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Universidade de Brası́lia

Departamento de Matemática

Cálculo 1
Rotação em torno do eixo Oy

Considere a função f (x) = sen(x) definida no intervalo [0, π] e denote por A a região
compreendida abaixo do seu gráfico e acima do eixo Ox. Se girarmos essa região em torno
do eixo Oy vamos obter um sólido S cujo volume queremos calcular neste texto.

Figura 1: A regiı́o A Figura 2: Parte do sólido S Figura 3: O sólido S

Vamos usar uma ideia parecida com aquela utilizada quando discutimos a rotação em
torno do eixo Ox. Ela consiste em fazermos aproximações para o volume de S utili-
zando algum sólido cujo volume sabemos calcular. Mais especificamente, dado um número
n ∈ N, dividimos o intervalo [a, b] = [0, π] em n subintervalos de igual tamanho ∆x = (b−a)
n
,
considerando os pontos

a = x0 < x1 < x2 < · · · < xn−1 < xn = b,

em que xk = a + k∆x, para cada k = 0, 1, 2, . . . , n.


Fixado um número k ∈ {1, 2, . . . , n}, vamos escolher um ponto x∗k ∈ [xk−1 , xk ] e construir
um retângulo cuja base é o intervalo [xk−1 , xk ] e altura é f (x∗k ). Ao rotacionarmos este
retângulo em torno do eixo Oy vamos obter uma espécie de anel cuja espessura é exatamente
xk − xk−1 = ∆x. O volume deste anel pode ser calculado como a diferença do volume de
dois cilindros, e vale exatamente
 
2 ∗ 2 ∗ ∗ xk + xk−1
πxk f (xk ) − πxk−1 f (xk ) = π(xk − xk−1 )(xk + xk−1 )f (xk ) = 2π∆x f (x∗k ).
2

f (x∗
k)

xk−1 xk

Figura 4: O retângulo Figura 5: Parte do anel Figura 6: O anel

1
Observe agora que o número (xk + xk−1 )/2 pertence ao intervalo [xk−1 , xk ]. De fato, ele
é exatamente o ponto médio deste intervalo. Assim, se desde o inı́cio tivéssemos escolhido
x∗k = (xk + xk−1 )/2, o volume do anel seria exatamente 2πx∗k f (x∗k )∆x.
Procedendo como acima, variando k de 1 até n, e chamando de Sn o sólido obtido quando
rotacionamos os n retângulos em torno do eixo Oy, concluı́mos que uma aproximação para
o volume do sólido S é
n
X n
X
volume(Sn ) = 2πx∗k f (x∗k )∆x = g(x∗k )∆x,
k=1 k=1

em que g(x) = 2πxf (x). Uma vez que a aproximação se torna melhor quando n cresce,
concluı́mos que o volume de S é dado por
n
X Z b Z b
volume(S) = lim g(xk )∆x = g(x)dx = 2πxf (x)dx.
n→+∞ a a
k=1

Lembrando agora que f (x) = sen(x), a = 0 e b = π, o volume V do sólido em questão é


dado pela integral definida Z π
V = 2πx sen(x)dx.
0
A fim de calcular esta integral vamos primeiro determinar uma primitiva para a função
x sen(x). Para tanto, vamos usar a técnica de integração por partes com as escolhas u = x
e dv = sen(x)dx. Um cálculo direto mostra que du = dx e v = − cos(x), de modo que
Z Z
x sen(x)dx = −x cos(x) − (− cos(x))dx = −x cos(x) + sen(x) + K,

onde K é uma constante. Assim, o volume é dado por


x=π
volume(S) = 2π (−x cos(x) + sen(x)) = 2π {−π cos(π) + sen(π)} = 2π 2 .

x=0

Vamos finalizar observando que o procedimento acima é mais geral do que parece. De
fato, seja f : [a, b] → [0, +∞) uma função contı́nua, com a ≥ 0, e A a região compreendida
entre o gráfico de f e o eixo Ox. Quando giramos A em torno do eixo Oy, obtemos um
sólido S cujo volume é dado por
Z b
volume(S) = 2πxf (x)dx.
a

É importante não confundir a fórmula acima com aquela que nos dá o volume quando giramos
Rb
em torno do eixo Ox, que é exatamente a πf (x)2 dx.

2
Tarefa
Denote por A a região delimitada pelo gráfico das funções f (x) = x e g(x) = x2 . Use a
fórmula do texto para calcular o volume do sólido S obtido ao girarmos A em torno do eixo
Oy. Note que esta região não é a região abaixo do gráfico de uma função, mas sim a região
compreendida entre duas funções. Assim, não será possı́vel aplicar diretamente a fórmula.
Porém, pode-se obter o resultado desejado como a diferença entre os volumes de dois outros
sólidos.

Figura 1: A região A Figura 2: Parte do sólido S Figura 3: O sólido S

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