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LETÍCIA MELLO BEZINELLI

O atendimento odontológico no transplante de medula óssea:


impacto clínico e econômico

São Paulo
2010
LETÍCIA MELLO BEZINELLI

O atendimento odontológico no transplante de medula óssea:


impacto clínico e econômico

Dissertação apresentada à Faculdade de


Odontologia da Universidade de São
Paulo para obtenção do título de Mestre
em Ciências Odontológicas

Área de Concentração: Odontologia Social

Orientador: Prof Dr. Edgard Michel


Crosato

São Paulo
2010
Bezinelli LM. O Atendimento Odontológico no Transplante de Medula Óssea:
Impacto clínico e econômico. Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia
da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências
Odontológicas.

Aprovado em:

Banca Examinadora

Prof(a). Dr(a)._____________________Instituição: ________________________


Julgamento: ______________________Assinatura: ________________________

Prof(a). Dr(a)._____________________Instituição: ________________________


Julgamento: ______________________Assinatura: ________________________

Prof(a). Dr(a)._____________________Instituição: ________________________


Julgamento: ______________________Assinatura: ________________________
“Dedico este trabalho a todos os pacientes submetidos ao Transplante de Medula

Óssea que nos mostram diariamente a importância de buscarmos a felicidade e que

sempre vale a pena lutar pela vida.”


AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Edgard Michel Crosato pela oportunidade de aprendizado durante


todo o curso de mestrado, pela orientação na dissertação, pelo respeito e
compreensão do meu formato de trabalho. Muito obrigada!

Ao Prof. Dr. Carlos de Paula Eduardo, um empreendedor nato que sempre


acreditou na Odontologia e buscou inovações para aperfeiçoar a profissão.
Agradeço muito todo conhecimento compartilhado, por sempre acreditar em mim,
por todas as verdades ditas na hora certa e pela grande amizade.

Ao Prof. Dr. Moacyr Domingos Novelli com o qual eu aprendi o significado de


professor. Nesses mais de 10 anos de convivência, passamos por análise de
sistemas, empreendedorismo, basquete e, até, odontologia! Só posso falar
obrigada por tudo!
À Profa. Dra. Luciana Corrrêa pela eterna paciência de tentar me explicar o que é
Ciência, pelo grande e essencial auxílio na dissertação e, principalmente, pela
companhia e pelo bom humor de sempre. Nossas inúmeras conversas foram e
são fundamentais para minha vida profissional e pessoal. Você é uma grande
amiga.

Ao Dr. Nelson Hamerschlak profissional extremamente competente e ser humano


maravilhoso. É uma honra fazer parte da sua equipe de trabalho. Agradecemos a
oportunidade de aprendizado, o carinho e o respeito sempre demonstrados.

À Fernanda de Paula Eduardo, uma profissional competente e dedicada que eu


tive a sorte de conhecer. Agradeço por ter uma companheira de trabalho como
você, mas agradeço principalmente por ter você como amiga. Muito obrigada pela
oportunidade de estar ao seu lado.

À Roberta Marques da Graça Lopes, desde a faculdade eu já sabia que ela seria
uma grande Dentista. Amiga em todas as horas e momentos, agradeço por
sempre estar ao meu lado: no trabalho, no social e, claro, na quadra!
Ao Zilson Magalhães, grande parceiro e amigo. “DiFatto” agradeço por todo o
trabalho que estamos fazendo em conjunto.

À toda dedicada Equipe do Hospital Israelita Albert Einstein pela sempre


disponibilidade de colaboração.

À todos os colegas da pós-graduação pela grande troca de experiência!

À todas as funcionárias do Departamento de Odontologia Social, sempre


dispostas a nos ajudar.

À minha mãe e ao meu pai João por serem os primeiros a acreditar em mim, pelo
apoio em todas as minhas realizações e principalmente pela maior lição de todas:
o significado do amor.

Aos meus irmãos, Luba, Nana, Cá e aos meus cunhados Alê e Teddy pelo
carinho e companhia constante, além, claro, de toda ajuda em casa.

Ao Gú, amor da minha vida, agradeço por sempre acreditar em mim, pelo
estímulo constante e por torcer para o meu crescimento profissional, mesmo que
isso implicasse mais tarefas! Obrigada pelos momentos maravilhosos ao meu
lado!
“Duas coisas me enchem a alma de crescente admiração e respeito, quanto mais
intensa e frequentemente o pensamento delas ocupa: o céu estrelado sobre mim
e a lei moral dentro de mim”.

Immanuel Kant
RESUMO

Bezinelli LM. O atendimento odontológico no TMO: impacto clínico e econômico.


Dissertação. São Paulo: Universidade de São Paulo, Faculdade de Odontologia;
2010.

A Mucosite Oral é uma das principais e mais debilitantes complicações do


Transplante de Medula Óssea. (Schubert et al., 1986; Borowski et al., 1994; Sonis,
1998; Peterson, 2004; Sonis, 2004; Scully, 2006; Sonis, 2009). Nessa terapia sua
incidência varia entre 75-100%. (Wardley et al., 2000; Barasch; Peterson, 2003;
Schubert et al., 2007; Blijlevens, 2008; Vokurka et al., 2009 ). A extensão e a
severidade da Mucosite Oral estão significativamente correlacionadas com dias de
narcótico injetável, alimentação parenteral, febre, risco de infecção importante, dias
de hospitalização, custos hospitalares e mortalidade. (Sonis et al., 2001; Vera-Llonch
et al., 2007). Nosso trabalho trata-se de um estudo de avaliação clínica e econômica,
retrospectivo, de pacientes submetidos ao transplante de medula óssea no Hospital
Israelita Albert Einstein, entre os anos de 2000 e 2008. Foram avaliados 167
pacientes, que foram divididos em dois grupos: Grupo I, composto por 91 pacientes
que receberam atendimento odontológico e Laserterapia durante o TMO e Grupo II,
composto por 76 pacientes que não receberam atendimento odontológico nem
Laserterapia. Dados como idade, sexo, diagnóstico da doença de base, protocolo
quimioterápico, tipo de transplante, uso de medicação para dor, dias de febre,
utilização de alimentação parenteral, dias de internação, presença de infecção e
grau de mucosite oral, com e sem atendimento odontológico, foram coletados e
analisados. Uma análise descritiva, com base em tabelas de frequências e testes
Qui-quadrado (ou exato de Fisher, quando este se mostrou mais apropriado), foi
feita com o objetivo de verificar a associação estatística entre as variáveis de
interesse. Estimativas dos riscos relativos, com intervalos de confiança de 95%,
foram calculadas para avaliar a associação entre o desfecho (grau máximo) e as
variáveis explicativas de interesse e o tempo médio de internação (em dias) nos
diferentes grupos e tipos de transplantes foi comparado por meio de um modelo de
análise de variância. Valores de p menores que 0,05 foram considerados como
estatisticamente significantes. Pudemos concluir com esse trabalho que a extensão
e a severidade da Mucosite Oral foram maiores no grupo sem atendimento
Odontológico, sendo que o risco do paciente desse grupo apresentar grau III ou IV
foi de 13 vezes maior que o grupo com Cirurgião-Dentista. Além disso, observamos
que atendimento odontológico durante o TMO, quando praticado da forma descrita
nesse estudo, é custo-efetivo, sendo capaz de reduzir as morbidades clínicas do
TMO e que os benefícios do atendimento odontológico excederam os custos e,
portanto, devem ser adotados. Foi constatado também que os pacientes que tiveram
o acompanhamento do Cirurgião-Dentista apresentaram melhor qualidade de vida
durante TMO e que o atendimento odontológico durante o TMO gerou economia
para o hospital.

Palavras-chave: Transplante de Medula Óssea. Mucosite Oral. Atendimento


Odontológico. Custo-Efetividade. Custo-Benefício. Custo-Utilidade. Custo-
Minimização.
ABSTRACT

Bezinelli LM. Dental attendance in bone marrow transplants: clinical and economic
impact. Dissertação. São Paulo: Universidade de São Paulo, Faculdade de
Odontologia; 2010.

Oral mucositis is one of the main and most debilitating complications of Bone Marrow
Transplants. In this therapy its incidence ranges between 75-100%. The extent and
severity of Oral Mucositis are significantly correlated with the days of receiving
injectable narcotics, parenteral feeding, fever, and risk of important infection, number
of days of hospitalization, hospital costs and mortality. This study is a retrospective
clinical and economic evaluation of patients submitted to bone marrow transplant at
the "Hospital Israelita Albert Einstein", between the years 2000 and 2008. A total of
167 patients were evaluated, and were divided into two groups: Group I, composed
of 91 patients who received dental treatment and Laser therapy during the BMT and
Group II, composed of 76 patients who did not receive dental attendance or laser
therapy. Data such as age, sex, diagnosis of the underlying disease, chemotherapy
protocol, type of transplant, use of pain relief medication, days of fever, use of
parenteral feeding, days of hospitalization, presence of infection and degree of oral
mucositis, with and without dental attendance were collected and analyzed. A
descriptive analysis, based on Frequency tables and Chi-square tests (or Fisher’s
exact test, when this was shown to be more appropriate), was performed with the aim
of verifying the statistical association among the variables of interest. Estimates of
relative risks, with confidence intervals of 95% were calculated to evaluate the
association between the outcome (maximum degree) and the explicative variables of
interest and the mean time of hospitalization (in days) in the different groups and
types of transplants was compared by means of an analysis of variance model. p-
Values lower than 0.05 were considered statistically significant. By means of this
study, it could be concluded that the extent and severity of Oral Mucositis were
greater in the group without Dental attendance, as the risk of the patient in this group
presenting Grade III or IV was 13 times higher than it was in the group attended by a
Dentist. Moreover, it was observed that dental attendance during BMT, when
performed in the manner described in this study, is cost-effective, as it is capable of
reducing the clinical morbidities of BMT. Furthermore the benefits of dental
attendance outweighed the costs, and therefore, must be adopted. It was also found
that patients that were followed-up by the Dentist presented a better quality of life
during BMT and that dental attendance during BMT resulted in savings for the
hospital.

Keywords: Bone Marrow Transplant. Oral Mucositis. Dental Attendance. Cost-


Effectiveness. Cost-Benefit. Cost-Utility. Cost-Minimization.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 2.1- Quadro de classificação das avaliações econômicas em saúde...............25

Figura 4.1- Classificação do grau de mucosite oral......................................................31

Figura 4.2- Risco para MO x Quimioterápicos utilizados em TMO.................................34

Gráfico 5.1- Condicionamentos pré-TMO utilizados em cada um dos grupos.............40

Gráfico 5.2- Dispersão entre grau MO e o dia da alteração, para os perfis dos
pacientes sem acompanhamento do dentista. ....................................... 51

Gráfico 5.3- Dispersão entre grau MO e o dia da alteração, para os perfis dos
pacientes com acompanhamento do dentista. ....................................... 52

Figura 5.4- Média e desvio padrão (d.p.) do tempo de internação (em dias),
segundo tipo de transplante e protocolo. ............................................... 54

Figura 5.5- Árvore de probabilidade das consequências clínicas da MO observadas


nesse estudo para cada um dos grupos.. .............................................. 56

Gráfico 5.6- Distribuição dos tipos de diárias hospitalares mais frequentes no grupo
sem atendimento odontológico...............................................................58

Gráfico 5.7- Distribuição dos tipos de diárias hospitalares mais frequentes no grupo
com atendimento odontológico.. ............................................................ 58

Gráfico 5.8- Número de pacientes que referiram dor em cavidade oral durante TMO,
com e sem acompanhamento do Cirurgião-Dentista. ............................ 60
LISTA DE TABELAS

Tabela 5.1- Distribuição dos participantes segundo gênero, tipo de protocolo e tipo
transplante ........................................................................................... 36

Tabela 5.2- Distribuição dos participantes de cada protocolo segundo gênero,


diagnóstico e tipo de transplante. ......................................................... 37

Tabela 5.3- Distribuição dos participantes de cada protocolo segundo os


quimioterápicos utilizados no condicionamento pré-TMO .................... 38

Tabela 5.4- Distribuição dos participantes de cada protocolo segundo o regime


quimioterápico utilizado no TMO...........................................................39

Tabela 5.5- Distribuição dos participantes de cada protocolo segundo a profilaxia


para DECH ........................................................................................... 40

Tabela 5.6- Distribuição dos participantes de cada protocolo segundo o uso de


nutrição parenteral (NPP) durante TMO............................................... 41

Tabela 5.7- Distribuição dos participantes de cada protocolo segundo presença de


diarréia com análise de cultura para checar infecção durante TMO .... 42

Tabela 5.8- Distribuição dos participantes de cada protocolo segundo uso de


analgésico durante TMO ...................................................................... 43

Tabela 5.9- Distribuição dos participantes de cada tipo de protocolo segundo média
de uso de analgésico ........................................................................... 44

Tabela 5.10- Distribuição dos participantes de cada protocolo segundo presença de


dor em cavidade oral durante TMO ...................................................... 45

Tabela 5.11- Distribuição dos participantes de cada protocolo segundo presença de


dor ao deglutir durante TMO ................................................................ 45

Tabela 5.12- Distribuição dos participantes de cada protocolo segundo presença


febre (≥37.8°C) e infecção durante TMO ............................................. 46
Tabela 5.13 -Distribuição dos participantes de protocolo segundo idade, dias de
NPP, dias de Diarréia e dias de Febre ................................................. 47

Tabela 5.14- Distribuição dos participantes de cada protocolo segundo grau máximo
de mucosite oral apresentado durante TMO ........................................ 48

Tabela 5.15- Distribuição dos participantes de protocolo segundo dor em cavidade


oral, dor ao deglutir e dias totais de Mucosite Oral .............................. 48

Tabela 5.16- Distribuição percentual do grau máximo de MO segundo tipo de


protocolo e estimativas do risco relativo (RR) ...................................... 49

Tabela 5.17- Frequência do tipo de transplante segundo grau máximo de MO ........ 50

Tabela 5.18- Medidas descritivas do tempo de internação (em dias), segundo tipo
de transplante e protocolo.....................................................................53

Tabela 5.19- Medidas descritivas do tempo de internação (em dias), segundo tipo de
transplante e protocolo, desconsiderando os pacientes #29 e
#108......................................................................................................54

Tabela 5.20- Distribuição percentual do grau máximo segundo variáveis associadas


a os sintomas e uso de medicamentos, para pacientes com e sem
acompanhamento do Dentista .............................................................57
LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS

ATS avaliação de tecnologias em saúde


BEAM carmustina/etoposide/ara-c/melfalan
BCNU carmustina
Bu bussulfan
CBV ciclofosfamida/carmustina/etoposide
Cyclo ciclofosfamida
DECH doença do enxerto contra o hospedeiro
Flu fludarabina
HIAE hospital israelita Albert Einstein
LH linfoma hodgkin
LLA leucemia linfóide aguda
LMA leucemia mielóide aguda
LNH linfoma não hodking
Mel melfalan
MM mieloma múltiplo
MO mucosite oral
Mtx metrotexate
NPP nutrição parenteral
RR risco relativo
TBI total body irradiation
TMO transplante de medula óssea
Tx transplante
VP16 etoposide
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. ..........16


2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................. 18
3 PROPOSIÇÃO ....................................................................................................... 29
4 MÉTODO................................................................................................................ 30
5 RESULTADOS ....................................................................................................... 36
6 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 62
7 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 69
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 70
ANEXOS ................................................................................................. 71
16

1 INTRODUÇÃO

O transplante de medula óssea (TMO) é hoje o tratamento de escolha para


doenças em que existe uma falência do sistema hematopoético, seja por infiltração
de células leucêmicas na medula óssea, seja por doenças que alterem produção dos
constituintes sangüíneos ou doenças que comprometem severamente o sistema
imunológico e nos tumores sólidos. No TMO, a medula óssea é destruída pelo
chamado condicionamento pré-transplante, que consiste de intensas doses de
quimioterápicos, radioterapia ou a combinação das duas. Esse condicionamento pré-
transplante não interfere somente na homeostasia de células malignas, mas também
de células normais, tendo como freqüente conseqüência complicações bucais,
sendo a mucosite oral (MO) a mais comum (Schubert et al., 1986; Borowski et al.,
1994).
A MO é o fator dose-limitante mais importante para o tratamento dos
pacientes que realizam o TMO e, desta forma, tem um impacto direto e significante
na duração do processo de regressão da doença até a cura total. É uma alteração
resultante da não-seletividade do processo de destruição celular causado pela
quimioterapia. As drogas quimioterápicas destroem as células que estão em
constante processo de mitose e atinge diretamente células da luz de todo trato
gastrointestinal, levando a uma redução significativa da espessura do epitélio que
acaba por ficar extremamente friável e ulcera com grande facilidade (Carter et al.,
1999; Plevová, 1999; Chauncey et al., 2000; Peterson; Cariello, 2004).

O processo evolutivo da MO causa uma sintomatologia dolorosa que deixa o


paciente extremamente debilitado, leva a disfagia, disfonia e, pode inclusive levar ao
óbito (Borowski et al., 1994).
A MO interfere de maneira significativa na qualidade de vida e nutrição do
indivíduo acometido. Muitas vezes há perda significativa de peso, tornando
necessário o emprego de sonda nasoenteral ou gastrotomia para a alimentação
enteral (Duncan; Grant, 2003). Pode ainda interferir na mortalidade destes
pacientes, uma vez que a perda de integridade da mucosa oral origina uma porta de
entrada para microorganismos, causando muitas vezes infecções secundárias que
podem evoluir para sepse grave em função da imunossupressão apresentada por
estes pacientes (Fonseca, 1999; Sonis et al., 2004).
17

Além do impacto importante na condição de saúde do paciente, estudos


apontam também que a extensão e severidade da MO estão significativamente
correlacionados com aumento dos custos hospitalares. (Sonis et al., 2001; Vera-
Llonch et al., 2007)
Baseado na ausência de efeitos colaterais e em suas ações: antiinflamatória,
analgésica e de bioestimulação, a terapia com laser em baixa intensidade (LILT–
Low Intensity Laser Therapy) tem sido estudada como uma alternativa para o
tratamento e a prevenção da mucosite oral (Braverman; Mccarthy, 1989; Bensadoun
et al., 1999; Migliorati et al., 2002; Genot; Klastersky, 2005).
Atualmente existem protocolos de Laserterapia realizados durante o TMO e
os resultados verificam não somente a redução da intensidade da dor, como a
diminuição da severidade da mucosite oral. (Barasch et al., 1995; Niccoli-Filho,
1995; Eduardo, 2003).
O condicionamento pré-TMO tem como um dos efeitos colaterais alterações
em cavidade oral, entretanto, esses efeitos podem ser prevenidos, tratados e
controlados pelo cirurgião-dentista (Schubert et al., 1999). Portanto, seu
envolvimento na equipe multidisciplinar que atende o paciente submetido ao TMO é
de fundamental importância. Com essa integração é possível minimizar os riscos de
infecção, proporcionar uma melhor qualidade de vida ao paciente e ainda reduzir
custos gerais do tratamento médico (Sonis et al., 2001, Vera-Llonch et al., 2007).
A melhora da qualidade de vida aliada a redução no custo de tratamentos
médicos representam um desafio para os profissionais que tratam de pacientes
submetidos ao TMO. Tendo em vista que a mucosite oral gera aumento nos custos
gerais do TMO e piora a qualidade de vida do paciente e que, por sua vez, as
propriedades benéficas da radiação laser são capazes de minimizar a severidade da
mucosite oral, nos propusemos à realização deste estudo com o objetivo de
estabelecer essa correlação clínica e econômica da atuação do Cirurgião-Dentista
no TMO.
18

2 REVISÃO DA LITERATURA

A fim de ordenar os artigos para melhor esclarecer o estudo em questão, essa


Revisão da Literatura não seguirá a ordem cronológica, mas será estruturada
seguindo os tópicos:

2.1 Mucosite Oral


2.2 Laserterapia
2.3 Avaliação Econômica em Saúde

2.1 Mucosite Oral

Os efeitos colaterais provocados pelos agentes quimioterápicos são inúmeros


e ainda não totalmente conhecidos. Geralmente estão relacionados à intensa
imunossupressão e ou à ação direta da droga sobre tecidos não-alvo. Dentre eles,
destacam-se ações tóxicas sobre o sistema gastrointestinal, modificações
glandulares que incluem alterações hormonais e no metabolismo, infecções
oportunistas e ação deletéria sobre a mucosa oral e a pele. Na mucosa oral,
destacam-se principalmente infecções oportunistas, perda da continuidade da
mucosa levando a mucosite e alterações no fluxo salivar e nos componentes da
saliva. (Bezinelli, 2009).
A Mucosite Oral é uma das mais frequentes e também debilitantes
complicações do Transplante de Medula Óssea. Geralmente, os pacientes
submetidos a essa terapia apresentam 75-80% de chance de desenvolverem a
Mucosite Oral e, esse risco pode ser ainda maior, quando os pacientes recebem
Melfalan ou quimio associada a radioterapia de corpo inteiro. (Schubert et al., 2007).
Blijlevens et al. (2008) mostraram que o risco de toxidade da droga não foi
significante em relação ao sexo, uma vez que a dose do quimioterápico é feita
levando em consideração a superfície corpórea. O estudo avaliou pacientes com
Mieloma Múltiplo e Linfoma Não Hodgkin e tanto a doença de base, o sexo, como a
idade dos pacientes não foram significativos para maior risco de desenvolvimento da
19

Mucosite Oral. Os autores mostraram ainda que a neutropenia prolongada durante o


TMO pode ser um fator de pior prognóstico para Mucosite Oral, aumentado seu
tempo de duração.
Com relação ao condicionamento pré-TMO, Blijlevens et al. (2008)
classificaram o Melfalan e o BEAM como de muito alto risco para severidade de
Mucosite Oral, sendo somente o Melfalan, ligeiramente mais agressivo.
Barasch e Peterson (2003) compararam diversos regimes quimioterápicos
utilizados em TMO autólogo e alogênico e concluíram que o uso de irradiação de
corpo inteiro (TBI) representa maior risco para desenvolvimento de mucosite oral
ulcerativa e que o Bussulfan também foi considerado de muito alto risco para
severidade da mucosite oral. Outra verificação foi realizada ao comparar
Bu/Cyclo/ThioT com Bu/Cyclo/VP16, pois, dessa maneira, os autores viram que o
regime com Thio-tepa é mais agressivo.
Wardley et al. (2000) fizeram um estudo prospectivo para acompanhar a
evolução da mucosite oral em 429 pacientes submetidos ao TMO. Os autores
verificaram que o risco de mucosite está fortemente associado ao tipo de transplante
e também ao regime quimioterápico. Dos pacientes em estudo 99% desenvolveram
mucosite oral, sendo que 67,4% apresentaram graus severos (III e IV). Outra
importante constatação foi a descrição da relação do tipo de condicionamento pré-
TMO e o risco para mucosite oral. Segundo os autores, o de maior risco é o
Melfalan, seguido por Busulfan, Busulfan/Ciclofosmaida, Ciclofosmaida / TBI,
Ciclofosfamida/BCNU e por último o regime com CBV.
Vokurka et al. (2009) mostraram que os regimes Flu/Mel e Bu/Cyclo utilizados
em TMO alogênico são de alto risco para severidade de mucosite oral, porém o
Bu/Cyclo é ainda mais tóxico para a mucosa oral. Os autores verificaram também
que a mucosite oral severa (Grau III e IV), em média, iniciou no quinto dia pós
transplante e persistiu por 12 dias, apresentando melhora no dia + 17 pós-TMO.
Sonis (1998) e Sonis et al. (2000; 2004a; 2004b) descrevem a patobiologia da
Mucosite Oral em cinco fases. Na primeira, de iniciação, a quimio ou radioterapia
iniciam a quebra de fitas de DNA e a produção de espécies reativas de oxigênio
(ROS). Apesar da mucosa parecer absolutamente normal nesta fase, sua destruição
será provocada por uma cascata de eventos que ocorrem na submucosa. A fase de
resposta de dano primário, segunda fase deste processo, consiste na ativação de
fatores de transcrição (NF-κB) e produção de citocinas pró-inflamatórias (TNF-α e IL-
20

1β) por produtos da fase anterior. Danos ao tecido conjuntivo e ao endotélio


reduzem a oxigenação epitelial, resultando em dano e morte de células epiteliais. A
fase seguinte, de amplificação de sinal, promove um feedback positivo das citocinas
inflamatórias e amplificam o dano iniciado pela radiação ou agente quimioterápico.
Segue então a fase ulcerativa, quando há perda da integridade da mucosa. Estas
lesões extremamente dolorosas são de grande importância, pois funcionam como
porta de entrada para bactérias, principalmente em pacientes com neutropenia.
Finalmente, a fase de cura corresponde à migração, proliferação e diferenciação de
células epiteliais, caracterizando a resolução das lesões na mucosa bucal.
Clinicamente, a mucosite inicia-se com manifestação de eritema, seguido de
descamação do epitélio e ulceração. Eventualmente, com a presença de exsudato
fibrinoso, há formação de uma pseudomembrana sobre a úlcera. A perda do epitélio
expõe o tecido conjuntivo subjacente, causando dor e desconforto ao paciente
durante o tratamento antineoplásico (Parulekar et al., 1998).
Além da dor, a MO pode levar a distúrbios funcionais como o
comprometimento da mastigação, da deglutição e da fonação. Podem ocorrer
também distúrbios do sono e dificuldade de higienização da cavidade oral
(Ohbayashi, 2008).
A Mucosite Oral pode interferir também na mortalidade destes pacientes, uma
vez que as ulcerações presentes na mucosa oral agem como porta de entrada para
microorganismos, causando muitas vezes infecções secundárias que podem evoluir
para sepse grave em função da imunossupressão apresentada por estes pacientes.
Além de ter impacto também na qualidade de vida e no custo do tratamento global
destes pacientes. (Sonis, 1998; Scully et al., 2003; Vera-Llonch et al., 2007).
A cavidade oral se constitui em complexo meio-ambiente, composto por
diversos microorganismos, entre os quais bactérias, fungos e vírus. Sonis (2009)
verificou em um modelo experimental com hamster, já que esses animais têm flora
oral semelhante ao do humano, que um grau severo de mucosite oral pode
aumentar o número de bactérias na mucosa oral em até 300%, o que em um
paciente imunossuprimido torna-se um risco importante disseminação de infecções.
Segundo a escala proposta pela Organização Mundial de Saúde (1979) pode-
se graduar a Mucosite Oral em Grau 0, quando há ausência de sinais e sintomas,
Grau 1, presença de eritema em mucosa oral e o paciente relata ardência, Grau 2,
quando além de eritema, aparecem ulcerações, nessa fase a o paciente já refere um
21

quadro de dor moderada, Grau 3, nesse estágio há uma confluência das úlceras, a
dor é intensa e o paciente só consegue se alimentar com líquidos e Grau 4, que é
clinicamente semelhante ao Grau 3, mas o paciente se alimenta por sonda, uma vez
que não consegue mais ingerir alimentos sólidos e nem por líquidos.
Ruescher et al. (1998) mostraram que pacientes submetidos ao Transplante
de Medula Óssea autólogo com desenvolvimento de ulcerações possuem chances
três vezes maiores para bacteremia estreptocócica auto-hemolítica que aqueles sem
ulcerações, permanecendo por seis dias adicionais no hospital.
Dando sequência a estudos com cunho econômico, Sonis et al. (2001)
mostraram que a extensão e a severidade da Mucosite Oral estão significativamente
correlacionadas com dias de narcótico injetável, alimentação parenteral, antibiótico
injetável, risco de infecção importante, dias de hospitalização, custos hospitalares e
mortalidade. Os autores concluíram que novos tratamentos eficientes na redução da
mucosite oral deverão melhorar os resultados clínicos e reduzir os custos da saúde.
Vera-Llonch et al. (2007) também avaliaram a relação da extensão e
severidade da MO em pacientes portadores de Mieloma Múltiplo submetidos ao
TMO autólogo, sendo o Melfalan o condicionamento pre-TMO, com dias de febre,
uso de alimentação parenteral, uso de analgésicos, presença de infecção
significativa e dias de internação. Foram estudados 115 pacientes e os autores
concluíram que quanto pior o grau de mucosite, pior a condição clínica do paciente e
maior os custos do tratamento, sendo assim um tratamento adequado para a MO
teria impacto significativo na saúde do paciente e poderia inclusive gerar uma
economia no custo geral do TMO.

2.2 Laserterapia

Muitos métodos paliativos foram utilizados na tentativa de reduzir os sinais e


sintomas resultantes da mucosite, como sucralfato, clorexidine, G-CSF (granulocyte
colony stimulating factor), nitrato de prata, Vitamina E, prostaglandina, antioxidantes,
porém nenhum destes métodos mostrou-se significantemente eficaz na redução da
severidade ou da incidência desta complicação, já métodos como antifúngicos, G-
CSF local, corticosteróides e laser em baixa intensidade têm se mostrado uma
22

opção bastante promissora no tratamento e prevenção das mucosites orais


(Wadleigh et al., 1992; Foote et al., 1994; Symonds et al., 1996; Bensadoun et al.,
1999; Dorr et al., 2002; Donnelly et al., 2003).
A luz Laser (Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation)
apresenta características especiais como coerência, monocromaticidade e
unidirecionalidade. A terapia com laser de baixa potência (LILT – Low Intensity Laser
Therapy) demonstra efeitos básicos: antiinflamatório, analgésico e de bioestimulação
(Karu, 1988; Niccoli-Filho, 1995; Pereira et al., 2002; Marques et al., 2004).
Resultados utilizando o Laser de baixa potência verificam não somente a
diminuição da intensidade da dor, como a diminuição da severidade da mucosite
bucal, sem apresentar efeitos colaterais. Os efeitos biológicos induzidos pela luz
laser dependem dos parâmetros de irradiação, que devem considerar: comprimento
de onda, dose, intensidade, tempo de irradiação e modo de operação (Eduardo,
2003; Nes;Posso, 2005; Keefe et al., 2007)
A possibilidade de tratamento com lasers em baixa intensidade já apresenta
resultados positivos, tanto na prevenção como no tratamento de Mucosite Oral e
pode ser um aliado para pacientes submetidos ao transplante de medula óssea.
(Antunes et al., 2007; Eduardo et al., 2008)
Eduardo et al. (2008) mostraram que a integração do Cirurgião-Dentista na
equipe de TMO promovendo os cuidados bucais e o uso do Laser em Baixa
Intensidade sendo iniciado um dia após início do condicionamento pré-TMO e
realizado diariamente até a “pega da medula” promove uma redução na extensão e
severidade da Mucosite Oral.
Khouri et al. (2009) avaliaram 22 pacientes submetidos ao transplante de
medula óssea alogênico. Os pacientes foram randomizados em dois grupos para
comparar tratamentos para mucosite oral. Um grupo foi tratado com bochechos
chamado de “Fórmula para Mucosite”, composto por cloridrato de benzidamina,
nistatina e xilocaína, já no outro foi utilizado o Laser em Baixa Intensidade. Os
autores verificaram que o grupo com Laser apresentou menor frequência e
intensidade de mucosite oral.
Kuhn et al. (2009) desenvolveram um estudo randomizado, com grupo
placebo no qual crianças e adolescentes submetidas a quimioterapia ou ao
Transplante de medula óssea foram divididas em dois grupos: um que foi tratado
23

com Laser em Baixa Intensidade e outro foi o grupo placebo. Os resultados


mostraram evidências que a Laserterapia diminui a duração da mucosite oral.

2.3 Avaliação Econômica

Segundo a Área da Economia da Saúde e Desenvolvimento, do Ministério da


Saúde (2008), a demanda pelo sistema de saúde público tem aumentado ano a ano,
entretanto os recursos estão cada vez mais escassos. Dessa maneira, para que seja
possível a elaboração de protocolos terapêuticos efetivos, as análises econômicas
em saúde são ferramentas essenciais.
Hoje a orientação é que a Medicina avalie os benefícios e os custos de suas
ações, portanto no guia desenvolvido pelo Ministério da Saúde (2008) existe a
recomendação que profissionais da saúde, assistencialistas ou gestores devem
responder algumas questões chaves, coletadas e organizadas sistematicamente,
para optar por uma ação/intervenção em saúde ao invés de outra. Algumas das
questões propostas pelo Ministério da Saúde são:
É eficaz e efetiva?
Qual sua disponibilidade e factibilidade?
Qual custo?
Assim, o Ministério da Saúde tem verificado que uma nova tecnologia pode ser
mais efetiva que um tratamento padrão e não acrescentar custo ou mesmo causar
economia para o sistema.
Indo ao encontro da proposta do Ministério da saúde, nasceu a socioeconomia
em saúde, que utiliza a avaliação econômica, aplicada há 50 anos em diversos tipos
de procedimentos empresariais, na saúde, com objetivo de maximizar o bem estar
social e assessorar o planejamento de investimentos em setores públicos. (Zanini et
al., 2006)
A avaliação farmacoeconômica consiste em um conjunto de procedimentos ou
técnicas relacionadas à identificação, medição, e quantificação dos efeitos sobre a
saúde e sobre os recursos econômicos, permitindo eleger entre duas ou mais
alternativas terapêuticas a que melhor resultado origina para a sociedade. Sua
24

realização pressupõe considerar três critérios básicos: a perspectiva do estudo, a


determinação dos custos e o tipo de análise. (Mota et al., 2003).
A Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS) é um processo de investigação das
conseqüências clínicas, econômicas e sociais da utilização das tecnologias em
saúde. Nos países desenvolvidos a ATS surgiu nos anos 60, já no Brasil foi na
década de 80 que as instituições governamentais de saúde abordaram esta questão.
Contudo, o interesse por essa área vem crescendo significativamente, tanto que em
2003, o Ministério da Saúde, criou o Grupo de Trabalho Permanente em ATS, com o
objetivo de promover estudos de interesse para o Sistema Único de Saúde (SUS) e
fortalecer o apoio à tomada de decisão sobre tecnologias em saúde. É importante
esclarecer que o Ministério da Saúde entende Tecnologias em Saúde como:
medicamentos, equipamentos e procedimentos técnicos, sistemas organizacionais,
educacionais, de informação e de suporte e os programas e protocolos assistenciais,
por meio dos quais a atenção e os cuidados com a saúde são prestados à
população. (http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional, 2009).
A fusão da epidemiologia populacional, saúde coletiva, pesquisas básicas e
clínica originaram a chamada Medicina Baseada em Evidências, que tem por
princípio integrar a experiência clínica individual com as evidências das pesquisas
sistemáticas, levando em consideração também as expectativas dos pacientes e
familiares. (Sackett, 2000, Ducan et al., 2004).
Nos últimos anos, devido aos avanços na área da Saúde, estão constantemente
surgindo métodos mais eficazes de prevenir, diagnosticar e tratar as doenças e,
desde as décadas de 60 e 70, já existe uma preocupação em se avaliar as novas
tecnologias no seu espectro amplo de benefícios e potenciais prejuízos. Segundo
Goodman (2004) a comparação entre os benefícios em termos de saúde e os custos
de uma nova tecnologia em relação a alternativas disponíveis é testada em estudos
de:
Custo-efetividade: os impactos das intervenções são medidos considerando o
efeito natural mais apropriado ou unidades físicas. Unidades de medição para
estes estudos podem incluir número de doenças evitadas, internações
prevenidas, casos detectados, número de vida salvas ou anos de vida salvos.
São as mais comumente utilizadas. Comparam duas ou mais estratégias
alternativas de intervenção para prevenção, diagnóstico ou tratamento de
determinada condição de saúde. Sua maior aplicabilidade é a comparação
25

entre duas estratégias possíveis, que não podem sem implementadas


concomitantemente. Razão custo-efetividade é a diferença entre o custo de
duas intervenções, dividida pela diferença entre as suas conseqüências em
termos de saúde (efetividade).
Custo-utilidade: tipo especial de custo-efetividade, na qual a medida dos
efeitos de uma intervenção considera a medição da qualidade de vida
relacionada à saúde.
Custo-benefício: atribui-se aos benefícios ou impactos de uma ação em saúde
um valor monetário. Os resultados destas análises são apresentados em
benefícios líquidos (benefícios da intervenção menos os custos da
intervenção).
Custo-minimização: trata-se de comparar custos entre duas ou mais
alternativas em saúde e identificar a menos onerosa.

Baseado nos conceitos acima, Drummond et al. (1998) elaborou o quadro


abaixo, que mostra a classificação das avaliações econômicas em saúde:

Estão sendo considerados todos os custos e consequências das alternativas?


Existe comparação entre duas, ou

NÃO SIM
Examinar somente as Examinar somente os
consequências custos
mais, alternativas

NÃO 1 - AVALIAÇÃO PARCIAL 2 - AVALIAÇÃO PARCIAL


A B
Descrição de Descrição de custos e consequências
Descrição de custos
consequências

3 - AVALIAÇÃO PARCIAL 4 - AVALIAÇÃO ECONÔMICA COMPLETA


A B Análise de custo - minimização
SIM Análise de custo - efetividade
Avaliação de eficácia
Análise de custo Análise de custo - utilidade
ou efetividade
Análise de custo - benefício

Quadro 2.1- Classificação das avaliações econômicas em saúde

Ao realizar um estudo de custo-efetividade, é importante que o pesquisador


descreva com detalhes a cascata de eventos que acontece frente a uma
intervenção, levando em consideração não somente tudo que gere custo, mas
também tudo que impacte na saúde do paciente. O próximo passo e fazer uma
estimativa numérica dos efeitos das intervenções em estudo. Para sistematizar essa
coleta de dados foram desenvolvidos modelos matemáticos. Estes modelos
26

permitem combinar os resultados disponíveis e fornecer parâmetros para os valores


das estimativas não disponíveis. (Monteiro, Zanini, 2008)
Um dos modelos mais usados é chamado de: “Análise de decisão e Modelos
de Markov”, que é um modelo matemático aplicado a análise tendencial ou
prospectiva do desenvolvimento tecnológico, como instrumento de cálculo para que
um fato ocorra. Para isso se utilizam dois fatores probabilísticos: a sequência dos
fatos e o tempo transcorrido entre eventos sucessivos, isto e, transição de estados e
tempo de permanência no estado. Esse modelo permite computar medidas de
quantidade de vida, qualidade de vida e custos da doença ao longo do tempo
quando diferentes intervenções estão sendo comparadas. (Stewart, 1994)
O Ministério da Saúde (2008) descreve o Modelo de Markov como uma
representação esquemática de uma árvore de decisão que envolve a escolha de
estratégia, sequência de eventos que podem suceder ao acaso ou escolha no
modelo, probabilidades de cada evento e o desfecho final de interesse. Esse método
de decisão consiste em 4 etapas:
Identificar e agrupar o problema considerando as estratégias possíveis;
Estruturar o problema de decisão no formato de uma árvore, descrevendo
todos os eventos que se seguem ou são consequência de cada uma das
estratégias possíveis;
Identificar as estimativas de probabilidade de cada um dos ramos da
árvore e valores de custos correspondentes;
Determinar o desfecho final para cada um dos ramos da árvore e
quantificá-los.

O Ministério da Saúde, no guia publicado em 2008, relata que a avaliação das


diversas intervenções em saúde, tanto sob a perspectiva clínico assistencial quanto
de políticas de saúde, pode ser descrita em 6 etapas:
1) Segurança: demonstração em estudos experimentais e humanos
2) Eficácia: efeito global em termos de saúde que pode ser alcançado quando se
aplicada em condições ideais.
3) Efetividade: demonstração do real efeito da intervenção quando utilizada no
dia a dia.
4) Eficiência: considera não apenas a efetividade de cada intervenção, mas
também os recursos necessários para que a mesma seja implementada. É a
27

relação entre os benefícios alcançados com o tratamento na pratica clínica e


o custo pelo qual se supõe obtê-lo. É a chave da farmacoeconomia.
5) Disponibilidade: da intervenção aos que precisam.
6) Distribuição: das tecnologias e prestação de serviços.

O guia publicado pelo Ministério da Saúde (2008) traz conceitos fundamentais


para a realização de avaliação econômica em saúde. Seguem as definições de
conceitos que serão utilizados nesse estudo:
Do ponto de vida econômico, o benefício de uma intervenção em termos
de saúde pode ser dividido em três grupos: benefício direto (expressa as
economias em termos de redução de gastos relacionados à saúde);
benefícios indiretos (ganhos para a sociedade em termos de
produtividade); benefícios não-quantificáveis (valor monetário da redução
da dor e sofrimento do paciente e da família).
Outra distinção é entre custos financeiros e econômicos. O custo
financeiro é a retirada do dinheiro real para uso em recursos necessários
para a produção de um programa ou intervenção e para gerenciar o
impacto para a saúde de um indivíduo. Já os custos econômicos incluem o
uso direto do dinheiro somado ao valor dos recursos para os quais
nenhum dinheiro efetivamente foi gasto.
As conseqüências econômicas de uma intervenção médica podem ser
classificadas em três grupos: custos diretos: custo do médico, hospitais,
medicamentos e outros custos relacionados ou não relacionados à saúde,
que podem ser categorizados em custos em saúde e não-relacionados a
saúde (sanitários e não-sanitários); custos indiretos: associados com a
perda da produtividade e valor intrínseco da melhor da condição de saúde.

Em 1998, nos Estados Unidos, a agência reguladora Food and Drug


Administration (FDA) expediu um ato normativo regulamentando a necessidade de a
indústria fornecer informações econômicas no momento de registro de novos
produtos. Outros países da Europa também seguem esta linha de gestão e as
agências gerenciadoras de assistência à saúde, como convênios, também estão
adotando essa estratégia.
28

No Brasil o movimento de mudança para o modelo da Medicina Baseada em


Evidência já iniciou e vem se acentuando a cada ano. (Schmidt; Ducan, 2004). Em
2003, a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos com a lei n
10.742/2003 também incluiu a obrigatoriedade de apresentar informações
econômicas no processo de registro de medicamentos, insumos farmacêuticos e
correlatos, acentuando a importância da economia na saúde e os estudos de
avaliação econômica para tomada de decisão.
Outro item necessário em uma avaliação econômica é a formação do preço do
serviço a ser oferecido. Kotler (2002) descreveu os fatores que devem ser
considerados ao estabelecer o preço:
Concorrência;
Público-alvo;
Localização do empreendimento;
Interesse na preservação do paciente;
Tecnologia empregada.

Além desses fatores, o autor mencionou a necessidade de avaliar os custos


gerais do empreendimento. Os dois tipos principais de custos citados foram:
Custos fixos = custos gerais do empreendimento, que independe de quantos
serviços forem realizados, continuarão existindo, mesmo que se não produza.
Custos variáveis = relacionados diretamente a cada serviço realizado.

Para chegar então ao preço final, Kotler (2002) refere a necessidade de


contemplar todos os custos e acrescentar a margem de lucro esperada, uma vez
que segundo o autor o lucro é importante para que o próprio empreendimento
consiga sobreviver no mercado.
29

3 PROPOSIÇÃO

Objetivo Geral:

O objetivo deste estudo é avaliar o impacto clínico e econômico do protocolo de


atendimento odontológico aos pacientes submetidos ao TMO.

Objetivos Específicos:

Identificar a extensão e severidade da Mucosite Oral, bem como suas

complicações, com e sem atendimento odontológico.

Analisar o custo-benefício do atendimento odontológico no TMO.

Analisar o custo-efetividade do atendimento odontológico no TMO.

Analisar o custo-utilidade do atendimento odontológico no TMO.

Analisar o custo-minimização do atendimento odontológico no TMO.


30

4 MÉTODO

 Tipo de estudo:

É um estudo de avaliação clínica e econômica, retrospectivo, de pacientes


submetidos ao transplante de medula óssea.

 População em estudo:

Foram avaliados os prontuários dos pacientes submetidos ao transplante de


medula óssea realizado no Hospital Israelita Albert Einstein, entre os anos de 2000 e
2008.

 Coleta de dados:

Foi realizado um levantamento de atendimentos ocorridos no Setor de TMO do


Hospital Albert Einstein no período de janeiro de 2000 a dezembro de 2008. Com
base nos trabalhos de Sonis et al. (2001) e Vera-Llonch et al. (2007), foram
coletados dados como idade, sexo, diagnóstico da doença de base, protocolo
quimioterápico, profilaxia para DECH, uso de medicação para dor, dias de febre,
utilização de alimentação parenteral, dias de internação, presença de infecção, grau
de mucosite oral, com e sem o Cirurgião-Dentista e a Laserterapia.

É importante ressaltar que a dor, um dos itens coletados para o estudo, é um


quesito que se encontra no prontuário do paciente, descrita em folha separada e
preenchida diariamente pela enfermagem. Está registrado o local da dor, o score de
0 (sem) a 10 (dor severa) e se foi necessária medicação para a dor referida, fato que
possibilita a obtenção do dado de forma precisa.

Para a classificação e gradação da MO foi utilizada a escala proposta pela


Organização Mundial de Saúde (1979), pois as equipes médicas e de enfermagem
já a utilizava rotineiramente no TMO.
31

Segue a figura 4.1 com descrição da referida escala:

Figura 4.1 – Classificação do grau de mucosite oral

Foram avaliados todos os prontuários de pacientes submetidos ao TMO de


2000 a 2008. Ao todo somam-se 287 pacientes. Desses, 167 foram selecionados
para a pesquisa.

Os critérios de inclusão:

1) Todos os pacientes submetidos ao TMO, independentemente do tipo de


transplante: autólogo, alogênico aparentado ou alogênico não aparentado.
2) Todos os pacientes independente da idade.
3) Todos os pacientes independente do sexo.

Os critérios de exclusão foram:


1) Óbito precoce: antes da “pega da medula” e/ou antes de completar os 28 dias
de observação pós-TMO.
2) Falta de informação necessária ou informação duvidosa no prontuário.
3) Inacessibilidade ao prontuário.
4) Quando não havia coerência entre as informações descritas pela
enfermagem, equipe médica e dentistas.

Portanto, foram avaliados e analisados todos os prontuários do referido


período, as informações foram duplamente checadas através das anotações
médicas e da equipe de enfermagem, além da checagem das prescrições de
medicamentos.
32

Assim, os 167 prontuários analisados foram divididos em dois grupos:


GRUPO I: composto por 91 pacientes que receberam atendimento
odontológico e Laserterapia;
GRUPO II: composto por 76 pacientes que não receberam
atendimento odontológico nem Laserterapia.

 Descrição dos Protocolos:

I: Com Cirurgião-Dentista

O Cirurgião-Dentista pertencente à equipe multidisciplinar do TMO do HIAE


realiza uma consulta antes da internação do paciente na unidade, é a chamada
consulta pré-transplante, que tem duração de 30 minutos e possibilita:

Orientar o paciente sobre o papel do dentista no TMO;

Orientar sobre as possíveis complicações bucais que possam surgir


durante o TMO e os tratamentos disponíveis para essas complicações;

Realizar anamnese detalhada;

Fazer exame intra-oral apurado,

Orientar sobre os cuidados bucais;

Verificar exame radiográfico intra e extra bucal; com o objetivo de


identificação de focos de infecção em cavidade oral,

Estabelecer diagnóstico, identificando se há ou não necessidade de


intervenção odontológica pré-TMO;

Contato com equipe médica e dentista responsável pelo paciente para


execução de plano de tratamento visando eliminação de patologias bucais
que possam ser fator de pior prognóstico durante TMO.

Durante a internação do paciente para a realização do TMO, a equipe de


Odontologia tem como funções:

Acompanhamento diário do paciente, incluindo sábados, domingos e


feriados, cada visita com duração média de 30 minutos;
33

Reforçar as instruções de Higiene Oral. O paciente é orientado a utilizar


escova-dental em qualquer situação, foi dental em determinadas
situações, colutório sem álcool; hidratação labial.

Controlar doenças oportunistas através de exame clínico minucioso diário;

Tratamento de xerostomia;

Controle de sangramentos em cavidade oral;

Monitorar possíveis intercorrências odontológicas;

Laserterapia em baixa intensidade: é protocolo na Unidade de TMO do


HIAE. O Laser é iniciado um dia após o condicionamento e seguido
diariamente até a “pega da medula”. São irradiadas áreas como mucosa
jugal bilateral, bordo de língua, palato, assoalho bucal e mucosa labial.
São utilizados de 6 a 8 J/cm².

II: Sem Cirurgião-Dentista

Essa situação ocorreu em 2000, 2001, 2002 e no início de 2003. Nesse


período o paciente não tinha contato com o Cirurgião-Dentista imediatamente antes
da internação e nem durante todo o período de internação do TMO. Os cuidados
básicos de higiene oral eram feitos pela equipe de enfermagem, foram encontrados
nos prontuários dos pacientes prescrições frequentes de Cepacol, Biotene e
Nistatina. A avaliação da mucosa oral era realizada diariamente pelas enfermeiras e
também pela equipe médica.

 Regimes Quimioterápicos

Como os trabalhos científicos mostraram um consenso de que o tipo de


transplante e o regime quimio/radioterápico são fatores de risco para Mucosite Oral,
desenvolvemos o quadro 4.2, que sugere uma classificação desse esse risco em
muito alto, alto e moderado, para efeito de comparação entre os dois grupos, com e
sem atendimento odontológico, partindo do principio de que poderia haver
modificações de protocolos quimioterápicos em função do tempo. Esse quadro foi
baseado na leitura dos seguintes trabalhos (Wardley et al., 2000; Barasch; Peterson,
2003; Schubert et al., 2007; Blijlevens et al., 2008; Vokurka et al., 2009).
34

Risco MO Muito Alto Alto Moderado


Mel X
BEAM X
Flu/Mel X
Bu/Cyclo X
Bu/Flu X
Flu/Cyclo X
CBV X
Mtx X
TBI X
Quadro 4.2. Risco para MO x Quimioterápicos utilizados em TMO

 Avaliação Econômica

A partir dos trabalhos desenvolvidos por Sonis et al. (2001) e Vera-Llonch et al.
(2007), que correlacionaram efeitos clínicos da MO com custos hospitalares,
delineamos nosso trabalho.
Para colaboração na análise econômica desse estudo foi solicitado ao
departamento comercial de um Hospital particular de São Paulo o custo da diária
hospitalar do Transplante de Medula Óssea nas seguintes situações:
1) Diária hospitalar em situação normal de TMO com uso de medicação e
necessidade de cuidados básicos = R$ 2.290,61/dia
2) Diária hospitalar em situação de TMO com uso de medicação e necessidade
de cuidados básicos + necessidade de analgésico opióide = R$ 2.908,61/dia
3) Diária hospitalar em situação de TMO com uso de medicação e necessidade
de cuidados básicos + uso de NPP = R$ 3.191,28/dia
4) Diária hospitalar em situação de TMO com uso de medicação e necessidade
de cuidados básicos + necessidade de analgésico opióide + uso de NPP = R$
3.809,28/dia
35

Para a formação de preço do atendimento odontológico, iremos seguir o


recomendado por Kotler (2002):
1°) Listar os custos fixos;
2°) Determinar os custos variáveis por procedimento (TMO);
3°) Acrescentar a margem de lucro esperada por procedimento;
Para assim termos a equação: Custo Fixo + Custo Variável + Lucro = PREÇO FINAL

 Estatística

Uma análise descritiva, com base em tabelas de freqüências e testes Qui-


quadrado (ou exato de Fisher, quando este se mostrou mais apropriado), foi feita
com o objetivo de verificar a associação estatística entre as variáveis de interesse.
Estimativas dos riscos relativos (RR), com intervalos de confiança de 95% (IC
95%), foram calculadas para avaliar a associação entre o desfecho (grau máximo) e
as variáveis explicativas de interesse.
O tempo médio de internação (em dias) nos diferentes protocolos e tipos de
transplantes foi comparado por meio de um modelo de análise de variância
(ANOVA) com dois fatores: protocolo (com 2 níveis: sem e com acompanhamento do
dentista) e tipo de tx (com 2 níveis: autólogo e alogênico). A existência de um
possível efeito de interação entre estes fatores também foi avaliada.
Valores de p menores que 0,05 foram considerados como estatisticamente
significantes.

 Considerações Éticas

O projeto de pesquisa foi apresentado ao Comitê de Ética do Hospital Israelita


Albert Einstein, sendo analisado e aprovado em 25 de agosto de 2009. O número do
processo CAAE é: 0141.0.028.000-09. Anexo A.
36

5 RESULTADOS

 Resultados Clínicos:

Esse estudo se propôs a avaliar os prontuários dos pacientes submetidos ao


TMO no HIAE de 2000 a 2008. Nesse período foram realizados 287 transplantes.
Desses, 33 foram a óbito antes de finalizar o TMO e, por isso, foram desprezados da
amostra, 87 não apresentavam todos os dados necessários ou não estavam
disponíveis para análise e, assim, foram descartados. Portanto, a amostra desse
estudo contém 167 pacientes, sendo que 54,5% tiveram o acompanhamento do
Cirurgião-Dentista durante TMO e 45,5% não tiveram.
A Tabela 5.1 mostra a distribuição de toda a amostra com relação ao gênero,
protocolo incluindo ou não o Cirurgião-Dentista e tipo de transplante de medula
óssea.

Tabela 5.1- Distribuição dos participantes segundo gênero, tipo de protocolo e tipo
transplante. São Paulo, 2010
Variável Categoria N %
Gênero Masculino 105 62,87
Feminino 62 37,13

Protocolo Com dentista 91 54,49


Sem dentista 76 45,51

Transplante Autólogo 130 77,84


Alo Aparentado 25 14,97
Alo Não Aparentado 12 7,19
37

Ao dividirmos a amostra em dois grupos, um com atendimento odontológico e o


outro sem, encontramos 58% dos pacientes do gênero masculino e 42% do feminino
no grupo com Cirurgião-Dentista e 68% masculino e 32% feminino no grupo sem
Cirurgião-Dentista. Entretanto essa diferença não é estatisticamente significante
entre os grupos. (Tabela 5.2).
As doenças de base também foram avaliadas, as mais frequentes em ambos
os grupos foram MM e LNH. Entretanto, não houve diferença estatisticamente
significante, como mostra a Tabela 5.2. Já o tipo de transplante apresentou
diferença significativa, uma vez que no grupo com Cirurgião-Dentista foram
realizados 68% de TMO autólogo e 32% de alogênico e no sem Cirurgião-Dentista
foram realizados 89,5% de TMO autólogo e 10,5% de alogênico.

Tabela 5.2- Distribuição dos participantes de cada protocolo segundo gênero,


diagnóstico, tipo de transplante. São Paulo, 2010
Variável Protocolo

Com Dentista Sem Dentista


N % n %
Gênero Masculino 53 58,24 52 68,42
(p=0,175) Feminino 38 41,76 24 31,58

Diagnóstico LLA 8 8,79 1 1,32


(p=0,321) LMA 12 13,19 11 14,47
MM 21 23,08 24 31,58
LNH 24 26,37 17 22,37
LH 8 8,79 8 10,53
Outros 18 19,78 15 19,74

Transplante Autólogo 62 68,13 68 89,47


(p=0,002) Alo Aparentado 18 19,78 7 9,21
Alo Não Aparentado 11 12,09 1 1,32
38

Ao avaliarmos os quimioterápicos separadamente os dois grupos são


semelhantes, apresentando diferença significativa apenas com uso de Fludarabina e
de TBI, que foram mais frequentes no grupo com Cirurgião-Dentista. Abaixo segue
a Tabela 5.3 com as principais drogas utilizadas em cada grupo.

Tabela 5.3- Distribuição dos participantes de cada protocolo segundo os


quimioterápicos utilizados no condicionamento pré-TMO. São Paulo, 2010
Variável Protocolo

Com Dentista Sem Dentista


N % n %
Ciclofosfamida Sim 39 42,86 34 44,74
(p=0,807) Não 52 57,14 42 55,26

Fludarabina Sim 16 17,58 1 1,32


(p=0,001) Não 75 82,42 75 98,68

BCNU Sim 29 31,87 26 34,21


(p=0,748) Não 62 68,13 50 65,79

Ara-C Sim 12 13,19 7 9,21


(p=0,420) Não 79 86,81 69 90,79

Melfalan Sim 38 41,76 40 52,63


(p=0,161) Não 53 58,24 36 47,37

Etoposide Sim 31 34,07 32 42,11


(p=0,286) Não 60 65,93 44 57,89

Bussulfan Sim 13 14,29 12 15,79


(p=0,786) Não 78 85,71 64 84,21

TBI Sim 13 14,29 4 5,26


(p=0,055) Não 78 85,71 72 94,74

Outros Sim 8 8,79 7 9,21


(p=0,925) Não 83 91,21 69 90,79
39

A Tabela 5.4 também mostra os quimioterápicos utilizados no TMO, porém sob


a forma de regime, ou seja, já combinados. Levando em consideração o quadro 4.2,
o qual faz uma gradação do risco para MO, encontramos 61,54% dos regimes com
muito alto e alto risco para MO no grupo de pacientes que foram submetidos ao
atendimento odontológico, enquanto que no grupo sem Dentista esse número cai
para 52,27%.

Tabela 5.4- Distribuição dos participantes de cada protocolo segundo o regime


quimioterápico utilizado no TMO. São Paulo, 2010
Variável Protocolo

Com Dentista Sem Dentista


N % N %

Regime quimioterápico CBV 16 17,58 21 27,63


Melfalan
BEAM
(p=0,019) 38 41,75 40 52,63
Mel/Flu
Mel/Bu
Cyclo/TBI 10 11 2 2,64
Bu/Flu 8 8,79 0 0
Flu/Cyclo
11 12,09 9 11,84
Cyclo
Outros 8 8,79 4 5,26
40

O gráfico 5.1 permite uma melhor comparação dos regimes quimioterápicos


utilizados em nosso estudo, em cada grupo.

Gráico 5.1- Condicionamentos pré-TMO utilizados em cada um dos grupos

A Tabela 5.5 mostra a profilaxia para DECH utilizada em cada grupo. Vale a
pena destacar que no grupo com Cirurgião-Dentista o Mtx foi usado em 22% dos
pacientes e no sem Dentista 7,9%, que foi estatisticamente significante.

Tabela 5.5- Distribuição dos participantes de cada protocolo segundo a profilaxia


para DECH. São Paulo, 2010
Variável Protocolo

Com Dentista Sem Dentista


(p= 0,000) N % N %
Nada 63 69,23 67 88,16
CSA 1 1,10 2 2,63
CSA+ MMF 6 6,59 1 1,32
CSA+Mtx 1 1,10 6 7,89
CSA+Prograf 1 1,10 0 0
Mtx+Prograf 19 20,88 0 0
41

Em cada grupo foi avaliado o uso de NPP durante o TMO de uma forma geral e
em três momentos separadamente: até o dia +5, entre os dias +6 e +10 e depois do
+11. No grupo com atendimento odontológico o uso de NPP foi de 9,8% e no sem
Cirurgião-Dentista foi de 19,7%. A Tabela 5.6 mostra essa distribuição.

Tabela 5.6- Distribuição dos participantes de cada protocolo segundo o uso de


nutrição parenteral (NPP) durante TMO. São Paulo, 2010
Variável Protocolo

Com Dentista Sem Dentista


n % n %
NPP Sim 9 9,89 15 19,74
(p=0,071) Não 82 90,11 61 80,26

NPP até D+5 Sim 5 5,49 10 13,16


(p=0,085) Não 86 94,51 66 86,84

NPP D+6 a D+10 Sim 8 8,79 15 19,74


(p=0,041) Não 83 91,21 61 80,26

NPP D+11 ou mais Sim 6 6,59 12 15,79


(p=0,056) Não 85 93,41 64 84,21
42

Com o objetivo de verificar a possível presença de mucosite gastrointestinal, foi


avaliada a presença de diarréia durante o TMO. Para descartar possibilidade de a
diarréia ser causada por infecção, foi checado o resultado da cultura dessa diarréia.
A Tabela 5.7 mostra que no grupo com Cirurgião-Dentista houve maior presença de
diarréia, mas sem ser estatisticamente significante.

Tabela 5.7- Distribuição dos participantes de cada protocolo segundo presença de


diarréia com análise de cultura para checar infecção durante TMO. São
Paulo, 2010
Variável Protocolo

Com Dentista Sem Dentista


n % n %
Diarréia Sim 72 79,12 56 73,68
(p=0,408) Não 19 20,88 20 23,35

Cultura Positiva 1 1,37 1 1,67


(p=0,889) Negativa 72 98,63 59 98,50

Diarréia até D+5 Sim 53 58,24 28 36,84


(p=0,006) Não 38 41,76 48 63,16

Diarréia D+6 a D+10 Sim 49 53,85 33 43,42


(p=0,180) Não 42 46,15 43 56,58

Diarréia D+11 ou
Sim 18 19,78 21 27,63
mais
(p=0,232) Não 73 80,22 55 72,37
43

As Tabelas 5.8 e 5.9 mostram o uso de analgésico em cada grupo.


A necessidade de analgésico é semelhante nos dois grupos, porém quando
avaliamos o tipo de analgésico, verificamos que o uso dos opióides foi bem mais
frequente no grupo sem Cirurgião-Dentista, apresentado diferença estatisticamente
significante.
Na Tabela 5.8 podemos ver de forma detalhada os analgésicos utilizados
durante TMO e o número de dias que foi usado em cada grupo. É possível constatar
que todos os tipos de analgésicos foram mais utilizados no grupo sem atendimento
odontológico, com exceção do Buscopan que foi mais frequente no grupo com
Cirurgião-Dentista.

Tabela 5.8- Distribuição dos participantes de cada protocolo segundo uso de


analgésico durante TMO. São Paulo, 2010
Variável Protocolo

Com Dentista Sem Dentista


n % n %
Analgésico Sim 88 96,70 76 100
(p=0,110) Não 3 3,30 0 0

Não Opióide Positiva 88 96,70 76 100


(p=0,110) Negativa 3 3,30 0 100

Opióide Sim 46 50,55 60 78,95


(p=0,000) Não 45 49,45 16 21,05
44

Tabela 5.9- Distribuição dos participantes de cada tipo de protocolo segundo média de
uso de analgésico. São Paulo, 2010
Média DP Min Máx
Dipirona Com Dentista 4,82 3.78 0 19
Sem Dentista 6,68 4.88 0 31

Paracetamol Com Dentista 0,57 1.58 0 9


Sem Dentista 1,08 1.90 0 11

Tramal Com Dentista 0,63 1.63 0 11


Sem Dentista 1,67 2.54 0 13

Buscopan Com Dentista 1,39 2.99 0 19


Sem Dentista 0.92 2.36 0 13

Dimorf no soro Com Dentista 2,71 3.75 0 15


Sem Dentista 6,06 4.80 0 24

PCA/ + Morfina Com Dentista 0,44 1.37 0 7


Sem Dentista 1,39 2.57 0 10

Dormonide Com Dentista 0 0 0 0


Sem Dentista 0,90 2.87 0 15

Dolantina Com Dentista 0,03 0,31 0 3


Sem Dentista 0,60 2.32 0 19

Fentanil Com Dentista 0,52 2.93 0 25


Sem Dentista 0,49 2.29 0 15

Total Com Dentista 7,67 4.76 0 21


Sem Dentista 11,09 5.59 3 31
45

Foi avaliada também a presença de dor em cavidade oral e dor ao deglutir


durante todo o TMO. As Tabelas 5.10 e 5.11 mostram os resultados em três
momentos do transplante, até o dia +5, entre os dias +6 e +10 e após o dia +11.
Como se observa, no grupo com Cirurgião-Dentista 37,4% dos pacientes relataram
dor em boca e no grupo sem o Cirurgião-Dentista 94,7%, sendo a diferença
estatisticamente significante. A dor ao deglutir também foi significativamente menos
frequente no grupo de pacientes que receberam atendimento odontológico.

Tabela 5.10- Distribuição dos participantes de cada protocolo segundo presença de


dor em cavidade oral durante TMO. São Paulo, 2010
Variável Protocolo

Com Dentista Sem Dentista


N % N %
Dor em cavidade oral Sim 34 37,36 72 94,74
(p=0,000) Não 57 62,64 4 5,26

Dor até D+5 Sim 17 18,68 49 64,47


(p=0,000) Não 74 81,32 27 35,53

Dor D+6 a D+10 Sim 27 29,67 69 90,79


(p=0,000) Não 64 70,33 7 9,21

Dor D+11 ou mais Sim 4 4,40 26 34,21


(p=0,000) Não 87 95,60 50 65,79

Tabela 5.11- Distribuição dos participantes de cada protocolo segundo presença de


dor ao deglutir durante TMO. São Paulo, 2010
Variável Protocolo

Com Dentista Sem Dentista


N % N %
Dor ao deglutir Sim 61 67,03 62 81,58
(p=0,034) Não 30 32,97 14 18,42

Dor até D+5 Sim 44 48,35 49 64,47


(p=0,037) Não 47 51,65 27 35,53

Dor D+6 a D+10 Sim 50 54,95 56 73,68


(p=0,012) Não 41 45,05 20 26,32

Dor D+11 ou mais Sim 15 16,48 19 25,00


(p=0,173) Não 76 83,52 57 75,00
46

Outras variáveis estudas foram a presença de febre e de infecção, sendo a


primeira mais presente no grupo sem Cirurgião-Dentista, inclusive com diferença
estatisticamente significante, já a infecção foi semelhante nos dois grupos, como
mostra a tabela 5.12.

Tabela 5.12- Distribuição dos participantes de cada protocolo segundo presença


febre (≥37.8°C) e infecção durante TMO. São Paulo, 2010
Variável Protocolo

Com Dentista Sem Dentista


n % N %
Febre (≥37.8°C) Sim 60 65,93 66 86,84
(p=0,002) Não 31 34,07 10 13,16

Febre até D+5 Sim 38 41,76 40 52,63


(p=0,161) Não 53 58,24 36 47,37

Febre D+6 a D+10 Sim 38 41,76 47 61,84


(p=0,010) Não 53 58,24 29 38,16

Febre D+11 ou mais Sim 15 16,48 22 28,95


(p=0,053) Não 76 83,52 54 71,05

Infecção Sim 12 13,19 11 14,47


(p=0,810) Não 79 86,81 65 85,53
47

A Tabela 5.13 mostra a média em cada protocolo, com e sem Cirurgião-


Dentista, em relação a idade, uso de NPP, dias de diarréia e dias de febre. A média
de idade foi semelhante nos dois grupos, sendo 44 anos no protocolo com Cirurgião-
Dentista e 42 no protocolo sem o Dentista. A média de dias com diarréia foi um
pouco maior no grupo com Dentista e o uso de NPP e a frequência de febre maior
no grupo sem Dentista.

Tabela 5.13- Distribuição dos participantes de protocolo segundo idade, dias de


NPP, dias de Diarréia e dias de Febre. São Paulo, 2010
Média DP Min Máx
Idade Com Dentista 44,87 18.26 1 76
Sem Dentista 42,02 15.63 6 69

Dias NPP Com Dentista 0,87 2.94 0 14


Sem Dentista 2,34 5.32 0 26

Dias Diarréia Com Dentista 3,15 3.11 0 17


Sem Dentista 2,34 2.06 0 8

Dias Febre Com Dentista 1,93 2.36 0 11


Sem Dentista 3,28 2.78 0 17
48

Ao levar em consideração o pior grau de mucosite oral apresentado durante o


TMO em cada protocolo, temos no grupo com Cirurgião-Dentista 95,6% dos
pacientes com grau I e II e no grupo sem Cirurgião-Dentista 61,8% nos graus III e IV,
como mostra a Tabela 5.14. Já na Tabela 5.15 temos a média do número total de
dias com mucosite, além da média de dias com dor em cavidade oral e ao deglutir.
Os pacientes sem atendimento odontológico ficaram em média 7 dias a mais com
mucosite oral.

Tabela 5.14- Distribuição dos participantes de cada protocolo segundo grau máximo
de mucosite oral apresentado durante TMO. São Paulo, 2010
Variável Protocolo

(p=0,000) Com Dentista Sem Dentista


N % N %
Grau I 51 56,04 5 6,58

Grau II 36 39,56 24 31,58

Grau III 4 4,40 32 42,11

Grau IV 0 0 15 19,74

Tabela 5.15- Distribuição dos participantes de protocolo segundo dor em cavidade oral,
dor ao deglutir e dias totais de Mucosite Oral. São Paulo, 2010
Média DP Min Máx
Dor cavidade oral Com Dentista 1,24 1.97 0 8
Sem Dentista 6,26 4.04 0 26

Dor deglutir Com Dentista 3,82 3.65 0 16


Sem Dentista 5,76 4.75 0 26

Dias Mucosite Oral Com Dentista 8,13 3.80 2 18


Sem Dentista 15,84 6.48 4 38
49

A Tabela 5.16 apresenta estimativas dos riscos relativos de ter atingido um


determinado grau máximo. Os resultados mostram que o risco de um paciente sem
acompanhamento do Cirurgião-Dentista atingir grau III ou IV é 14,1 (I.C.95%: 5,3 a
37,3) vezes este mesmo risco para aqueles que tiveram acompanhamento do
dentista. Corrigindo esta associação pelo tipo de transplante (e, sendo que os riscos
relativos mostraram-se homogêneos para as diferentes categorias de tipo de
transplante, como comprovado no teste de homogeneidade de M-H: p=0,817, que é
uma condição necessária para a estimação do RR corrigido), o RR continua sendo
significante, cujo valor estimado foi 16,8 (I.C.95%: 5,8 a 48,9), o que é observado na
Tabela 5.17.

Tabela 5.16- Distribuição percentual do grau máximo de MO segundo tipo de protocolo e


estimativas do risco relativo (RR). São Paulo, 2010

Grau Máximo de MO
I II III e IV
n % n % n %

Com Dentista 51 56 36 39,9 4 4,4

Sem Dentista 5 6,6 24 31,6 47 61,8

RR* 0,1 0,8 14,1


IC 95% 0,1 ; 0,3 0,5 ; 1,2 5,3 ; 37,3
p<0,001 p=0,284 p<0,001
Valor de p referente ao teste para avaliar efeito significante do RR
RR* tendo “com Dentista” como categoria de referência.
50

Tabela 5.17- Frequência do tipo de transplante segundo grau máximo de MO. São Paulo. 2010

Grau Máximo de MO
Tipo de Tx Protocolo I II III ou IV Total
Autólogo Com Dentista 37 23 2 62
Sem Dentista 5 24 39 68
Total 42 47 41 130
Alogênico Com Dentista 14 13 2 29
Sem Dentista 0 0 8 8
Total 14 13 10 37
Total 56 60 51 167
51

Em nosso estudo pudemos analisar o comportamento da MO ao longo de todo


o TMO, pois no momento da coleta de dados, construímos nossa tabela com a
alteração do grau de MO atrelada ao dia na qual ocorreu essa alteração. Esse
formato foi do início da MO até a regressão para uma mucosa oral sadia, ou seja
grau zero, ou até a alta do paciente.
O comportamento do grau de MO ao longo dos dias de internação pode ser
observado nos Gráficos 5.2 e 5.3, que apresentam, respectivamente, os perfis dos
pacientes sem e com acompanhamento do Cirurgião-Dentista.

Gráfico 5.2- Dispersão entre grau MO e o dia da alteração, para os perfis dos pacientes sem
acompanhamento do dentista
52

Gráfico 5.3- Dispersão entre grau MO e o dia da alteração, para os perfis dos pacientes com
acompanhamento do dentista

Comparando estes gráficos (5.2 e 5.3), nota-se claramente uma maior


porcentagem de pacientes com grau maior do que II no grupo sem atendimento
odontológico, sendo que nenhum paciente acompanhado pelo Cirurgião-Dentista
atingiu grau IV. Além disso, nota-se um padrão de queda do grau de MO mais
precoce entre os pacientes do grupo com atendimento odontológico e também é
possível observar nesse grupo um menor tempo para resolução do quadro de MO.
Nesses gráficos o dia zero é considerado o início do condicionamento pré-TMO,
assim, com relação aos dias críticos para MO, enquanto no grupo dos pacientes que
receberam atendimento odontológico esse período compreendeu os dias 7 a 12, no
grupo sem atendimento odontológico foi do dia 5 a 18.
53

O ajuste do modelo ANOVA foi feito utilizando-se a variável resposta “tempo de


internação” transformada, no caso, utilizou-se o “logaritmo do tempo de internação”.
Esta transformação foi necessária devido à fuga da suposição de normalidade dos
dados.

A análise não mostrou interação entre as médias dos tempos segundo tipo de
protocolo e de transplante (p=0,302). Assim, um novo ajuste considerando apenas
os efeitos principais foi realizado. Este ajuste indicou que a média do tempo é
significantemente menor entre os autólogos (24,0 dias), quando comparada à média
dos alogênicos (35,4 dias), com p<0,001. Porém, não houve diferença significante
entre as médias dos dois protocolos (p=0,085). (Tabela 5.18)

No entanto, a análise dos resíduos do modelo apontou dois pacientes (#29 e


#108) que apresentaram um padrão diferente do esperado, de acordo com o
conjunto de dados em questão. Um novo ajuste do modelo desconsiderando os
pacientes #29 e #108 mostrou que, neste caso, o tipo de protocolo passa ser
significante (com p=0,023), sendo o tempo médio de internação maior entre os
pacientes sem acompanhamento do Cirurgião-Dentista (Tabela 5.19; Figura 5.4).

Tabela 5.18- Medidas descritivas do tempo de internação (em dias), segundo tipo de
transplante e protocolo. São Paulo, 2010
Tipo de Desvio
Protocolo N Média Mediana Mínimo Máximo
transplante Padrão
Com dentista Autólogo 62 23,3 8,7 21,5 16,0 78,0
Alogênico 29 34,1 10,1 31,0 22,0 66,0
Total 91 26,8 10,5 25,0 16,0 78,0
Sem dentista Autólogo 68 24,6 8,8 22,0 17,0 67,0
Alogênico 8 39,8 7,4 39,5 31,0 53,0
Total 76 26,2 9,8 22,0 17,0 67,0
Total Autólogo 130 24,0 8,8 22,0 16,0 78,0
Alogênico 37 35,4 9,8 31,0 22,0 66,0
Total 167 26,5 10,1 23,0 16,0 78,0
54

Tabela 5.19- Medidas descritivas do tempo de internação (em dias), segundo tipo de transplante e
protocolo, desconsiderando os pacientes #29 e #108. São Paulo, 2010
Tipo de Desvio
Protocolo N Média Mediana Mínimo Máximo
Transplante padrão
Com dentista Autólogo 61 22,4 5,2 21,0 16,0 40,0
Alogênico 29 34,1 10,1 31,0 22,0 66,0
Total 90 26,2 9,0 24,5 16,0 66,0
Sem dentista Autólogo 67 24,0 7,1 22,0 17,0 63,0
Alogênico 8 39,8 7,4 39,5 31,0 53,0
Total 75 25,6 8,6 22,0 17,0 63,0
Total Autólogo 128 23,2 6,3 22,0 16,0 63,0
Alogênico 37 35,4 9,8 31,0 22,0 66,0
Total 165 25,9 8,8 23,0 16,0 66,0

Autólogo Alogênico
50
Dias de internação

45
(média +/- d.p.)

40
35
30
25
20
15
10
Com dentista Sem dentista

Figura 5.4. Média e desvio padrão (d.p.) do tempo de internação (em dias), segundo
tipo de transplante e protocolo
55

 Resultados Econômicos:

Para a formação de preço do protocolo com Cirurgião-Dentista foi aplicada a


fórmula:

Custo Fixo + Custo Variável + Lucro = Preço Final.

Considerações e adequações para o âmbito hospitalar:


Custo do equipamento de Laser em Baixa Intensidade: R$ 6.000,00. O
aparelho é utilizado diariamente, portanto, temos que considerar que
após dois anos será substituído. Dessa maneira, temos um custo fixo
mensal de R$ 250,00.
Mão-de-obra: Para realizar o protocolo são necessárias visitas
hospitalares diárias por profissional Dentista especializado, com duração
de 30 minutos durante todo o TMO. Com base no mercado, os
honorários por hora são de R$ 300,00. Utilizando a média de tempo de
internação encontrada em nosso trabalho, 26 dias, temos: R$ 150,00
(visitas de 30 minutos) X 26 dias, o que resulta em um valor de mão-de-
obra de R$ 1.200,00 por paciente por transplante. Como o atendimento
odontológico é diário, inclusive aos sábados, domingos e feriados, são
necessários pelo menos dois Cirurgiões-Dentistas. Portanto, a parte do
custo variável composta pela mão-de-obra é R$ 2.400,00.
Devemos considerar 15% do preço final referente ao imposto.
É importante acrescentar um lucro de 10% do preço final para
investimento em formação, principalmente congressos e confecção de
material de divulgação.

O resultado da aplicação desses itens na fórmula é:

250 + 2.400 + 0,15P + 0,10P = P

P = R$ 3.533,00/paciente/transplante
56

Análise de Custo-Efetividade: redução de morbidade

A partir das observações realizadas nesse estudo foi possível desenhar uma
árvore de probabilidades de os eventos relacionados à mucosite oral ocorrerem em
cada grupo. Considerando que o risco de um paciente desenvolver MO grau III e IV
é 13 vezes maior no grupo sem atendimento odontológico.

Figura 5.5- Árvore de probabilidade das consequências clínicas da MO observadas nesse estudo
para cada um dos grupos
57

A Tabela 5.20 mostra a associação entre grau máximo e cada uma das
variáveis associadas aos sintomas e ao uso de medicamentos, considerando, de
forma independente, cada um dos protocolos de interesse. Desta tabela observa-se
que, no grupo com atendimento odontológico, não houve indicação de associação
entre as variáveis NPP e grau máximo (p=0,446). No entanto, esta associação foi
significante no grupo sem Cirurgião-Dentista (p=0,001). Conclusão semelhante foi
obtida no caso da associação do grau máximo com febre e com infecção. Além
disso, para os dois grupos, o uso de opióides e a presença de dor na boca
apresentaram associação significante com o grau máximo.

Tabela 5.20- Distribuição percentual do grau máximo segundo variáveis associadas aos
sintomas e uso de medicamentos, para pacientes com e sem acompanhamento
do Dentista. São Paulo, 2010
PROTOCOLO
SEM DENTISTA COM DENTISTA
Grau máximo Grau máximo
I II III ou IV Total I II III ou IV Total
NPP Não 5 24 32 61 46 33 3 82
8,2 39,3 52,5 100% 56,1 40,2 3,7 100%
Sim 0 0 15 15 5 3 1 9
100,0 100% 55,6 33,3 11,1 100%
p=0,001 p=0,446
Opióides Não 4 12 0 16 36 8 1 45
25,0 75,0 0,0 100% 80,0 17,8 2,2 100%
Sim 1 12 47 60 15 28 3 46
1,7 20,0 78,3 100% 32,6 60,9 6,5 100%
p<0,001 p<0,001
Dor boca Não 2 2 0 4 48 9 0 57
50,0 50,0 100% 84,2 15,8 0,0 100%
Sim 3 22 47 72 3 27 4 34
4,2 30,6 65,3 100% 8,8 79,4 11,8 100%
p=0,003 p<0,001
Febre >37.8 Não 2 6 2 10 18 11 2 31
20,0 60,0 20,0 100% 58,1 35,5 6,5 100%
Sim 3 18 45 66 33 25 2 60
4,5 27,3 68,2 100% 55,0 41,7 3,3 100%
p=0,005 p=0,690
Infecção Não 5 24 36 65 45 30 4 79
importante 7,7 36,9 55,4 100% 57,0 38,0 5,1 100%
Sim 0 0 11 11 6 6 0 12
100,0 100% 50,0 50,0 0,0 100%
p=0,015 p=0,743
Total 5 24 47 76 51 36 4 91
6,6 31,6 61,8 100% 56,0 39,6 4,4 100%
Valor de p referente ao teste exato de Fisher.
58

Análise de Custo-Benefício:

A partir da frequência das consequências clínicas da MO descritas em cada


situação, com e sem o acompanhamento do Cirurgião-Dentista, é possível avaliar o
quanto as diferenças desses resultados podem interferir em termos monetários.
A primeira análise foi feita levando em consideração o tipo de diária hospitalar
que cada grupo necessitou com maior frequência, como mostram os Gráficos 5.6 e
5.7:

Gráfico 5.6- Distribuição dos tipos de diárias hospitalares mais frequente no grupo sem atendimento
odontológico

Gráfico 5.7- Distribuição dos tipos de diárias hospitalares mais frequente no grupo com atendimento
odontológico
59

Como sabemos que os pacientes do grupo sem o atendimento odontológico


usaram, em média, 2 dias a mais de NPP e 4 dias a mais de morfina, que é um
analgésico opióide, e considerando os valores das diárias descritos na metodologia,
temos:

R$ 3.809,28 x 2 = R$ 7.818,56
R$ 2.908,61 x 2 = R$ 5.817,22

TOTAL: R$ 13.635,78 a mais por TMO no grupo sem Dentista.

Devemos acrescentar nesses valores as médias encontradas na análise de


tempo de internação:
1) TMO autólogo: o paciente do grupo sem Cirurgião-Dentista permaneceu, em
média, 2 dias a mais internado, utilizando como base uma diária normal, temos:

R$ 2.290,61 x 2 = R$ 4.581,22
R$ 13.635,78/TMO

TOTAL: R$ 18.217,00 a mais por TMO autólogo no grupo sem Dentista.

2) TMO alogênico: o paciente do grupo sem Cirurgião-Dentista permaneceu,


em média, 5 dias a mais internado, utilizando como base uma diária normal, temos:

R$ 2.290,61 x 5 = R$ 10.109,17
R$ 13.635,78/TMO

TOTAL: R$ 23.744,95 a mais por TMO alogênico no grupo sem Dentista.


60

Análise de Custo-Utilidade:

Sendo dor um quesito importante para mensurar qualidade de vida, utilizamos


como critério para análise de custo-utilidade a dor em cavidade oral referida pelos
pacientes durante todo o período do TMO.
A figura 5.8 ilustra o custo-utilidade, como se observa quase 100% dos
pacientes do grupo sem Cirurgião-Dentista apresentaram dor em cavidade oral,
enquanto que no grupo com o Cirurgião-Dentista essa distribuição não atingiu 40%.
Portanto, nesse quesito, os pacientes com acompanhamento do Cirurgião-Dentista
tiveram melhor qualidade de vida durante TMO.

Gráfico 5.8. Número de pacientes que referiram dor em cavidade oral durante TMO, com e sem
acompanhamento do Cirurgião-Dentista
61

Análise de Custo-Minimização:

Através do cálculo para formação do preço do Cirurgião-Dentista no TMO


chegamos a um investimento de R$ 3.533,00 por paciente.
Foram encontrados também os custos adicionais do TMO sem o
acompanhamento do Cirurgião-Dentista, que para o TMO autólogo é R$ 18.217,00 e
para alogênico é R$ 23.744,95.
Assim:

1) Para TMO autólogo, o custo-minimização é:

R$ 18.217,00 – R$ 3.533,00 = R$ 14.684,00

2) Para TMO alogênico:

R$ 23.744,95 – R$ 3.533,00 = R$ 20.211,95

O custo-minimização nos mostra que o com atendimento odontológico durante


o TMO mesmo agregando uma nova tecnologia não acrescenta custo e, na verdade
gera economia para o sistema.
62

6 DISCUSSÃO

Em nosso estudo avaliamos os pacientes submetidos ao TMO no HIAE entre


2000 e 2008. O Cirurgião-Dentista foi incorporado a equipe multidisciplinar da
unidade de transplante em março de 2003. Portanto, os pacientes transplantados
em 2000, 2001, 2002 e até fevereiro de 2003 compõem o grupo de pacientes que
não receberam acompanhamento do Cirurgião-Dentista e o restante, aqueles
transplantados a partir de março de 2003 até dezembro de 2008 fazem parte do
grupo que receberam suporte odontológico durante todo TMO. Há algumas poucas
exceções com pacientes transplantados em 2003, 2004 e 2005 que não foram
submetidos ao atendimento odontológico por critério médico e, assim, se encaixam
no grupo sem Cirurgião-Dentista. A partir de 2006, por decisão do médico chefe da
unidade de TMO, o acompanhamento com o Cirurgião-Dentista passou a ser
protocolo do TMO, desde então, todos os pacientes da unidade recebem esse
tratamento.
A Mucosite Oral é uma das principais e mais debilitantes complicações do
Transplante de Medula Óssea. (Schubert et al., 1986; Borowski et al., 1994; Sonis,
1998; Peterson, 2004; Sonis, 2004a; Scully, 2006; Sonis, 2009). Sua causa é
multifatorial, podendo ter relação com o sexo, idade, tipo de transplante, regime
quimioterápico e/ou radioterápico, condição bucal do paciente, entre outros fatores.
A incidência em pacientes submetidos ao Transplante de Medula varia entre 75-
100%. (Wardley et al., 2000; Barasch; Peterson, 2003; Schubert et al., 2007;
Blijlevens et al., 2008; Vokurka et al., 2009 ).
Em nosso trabalho esses dados que possivelmente se constituem fator de risco
para MO foram coletados para cada grupo.
A literatura é controversa com relação à influência do gênero no
desenvolvimento da Mucosite Oral. Em nosso estudo em ambos os grupos o gênero
masculino foi discretamente maior que o feminino, porém sem diferença
estatisticamente significante. Esse fato nos possibilitou concluir que o gênero
apresentou a mesma influência sobre a extensão e severidade da Mucosite Oral
para ambos os grupos.
63

Alguns autores relatam que em crianças e idosos há maior chance de


desenvolvimento de mucosite, porém, assim como com o gênero, não há consenso
na literatura se a idade é mesmo um fator de risco (Barasch; Peterson, 2003).
Nesse trabalho, a média de idade ente os grupos foi bastante próxima, não se
caracterizando como fator de risco isolado para algum dos grupos. Entretanto,
pudemos observar que as idades mínimas e máximas em cada grupo foram
diferentes. Enquanto a idade dos pacientes sem acompanhamento do Dentista
variou entre 6 e 69 anos, no grupo com Cirurgião-Dentista essa variação foi de 1 a
76 anos. Esses resultados ilustram a tendência atual de realizar transplantes em
crianças cada vez menores e em pessoas com idade cada vez mais avançada.
Esses pacientes, tanto os mais novos como os mais idosos, estão no grupo com
Cirurgião-Dentista, o que nos permite sugerir que se houvesse uma chance maior de
mucosite oral em decorrência da idade, essa chance seria discretamente nesse
grupo.
Ao estudarmos os regimes quimioterápicos mais utilizados no TMO que
apareceram em nosso estudo há discreta tendência de maior risco para MO no
grupo com Cirurgião-Dentista. (Wardley et al., 2000; Barasch; Peterson, 2003;
Schubert et al., 2007; Blijlevens et al., 2008; Vokurka et al., 2009). Observamos que
em 2000 e 2001 era mais comum se utilizar como protocolo para LNH ou LH o CBV,
a partir de 2003 e principalmente depois de 2004, passou-se a utilizar como
protocolo o BEAM. Enquanto o primeiro é classificado como baixo risco para MO, o
segundo é de muito alto risco. Outra diferença importante é com relação ao TBI,
também de alto risco para MO, que com o passar dos anos passou a ser bem mais
usado, fato que ocorreu principalmente devido ao aumento do número de
transplantes alogênicos.
Esse aumento de transplantes alogênicos foi observado no grupo com
Cirurgião-Dentista, que teve três vezes mais esse tipo de transplante que o grupo
sem Cirurgião-Dentista. O transplante alogênico é um fator de maior risco para MO
devido ao maior tempo de neutropenia ao qual o paciente é submetido (Blijlevens et
al., 2008). Esse fato nos permite afirmar que nesse quesito o grupo com
atendimento odontológico apresentou tendência significativamente maior de
desenvolvimento de MO. Além disso, a profilaxia para DECH utilizada em muitos
TMO alogênico foi o Mtx, medicação classificada como muito alto risco para MO, e
64

em nosso estudo, o uso de Mtx no grupo com Cirurgião-Dentista foi maior que no
grupo sem Dentista.
Portanto, o grupo com Cirurgião-Dentista apresentou mais crianças, mais
idosos, regimes quimioterápicos mais agressivos e maior freqüência de TMO
alogênico. Dessa forma, podemos sugerir que esse grupo teve maior risco para MO.
A incidência de Mucosite Oral nesse trabalho foi de 100% para ambos os
grupos. Entretanto, ao avaliarmos a severidade da Mucosite Oral em cada grupo,
verificamos que foi bastante diferente.
Resultados semelhantes ao nosso estudo foram observados por Wardley et al.
(2000) que encontraram uma incidência de Mucosite Oral em pacientes submetidos
ao TMO de 99%. Ao avaliarmos a extensão e severidade da Mucosite Oral referida
pelos autores, os resultados também foram próximos ao nosso, mas somente no
grupo sem Cirurgião-Dentista. Enquanto Wardley et al. (2000) encontraram 67,40%
de graus III e IV, nós obtivemos 61,85%. Entretanto, ao analisarmos o grupo que foi
submetido ao protocolo com Cirurgião-Dentista somente 4,40% dos pacientes
apresentaram graus mais severos, como III e IV, a grande maioria, 95,60%, obteve
grau I ou II. Esses dados são importantes para mostrar que o grupo em estudo está
se assemelha ao descrito na literatura e que o protocolo incluindo o Cirurgião-
Dentista conseguiu controlar a extensão e severidade da MO.
Os desdobramentos da mucosite são bastante conhecidos e observados em
diversos estudos. As conseqüências clínicas mais frequentes citadas na literatura
são: dor em cavidade oral, dor ao deglutir, presença de diarréia, febre, maior
suscetibilidade a infecções, necessidade de alimentação parenteral e maior suporte
de analgésico opióide. (Borowski et al., 1994; Ruescher et al., 1998; Sonis, 1998;
Fonseca, 1999; Wardley et al., 2000; Ducan; Grant, 2003; Scully et al., 2003; Sonis
et al., 2004; Blijlevens et al., 2008; Ohbayashi, 2008; Sonis, 2009).
Em nosso estudo avaliamos cada uma dessas consequências geradas pela
Mucosite, a saber:
Diarréia: a presença de diarréia foi discretamente maior no grupo com
Cirurgião-Dentista. O dado importante é que foi avaliado também se a
causa da diarréia era infecciosa e em ambos os grupos a cultura foi
negativa em mais de 98% dos pacientes. Dessa maneira, podemos
sugerir que o motivo da diarréia foi a mucosite e que no grupo com
Cirurgião-Dentista os pacientes apresentaram mais mucosite intestinal
65

que os pacientes do grupo sem Dentista. Essa constatação corrobora


com as análises que fizemos dos regimes quimioterápicos e do tipo de
transplante, os quais mostraram tendência a um maior risco de
mucosite para o grupo com Cirurgião-Dentista.

Dor em cavidade oral: no protocolo com Cirurgião-Dentista o relato de


dor em cavidade oral foi muito menos frequente que no grupo sem
acompanhamento do Cirurgião-Dentista. Essa diferença foi
estatisticamente significante nos três momentos na qual foi avaliada,
até o dia +5 do TMO, entre os dias +6 e +10 e após o +11. Em nosso
estudo ficou claro que a intervenção do Cirurgião-Dentista conseguiu
controlar a dor em boca.

Dor ao deglutir: embora o controle da dor ao deglutir não tenha sido


tão expressivo como no controle da dor em cavidade oral, a diferença
também foi estatisticamente significante, havendo menor dor a
deglutição no grupo com Cirurgião-Dentista. Esse fato pode ser
explicado pela variação de cada paciente em tolerar a aplicação do
Laser, um dos instrumentos de controle de analgesia nesse estudo, em
orofaringe e úvula, pois quando expressava muita náusea, não era
possível chegar nessa região e o controle da dor a deglutição ficava
mais prejudicado.

Analgésico: o uso de analgésico de uma maneira geral é semelhante


entre os grupos, praticamente 100% de ambos necessitaram de
medicação para dor. Entretanto, ao analisarmos a qualidade do
analgésico o quadro é diferente. Os pacientes do grupo com Cirurgião-
Dentista receberam com menos frequência analgésicos opióides
quando comparados com o grupo sem Dentista. Essa diferença foi
estatisticamente significante. Em geral os pacientes submetidos ao
TMO recebem medicações analgésicas para controlar a Mucosite de
todo trato gastrointestinal. Como observamos que a diarréia foi mais
presente no grupo com Dentista e que nesse mesmo grupo houve
significativo controle da dor em cavidade oral e da dor ao deglutir,
66

podemos sugerir que a grande necessidade de opióides no grupo sem


Dentista foi devido a MO. Além disso, o único tipo de analgésico que foi
mais utilizado no grupo com Cirurgião-Dentista quando comparado
com o sem Dentista, foi o Buscopan, que é utilizado para cólicas
abdominais, frequentes em caso de diarréia.

NPP: nossos resultados também foram condizentes com a literatura,


enquanto 10% dos pacientes necessitaram de NPP no grupo com
Cirurgião-Dentista, no outro grupo o dobro dos pacientes, 20%, tiveram
essa necessidade. A diferença foi estatisticamente significante entre os
dias +6 e +10 do TMO. Nesse item acreditamos que a diferença seria
maior se o tipo de transplante alogênico fosse realizado com maior
frequência no grupo sem Cirurgião-Dentista, uma vez que o tempo de
neutropenia é maior e, portanto, o paciente fica exposto durante mais
tempo aos efeitos colaterais do TMO, necessitando de mais
intervenções para manutenção de sua homeostasia (Sonis, 2001).
Entretanto, é importante registrarmos que dos pacientes pertencentes
ao grupo com Cirurgião-Dentista que necessitaram de NPP, 55%
apresentava mucosa oral eritematosa, sem ulceração, o que mostra
que a necessidade de suporte alimentar era por motivos não
relacionados à cavidade oral, já no grupo sem Cirurgião-Dentista 100%
dos pacientes que fizeram uso de NPP estavam com a mucosa oral
totalmente comprometida.

Febre: foi mais comum no grupo sem atendimento odontológico. A


presença de ulceração em mucosa oral pode causar aumento de
temperatura, como no grupo sem Cirurgião-Dentista 90% dos
pacientes apresentaram úlcera contra 43% no grupo com Cirurgião-
Dentista, podemos sugerir ser esse um dos possíveis motivos para a
maior frequência de febre no grupo sem Dentista.

Infecção: não houve diferença estatisticamente significante entre os


grupos. Entretanto, ao avaliarmos o grau máximo de mucosite com
infecção em grupos separados, há significativa associação somente no
67

grupo sem atendimento odontológico. É importante colocar que a dose


profilática de medicação utilizada por esses pacientes eram doses
altas, podendo servir para tratamento. Provavelmente esse fator foi o
responsável por controlar aparecimento de infecção em uma mucosa
mais suscetível, uma vez que estava ulcerada e funcionava como porta
de entrada para microorganismos.

Tempo de Internação: em ambos os tipos de transplante houve uma


indicação de que o tempo de internação foi maior no grupo sem
atendimento odontológico. Entretanto, os resultados mostram uma
vulnerabilidade dos ajustes ao conjunto de dados aqui considerado.
Por isso, as conclusões aqui obtidas devem ser encaradas de forma
indicativa, sendo necessária a continuidade da pesquisa com base em
um banco de dados maior, além do ajuste de outros modelos que se
apresentem adequados para esses dados.

Os desdobramentos clínicos desencadeados pela Mucosite Oral estão


diretamente ligados ao aumento do custo geral do Transplante de Medula Óssea,
uma vez que quanto maior a extensão e severidade da Mucosite Oral, maior
necessidade de analgésico opióide, uso de alimentação parenteral, maior risco de
infecção e de apresentar febre e mais tempo de internação. (Sonis, 2001; Vera-
Llonch et al., 2007). Foi o que constatamos em nosso estudo a partir da descrição
das conseqüências clínicas da MO.
Observamos também que o atendimento odontológico, incluindo a
Laserterapia, realizado durante o TMO, foi capaz de controlar a MO, diminuindo em
13 vezes a chance de o paciente apresentar graus severos de mucosite. Portanto,
com a redução de comorbidades provenientes da MO apresentada pelo paciente foi
gerado impacto no custo geral do tratamento. Além disso, fazendo um levantamento
do custo do atendimento odontológico, verificamos que ainda sim, há uma economia
para o hospital ao incluir o Cirurgião-Dentista na equipe multidisciplinar do TMO.
É importante colocar que o custo-benefício descrito nesse estudo foi
subestimado, pois o objetivo foi mostrar que focando apenas em consequências
diretamente relacionadas com a cavidade oral já era possível ter impacto no custo
68

geral do TMO. Entretanto, sabemos que o organismo é um só e que o impacto


provavelmente seja maior, por isso é importante continuarmos com estudos que
correlacionem clínica e economia, uma vez que os recursos são escassos e a
demanda é cada vez maior.
Portanto, é fundamental encontrarmos terapias que sejam eficazes, efetivas e
eficientes.
69

7 CONCLUSÕES

Pelo trabalho desenvolvido, é possível delinear as seguintes conclusões:

A extensão e a severidade da Mucosite Oral foram maiores no grupo sem


atendimento odontológico.
O atendimento odontológico durante o TMO, quando praticado da forma
descrita nesse estudo, é custo-efetivo, sendo capaz de reduzir as morbidades
clínicas do TMO.
Os benefícios do atendimento odontológico durante o TMO, quando praticado
da forma descrita nesse estudo, excederam os custos e, portanto, devem ser
adotados.
Os pacientes que tiveram o acompanhamento do Cirurgião-Dentista
apresentaram melhor qualidade de vida durante TMO.
O atendimento odontológico durante o TMO, quando praticado da forma
descrita nesse estudo, gera economia para o hospital.
70

1
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