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Miguel Ângelo Ferreira Branco

Desenvolvimento e Otimização do
Processo de Escovamento Externo em
Anéis de Óleo com PVD
Development and Optimization of the External Brushing
Process of Oil Pistons Rings with PVD

Dissertação de Mestrado em Engenharia Mecânica


na Especialidade de Produção e Projeto

12/02/2018
DEPARTAMENTO DE
ENGENHARIA MECÂNICA

Desenvolvimento e Otimização do Processo de


Escovamento Externo em Anéis de Óleo com
PVD
Dissertação apresentada para a obtenção do grau de Mestre em Engenharia
Mecânica na Especialidade de Produção e Projeto.

Development and Optimization of the External Brushing


Process of Oil Pistons Rings with PVD

Autor
Miguel Ângelo Ferreira Branco
Orientador
Professor Doutor Fernando Jorge Ventura Antunes
Engenheiro Pedro Góis
Júri
Professor Doutor José António Martins Ferreira
Presidente
Professor Associado da Universidade de Coimbra
Engenheiro Pedro Góis
Orientador
Engenheiro da Mahle – Componentes de Motores S.A
Professor Doutor Amílcar Lopes Ramalho
Vogais
Professor Associado da Universidade de Coimbra

Colaboração Institucional

Mahle Componentes de Motores S.A

Coimbra, Fevereiro, 2018


“Persistence is very important. You should not give up unless you are forced to
give up”
Elon Musk

Aos meus Pais.


À minha Avó.
Agradecimentos

Agradecimentos
Este trabalho completa uma das mais importantes e desafiantes etapas da
minha vida, que não seria possível de alcançar sem o auxílio e apoio prestado por algumas
pessoas durante todo o meu percurso académico, às quais dedico este espaço para
expressar a minha gratidão.
Em primeiro lugar agradecer aos meus Pais, Avó e ao meu irmão não só pelo
apoio e confiança que depositaram em mim ao longo destes anos mas também por todo o
carinho, amor e compreensão que demonstraram permanentemente e sobretudo agradecer
por todo o esforço feito para que eu tivesse esta oportunidade de perseguir os meus sonhos.
Ao Professor Doutor Fernando Jorge Ventura Antunes, pela orientação,
disponibilidade e excelência no apoio ao longo dos últimos meses, de forma a garantir que
tinha todo o apoio necessário para a realização deste trabalho.
A todos os engenheiros, trabalhadores e colaboradores da MAHLE
Componentes de Motores S.A, pela sua amizade, simpatia, camaradagem e apoio
incondicional. Um especial agradecimento aos engenheiros Pedro Góis e Carlos Correia
pelo acompanhamento mais próximo contribuindo de forma direta para o sucesso deste
projeto.
A todos os meus amigos e colegas do Departamento pela amizade e pelas
memórias que levo destes cinco anos em Coimbra.
A todo o corpo docente do Departamento de Engenharia Mecânica (DEM) da
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) que de
diversas formas contribuíram para que fosse possível chegar até aqui.
A todos um sincero muito obrigado.

Miguel Branco

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Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

iv 2018
Resumo

Resumo
No âmbito da realização da dissertação de mestrado, este projeto foi
desenvolvido durante um estágio curricular na Mahle Componentes de Motores S.A em
Murtede onde são produzidos anéis de pistão (segmentos).
O principal objetivo deste trabalho passa por desenvolver e implementar
melhorias no processo de escovamento externo em anéis de óleo com PVD, garantindo que
o produto final cumpre às especificações e necessidades exigidas pelos clientes.
Neste caso de estudo o problema inicial trata-se de uma remoção excessiva de
material da face de contacto do anel de óleo com PVD, isto é, havia um arredondamento
excessivo dos raios da face de trabalho do segmento destinado à terceira canaleta.
No decorrer deste trabalho foi feita uma avaliação da situação atual do
processo de escovamento externo para anéis de óleo com PVD.
Foi definido um plano de testes, levantamento dos respetivos resultados, assim
como a definição de parâmetros corretos a usar no processo e apresentação de propostas de
novas escovas a utilizar na operação. Para além disso foi estudada a influência do tempo e
da pressão de escovamento para o processo atual.
No procedimento da análise de resultados dos testes, recorreu-se ao laboratório
de metrologia da MAHLE, onde foram efetuadas todas as medições apresentadas neste
trabalho.
Depois de realizados testes com escovas, de densidades e tamanhos de grão
inferiores, comparativamente com a escova usada atualmente no processo, verificou-se que
há menor remoção de material da face de contacto do anel.
Constatou-se que para a escova flap usada atualmente neste processo, há maior
remoção de material quando se faz variar a pressão de escovamento do que quando se faz
variar o tempo do escovamento.

Palavras-chave: Anel de óleo, Escovamento Externo, PVD, Arredondamento


Excessivo, Implementação de Melhorias, Escova Flap.

Miguel Ângelo Ferreira Branco v


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

vi 2018
Abstract

Abstract
In the scope of the master’s dissertation, this current project was developed
during a curricular internship at MAHLE Engine Components S.A in Murtede where
pistons rings (segments) are produced.
The main objective of this project it’s focused in developed and implement of
improvements in the external brushing process in pistons rings with PVD, ensuring that the
final product fulfills the requirements of the costumers.
In this case study the initial problem was an excessive material reduction in the
external face of the piston ring, in other words, the initial problem is an excessive rounding
of the radius of contact face.
In the course of this work an evaluation was made of the current situation of
the external brushing process for PVD oil rings. A test plan was set up, it was made an
analysis of the respective results, as well as the definition of correct parameters to be used
in the process and the presentation of proposals for new brushes to be used in the process.
In the analysis of test results, it was used the MAHLE metrology laboratory,
where all the measurements presented in this work were made.
Besides that, the influence of time and brushing pressure for the current
process was studied, with the purpose to realize the impact of these parameters in the
reduction of material in the external face of the piston ring.
After testing brushes, with densities and grain sizes lower than the brush that
it´s currently used in the process, it was verified that there is less material removal from the
contact face of the ring. It has also been notice that for the flap brush currently used in this
process there is more material removal when the brushing pressure is varied than when the
brushing time is varied.

Keywords Oil ring, External Brushing, PVD, Excessive Material


Removal, Improvement implementation, Flap Brush.

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viii 2018
Índice

Índice
Índice de Figuras .................................................................................................................. xi
Índice de Tabelas ................................................................................................................ xiii
Simbologia e Siglas ............................................................................................................. xv
Simbologia ....................................................................................................................... xv
Siglas ............................................................................................................................... xv
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 1
1.1. Enquadramento da Empresa ................................................................................... 2
1.2. Motivação e Objetivos ............................................................................................ 3
2. ANÉIS DE PISTÃO ...................................................................................................... 5
2.1. Nomenclatura dos Anéis ......................................................................................... 5
2.2. Funções dos Anéis .................................................................................................. 6
2.3. Tipos de Anéis ........................................................................................................ 7
2.3.1. Anel de Compressão ........................................................................................ 7
2.3.2. Anel Raspador ................................................................................................. 8
2.3.3. Anel de Óleo .................................................................................................... 8
2.4. Fenómeno Blow-By ................................................................................................. 9
3. ANÁLISE TÉCNICA DO PROCESSO ...................................................................... 11
3.1. Objetivos do Processo ........................................................................................... 11
3.2. Escovamento Externo ........................................................................................... 12
3.2.1. 1 º Escovamento vs 2 º Escovamento ............................................................ 14
3.3. Fechador de Três Sapatas ..................................................................................... 15
3.4. Processo de Deposição Física em Fase de Vapor (PVD) ..................................... 17
3.4.1. Deposição do Revestimento .......................................................................... 18
4. ANÁLISE DO PROBLEMA ...................................................................................... 21
4.1. Avaliação da Situação ........................................................................................... 21
4.2. Levantamento do Estado Atual do Processo ......................................................... 23
4.2.1. Máquina ......................................................................................................... 23
4.2.2. Método ........................................................................................................... 31
4.2.3. Material .......................................................................................................... 35
5. ANÁLISE DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS ..................................................... 39
5.1. Potenciais Modos de Falha ................................................................................... 39
5.2. Problemas Detetados ............................................................................................. 40
6. PLANEAMENTO DE EXPERIÊNCIAS ................................................................... 45
6.1. Procedimentos ....................................................................................................... 45
6.1.1. Medições ........................................................................................................ 46
6.2. Design of Experiments (DOE) .............................................................................. 47
6.2.1. Fatores e Níveis ............................................................................................. 48
6.3. Resultados ............................................................................................................. 50

Miguel Ângelo Ferreira Branco ix


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6.3.1. Influência da Pressão e do Tempo de Escovamento ..................................... 54


6.3.2. Influência da Densidade e do Tamanho do Grão Abrasivo da Escova ......... 56
7. CONCLUSÃO ............................................................................................................ 59
7.1. Trabalho Futuro .................................................................................................... 60
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 63
ANEXO A ........................................................................................................................... 65
ANEXO B ........................................................................................................................... 69
ANEXO C ........................................................................................................................... 71
ANEXO D ........................................................................................................................... 73
ANEXO E ........................................................................................................................... 75

x 2018
Índice de Figura

ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1.1. Mahle Murtede, Portugal .................................................................................... 3
Figura 1.2. Localização das arestas vivas; a) Face de contacto do perfil do anel; b) Pontas
do Gap Adaptada Manual Técnico MAHLE Original ............................................ 4
Figura 2.1. Nomenclatura do anel; a) Abertura livre; b) Abertura com diâmetro de trabalho
................................................................................................................................. 6
Figura 2.2.Montagem típica de anéis de pistão, Adaptada MS-Motor Service International
GmbH ...................................................................................................................... 7
Figura 2.3.Anel de compressão Adaptada MS-Motor Service International GmbH............. 8
Figura 2.4. Anel raspador Adaptada MS-Motor Service International GmbH ..................... 8
Figura 2.5. Anel de óleo com PVD Adaptada MS-Motor Service International GmbH ....... 9
Figura 2.6. Fenómeno Blow-By ............................................................................................. 9
Figura 3.1. Linha de processo do anel de óleo com PVD ................................................... 11
Figura 3.2. Sentido de rotação da escova abrasiva e da árvore de anéis, Adaptada Beato
2006 ....................................................................................................................... 13
Figura 3.3.Descrição da escovadora externa ....................................................................... 14
Figura 3.4. Escovas usadas no processo; a) Escova Flap ; b) Escova Nylon ...................... 15
Figura 3.5. Máquinas usadas no processo; a) Layout; b) Disposição das máquinas na área
de trabalho ............................................................................................................. 16
Figura 3.6. Máquina de montagem das árvores de anéis; a) Vista frontal; b) Vista de topo
............................................................................................................................... 17
Figura 3.7. Variantes do processo PVD .............................................................................. 18
Figura 3.8. Câmara de deposição Adaptado de Pinto, et al,2004 ........................................ 18
Figura 3.9.Fases de revestimento do anel ............................................................................ 19
Figura 4.1. Pareto de refugo do AN74971 em 2016 ............................................................ 22
Figura 4.2. Velocidade periférica em diferentes pontos ...................................................... 25
Figura 4.3. Forças aplicadas na árvore durante a operação ................................................. 28
Figura 4.4. Polias do motor e chumaceira acoplada por uma correia Adaptada Costa Lino
(2013) .................................................................................................................... 29
Figura 4.5.Força tangencial aplicada na polia Adaptada Costa Lino (2013) ...................... 30
Figura 4.6.Diagrama de forças aplicadas na árvore de anéis............................................... 31
Figura 4.7. Procedimentos da operação ............................................................................... 33

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Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

Figura 4.8. Efeito da variação da pressão............................................................................ 34


Figura 4.9. Esquema de ferramental usado no processo ..................................................... 36
Figura 4.10. Ferramental usado na montagem de pacotes de anéis .................................... 36
Figura 4.11. .Influência do desgaste da escova ................................................................... 38
Figura 5.1.Anéis mal escovados .......................................................................................... 41
Figura 5.2. Distância entre eixos Adaptada Manual de formação MAHLE ....................... 42
Figura 5.3. Contacto entre a proteção da correia e a chumaceira ........................................ 42
Figura 5.4.ESC-06 Manómetro de fecho das sapatas danificado ........................................ 43
Figura 5.5. Pressão da escova no ponto de tangência ......................................................... 44
Figura 6.1. Perfilómetro Surfcom 1800D............................................................................ 46
Figura 6.2.Exemplo de medição do raio da face de contacto do anel ................................. 47
Figura 6.3.Exemplo de medição do arredondamento do chanfro do gap com a face de
contacto ................................................................................................................. 47
Figura 6.4.Localização da rebarba; a) Anéis antes do escovamento; b) Anéis após
escovamento .......................................................................................................... 50
Figura 6.5.Pontos alvo de medição; a) Raios da face de contacto; b) Chanfros das pontas
do gap .................................................................................................................... 51
Figura 6.6.Resultados dos raios da face de contacto ........................................................... 51
Figura 6.7 Resultados da altura dos chanfros no gap .......................................................... 53
Figura 6.8.Diferença entre raios com a variação do tempo ................................................. 55
Figura 6.9.Diferença entre raios com a variação da pressão ............................................... 55
Figura 6.10. Diferença entre raios com a diminuição da densidade da escova. .................. 56
Figura 6.11.Diferença entre raios com a diminuição do tamanho de grão abrasivo da
escova .................................................................................................................... 57
Figura 7.1. Faixa lateral a indicar o diâmetro mínimo de utilização da escova .................. 61

xii 2018
Índice de Tabelas

ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 3.1. Diferenças entre os escovamentos .................................................................... 14
Tabela 4.1.Velocidades rotacionais ..................................................................................... 24
Tabela 4.2. Velocidades periféricas ..................................................................................... 26
Tabela 4.3. Diferença do nº de rotações da escova para cada máquina............................... 27
Tabela 4.4. Especificações dos cilindros pneumáticos ........................................................ 28
Tabela 4.5.Especificações do motor elétrico da árvore ....................................................... 28
Tabela 4.6.Propriedades mecânicas do material MF053-L (Norma S-R-MS-0038-en,
MAHLE Componentes de Motores S.A.) ............................................................. 35
Tabela 4.7. Composição química do material MF053-L (Norma S-R-MS-0038-en,
MAHLE Componentes de Motores S.A.) ............................................................. 35
Tabela 4.8. Descrição dos tipos de escovas usadas no processo ......................................... 37
Tabela 5.1.Identificação de potenciais modos de falha do processo ................................... 40
Tabela 6.1. Especificações técnicas das escovas de teste .................................................... 48
Tabela 6.2. Matriz de testes para a Escova A usada atualmente ......................................... 49
Tabela 6.3. Matriz de testes; a) Escova com densidade média; b) Escova com densidade
baixa ...................................................................................................................... 49
Tabela 6.4. Matriz de testes; a)Escova com grão super fino; b) Escova com grão ultra fino
............................................................................................................................... 49
Tabela 6.6. Número de medições efetuadas para cada uma das boxplot ............................. 52
Tabela 6.7.Número de medições efetuadas para cada uma das boxplot .............................. 53

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Simbologia e Siglas

SIMBOLOGIA E SIGLAS

Simbologia
ni – Frequência rotacional para a máquina; i = ESC – 06; ESC - 08
nº rotações i – nº de rotações num determinado tempo para a máquina i
ta – Tempo a adicionar a ESC – 08
- Força aplicada pelo contraponto
- Força aplicada pela escova
- Momento torsor
d- Diâmetro
i – Relação de transmissão
n – Frequência rotacional
P – Perímetro
r – Raio
t – Tempo de escovamento
v- Velocidade periférica
w – Velocidade angular

Siglas
Cr Crómio
CrN – Nitreto de Crómio
DEM – Departamento de Engenharia Mecânica
DOE – Design of Experiments
ESC-06 – Escovadora Externa 06
ESC-08 – Escovadora Externa 08
FCTUC – Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra
FEC-05- Fechadora de três sapatas 05
FEC-13- Fechadora de três sapatas 13

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Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

FMEA- Failure Mode and Effect Analysis


HDD – Heavy Duty Diesel
IP – Informações do Processo
IUA – Instruções de Usinagem do Anel
OPA – Operação de Processamento do Anel (lote)
PVD - Physical Vapor Deposition

xvi 2018
INTRODUÇÃO

1. INTRODUÇÃO
Com o crescimento da industrialização há necessidade das empresas se
conseguirem destacar das restantes, e para isso têm de ser capazes de oferecer produtos
com melhor qualidade e/ou com preços mais competitivos. Assim sendo, é preciso
estabelecer e desenvolver novos produtos/serviços e/ou novos processos de fabricação de
forma a se adaptarem e destacarem nos mercados atuais.
O presente trabalho foi desenvolvido durante o estágio curricular na Mahle
Componentes de Motores S.A, e visa o desenvolvimento e implementação de melhorias no
processo de escovamento externo de anéis de óleo com PVD, pois no processo atual
verifica-se uma remoção excessiva de material da face de contacto do anel, ou seja, há um
arredondamento excessivo dos raios da face de contacto, o que faz com que o anel não
cumpra as especificações definidas pela MAHLE em parceria com o cliente.
O conjunto de anéis utilizados no pistão permite criar uma vedação da câmara
de combustível em relação ao cárter, impedindo que os gases da combustão passem para o
cárter do motor, evitando assim a perda de rendimento do motor e contaminação do óleo.
Todos estes fatores contribuem para um bom funcionamento do motor e
consequentemente, levam a uma maior fiabilidade do produto assegurando que este vai ter
um tempo de vida maior, proporcionando ao consumidor final um menor custo de
manutenção e um aumento da sua satisfação (Lourenço, 2015).
Este trabalho divide-se em três partes. Uma primeira parte referente ao produto
em si, procedendo-se à identificação dos vários tipos de anéis e as suas diferenças
revelando também quais as funcionalidades.
A segunda parte será focada numa análise técnica do processo alvo de estudo,
mais em concreto no processo do escovamento externo, onde são apresentadas as máquinas
necessárias para o processo.
A terceira, e última parte, é dedicada a análise do problema, através da
identificação de possíveis falhas existentes no processo. Ao longo desta parte final é
abordada a influência dos parâmetros usados na operação com a finalidade de realizar

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Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

testes experimentais, de modo a perceber quais os efeitos da variação destes mesmos


parâmetros.
Por fim, realiza-se uma análise e discussão dos resultados com o objetivo de
criar e implementar propostas que façam com que haja melhorias no processo do
escovamento externo dos anéis de óleo com PVD.

1.1. Enquadramento da Empresa


O grupo Mahle foi formado pelos irmãos Hermann e Ernst Mahle em 1920 em
Estugarda na Alemanha, na época os motores de combustão interna possuíam pistões de
ferro fundido cinzento e foi nessa altura que os irmãos decidiram inovar na recém-empresa
começando a utilizar uma liga leve para o fabrico dos pistões, desenvolvendo também
filtros de ar e de óleo permitindo manter o motor livre de poeiras e sujidade (MAHLE
South America a)
Este espírito inovador e visionário fez com que a empresa destacasse das
restantes e começasse a dominar o mercado, sendo atualmente uma das 20 maiores
empresas fornecedoras na indústria automóvel em todo o mundo. Uma das provas dessa
liderança, sobretudo tecnológica, pode ser vista nos sucessos em competições tanto na
Fórmula 1 como em Le Mans (MAHLE South America b)
Com sede situada em Estugarda, o grupo tem fábricas espalhadas por todo o
mundo (América do Norte e América do Sul, Europa, Africa e Ásia), conta atualmente
com 65000 trabalhadores e colaboradores, que contribuem para uma progressão
consistente ao longo dos anos apostando no desenvolvimento tecnológico permitindo
alcançar constantes melhorias nos seus produtos traduzindo-se numa maior satisfação do
cliente.
O grupo MAHLE possui 10 centros tecnológicos situados em Estugarda, São
Paulo, Xangai, Northampton e Tóquio. Os componentes principais fabricados pelo grupo
são componentes de motores de combustão interna tais como pistões, anéis de pistões,
filtros, árvores de cames, engrenagens, buchas entre outros componentes.
Em Portugal, o grupo Mahle adquiriu a empresa ao grupo Brasileiro Cofap no
ano de 1997. Localizada na zona industrial de Murtede do concelho de Cantanhede e com
uma área de certa 83.000 m2, emprega cerca de 650 trabalhadores. Na Figura 1.1 está
representada uma fotografia aérea da MAHLE Componentes de Motores S.A.

2 2018
INTRODUÇÃO

Dedica-se exclusivamente ao fabrico de anéis de pistão (segmentos) para


motores de combustão interna de veículos ligeiros e veículos pesados.
A empresa tem adquirido ao longo dos anos uma reputação inquestionável a
nível de padrões de qualidade e satisfação de clientes (líder na produção de anéis de aço
revestidos por PVD para motores HDD). Com uma boa reputação a nível mundial, a
empresa possui parceria com grandes marcas do ramo automóvel.

Figura 1.1. Mahle Murtede, Portugal

1.2. Motivação e Objetivos


O foco principal deste estudo é a operação de escovamento externo de anéis de
óleo com PVD, processo responsável pela remoção de rebarba na zona do gap,
arredondamento de arestas vivas, limpeza e pré-preparação da face de contacto onde vai
ser posteriormente depositada uma camada fina de revestimento.
A principal motivação deste projeto será a diminuição de remoção de material
da face de contacto, pois no processo atual verifica-se um arredondamento excessivo dos
raios da face de trabalho.
Na Figura 1.2 são identificadas as zonas do anel de óleo, alvo de estudo onde
há demasiada remoção de material. A Figura 1.2 a) é relativa às arestas vivas de cada land

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Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

(zona que contém a área de contacto do anel) e a Figura 1.2 b) é relativa aos chanfros na
zona do gap do anel.

a) b)
Figura 1.2. Localização das arestas vivas; a) Face de contacto do perfil do anel; b) Pontas do Gap Adaptada
Manual Técnico MAHLE Original

Neste caso os segmentos necessitam de fazer um escovamento externo em duas


ocasiões.
Há um primeiro escovamento antes do revestimento, onde o propósito da
operação é suavizar as arestas vivas da face de contacto do anel, garantindo assim que a
superfície que vai receber posteriormente o revestimento está isenta de sujidade e permite
uma boa aderência do revestimento, para que não apareçam lascas depois do PVD.
O segundo escovamento, é realizado logo a seguir ao processo de PVD
responsável pela deposição de um revestimento de nitreto de crómio na superfície de
trabalho do segmento. O objetivo deste segundo escovamento é remoção de possíveis
nódulos na superfície externa do anel provenientes da operação de revestimento
Devido à forma do perfil do anel de óleo (Figura 1.2 a)), a pressão exercida
pela escova na face de trabalho do anel não vai ser uniforme, podendo remover mais
material do que é necessário em certos pontos críticos da face de trabalho do anel.
Numa fase inicial há necessidade de compreender melhor o problema, logo é
preciso identificar todas as variáveis e parâmetros que envolvem o processo desde do fator
máquina até ao operador, o ambiente em que ambos estão inseridos e as condições de
trabalho.

4 2018
ANÉIS DE PISTÃO

2. ANÉIS DE PISTÃO
“Os anéis de pistão são molas metálicas que, quando instaladas nos cilindros
dos motores, se tornam circulares e auto expansivas, proporcionando uma vedação móvel
entre a câmara de combustão e o cárter do motor” (Possamai, 2011). Contudo, esta
definição, assim como muitas outras que já foram formuladas, não consegue expressar com
a precisão necessária toda a responsabilidade que o anel de pistão tem para um bom
funcionamento do motor.
Inicialmente os anéis de pistão eram “circulares” e a força que exerciam contra
a parede do cilindro era dada por deformação de origem térmica.
Com a evolução dos motores cada vez mais potentes e sofisticados, houve
necessidade de aumentar a rotação dos pistões o que originou bastantes problemas
funcionais, tais como flutuação ou perda de carga. Isto fez com que o pacote de anéis
sofresse obrigatoriamente uma alteração, evoluindo em simultâneo com os motores.
(MAHLE original).
Atualmente, para o processo de fabricação destes anéis de pistão é exigido um
nível tecnológico bastante elevado, trabalhando-se normalmente em unidades de
micrómetros, o que faz com que a precisão de trabalho seja elevada.

2.1. Nomenclatura dos Anéis


Para facilitar a compreensão dos textos que se seguem é necessário conhecer a
terminologia usada nos anéis de pistão indicada na Figura 2.1.

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Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

a) b)
Figura 2.1. Nomenclatura do anel; a) Abertura livre; b) Abertura com diâmetro de trabalho

Face de Contacto – É a superfície do anel que fica em contacto com a parede


do cilindro. É também chamada de “face de trabalho”.
Face Interna – É a superfície do anel que fica voltada para o fundo da canaleta
do pistão.
Radial – É a distância entre as faces externa e interna do anel, tendo medidas
sempre em milímetros.
Diâmetro de Trabalho – É o diâmetro externo do anel, quando está confinado
no diâmetro do cilindro para o qual foi projetado. É, portanto, igual ao diâmetro do
cilindro, sendo medido em milímetros ou polegadas.
Folga – É a distância entre as extremidades do anel, medida com o mesmo
instalado no cilindro, designada ao longo deste trabalho como Gap.
Abertura Livre – É a distância entre as extremidades do anel, medida quando
o mesmo se encontra no estado livre.

2.2. Funções dos Anéis


Os anéis de pistão são vedantes dinâmicos usados em movimentos lineares que
operam sob condições térmicas e químicas exigentes, logo para que haja um bom

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ANÉIS DE PISTÃO

funcionamento de um motor de combustão interna, os anéis de pistão têm que cumprir


alguns requerimentos cruciais, tais como:
 Boa capacidade de vedação, impedido Blow By (seção 2.4) e a
contaminação do óleo;
 Baixo atrito, para ter uma alta taxa de eficiência energética;
 Elevada resistência ao desgaste, aumentando a sua vida útil
operacional;
 Controlar a lubrificação dos cilindros, deixando uma fina pelicula de
óleo, evitando o atrito seco, metal com metal;
 Conduzir o calor adsorvido pela cabeça do pistão para as paredes do
cilindro e destas para o sistema de arrefecimento.

2.3. Tipos de Anéis


Os anéis de pistão normalmente são montados em pacotes, isto é, cada pacote
de anéis é composto normalmente por 3 tipos de anéis, em que cada um tem uma função
própria dependendo da canaleta a que são destinados. Considerando um pistão usado para
um motor de combustão interna como o representado na Figura 2.2, este possui 3 canaletas
onde são albergados os respetivos segmentos.

Figura 2.2.Montagem típica de anéis de pistão, Adaptada MS-Motor Service International GmbH

2.3.1. Anel de Compressão


Na primeira canaleta localiza-se o anel de compressão que atua como um
vedante entre o pistão e a parede da camisa, impedindo que o gás proveniente da

Miguel Ângelo Ferreira Branco 7


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

combustão passe para o cárter através da folga entre o pistão e a camisa, evitando assim a
perda de rendimento do motor e a contaminação do óleo lubrificante.
Do pacote de anéis montados no pistão, o anel de compressão é aquele que está
sob maior pressão e temperatura e apresenta uma força de expansão maior, ou seja, tem um
diâmetro livre superior ao seu diâmetro de confinamento quando instalado dentro da
camisa do pistão, exercendo pressão sobre a parede da camisa.

Figura 2.3.Anel de compressão Adaptada MS-Motor Service International GmbH

2.3.2. Anel Raspador


Este anel é aplicado na segunda canaleta e tem uma dupla função, pois para
além de ser um anel compressor que atua como um vedante, também tem função de um
anel de óleo, a sua característica principal é regular o óleo nas paredes da camisa do pistão
criando uma película fina de óleo, fazendo com que haja redução de atrito durante o
trabalho do pistão e consequente aumento de rendimento do motor. Uma configuração
típica deste anel mostra-se na Figura 2.4.

Figura 2.4. Anel raspador Adaptada MS-Motor Service International GmbH

2.3.3. Anel de Óleo


Este anel localiza-se na terceira canaleta e certifica-se que não há consumo
desnecessariamente excessivo de óleo, assim como que há óleo suficiente para o
funcionamento adequado do motor, através da regulação do fluxo do mesmo. Apenas é
requerida uma película fina de óleo entre os anéis e a superfície de trabalho do cilindro. Na
Figura 2.5 está representado a configuração do anel de óleo com PVD que é estudado ao
longo deste trabalho.

8 2018
ANÉIS DE PISTÃO

Figura 2.5. Anel de óleo com PVD Adaptada MS-Motor Service International GmbH

2.4. Fenómeno Blow-By


Blow-By é a quantidade de mistura de ar-combustível queimada e não
queimada fluindo para o cárter por unidade de tempo, entre os pistões, anéis e paredes dos
cilindros.
Ao longo dos anos os segmentos foram alvo de constante desenvolvimento, de
forma ser possível alcançar os objetivos cada vez mais elevados de desempenho dos
motores de combustão interna.
Dentro desse panorama o blow-by tendeu a assumir o segundo lugar, após o
consumo de óleo, como uma das principais medidas de eficiência do conjunto pistão-anéis.
Entretanto, nos últimos anos as exigências das regulamentações sobre
emissões, maior vida e confiabilidade elevaram a significância do blow-by tornando-o um
ponto extremamente importante no atual estágio de pesquisa e desenvolvimento.

Figura 2.6. Fenómeno Blow-By

Miguel Ângelo Ferreira Branco 9


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

10 2018
ANÁLISE DO PROBLEMA

3. ANÁLISE TÉCNICA DO PROCESSO


Neste capítulo são introduzidos os vários processos de fabricação necessários
para a produção do anel de óleo com PVD, contudo o foco vai ser principalmente nos
processos de escovamento externo e no revestimento da superfície de trabalho do anel.
A linha de processo varia consoante o tipo de anel que se pretende fabricar,
dependendo do tipo de anel, geometria, material base e tipo de revestimento que se
pretende aplicar. Na Figura 3.1 está esquematizada a linha de processo para a fabricação do
anel de óleo com revestimento PVD.

Figura 3.1. Linha de processo do anel de óleo com PVD

3.1. Objetivos do Processo


Para que seja possível realizar o desenvolvimento e otimização do processo do
escovamento externo em anéis de óleo com PVD, há necessidade de compreender em
primeiro lugar quais são os objetivos principais do processo em causa. Estabelecidos os
objetivos é possível identificar possíveis falhas no processo e arranjar soluções que possam

Miguel Ângelo Ferreira Branco 11


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

ser implementadas. Logo, os objetivos a ter em atenção, de forma a garantir que os anéis
estejam de acordo com as especificações do cliente, são:
 Remoção da rebarba no canal externo do gap;
 Arredondamento das arestas vivas na face de contacto do anel;
 Arredondamento do chanfro do gap;
 Assegurar um aspeto polido da face de contacto do anel;
 Assegurar a limpeza do canal externo;
 Evitar o aparecimento de lascas devido a uma má aderência do
revestimento.

3.2. Escovamento Externo


Como é possível observar na Figura 3.1, o esquema representativo da linha de
produção do anel, o escovamento externo é realizado duas vezes, antes e após o
revestimento em PVD.
Apesar do processo ser o mesmo, há algumas diferenças, nomeadamente o
objetivo principal de cada escovamento, o tipo de escova que se utiliza e os parâmetros
usados em cada escovamento.
Previamente à etapa do escovamento externo os anéis passam por vários
processos de maquinação que removem material das várias faces do anel de modo a que se
crie o perfil desejado. Contudo, estas operações fazem com que os anéis cheguem ao
escovamento com rebarba no canal externo do anel, recorrendo-se ao escovamento para as
eliminar.
Esta operação consiste na utilização de escovas abrasivas com velocidades
rotacionais elevadas em contacto com a árvore de anéis.
Este tipo de escovamento tem como finalidade a remoção da rebarba,
arredondar as arestas vivas dos anéis e atribuir à face exterior do anel um aspeto polido
(Beato 2006).
O escovamento é assegurado através da rotação simultânea da escova abrasiva
e da árvore de anéis, que inicialmente têm o mesmo sentido de rotação. No final do tempo
predefinido da operação a escova abrasiva inverte o seu sentido de rotação. Na Figura 3.2 é
demonstrado o sentido de rotação de ambos os elementos.

12 2018
ANÁLISE DO PROBLEMA

O atrito desenvolvido entre a escova e os anéis, promove a remoção de material


da superfície do anel eliminando a rebarba existente no canal externo, provenientes das
operações anteriores, e assegura o arredondamento das arestas vivas do anel.

Escova Abrasiva
Árvore de anéis

Figura 3.2. Sentido de rotação da escova abrasiva e da árvore de anéis, Adaptada Beato 2006

Na Figura 3.3 procede-se à descrição da máquina responsável pelo escovamento externo


dos anéis. O funcionamento das escovadoras, podem distinguir-se duas unidades
fundamentais:
 A primeira, responsável pelos movimentos de rotação e translação da
escova abrasiva, sendo o movimento de rotação promovido por um motor
elétrico através de uma dupla transmissão por polias e correias em V e o
movimento de translação do carro da escova promovido por um cilindro
pneumático de duplo efeito com amortecimento regulável.
 A segunda, com responsabilidade de fixar a árvore de anéis por ação de um
cilindro pneumático, e promover-lhe um movimento de rotação através de
um motor elétrico. Este conjunto está fixado sobre uma base regulável no
sentido longitudinal da máquina.

Miguel Ângelo Ferreira Branco 13


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

1) Sistema de extração
2) Escova abrasiva
3)Sistema de rotação da
árvore
4) Carro transversal
5) Árvore de anéis
6) Contraponto rotativo
7) Comando de controlo

Figura 3.3.Descrição da escovadora externa

3.2.1. 1 º Escovamento vs 2 º Escovamento


Como foi referido anteriormente este processo de escovamento é realizado em
duas ocasiões, antes e após o revestimento PVD. Apesar do processo ser o mesmo, o que
se pretende alcançar no final de cada um dos escovamentos é diferente. Para entender
melhor a diferenças de cada um dos processos procedeu-se a construção da Tabela 3.1.
Tabela 3.1. Diferenças entre os escovamentos

Variáveis 1º Escovamento 2º Escovamento

-Pré-preparação da face de contacto -Remover possíveis nódulos na face


antes de ser revestida no processo de contacto, provenientes do processo
PVD PVD
-Remoção da rebarba -Atribuir à face exterior do anel um
Objetivo -Remover a sujidade na face de aspeto polido
contacto
-Arredondamento das arestas vivas
-Evitar o aparecimento de lascas após
o revestimento PVD
Escova -Flap -Nylon Abrasivo

Tempo -12 a 15 segundos com reversão -10 segundos com reversão


Pressão -1,0 bar -1 a 1,5 bar

14 2018
ANÁLISE DO PROBLEMA

As especificações técnicas das escovas utilizadas em cada processo são


referidas na seção 4.2.3 na Tabela 4.8, contudo nas Figura 3.4 a) e 3.4 b) são demonstradas
essas mesmas escovas abrasivas para percebermos qual é o seu aspeto e quais as suas
diferenças.

a) b)
Figura 3.4. Escovas usadas no processo; a) Escova Flap ; b) Escova Nylon

3.3. Fechador de Três Sapatas


O escovamento externo permite o escovamento do diâmetro externo de pacotes
de anéis, logo há necessidade de se realizar uma montagem prévia desses pacotes de anéis
para que possam ser transportados e montados na máquina responsável pelo escovamento
A máquina responsável pela montagem e desmontagem dos pacotes de anéis é
o Fechador de três sapatas. Como é necessário montar e desmontar sucessivamente árvores
de anéis que são introduzidas na escovadora, estas máquinas estão localizadas na mesma
área de trabalho.
Na Figura 3.5 pode-se observar qual é o layout das máquinas responsáveis pelo
processo.

Miguel Ângelo Ferreira Branco 15


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

a) b)

Figura 3.5. Máquinas usadas no processo; a) Layout; b) Disposição das máquinas na área de trabalho

A operação do dispositivo de três sapatas, visa confinar os anéis entre dois


colares com o mesmo diâmetro do anel que se pretende escovar, com a finalidade de
montar árvores de anéis.
Esta operação de confinamento de pacotes de anéis é feita numa máquina de
construção sólida e funcionamento pneumático ou electropneumático que é composta por:
 Chave de aperto/desaperto pneumático ou elétrico
 Cilindro pneumático para subida e descida da árvore
 Diversas válvulas e comandos
De forma a garantir um escovamento uniforme do perímetro exterior dos
pacotes de anéis tem de se assegurar que a montagem das árvores de anéis é feita
corretamente.
Apesar de ser uma operação complementar ao escovamento, é um processo
importante e a ter em atenção, pois a montagem incorreta dos pacotes de anéis pode
implicar um escovamento não uniforme, ou seja, certos objetivos do escovamento podem
não ser alcançados.
Na Figura 3.6 é possível perceber qual é a estrutura desta máquina
complementar à operação do escovamento externo.

16 2018
ANÁLISE DO PROBLEMA

a) b)

Figura 3.6. Máquina de montagem das árvores de anéis; a) Vista frontal; b) Vista de topo

3.4. Processo de Deposição Física em Fase de Vapor


(PVD)
A deposição física em fase de vapor é uma técnica que envolve a transferência
de material a nível atómico. É um processo em que átomos ou moléculas de um
determinado material a depositar são vaporizados de uma fonte sólida ou líquida e
transportados na forma de vapor em vácuo ou numa atmosfera a baixa pressão. Quando
entra em contacto com o substrato, passa novamente para a forma sólida, até gradualmente
formar uma fina camada.
Por norma o processo PVD é usado para aplicações em que se pretende
depositar finas camadas de revestimento de dimensão na ordem dos micrómetros, contudo
esta operação de revestimento também permite a criação de camadas com composições
graduais em camadas multilayer ou camadas com uma espessura razoável. Porém com o
aumento da espessura da camada há o inconveniente de o depósito ficar mais fragilizado,
já que são camadas duras logo com tensões internas muito altas. (Mattox 1992)
Existem diversas formas de vaporizar o material e condensá-lo no substrato. Na
Figura.3.7 encontram-se representadas várias técnicas possíveis a utilizar no processo
PVD.

Miguel Ângelo Ferreira Branco 17


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

Figura 3.7. Variantes do processo PVD

Na elaboração do presente estudo, o processo PVD utilizado foi a evaporação


por arco catódico guiado, sendo a condensação por deposição iónica reativa, ion plating.
Na Figura 3.8 apresenta-se uma montagem típica deste processo.

Figura 3.8. Câmara de deposição Adaptado de Pinto, et al,2004

3.4.1. Deposição do Revestimento


Previamente à deposição da camada de nitreto de crómio (CrN) há uma
deposição de uma intercamada de crómio (Cr). Esta camada intermédia localiza-se entre o
revestimento final e o substrato e tem como finalidade o aumento da adesão do nitreto de
crómio. Na Figura 3.9 é possível observar a disposição dessas camadas.
No caso dos anéis de óleo com PVD a especificação da espessura depositada
da intercamada é 1 a 3 µm.

18 2018
ANÁLISE DO PROBLEMA

Figura 3.9.Fases de revestimento do anel

Depois de depositada a camada intermédia de crómio, dá-se início à deposição


do revestimento no substrato. Nesta fase o gás reativo azoto ( ) é introduzido na câmara e
começa a reagir com os iões presentes no plasma e cria o nitreto de crómio. O plasma é
atraído para o substrato e deposita o nitreto de crómio devido à diferença de potencial
elétrico (Fernandes, 2015). Neste caso de estudo a especificação da espessura do
revestimento de nitreto de crómio é 14 a 20 µm.
A camada de nitreto de crómio depositada na superfície de contacto do anel
tem uma dureza entre 1200 e 1600 HV, conferindo ao anel uma face de contacto com um
revestimento duro, aumentado assim a sua resistência ao desgaste melhorando o tempo de
vida operacional do anel de óleo.

Miguel Ângelo Ferreira Branco 19


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20 2018
ANÁLISE DO PROBLEMA

4. ANÁLISE DO PROBLEMA
A indústria automóvel tem parâmetros de exigência elevados que são
transversais a todas as áreas envolvidas na produção. Neste caso de estudo, os anéis de
óleo têm especificações rigorosas, impostas pelas marcas com quem a MAHLE tem
parceria, e é imperativo que estas especificações sejam cumpridas.
No início deste estágio curricular foi introduzido o problema inicial
proveniente do processo do escovamento externo. Para dar início aos trabalhos de
desenvolvimento e otimização do processo foi necessário numa fase inicial fazer um
levantamento do estado atual do processo para compreender quais seriam as potenciais
falhas no processo que deviam ser abordadas.

4.1. Avaliação da Situação


O problema existente na MAHLE Componentes de Motores S.A, mais em
concreto na operação do escovamento externo do anel de óleo com PVD, trata-se de um
arredondamento excessivo das arestas vivas da face de contacto do anel, assim como um
arredondamento excessivo do chanfro do gap com a face de contacto do anel.
O arredondamento das arestas vivas é um dos principais objetivos deste
processo, pois há necessidade de cumprir as especificações impostas na produção dos
segmentos, de forma a garantir que há conformidade da face de trabalho do anel em
relação à camisa do pistão e assim contribuir para um melhor rendimento do motor (menor
consumo de óleo).
Um dos primeiros trabalhos realizados para a compreensão deste problema foi
uma pesquisa dos principais defeitos que causaram o refugo de peças no ano de 2016
referente ao anel de óleo com PVD. Depois de consultar o histórico de refugo da empresa,
conclui-se que o defeito mais frequente que originava refugo na produção do anel de óleo
foi o defeito de lascado na face de contacto. Na Figura 4.1 está representado o gráfico do
pareto de refugo do anel AN0074971 referente ao ano de 2016.

Miguel Ângelo Ferreira Branco 21


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

Figura 4.1. Pareto de refugo do AN74971 em 2016

O Diagrama de Pareto é uma técnica estatística que auxilia na tomada de


decisão, permitindo selecionar prioridades quando há um grande número de problemas.
Este princípio estabelece que a maior parte dos prejuízos são causados por um
número relativamente pequeno de defeitos, de acordo com a teoria pode-se dizer que 20%
dos defeitos são responsáveis por 80 % dos prejuízos (Bezerra,2014).
Neste caso se atuarmos nos 3 principais defeitos (lascado na face de contacto,
entrada na retificadora e lascado nas pontas) do total dos 6 defeitos identificados, ou seja,
se atuarmos sobre 50% dos defeitos (3/6=0.5) atuamos sobre 80% dos prejuízos (7.2/9.1 ≈
0.8).
Dos três defeitos identificados, dois deles (lascado na face de contacto e
lascado nas pontas) podem ser provenientes do processo de escovamento externo entre
outros processos.
Assim no âmbito da otimização e desenvolvimento deste processo os objetivos
são:
 Cumprir as especificações impostas pela MAHLE e pelo cliente, no que
diz respeito aos arredondamentos das arestas vivas.

22 2018
ANÁLISE DO PROBLEMA

 Reduzir o refugo provocado pelos defeitos do lascado da face de


contacto e lascado nas pontas provenientes desta fase de produção.

4.2. Levantamento do Estado Atual do Processo


Uma das etapas principais deste trabalho, foi a realização de um levantamento
do estado atual do processo com a finalidade de entender quais os princípios de
funcionamento do processo e perceber quais os parâmetros que tinham influência na
operação e potenciais falhas existentes.

4.2.1. Máquina
Como já foi indicado no Capítulo 3, para a operação do escovamento externo
são utilizadas duas máquinas, uma responsável pela montagem e desmontagem de pacotes
de anéis em árvores (Fechadora de Três Sapatas) e outra máquina responsável por efetuar o
escovamento da superfície de contacto dos anéis (Escovadora Externa).
Na totalidade existem seis escovadoras externas usadas pela MAHLE
Componentes de Motores S.A, distribuídas pelas várias linhas de produção da fábrica, este
trabalho apenas se aplicou a duas dessas máquinas (ESC-08 e ESC-06) que correspondiam
às máquinas onde o escovamento externo do anel de óleo com PVD é realizado.
Estas duas máquinas, apesar do seu princípio de funcionamento ser igual,
possuem algumas diferenças, nomeadamente no circuito pneumático. Uma das tarefas
elaboradas no âmbito deste trabalho foi a atualização do circuito pneumático de ambas as
máquinas visto que ao longo dos anos foram feitas algumas modificações sem serem
registadas.
O circuito pneumático atualizado de ambas as máquinas encontra-se no Anexo
A. Depois de identificados os vários elementos pneumáticos criou-se o diagrama do
circuito pneumático com recurso ao programa “Fluiddraw” da FESTO.
Depois de uma análise a ambas as máquinas verificou-se que o escovamento
era mais rápido na Escovadora 06 (ESC-06) do que na Escovadora 08 (ESC-08) para os
mesmos parâmetros de operação. Para perceber qual o motivo para este acontecimento,
procedeu-se a um levantamento das velocidades de rotação de ambas as máquinas, com

Miguel Ângelo Ferreira Branco 23


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

recurso a um tacómetro (instrumento de medição do número de rotações) e foi possível


construir a seguinte tabela.
Tabela 4.1.Velocidades rotacionais

Velocidade Rotacional (rpm)


Máquina ESC-06 ESC-08
Motor elétrico da escova 1410 1410
Motor elétrico da árvore 1410 1410
Árvore 417 437
Escova 2040 1485

4.2.1.1. Influência da velocidade


Através da Tabela 4.1 percebe-se qual será o principal motivo da ESC-06
efetuar um escovamento mais rápido. Verifica-se que a Escovadora 06 (ESC-06) tem uma
velocidade de rotação da escova superior à da Escovadora 08 (ESC-08).
A remoção do material no escovamento acontece devido ao atrito desenvolvido
entre a escova abrasiva e os anéis. Este atrito é garantido através do contacto no ponto
tangencial entre a escova e a árvore de anéis enquanto estão em rotação.
Logo, se a rotação da escova abrasiva for maior, consequentemente a sua
velocidade periférica no ponto de tangência também irá ser maior, sendo diretamente
proporcionais como se pode verificar na equação (4).
A velocidade tangencial ou periférica tem como principal característica a
mudança de trajetória a cada instante, porém a sua magnitude permanece constante, esta
característica da velocidade tangencial é demonstrada na equação (1) e pode ser observada
na Figura 4.2.

24 2018
ANÁLISE DO PROBLEMA

Figura 4.2. Velocidade periférica em diferentes pontos

(1)

A relação entre a velocidade tangencial e a velocidade angular (w) é definida pelo


raio da peça apresentada na equação (2):

(2)

Isolando-se w na expressão de rotação obtém-se a equação (3):

(3)

Substituindo-se w na expressão anterior (2), obtém-se a equação (4), que permite


relacionar a frequência rotacional com a velocidade periférica:

(4)

Considerando uma escova nova com diâmetro de 150 mm, e que se efetua um
escovamento de anéis com 75 mm de diâmetro, as velocidades periféricas da escova e da
árvore para ambas as máquinas estão apresentadas na Tabela 4.2.

Miguel Ângelo Ferreira Branco 25


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

Tabela 4.2. Velocidades periféricas

Vel.periférica (m/s) ESC-06 ESC-08


Árvore 1,64 1,72
Escova 16,02 11,66

Como se pode concluir a velocidade periférica da escova da Escovadora 06 (ESC-


06) é superior à da Escovadora 08 (ESC-08) como se previa, contudo através desta tabela
não é possível perceber qual o efeito direto no produto final.
Para entender melhor esta diferença de velocidades, procedeu-se ao cálculo da
diferença de tempos de escovamento entre as duas máquinas para um comprimento de
escovamento igual, isto é, quanto tempo se deve adicionar a ESC-08 para garantir que o
número de rotações da escova é igual ao número de rotações da escova na máquina ESC-
06 para um determinado tempo definido da operação.
O número de rotações da escova para um determinado tempo é dado pela
equação (5):

(5)

Sabendo que o perímetro da escova é dado por:

(6)

Se pretendermos saber qual o comprimento de escovamento para cada uma das


máquinas para um determinado tempo basta multiplicar as equações (5) e (6).
Como a velocidade de rotação da máquina ESC-06 é superior quando
comparada com a ESC-08, logo o tempo que a ESC-08 necessita adicionar para
corresponder ao mesmo número de rotações é dada pela seguinte equação (7):

(7)

26 2018
ANÁLISE DO PROBLEMA

Assim, foi possível construir a Tabela 4.3, onde se apresenta o tempo


necessário a acrescentar na ESC-08 de forma a igualar o número de rotações da ESC-06
para um determinado tempo de escovamento. Na Tabela 4.3 só se apresentam tempos de
escovamento superiores a 10 segundos, pois no processo os tempos de escovamento usados
são quase sempre iguais ou superiores.

Tabela 4.3. Diferença do nº de rotações da escova para cada máquina

Tempo de nº rot. ESC- nº rot. ESC- Diferença de Tempo


escovamento 06 08 nºrot acrescentar
10 340,00 247,50 92,50 3,74
12 408,00 297,00 111,00 4,48
14 476,00 346,50 129,50 5,23
16 544,00 396,00 148,00 5,98
18 612,00 445,50 166,50 6,73
20 680,00 495,00 185,00 7,47
22 748,00 544,50 203,50 8,22
24 816,00 594,00 222,00 8,97
26 884,00 643,50 240,50 9,72
28 952,00 693,00 259,00 10,46
30 1020,00 742,50 277,50 11,21

Através da Tabela 4.3 pode-se concluir que independentemente do tempo de


escovamento definido na operação, a ESC-08 necessita sempre de acrescentar 37 % do
tempo inicial do processo de forma a garantir que o número de rotações da escova é o
mesmo que ESC-06.

4.2.1.2. Esforços Aplicados na Árvore de Anéis


Para construir o diagrama de forças aplicado na árvore na ESC-08, foi
necessário fazer previamente uma pesquisa sobre quais seriam as forças aplicadas pelos
cilindros pneumáticos responsáveis pelo avanço do carro da escova ( e pelo avanço do
contraponto ( .
Contudo é necessário calcular o momento torsor aplicado pela chumaceira da
árvore . Este conjunto de solicitações está representado na Figura 4.3.

Miguel Ângelo Ferreira Branco 27


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

Figura 4.3. Forças aplicadas na árvore durante a operação

Como foi indicado na secção 4.2.1 o circuito pneumático foi atualizado e parte
desta tarefa consistiu em identificar os elementos pneumáticos e as suas caraterísticas
técnicas, ambos disponíveis no Anexo A. Na Tabela 4.4 são apresentadas as dimensões dos
cilindros pneumáticos e as especificações técnicas necessárias para representar o diagrama
de forças.
Tabela 4.4. Especificações dos cilindros pneumáticos

Diâmetro do Pressão de trabalho Força aplicada


Funcionalidade
Cilindro [mm] [bar] [N]
Avanço do carro da
Ø 50 1,0
escova
Ø 80 Avanço do contraponto 6.0

Para o cálculo do momento torsor aplicado na árvore de anéis são


necessários os valores indicados na Tabela 4.5. que dizem respeito ao motor elétrico que
transmite rotação à chumaceira através de polias e de uma correia em V.
Tabela 4.5.Especificações do motor elétrico da árvore

Motor eléctrico Potência


Trifásico assíncrono 1.5 kW (2 cv)

A velocidade linear v de uma correia é a mesma para todos os pontos


periféricos, considerando que não há escorregamento. Assim da Figura 4.4, temos:

(8)

28 2018
ANÁLISE DO PROBLEMA

Figura 4.4. Polias do motor e chumaceira acoplada por uma correia Adaptada Costa Lino (2013)

Onde é o raio da polia motora, é o diâmetro da polia motora, é a sua


velocidade angular em rad/s e é a velocidade angular em rpm. Analogamente, para a
polia movida (chumaceira da árvore), temos:

(9)

Onde é o raio da polia movida, é o diâmetro da polia movida, é a sua


velocidade angular em rad/s e é a velocidade angular em rpm. Comparando as equações
(8) e (9) obtemos a relação diâmetro versus frequência rotacional, consultando a Tabela 4.1

é possível determinar a relação de transmissão i = da seguinte forma:

(10)

Por definição, o momento torsor ( ) é igual ao produto da força tangencial pelo


raio da polia como está representado na Figura 4.5, isto é:
(11)

Miguel Ângelo Ferreira Branco 29


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

Figura 4.5.Força tangencial aplicada na polia Adaptada Costa Lino (2013)

Como já foi identificado na Tabela 4.5 as especificações do motor elétrico,


necessárias para o cálculo do momento torsor aplicado na árvore de anéis, só temos
de relacionar a força tangencial na extremidade da polia acoplada ao motor, com a potência
que é dada pela equação (12):

(12)

Sendo 1 cv = 735,5 W, e sabendo os dados da Tabela 4.5 pode-se resolver a


equação (12) ficando:

(13)

Admitindo que não há deslizamento da correia entre as polias motora e movida,


então a força tangencial é a mesma ao longo da correia, de modo que:

(14)

Sabendo que a relação de transmissão (i) é a razão entre o diâmetro da polia


movida pelo diâmetro da polia motora obtido na equação 10, então o momento torsor da
polia movida será:

30 2018
ANÁLISE DO PROBLEMA

(15)

Conhecendo todas as forças e o momento torsor aplicados na árvore pode-se


realizar o diagrama de forças, representado na Figura 4.6. As forças externas aplicadas na
árvore são identificadas na Tabela 4.4.

71 mm 130 mm 73 mm

Figura 4.6.Diagrama de forças aplicadas na árvore de anéis

⇒ ⇒ (16)

4.2.2. Método
Numa fase inicial, procedeu-se a um acompanhamento de alguns lotes de
produção para compreender qual a cronologia de movimentos para a montagem e
desmontagem de pacotes de anéis e quais os procedimentos para a realização do
escovamento externo. A metodologia para a realização da operação é a seguinte:

i. Agrupa-se um pacote de anéis, que é montado na árvore, colocado sobre um colar


com o mesmo diâmetro do anel com os gaps alinhados.
ii. De seguida é colocado um outro colar na parte superior do pacote dos anéis e por fim
coloca-se uma arruela em U.

Miguel Ângelo Ferreira Branco 31


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

iii. O operador pressiona o botão do lado direito da fechadora e o cilindro de suporte da


árvore e a mesa de apoio das sapatas descem em simultâneo, permitindo o
confinamento dos anéis da árvore através do aperto das sapatas.
iv. Quando o cilindro e a mesa se encontrarem na sua posição final e as sapatas estão
devidamente fechadas, aperta-se a árvore com a fechadora pressionado ambos os
botões em simultâneo
v. Depois de a árvore estar devidamente apertada, o seu suporte de apoio sobe e o
operário retira-a dessa posição e passa uma escova de aço nos gaps para a remoção de
rebarba (só usa a escova de aço nos gaps no 1º escovamento).
vi. A árvore dos anéis depois de devidamente montada é colocada na chumaceira e é
apoiada num suporte do contraponto rotativo.
vii. A máquina é acionada manualmente pressionando em simultâneo dois botões para
iniciar o escovamento, dando-se o avanço do carro da escova ficando a escova em
contacto com a árvore de anéis. Ao mesmo tempo ambos os elementos já estão em
rotação.
viii. No final do tempo de escovamento introduzido no quadro de comando o carro da
escova recua até a sua posição inicial e a escova inicia a rotação no sentido inverso. O
carro avança novamente ficando a escova e o pacote de anéis em contacto. A árvore
continua a sua rotação com a mesma orientação.
ix. Depois de realizado o escovamento em ambos os sentidos de rotação imprimidos pela
escova, o carro da escova recua para a sua posição inicial assim como o contraponto
rotativo, ficando a árvore de anéis apoiada na chumaceira e no suporte de apoio do
contraponto. Retira-se a árvore de anéis e coloca-se na fechadora e desaperta-se a
árvore com recurso a fechadora pressionando o botão do lado direito da fechadora.

Todos estes passos são demonstrados na Figura 4.7, onde está representada toda a
sucessão de movimentos necessários para a montagem e desmontagem das árvores de
anéis que são introduzidos na escovadora.

32 2018
ANÁLISE DO PROBLEMA

i) ii) iii)

iv) v) vi)

vii) viii) ix)


Figura 4.7. Procedimentos da operação

Miguel Ângelo Ferreira Branco 33


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

4.2.2.1. Influência da pressão


A pressão de escovamento é um dos parâmetros mais importantes do processo,
pois é esta pressão que permite o avanço do carro da escova e garante o escovamento do
pacote de anéis. Verificou-se durante o acompanhamento da operação que a pressão de
escovamento na maior parte das vezes era superior à pressão indicada no IUA que deve ser
seguida pelo operador. Para além disso verificou-se também que para pressões inferiores a
1 bar o avanço do carro era significativamente mais lento.
Para compreender a influência da variação da pressão no escovamento,
procedeu-se à construção de um gráfico em que se pretende demonstrar como varia a força
que a escova imprime na árvore de anéis, com a variação da pressão selecionada para
efetuar a operação.
Na Figura 4.8 encontra-se representado um gráfico Força [N] / Pressão [bar] do
cilindro pneumático responsável pelo avanço do carro da escova. Com base na
documentação técnica do cilindro pneumático em Anexo A foi possível entender como
varia a força que o cilindro transmite consoante a pressão seleccionada durante a operação.

Figura 4.8. Efeito da variação da pressão

Observa-se então que para uma pequena variação de 0,5 bar há um aumento de
quase 100 N, ou seja, este fator pode ter uma influência direta nos resultados finais do
processo sendo um dos aspetos a ter em atenção para o planeamento dos testes
experimentais.

34 2018
ANÁLISE DO PROBLEMA

4.2.3. Material
Neste caso o material base do anel em estudo pertence à família CVB86XRC
de ferro fundido nodular com revestimento em PVD (Physical Vapour Deposition).
O ferro fundido nodular é uma liga composta basicamente por carbono e
silício, com o carbono (grafite) livre na matriz metálica com forma esferoidal.
O ferro fundido nodular é obtido por processo de fundição centrifugada e
possui excelentes propriedades como elevada tenacidade, resistência à tração, ductilidade,
resistência ao desgaste e à fadiga. Estas características permitem que seja um dos materiais
mais utilizados na indústria automóvel devido às exigências impostas para a fabricação de
motores de combustão interna.
O anel alvo de estudo será AN0076560 com 75 mm de diâmetro, que tem uma
matriz que é essencialmente temperada martensítica devido a um rápido arrefecimento,
com carbonetos finos uniformemente distribuído. Na sua estrutura não existirá ferrite livre.
O material base deste anel é MF053-L. Segundo a norma as propriedades do
material base são indicadas na Tabela 4.6 e a composição química é indicada na Tabela 4.7

Tabela 4.6.Propriedades mecânicas do material MF053-L (Norma S-R-MS-0038-en, MAHLE Componentes de


Motores S.A.)

Descrição do material Martensítico


Dureza 286 – 412 HV
Resistência á flexão 1300 MPa
Módulo de elasticidade 145 – 193 MPa

Tabela 4.7. Composição química do material MF053-L (Norma S-R-MS-0038-en, MAHLE Componentes de
Motores S.A.)

Elemento C Si Mn P S Ni Cr Mo Cu Mg
3.30- 2.40- 0.20- 0.15 0.015 0.30- 0.10 0.30 0.12 0.02-
%
3.90 2.90 0.80 máx máx 1.50 máx máx máx 0.07

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Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

Para a montagem das árvores de anéis, que posteriormente são introduzidas na


escovadora para efetuar o processo pretendido, é imperativo o uso do ferramental correto.
Este ferramental é fabricado pela MAHLE Componentes de Motores S.A. (por
vezes comprado a outras empresas). Nas máquinas para realizar o confinamento dos anéis
(Fechador) e na escovadora o ferramental utilizado encontra-se esquematizado na Figura
4.9.

Figura 4.9. Esquema de ferramental usado no processo

A árvore é uma peça em aço tratado, retificada com rigor (Anexo B) onde vão
ser colocados os anéis, colares e espaçadores. No seu conjunto fazem parte uma porca na
extremidade da árvore que permite o aperto e desaperto, e uma arruela em que é colocado
na extremidade da árvore entre o colar e a porca de aperto/desaperto. Na Figura.4.10 é
possível verificar a disposição dos elementos numa árvore de anéis devidamente montada.

Colares

Porca de aperto

Arruela

Figura 4.10. Ferramental usado na montagem de pacotes de anéis

36 2018
ANÁLISE DO PROBLEMA

A escova abrasiva é a responsável pela remoção de material da face de


contacto do anel através do atrito que se desenvolve entre a escova e o pacote de anéis
durante o processo de escovamento.
Como foi identificado na Tabela 3.1 são utilizadas diferentes escovas para cada
tipo de escovamento, consequência do objetivo de cada tipo de escovamento e do
revestimento que é aplicado à face de contacto do anel. A Tabela 4.8 apresenta as
diferenças entre as escovas que são utilizadas nas várias fases do processo.

Tabela 4.8. Descrição dos tipos de escovas usadas no processo

Características 1º Escovamento 2º Escovamento

Designação da
Escova Flap (Figura 3.4 )) Escova Nylon (Figura 3.4 b)
escova

Dimensões 150 x 50,8 x 133 mm 150 x 90 x 50 x 135 mm

Tipo de
Scotch Brite (malha abrasiva) Nylon 0,6 mm
filamento
Tipo de
Caburo de Silício Óxido de Alumínio
abrasivo
Densidade Alta Alta

Fabricante Polibras C.Hilzinger-Thum


Escova composta de secções de
É uma escova composta por
material não tecido cortado no
filamentos de nylon abrasivo
sentido do comprimento e ligado a
Especificação ligados perpendicularmente a um
um núcleo cilíndrico, com um
núcleo cilíndrico.
abrasivo super fino.

4.2.3.1. Influência do desgaste da escova


Através da equação (4) demonstrada na secção 4.2.1.1 verifica-se que a
velocidade periférica da escova é diretamente proporcional ao diâmetro da escova, logo à
medida que a escova se vai desgastando, menor vai ser o seu diâmetro e consequentemente
menor a velocidade periférica no ponto tangencial que promove a remoção de material.
Na Figura.4.11 encontra-se um gráfico que demonstra a variação da velocidade
periférica da escova com a sua sucessiva diminuição do diâmetro.

Miguel Ângelo Ferreira Branco 37


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

Figura 4.11. .Influência do desgaste da escova

Apesar da máquina ESC-06 possuir uma velocidade de rotação da escova


maior, verifica-se que em ambos os casos para uma escova em fim de vida, ou seja, uma
escova que possui um diâmetro igual ou inferior a 90 mm a sua velocidade periférica
representa 60 % da velocidade periférica inicial para uma escova nova com diâmetro de
150 mm.

38 2018
ANÁLISE DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

5. ANÁLISE DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS


Conhecendo os fatores que podem ter influência na operação, é possível realizar
uma deteção analítica de falhas de forma a encontrar as causas dos problemas existentes.
Neste estudo aplicou-se uma deteção analítica de falhas usando técnicas de análise
de modo de falha e efeito, proveniente do inglês “Failure Mode and Effect Analysis” (FMEA).
Esta ferramenta baseia-se num método sistemático de identificação e prevenção de
problemas relativos a um produto e/ou processo antes de estes ocorrerem. Este método de
análise foca-se em prever defeitos, promover a segurança e aumentar a satisfação do cliente. A
indústria automóvel adaptou esta técnica de análise de falhas como uma ferramenta usada para
a melhoria da qualidade do produto e/ou processo, sendo que o uso adequado desta ferramenta
pode ter um impacto positivo na organização onde é aplicada, devido à sua natureza de
prevenção de defeitos (McDermott et al.,2009).
O objetivo da FMEA é abranger todas as possíveis causas que um produto ou
processo pode falhar, a falha ocorre quando um processo não funciona como devia ou quando o
processo não alcança os objetivos pretendidos.
O método de falha não é limitado ao processo ou produto, isto porque as falhas
podem surgir devido a erros cometidos pelo operador, e este tipo de falhas também devem ser
incluídas

5.1. Potenciais Modos de Falha


A Tabela 5.1 apresenta as possíveis causas e soluções dos defeitos que surgem
durante o processo do escovamento externo. Estes defeitos podem ser causados tanto na
máquina onde o escovamento é realizado como podem ocorrer na montagem ou desmontagem
da árvore de anéis.

Miguel Ângelo Ferreira Branco 39


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

Tabela 5.1.Identificação de potenciais modos de falha do processo

Defeito Causa Solução

-Escova gasta -Trocar de escova


-Não remoção de rebarbas -Pressão de escova -Ajustar pressão
-Não arredondamento dos cantos desajustada -Regular o tempo de
das faces e polimento -Tempo de escovamento escovamento
-Não arredondamento do gap errado - Ajustar a pressão de aperto
-Gaps do anel fechado da árvore
-Árvore da escova não
-Centralizar o carro
-Anéis de uma ou de ambas as centralizada
transversal
extremidades não escovados -Excesso de anéis na
-Reduzir o número de anéis
árvore
-Ferramental danificado
ou desgastado -Retificação do ferramental
-Ferramental com danificado
sujidade ou mal -Limpeza do ferramental no
-Lascado na face de contacto identificado final da sua utilização
-Lascado nas pontas -Queda de anéis -Sensibilização por parte do
-Queda da árvore operador
-Pressão de aperto da -Ajustar pressão de aperto
árvore desajustada -Montar árvore de novo
-Anel mal posicionado

5.2. Problemas Detetados


Durante o acompanhamento de diversos lotes de produção para a realização do
levantamento do estado atual do processo foram detetados alguns problemas.
Com a identificação destes problemas, pretendeu-se entender qual seria o seu efeito
no processo e de que forma afetam o objetivo final da operação.
Os problemas detetados foram os seguintes:

40 2018
ANÁLISE DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

1) Indefinição do comprimento do pacote de anéis


A seleção de pacotes de anéis é feita manualmente. Como consequência
os pacotes de anéis nunca são do mesmo comprimento sendo que em
alguns casos os pacotes de anéis podiam ser maiores do que a largura da
escova, o que implica que os anéis das extremidades não eram
escovados, como se verifica na Figura 5.1.

Figura 5.1.Anéis mal escovados

2) Repetição do escovamento
Por vezes assistia-se a uma repetição de escovamento de anéis, isto acontece
quando os operadores completam o pacote de anéis com anéis escovados
anteriormente devido a não terem anéis suficientes por escovar para
completar a árvore.
3) Restrições da máquina
Verificou-se que as máquinas têm algumas restrições relativamente ao
diâmetro minino da escova que se pode usar, de forma a garantir que há
contacto entre a escova abrasiva e o pacote de anéis.
Na Figura.5.2 está representada a distância entre o eixo da escova na
posição final de avanço do carro e o eixo da árvore para a ESC-08. Logo, se
pretendemos escovar um anel de 75 mm de diâmetro, de forma a garantir
que há escovamento, o diâmetro da escova deve ser maior do que 85 mm.

Miguel Ângelo Ferreira Branco 41


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

80 mm

Figura 5.2. Distância entre eixos Adaptada Manual de formação MAHLE

Contudo na ESC-06 o problema é diferente, pois se houver avanço completo


do carro da escova isto implica que vai haver contacto entre a proteção da
correia do motor da escova e a chumaceira de rotação da árvore como se
pode verificar na Figura 5.3. Isto deve-se ao fato de não existir nenhum
batente que limite a posição final de avanço da escova.

Figura 5.3. Contacto entre a proteção da correia e a chumaceira

42 2018
ANÁLISE DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

4) Indefinição da força fechamento das sapatas


Na máquina responsável pela montagem das árvores de anéis a força de
fechamento das sapatas garante o confinamento dos anéis, contudo tem que
existir um compromisso entre a força aplicada para o confinamento dos
anéis e o tamanho da folga dos anéis, não podendo haver demasiado aperto
nem vice-versa.
Sabe-se que é possível regular essa pressão de fecho das sapatas, contudo
em ambas as máquinas não existe nenhum manómetro que nos indique qual
o valor dessa pressão.
A ESC-06 contém esse manómetro que indica a pressão de aperto da árvore
de anéis, porém esse manómetro encontra-se danificado como se verifica na
Figura 5.4.

Figura 5.4.ESC-06 Manómetro de fecho das sapatas danificado

Miguel Ângelo Ferreira Branco 43


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

5) Orientação da malha da escova


Com foi indicado na Tabela.4.8 a escova Flap usada no primeiro
escovamento é composta de seções de material não tecido cortado no
sentido do comprimento e ligado a um núcleo cilíndrico, com um abrasivo
fino. Isto implica que no ponto de tangência entre a árvore e a escova, a
malha abrasiva é paralela ao canal externo do anel, logo para garantirmos
que há contacto da malha abrasiva da escova com o canal externo implica
que a pressão exercida pela escova nos lands da face de contacto ( ) é
maior do que a pressão exercida pela escova no canal externo ( , ou seja
como representa na Figura 5.5.

Figura 5.5. Pressão da escova no ponto de tangência

44 2018
PLANEAMENTO DE EXPERIÊNCIAS

6. PLANEAMENTO DE EXPERIÊNCIAS

6.1. Procedimentos
Depois de realizada uma análise detalhada sobre os parâmetros usados durante
a operação, é possível criar uma matriz de testes onde fazemos variar alguns desses
parâmetros para se verificar qual é o verdadeiro impacto no que diz respeito à remoção do
material.
Para a criação das matrizes de testes há necessidade de, em primeiro lugar,
definir quais os parâmetros que se pretende variar assim como o que se pretende avaliar
com estes testes.
Assim estes testes são divididos em 2 avaliações distintas:
 Numa primeira fase pretende-se avaliar a influência da pressão e do tempo de
escovamento no processo atual. (Testes realizados com escova atual).
 Numa segunda fase pretende-se avaliar a influência da densidade e do tamanho de
grão da escova, para isso foram utilizadas escovas com especificações diferentes da
escova atual.
Para obter dados concretos em relação à remoção de material da face de
contacto do anel, retirou-se uma amostragem de anéis antes de se efetuar a operação, e
procedeu-se à sua gravação numérica, para de seguida se efetuar as medições do raio da
face de contacto e dos chanfros do gap.
A gravação numérica facilita a identificação dos anéis e permite efetuar um
acompanhamento preciso dos testes. Para além disso, certifica-se que se medem os
mesmos anéis antes e após o processo podendo comparar resultados nos mesmos anéis.
No Anexo C encontra-se a lista utilizada para o acompanhamento dos testes,
onde são explícitos os parâmetros usados para cada experiência e se indica o número do
anel introduzido em cada experiência.
A rebarba é inspecionada visualmente antes e depois do processo. É de extrema
importância verificar se a rebarba é removida pós processo de escovamento, para assegurar
que há deslizamento da mola.

Miguel Ângelo Ferreira Branco 45


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

Estes testes foram realizados com o anel de óleo AN0076560 (desenho técnico
encontra-se no Anexo D) que possui um diâmetro de 75 mm e cujos parâmetros da
operação usados atualmente na produção deste anel e definidos como a Baseline da matriz
de teste são:
 Pressão de escovamento: 1 bar
 Tempo de escoamento: 12 segundos

6.1.1. Medições
A execução de todas as medições para a análise dos resultados, foram
realizadas no laboratório de metrologia da MAHLE. Estas medições foram efectuadas num
perfilómetro Surfcom 1800D representado na Figura 6.1, neste caso o anel é inserido no
ponto de medição (180 ᵒ) sendo o valor que se pretende medir obtido através do contacto
da ponta na superfície de contacto do anel.

Figura 6.1. Perfilómetro Surfcom 1800D

Todos os anéis que foram previamente gravados numericamente, foram


sujeitos a medições antes e após escovamento, externo, de forma a compreender quais as
variações nos mesmos anéis resultantes dos testes elaborados.
Neste caso de estudo em cada anel foram medidos o raio da face de contacto da
land superior e o arredondamento do chanfro do gap com a face de contacto (nas duas
lands, só do lado do PIP)

46 2018
PLANEAMENTO DE EXPERIÊNCIAS

Na Figura 6.2 está representado um exemplo das medições dos raios da face de
trabalho do anel, e na Figura 6.3 está representado um exemplo das medições do
arredondamento do chanfro do gap com a face de contacto do anel.

Figura 6.2.Exemplo de medição do raio da face de contacto do anel

Figura 6.3.Exemplo de medição do arredondamento do chanfro do gap com a face de contacto

6.2. Design of Experiments (DOE)


É uma ferramenta estatística poderosa desenvolvida no século XX por Sr.
Ronald Fisher. O DOE tem como finalidade melhorar o produto e o processo, comparando
alternativas e identificando fatores significativos que afetam os outputs de forma a obter o
processo otimizado e reduzir a variabilidade dos fatores.

Miguel Ângelo Ferreira Branco 47


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

Existem três aspetos do processo que são analisados numa experiência, que
podem ser definidos como fatores, níveis que correspondem aos valores ou estados que
cada fator pode tomar, e saída que neste caso são os resultados.

6.2.1. Fatores e Níveis


Como foi referido anteriormente ao longo do capítulo 4, os parâmetros que
influenciam o escovamento, fatores de controlo, são a pressão e tempo de escovamento. As
saídas, ou respostas dos testes realizados são, quantidade de rebarba no canal externo,
arredondamento das faces de contacto do anel e arredondamento dos chanfros do gap.
Para além de variar os parâmetros de pressão e tempo de escovamento, foram
realizados testes com escovas com especificações diferentes da escova atual. Escovas com
densidades e tamanhos de grão inferiores do que a escova atual apresenta.
Durante o período de estágio foram realizadas várias reuniões com diferentes
fornecedores para tentar perceber quais seriam as alternativas disponíveis para a realização
do processo.
Depois de contactar a Polibras (fornecedora da atual escova usada no processo)
chegou-se à conclusão que seria possível fabricar o mesmo tipo de escovas com densidades
e grãos inferiores mantendo as mesmas dimensões da escova e o mesmo tipo de grão
abrasivo, que neste caso se trata do carburo de silício.
Na Tabela 6.1 são identificadas as especificações técnicas das escovas
utilizadas para a realização dos testes, sabendo que a Escova A é referente à escova usada
atualmente no processo.
Tabela 6.1. Especificações técnicas das escovas de teste

Identificação Designação Densidade Tamanho Grão


Escova A Flap-MA SC81 CD115 Alta P380 a P500
Escova B Flap-MA SC81 LD Média P380 a P500
Escova C Flap-MA SC81 CD88 Baixa P380 a P500
Escova D Flap-MA SC91 CD113 Alta P500 a P600
Escova E Flap-MA SC101 CD125 Alta P900 a P1000

48 2018
PLANEAMENTO DE EXPERIÊNCIAS

6.2.1.1. Matrizes de testes


O primeiro teste consiste em verificar o comportamento da Escova A, usada no
processo atual, com a variação da pressão e tempo de escovamento. Na Tabela 6.2 é
possível verificar como se fez variar esses parâmetros consoante as várias experiências
definidas.
Usa-se como parâmetros de referência, os mesmos parâmetros usados em
condições normais de produção, ou seja, P = 1 bar e t = 12 s definidos na Tabela 6.2 como
Experiência E (Baseline).
Tabela 6.2. Matriz de testes para a Escova A usada atualmente

Escova A t=6s t = 12 s t = 18 s
P = 0,75 bar Exp. A Exp. B Exp C
P = 1 bar Exp. D Exp. E Exp.F
P = 1,5 bar Exp. G Exp. H Exp. I

Os procedimentos dos testes com as restantes escovas vão ser semelhantes, só


que desta vez só se vai usar dois níveis de pressão e dois níveis de tempo como está
representada nas Tabela 6.3 e Tabela 6.4.
A Tabela 6.3 é relativa às matrizes de testes para escovas com o mesmo
tamanho de grão que a Escova A mas com densidades inferiores.
A Tabela 6.4 é relativa às matrizes de testes para escovas com a mesma
densidade que a Escova A mas com tamanho de grão inferior.
Tabela 6.3. Matriz de testes; a) Escova com densidade média; b) Escova com densidade baixa

Escova B t = 12 s t = 18 s Escova C t = 12 s t = 18 s
P = 1 bar Exp. 1 Exp.2 P = 1 bar Exp. 5 Exp.6
P = 1,5 bar Exp. 3 Exp. 4 P = 1,5 bar Exp. 7 Exp. 8
a) b)

Tabela 6.4. Matriz de testes; a)Escova com grão super fino; b) Escova com grão ultra fino

Escova D t = 12 s t = 18 s Escova E t = 12 s t = 18 s
P = 1 bar Exp. 10 Exp.11 P = 1 bar Exp. 14 Exp.15
P = 1,5 bar Exp. 12 Exp. 13 P = 1,5 bar Exp. 16 Exp. 17
a) b)

Miguel Ângelo Ferreira Branco 49


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

6.3. Resultados
Para além de se pretender verificar qual é a remoção de material da face de
contacto do anel, pretende-se também verificar se houve remoção da rebarba no canal
externo na zona do gap.
Logo para complementar essa verificação foi necessário efetuar uma inspeção
visual aos anéis antes destes serem submetidos ao escovamento externo, de forma a
analisar se havia algum tipo de rebarba presente no anel, verificando-se que 65 % dos anéis
gravados anteriormente possuíam rebarba em pelo menos um dos seus gaps.
Após efetuar os testes, foram realizados os mesmos procedimentos com o
objetivo de determinar se houve remoção da rebarba, concluindo-se que para todas as
experiências efetuadas nenhum dos anéis de referência inspecionados anteriormente
possuíam rebarba.
Este acontecimento deve-se ao fato de posteriormente à montagem das árvores
dos anéis se utilizar uma escova de aço na zona dos gaps com o propósito de partir essa
mesma rebarba para que seja mais facilmente removida no escovamento externo.
Na Figura 6.4 a) pode-se verificar a existência de rebarba no canal externo do
anel antes de se efetuar o escovamento, enquanto na Figura 6.4 b) observa-se que para o
mesmo anel após a operação essa rebarba já não existe. As setas vermelhas na Figura 6.4 a)
indicam a localização da rebarba.

a) b)
Figura 6.4.Localização da rebarba; a) Anéis antes do escovamento; b) Anéis após escovamento

50 2018
PLANEAMENTO DE EXPERIÊNCIAS

Na totalidade foram efetuados 26 testes, equivalentes a um total de 63


amostragens usadas para medição.
Para a análise dos dados foram considerados os raios da face de contacto do
land superior como está indicado na Figura 6.5 a), assim como a altura do chanfro nas duas
lands do lado do PIP como está indicado na Figura 6.5 b). Para ambos os casos as
medições foram efetuadas antes e após o escovamento para os mesmos anéis.
Os resultados obtidos podem ser visualizados na Figura 6.6 e 6.7.

a) b)
Figura 6.5.Pontos alvo de medição; a) Raios da face de contacto; b) Chanfros das pontas do gap

Valores Superiores a Especificação

Valores Ideais

Aresta Viva

Figura 6.6.Resultados dos raios da face de contacto

Miguel Ângelo Ferreira Branco 51


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

Na Figura 6.6 apresentam-se os resultados obtidos para os raios da face de


contacto da land superior como está indicado na Figura 6.5 a), com recurso a um diagrama
de caixa que nos indica onde estão localizados 50 % dos valores mais prováveis, a mediana
e os valores extremos.
Na Tabela 6.5 é indicado a quantidade de anéis utlizados em cada experiência e
o número de medições efetuadas relativas a cada uma das boxplot representadas na Figura
6.6.
Tabela 6.5. Número de medições efetuadas para cada uma das boxplot

Raios da Face de Nº de Anéis Nº de medições por Totalidade de


Contacto medidos anel medições
Antes Escovamento 54 1 54
Escova A (Baseline) 6 1 6
Escova A 10 1 10
Escova B 8 1 8
Escova C 8 1 8
Escova D 8 1 8
Escova E 8 1 8

As duas primeiras boxplot ou “caixas” são referentes respetivamente aos raios


da face de contacto antes do escovamento e após o escovamento (Baseline).
Logo, através da segunda boxplot é possível concluir que efetivamente há uma
remoção excessiva de material na operação atual, obtendo-se resultados muito próximos e
alguns superiores à especificação pré definida de 0.05 mm para o raio da face de contacto
da land do anel.
As restantes boxplot dizem respeito às escovas identificadas na Tabela 6.1,
para a criação destas boxplots foram utilizados os mesmos parâmetros para todas as
escovas, isto é, só foram incluídas as pressões de 1 e1,5 bar e tempos de 12 e 18 segundos,
inclusive para a Escova A apesar de terem de ser feitos testes com parâmetros inferiores
aos aqui definidos.
É possível concluir que a escova que obtém melhores resultados, ou seja, que
remove menos material e permite obter anéis com raios ideais, garantido que há suficiente

52 2018
PLANEAMENTO DE EXPERIÊNCIAS

arredondamento das arestas vivas, trata-se da Escova E que de todas as escovas testadas é a
que apresenta o tamanho de grão menor.

Valores Superiores a Especificação

Valores Ideais

Aresta Viva

Figura 6.7 Resultados da altura dos chanfros no gap

Na Figura 6.7 apresenta-se os resultados obtidos para a altura dos chanfros no


gap em ambos os lands como está indicado na Figura 6.2 a). A construção deste diagrama
é similar ao diagrama anterior na Figura 6.6. Na Tabela 6.6 é indicado a quantidade de
anéis utlizados em cada experiência e o número de medições efetuadas relativas a cada
uma das boxplot representadas na Figura 6.7.
Tabela 6.6.Número de medições efetuadas para cada uma das boxplot

Altura do Chanfro Nº de Anéis Nº de medições por Totalidade de


no Gap medidos anel medições
Antes Escovamento 54 2 108
Escova A (Baseline) 6 2 12
Escova A 10 2 20
Escova B 8 2 16
Escova C 8 2 16
Escova D 8 2 16
Escova E 8 2 16

Miguel Ângelo Ferreira Branco 53


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

As duas primeiras boxplot ou “caixas” são referentes respetivamente à altura


dos chanfros antes do escovamento e após o escovamento (Baseline)
É possível verificar na Figura 6.4 através da segunda boxplot para o
escovamento atual (Baseline) que não há um arredondamento excessivo como acontece
para os raios da face de contacto. Sendo então o arredondamento dos raios da face de
contacto mais crítico do que o arredondamento da altura dos chanfros.
Para além disso verifica-se que de todas as escovas testadas só a Escova B é
que obtém alguns valores críticos, sendo que as restantes apresentam valores ideais.

6.3.1. Influência da Pressão e do Tempo de Escovamento


Como foi referido no início deste capítulo uma das intenções que se pretende
com estes testes é avaliar a influência dos fatores de controlo do processo, ou seja, avaliar a
influência da pressão e do tempo de escovamento.
O principal objetivo é entender qual a variação da remoção de material da face
de trabalho do anel quando se faz aumentar a pressão mantendo o tempo, e vice-versa.
De seguida, procede-se à comparação de resultados de modo a determinar qual
dos parâmetros tem mais influência no processo e ao qual se deve dar especial atenção
durante a realização da operação.
De forma a entender como pode variar o processo atual, este estudo foi
realizado com recurso aos resultados obtidos através da matriz da Tabela 6.2, ou seja,
utilizando a escova atual usada na operação do escovamento externo.
Na Figura 6.8 e 6.9 são representados gráficos que nos permitem entender qual
a diferença entre os raios antes e após do processo, consoante se varia o tempo e a pressão
do escovamento.

54 2018
PLANEAMENTO DE EXPERIÊNCIAS

Figura 6.8.Diferença entre raios com a variação do tempo

Figura 6.9.Diferença entre raios com a variação da pressão

Através da Figura 6.8 verifica-se que a diferença entre os raios aumenta à


medida que se aumenta o tempo de escovamento, como era esperado, sendo que para os
mesmos tempos de escovamento a taxa de remoção de material não aumenta
significativamente da pressão 0.75 para a pressão de 1 bar.
Contudo verifica-se que para pressões superiores a 1 bar há uma maior
variação entre raios, quando comparada com pressões inferiores.
O mesmo se verifica na Figura 6.9, como seria espectável a diferença entre os
raios aumenta com o aumento da pressão, porém em todos os tempos de escovamento
denota-se que a taxa de remoção de material aumenta significativamente para a pressão de
1,5 bar.

Miguel Ângelo Ferreira Branco 55


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

Logo é possível concluir que para tempos superiores a 12 segundos a taxa de


remoção de material aumenta, mas não tão significativamente. Porém, com pressões
superiores a 1 bar a taxa de remoção de material aumenta consideravelmente, sendo a
pressão o parâmetro que tem mais influência no processo, e é o fator de controlo ao qual se
deve prestar mais atenção e cuidado durante a realização da operação.

6.3.2. Influência da Densidade e do Tamanho do Grão Abrasivo


da Escova
Nesta parte do trabalho pretende-se avaliar qual é o impacto da densidade e do
tamanho do grão abrasivo da escova, visto que foram testadas escovas com densidades e
grão abrasivo inferiores que àqueles que a escova usada atualmente no processo apresenta.
Como foi referido na Tabela 6.1 todas as escovas tinham alguma caraterística
diferente da Escova A, assim podemos verificar qual das caraterísticas, densidade ou
tamanho de grão, tem maior impacto na remoção de material.
Na Figura 6.10 está representado um gráfico que apresenta a diferença entre os
raios da face de contacto antes e após a operação de escovamento, relacionado com as
densidades de cada uma das escovas.
É importante referir que neste caso todas as escovas têm o mesmo tamanho de
grão abrasivo só há variação da densidade entre as escovas usadas.

Figura 6.10. Diferença entre raios com a diminuição da densidade da escova.

56 2018
PLANEAMENTO DE EXPERIÊNCIAS

Na Figura 6.11 está representado um gráfico que apresenta a diferença entre os


raios da face de contacto antes e após a operação de escovamento, relacionado com o
tamanho de grão abrasivo de cada escova. Neste caso as escovas têm uma densidade muito
semelhante, contudo têm tamanhos de grão diferentes.

Figura 6.11.Diferença entre raios com a diminuição do tamanho de grão abrasivo da escova

Através da análise dos gráficos da Figura 6.10 e da Figura 6.11, verifica-se


que o tamanho de grão da escova tem um impacto maior do que a densidade da escova na
remoção de material da face de contacto.
À medida que se reduz a densidade da escova, menor vai ser a taxa de remoção
de material. E com a redução do tamanho de grão também se verifica esse mesmo efeito,
contudo a redução do grão da escova traduz-se numa menor redução de material da face de
trabalho.
Sendo que o objetivo do presente trabalho é diminuir a remoção de material na
face de trabalho do anel, logo o uso de tamanho de grão abrasivo menor tem maior impacto
na diminuição do arredondamento das arestas vivas.

Miguel Ângelo Ferreira Branco 57


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

58 2018
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

7. CONCLUSÃO
O presente trabalho reflete uma necessidade que está associada à indústria
automóvel, que diz respeito à constante melhoria contínua dos seus processos produtivos
assim como uma constante inovação na criação de novos produtos. Só assim é possível
alcançar sucesso numa indústria que está sempre em constante evolução e competição.
O programa de trabalhos deste estágio curricular baseou-se no estudo do
processo de escovamento externo de anéis de óleo com PVD. Para tal, fez-se inicialmente
uma avaliação da situação atual, verificando-se que havia demasiada remoção de material
na face de trabalho do anel sendo os raios da face de contacto o ponto mais crítico.
A primeira ilação que se pode retirar deste trabalho, é que apesar deste tipo de
processo parecer “simples”, há necessidade de alertar para os cuidados que se deve ter
quando se opera com este tipo de anel de óleo, pois trata-se de anéis com uma estrutura
frágil que requerem maior delicadeza de trabalho.
Para a elaboração deste estudo foram realizados testes com o propósito de
compreender qual a influência dos fatores de controlo do processo. Foram também testadas
escovas com diferentes especificações da escova atual e analisaram-se os resultados
obtidos.
Através dos resultados obtidos para a escova usada atualmente no processo
verificou-se que o parâmetro de pressão de escovamento têm bastante influência na
remoção de material, devendo ser o parâmetro que se deve prestar mais atenção durante a
operação. Deve certificar-se que a pressão de escovamento selecionada para o processo
corresponde à pressão indicada na IUA.
Para além disso verifica-se que para pressões superiores a 1 bar há um aumento
significativo taxa de remoção de material, assim estabelece-se que a pressão de
escovamento não deverá ser maior do que 1 bar. Esta pressão de trabalho confere ao
processo uma maior estabilidade relativamente a remoção de material da face de contacto
do anel.
Ao longo das experiências efetuadas com as escovas alternativas verificou-se
que os resultados mais vantajosos foram obtidos para escovas com o menor tamanho de

Miguel Ângelo Ferreira Branco 59


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

grão, observou-se também que a diminuição do tamanho de grão tem maior impacto no
que diz respeito à diminuição de remoção de material do que quando se diminui a
densidade da escova.
Através da análise da Figura 6.6 e 6.7 verifica-se que no processo atual o
problema de remoção excessiva de material é mais crítico no caso dos raios da face de
contacto, pois apresenta valores muito próximos da especificação de 0.05 mm.
Contudo verificou-se que o uso de escovas com tamanho de grão ultra fino,
permite obter valores de raios dentro da gama de valores ideias, certificando-se que há
eliminação das arestas vivas do anel sem haver demasiada remoção de material da
superfície externa do anel.
Conclui-se assim que a escova com menor tamanho de grão, isto é, a Escova E,
cuja sua designação é Flap SC81 CD101, deve ser alvo de uma análise mais detalhada com
o objetivo de estudar a sua conformidade ao longo do seu desgaste para que seja aprovada
a sua utilização no processo de escovamento externo de anéis de óleo com PVD.

7.1. Trabalho Futuro


Este estudo pode ser visto como o primeiro passo na resolução deste
problema. A continuação deste trabalho passará por realizar algumas modificações nas
máquinas e no ferramental, de forma a garantir maior controlo e melhorarias no processo.
Nesse sentido propõe-se algumas propostas para desenvolvimento futuro:
 Com base nos resultados anteriores, propõe-se um estudo mais
detalhado da Escova E, testando a sua conformidade ao longo do seu
desgaste.
 Substituir na ESC-08 a válvula proporcional reguladora de pressão
por uma válvula mais recente indicada no Anexo E, que contém um
display e permite maior controlo da pressão de escovamento.
 Substituir na ESC-06 a chave de aperto pneumática por uma chave
de aperto elétrica com 270 Nm de binário.
 Substituir o manómetro danificado indicado na Figura 5.4 que indica
a pressão de aperto das árvores de anéis da Fechadora da ESC-06, e
colocá-lo numa zona com melhor visibilidade para o operador.

60 2018
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 Introduzir na ESC-06 batentes nas extremidades das guias na


posição final do carro de avanço, de forma a impedir o contacto
entre a proteção da correia e a chumaceira como se verifica na
Figura 5.3.
 Introduzir em ambas as escovadoras manómetros que nos indiquem
a pressão de fechamento das sapatas, de forma a ser possível
determinar qual a pressão de fechamento ideal.
 Ajustar em ambas as escovadoras a velocidade rotacional para 1410
rpm, de forma a garantirmos que ambas têm as mesmas condições de
trabalho.
 Estabelecer em ambas as máquinas os manómetros, que indicam a
pressão de escovamento, como dispositivos sujeitos a aferição
periódica.
 Introduzir uma faixa na lateral com o diâmetro minino de 85mm até
a qual a escova pode ser utilizada, como se exemplifica na Figura
7.1.

Faixa na lateral

Figura 7.1. Faixa lateral a indicar o diâmetro mínimo de utilização da escova

Miguel Ângelo Ferreira Branco 61


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

62 2018
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Beato J. (2006) “Escovadora COFAP”, Manual de Formação Escovadora Cofap,
Escovamento do Diâmetro Externo

Bezerra, F,( 2014, 25 de Abril), “Diagrama de Pareto o que é e como fazer?”Acedido


a 15 de Janeiro, em http://www.portal-administracao.com/2014/04/diagrama-de-pareto-
passo-a-passo.html.
Fernandes, T.M (2015), “Uniformidade da Camada de PVD ao Longo da
Árvore/Incremento da Área Útil de Revestimento” Relatório de estágio para Obtenção
do grau de Mestre em Engenharia Mecânica, Instituo Superior de Engenharia de
Coimbra.
Francklin, A.R. (2009), “Um breve estudo sobre o ferro fundido nodular” Trabalho de
Conclusão do Curso de Tecnologia em Produção Siderúrgica, Centro Universitário
Estatual da Zona Oeste, Rio de Janeiro
Gillespie LK, Blotter PT (1976) “The formation and properties of machining burrs”.
Transactions of ASME Journal of Engineers for Industry, Vol. 98 (1976) 66–74.
Lourenço, Vladomiro (2015), “Tecnologia de Fabricação de Segmentos”, Manual de
Formação, Mahle.
MAHLE original, Metal Leve (2012), “Manual Técnico” em Curso Mahle Metal
Leve motores de combustão interna.

MAHLE South America (a), “História da companhia”. Acedido a 3 de Novembro de


2017 em: http://www.br.mahle.com/pt/company/mahle-chronicle/

MAHLE South America (b), “Sobre MAHLE”. Acedido a 3 de novembro de 2017 em


: http://www.br.mahle.com/pt/company/
Matto, Donald M. (1992), “An Introduction to Physical Vapor Deposition (PVD)
Processes” AESF SUR/FIN ‘92

McDermott, et al (2009), “The Basics of FMEA”, 2ª Ed, CRC Press


Olvera O., Barrow G., (1996),. “An experimental study of burr formation in square”.
International Journal of Machine Tools and Manufacture, Vol. 36 (1996) 1005-1020.

Miguel Ângelo Ferreira Branco 63


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

Possamai, L. (2011), “Eficácia da análise de amostras de óleo lubrificante por


espectrometria de emissão óptica com plasma indutivamente acoplado na detecção de
desgaste em motores Diesel após amaciamento” Pós-graduação em Engenharia
Mecânica, Universidade Estadual de Campinas.

64 2018
ANEXO A

ANEXO A
Circuito pneumático da ESC-08

Desenho Nº Discriminação
1 Válvula de abertura e fechamento
2 Filtro regulador
3 Conversor de sinal
4 Válvula solenóide
5 Válvula reguladora proporcional de pressão
6 Válvula de controlo de fluxo unidirecional
7 Manómetro
8 Válvula de controlo de fluxo unidirecional
9 Válvula de controlo de fluxo unidirecional
10 Cilindro normalizado
11 Cilindro com amortecimento regulável
12 Cilindro normalizado
13 Pressostato

Miguel Ângelo Ferreira Branco 65


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

Circuito pneumático da ESC-06

Desenho Nº Discriminação
1 Válvula de abertura e fechamento
2 Unidade de tratamento de ar (UTA)
3 Filtro regulador
4 Lubrificador
5 Pressostato
6 Válvula solenóide

7 Válvula reguladora de pressão proporcional

8 Válvula de controlo de fluxo unidirecional


9 Válvula de controlo de fluxo unidirecional

10 Válvula de controlo de fluxo unidirecional

11 Cilindro normalizado
12 Cilindro com amortecimento regulável
13 Cilindro normalizado
14 Manómetro

66 2018
ANEXO C

Miguel Ângelo Ferreira Branco 67


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

68 2018
ANEXO C

ANEXO B

Miguel Ângelo Ferreira Branco 69


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

70 2018
nº de nº de nº do anel medido
Matriz de testes nº Experiência Pressão (bar) Tempo (s) Observações
pacotes anéis Pacote 1 Pacote 2

71
ANEXO C

A 0,75 9 2 120 1 2 3 segundos para o avanço da escova


B 0,75 15 2 120 3 4 3 segundos para o avanço da escova
FLAP SC81 (Ø 150 mm)

C 0,75 21 2 120 5 6 3 segundos para o avanço da escova


temp. reduzida
D 1 6 2 120 7 8
E 1 12 2 120 9;10;11; 12;13;14 Falta anel nº12
F 1 18 2 120 15 16
G 1,5 6 2 120 17 19
H 1,5 12 2 120 18 20
I 1,5 18 2 120 21 22
1 1 12 1 60 23/24
FLAP SC81 LD

2 1 18 1 60 25/26
3 1,5 12 1 60 27/28 temp. elevada
4 1,5 18 1 60 29/30 temp. elevada
FLAP SC101 CD125FLAP SC91 CD115 FLAP SC81 CD88

5 1 12 1 60 31/32
6 1 18 1 60 33/34
7 1,5 12 1 60 35/36 temp. elevada
8 1,5 18 1 60 37/38 temp. elevada
9 1 12 1 60 39/40
ANEXO C

Miguel Ângelo Ferreira Branco


10 1 18 1 60 41/42
11 1,5 12 1 60 43/44
12 1,5 18 1 60 45/46
13 1 12 1 60 47/48 não usou escova para remover rebarba
14 1 18 1 60 49/50 não usou escova para remover rebarba
15 1,5 12 1 60 51/52 temp. elevada
16 1,5 18 1 60 53/54 não usou escova para remover rebarba temp. elevada
Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

72 2018
ANEXO E

ANEXO D

Miguel Ângelo Ferreira Branco 73


Desenvolvimento e Otimização do Processo de Escovamento Externo em Anéis de Óleo com PVD.

74 2018
ANEXO E

ANEXO E

Miguel Ângelo Ferreira Branco 75

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