do outro lado do palco)
(Um cantinho apertado no fim das barracas. Horst se arrasta nele e se senta
amontoado com sua tigela. Ele bebe a sopa)
(Max entra se arrastando para perto de Horst. Ele carrega uma tigela e veste o
uniforme da prisão. Há uma estrela amarela nele)
Max: Oi.
(Horst olha para ele, mas não diz nada. Max ergue sua tigela, olha na de Horst. Dá
para ele alguns vegetais)
Aqui.

39
Horst: Me deixe sozinho.
Max: Eu consegui algo extra. Alguns vegetais. Tome aqui. (Derrama alguns vegetais da
sua tigela para a de Horst)
Horst: (Olha para sua própria tigela) Obrigado.
(Eles comem em silêncio)
(Levanta os olhos e fica observando o uniforme de Max)
Horst: (Não olha para Max) Uma estrela amarela?
Max: O que?
Horst: Você é judeu?
Max: Ah, sim.
Horst: Eu não tinha reparado nisso.
(Silêncio)
Sinto muito sobre seu amigo.
Max: Quem?
Horst: Seu amigo.
Max: Ah.
(Silêncio)
Horst: Não é muito sociável nessas barracas. (Ri) Não é?
Max: (Desliza para próximo de Horst e aponta para o triângulo) Como você conseguiu
rosa?
Horst: Eu assinei uma petição.
Max: E?
Horst: E foi isso.
Max: Que tipo de petição?
Horst: Por Magnus Hirschfield.
Max: Sim, eu me lembro dele em Berlim.
Horst: Berlim.
Max: Ele queria...
Horst: Legalizar os homossexuais.
Max: Certo. Eu me lembro.

40
Horst: Parecia com o que ele fazia também, por um tempo. Foi quase um movimento.
Então os nazistas vieram. Bem, eu era enfermeiro. Eles disseram que um gay
não poderia ser enfermeiro. Imaginavam que eu tinha que tocar no pênis do
paciente! Deus me livre. Disseram que seria melhor que eu fosse prisioneiro em
vez de enfermeiro. Uma ocupação mais adequada. Pois. Então. Foi assim que eu
consegui meu triângulo rosa. Como você conseguiu sua estrela amarela?
Max: Eu sou judeu.
Horst: Você não é judeu. Você é um homossexual.
(Max olha à direita e à esquerda quem teria escutado)
(Silêncio)
Max: Eu não queria uma.
Horst: O que você não queria?
Max: Um triângulo rosa. Não queria.
Horst: Não quis esse?
Max: Você me contou que era o mais baixo. Por isso não queria um.
Horst: E aí?
Max: Então... eu fiz um trato.
Horst: Um trato?
Max: Claro. Eu sou bom nisso.
Horst: Com a Gestapo?
Max: Claro.
Horst: Você está cheio de merda.
(Silêncio)
Max: Eu vou fazer um monte de tratos por aqui. Eles não podem nos manter aqui pra
sempre. Cedo ou tarde, vão nos soltar. Só estou sob custódia protetiva, é o que
me contaram. Eu vou ficar vivo.
Horst: Não duvido disso.
Max: Claro. Sou bom nisso.
Horst: Obrigado pelos vegetais. (Começa a se afastar pelo quadril)
Max: Aonde você está indo?

41
Horst: (Para de se mexer) Dormir. Nós levantamos às quatro da manhã. Estou no
detalhamento das pedras. Eu talho pedras. É divertido. Com licença...
(Horst começa a se afastar de novo. Max o para com sua mão direita. Ele senta o
quadril de volta)
Max: Não vá!
Horst: Estou cansado.
Max: Não tenho ninguém para conversar.
Horst: Converse com seus compatriotas.
Max: Eu não sou judeu.
Horst: Então por que você está usando isso?
Max: Você me disse que rosa era o mais baixo.
Horst: É… Mas só porque os outros prisioneiros nos odeiam tanto.
Max: (Oferece apontando para a tigela) Eu consegui carne na minha sopa. Você não.
Horst: Bom para você. (Afasta pela esquerda de Max)
Max: Não vá.
Horst: (Fica totalmente de joelhos) Olhe, amizades duram no máximo doze horas
nesse lugar. Nós tivemos a nossa no trem. Por que você não vai incomodar outra
pessoa?
Max: Você não achou que eu faria isso, achou? Fora do trem?
Horst: Eu não tinha certeza.
Max: Eu vou sobreviver.
Horst: Sim.
Max: Por causa de você. Você me contou como.
Horst: Sim. (Pausa) Eu falei. (Pausa) Sinto muito.
Max: Sobre o que?
Horst: Não sei. O seu amigo.
Max: Ah.
(Silêncio)
Ele não era meu amigo.
(Silêncio)

42
Horst: Você estaria usando um triângulo rosa.
Max: Fiz um trato.
Horst: Você não faz acordos aqui.
Max: Eu fiz. Eu fiz um acordo.
Horst: Claro. (Levanta e atravessa para o canto esquerdo da parede direita. Começa a se
afastar de novo)
Max: Eles disseram se eu... Eu poderia... Eles disseram...
Horst: (Dá um passo em direção a Max) O quê?
Max: Nada. Eu poderia provar... Não sei como...
Horst: O que? (Para e senta perto de Max)
Max: Nada. (Silêncio)
Horst: (Aproxima de Max e fica de joelhos) Tente.
(Silêncio)
Acho que você é melhor que isso.
(Silêncio)
Tente me dizer.
Max: Nada.
(Silêncio)
Horst: Certo. (Levanta para se afastar. Começa a se movimentar)
Max: Eu fiz…
(Puxa Horst para baixo. As próximas falas não estão relacionadas com Horst. Ele
acha isso extremamente difícil de falar)
Eles me levaram… Para aquela sala...
Horst: (Para) Onde?
Max: Dentro daquela sala.
Horst: No trem?
Max: No trem. E eles disseram… prove que você é... E eu fiz...
Horst: Prove que você é o quê?
Max: Não.
Horst: Não o quê?

43
Max: Gay.
Horst: Como?
Max: Ela.
Horst: Ela?
Max: Eles disseram, se você... e eu fiz...
Horst: Fez o que?
Max: Ela. Fiz…
Horst: Fez o quê?
Max: Amor.
Horst: Com quem?
Max: Ela.
Horst: Quem era ela?
Max: Só… Talvez... Talvez só treze anos... Talvez estivesse... Ela estava morta.
Horst: Ah.
Max: Só. Só morta, minutos… (Aponta uma arma na cabeça) Bala... Nela… Disseram…
Prove que você é... E eu provei… Prove que você é… Muitos deles, assistindo…
Rindo… Bebendo... Ele é bichinha, disseram, ele não pode... Mas eu fiz...
Horst: Como?
Max: Eu não… Eu não… sei. Eu queria…
Horst: Ficar vivo.
Max: E havia algo… (Segura sua cabeça com as mãos)
Horst: Algo…?
Max: Excitante... (Levanta a cabeça)
Horst: Meu Deus.
Max: Eu bati nele, você sabe. Eu a beijei. Lábios mortos. Eu o matei. Lábios doces. Um
anjo.
Horst: Deus.
Max: Anjo... Ela era... Como um anjo... Para salvar minha vida... Seios pequenos
apenas começando... Os seios dela... Apenas começando... Eles diziam ele não
pode… Ele é bichinha…. Mas eu fiz… E provei… Provei que eu não era...

44
(Silêncio)
E eles gostaram.
Horst: Sim.
Max: E eu disse, eu não sou gay. E eles riram. E eu disse, me dê uma estrela amarela. E
então me disseram claro, façam dele um judeu. Ele não é bichinha. E eles riram.
Estavam se divertindo. Mas... Eu… Consegui… Minha... Estrela... (Indica sua
estrela com o dedo)
Horst: (Gentilmente) Ah, sim.
Max: Consegui minha estrela.
Horst: Sim. (Encosta em Max)
Max: Não faça isso! (Empurra com a direita) Você não deve fazer isso. Para o seu
próprio bem. Não deve me tocar. Eu sou uma pessoa desprezível.
Horst: Não…
(Encosta em Max novamente. Max bate nele. Rasteja para a direita)
Max: Desprezível.
Horst: Não.
(Para e levanta. Sai entre as paredes, por CA. Há um silêncio. Max se inclina contra
a parede. Ele fecha seus olhos e respira fundo)
Max: Um. Dois. Três. Quatro. Cinco. (Respire fundo outra vez) Seis. Sete. Oito. Nove.
Dez.
BLACKOUT
FIM DO ATO 1

45
ATO 2
Cena 1
Um mês mais tarde.
Uma grande cerca se estende atravessando todo o palco. De um lado, na frente da cerca,
há uma pilha de pedras. Do outro lado – bem longe – um fosso profundo.
Max está no monte de pedras E.
Ele cruza a pilha de pedras E – pega uma delas.
Atravessa para a pilha do outro lado R com a pedra.
Cruza novamente para o monte de pedras E.
Quando passa por CM, um guarda e Horst entram por EA. O guarda anda para CE e
Horst segue do lado esquerdo. Guarda bate o seu pé, em posição.
Guarda: Aqui. Você vai trabalhar aqui.
(Max vai até a pilha esquerda)
Horst: Sim, senhor.
Guarda: Ele vai explicar.
Horst: Sim, senhor.
Guarda: Eu estou lá em cima. (Aponta para EA)
Horst: Sim, senhor.
(Max solta uma pedra e cruza para o lado direito)
Guarda: Eu vejo tudo.
Horst: Sim, senhor.
Guarda: Sem descanso aqui.
Horst: Não, senhor.
(Max começa a atravessar para a esquerda, mas consegue ir até EM apenas)
Guarda: Eu vejo tudo.
Horst: Sim, senhor.
Guarda: (Para Max) Você.
(Max para EM e presta atenção. Ele encara à direita e coloca a pedra do seu lado
direito. Guarda atravessa até Max DA e fala para a cabeça dele)
Max: (Coloca a pedra no chão) Sim, senhor.

46
Guarda: Diga a ele o que fazer.
Max: Sim, senhor.
Guarda: Sem descanso.
Max: Não, senhor.
Guarda: Eu vejo tudo.
Max: Sim, senhor.
Guarda: (Para Horst) Você.
(Atravessa até Horst EA e fala por cima dos ombros dele)
Horst: Sim, senhor.
Guarda: Há períodos para descanso.
Horst: Sim, senhor.
Guarda: Por três minutos.
Horst: Sim, senhor.
Guarda: Fiquem atentos.
Horst: Sim, senhor.
Guarda: Não se mexam.
Horst: Não, senhor.
Guarda: Descansem.
Horst: Sim, senhor.
Guarda: Três minutos.
Horst: Sim, senhor.
Guarda: Um sinal toca.
Horst: Sim, senhor.
Guarda: (Para Max) Você.
(Passa pela esquerda de Max)
Max: Sim, senhor.
Guarda: Explique o que fazer para ele.
Max: Sim, senhor.
Guarda: Nada de moleza.
Max: Não, senhor.

47
Guarda: (Para Horst. Vai até Horst EA) Você.
Horst: Sim, senhor.
Guarda: Quando o sino tocar.
Horst: Sim, senhor.
Guarda: Não se mova.
Horst: Não, senhor.
Guarda: Três minutos.
Horst: Sim, senhor.
Guarda: Ele vai explicar.
Horst: Sim, senhor.
Guarda: (Para Max. Atravessa até a direita de Max e ficam cara a cara) Você.
Max: Sim, senhor.
Guarda: Você é responsável.
Max: Sim, senhor.
Guarda: Eu estou lá em cima.
Max: Sim, senhor.
Guarda: (Para Horst. Vai até Horst EA) Você.
Horst: Sim, senhor.
Guarda: Eu vejo tudo.
Horst: Sim, senhor.
(O guarda sai EA)
Horst: (Olha à esquerda e relaxa quando o guarda some de vista) Nós tínhamos uma
criança assim na escola.
(Max cruza para a direita com a pedra)
Costumávamos nos organizar com Simon diz.1
Max: Tá. Eu vou explicar.
Horst: Tá.
Max: (Vai até a pilha esquerda) Ei – não podemos ficar aqui parados. Temos que mover
pedras.

1
“Simon Says” é uma brincadeira de crianças, em que um líder diz o que as outras devem fazer.

48
Horst: Sim, senhor. (Dá dois passos para a esquerda, em direção ao monte esquerdo)
Max: Está vendo aquelas...
Horst: Sim, senhor.
Max: Você carrega uma pedra de cada vez.
Horst: Sim, senhor.
Max: E leva para o outro outro lado. (Aponta à direita)
Horst: Sim, senhor.
Max: E, então, quando a pilha toda acabar lá (aponta à direita), você pega uma pedra
por vez, e traz de volta. (Aponta com os dois braços a pilha esquerda, pega uma
pedra e leva até o lado direito)
(Horst olha para Max. Silêncio)
Horst: Movemos de volta? (Aponta à esquerda)
Max: Sim. (Atravessa para a direita com uma pedra)
Horst: Nós movemos as pedras daqui para lá (aponta para a esquerda), e levamos de
volta daqui (aponta para a direita) para lá (aponta para a esquerda).
Max: Sim, senhor.
Horst: Por quê?
Max: Comece a se mexer. Ele está nos observando.
(Vê Horst pegar uma pedra. Atravessa para a pilha esquerda, e Horst, para a da
direita B de Max)
Horst: Tá.
(Max e Horst se encontram CM)
Max: Nós vamos ficar loucos.
Horst: Essas são pesadas! (Atravessa para a pilha da direita, solta a pedra; cruza à
esquerda)
Max: Você se acostuma.
Horst: O que você quer dizer, com ficar louco?
Max: Só isso. (Cruza à direita, B de Horst) Não faz sentido. Não serve a nenhum
propósito. Eu já percebi qual é a deles. Fazem isso para nos deixar louco.
(Horst atravessa à esquerda com uma pedra. Max cruza à esquerda)

49
Horst: Eles provavelmente sabem o que estão fazendo. (Indica a pilha da direita)
Max: Mas não funciona.
(Horst atravessa para o lado esquerdo)
Eu já percebi isso. (Pausa. Cruza para a direita) É o melhor trabalho no campo.
(Pausa. Cruza à esquerda, enquanto Horst vai à direita)
É por isso que coloquei você aqui.
(Eles se encontram CM)
Horst: O que? (Para DM)
Max: Não pare. Continue andando.
(Horst vai até a pilha da direita com a pedra)
Mais algumas coisas. Sabe a cerca?
(Cruza para direita A. Horst, para esquerda B)
Horst: Sim.
(Eles se encontram CM)
Max: É elétrica. Não toque nela. Você frita.
Horst: Não vou tocar nela.
Max: E logo ali – aquele fosso.
Horst: Onde?
Max: Ali. (Ajeita a pedra)
Horst: Ah, sim. (Cruza a pilha da direita com uma pedra)
Fede pra caramba. (Solta a pedra e ajoelha)
Max: São corpos.
Horst: No fosso.
Max: Sim. Às vezes, temos que atirá-los nele. (Cruza a pilha esquerda)
Horst: Ah. Bem, vai quebrar a rotina. (Levanta e atravessa rapidamente para a
esquerda, ficando logo atrás de Max) O que você quis dizer com “me colocou
aqui”?
Max: Não ande tão rápido. (Cruza para a direita com a pedra B)
Max: Você vai se cansar. Crie ritmo. Bom e devagar.
(Horst dá passos para a direita enquanto busca uma pedra)

50
Horst: Ok. Melhor assim? (Pela CM)
Max: Sim. (Cruza para a direita)
(Horst coloca a pedra na pilha, depois cruza para a esquerda, atrás de Max)
Horst: O que você quer dizer com “me trazer para cá”?
Max: Eu fiz um trato. (Pega uma pedra; cruza à direita)
Horst: Não quero ouvir.
(Silêncio)
Sim, eu quero. (Pega uma pedra e cruza rapidamente à direita para alcançar Max)
Que porra é essa? Você me colocou aqui? Que direito você tem…
Max: Cuidado. (Derruba a pedra na pilha)
Horst: O quê?
Max: Você vai deixar a pedra cair.
Horst: (Segura a pedra com apenas uma mão B) Não, não vou.
(Max solta a pedra na pilha)
Estou segurando, bem firme.
(Larga a pedra na pilha. Max cruza à esquerda)
Que direito você tem...
(Segue Max, logo atrás dele)
Max: Você estava nas pedras?
Horst: Sim.
Max: Era mais pesado do que isso?
Horst: Acho que sim.
Max: As pessoas ficam doentes?
Horst: Sim.
Max: Morrem?
Horst: Sim.
Max: Os guardas batem em você se não trabalhar duro o bastante?
Horst: Sim.
Max: (Orgulhosamente) Então? (Pega uma pedra)
Horst: Então? Então, o quê?

51
Max: (Cruza para a direita) Então era perigoso.
Horst: E isso não é?
Max: Não. Ninguém fica doente aqui.
(Cata a pedra DM; Horst apanha a pedra e atravessa até a pilha direita. Max, para
a da esquerda)
Olhe para todos aqueles caras movendo pedras pra lá. (Eles se encontram DM.
Aponta para E do público. Eles param – Max na EM, à DM de Horst)
Eles parecem mais saudáveis que a maioria. (Vai para a pilha esquerda) Ninguém
morre. Os guardas
(Horst vai até a pilha direita)
não batem em você, porque o trabalho não é essencial.
(Leva a pedra para o lado direito. Horst, para o esquerdo)
Tudo o que isso pode fazer é deixar você louco.
Horst: Isso é tudo?
Max: Sim.
Horst: Pois talvez o outro fosse melhor.
Max: Não, eu pensei nisso!
(Horst leva a pedra até o lado direito, Max arruma a pilha de pedras A)
Esse é o melhor trabalho no campo, se você mantiver sua cabeça, se tiver
alguém para conversar.
Horst: Ah! Estou vendo! Alguém pra conversar! Não acha que deveria ter me
perguntado?
Max: Perguntado o que pra você?
Horst: Se eu queria mover pedras, se queria conversar com você...
Max: Não tive chance. Eles mudaram você.
Horst: Graças a Deus.
Max: Suas barracas novas, todas têm triângulos rosas?
Horst: Sim. Estão prendendo mais bichas a cada dia; ficam despejando nos campos. E
as de você são todas estrelas amarelas agora?
Max: Sim.

52
Horst: Bom. Vocês todos podem ser religiosos. Havia um homem velho por aquelas
rochas. Um rabino. Muito simpático. Não é fácil ser simpático aqui. Mas ele era.
Eu pensei em você.
Max: Por quê?
Horst: Talvez, se você o conhecesse, poderia se orgulhar da sua estrela. Teria orgulho
de alguma coisa.
(Silêncio)
Max: Não fique olhando para mim. Desde que eles não nos vejam olhando um para o
outro, não podem dizer que estamos conversando.
(Silêncio)
Horst: De onde vieram os corpos?
Max: Que corpos?
Horst: Aqueles da vala.
Max: Da cerca. O truque do chapéu.
Horst: Ah. O que é isso?
Max: Às vezes, um guarda atira o chapéu de um prisioneiro na cerca. Ele manda pegar
o chapéu. Se ele não consegue, o guarda vai atirar nele. Se ele consegue, será
eletrocutado. (Cruza à esquerda)
Horst: Vou gostar mesmo dele aqui. Muito obrigado.
Max: Estou fazendo um grande favor pra você.
Horst: (Cruza à esquerda) Um favor! Você só quer alguém para conversar
(Max cata a pedra)
assim não vai ficar doido. E sou o único que sabe do seu segredo.
Max: Que segredo?
Horst: (Cata a pedra e atravessa para o lado direito, atrás de Max) Que você é um
triângulo rosa.
Max: Não. Agora eu sou judeu.
Horst: Você não é.
Max: Eles acreditam que eu sou.
Horst: Mas é uma mentira.

53
Max: É uma mentira geniosa.
Horst: Você é doido.
Max: Achei que você ficaria grato.
(Horst ultrapassa Max)
Horst: É por isso que você gosta desse trabalho. Não pode deixar você louco. Você já
pirou. (Passa pela pilha esquerda A)
Max: Eu gastei dinheiro trazendo você aqui.
Horst: Dinheiro?
Max: Sim. (Atravessa ao lado direito com a pedra) Eu subornei o guarda.
Horst: Onde você conseguiu dinheiro? (Cruza à direita com a pedra)
Max: Meu tio me mandou um pouco.
Horst: E você subornou o guarda?
Max: Sim.
Horst: Por mim?
Max: Sim. (Passa para o lado esquerdo)
Horst: Usou seu dinheiro? (Passa para o lado direito)
Max: Sim.
Horst: Provavelmente, você nunca mais terá dinheiro.
Max: Provavelmente não.
(Eles se batem)
Horst: Você é louco. (Carrega a pedra para a pilha direita)
Max: Eu achei que fosse ficar agradecido.
Horst: Deveria ter me perguntado primeiro.
Max: Como eu poderia ter perguntado? Estamos em barracas separadas. Acha que é
fácil subornar um guarda? (Leva a pedra à pilha esquerda A) É complicado. E
perigoso. Ele poderia ter ficado contra mim. Eu me arrisquei. Não arrisquei?
(Horst atravessa com a pedra para a pilha direita)
Eu me arrisquei. Pensei que me agradeceria.

54
Horst: Eu não estou grato. Eu gostava de cortar pedras. E gostava do velho rabino.
Isso é loucura. (Passa para o lado esquerdo) Doze horas disso por dia? Vou ficar
doido em uma semana. Igual a você. Jesus! (Carrega a pedra para o lado direito)
Max: Sinto muito por ter feito isso.
Horst: Você sente muito? (Anda até o lado esquerdo)
Max: Você não tinha ideia sobre esse campo, (chega à pilha direita com a pedra) é isso.
Não sabe o que é bom para você. Esse é o melhor trabalho no campo.
Horst: (Cata a pedra) Ficar carregando pedras de um lado para o outro sem razão
alguma. Perto de um fosso com cadáveres e uma cerca que pode queimar você
até virar pó. Ter o melhor trabalho?
(Vai para a esquerda. Max segue)
Max: Sim. Você não entende...
Horst: Eu não quero entender. Não quero mais falar com você.
(Pausa)
(Vai para a direita. Max o segue para a direita)
Max: Você tem que falar comigo.
Horst: Por quê?
(Vai para a esquerda. Max segue Horst para a esquerda)
(Pausa)
Max: Eu trouxe você aqui para conversar.
Horst: (Indo para a direita) Bem, que pena. Eu não quero conversar. Carregue suas
pedras e eu carregarei as minhas. Só não fale comigo.
(Eles carregam suas pedras)
(Um longo silêncio)
(Max atravessa para a direita, Horst para a esquerda. Max atravessa para a
esquerda, Horst para a direita)
Max: Achei que fosse ficar agradecido.
BLACKOUT
Fim da Cena 1

55
Cena 2
(O mesmo. Três dias depois)
(Max e Horst estão carregando pedras. Está muito calor. Suas camisetas estão
jogadas no chão)
(Um longo silêncio)
(Max leva a pedra para a esquerda, Horst, para a direita)
Horst: Está tão quente!
Max: É mesmo.
Horst: Está queimando.
Max: Sim.
(Max leva a pedra para a direita, Horst, para a esquerda)
(Silêncio)
Max: (Para DM) Você falou comigo. (Atravessa até a pilha direita)
Horst: Apenas sobre o tempo.
(Max leva a pedra para a esquerda, Horst, para a direita)
Max: Depois de três dias de silêncio.
Horst: Sobre o tempo.
(Eles se encontram DM. Max A, Horst B)
Todo mundo fala sobre o tempo.
(Silêncio)
(Max leva a pedra para a esquerda, Horst, para a direita. Passam por CM)
Tanto faz.
(Silêncio)
Max: (Para a pilha de pedras da direita) Você disse alguma coisa?
Horst: Não.
(Silêncio)
(Max leva a pedra para a esquerda, Horst, para a direita)
Horst: Tanto faz.
Max: Tanto faz?
Horst: (Fica de pé na pilha de pedras da direita) Tanto faz.

56
(Max atravessa para a pilha da direita)
Tanto faz, eu peço desculpas. (Fica de pé) Às vezes, nesse lugar, eu me comporto
como todo mundo – cruelmente vil. Desanimado, digo, desumano, me desculpa.
(Horst atravessa para a pilha da esquerda)
Você estava me fazendo um favor. Esse é um lugar bom pra ficar. E o favor não
vai funcionar se não conversarmos, né?
Max: (Na pilha à esquerda) Mexa-se!
Horst: O que?
Max: (Atravessa até a pilha direita) Converse enquanto você se mexe. Não pare.
(Horst leva a pedra para a esquerda A)
Eles podem nos ver.
Horst: (Começa a carregar a pedra novamente) É difícil conversar quando você está
indo numa direção e eu estou indo para outra. Deus, como está quente.
(Silêncio)
(Eles se encontram CM)
Horst: Alguém morreu ontem à noite.
Max: Onde?
Horst: Na minha barraca. Um muçulmano.
Max: Um árabe?
Horst: Não.
(Carrega a pedra para a esquerda, Max está esperando na pilha esquerda) Um
muçulmano. É como eles chamam uma pessoa morta que anda. Sabe, um
daqueles caras que não vão mais comer, falar, apenas vagam esperando pela
morte.
(Eles se encontram da pilha esquerda)
Max: Eu já vi um deles. (Cruza até a direita)
Horst: Então, um deles morreu mesmo.
(Cruza até a direita, atrás de Max)
Na minha barraca.
(Silêncio)

57
(Estão na direita. Horst, agachado B, e Max A)
Deus, como está quente.
(Silêncio)
Max: Vamos perder as Olimpíadas.
(Pega a pedra e dá dois passos para a esquerda de Horst)
Horst: O que?
(Fala pelo ombro de Max)
Max: Olimpíadas. No próximo mês, em Berlim.
Horst: Sabia que tinha um motivo para eu não querer estar aqui.
Max: (Começa à esquerda) Talvez eles nos soltem.
Horst: (Presume) Por causa das Olimpíadas?
(Eles cruzam à esquerda, Horst atrás de Max)
Max: Como um gesto de boa vontade. (Cruza à direita) É possível, você não acha?!
Horst: (Cruza à direita) Acho que está quente.
(Silêncio)
Max: (Cruza à esquerda) Ouvi um boato.
Horst: O que?
Max: Vamos ter sardinhas hoje à noite.
Horst: Não gosto de sardinhas.
Max: É apenas um boato. (Na pilha direita)
(Silêncio)
Horst: (À esquerda com a pedra) Meu Deus, como está quente.
(Silêncio)
Max: Claro que está. (Cruza à esquerda com a pedra)
(Silêncio)
(Eles passam por CM)
Horst: Claro que está o que?
(Silêncio)
(Max E, Horst D)
Max: Claro que está quente.

58
(Silêncio)
Horst: Vamos supor…
(Silêncio)
Max: O que?
(Silêncio)
(Horst começa por E e Max, por D)
Horst: Que depois de tudo isso...
(Silêncio)
Não temos mais nada para conversar.
(Toca o sinal – Horst solta sua pedra no chão E; Max também D)
Horst: Merda! Prefiro ficar movendo pedras do que ficar em pé debaixo desse sol.
(Pausa) Um período de descanso.
Max: É parte do plano deles.
Horst: Qual plano?
Max: Nos deixar loucos.
(Silêncio)
Eu fui horrível por colocar você aqui?
Horst: Não.
Max: Eu fui, não fui?
Horst: Não.
Max: Eu não tinha o direito...
Horst: Pare com isso. Pare de pensar no quanto você é horrível. Vamos, não fique
deprimido. Sorria.
(Silêncio)
Você não está sorrindo.
Max: Você não pode me ver.
Horst: Posso sentir você.
Max: Queria que a gente pudesse se olhar.
Horst: Eu posso sentir você.
Max: Eles odeiam se alguém fica olhando para outra pessoa.

59
Horst: Eu dei uma espiadinha.
Max: No que?
Horst: Em você.
Max: Quando?
Horst: Antes.
Max: É?
Horst: Algumas espiadas. Você fica sexy.
Max: Eu?
Horst: Sem sua camiseta.
Max: Não.
Horst: Tire essa camiseta. Você sabe que é sexy.
Max: Não.
Horst: Mentiroso.
Max: (Sorri) Claro que sou mentiroso.
Horst: Claro.
Max: Eu sempre fui sexy.
Horst: Uhul.
Max: Desde criança.
Horst: É?
Max: Aos doze anos. Já entrei em muita encrenca quando eu tinha...
Horst: Doze?
Max: Doze.
Horst: Seu corpo é bonito.
Max: Eu cuido dele. Faço exercícios.
Horst: O que?
Max: À noite, eu faço flexões e dobro os joelhos na barraca. Depois de chegar em casa
do trabalho.
Horst: Depois de doze horas carregando pedras?
Max: Claro. Já pensei nisso. Você tem que manter todo o seu corpo forte. Seja você
mesmo. É assim que você sobrevive aqui. Você deveria fazer isso.

60
Horst: Eu não gosto de me exercitar.
Max: Mas você é enfermeiro.
Horst: Para outras pessoas, não para mim mesmo.
Max: Você ainda tem que pensar em sobreviver.
Horst: Dormir. Eu penso em dormir. É como eu sobrevivo. Ou penso em nada.
(Silêncio)
Isso me assusta. Quando penso em nada.
(Silêncio)
Max: Seu corpo é legal também.
Horst: É normal. Não grande coisa.
Max: Não, é bonito.
Horst: Não tanto quanto o seu.
Max: Não. Mas tudo bem.
(Os dois riem)
Horst: Como você sabe?
Max: Eu olhei. Eu também dou umas espiadinhas.
Horst: Quando?
Max: O dia todo.
Horst: É?
Max: Sim.
(Silêncio)
Horst: Escuta, você…
Max: O que?
Horst: Sente falta…
Max: O que?
Horst: Você sabe.
Max: Não, não sei.
Horst: Todo mundo sente falta disso.
Max: Não.
Horst: Todo mundo no campo.

61
Max: Não.
Horst: Eles ficam loucos sentindo falta disso.
Max: Não.
Horst: Vamos. Ninguém pode nos ouvir. Você não é uma estrela amarela comigo,
lembra? Sente falta disso?
Max: Eu não quero…
Horst: O que?
Max: Sentir falta disso.
Horst: Mas você sente?
(Silêncio)
Max: Sim.
Horst: Eu também.
(Silêncio)
Nós não temos que sentir.
Max: O que?
Horst: Falta disso.
(Silêncio)
Estamos juntos aqui. Não temos que sentir falta disso.
Max: Não podemos nos olhar. Não podemos nos tocar.
Horst: Nós podemos sentir...
Max: Sentir o que?
Horst: Um ao outro. Sem olhar. Sem tocar. Posso sentir você agora mesmo. Perto de
mim. Você pode me sentir?
Max: Não.
Horst: Ninguém pode nos ouvir. Vamos. Não tenha medo. Consegue me sentir?
Max: Talvez.
Horst: Me sinta.
Max: Está tão quente.
Horst: Me sinta.
Max: Estou tocando você.

62
Max: Não.
Horst: Estou tocando você.
Max: Está queimando.
Horst: Estou beijando você.
Max: Queimando.
Horst: Beijando seus olhos.
Max: Sim.
Horst: Beijando seus lábios.
Max: Sim.
Horst: Boca.
Max: Sim.
Horst: Dentro da sua boca.
Max: Sim.
Horst: Pescoço.
Max: Sim.
Horst: Pescoço.
Max: Sim.
Horst: Desço...
Max: Sim.
Horst: Desço...
Max: Sim.
Horst: Peito. Minha língua…
Max: Queimando.
Horst: No seu peito.
Max: Na sua boca.
Horst: Estou beijando seu peito.
Max: Sim.
Horst: Forte.
Max: Sim.
Horst: Desço…

63
Max: Sim.
Horst: Desço…
Max: Sim!
Horst: Seu pau.
Max: Sim.
Horst: Você sente a minha boca?
Max: Sim. Você sente meu pau?
Horst: Sim. Você sente…
Max: Você sente…
Horst: Boca.
Max: Pau.
Horst: Pau.
Max: Boca.
Horst: Você sente meu pau?
Max: Você sente minha boca?
Horst: Sim.
Max: Você sabe o que estou fazendo?
Horst: Sim. Você consegue sentir o que eu estou fazendo?
Max: Sim.
Horst: O gosto.
Max: Sinto.
Horst: Juntos…
Max: Juntos…
Horst: Você me sente?
Max: Eu sinto você.
Horst: Eu vejo você.
Max: Eu sinto você.
Horst: Eu tenho você.
Max: Eu quero você.
Horst: Você me sente dentro de você?

64
Max: Quero você dentro de mim.
Horst: Sinta…
Max: Eu tenho você dentro de mim.
Horst: Dentro…
Max: Forte.
Horst: Você me sente penetrando...
Max: Segura.
Horst: Meter…
Max: Forte…
Horst: Ah…
Max: Forte…
Horst: Ah…
Max: Forte...
Horst: Eu vou ...
Max: Forte…
Horst: Você sente… Eu vou…
Max: Eu sinto sinto nós.
Horst: Você…?
Max: Ah, sim…
Horst: Você…?
Max: Sim. Sim.
Horst: Sente…
Max: Mais...
Horst: Ahh…
Max: Agora...
Horst: Sim...
Max: Agora! (Ofega) Ah! Ah! Meu Deus! (Tem orgasmo)
Horst: Ahh!... Agora! Ahh!... (Tem o orgasmo)
(Silêncio)
Horst: Ah!

65
(Silêncio)
Horst: Você gozou?
Max: Sim. Você?
Horst: Sim.
(Silêncio)
Max: Você é bom de cama.
Horst: Você também.
(Silêncio)
Max: Está bem melado.
(Silêncio)
Horst: Max?
Max: O que?
Horst: Nós fizemos isso. Não importa essa – porra desses guardas, porra de campo, a
gente fez isso.
Max: Não grite.
Horst: Tá. Mas estou gritando por dentro. Nós fizemos. Não vão nos matar. Nós
fizemos amor. Somos verdadeiros. Somos humanos. Nós fizemos amor. Não
vão nos matar.
(Silêncio)
Max: Eu nunca...
Horst: O que?
Max: Pensei que nós…
Horst: O que?
Max: Faríamos isso em três minutos.
(Eles riem. O sino toca. Pegam as pedras e continuam se movendo de um lado para
o outro)
BLACKOUT
Fim da Cena 2

66
Cena 3
(O mesmo. Dois meses depois)
(Horst EM e Max DM estão concentrados – Max B em relação a Horst)
Horst: Vou enlouquecer.
(Silêncio)
Vou enlouquecer.
(Silêncio)
Vou enlouquecer. Eu sonho com pedras. Eu fecho meus olhos e estou
carregando pedras. Elas nunca acabam. Nunca acabam.
(Silêncio)
Eu vou enlouquecer.
Max: Pense em outra coisa.
Horst: Eu não consigo pensar. Fico acordado durante a noite toda. Por isso estou
enlouquecendo.
Max: Acordado a noite toda?
Horst: Qual é, você não ouviu? Nossa barraca teve que ficar pra fora a noite toda.
Max: Não.
Horst: Sim. Ficamos alertas a noite toda. Punição.
Max: Por quê?
Horst: Alguém da nossa barraca se matou.
Max: O muçulmano?
Horst: Claro que não. Não significa nada se um muçulmano se mata, mas se uma
pessoa, que ainda é uma pessoa, comete suicídio, bem consideram como... é um
tipo de desafio, não é? Eles odeiam isso – é um ato de livre arbítrio.
Max: Sinto muito.
Horst: Claro. Estrela amarela sente muito.
(Silêncio)
Max: Ouvi um boato.
Horst: Qual?
Max: Sardinhas à noite.

67
Horst: Eu odeio sardinhas. Eu odeio toda comida. Restos. Restos de sardinha. É tudo o
que conseguimos. Nada que valha a pena comer. Não sabia que você comeria
restos de sardinha.
(Silêncio)
Eu vou enlouquecer.
Max: Tá bom. Tá. Você vai enlouquecer. Eu sinto muito. A culpa é minha.
Horst: O que você quer dizer com sua culpa?
Max: Por ter trazido você pra cá. Porque você faz com que me sinta tão culpado. E
tem razão. Esse é o pior trabalho. Eu achei errado. Sinto muito.
Horst: Estou feliz de estar aqui.
Max: Ah, claro.
Horst: Estou mesmo.
Max: Como você pode estar?
Horst: Esse é o meu segredo. (Duas batidas)
(Pausa. O sino toca. Max começa a carregar pedras. Horst permanece parado. Max solta
a pedra. Horst em A)
Horst: Talvez se eu fechasse meus olhos...
(Max empurra Horst para a direita)
Max: Ouvi um boato.
Horst: Qual? (Começa a carregar pedras)
Max: Nós vamos ter batatas.
Horst: Quando?
Max: Amanhã.
Horst: Não acredito nisso.
Max: Eles falaram isso na minha barraca. (Cruza à esquerda)
Horst: Quem são eles? (Cruza à esquerda)
Max: Alguns caras.
Horst: Eles são bonitos?
(Mas vira para Horst D)
Max: Cai fora.

68
(Horst ri. Max cruza à esquerda e continua, Horst continua à esquerda)
Horst: Você devia estar conosco,
(Max atravessa com a pedra D)
onde você pertence.
Max: Não.
(Horst atravessa com a pedra D)
Mas você não deveria estar aqui.
Horst: Eu quero ficar aqui.
Max: Por que você quer ficar aqui – ficou maluco? (Cruza à esquerda)
Horst: Claro que estou maluco. (Cruza à esquerda) Estou tentando dizer pra você que
sou maluco. E eu quero ficar aqui.
Max: Por quê? (Atravessa com a pedra D)
Horst: Porque. Porque eu amo pedras.
(Max atravessa E, enquanto Horst cruza D com a pedra. Pausa. Encontram-se em CM)
Porque eu amo você.
(Silêncio)
Amo mesmo. Eu te amo.
(Cruza EA, Max cruza DB)
Quando não estou sonhando com pedras, estou sonhando com você. Tenho
sonhado com você, pelas últimas seis semanas. (Atravessa duas vezes) Isso me
ajuda a ficar de pé. Me ajuda a ter certeza de que minha cama está
perfeitamente arrumada e não vou ser punido. Me ajuda a comer a comida
fedorento.
(Max arruma as pedras)
Isso me ajuda a lidar com as brigas constantes na barraca. Sabendo que vou ver
você. (Horst atravessa com a pedra D)
Pelo menos, no cantinho dos meus olhos. Passando. É uma razão para viver.
Então, estou feliz de estar aqui.
(Max está atrás da pilha DA)
Horst: O que você está fazendo?

69
Max: Organizando essas direitinho. Nós ficamos desleixados. Eles podem bater em
você por causa disso.
(Silêncio. Horst atravessa EB)
(Max atravessa EA)
(Max segura Horst pelo ombro E)
Não me ame. (Atravessa até a pilha E)
Horst: (Atravessa até a pilha E) Isso me faz feliz. Não aborrece ninguém. É meu
segredo.
Max: Não quero que ninguém me ame.
Horst: É meu segredo. E eu tenho um sinal.
(Max atravessa E, e Horst cruza D com a pedra)
Ninguém sabe disso.
(Eles se encontram em CM)
Quando eu esfrego minha sobrancelha esquerda para você, assim... (Coça sua
sobrancelha esquerda) isso significa que eu amo você. Mas você não sabia disso.
(Horst atravessa E, e Max cruza D com a pedra da pilha EB)
Eu posso fazer isso até mesmo na frente dos guardas. (Horst cruza D com a
pedra) Ninguém sabe. É o meu segredo. (Começa a tossir) Está frio. Era melhor
quando estava quente. Não gosto do frio.
Max: Não me ame.
(Horst atravessa E)
Horst: Não ajudar nisso.
Max: Eu não quero que ninguém me ame.
Horst: Muito ruim.
Max: Eu não posso amar ninguém de volta.
(Pausa)
Horst: Quem está pedindo pra você amar?
Max: Gays não são feitos para amar. Eu sei. Eu achei que amava alguém, uma vez. Ele
trabalhou na fábrica do meu pai. Meu pai pagou para ele ir embora. Ele foi. Gays
não são feitos para amar.

70
(Max atravessa E; Horst atravessa E, segue Max)
Eles não querem que a gente ame.
(Max vira para Horst D e pega a pedra)
Você sabe quem me amou? Aquele bailarino. Não me lembro mais do nome
dele. Mas eu o matei. Olhe – gays não foram feitos para amar. (Max cruza D com
a pedra) (Horst cruza D com a pedra)
(Max vira para Horst)
Eu vou matar você. Me odeie. Assim é melhor. Me odeie. Não me ame.
(Max cruza E, Horst larga a pedra)
Horst: Eu vou fazer o que eu quiser.
(Horst cruza E, Max cruza D com a pedra)
De qualquer jeito, você não tem nada a ver com isso. Sinto muito por ter
contado pra você.
(Max chuta a pedra)
Max: Me desculpe, eu trouxe você pra cá.
(Horst cruza D com a pedra)
(Silêncio)
(Horst tosse)
(Horst cruza E, Max cruza D)
Max: Por que você está tossindo?
Horst: Porque eu gosto.
Max: Você está ficando resfriado?
Horst: Provavelmente. Em pé a noite inteira. No vento.
(Max cruza E, Horst cruza D com a pedra)
Max: O inverno está chegando.
Horst: Eu sei.
(Silêncio)
Eu só quero fechar meus olhos...
(Max cruza D com a pedra)
Max: (Grita alto) Ouvi um boato.

71
Horst: (Atravessa E) Eu não me importo.
(Max cruza E, fica ¾ atrás antes de Horst soltar a pedra)
Max: Não quer ouvir isso?
(Horst segura a pedra e atravessa dois passos na direção DM)
Horst: Engula seus boatos. (Tosse, larga a pedra e cai no chão de joelhos)
Max: Horst!
Horst: Merda.
(Max vai até ele D)
Não se mexa! Ele está observando. O guarda. Não me ajude. Se você me ajudar,
vão matar você. Volte para sua pedra. Está me ouvindo, volte!
(Max volta, pega sua pedra, mas continua olhando para Horst; Ele está tossindo –
olha para Max)
Mexa-se!
(Max atravessa até a pilha e cata uma pedra D)
(Max cruza até a outra pilha E)
Certo. Estou bem. Vou me levantar.
(Max atravessa D)
Vou me levantar. Não tente me ajudar. (Levanta) Estou em pé. Está tudo bem.
(Pega sua pedra, Max cruza E)
Essas sanguinárias ficam mais e mais pesadas. (Cruza E). O guarda estava
observando. (Max segue Horst à esquerda)
Ele mataria você se me ajudasse.
(Pega a pedra e vira à direita para confrontar Max cara a cara)
Nunca percebem. Nunca veem. (Continua D) Lembra? Eu amo você. Mas eu não
vou ajudar você, se cair. Nem ouse me ajudar. Você nem me ama mesmo, então
por que você iria me ajudar?
(Cruza E, e Max cruza D com a pedra)
(Cruza D com a pedra, e Max cruza E)
Nós salvamos a nós mesmos. Você entende? Entende?
Max: Sim. Entendo.

72
Horst: (Atravessa de E para CM) Me prometa. Vamos. Me prometa. Salvamos a nós
mesmos.
Max: Tá. (Cruza de D para CM)
Horst: Me prometa!
(Eles ficam cara a cara)
Max: SIM!
(Horst cruza E, e Max olha para ele)
Horst: (Cruza D com a pedra) Você é um idiota. Eu não amo mais você. (Atravessa E)
(Max cruza D com a pedra e continua)
Foi apenas um sentimento passageiro. Eu me amo.
(Horst cruza D com a pedra, Max cruza E)
Coitado de você, não ama ninguém.
(Silêncio)
(Tosse)
(Cruza E, Max cruza D com a pedra)
Está ficando frio. O inverno está chegando.
(Eles andam, movendo as pedras, em silêncio)
BLACKOUT
Fim da Cena 3

73
Cena 4
(O mesmo. Dois meses depois)
(Horst atravessa até as pedras D)
(Max está na outra pilha E)
(Horst cruza até o monte de pedras D e tosse)
Max: (Atravessa até as pedras D) Você tem um líder na sua barraca.
(Horst continua tossindo)
Ele pode conseguir remédios pra você.
(Horst atravessa até as pedras E, cai CM, a tosse continua)
Você tem que pedir para ele.
(A tosse continua)
Você tem que conseguir ajuda. (Max cruza DM)
(A tosse continua)
Você tem que parar de tossir – que droga! (Atravessa até a pilha de pedras D)
(A crise de tosse diminui lentamente)
Horst: Não importa.
Max: Se você for legal com o kapo...
Horst: Não importa.
Max: Algum tipo de remédio.
Horst: Para que? A tosse? E as minhas mãos?
Max: Eu já falei o que você deve fazer. Exercícios.
Horst: Elas estão congeladas.
Max: (Leva a pedra até o monte E) Então faça exercícios.
Horst: Não importa.
Max: Toda noite, (atravessa D) eu mexo os meus dedos para cima e para baixo, um de
cada vez, durante meia hora por dia. Eu não faço mais flexões. Só mexo os
dedos.
Horst: (Toma coragem e cruza E) Não importa. (Carrega a pedra até E)
Max: Você está perdendo peso. (Cruza D)
Horst: Eu não gosto de sardinhas.

74
(Max cruza D)
(Horst tosse sobre a pilha E)
Max: (Leva a pedra até o monte E) Está ficando pior.
Horst: Está esfriando.
Max: (Cruza E) Você precisa de remédios.
Horst: (Cruza D) Pare de me encher.
Max: Veja o seu kapo.
Horst: Ele não liga.
(Max cruza D de frente para Horst)
Max: Peça para ele.
Horst: Ele quer dinheiro.
(Max para DM. Ele sabe como conseguir dinheiro)
Max: Você tem certeza? (Max cruza para a pilha D)
Horst: Não importa.
(Max atravessa à pilha D para ver a cara de Horst)
Max: Eu pensei que você se importava com você mesmo.
Horst: Você não sabe de nada. (Atravessa E com a pedra)
Max: Eu pensei que você se amasse.
Horst: Está frio demais.
Max: Quer saber? Você está virando um muçulmano. (Cruza E) Estou com medo.
Horst: Quem não está.
(Max cruza DA, Horst cruza EB e continua)
Max: Estou com medo por você.
Horst: Fique com medo por você mesmo.
Max: Por que você não me escuta?
Horst: Muçulmanos não escutam.
(Cruza D, Max cruza E com a pedra)
Max: Você não é um muçulmano.
Horst: Você disse que eu era.
Max: Não quis dizer isso. Você não é um muçulmano.

75
Horst: Você não é um judeu.
Max: Você não pode esquecer isso?
(Os dois atravessam por CM)
Horst: Se eu me esquecer disso... Então... Eu sou um muçulmano.
(O sino toca. Horst solta a pedra. Eles ficam de pé, em posição de atenção)
Olhe, eu só estou com frio. Meus dedos estão dormentes. Não posso parar de
tossir. Eu odeio a comida. É tudo isso. Nada especial. Não fique chateado.
Max: Quero que você se cuide.
Horst: Eu faria isso se estivesse quente.
Max: Vou aquecer você.
Horst: Você não pode.
Max: Eu sei como.
Horst: Não. Não sabe.
Max: Eu sei. Sou muito bom nisso. Você me disse.
Horst: Quando?
Max: Estou pertinho de você.
Horst: Não comece.
Max: Vou fazer amor com você.
Horst: Agora não.
Max: Sim. Agora.
Horst: Estou com dor de cabeça. Não posso.
Max: Sem gracinha.
Max: Vou fazer amor com você.
Horst: Não.
Max: Eu vou aquecer você.
(Pausa)
Horst: Você não pode.
Max: Você vai sentir o calor...
Horst: Não consigo.
Max: Vai sentir isso.

76
(Pausa)
Horst: Nos meus dedos?
Max: Em toda parte.
Horst: Não consigo.
Max: Estou beijando seus dedos.
Horst: Eles estão dormentes.
Max: Minha boca está quente.
Horst: Eles estão gelados.
Max: Minha boca está em chamas.
Horst: Meus dedos…
Max: Estão se aquecendo.
Horst: Estão?
Max: Estão ficando quentes.
Horst: Não dá pra dizer.
Max: Estão ficando quentes.
Horst: Um pouquinho.
Max: Estão ficando quentes.
Horst: Sim.
Max: Minha boca está em chamas. Seus dedos estão em chamas. Seu corpo está em
chamas.
Horst: Sim.
Max: Minha boca está em você todo.
Horst: Sim.
Max: Minha boca está no seu peito...
Horst: Sim.
Max: Beijando seu peito.
Horst: Sim.
Max: Mordendo seu mamilo.
Horst: Sim.
Max: Mordendo... mais.

77
Horst: Sim.
Max: Mais forte… mais forte... mais forte...
Horst: Pare! Isso machuca!
Max: Mais forte…
Horst: Não, pare com isso. Estou falando sério. Você está me machucando.
(Uma pausa. Max segura o fôlego)
Max: Você se afastou.
Horst: Droga.
Max: Estava excitante.
Horst: Talvez para você. Eu não tento machucar você.
Max: Eu gosto de ser machucado. É excitante.
Horst: Não é. Não quando você é bruto.
Max: Não estou sendo bruto.
Horst: Está, sim. Às vezes você é.
Max: Tá. E daí? É excitante.
Horst: Por que você tem que estragar isso? Estava me aquecendo. Por que não pode
ser gentil?
Max: Eu sou.
Horst: Não é. Você tenta me machucar. Você me aquece, e então me machuca? Eu já
me machuco o suficiente. Não quero sentir mais dor. Por que você não pode ser
gentil?
Max: Eu sou.
Horst: Não, você não é. Você é como eles. É como a Gestapo. É como os guardas.
Você parou de ser gentil. Eu vi isso, quando estávamos do lado de fora. As
pessoas causavam dor e chamavam isso de amor. Eu não quero ser assim. Você
não faz amor para machucar.
Max: Eu queria aquecer você. Era tudo o que eu queria. Não consigo fazer nada certo.
Não entendo você. Estava acostumado a fazer as coisas certas.
Horst: Você ainda pode.
Max: As pessoas gostavam quando eu era bruto. Não todas. Ele não gostava.

78
Horst: Quem?
Max: O bailarino. Mas todos os outros gostavam. Só um pouco rude.
Horst: Você gostava disso?
Max: Eu não me lembro. Nunca conseguia me lembrar. Estava sempre bêbado.
Sempre havia cocaína. Nada parecia importar esse tanto.
Horst: Algumas coisas realmente importam.
Max: Não para você.
Horst: Eles se importam.
Max: Eu não entendo você. Durante o dia todo você ficou me dizendo que nada
importa... Sua tosse, seus dedos...
Horst: Eles importam.
Max: Eu não entendo mais nada.
Horst: Eles importam. Eu não sou muçulmano. Você não é judeu. Meus dedos estão
gelados.
Max: Eu quero que você seja feliz.
Horst: É verdade?
Max: Acho que sim. Não sei.
(Pausa)
Sim.
Horst: Então seja gentil comigo.
Max: Não sei como.
Horst: Apenas me abrace.
Max: Tenho medo de abraçar você.
Horst: Não tenha.
Max: Estou com medo.
Horst: Não fique.
Max: Eu vou me sufocar.
Horst: Me abrace. Por favor. Me abrace.
Max: Tá. Estou abraçando você.
Horst: Está?

79
Max: Sim. Você está nos meus braços.
Horst: Estou?
Max: Você está aqui, nos meus braços. Eu prometo. Estou abraçando você. Você está
aqui...
Horst: Me toque.
Max: Não.
Horst: Gentilmente…
Max: Aqui.
Horst: Você está?
Max: Sim. Tocando. Suavemente… Estou te tocando bem de leve... Bem gentil... Você
está seguro. Vou manter você a salvo... E quente… Você está comigo agora…
Nunca mais vai sentir frio de novo. Estou abraçando você agora... Seguro... E
quente... Enquanto você estiver aqui, enquanto estiver comigo, enquanto
estiver abraçando você, você está seguro...
BLACKOUT
Fim da Cena 4

80
Cena 5
(O mesmo. Três dias depois)
(Max está carregando pedras. Horst está rearrumando a pilha de pedras em outra ordem)
Horst: O ar está fresco hoje. Limpo.
(Max entrega a Horst uma seringa e uma agulha, enquanto passa pela pilha de
pedras)
(Horst começa a tossir – continua tossindo – e para)
Max: Parece melhor.
Horst: Parece.
Max: Está expectorando.
Horst: É.
Max: O remédio está ajudando.
Horst: Sim. (Silêncio) Obrigado. (Silêncio) Por que não me conta?
Max: Contar o quê?
Horst: Como conseguiu o remédio.
Max: Eu contei. Falei com um dos líderes da minha barraca. Ele me levou a um oficial.
Horst: Qual deles?
Max: Um capitão. O novo.
Horst: Ele é podre.
Max: Você conhece ele?
Horst: Já ouvi sobre ele. Você deu dinheiro para ele?
Max: Sim.
Horst: Mentiroso.
Max: Por que você nem acredita em mim?
Horst: Você não tem dinheiro.
Max: Por que você nunca acredita em mim?
Horst: Porque eu sei quando você está mentindo. Você acha que é tão bom nisso. Mas
não é. Sua voz muda.
Max: Ela o que?
Horst: Muda. Soa diferente.

81
Max: Besteira.
(Atravessa D com a pedra. Horst cruza até a pilha E para pegar a pedra)
(Silêncio)
Max: Ei . . .
(Horst atravessa atrás de Max)
Max: Adivinha quem eu vi?
Horst: Onde?
(Max e Horst atravessam D)
Max: Na minha barraca.
Horst: Marlene Dietrich.
Max: Não. O proprietário do meu apartamento. Em Berlim. Rosen.
(Atravessa E)
Horst: Ah. (Segue E)
Max: Bom homem.
Horst: Achei que você odiasse ele.
Max: Claro, me acostumei a achar que ele era o que eu estava acostumado a pensar
que era.
Horst: Como assim?
Max: Um judeu nojento. (Cruza até D com a pedra)
Horst: Ele provavelmente (segue até D com a pedra) pensava que você fosse um gay
nojento.
Max: Provavelmente.
Horst: Agora ele acha que você não é um gay. Deve estar muito confuso. Que
vergonha.
Max: (Cruza E, A de Horst) Não é vergonha. Não comece.
(Horst segue E)
(Horst tosse)
Você está tomando o remédio?
Horst: (A tosse diminui) Claro que estou.
(Cruza até D com a pedra)

82
(Silêncio)
Claro que eu estou, Max.
(Max para no meio do caminho DM)
Fico feliz que você conseguiu o remédio.
Max: Eu também.
(Max atravessa DM com a pedra)
(Silêncio)
Horst: Mas eu queria saber como.
Max: Eu já falei pra você.
Horst: Você é um mentiroso.
(Atravessa D com a pedra)
(Silêncio)
Max: (Cruza E) Você nunca vai deixar isso pra lá, vai?
Horst: Provavelmente não.
Max: Acho que você não vai gostar da resposta.
(Horst cruza E)
Horst: Arrisque.
(Max pega a pedra – olha para Horst)

Max: Eu chupei ele.


(Atravessa D com a pedra)
Horst: O que?
Max: Você me ouviu.
Horst: Não, não ouvi.
Max: Eu disse que você não iria gostar.
Horst: Aquele capitão da SS?
Max: Uhum.
Horst: (Atravessa D com a pedra) Você chupou ele?
Max: Eu tive. Não tinha nenhum dinheiro.
Horst: (Horst segue E) Você tocou nele?

83
Max: Não, só chupei. Era o que ele queria. E eu precisava do remédio.
(Atravessa D com a pedra)
Horst: (Atravessa E) Eu preferia tossir.
Max: Não, você não preferia.
Horst: Aquele bastardo?
(Atravessa D com a pedra)
Max: Sim.
Horst: Ele é gay?
(Max cruza E)
Max: Quem sabe? Talvez estivesse só com tesão.
(Horst cruza E)
Claro, ele poderia ser gay. Você não gosta de pensar nisso, né? Você não quer
que eles sejam gays.
Horst: Não, não quero.
(Silêncio)
(Atravessa D com a pedra)
Eles são gays nazistas. Mas que porra. E santos gays. E futilidades gays.
Apenas pessoas. É por isso que eu assinei a petição do Hirschfield. É por isso
que eu acabei aqui. É por isso que eu estou usando esse triângulo.
(Horst cruza EB, Max cruza DA)
É por isso que você deveria estar usando isso.
Max: Você acha que aquele filho da puta da SS deixaria um gay chupar ele?
(Horst cruza D com a pedra )
Claro que não. Ele me mataria se soubesse que eu era gay.
(Horst cruza E, Max cruza D)
Minha estrela amarela conseguiu o seu remédio.
Horst: Quem precisa dele?
Max: Então me devolva.
(Horst cruza D)
Jogue fora. Por que você não joga?

84
(Horst cruza E)
E morra. (Cruza D) E vai morrer. Dá tempo. A tosse vai começar...
(Horst cruza D)
Estou cansado de você me dizer que eu deveria usar um triângulo rosa.
Horst: (Cruza E) Ele lembra de você?
Max: Quem?
Horst: Rosen?
Max: Sim, ele disse que eu devia o aluguel.
Horst: Como está Berlim? Ele falou?
Max: Pior.
(Max segue para E, Horst, para D)
Horst: Sinto falta da cidade.
Max: Sim. (Pausa)
Max: Já foi ao clube da Greta?
Horst: Não.
Max: Bom. Você teria gostado. E ao White Mouse?
(Horst cruza E, Max cruza D com a pedra)
Horst: Ás vezes.
Max: Nunca vi você lá. Você já me viu?
Horst: O que você estava vestindo?
Max: As coisas da moda.
(Max cruza E, Horst cruza D com a pedra)
Eu era conhecido.
Horst: Por quê?
Max: Porque eu estava sempre fazendo papel de besta. Você tomava banho de sol?
(Max cruza D, Horst cruza E)
Horst: Eu adorava tomar banho de sol.
Max: No rio.
Horst: Claro.
(Max – na pilha EA)

85
Max: E você nunca me viu?
Horst: (Cruza D) Bem, na verdade, já. Vi você no rio. Estava fazendo papel de besta. E
eu disse, algum dia, (Cruza pela pilha DA) estarei em Dachau com aquele
homem, carregando pedras.
(Max cruza E)
Max: Eu não gostava de Berlim. Mas eu gosto agora.
(Max cruza D com a pedra, Horst cruza E)
Sinto falta dela.
Horst: (Termina de endireitar as pedras e continua a carregar pedras) Nós ainda vamos
voltar algum dia.
Max: Quando a gente sair daqui?
Horst: Sim.
Max: Nós vamos, não vamos?
(Os dois batem os ombros acidentalmente – Max sai B)
Horst: A gente precisa, né?
Max: Sim. (Pausa)
(Max cruza D com a pedra, Horst cruza E)
Horst?
Horst: O quê?
(Max para DM, Horst para EM)
Max: Nós podemos voltar juntos.
(Horst B em relação a Max – esfregam os ombros de propósito CM)
(Max cruza até a pilha D, Horst cruza até a outra E)
(Max cruza E, Horst cruza D com a pedra. Capitão e guarda entram por CA – Guarda E do
Capitão)
(Max cruza D com a pedra, Horst cruza E)
(Max cruza E, Horst cruza D com a pedra)
(Max cruza com a pedra D, Horst cruza E)
Capitão: (Para Max) Você. Judeu.
Max: (Fica parado) Sim, senhor?

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Capitão: Está se sentindo melhor?
Max: Senhor?
(Horst cruza E)
Capitão: Seu resfriado?
Max: Sim, senhor.
Capitão: Formidável.
(Horst cruza D com a pedra)
Max: Sim, senhor.
Capitão: Você parece bem forte.
Max: Sim, senhor.
(Horst cruza E)
Capitão: Doente de maneira alguma.
Max: Não, senhor.
Capitão: Não?
(Horst cruza D com a pedra)
Max: Agora não, senhor.
Capitão: Continue.
(Max cruza D com a pedra, Horst cruza E, Capitão cruza CM)
(Max cruza E, Horst cruza DMA com a pedra)
(Max cruza com a pedra D, Horst cruza E)
(Max cruza E, Horst cruza D com a pedra)
(Horst tosse D da pilha E)
Capitão: Ah. (Atravessa DM)
(Horst pare de tossir)
Você. Pervertido.
Horst: (Abafa e fica parado) Sim, senhor?
Capitão: Você está doente?
Horst: Não, senhor.
Capitão: Você está com tosse.
(Max cruza DA com a pedra, à esquerda de Horst e do Capitão)

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Horst: Não, senhor.
Capitão: Eu ouvi você tossir.
Horst: Sim, senhor.
Capitão: Alguma coisa presa na sua garganta?
Horst: Sim, senhor.
(Max cruza D com a pedra)
Capitão: Do café da manhã?
Horst: Sim, senhor.
(Max cruza E)
Capitão: Ah. Continue.
(Capitão vai até DM – tira um cigarro do maço. Max cruza para E, Horst cruza E)
(Max cruza D com a pedra. Guarda cruza E do capitão – acende o cigarro, de frente a B)
(Max cruza E, Horst cruza D com a pedra. Guarda vai até DMA, Capitão de frente a A)
(Max cruza D com a pedra, Horst cruza E)
(Horst cruza D com a pedra, Max cruza E)
(Horst cruza E, Max cruza D com a pedra)
(Horst pega a pedra, para na D da pilha E e tosse. Max para na pilha E)
Capitão: Você. Pervertido.
Horst: (Fica parado) Sim, senhor.
Capitão: Você tossiu.
Horst: Sim, senhor.
Capitão: Você não está bem.
Horst: Estou, senhor.
(Max cruza D com a pedra)
(Capitão vai até CM)
Capitão: Agora eu entendo. (Para Max) Você. Judeu.
(Max chega na DM quando parado pelo Capitão)
Max: (Fica parado) Sim, senhor.
Capitão: Observe.

88
Max: Observar, senhor?
Capitão: Sim. Observe. (Para Horst) Você.
Horst: Sim, senhor.
Capitão: Solte essa pedra.
Horst: Sim, senhor. (Solta a pedra)
Capitão: Bom. Agora, tire o seu chapéu.
(Uma longa pausa)
Horst: Meu chapéu, senhor?
Capitão: Sim. O seu chapéu.
Horst: Meu chapéu, senhor?
Capitão: O seu chapéu.
Horst: Sim, senhor.
(Horst tira o seu chapéu)
(Max derruba sua pedra)
(Guarda puxa a arma)
Capitão: (Para Max) Você.
Max: Sim, senhor.
Capitão: Relaxe.
Max: Sim, senhor.
Capitão: E observe.
Max: Sim, senhor.
Capitão: (Para Horst) Você.
Horst: Sim, senhor.
Capitão: Atire o seu chapéu.
(Horst joga seu chapéu no chão EMB)
Não aí.
Horst: Não aqui, senhor?
Capitão: Não. Pegue o chapéu.
Horst: Sim, senhor. (Vai até EMB e pega o chapéu. Volta à posição D da pilha E)
Capitão: Jogue o chapéu na cerca.

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Horst: Na cerca, senhor?
(Horst começa a tossir)
Capitão: Na cerca.
(Horst começa a tossir)
Tudo bem. Nós vamos esperar.
(Vai até DM, A de Horst)
(A tosse diminui)
Você está se sentindo melhor?
Horst: Sim, senhor.
Capitão: Tosse desagradável.
(Olha para Max)
Horst: Sim, senhor.
Capitão: Na cerca. Agora.
Horst: Na cerca. Sim, senhor.
(Olha para Max; segue até EMA e joga o chapéu na cerca)
(Vai até CM)
Capitão: (Para Max) Você. (Vai até DMA, A em relação a Max)
Max: Sim, senhor.
Capitão: Você está observando?
Max: Sim, senhor.
Capitão: Bom. (Para Horst) Você.
(Vira para Horst)
Horst: Sim, senhor.
Capitão: Pegue o seu chapéu.
(O capitão se aproxima do guarda. O guarda aponta sua arma para Horst)
Horst: Agora, senhor?
Capitão: Agora.
(Guarda fica EB, entre Horst e o Capitão de frente para A)
Horst: Você tem certeza, senhor?
Capitão: Claro. (Vai até EMA)

90
Horst: Eu poderia ficar sem o meu chapéu, senhor?
Capitão: Não.
(Fica em silêncio por um momento. Sente Max observando e dá mais uma
espiadinha para ele, seus olhos dizendo “não se mexa”. Vira para o Capitão) Sim,
senhor.
Horst: Sim, senhor.
(Olha para Max. Levanta a sua mão e esfrega a sobrancelha esquerda)
(Vira e encara o Capitão. O guarda está apontando o seu rifle. O Capitão espera)
(Vira em direção à cerca. Começa a andar bem devagar até o seu chapéu. Quase alcança
a cerca, quando, de repente – ele se volta correndo para o Capitão. Gritando em
fúria)
(O guarda atira em Horst. Ele continua sua investida ao Capitão, com mão estendida
arranha o rosto dele)
(O guarda atira nas costas de Horst. Ele cai, morto)
(Silêncio)
(Capitão coloca a mão no rosto)
Capitão: Ele me arranhou. (Para Max) Você. Judeu.
(Max fica calado)
Você!
Max: Sim, senhor.
Capitão: Espero que o remédio tenha ajudado. (Vai para CM)
(Vira D para Max)
Livre-se do corpo.
(Sai EA)
(Guarda sai EA. Silêncio)
Max: Sim, senhor. (Olhando para Horst)
(Vai para D de Horst. Abre sua boca para chorar. Não consegue)
(Silêncio)
(Tenta erguer Horst – puxa o corpo para cima, Horst está de frente a A, sobre o
ombro direito de Max)

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(Quando chega em EMB, o sinal toca)
Max: Não!
(Olha para cima – fora do palco – para o guarda e de volta para Horst. Fica em
posição alerta. Horst começa a cair. Puxa o corpo para cima. Permanece parado,
olhando de frente para ele, segurando Horst)
Tudo bem. Não vou deixar você cair. Vou segurar você. Se eu me levantar com
atenção, posso segurar você. Eles vão deixar eu te segurar.
(Silêncio)
Nunca segurei você antes.
(Silêncio)
Você está seguro.
Não se preocupe com as pedras. Eu farei as suas também. Vou carregar duas
vezes o de cada dia. Vou fazer as suas também. Você não tem que se preocupar
com elas.
(Silêncio)
Quer saber?
(Silêncio)
Horst?
(Silêncio)
Quer saber?
(Silêncio)
Eu acho...
(Silêncio)
Acho que amo você.
(Silêncio)
Shiu! Não conte para ninguém. Eu acho que amei… Não posso lembrar o nome
dele. Um bailarino. Acho que amei ele também. Não fique com ciúmes. Acho
que amei... Um garoto há muito tempo atrás. Na fábrica do meu pai. Hans. Era o
nome dele. Mas o bailarino. Eu não me lembro.
(Silêncio)

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Eu te amo.
(Silêncio)
O que há de errado nisso? O que há de errado com isso?
(Silêncio)
(Começa a chorar)
(O sinal toca)
(Descansa o corpo perto do fosso A – Cabeça de Horst para E)
(Rola Horst dentro da vala)
(Atravessa até a pilha E)
(Cruza para D)
(Pega a pedra e cruza para E)
(Cruza para D)
(Pega a pedra e cruza para E)
(Cruza para D)
Um. Dois. Três. Quatro. Cinco. (Respira fundo) Seis. Sete. Oito. Nove. Dez.
(Cruza para E com a pedra, solta em CM)
(Cruza para D, pega outra pedra)
(Cruza para E com a pedra, solta em DM)
(Olha para o fosso)
(Vai até a vala – pula para dentro dela)
(Sai do fosso, vai até CM com o casaco de Horst)
(Tira o seu casaco – coloca ele em Horst)
(Olha para o guarda EA)
(Anda dois passos da vala, então corre para a cerca)
(A cerca acende. Fica mais e mais brilhante, até a luz consumir o palco)
(E cega a plateia)
FIM DO ATO 2

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DIREÇÕES NO PALCO

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