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ISSN: 1414-4980
kataly@cse.ufsc.br
Universidade Federal de Santa Catarina
Brasil
Pastor, Márcia
A democratização da gestão da política de assistência social: fragmentos de um estudo
Revista Katálysis, vol. 10, núm. 2, julio-diciembre, 2007, pp. 222-227
Universidade Federal de Santa Catarina
Santa Catarina, Brasil
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Márcia Pastor
Universidade Estadual de Londrina (UEL)
se; seu retrocesso ao estado de mercadoria, que é econômico) para interferir nos fatores causadores do
o objetivo neoliberal (OLIVEIRA, 2000, p. 79). aumento da pobreza, originados pelo próprio modo de
produção e de reprodução social capitalista.
O que se viu, portanto, foi o empenho em infundir Como contraponto, a existência de uma esfera de
uma democracia esvaziada de sua substância, ao governo local pode ser mais permeável à atuação da
mesmo tempo em que diversos atores sociais busca- sociedade civil organizada, propiciando condições para
vam implementar a cidadania e a consolidação dos uma gestão mais democrática e participativa e voltada
espaços democráticos, ilustrando assim o caráter di- aos interesses sociais. Se, por um lado, o âmbito muni-
nâmico e contraditório do processo democrático, pois: cipal apresenta limitações para superar a pobreza, por
outro, pode ter condições de atenuar os índices de de-
Só pode haver democracia para as grandes massas sigualdades locais, propondo alternativas de
da população se elas forem capazes de se organizar, enfrentamento às diversas manifestações da questão
de expressar seus anseios e de obter efetivamente social e que possam efetivar os direitos sociais.
conquistas sociais, culturais e políticas no quadro Há que se ponderar, todavia, que esta experiên-
de uma institucionalidade em permanente expansão. cia acontecia ao mesmo tempo em que se vivenciava,
Assim, a democratização é um valor universal sobre- no cenário nacional, a adoção da programática
tudo porque é um permanente desafio. Nunca pode- neoliberal com o conseqüente corte nos gastos públi-
remos chegar a um ponto que nos permita dizer que cos destinados às políticas sociais.
a democracia está acabada. A democracia é um pro- A diretriz descentralizadora aponta outro aspecto
cesso que devemos conceber como em permanente que contribui na abordagem desta reflexão: consiste
construção (COUTINHO, 2000, p. 131). na identificação da descentralização com a demo-
cratização da gestão, propondo a participação da
Na década de 1990, uma das características do comunidade nos processos de elaboração e de deli-
novo rearranjo político proposto pela recém-aprova- beração nas políticas sociais.
da Carta Magna pode ser Dentre as aberturas trazi-
verificado na descentrali- das pelo novo ordenamento
zação das políticas sociais. ... a existência de uma esfera de constitucional, a descen-
Apesar das expectativas ini- tralização vem se somar à
ciais, a transferência de res- governo local pode ser mais proposição da atuação autô-
ponsabilidades para as instân- noma dos municípios. Por
cias locais constituiu-se, em permeável à atuação da socie- outro lado, tais aberturas não
grande parte, em mais uma foram acompanhadas dos
forma de escamotear o en-
dade civil organizada, propici- devidos recursos para a
fretamento à pobreza, mas ando condições para uma ges- concretização destas alterna-
também abriu possibilidades tivas. Ao contrário, com a
para iniciativas mais ousadas tão mais democrática e crise fiscal do Estado, foram
no campo da gestão partici- os municípios que acabaram
pativa. Tal ambigüidade tam- participativa e voltada aos arcando com o ônus da redu-
bém norteou a implementação ção dos gastos sociais. A cri-
da política de assistência so- interesses sociais. se financeira também foi uti-
cial, conforme se discutirá lizada para justificar o desen-
mais adiante. volvimento de práticas parti-
A descentralização político-administrativa teve den- cipativas no âmbito municipal, mas muitas vezes com
tre seus propósitos a luta contra a subordinação dos o propósito de viabilizarem políticas e serviços públi-
municípios ao governo central. Sua inclusão nos dita- cos de forma mais barata.
mes legais contou com o apoio de amplos segmentos Partindo do discurso de que o Estado, por si só,
da sociedade. Defendia-se que a esfera municipal es- não tem sido capaz de promover o desenvolvimento
taria mais próxima dos problemas da população e que social e econômico, deixando grandes parcelas da
possibilitaria o conhecimento mais adequado da sua população excluídas do atendimento às necessida-
própria realidade. Conseqüentemente, poderia gerar des humanas elementares, um forte apelo foi feito à
proposições e ações mais condizentes ao atendimento sociedade civil: que ela também assumisse a tarefa
das demandas específicas de cada localidade. de responder aos problemas decorrentes das desi-
Verificou-se que parte considerável dos problemas gualdades sociais através da livre iniciativa e da
enfrentados pelos municípios (os efeitos da urbaniza- mobilização de grupos de pessoas, de instituições, de
ção não planejada e da desindustrialização, por exem- organizações não-governamentais e de empresas.
plo) não podia ser solucionada somente na sua esfera Yazbek (2000) alerta que, por trás do desloca-
de governo, pois a maioria não tinha poder (político e mento da esfera pública para a esfera privada, situa-
A democratização da gestão da política de assistência social: fragmentos de um estudo
se a despolitização da própria questão social e a ame- mente, o contexto histórico no qual se desenvolve
aça de ver frustrada a universalização e a efetivação esta política pública no país.
de direitos sociais legalmente adquiridos, que podem As contradições imanentes às políticas sociais no
vir a ser substituídos “pelo dever moral de atender à capitalismo assumem contornos mais nítidos quando
pobreza.” se referem à assistência social, visto que esta se ca-
A interpretação neoliberal sobre o papel do Esta- racteriza pela tensão permanente entre responder às
do estimulou diversos debates, dentre os quais se si- demandas mais agudas decorrentes da questão soci-
tua a proposta de reforma do Estado, que partia do al, ao mesmo tempo em que questiona as condições
pressuposto da necessidade da administração públi- que geram estas mesmas demandas. Ao atender as
ca incorporar procedimentos gerenciais visando a carências das camadas empobrecidas, contribui para
eficiência de suas ações. a reprodução do próprio modelo capitalista que cria
De acordo com Bento (2003, p. 152), essa pobreza, estruturado na apropriação privada da
riqueza socialmente produzida.
[...] o plano de reconstrução do Estado vai além de As diretrizes e os princípios estabelecidos pela
um imperativo de eficiência. Trata-se também de LOAS, entretanto, surgem na contramão da conjun-
reconstruir a esfera pública, de fortalecer a socie- tura dos anos 1990, onde se observou a adoção das
dade civil, sua capacidade de autogestão; ao mes- medidas neoliberais que ditavam ao Estado a redu-
mo tempo, de superar o insulamento burocrático, ção dos gastos nas áreas sociais.
de combater a falta de responsabilidade política e Nas palavras de Raichelis (1998), tal situação
administrativa pela má formulação ou implementação demonstrava um dos grandes desafios para a política
de estratégias, e de prevenir a captura dos gover- de assistência social: estruturar-se como ‘política’ e
nos por interesses corporativos e a privatização do consolidar-se como ‘pública’.
espaço público. De fato, a implantação da assistência social não
só como uma política pública, mas também com a
As discussões a respeito da gestão emergem na perspectiva democrática em sua gestão, mereceu
segunda metade da década de 1990. Dentre as atenção em diversas administrações municipais, como
especificidades da gestão pública, Nogueira (1998, no estudo de caso do município de Londrina, no esta-
p. 202) situa que do do Paraná, referente ao período compreendido
entre os anos 2001 a 2004 (PASTOR, 2006).
[...] a gerência pública não se separa da questão da A preocupação com a construção dessa política
democracia e do aperfeiçoamento dos mecanismos fez-se notar desde a criação do órgão gestor munici-
democráticos, devendo-se dedicar a estimular a pal, em 1993. Porém, a estruturação de programas e
participação dos cidadãos e a fazer com que os serviços com orçamento e equipe próprios, obtidos
atos do poder sejam transparentes e estejam sub- neste mandato (1993-1996), não teve continuidade
metidos a um efetivo controle social. na administração seguinte.
As experiências da segunda gestão (1997-2000)
A perspectiva que norteia este estudo pauta-se demonstraram, mais uma vez, o quanto a área da
na compreensão da gestão exercida no terreno dos assistência é vulnerável às determinações políticas
direitos e desenvolvida de forma a contar com a par- no âmbito local, além de susceptível às
ticipação de profissionais, conselheiros e usuários, macrodeterminações políticas e econômicas, especi-
dentre outros, não apenas na discussão como tam- almente na conjuntura em que vivíamos na transição
bém na deliberação sobre ações a serem adotadas. do século 20 para o 21. Por sua vez, o período refe-
É necessário considerar a democratização da ges- rente aos anos 2001 a 2004 – abordado no estudo
tão como o espaço onde se negocia o consenso entre citado – trouxe avanços consideráveis quanto à de-
os diversos atores sociais, geralmente motivados por mocratização da gestão.
seus interesses específicos. Compreende-se, pois, que Mais uma vez, cabe ressaltar que o processo de
o exercício da gestão democrática seja eivado de construção da gestão da assistência social no âmbito
conflitos e contradições, mas também abre uma pos- municipal insere-se num contexto maior no qual se
sibilidade de publicizar os interesses em disputa. constata “a existência de uma cultura política que se
mantém ao longo do autoritarismo, sugerindo um en-
Uma expressão da democratização da gestão tendimento da democratização como um processo
da assistência social no município de Londrina: mais longo de transformação da cultura política e das
o acesso à informação relações Estado-sociedade” (AVRITZER, 1995,
p.109-110). Ter esta compreensão sobre o movimento
Ao discutir a gestão da política de assistência so- histórico é essencial para balizar as melhorias con-
cial implementada a partir da década de 1990 do sé- cretizadas, ainda que limitadas pelos marcos estrutu-
culo 20, faz-se necessário pontuar, ainda que breve- rais da ordem capitalista.
226 Márcia Pastor
Na pesquisa desenvolvida, levantou-se com um con- tilha. Ocorre que a partilha não acontece se você
junto de atores (uma gestora municipal, duas assesso- não tiver divisão de saberes, partilha de conheci-
ras, duas assistentes sociais, dois conselheiros munici- mento (Gestora).
pais, três dirigentes de entidades assistenciais e três usu-
ários) suas visões sobre a gestão da política municipal Nota-se que esta gestora demonstra ter muita cla-
de assistência social. Os dados coletados revelaram o reza sobre a dualidade do conhecimento, sobre o ris-
entendimento da democratização como viabilização do co de manipulação, mas também sobre seu caráter
acesso aos direitos sociais e à participação. emancipatório:
Devido aos limites deste artigo, optou-se por abor-
dar um dos elementos indicados como expressão da Por outro lado, o conhecimento sempre foi uma arma
democratização: o acesso à informação como requi- importante, a favor e contra. Você pode informar as
sito para uma gestão democrática. pessoas pela sua cartilha, se quiser. Quer dizer, você
Frações de alguns depoimentos dos entrevista- pode formar sem garantir autonomia de pensamen-
dos serão apresentadas a seguir, visando ilustrar e to, sem criticidade suficiente para opinar (Gestora).
socializar parte das reflexões por eles proporciona-
das. O acesso dos usuários às informações – e ao Seguindo esta perspectiva, a gestora afirma que
conhecimento, de forma mais abrangente – foi en- a democratização da gestão “é uma ação mais políti-
tendido como condição para que estes consigam ca que técnica, porque você pode criar espaços téc-
acessar os próprios direitos sociais: nicos de fala (sic), porém pode não conseguir espa-
ços políticos de decisão.” Verifica-se que os instru-
A gente vê que tem muitas pessoas que estão caren- mentais administrativos não são descartados; pelo
tes de informação, que não vão atrás, não porque contrário, o que se enaltece é a dimensão política da
não querem: é porque nem têm informação de como gestão, como já discutia Nogueira (2004, p. 11-12):
buscar essa informação (Dirigente de Entidade 1).
Por se dispor a dirigir, coordenar e impulsionar a
A falta de informação é mais um mecanismo de formação ampliada de decisões, a gestão democrá-
opressão porque pode desviar as pessoas dos cami- tica opera em um terreno que não se esgota no
nhos de acesso a seus direitos. administrativo, no manuseio de sistemas e recur-
sos, mas se abre para o universo organizacional
Se o usuário não tem informação, às vezes ele se vê como um todo. Ela é essencialmente dialógica, e
precisando de recurso para pagar um advogado transcorre em ambientes éticos e políticos povoa-
para lutar, para conseguir o seu direito. E devido à dos de pessoas, desejos e interesses que não po-
sua situação financeira, ele às vezes deixa de con- dem ser simplesmente ‘gerenciados’.
quistar direitos, porque não tem conhecimentos e
não tem recursos para pagar um advogado; então Tendo em vista a importância atribuída à partici-
pação no processo de gestão, outro eixo selecionado
ele deixa o direito de lado (Dirigente de Entidade 1).
para avaliar a implantação da
Este depoimento de- gestão democrática em Lon-
monstra claramente a com- A democratização vem sendo drina foi a ampliação dos es-
preensão e a necessidade de paços participativos.
se democratizar as informa- delineada aqui como uma mo- É preciso deixar explícito
ções. Por isso, corrobora-se que a democratização alme-
a afirmação de Dowbor dalidade de operar a política jada não se limita e nem se
(2001) que postula que a in- aplica exclusivamente aos
formação é um ‘pré-direito’,
pública de assistência social, organismos estatais incumbi-
porque é uma forma de tendo por base o sistema des- dos da execução da política
acessar outros direitos, de assistência social. A de-
constituindo um elemento centralizado e participativo mocratização vem sendo
central da cidadania e da delineada aqui como uma mo-
qualidade da gestão. preconizado pela LOAS. dalidade de operar a política
A socialização do conhe- pública de assistência social,
cimento é indicada como um tendo por base o sistema des
pressuposto para o exercício do poder decisório: centralizado e participativo preconizado pela LOAS.
Outra característica apontada pelo Conselheiro 2
Para mim, não tem democratização se não tiver (que ocupou o cargo de vice-presidente no período
partilha do poder decisório – esse é o espaço da analisado) sobre o caráter democrático da gestão foi
democratização. O Conselho é um espaço de par- a autonomia:
A democratização da gestão da política de assistência social: fragmentos de um estudo
Eu acho que a primeira forma de democratização, um BRASIL. Presidência da República. Legislação. Disponível
grande avanço, foi o grande respeito do poder públi- em: < http://www.presidencia.gov.br/legislacao>. Acesso
co para com o Conselho Municipal de Assistência. em: 26 fev. 2007.
Respeito em que sentido? Nas deliberações, nas de-
terminações, nas orientações às entidades, na admi- CHAUÍ, M. Marilena Chauí denuncia autoritarismo da
nistração do Fundo, na fiscalização (Conselheiro 2). república brasileira e propõe “proclamação democrática”.
Artigo capturado no site disponível em: <http://
Evidencia-se, portanto, que a democratização pre- virtualbooks.terra.com.br/>. Acesso em: 4 set. 2004.
cisa ser incorporada por todo o sistema que compõe
a política de assistência social: supõe que a demo- COUTINHO, C. N. Contra a corrente: ensaios sobre
cratização não pode ser compreendida como uma democracia e socialismo. São Paulo: Cortez, 2000.
norma, que é imposta, e sim como um valor a ser
incorporado no cotidiano da gestão. DOWBOR, L. Tecnologias do conhecimento: os desafios
da educação. Petrópolis: Vozes, 2001. (Coleção Temas
Considerações finais Sociais).
No campo da assistência social, assim como no das NOGUEIRA, M. A. As possibilidades da política: idéias
políticas sociais em geral, há de se ter em conta que para a reforma democrática do Estado. São Paulo: Paz e
Terra, 1998.
O fortalecimento de suas instituições, como tam-
bém a democratização das relações sociais, depen- ______. Um estado para a sociedade civil: temas éticos e
de da atuação do Estado a fim de assegurar condi- políticos da gestão democrática. São Paulo: Cortez, 2004.
ções para o exercício da cidadania, o que envolve,
principalmente, efetivação de direitos fundamen- OLIVEIRA, F. Privatização do público, destituição da fala
tais (BENTO, 2003, p. 179-180). e anulação da política: o totalitarismo neoliberal. In:
______.; PAOLI, M. C. Os sentidos da democracia:
As opiniões dos protagonistas da experiência políticas do dissenso e hegemonia global. Petrópolis:
municipal examinada guardam, a nosso ver, uma in- Vozes, 2000, p. 55-81.
trínseca complementaridade: democratizar a gestão
da política de assistência social é possibilitar acesso PASTOR, M. A democratização da gestão da política de
à informação como condição de acesso aos próprios assistência social em Londrina/PR no período 2001-
direitos socioassistenciais. Viabilizar a democratiza- 2004: a ampliação do acesso e da participação. 2006. Tese
ção é compartilhar com todos os envolvidos – espe- (Doutorado em Serviço Social) – Pontifícia Universidade
cialmente com os usuários – as decisões acerca dos Católica de São Paulo, São Paulo, 2006.
rumos que esta política deve tomar para consolidar-
se como pública e para contribuir com a própria his- RAICHELIS, R. Esfera pública e conselhos de assistência
tória de democratização da nossa sociedade. Enten- social: caminhos da construção democrática. São Paulo:
dendo que, no caso brasileiro, “a incorporação dos Cortez, 1998.
princípios democráticos pela própria sociedade [é]
um processo que certamente ainda não chegou ao YAZBEK, M. C. Terceiro setor e a despolitização da questão
seu final” (AVRITZER, 1996, p. 146). social. Revista Inscrita, CFESS: Rio de Janeiro, v. 6, p. 13-
19, 2000.
Referências
Márcia Pastor
AVRITZER, L. A moralidade da democracia: ensaios em Doutora em Serviço Social pela Pontifícia Universi-
teoria habermasiana e teoria democrática. São Paulo: dade Católica de São Paulo
Perspectiva, 1996. Professora do Departamento de Serviço Social da
Universidade Estadual de Londrina (UEL)
______. Cultura política, atores sociais e democratização: UEL - Centro de Estudos Sociais Aplicados/Depar-
uma crítica às teorias da transição para a democracia. tamento de Serviço Social
Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v.10, n. Campus Universitário
28, p.109-122, jun.1995. Caixa Postal 6001
Londrina - Paraná
BENTO, L. V. Governança e governabilidade na reforma CEP 86.051-990
do Estado: entre eficiência e democratização. Barueri:
Manole, 2003.