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ANÁLISE DA INSTABILIDADE ESTRUTURAL EM GALPÕES PRÉ-MOLDADOS COM

LIGAÇÕES SEMIRRÍGIDAS USANDO O COEFICIENTE Z

ANALYSIS OF THE STRUCTURAL INSTABILITY OF PRECAST SHEDS WITH


SEMIRIGID CONNECTIONS USING Z COEFFICIENT

Nery Knoner (P)(1); Fernando M. Almeida Filho (2); Roberto C. Carvalho (3)

(1) Eng. civil, Mestrando, PPGECiv/UFSCar, São Carlos-SP, Brasil.


(2) D.Sc., Prof. Adjunto, PPGECiv/UFSCar, São Carlos-SP, Brasil.
(3) D.Sc., Prof. Associado, PPGECiv/UFSCar, São Carlos-SP, Brasil.
Endereço para correspondência: neryknoner@hotmail.com; (A) Apresentador

Resumo
A verificação da instabilidade global de estruturas de edificios com mais de quatro andares pode ser feita
segundo a norma Brasileira 6118, de forma rápida usando o coeficiente “ɣz”. Para estruturas do tipo galpão
industrial executado com estruturas pré-fabricadas, aporticadas e ainda com ligação semirrígida, em função
do número reduzido de andares teria que ser calculado com processos de análise não linear geométrica tais
como o P-∆. Este trabalho procura mostrar que em diversas situações o procedimento do coeficiente “ɣz”
também pode ser aplicado para avaliar com precisão o efeito da segunda ordem neste tipo de estrutura. A
vantagem em usar este procedimento, além da sua simplicidade e rapidez, está em poder avaliar se a
estrutura pode ser classificada de nós deslocáveis ou não, ou mesmo se é demasiadamente esbelta. Mostra-se
também como pode ser feito um cálculo simples quando a ligação viga-pilar é semirrígida. Por fim, é
mostrado um procedimento simplificado no qual as dimensões do pilar são pré-dimensionadas para que o
pórtico funcione como de nós fixos.
Palavras-chave: Concreto pré-moldado, ligações, galpões, estabilidade global.

Abstract
The verification of the global instability of buildings structures over than four floors can be made, according
to the Brazilian standard (ABNT NBR 6118), using the "z" coefficient. For industrial shed buildings with
precast structures, framed and with semi-rigid connections, with a reduced number of floors must be
calculated with nonlinear procedures such as P-∆ analysis. This paper shows many situations the procedure
of the "z" coefficient can also be applied to accurately evaluate the second order effect on this kind of
structure. The advantage of using this procedure, besides its simplicity and speed, is the capability to
evaluate whether the structure can be classified as a fixed node structure, or even if it is too slender. It is also
shown how it can be made a simple calculation when the beam-column connection is semi-rigid. Finally, is
shown a simplified procedure in which the column dimensions are pre-determined for the structure works as
a fixed node structure.
Keywords: Precast concrete, connections, sheds, global stability.

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1. INTRODUÇÃO

Nas estruturas de edifícios moldados no local normalmente existem lajes que estão apoiadas
em vigas e estas por sua vez ligadas ao pilar formando um conjunto monolítico. Nestas edificações
pode-se caracterizar pelo menos dois tipos de instabilidade como mostrado na figura 1. A global
tipificada pela instabilidade do conjunto e a local quando a instabilidade ocorre só nos pilares.

Figura 1. Prédio indicado com perspectiva esquemática e estrutura vertical indeformada (1,2).
Edificação sujeita a instabilidade global (3) e, Instabilidade local de pilares centrais inferiores (4)
(Carvalho & Pinheiro, 2009).

Nos galpões há também os pilares e as vigas em formato de vigas com tirantes ou em vigas
retas, Figura 2. A característica principal dos galpões está no fato de não possuírem lajes e,
portanto, não se poder falar em número de andares para os mesmos. Assim, diferentemente que no
edifício não há como separar a instabilidade local e global. Desta maneira, uma ideia bastante usada
no meio técnico é a de fazer a verificação da estabilidade dos pilares de galpão com procedimentos
usados para verificar a instabilidade global de edificações.

Figura 2. Esquema típico de um galpão

Alguns autores assim o fazem como é o caso de Santos (2011) que usa o procedimento de P-
∆ para calcular o efeito de segunda orden no pilar. A ideia neste artigo é usar o procedimento de
verificação com o coeficiente “ɣz”. Porém, a ABNT NBR6118 (2007) estabelece que o uso do
coeficiente é para edificação acima de 4 pavimentos. Pode-se mostrar facilmente, pelo menos
quando se considera a não linearidade geométrica, que para uma barra isolada usando o coeficiente
“ɣz” chega-se par o cálculo de momento de segunda ordem o mesmo resultado que o processo P-∆.
Através deste trabalho espera-se mostrar que em diversas situações os pilares de barracão
podem ter seu momento de segunda ordem ser avaliados pelo coeficiente “ɣz”.

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2. OBJETIVOS E JUSTIFICATIVAS

O objetivo deste artigo é fazer verificação com o coeficiente “ɣz” para o dimensionamento
de galpões pré-fabricados de concreto. A ABNT NBR 6118 estabelece que o uso do coeficiente é
para edificação acima de 4 pavimentos. Este trabalho ainda é especulativo e espera através de
procedimentos simples mostrar que em diversas situações os pilares de galpão podem ter seu
momento fletor de segunda ordem avaliados pelo coeficiente “ɣz” em estruturas com menos de 4
pavimentos. Ainda, pretende-se avaliar o uso de ligações semirrígidas no projeto de galpões pré-
fabricados de concreto, verificando a sua estabilidade e viabilidade.
A justificativa principal deste trabalho reside na contribuição ao projeto de estruturas com
menos de 4 pavimentos, que devem ser verificadas por procedimentos de estabilidade global, como
o parâmetro de instabilidade ɣz, que fornece valores qualitativos sobre a estrutura submetida a
ações de vento. Espera-se contribuir para um melhor entendimento sobre o assunto e fornecer
informações para futuros trabalhos técnicos.

3. METODOLOGIA

Este trabalho é uma pesquisa teórica sobre o assunto de estabilidade global de estruturas de
concreto com menos de 4 pavimentos, utilizando os procedimentos prescritos na ABNT NBR 6118,
tais como o parâmetro de instabilidade “ɣz”.
O procedimento básico deste é de reunir informações sobre o tema, focalizando o tema
estrutural, podendo-se dimensionar a seção do pilar, fixando-se a largura do pilar. Além disso,
obtem-se a esbeltez do pilar em função da altura da estrutura “H” e da espessura “h” do pilar
necessário para seu dimensionamento, fixando o valor do coeficiente ɣz em até 1,10, que indica que
a estrutura é de nós fixos, e comparar com o parâmetro “α”, com seus respectivos limites, ambos
estabelecidos pela norma ABNT NBR 6118.

4. ESTABILIDADE GLOBAL DE ESTRUTURAS DE CONCRETO

Determina-se de forma aproximada a majoração dos esforços globais finais com relação aos
esforços de primeira ordem e avalia-se a importância dos esforços de segunda ordem globais, seus
valores são determinandos pela seguinte equação: (01) Carvalho (2009). É fixado o valor de ɣz em
10% e fixando a largura (bw) do pilar determina-se a espessura “h” necessária em função da altura
H do pilar e de sua esbeltez.
A equação 01 mostra a formulação para o “ɣz”.

 
  (01)
Z =  =
1 1 1
=
  dos momentos devido a forças verticais   TOTAL,d 1 −  P * 
M
1 −  1−
  dos momentos de tombamento   M 1TOTAL,d F *H

Impondo a condição que z ≤1,10, tem-se a equação 02:

−1
 P * P * 
 Z  1,10  1 − ; (02)
 F * H 

F *H
Isolando δ temos:  = 0,1 * (03)
2,2 * P

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Assim, podemos estabelecer uma relação entre o deslocamento do topo da estrutura com as
ações atuantes na estrutura.

5. DIMENSIONAMENTO DE PÓRTICOS

A avaliação por processos rigorosos é feita numericamente através de análise matricial e


demanda o uso de programas computacionais. Esses procedimentos descrevem o equilíbrio na
configuração deformada. É possível também, analisar a evolução do carregamento em função do
tempo. Carvalho (2009).
Os processos simplificados são rápidos, práticos e produzem ótimos resultados. Entre
vários procedimentos existe o parâmetro “γz” que além de classificar a estrutura quanto à sua
deslocabilidade, permite, para as estruturas de nós móveis, que se obtenham os esforços de 2ª
ordem, majorando os de 1ª ordem.
Entretanto a NBR 6118:2003 cita que o parâmetro “γz” é válido somente para estruturas
reticuladas de no mínimo quatro andares. Será apresentada aqui a possibilidade de ser usada e com
bons resultados, aplicada aos galpões de um pavimento.

5.1. Pórtico com dois pilares

Considerando o pórtico de um barracão conforme figura 3 engastado na base com altura H


podemos fazer a seguinte analogia:

Figura 3. Pórtico engastado na base, momento de 2ª ordem e rotulado no topo

Pela mecânica clássica, sabe-se que o deslocamento do pórtico é expresso pela equação 04:

F *H3
 ; (04)
3 * ( E.I ) Equiv.

F *H
M = (05)
2

Igualando a equação 02 com equação 04, podemos isolar a Inércia “I”

e tem-se a equação 06:

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P*H 2
I . = 7,334. (06)
EC
b * h3
E considerando que a seção do pilar é retangular ( I = ), (07)
12
igualando as equações 06 e 07, tem-se a equação 08:

P * H 2 b * h3 88 * P * H 2
7,334. = → hnec . = 3 (08)
EC 12 Ec * b

Dessa forma, define-se a seção do pilar em função do deslocamento previamente


estabelecido. Por meio do pilar “equivalente” e ainda podemos fazer a seguinte verificação
podemos comparar a deslocabilidade do topo da estrutura, de acordo com a Figura 4.

Figura 4. Pilar equivalente e momento fletor de 2ª ordem

Temo um pilar equivalente O momento na base do pilar agora é dado pelo produto de “F”
pela altura “H” do pilar e 2P*δ, impondo a condição que ɣz ≤1,10, nas equações 02 e 03 e, o
momento de inércia dada pela equação 06, tem-se 08:

−1
 2 * P *  F *H
 Z  1,10  1 −  →   0,1.
 F *H  2,2 P

88 * P * H 2
hnec = 3 (09)
b * Ec.

Sendo esta equação 09 idêntica a equação 08, podendo-se afirmar que o pórtico funciona
como um pilar equivalente.
Assim, pode-se determinar a altura (seção dado bw) do pilar, e assim determinar o índice de
esbeltez, equação 10.

2* H
 = 3,464. (10)
hnec .

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5.2. Pórticos com três pilares

Fazendo o cálculo utilizando a mesma técnica para pórtico com dois pilares podemos utilizar
com três ou mais pilares e fazer as mesmas verificações. Utilizando a função “ɣz” obteremos para
um pórtico com três pilares alinhados, Figura 5, e a equação 10:

F *H
  0,1. (11)
3,3 * P

Fazendo uma analogia com o exemplo anterior, tem-se:

Figura 5. Pórtico com alinhamento de três pilares

Igualando as equações 03 e 10, e fazendo a mesma analogia com a equação 06, tem-se a
equação 11:

F *H3 F *H 400 * P * H 2
= 0,1. → hnec . = 3 (12)
3 * ( E.I ) Equiv. 3,3 * P Ec * b

Ainda, se valendo do mesmo procedimento considerando a esbeltez do pilar, tem-se a


equação 12:

2* H
 = 3,464. (13)
hnec .

Dessa forma, obtem-se a altura (ou espessura) necessária para cada pilar, para o pórtico com
três pilares.

5.3. Utilizando o parâmetro de instabilidade “α”

A ABNT NBR 6118 descreve o procedimento para o cálculo do parâmetro de instabilidade


“α”, por meio da seguinte expressão 14:
Nk
 = H tot . (14)
Ecs  I c

Sendo:

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Htot= altura total da estrutura, medida a partir do topo da fundação ou de um nível pouco
deslocável do subsolo;
Nk= É a somatória de todas as forças verticais atuantes na estrutura (a partir do nível
considerado para o cálculo de Htotal) com seu valor característico;
Ecs.Ic= É a somatória dos valores de rigidez de todos os pilares na direção considerada.

No caso de estruturas de pórticos, ou com pilares de rigidez variável ao longo da altura,


pode ser considerado o valor da expressão “Ecs.Ic” de um pilar equivalente de seção constante.
Carvalho (2009). comenta que a consideração da NLF no parâmetro α já está embutida na
formulação, na qual se considera uma redução de 30% no produto de rigidez, estando essa redução
já incorporada aos valores limites de “α”. Por isso, o valor de “Ecs.Ic” deve ser calculado
considerando as seções brutas dos pilares, equação14.
F  H tot
E  I EQ. = (15)
3

Figura 6. Linha elástica de pilar com rigidez equivalente.

Sendo que, os limites para os valores de α são (ABNT NBR 6118):

αlim= 0,2 + 0,1.n → para n ≤ 3


αlim= 0,6 → para n ≥ 4

Nessas equações, “n” é o número de níveis de barras horizontais (andares) acima da


fundação ou de um nível pouco deslocável do subsolo. Portanto, o valor limite de “α” para os
edifícios de um pavimento é (15):
αlim= 0,2 + 0,1 . 1 = 0,3 (16)
Dados pórtico para dimensionamento: Carga distribuída na viga 10kN/m; Força de vento
3kN/m,vão entre eixos do pilar L=10,m

Figura 7. Pórtico H=3,50m, vão central L=10,0m, carga vertical q=10kN/m, força de vento
qv=3kN/m

Pórtico com as cargas consideradas: Viga (20cmx50cm); Iviga=208333cm4; Pilar a ser


dimensionado, bw=20cm; Pilar(20x22,4 Ipilar=18732cm4; fck=25MPa, E=2380kN/cm2. Vão entre
pórticos (L) = 5,0m. Força (vento) = 0,60kN/m2, Vão entre pilaes= 10,0m, Carga vertical 10,0
kN/m. Carga P em cada pilar considerando Pp. da viga P=50,0kN, reação no topo do pilar debido a
força de vento, F=52,5kN.

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5.3.1. Pórtico Articulado

Calcular o “h” necessário dos pilares, para seu dimensionamento e verificações:


considerando livre no topo do pilar. Da equação (08=09)
88 * P * H 2
hnec = 3 = 22,40cm
b * Ec.

2* H
 = 3,464. = 108 ; 90<λ<140, pilar considerado esbelto. Da equação 10
hnec .

P*H 2 b * h3
Usando o “I” equivalentes I . = 7,334. e igualando I = , da equação 06 e 07
EC 12

P * H 2 b * h3 88 * P * H 2
7,334. = → hnec . = 3 ;
EC 12 Ec * b
1
 88 * 2 * 5000* 3502 3
Obteremos um h equivalente: hnec. =   = 28,30cm
 238000* 20 

20 * 28,303
Inércia “I” equivalente, I = = 37775cm 4
12

Logo podemos calcular o Deslocamento do pórtico equivalente a través da equação 04

F *H3 5250* 3503


 = = 0,8cm = 8mm
3 * ( E.I ) Equiv. 3 * 238000* 37775

Usando as mesmas propriedades podemos usar o programa Strap ou Fttol, onde


encontraremos os mesmos resultados:

Figura: 8 - Pórtico calculado no STRAP pórtico calculado no Ftool


1 1
Z = = = 1,00456
1−
 P * 1−
2 * 50,0 * 0,83
F *H 52,5 * 350

ɣz<1,10, conforme queríamos demonstrar.

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5.3.2. Pórtico Engastado, (base e no topo):

Repetindo os cálculos com suas características e propriedades encontramos:

0,5 * H
 = 3,464. = 27 λ1<λ<90, considerado pilar curto
hnec .
1 1
Z = = = 1,001633
1−
 P * 1−
2 * 50,0 * 0,3
F *H 52,5 * 350

5.3.3. Pórtico Engastado na base e Semirrígido no topo):

0,699 * H
 = 3,464. = 38 λ<90, considerado pilar curto
hnec .
1 1
Z = = = 1,002182
1−
 P * 1−
2 * 50,0 * 0,4
F *H 52,5 * 350

5.3.4. Parâmetro α

Nk 100,0kN
 = H tot . =  = 350. = 0,11428
Ecs  I c 238000 394072

αlim= 0,2 + 0,1.n → para n ≤ 3 , n=1; αlim= (0,2 + 0,1)=0,3

0,11428<α<0,3 considerado nós fixos. Conforme previsto.

6. LIGAÇÕES SEMIRRÍGIDAS

Uma ligação deformável pode ser tratada como sendo uma ligação rígida ou uma ligação
articulada. Para tal avaliação, a NBR 9062:2006 apresenta um coeficiente que define a rigidez
relativa de uma ligação. Trata‐se do fator de restrição à rotação “αR” definido pela equação 16:
1 
R = = 1 (16)
3  ( E  I ) sec  2
1+
K sec  Lef
Sendo:
(EI)sec= rigidez secante da viga, conforme a ABNT NBR 6118;
Lef= vão efetivo entre os apoios, ou seja, a distância entre os centros de giro nos apoios;
Ksec =rigidez secante ao momento fletor da ligação viga−pilar.
Conforme a ABNT NBR 9062, o fator de restrição à rotação pode ser interpretado como
sendo a relação da rotação θ1, da extremidade do elemento, em relação à rotação combinada θ2, do
elemento e da ligação devida ao momento de extremidade, conforme a Figura 8.

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Figura 8. Fator de restrição a rotação (ABNT NBR 9062)

A rigidez secante relativa ao momento fletor da ligação é obtida pela relação


momento‐rotação, através de uma aproximação linear obtida no diagrama momento rotação, cujo
comportamento é não‐linear. A NBR 9062:2006 ressalta que a rotação localizada na região da
ligação na extremidade da viga, associada à rigidez secante, deve ser medida no centro de giro no
apoio, conforme mostra a Figura 9.

Figura 9. Relação Momento-rotação (ABNT NBR 9062)

O termo “ligação semirrígida” teve seu uso na década de 30 nas estruturas metálicas, sendo
recentemente incorporado aos estudos de estruturas pré-moldadas. As estruturas com ligações
semirrígidas possuem um comportamento intermediário entre as ligações articuladas e as
engastadas, geralmente executadas com dispositivos que garantem determinado grau de
engastamento, como utilização de armaduras de continuidade e/ou chapas metálicas soldadas.
Optando por uma ligação semirrígida com coeficiente de engastamento de 60% da ligação
engastada (PCI Manual, 1988 & Ferreira, 1993), tem-se a equação 17:

M E 3 * r
= = 0,60 (17)
M R 2 + r

Sendo:
ME= Máximo momento permitido para situação de projeto;
MR= Máxima resistência nominal na extremidade da viga.

Determina-se a porcentagem (%) de engastamento através da equação 18 (PCI Manual,


1988; Ferreira, 1993).
3. r
%= (18)
2 +r

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A determinação do momento de inércia equivalente “Ieq”, calcula-se por meio da equação
19. (PCI Manual, 1988 & Ferreira, 1993).

r
I eq . = I viga * ( ) (19)
2 −r
Conhecendo “αr” podemos determinar “β” por meio da equação 20:

−1
 3
 r = 1 +  (20)
 

A rigidez secante (Rsec) é dada pela equação 21.

EC .I sec
Rsec =  . (21)
Lefetivo da viga
A Figura 10 (Ferreira, 2009) mostra os momentos solicitantes de admitidos para as situações
de ligação articulada, semrrígida e engastada.

Articulada Semirrígida Engastada

Figura 10. Critério de rigidez secante

O comportamento semirrígido de uma ligação é caracterizado pela sua curva característica


momento-rotação, sendo que o gradiente desta curva fornece a rigidez à flexão da ligação.

7. EXEMPLO NUMÉRICO

Pórtico com as cargas consideradas: Viga (20cmx50cm); Iviga=208333cm4; Pilar a ser


dimensionado, bw=20cm; Pilar(20x22,4 Ipilar=18732cm4; fck=25MPa, E=238ton/cm2. Vão entre
pórticos (L) = 5,0m. Força (vento) = 0,60kN/m2, Vão entre pilaes= 10,0m, Carga vertical 10,0
kN/m. Carga P em cada pilar considerando Pp. da viga P=50,0kN, reação no topo do pilar debido a
força de vento, F=52,5kN.
Utilizando os dados do exemplo, a estrutura como na Figura 11 (Ferreira, 2009) foi
modelada no programa STRAP®, sendo obtidos os seguintes resultados conforme pórtico abaixo,
considerando as ligações do tipo articulada, engastada e semirrígida.

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Figura 11. Esquema da estrutura e modelo adotado para a ligação semirrígida (Ferreira, 2009)

Optando por 50% de engastamento na ligação viga pilar encontraremos o “αr” através da
equação (18) e as respostas desejadas, tem-se a equação 22:

3. r
60% = →  r = 0,50 (22)
2 +r

Com o valor de “αr” estabelecido, pode-se calcular o momento de inércia equivalente para o
pilar, equação 23 e o valor de “αr”, equação 24.

r  0,50 
I eq . = I viga * ( ) = 208333cm 4 *   = 69444cm 4 (23)
2 −r  2 − 0,50 

−1
 3
 r = 1 +  → =3 (24)
 

Com esses resultados, pode-se calcular a rigidez secante, equação 25, considerando a
redução de rigidez da viga em 0,4E.I (ABNT NBR 6118), como sendo:

EC * 0,4 * I viga  238ton / cm 2 * 0,4 * 208333cm 4 


Rsec . =  . = 3.  = 2132,6kN.m / radiano (25)
Lefetivo  930cm 

Usando esse valor no software comercial STRAP®, para se considerar a rigidez da mola
para o exemplo numérico .Os itens 7.1, 7.2 e 7.3 mostram os resultados para os casos considerando
as ligações articuladas, engastadas e semirrígidas, respectivamente.

7.1. Exemplo de pórtico com ligação articulada

A Figura 12 mostra o exemplo considerado para o caso de pórtico articulado.

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Console, articulado. Articulado, Console

Figura 12. Cargas aplicadas no pórtico considerado articulado

A Figura 13 mostra o resultado do diagrama de momento fletor (kN.m) e de deslocamento


(mm) obtido pelo software considerando o pórtico articulado.
(Momento fletor no console)

Figura 13. Diagrama de momento fletor e Deslocamento pórtico articulado


δpil.=(8,0mm); δviga=108mm; δpil=7mm

7.2. Exemplo de pórtico com ligação engastada

A Figura 14 mostra o exemplo considerado para o caso de pórtico engastado no console.

Figura 14. Cargas aplicadas no pórtico considerado engastado

A Figura 15 mostra o resultado do diagrama de momento fletor (kN.m) e do deslocamento


(mm) obtido pelo software considerando o pórtico engastado.

Figura 15. Diagrama de momento fletor pórtico engastado, Deslocamento, δpil.=3,0mm;


δviga=56,9mm; δpil.=3,0mm.

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7.3. Exemplo de pórtico com ligação semirrígida

A Figura 16 mostra o exemplo considerado para o caso de pórtico semirrígida.

Console; Ligação semirrígida Ligação semirrígida; Console;

Figura 16. Pórtico, semirrígido (Rsec=2132,6kN.m/radiano)

A Figura 17 mostra o resultado do diagrama de momento fletor (kN.m) e de deslocamento


(mm) obtido pelo software considerando o pórtico semirrígido.

Figura 17. Diagrama de momento fletor, pórtico semirrígido, deslocamentos δpil.=4mm,


δviga=76,4mm;δpilar=4mm

A Tabela 01 mostra os resultados para os modelos estudados.

Tabela 1. Resumo dos esforços e dos deslocamentos dos exemplos


Momento fletor
Pilar à esquerda Pilar à direita
(base do Pilar)
Articulado 0,1kN.m; δ=0,0mm 14,97kN.m; δ=0,0mm
Engastado 21,04kN.m, δ=0,0mm 34,10kN.m; δ=0,0mm
Semirrígido 8,00kN.m, δ= 0,0mm 22,57kN.m; δ=0,0mm

Momento fletor
Pilar à esquerda Pilar à direita
(Topo do Pilar)
Articulado 16,27kN.m; δ=8,0mm 16,27kN.m; δ=7,9mm
Engastado 57,56kN.m, δ=3,3mm 62,87kN.m; δ=3,3mm
Semirrígido 33,54kN.m, δ=4,4mm 37,34kN.m; δ=4,4mm

Nas vigas
Momento Fletor
na Viga Articulada
Esquerda Centro Direita
0,0 kN.m 108,11 kN.m 0,0 kN.m
δ=103mm

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MomentoFletor
na Viga Engastada
Esquerdo Centro Direito
41,47kN.m 64,17 kN.m 46,41 kN.m
δ=56,9 mm

Momento Fletor na Viga


ligação Semirrígida
Esquerda Centro Direito
29,67 kN.m 76,67 kN.m 33,21 kN.m
δ=76,40 mm
De acordo com as deduções, verifica-se que os resultados estão de acordo com o esperado,
portanto é válido o procedimento.

8. CONCLUSÕES

Este trabalho teve como objetivo discutir o procedimento de dimensionamento utilizando o


“ɣz” =1,10 limitando o deslocamento e definindo a seção do pilar a ser utilizada. Analisando a
maneira de determinar as dimensões do pilar em função da altura “H” e do índice de esbeltez.
Através do “ɣz” conclui-se que é válido esse procedimento para as demonstrações aqui
realizadas. As ligações semirrígidas em projetos de estruturas pré-moldadas de concreto é, de certa
forma, mais objetiva e econômica, como pode se notar pelo processo de cálculo. Talvez, seja devido
a isso que a maioria dos projetos de estruturas de concreto pré-moldadas ainda considerem ligações
como articuladas, por não conhecer a solução.
Ao usar o procedimento articulado acaba desconsiderando qualquer transferência de
momento fletor para o pilar. A estrutura articulada encarece a obra devido aos grandes esforços nas
fundações. Observa-se também na ligação semirrígida uma redistribuição de momentos em toda a
estrutura. O processo baseia-se na determinação do grau de engastamento, dependendo da ligação e
da rigidez da viga. O pórtico reduz consideravelmente as deformações, fator importante na
estabilidade bem como redução de custos de fabricação.
O valor de α encontrado garante o procedimento, uma vez que foi tomado o maior
Deslocamento (pórtico articulado), para se determinar o parámetro α.

9. AGRADECIMENTOS

Os autores gostariam de agradecer ao grupo de pesquisa NETPRE (Núcleo de Estudos e


Tecnologia em Pré-moldados de concreto) e ao programa de Pós-Graduação em Estruturas e
Construção Civil (PPGECiv) pelo apoio técnico e acadêmico.

10. Referências bibliográficas


Carvalho R. Chust. and Pinheiro M. Libanio (2009). Cálculo e Detalhamento de Estruturas
usuais de Concreto Armado volumen II.

Ferreira A. M. (1999) Deformabilidade de ligações viga pilar de concreto pré-moldado


Doutorado. EEsc/USP São Carlos SP , 253 pag. 1999

Santos, A. P. (2010). Análise estrutural de galpões atirantados de concreto. Dissertação de


Mestrado. EEsc/USP, São Carlos SP, 190 pag. 2010

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