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RESUMO ABSTRACT
O presente estudo tem como objetivo The tactical periodization under the justification
descrever a metodologia de treinamento do of the neurosciences: Habituación and
futebol Periodização Tática (PT), criada pelo restructuring of the decision making
professor português Vitor Frade (Campos,
2007; Carvalho, 2006; Gomes, 2006), e The present study aims to describe the training
especificamente argumentar e por methodology of the Football Periodization (PT),
consequência fundamentar com “pilares” created by Portuguese professor Vitor Frade
pertencentes às neurociências esta forma (Campos, 2007; Carvalho, 2006; Gomes,
diferente, “polêmica” e contextual de 2006), and specifically to argue and therefore
organização e operacionalização do to base with "pillars" belonging to the
treinamento do futebol. Os exercícios de forma neurosciences this different, "controversial"
jogada em inferioridade, igualdade e and contextual form of organization and
superioridade numérica podem estar operationalization of football training. Exercises
relacionados com novas aprendizagens e played in inferiority, equality, and numerical
formação de memórias, bem como alterações superiority may be related to new learning and
neuronais. A metodologia periodização tática memory formation, as well as neuronal
pode envolver uma modificação da expressão changes. The tactical periodization
genética neuronal por meio da produção de methodology may involve a modification of
novas proteínas em determinadas estruturas neuronal gene expression through the
neurais, habituando os jogadores a se production of new proteins in certain neural
adaptarem muito facilmente às situações structures, accustoming the players to adapt
inúmeras que estão expostos no decorrer de very easily to the numerous situations that are
um jogo. exposed during the course of a game.
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do técnico sem o prévio treinamento e desencadeia nele uma reação muito rápida. O
automatização) o jogador obedecerá a contexto “estressante” e competitivo (igual o
estímulos que passarão pelo córtex, de forma de um jogo de futebol) da corrida ajuda a
consciente, pensada, atrapalhando a sensibilizar o atleta ao som do tiro. Formas
execução de movimentos já aprendidos, novas e súbitas de estimulação muitas vezes
podendo isso levar uma equipe a derrotas por elevam o alerta geral do atleta e isso resulta
placares elásticos. em respostas acima do normal a todos os
Já quando um modelo de jogo é tipos de estimulação.
construído previamente e as estratégias do Como a sensibilização é o oposto da
técnico não interferem nas movimentações habituação, ocorre uma liberação de mais
automatizadas dos jogadores, as ações destes neurotransmissores. A base estrutural da
são desencadeadas prontamente, de forma memória em ambos os casos (habituação e
quase inevitável, por eventos inesperados, sensibilização) ocorrem diferentemente. A
surpreendentes ou incongruentes no habituação faz com que se alterem canais de
ambiente, mesmo que o participante não cálcio. Já na sensibilização as alterações
esteja, inicialmente, prestando atenção à fonte ocorrem nos canais de potássio. A adaptação
da estimulação (Callegaro e Fernandez, 2007; existe quando o organismo se transforma em
Pellegrini, 2000). função do meio.
Os automatismos são padrões fixos de Como processo biológico, a adaptação
conduta selecionada, que permitem ao jogador procura o equilíbrio nos intercâmbios entre o
enfrentar as situações constantes e rotineiras organismo e o meio, a fim de preservar a
de um jogo (cooperação, oposição e invasão), organização interna do ser vivo. Como
com agilidade, rapidez e economia de tempo e processo psicológico, a adaptação também
esforço (Callegaro e Fernandez, 2007; procura um equilíbrio móvel entre o sujeito
Campos, 2007; Gomes, 2006; Pellegrini, (jogador) que conhece e o objeto conhecido (a
2000). forma de jogar), o que exigirá uma série de
A aquisição de automatismos depende modificações nas estruturas e esquemas
da prática, do treino, da repetição. Uma cognitivos.
situação problemática nova leva ao jogador a O esquema é uma unidade
estudar as ações no campo mais adequadas e estruturada de conduta, uma sequência
rápidas e a orientar, com seu raciocínio, para a organizada de ações suscetíveis de serem
descoberta dos movimentos que levam a repetidas em situações semelhantes. (García
melhor solução do problema (Pellegrini, 2000). e Veiga, 2007).
Nessa lógica, a periodização tática Ao utilizarmos imagens evocadas,
visa sempre à habituação dos jogadores para podemos recuperar um determinado tipo de
determinados padrões de ações, considerados imagem do passado (nas vias neurais da
como mecanismo não mecânicos, ou seja, memória), a qual é formada quando se planeja
aberto a variabilidade contextual. qualquer coisa que ainda não aconteceu, mas
Essa habituação é conceituada (Kolb e que se espera que venha a acontecer.
Whishaw, 2002) como uma forma simples de Enquanto o processo de planificação
aprendizado em que a força de uma resposta se desenrolou, se formaram imagens de
a um determinado estímulo diminui com as objetos e de movimentos e foi consolidada a
apresentações repetidas. memorização dessa ficção na mente. A
Existe outra forma de aprendizado natureza das imagens de algo que ainda não
chamada de sensibilização. Esta é definida aconteceu, e pode de fato nunca vir a
(Kolb e Whishaw, 2002) por uma resposta acontecer, não é diferente da natureza das
aprimorada a um determinado estímulo. A imagens acerca de algo que já aconteceu e
sensibilização é o oposto da habituação. que são retidas. Elas constituem a memória de
O organismo se torna hiper-responsivo um futuro possível e não do passado que já foi
ao estímulo em vez de se habituar a ele. Um (García e Veiga, 2007).
exemplo é um velocista de 100 metros rasos Uma das tentativas de resposta a esse
que espera o tiro de largada agachado em seu problema sugere que as imagens mentais são
bloco. construções momentâneas, tentativas de
Ele nesta situação encontra-se hiper- réplica, de padrões que já foram
responsivo ao tiro de largada e o tiro experienciados, nas quais a probabilidade de
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se obter uma réplica exata é baixa, mas a de macro, explorando apenas o que pode ser
ocorrer uma reprodução substancial pode ser observado a “olho nu”. Já as pesquisas de
alta ou baixa, dependendo das circunstâncias caráter micro, ou seja, o que não pode ser
em que as imagens foram assimiladas e estão observado diretamente, tem-se tentado
sendo lembradas. explicar com pesquisas laboratoriais, com
Nisto os exercícios dentro de uma pouca validade ecológica, desrespeitando a
sessão de treinamento (morfociclo) deve ser natureza complexa real do jogo de futebol.
estruturados com a lógica acontecimental em Há uma necessidade de verificação
forma de progressão que permeia o jogo de das possíveis alterações que a periodização
futebol, de maneira sempre a tornar o jogador tática pode ser capaz de produzir,
habituado, dentro da fase autônoma das ações principalmente as de longo prazo,
onde os jogadores, através da periodização relacionadas às emoções, cognição e no
tática poderão chegar (Magill, 2000; Pellegrini, comportamento jogadores de futebol.
2000; Schmidt e Wrisberg, 2001). O jogador que está em campo,
Com a automatização eles terão como sofrendo pressão em determinadas situações,
alcançar a meta de uma ação, com um mínimo pode ter um pensamento automático,
gasto de energia e tempo. Essa fase ou possivelmente por experiências passadas com
estágio é nomeado (Magill, 2000; Pellegrini, outros técnicos e jogadores, como por
2000; Schmidt e Wrisberg, 2001) também exemplo: “não conseguirei fazer o que o
como expert. técnico me ordenou, acho que nunca vou
No curso da aquisição de uma ação conseguir”.
tática, a natureza das incertezas que se Em seguida a emoção do jogador
apresentam ao jogador se alteram em função pode gerar um sentimento de tristeza por
das soluções que vai encontrando e dos exemplo. Em sequência ele percebe esse
processos subjacentes a estas mudanças sentimento e pode vir à tona outro
(Pellegrini, 2000). pensamento automático: “odeio me sentir
Finalmente, acrescenta-se a assim, preciso ser o melhor, fazer o meu
necessidade de as informações contidas nas melhor”.
instruções serem específicas aos processos Supondo que dentro de campo ele não
responsáveis pelas mudanças esperadas. tenha a eficácia desejada, a ansiedade pode
Memórias implícitas e explícitas são ativadas prejudicar e levar o mesmo a níveis de
simultaneamente durante uma situação de estresse ou medo, fazendo com que o
aprendizado. rendimento piore a cada situação de jogo em
Dessa forma, a aquisição de uma que ele possa estar envolvido direta ou
tarefa implícita envolve também a evocação indiretamente. Isso pode levar a um reforço de
dessa tarefa de forma consciente. possível crença de que sempre ele irá
Entretanto, com a repetição da tarefa, fracassar (Beck, 2007).
ela vai se tornando cada vez mais automática É nestes casos que o técnico e seus
e independente de processos conscientes ou auxiliares devem unir forças para estudarem
explícitos. Esse é um aspecto importante e minuciosamente as competências psicológicas
fundamental da periodização tática, uma vez de cada jogador, para cada posição, tomando
que exercícios de treino envolvem em consideração toda uma cultura de um país,
desenvolvimento de habilidades automáticas de clube, a ponto de formular um modelo de
de natureza implícita. jogo e exercícios para o treinamento que
mudem crenças que muitos jogadores
A reorganização cognitiva e tomada de possuem.
decisões Os esquemas de memória implícita,
quando disfuncionais e não alterados, seja
Os estudos dos mecanismos neurais com treinamento em campo e ajuda de
envolvidos nas tomadas de decisões psicoterapia para jogadores de futebol,
específicas do futebol durante longos períodos acabam governando a forma de interpretação
de tempo, têm focado atenção de maneira dos acontecimentos que permeiam o jogador,
artificial no que diz respeito às mudanças nos o que distorce o conhecimento e a percepção
comportamentos individuais e coletivos. Foram explícitos, implicando em metas e expectativas
desenvolvidas muitas pesquisas de caráter pouco realistas (Beck, 2007; Callegaro e
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29-Pellegrini, A. M. A Aprendizagem de
habilidades motoras I: O que muda com a
prática? Rev. paul. Educ. Fís. Vol. 3. p. 29-34.
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