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Outubro de 2020
Outubro de 2020
ii
5.4.3. Questões éticas................................................................................................................ 58
5.5. Análise e Discussão de Resultados ...................................................................................... 59
5.5.1. Caracterização da amostra .............................................................................................. 59
5.5.1.1. Idade ......................................................................................................................... 59
5.5.1.2. Sexo .......................................................................................................................... 59
5.5.1.3. Habilitações académicas .......................................................................................... 60
5.5.1.4. Anos de serviço ........................................................................................................ 60
5.5.1.5. Região(ões) onde leciona ......................................................................................... 61
5.5.1.6. Número de alunos .................................................................................................... 62
5.5.1.7. Existência de alunos que frequentam banda filarmónica ........................................ 62
5.5.1.8. Número de alunos que frequentam banda filarmónica .......................................... 63
5.5.2. Leitura Melódica .............................................................................................................. 64
5.5.2.1. Tipo de influência ..................................................................................................... 64
5.5.2.2. Grau de influência .................................................................................................... 64
5.5.3. Motivação ........................................................................................................................ 65
5.5.3.1. Tipo de influência ..................................................................................................... 65
5.5.3.2. Grau de influência .................................................................................................... 65
5.5.4. Memória musical ............................................................................................................. 66
5.5.4.1. Tipo de influência ..................................................................................................... 66
5.5.4.2. Grau de influência .................................................................................................... 66
5.5.5. Organização do estudo individual ................................................................................... 67
5.5.5.1. Tipo de influência ..................................................................................................... 67
5.5.5.2. Grau de influência .................................................................................................... 67
5.5.6. Destreza técnica............................................................................................................... 68
5.5.6.1. Tipo de influência ..................................................................................................... 68
5.5.6.2. Grau de influência .................................................................................................... 69
5.5.7. Sentido de Pulsação ......................................................................................................... 70
5.5.7.1. Tipo de influência ..................................................................................................... 70
5.5.7.2. Grau de influência .................................................................................................... 70
5.5.8. Domínio de dinâmicas ..................................................................................................... 71
5.5.8.1. Tipo de influência ..................................................................................................... 71
5.5.8.2. Grau de influência .................................................................................................... 71
iii
5.5.9. Pontualidade .................................................................................................................... 72
5.5.9.1. Tipo de influência ..................................................................................................... 72
5.5.9.2. Grau de influência .................................................................................................... 73
5.5.10. Domínio de sinais da partitura ..................................................................................... 74
5.5.10.1. Tipo de influência ................................................................................................. 74
5.5.10.2. Grau de influência................................................................................................. 74
5.5.11. Performance em público .............................................................................................. 75
5.5.11.1. Tipo de influência ................................................................................................. 75
5.5.11.2. Grau de influência................................................................................................. 76
5.5.12. Disciplina (capacidade de concentração, comportamento adequado, rigor na
execução) 76
5.5.12.1. Tipo de influência ................................................................................................. 76
5.5.12.2. Grau de influência................................................................................................. 77
5.5.13. Adaptação a diferentes estilos musicais ...................................................................... 77
5.5.13.1. Tipo de influência ................................................................................................. 77
5.5.13.2. Grau de influência................................................................................................. 78
5.5.14. Leitura Rítmica ............................................................................................................. 78
5.5.14.1. Tipo de influência ................................................................................................. 78
5.5.14.2. Grau de influência................................................................................................. 79
5.5.15. Visão global .................................................................................................................. 79
5.5.15.1. Justificação ............................................................................................................ 80
5.5.16. Preferência de lecionação ............................................................................................ 81
5.5.16.1. Justificação ............................................................................................................ 81
5.6. Limitações do Estudo .......................................................................................................... 82
5.7. Reflexão Final ...................................................................................................................... 83
6. Conclusão ............................................................................................................................... 86
Bibliografia ......................................................................................................................................... 90
Anexos ................................................................................................................................................ 94
iv
Índice de Figuras
Figura 1- Resultado Questionário VARK- Aluno A.............................................................................. 21
Figura 2- Resultado Questionário VARK- Aluno B .............................................................................. 26
Figura 3- Resultado Questionário VARK- Aluno C .............................................................................. 30
v
Índice de Tabelas
Tabela 1- Análise SOWT (Mestrando) .................................................................................................. 3
Tabela 2- Espaços e equipamentos do CRSM ...................................................................................... 7
Tabela 3- Cursos ministrados no CRSM ............................................................................................. 11
Tabela 4- Regimes de frequência (Música) ........................................................................................ 14
Tabela 5- Regimes de Fequência (Dança) .......................................................................................... 14
Tabela 6- Análise SWOT (CRSM) ........................................................................................................ 16
Tabela 7- Reportório anual- Aluno A ................................................................................................. 22
Tabela 8- Reportório anual- Aluno B.................................................................................................. 27
Tabela 9- Reportório anual- Aluno C.................................................................................................. 31
Tabela 10- Aulas observadas/lecionadas ........................................................................................... 33
Tabela 11- Idade dos inquiridos ......................................................................................................... 59
Tabela 12- Região onde leciona ......................................................................................................... 61
Tabela 13- Leitura melódica- Grau de influência (Positiva) ............................................................... 64
Tabela 14- Motivação- Grau de influência (Positiva) ......................................................................... 65
Tabela 15- Memória musical- Grau de influência (Positiva) .............................................................. 66
Tabela 16- Organização do estudo individual- Grau de influência (Negativa) .................................. 67
Tabela 17- Organização do estudo individual- Grau de influência (Positiva) .................................... 68
Tabela 18- Organização do estudo individual- Grau de influência (Negativa) .................................. 69
Tabela 19- Organização do estudo individual- Grau de influência (Positiva) .................................... 69
Tabela 20- Sentido de pulsação- Grau de influência (Positiva) ......................................................... 70
Tabela 21- Pontualidade- Grau de influência (Negativa) ................................................................... 73
Tabela 22- Pontualidade- Grau de influência (Positiva) .................................................................... 73
Tabela 23- Domínio de sinais da partitura- Grau de influência (Negativa) ....................................... 74
Tabela 24- Domínio de sinais da partitura- Grau de influência (Positiva) ......................................... 75
Tabela 25- Performance em público- Grau de influência (Positiva) .................................................. 76
Tabela 26- Disciplina- Grau de influência (Positiva) .......................................................................... 77
Tabela 27- Disciplina- Grau de influência (Positiva) .......................................................................... 78
Tabela 28- Leitura Rítmica- Grau de influência (Positiva).................................................................. 79
vi
Índice de Gráficos
Gráfico 1- Número de alunos do CRSM ............................................................................................... 9
Gráfico 2- Sexo dos inquiridos ........................................................................................................... 59
Gráfico 3- Habilitações Académicas ................................................................................................... 60
Gráfico 4- Anos de serviço a 1/9/2019 .............................................................................................. 60
Gráfico 5- Número de alunos ............................................................................................................. 62
Gráfico 6- Existência de alunos que frequentam banda filarmónica ................................................ 62
Gráfico 7- Número de alunos que frequentam banda filarmónica ................................................... 63
Gráfico 8- Leitura melódica- Tipo de influência ................................................................................. 64
Gráfico 9- Motivação- Tipo de influência........................................................................................... 65
Gráfico 10- Memória musical- Tipo de influência.............................................................................. 66
Gráfico 11- Organização do estudo individual- Tipo de influência .................................................... 67
Gráfico 12- Destreza técnica- Tipo de influência ............................................................................... 68
Gráfico 13- Sentido de Pulsação- Tipo de influência ......................................................................... 70
Gráfico 14- Domínio de dinâmicas- Tipo de influência ...................................................................... 71
Gráfico 15- Domínio de dinâmicas- Grau de influência (Negativa) ................................................... 71
Gráfico 16- Pontualidade- Tipo de influência .................................................................................... 72
Gráfico 17- Domínio de sinais da partitura- Tipo de influência ......................................................... 74
Gráfico 18- Performance em público- Tipo de influência .................................................................. 75
Gráfico 19- Disciplina- Tipo de influência .......................................................................................... 76
Gráfico 20- Adaptação a diferentes estilos musicais- Tipo de influência .......................................... 77
Gráfico 21- Leitura Rítmica- Tipo de influência ................................................................................. 78
Gráfico 22- Visão global ..................................................................................................................... 79
Gráfico 23- Preferência de lecionação ............................................................................................... 81
vii
Lista de Termos e Abreviaturas
viii
Agradecimentos
Ao Instituto Politécnico de Lisboa, casa-mãe, que me deu tantas oportunidades formativas e não
só para que pudesse crescer como músico e ser humano.
À Escola Superior de Música de Lisboa, pelo rigor desta formação. Aos docentes e funcionários o
meu muito obrigado.
Ao meu orientador, Richard Buckley. Mais que um professor, um grande amigo que me
acompanha desde a minha chegada a Lisboa, há 10 anos.
Ao meu co- orientador, maestro Alberto Roque, por toda a colaboração e rigor emprestado a este
trabalho.
Aos meus Pais, todo e qualquer agradecimento será menos do que eles merecem.
A todos os que de alguma forma contribuíram para o sucesso em mais esta etapa académica: Bem
Hajam!
ix
Resumo I
A primeira parte deste trabalho- Prática Pedagógica- elenca as várias vertentes do Estágio do
Ensino Artístico Especializado, componente do Mestrado em Ensino da Música, da Escola Superior
de Música de Lisboa- Instituto Politécnico de Lisboa.
O terceiro capítulo diz respeito às práticas educativas desenvolvidas. De acordo com o Manual de
Mestrado em Ensino da Música, em vigor no ano letivo em que se realizou o Estágio- 2017/2018-
foram escolhidos três alunos, de diferentes níveis de ensino:
- Aluno A- Iniciação;
No quarto capítulo é feita uma reflexão final sobre o Estágio do Ensino Artístico Especializado e
sobre a atividade docente.
x
Abstract I
The first part of this work - Pedagogical Practice - lists the various aspects of the Specialized
Artistic Curricular Teaching Practice Internship, component of the Master's Degree in Music
Teaching, from the Lisbon School of Music - Lisbon Polytechnic Institute.
The first chapter concerns the scope and objectives of the Internship, describing the skills to be
developed, the initial expectations in relation to the Internship and making a SWOT analysis of the
Master's student.
The second chapter characterizes and contextualizes the institution and region where the
Internship took place - Silva Marques Regional Conservatory, in Alhandra.
The third chapter concerns the educational practices developed. According to the Master's
Manual in Music Teaching, in force in the academic year in which the Internship took place - 2017
/ 2018- three students were chosen, from different educational levels:
- Student A- Initiation;
Each student is characterized and the pedagogical practices developed in the Internship are
exposed.
In the fourth chapter a final reflection is made on the Curricular Teaching Practice Internship and
on the teaching activity.
xi
Resumo II (Palavras- chave)
A realização deste Projeto de Investigação tem como objetivo refletir sobre a relação entre a
frequência de uma banda filarmónica e a aprendizagem de um instrumento, neste caso a
percussão, no ensino artístico especializado.
Nesta Parte, começa por se fazer um enquadramento histórico das bandas filarmónicas e do
Ensino Artístico Especializado de Música em Portugal, bem como dos seus modelos de ensino.
Neste contexto, tentamos perceber se a frequência da banda filarmónica influi de alguma forma
na aprendizagem do instrumento no ensino artístico especializado, e, em caso afirmativo, em que
aspetos mais se denota. Além disto, tenta-se ainda perceber se, existindo essa influência, é
positiva ou negativa.
Depois de uma exaustiva consulta bibliográfica sobre o tema, foi elaborado um inquérito por
questionário, enviado a todos os professores de Percussão do ensino artístico especializado, em
Portugal.
Serão apresentados os resultados, refletindo depois sobre a relação entre estes dois agentes/
instituições/ contextos/ Mundos, apontando-lhe diferenças, familiaridades, e
complementaridades.
xii
Abstract II (Keywords)
This Research Project aims to reflect on a relationship between a frequency of a philharmonic
band and the learning of an instrument, in this case, for percussion, in specialized artistic
education.
In this Part, it begins by making a historical framework of the philarmonic bands and the
specialized artistic education of Music in Portugal, as well as their teaching models.
In this context, we try to understand if the frequency of the philharmonic band in any way
influences the learning of instrument in specialized artistic education, and, if so, in which aspects it
is most noted. In addition, there is an attempt to understand whether, if there is such an
influence, it is positive or negative.
After an exhaustive bibliographic consultation on the topic, a questionnaire survey was prepared
and sent to all percussionist teachers in specialized artistic education, in Portugal.
The results will be presented, reflecting later on the relationship between these two agents/
institutions/ contexts/ Worlds, pointing out differences, familiarities and complementarities.
xiii
Prefácio
Tal como grande parte dos instrumentistas de sopro e percussão em Portugal, iniciei a minha
prática musical numa banda filarmónica- Sociedade Musical Gouveense “Pedro Amaral Botto
Machado”. Daí que me tenha ficado marcado para sempre a ligação a este tipo de instituições e à
filarmonia. Foi portanto com uma certa naturalidade, que escolhi a banda filarmónica como tema
central do meu Projeto de Investigação, integrado no Mestrado em Ensino da Música.
A expressão “Conservatórios do Povo”, constante do título deste trabalho, espelha uma realidade
não muito longínqua, em que a formação musical em Portugal era quase exclusivamente detida
pelas bandas filarmónicas. Os conservatórios de música eram poucos e apenas os alunos que
tinham a sorte de ter uma destas instituições perto da sua área geográfica os podiam frequentar.
Além disto a sua frequência era dispendiosa, o que fazia com só os alunos vindos de famílias mais
abastadas os pudessem frequentar. Esta não é uma realidade muito distante pois Castelo- Branco
(1997) diz-nos que “em muitas regiões, de facto, as escolas de música das filarmónicas são as
únicas instituições que podem assegurar a iniciação musical”1.
Escolhida que estava esta paixão como tema do Projeto, havia que aliá-la ao ensino artístico
especializado, uma vez que é o domínio para o qual o presente Mestrado habilita para a docência.
Assim, uma vez que a frequência da banda foi talvez a minha maior influência na aprendizagem da
percussão, resolvi que esta relação seria o tema do meu Projeto de Investigação, que consta neste
documento.
Além disto, consta também neste Relatório a Prática Pedagógica, que respeita ao Estágio do
Ensino Artístico Especializado, realizado no Conservatório Regional Silva Marques. Esta etapa foi
determinante, tendo sido possível materializar todos os conhecimentos adquiridos neste
Mestrado.
Sempre tomei como uma grande responsabilidade a formação de alunos, pelo que decidi
aprofundar pela via académica, os meus conhecimentos sobre esta matéria. Espero que este
Relatório espelhe o mais possível tudo o que conheci e aprendi com esta formação.
1
Tradução livre do mestrando
xiv
PARTE I – Prática Pedagógica
1. Âmbito e objetivos
A iniciação à prática profissional no campo do ensino da música, concretizada através da
realização de um Estágio (prática de ensino supervisionada), é concebida numa perspetiva de
formação e desenvolvimento profissional do mestrando que potencie a articulação entre os
conhecimentos adquiridos e as formas de os transmitir.
-1-
1.1. Expectativas iniciais em relação ao Estágio
O Estágio do Ensino Especializado assume-se neste Mestrado como uma componente nuclear. Por
um lado por permitir ao mestrando pôr em prática todos os conhecimentos adquiridos nas
Unidades Curriculares lecionadas no primeiro ano, que têm como área científica dominante as
Ciências da Educação; por outro porque é sobre esta etapa que vai versar e depender o trabalho
final que ora se apresenta.
Por este motivo, o mestrando encarou com grande expectativa esta etapa em que seriam
aplicados os conhecimentos adquiridos ao longo do primeiro ano.
O facto de o professor cooperante ter largos anos de experiência na área da docência no ensino
artístico especializado, foi um fator de encorajamento para o mestrando, por um lado por sentir
que o mesmo lhe podia transmitir conhecimentos complementares aos adquiridos no Mestrado;
por outro, uma certa tranquilidade porque o mesmo professor o poderia ajudar em situações de
maior ansiedade que pudesse decorrer da prática docente, a que o mestrando não estava
habituado.
-2-
1.2. Análise SWOT
A análise SWOT é uma ferramenta que tem como objetivo identificar as vantagens e
oportunidades a potenciar e explorar, bem como detetar os riscos a ter em conta e quais os
problemas a resolver.
-3-
2. Caracterização da escola
2.1. Historial e Contextualização
A Sociedade Euterpe Alhandrense foi fundada a 1 de Dezembro de 1862 e conta atualmente com
mais de quatro mil sócios. Ao longo dos anos a SEA tem sido galardoada com as mais diversas
distinções: Membro Honorário da Ordem de Mérito, Medalha de Mérito do Concelho de Vila
Franca de Xira, Medalha de Mérito da Federação Portuguesa das Coletividades de Cultura e
Recreio, Medalha de Ouro de Instrução e Arte da Federação Portuguesa das Coletividades de
Instrução e Recreio e Diploma de Honra da Federação das Sociedades de Educação e Recreio,
entre muitas outras.
Para além do ensino da Música e da Dança, a SEA desenvolve outras atividades regulares: Banda
de Música, Grupo Coral, Grupos de Teatro (“Esteiros”, “Cais14”), Comissão de Carnaval, Aeróbica,
Natação, Ginástica de Manutenção, Ginástica Infantil, Ginástica Acrobática, Atletismo, Taekwondo,
Yoga, Tiro ao Arco, entre outras.
Sediada na Rua Miguel Bombarda a partir dos anos trinta, a coletividade criou e manteve uma
importante biblioteca, para a qual muito contribuiu o emérito escritor Soeiro Pereira Gomes, um
dos maiores expoentes do neorrealismo português, que imortalizou nos seus escritos o quotidiano
de Alhandra da sua época.
Com a sua atividade em permanente crescimento, as instalações da SEA tornaram-se exíguas, pelo
que esta adquiriu um terreno junto ao Tejo, onde foi lançada a primeira pedra em 1965 para a
construção da nova sede. Diversas dificuldades fizeram com que esse novo edifício só fosse
inaugurado a 20 de Julho de 1974, abrindo caminho para que a SEA reforçasse ainda mais o papel
social e cultural em Alhandra.
-4-
Desde a sua criação, o CRSM- inicialmente sob a designação de Escola de Formação Artística Silva
Marques- é uma escola do ensino particular e cooperativo que oferece o Ensino Artístico
Especializado da Música e da Dança. Sobretudo nos últimos anos, tem registado um importante
desenvolvimento, sobretudo ao nível do número de alunos do leque de cursos oferecidos, da
qualificação do corpo docente e da qualidade dos eventos que tem produzido e onde tem
participado.
2.2.2. Missão
Prestar à Comunidade um serviço educativo de qualidade, sustentável, com elevados padrões de
exigência e responsabilidade, valorizando o prosseguimento de estudos e a aposta no ensino, por
via do desenvolvimento de atividades educativas e culturais de âmbito artístico. Tem por
finalidade a formação cultural, social e cívica da comunidade onde se insere, contribuindo assim
para a valorização do indivíduo e da sociedade em geral.
Enquanto Escola do Ensino Artístico Especializado da Música e da Dança, deve contribuir para a
formação de cidadãos mais autónomos, participativos, informados, solidários e conscientes do
mundo que os rodeia.
-5-
2.3. Enquadramento geográfico e económico
O Conservatório Regional Silva Marques funciona nas instalações da Sociedade Euterpe
Alhandrense, sita na Praça Soeiro Pereira Gomes, nº. 5, 2600-517- Alhandra.
Tratando-se de uma instituição sem fins lucrativos, o CRSM necessita imperiosamente de recorrer
a fontes de financiamento diversificadas, sendo as principais:
- Anuidades pagas pelos Encarregados de Educação dos alunos dos cursos de Dança e Música-
Iniciações, Cursos Livres, Regime Supletivo e Regime Articulado não financiado.
-6-
2.4. Espaços e equipamentos
Tabela 2- Espaços e equipamentos do CRSM
-7-
2.5. Recursos Humanos
2.5.1. Pessoal Docente
O corpo docente dos cursos de Música do CRSM é constituído por trinta e três professores, todos
com habilitação adequada à função, de acordo com as portarias n.º 693/98, de 3 de Setembro e
n.º 192/2002, de 4 de Março, e subsequentes aditamentos, respetivamente para as áreas da
Música e da Dança. Dez destes docentes possuem habilitação profissional. Pertencem ao quadro
da escola vinte e dois docentes. A longevidade do vínculo de parte deste corpo docente à
instituição viabiliza a estabilização e, consequentemente, um envolvimento mais aprofundado na
dinâmica da escola.
2.5.3. Alunos
Atualmente, o CRSM conta com uma população escolar de cerca de 500 alunos nos Cursos de
Música e Dança.
Relativamente aos alunos que frequentam os cursos de música, no que se refere ao ano letivo
2017- 2018, a esmagadora maioria dos alunos do CRSM está paralelamente matriculado no ensino
básico e secundário em escolas dos concelhos de Vila Franca de Xira, Azambuja, Arruda dos
Vinhos, Cartaxo e Benavente, integrando alunos não só destes concelhos como da freguesia mais a
norte do Concelho de Loures- Santa Iria de Azóia.
-8-
Apresentam-se de seguida alguns dados estatísticos relativamente aos cursos de Música dos anos
anteriores, que apresentam o número de alunos que frequentou cada um dos cursos ministrados
no CRSM:
Gráfico 1- Número de alunos do CRSM
-9-
2.6. Organização e Gestão da Escola
Direção Administrativa
Presidente da SEA
Jorge Zacarias
Conselho Executivo
Presidente da SEA
Direção Pedagógica do CRSM
Vogais
Direção Pedagógica
Assessoria da Direção
Cátia Ponte
Pedagógica
Luis Raimundo
Armindo Luis
Mariana Aguiar
Corpo
Conselho Pedagógico Docente
Presidente da SEA
Direção Pedagógica
Coordenadores de Departamento
Departamentos Curriculares
Conselho de Avaliação
-10-
2.7. Oferta Educativa
A frequência e estrutura dos cursos do ensino artístico especializado da música e da dança do
CRSM regem-se pelos planos curriculares do ensino artístico especializado de música e dança, de
acordo com a legislação em vigor. Para além destes cursos, ministra ainda os cursos de iniciação
musical e curso de iniciação à dança, proporcionando-se ainda a frequência de aulas em regime
livre.
Outra faceta óbvia desta ligação são os inúmeros recitais, concertos, e espetáculos que são
oferecidos à comunidade e onde estes participam, pontualmente, como membros ativos.
-11-
A participação de diversos agrupamentos de música (Coros, Orquestras, Ensembles diversos) em
várias espaços do concelho como Igrejas, Bibliotecas, Museus, etc., bem como os eventos
artísticos que o CRSM tem organizado anualmente, nomeadamente o Música em Festa
(atualmente designado por MuDaTe- Festival de Música, Dança e Teatro), o concurso Prémio Silva
Marques, ou ainda a temporada de recitais de música que organiza em colaboração com a Câmara
Municipal, têm sido um elemento fortemente dinamizador da cultura no concelho.
O CRSM tem ainda atividades de musicoterapia e de Campos de Férias para jovens, que funcionam
com alvará do Instituto Português do Desporto e Juventude.
Atualmente existem protocolos estabelecidos com a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, não
só no domínio do apoio às atividades do CRSM, mas também do que respeita à realização de
eventos musicais e de dança em espaços camarários, nomeadamente, na Biblioteca Municipal.
Desde Março de 2015 é programada anualmente uma temporada de música erudita que decorre
na referida biblioteca.
O CRSM organiza ainda os ateliers- nos domínios da Música, da Dança e do Teatro- denominados
“Palácio dos Pequeninos”, que decorrem no Palácio da Quinta Municipal da Póvoa de Santa Iria
(cerca de oito eventos anuais, de caráter lúdico-pedagógico).
No ano de 2016 foi implementado um projeto de musicoterapia, tendo como objetivo a utilização
da música, exercida por técnico devidamente habilitado, tendo como objetivo a promoção da
comunicação, da aprendizagem e das expressões cognitivas, emocionais e sociais.
O CRSM tem protocolos assinados com onze escolas do enino regular, no que se refere ao Ensino
Artístico Especializado de música e dança em regime articulado. São as seguintes:
-12-
- Agrupamento de Escolas Professor Reynaldo dos Santos;
A grande maioria dos alunos do CRSM frequenta o ensino regular, assim como as atividades
extracurriculares de teor diversificado. O CRSM assume não só a responsabilidade pelo bom
funcionamento pedagógico e administrativo do ensino da música e da dança, tendo igualmente
como missão proporcionar a toda a comunidade envolvente momentos ou iniciativas que a leve a
participar e a usufruir das referidas formas de arte.
-13-
Atualmente, na área da música, o CRSM conta com uma população escolar média de cerca de
duzentos alunos, distribuídos pelos seguintes cursos:
Na área da dança, conta com uma população escolar média de cerca de duzentos alunos
distribuídos pelos seguintes cursos:
Alunos e professores contam diariamente com uma estrutura administrativa que os apoia no
quadro das atividades desta natureza. Para além desta, existem ainda os departamentos de
marketing, publicidade, produção, apoio técnico e logístico, que assessoram a Direção Pedagógica
do CRSM nas suas múltiplas tarefas.
-14-
2.11. Plano de Atividades
Contando já duas décadas de existência, o CRSM, continua a desenvolver diversas atividades,
nomeadamente através da realização de cursos e masterclasses, de recitais, concertos e
espetáculos, sendo frequentemente convidado a participar em importantes eventos dentro e fora
do Concelho onde se insere. Tendo o CRSM como um dos seus principais objetivos o incentivo pela
prática da Música e da Dança, apresenta como meta não apenas uma crescente qualificação do
ensino das referidas áreas, mas igualmente a consolidação da Orquestra Euterpe e da Banda
Sinfónica SEA. Este último agrupamento, com mais século e meio de existência, assumiu
recentemente um formato sinfónico, com a inclusão de instrumentos de corda friccionada
(violoncelo e contrabaixo). Estes dois agrupamentos, tal como os vários agrupamentos das Classes
de Conjunto e de Dança, ou ainda os jovens intérpretes que o CRSM tem vindo a formar nos
últimos anos, constituem atualmente um pilar fundamental da vida cultural e musical do Concelho
de Vila Franca de Xira.
Em 2011, o CRSM ampliou as suas atividades de forma a abranger igualmente o Ensino Artístico da
Dança, definindo-se então, como uma das suas metas, a criação do Projeto ANIMA, no qual os
alunos consolidam as suas aprendizagens enquanto bailarinos e coreógrafos, Caracteriza-se por
ser um núcleo coreográfico, constituído por jovens alunos, com qualidades artísticas para a dança
e para a composição, e dirigido por uma responsável artística e sua orientadora.
Ainda no domínio da Dança, O CRSM apresenta uma proposta educativa inovadora no concelho de
Vila Franca de Xira, contemplando uma formação técnica e artística de qualidade, que abrange
diversas áreas: Dança para Bebés, Dança Criativa, Expressões (3 aos 5 anos), e Iniciações de Dança,
Técnicas de Dança, Barra de Chão, Dança Contemporânea, Composição Coreográfica e Música.
-15-
aposta fortemente nas faixas etárias mais precoces. São exemplo disso as Aulas de Música para
Bebés, o Atelier de Música e Movimento as Iniciações Musicais.
-16-
- Existência de nichos educativos por explorar - Diminuição expectável da taxa de natalidade
na região, como sejam a lecionação nas áreas na região;
do jazz e do rock; instrumentos musicais
tradicionais; aulas para uma faixa etária sénior.
Fonte: Elaboração do autor
-17-
3. Práticas Educativas Desenvolvidas/ Estágio
3.1. Caracterização da Classe
A Classe de Percussão do CRSM, à data da realização do Estágio, era constituída por 14 alunos,
distribuídos da seguinte forma:
- Iniciação I- 1 aluno;
-18-
3.2. Estilos de Aprendizagem
A expressão “estilos de aprendizagem” é utilizada para descrever a forma como o aluno,
individualmente, prefere aprender e resume uma certa preferência pela utilização de
determinados recursos cognitivos que são utilizados permanentemente sempre que alguém está a
aprender (Beheshti, 2009).
As experiências de aprendizagem diferem de pessoa para pessoa, podendo afirmar-se que cada
aluno aprende de forma diferente. É importante que o professor o reconheça e compreenda a
forma como cada aluno analisa, processa e recupera informação. Esta capacidade permite aos
docentes identificar o estilo de aprendizagem dos seus alunos e adaptar as suas práticas
pedagógicas individualmente.
Podemos identificar três estilos de aprendizagem, que normalmente vão ao encontro do sensor
diretor (sensor dominante) de cada aluno:
- Cinestésico- o aluno aprende e retém mais facilmente pelo tato e da perceção corporal do
movimento.
Uma vez que o mestrando teve uma aula lecionada a cada aluno por período, entendeu aplicar a
cada um deles o VARK Questionnaire2, de forma a ser mais fácil identificar o estilo de
aprendizagem de cada um. Estas aulas foram planificadas de acordo com os resultados deste
questionário.
2
Ver Anexo E
-19-
3.3. Caracterização dos Alunos Selecionados
Ainda que tenha sido devidamente autorizado pelos Encarregados de Educação 3 a aplicação de
metodologias de ensino, bem como gravações de aulas, no âmbito deste mestrado, optou por
manter-se o anonimato dos alunos observados, usando letras para os identificar.
3.3.1. Aluno A
O aluno A tem 8 anos, tendo frequentado no ano letivo 2017/2018 a Iniciação III. Em paralelo,
frequentou o 3.º ano de escolaridade na Escola Básica da Póvoa de Santa Iria Norte.
Frequenta o CRSM desde os 6 anos, altura em que ingressou na Iniciação I sem qualquer tipo de
conhecimentos musicais. Desde aí teve sempre o mesmo professor até à atualidade.
O aluno mostrou uma atitude contínua ao longo do ano letivo, estando de um modo geral
motivado nas aulas e apresentando algum estudo individual em casa, adaptado ao nível que
frequenta ainda com conteúdos muito rudimentares.
O aluno possuía uma leitura rítmica bastante boa denotando maior resistência à leitura melódica.
- Criar uma relação entre a leitura melódica e a execução nos instrumentos de lâminas;
3
Ver Anexo C
-20-
- Dominar as peças em momentos de performance;
Fonte: www.vark-learn.com
Consoante este resultado, o mestrando planificou as suas aulas tendo em conta o sensor diretor
predominante do aluno- visão.
- Registo escrito de várias informações, tanto no caderno como nas partituras, por forma a criar
pistas visuais;
-21-
- Uso de cores associadas a determinadas figuras, dinâmicas, etc.;
Por outro lado, foram também implementadas estratégias/práticas pedagógicas para desenvolver
os restantes sensores diretores, nomeadamente:
Podemos observar abaixo, o quadro que resume o reportório trabalhado pelo Aluno A durante o
ano letivo:
-22-
Zoológico”, Jacques”, (Volume 1),
“Com mi “Skip to my Michael
martilo”, Lou”, “Arre Jansen
“Mary had Borriquito”, - Duos “El
a little “Can- Can”, canto del
Lamb”, “Tom Cuco” e “Rakes
“London Dooley” - of Mallow”-
Bridge”, - Método de Método de
Método de pércusion pércusion
pércusion (Volume 1), (Volume 1),
(Volume Michael Michael
1), Michael Jansen Jansen
Jansen
Bateria e - Estudos 5 e Bateria e - Estudos 7,8 Bateria e - Estudos 10 e 11-
Set- Up 6- Método de Set- Up e 9- Método Set- Up Método de
pércusion de pércusion pércusion
(Volume 1), (Volume 1), (Volume 1),
Michael Michael Michael Jansen
Jansen Jansen
Fonte: Elaboração do autor
-23-
3.3.2. Aluno B
O aluno B tem 14 anos, vive em Alverca do Ribatejo, tendo frequentado no ano letivo 2017/2018 o
4.º grau do Curso Básico de Música, no regime articulado. Em paralelo, frequentou o 8.º ano de
escolaridade, na Escola Básica Pedro Jacques de Magalhães, em Alverca do Ribatejo.
Iniciou os estudos de percussão no ano letivo 2014/2015, tendo tido sempre o mesmo professor.
À entrada para o Conservatório já possuía alguns conhecimentos uma vez que frequentava a
Banda de Música da SEA desde os 6 anos. A mãe do aluno toca trompete na mesma banda, fator
preponderante para que este a tivesse frequentado.
Durante o ano letivo sempre se mostrou motivado, apresentando, no entanto, picos de estudo
mais próximos de testes e audições. Por estas aulas preparatórias terem corrido muito melhor em
relação a aulas de início de período sem no entanto, ter havido indicações ou feedback especial do
professor cooperante concluiu-se que o aluno sabe organizar o seu estudo individual, porém não
há regularidade durante todo o período. A fase inicial no trabalho de uma nova peça também se
revelava mais resistente pois o este apresentava algumas lacunas de formação musical, que com
apenas algumas indicações do professor de instrumento iam sendo colmatadas, crescendo assim a
motivação do aluno em relação à peça.
Nos tímpanos a igualdade sonora entre mãos mantém-se desajustada, à semelhança de caixa e
multipercussão. No entanto o aluno mostra grande facilidade em afinar, entoando as notas sem
grandes problemas e corrigindo a afinação do instrumento.
-24-
Observou-se também que o aluno tem um défice na marimba em relação aos outros
instrumentos, uma vez que apenas começou a ter contacto com este instrumento desde o ano
letivo 2016/2017, altura em que foi adquirido pelo CRSM. Este facto pode explicar o menor à
vontade do aluno neste instrumento e, consequentemente, o seu rendimento.
Fonte: www.vark-learn.com
Consoante este resultado, o mestrando planificou as suas aulas tendo em conta o sensor diretor
predominante do aluno- audição.
Por outro lado, foram também implementadas estratégias/práticas pedagógicas para desenvolver
os restantes sensores diretores, nomeadamente:
-26-
- Fotografar o aluno, pois tende a ter menos perceção do que acontece em termos musculares e
posturais;
- Indicações através de esquemas, para que começasse a valorizar outro tipo de recomendações
que não apenas as sonoras.
Podemos observar abaixo, o quadro que resume o reportório trabalhado pelo Aluno B durante o
ano letivo:
-27-
Peters Peters
Vibrafone - Estudos 3 e 4, Vibrafone Estudos 5 e Vibrafone Estudos 7 e
Vibraphone Technique: 6, 8,
Dampening and Vibraphone Vibraphone
Pedaling, David Technique: Technique:
Friedman Dampening Dampening
and and Pedaling,
Pedaling, David
David Friedman
Friedman
Peças Caixa - Caixa - Caixa - Summer
Suite, Eckard
Kopetzki
Marimba - Marimba Joy, Eckard Marimba - Tiger Rock, Marimba - Suite
Kopetzki Eckard Mexicana,
Kopetzki Keith Larson
Tímpanos - Tímpanos - Rondino for Tímpanos -
Timpani,
Mitchel
Peters
Multi- - Declamation- Multi- - Multi- -
percussão Studies in Solo percussão percussão Articulations-
Percussion, Studies in
Morris Solo
Goldenbeg Percussion,
Morris
Goldenbeg
Fonte: Elaboração do autor
-28-
3.3.3. Aluno C
O aluno C tem 15 anos, vive em Alverca do Ribatejo, tendo frequentado no ano letivo 2017/2018 o
6.º grau do Curso Complementar de Música, no regime supletivo. Em paralelo, frequentou o 10.º
ano de escolaridade, na Escola Secundária de Gago Coutinho, em Alverca do Ribatejo.
O seu percurso musical iniciou-se no CRSM, aquando do ingresso no 1.º grau do Curso Básico de
Música. Desde aí, permaneceu sempre na instituição, tendo aulas sempre com o mesmo
professor. Estes seis anos de prática fizeram com que adquirisse sólidas bases técnicas e posturais,
especialmente nos instrumentos de peles, uma vez que a marimba só chegou ao conservatório no
seu 5.º grau.
O aluno é motivado, organizando o seu estudo semanal, apesar da sua carga horária escolar e de
também ser praticante de futebol. Este avolumar de atividades provocou-lhe, em algumas fases
do ano letivo, um decréscimo de rendimento que foi sendo ultrapassado com a flexibilização do
reportório por parte do professor cooperante.
-29-
- Consolidar a capacidade de crítica e autocrítica, adquirindo autonomia para solucionar os
diversos problemas que possam surgir na prática dos instrumentos.
Fonte: www.vark-learn.com
Consoante este resultado, o mestrando planificou as suas aulas tendo em conta o sensor diretor
predominante do aluno- cinestésico.
Por outro lado, foram também implementadas estratégias/práticas pedagógicas para desenvolver
os restantes sensores diretores, nomeadamente:
- Exercícios com velocidade lenta para que tivesse mais atenção ao som que produzia nos
instrumentos;
- Uso de gravações de vídeo e áudio das suas performances para elaboração de uma auto- crítica.
Podemos observar abaixo, o quadro que resume o reportório trabalhado pelo Aluno C durante o
ano letivo:
-31-
Delécluse Delécluse Delécluse
Vibrafone Estudos 7 e 8, Vibrafone Estudos 9 e 10, Vibrafone Estudos 11 e 12,
Vibraphone Vibraphone Vibraphone
Technique: Technique: Technique:
Dampening and Dampening and Dampening and
Pedaling Pedaling, David Pedaling, David
Friedman Friedman
Peças Caixa - Caixa Caixa - Solos 1, 2 e 3-
The All American
Drummer- 150
Rudimental Solos,
Charles Wilcoxon
Marimba - Suite Mexicana, Marimba - Rain Dance, Alice Marimba - General Life,
Keith Larson Gómez Emmanuel
Séjourné
Tímpanos - Tímpanos - Fragments for Tímpanos -
Timpani, John
Beck
Vibrafone - Vibrafone - Vibrafone - Bee et Lila,
Emmanuel
Séjourné
Multi- - Multi- - Multi- - Celebration,
percussão percussão percussão David Mancini
Fonte: Elaboração do autor
-32-
3.4. Descrição das Aulas Observadas/Lecionadas
As práticas pedagógicas decorreram na seguinte modalidade:
Podemos observar abaixo, o quadro que resume as aulas observadas/lecionadas, ao longo do ano
letivo 2017/2018:
Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Junho Total
Aluno 2 4 4 2 5 3 4 3 5 3 35
A
Aluno 2 4 4 2 5 3 4 3 5 1 33
B
Aluno 2 4 4 2 5 3 4 3 5 1 33
C
Fonte: Elaboração do autor
Os alunos B e C tiveram um total de trinta e três aulas. A diferença existente em relação ao Aluno
A, prende-se com o facto de o calendário letivo destes alunos ser mais curto, devido à realização
de Exames Nacionais.
De acordo com as normas do Mestrado em Ensino da Música, nove destas aulas foram lecionadas
pelo mestrando- uma por trimestre a cada aluno em observação. Estas aulas foram gravadas e
analisadas/comentadas, em conjunto com o professor orientador do estágio.
-33-
Sobre o primeiro aspeto, a planificação passa pela criação de ambientes estimulantes que
propiciem atividades que não são à partida previsíveis e atendam à diversidade de situações e aos
diferentes pontos de partida dos alunos (Braga, 2004 In Mendes, 2017). Uma planificação bem
estruturada assumia primordial importância devido ao facto de na primeira aula lecionada o
mestrando não ter cumprido todos os objetivos da aula devido à planificação deficiente do tempo
para a cada atividade, e também ao não cumprimento do tempo adstrito a cada uma delas na
planificação. Esta situação foi sendo devidamente acautelada, tendo o mestrando e o aluno
cumprido todos os objetivos propostos, cumprindo o tempo de aula, na última aula lecionada.
Outro aspeto foi a dificuldade/frustração do mestrando quando o aluno resistia nalgum aspeto
lecionado. É importante que o professor se certifique que o aluno aprende efetivamente, não
desmotivando perante algum aspeto menos conseguido dos alunos. Para tal, deve variar os
métodos e estratégias utilizadas, tentando encontrar a que mais se adequa ao aluno. Os métodos
de ensino devem explorar a curiosidade, as dúvidas e incertezas, a continuidade das ideias, a
investigação e a experimentação e não se pode dizer que se ensinou se ninguém aprendeu
(Dewey, 1953 In Mendes 2017).
-34-
4. Reflexão Final/ Análise Crítica da Atividade Docente
Embora o mestrando nunca tenha dado aulas numa instituição de ensino artístico especializado
(salvo algumas substituições de curta duração), já havia tido algumas experiências na docência, em
bandas filarmónicas e academias de música não oficiais. A frequência deste Mestrado, e o Estágio
do Ensino Especializado em particular, fizeram questionar, criticar, pesquisar, pensar sobre uma
série de práticas pedagógicas que eu tinha como empíricas e que em muito se baseavam na
tradição do ensino da música baseada no modelo mestre- discípulo. Acima de tudo o mestrando
tornou-se mais reflexivo.
O professor reflexivo deve ter assimiladas as noções de conhecimento da ação, reflexão da ação,
reflexão sobre a ação e reflexão sobre a reflexão da ação (Schon, 1990). Neste sentido, foi
extremamente positivo, o facto de, semanalmente, o mestrando ter de preencher na sua ficha de
observação um campo que dizia respeito à reflexão/ avaliação da aula. Esta prática sistemática, fez
com que a crítica fosse uma ferramenta para a melhoria constante. Outro aspeto fundamental foi
a auto- crítica, quanto às aulas lecionadas. As sessões com o professor orientador foram bastante
proveitosas, ao analisar e avaliar certas práticas que, no decorrer da aula, muitas vezes não são
percecionadas.
Um dos aspetos mais difíceis de contornar revelou-se ser a falta de prática individual dos alunos.
Para tal, penso que o aluno deve sentir-se incluído no processo ensino- aprendizagem. O professor
deve, por sua vez, dar as condições e ferramentas para que o aluno, per si, possa “guiar” o seu
próprio processo de crescimento musical. Hoje em dia, o professor já não é apenas um
transmissor de conhecimentos mas antes um assistente e facilitador da aprendizagem, dinâmico,
interventivo e o estimulador do desenvolvimento cognitivo e socio-afetivo do aluno (Estrela,
2002). Por outro lado, o aluno não é apenas um recetor passivo das informações transmitidas pelo
professor. Ele deve ser um elemento ativo da sua aprendizagem, utilizando as ferramentas dadas
em aula como meio para os objetivos de estudo (Martens, 1983). Portanto, é extremamente
importante incutir no aluno a motivação necessária para que ele “faça o seu trabalho” e,
conjuntamente com as orientações que vão sendo fornecidas pelo professor, possa atingir todos
os objetivos propostos.
-35-
Embora a educação da música no conservatório já não esteja tão centrada na fórmula mestre-
discípulo, esta relação continua a afigurar-se central no processo de ensino/aprendizagem
(Hallam, 2001). Não podemos esquecer que a disciplina de Instrumento é das poucas que
contempla uma aula individual. Este fator, permite um estreitamento de laços entre estes dois
atores que dificilmente se encontrará noutros campos de educação. Daí que esta deva ser uma
relação o mais sã possível.
Obviamente que o facto de as aulas serem em regime de observação condicionou, de certa forma,
o relacionamento com os alunos pois não permitiu que se criasse um vínculo suficientemente
forte. Ainda assim, durante as aulas foram pedidas por várias vezes algumas opiniões por parte do
professor cooperante, tendo estes pequenos inputs colmatado assim esta dificuldade.
Terminando, gostaria também de abordar o terceiro elemento que completa esta triangulação de
atores envolvidos em todo o processo de ensino/aprendizagem os encarregados de educação.
Além do professor, a relação/interação com os pais influencia o ambiente educativo do aluno
(Creech & Hallam in Coutinho, 2018). Por tal, o professor deve manter uma estreita comunicação
com estes últimos, dando-lhes a conhecer o mais possível o desenvolvimento do aluno, bem como
as estratégias que vai adotando. É importante que estes não se demitam do seu papel e
acompanhem os vários estádios de aprendizagem, colaborando nesta tríade que deve resultar
harmoniosa. Para tal, é também importante que os eventuais conflitos que possam surgir entre o
professor e os pais, possam ser resolvidos da melhor forma, com diálogo e tentando chegar a um
consenso, sem interferir demasiado com o aluno. É importante que o aluno sinta esta relação a
funcionar, sem no entanto depender dela para se auto- motivar. Tendo em conta este aspeto, o
mestrando tentou estabelecer contacto com os encarregados de educação dos três alunos
observados, inteirando-os dos objetivos e da forma como iria operar. Aquando das aulas
lecionadas, dei também feedbacks sobre as mesmas, tentando sugerir alguns pontos em que
poderiam ajudar os educandos.
-36-
PARTE II- Investigação
5. Conservatórios do Povo: a influencia da frequência de uma banda filarmónica no processo de
aprendizagem de percussão no ensino especializado
5.1. Problemática, Motivações e Objetivos
Partindo deste pressuposto, o mestrando tentou desde cedo identificar o seu problema de
investigação, sendo que teve como premissa abordar uma temática da qual já tivesse algum
conhecimento prévio, bem como fosse algo pela qual se interessasse em particular.
Assim, Embora tenha iniciado a formação musical numa Escola de Música particular, foi numa
banda filarmónica- Sociedade Musical Gouveense “Pedro Amaral Botto Machado”- que o autor
tomou o primeiro contacto com a percussão, instrumento no qual exerce funções
profissionalmente. Não obstante o facto de existirem em Portugal cerca de setecentas dandas
filarmónicas, são ainda poucos os trabalhos académicos/científicos em Portugal, sobre estas
agremiações culturais. Por tal, torna-se óbvia a ligação ao meio filarmónico e a motivação que daí
decorreu para este Projeto de Investigação.
Ao longo dos anos, e dos vários estádios de formação académica, o mestrando percecionou
algumas habilidades mais e menos desenvolvidas. Algum deste desenvolvimento foi atribuído, ao
facto de ter frequentado uma banda filarmónica, embora esta atribuição seja, de certa maneira,
empírica e desprovida de qualquer rigor científico. Portanto, sempre houve curiosidade em
perceber se, de facto, a frequência de uma banda filarmónica influiria na aprendizagem do
instrumento, especialmente num contexto mais formal como o conservatório. Foi daqui que
surgiu a motivação para este Projeto, pois “é através da investigação que se reflete e
-37-
problematizam os problemas nascidos na prática, que se suscita o debate e se edificam ideias
inovadoras” (Coutinho, 2018).
Escolhido que estava o tema na generalidade havia que o delimitar, identificando as questões a
que nos propúnhamos responder. “Fazer perguntas é uma atividade especificamente humana, e
desde os primórdios da história que o homem se preocupa por conhecer e compreender o mundo
que o rodeia” (Coutinho, id.).
Tendo em conta, o que já foi sito neste trabalho, importava ao autor relacionar a banda
filarmónica com o processo de ensino/aprendizagem de um instrumento – neste caso percussão,
por ser a área de especialização do mestrando- no ensino artístico especializado, uma vez que esta
formação se focaliza na profissionalização docente neste sub-sistema. Portanto, foi proposto
como objetivo responder às seguintes questões neste Projeto de Investigação:
Com esta investigação, o mestrando procura relacionar a frequência de uma banda filarmónica
com a aprendizagem da percussão no ensino artístico especializado. Pretende refletir em que
aspetos esta influencia mais, e se é positiva ou negativa. Deste modo, ambiciona também usar
estes dados para orientar os alunos e potenciar os aspetos que estejam menos desenvolvidos.
-38-
nosso país, que atuam com fardas mais ou menos próximas das militares, numa grande
diversidade de acontecimentos públicos, profanos ou religiosos” (Lameiro, 1997). O termo
“Filarmónica” resulta da conjugação do termo grego philo, substantivo que significa que ama,
amigo de, gosto por; e do termo oriundo do latim harmonicus, adjetivo com o significado de
harmonioso, combinação de sons.
Estes agrupamentos, embora espalhados por todo o País, têm tido muito pouca atenção por parte
dos académicos, existindo poucos trabalhos em que sejam o principal foco de investigação. A
parca produção sobre o tema torna difícil o seu estudo, especialmente a fase mais primordial da
sua criação. Este esquecimento parece ser transversal a toda a existência das bandas, já Pedro de
Freitas (1894- 1987), afirmava acerca da sua História da Música Popular em Portugal (1946), que
“…esta História da nossa Música, irá preencher uma lacuna desde sempre existente e revelar ao
leitor interessado em assuntos deste género um trabalho inédito e de proveitosa e agradável
finalidade”. Só nas últimas duas décadas, com mais ênfase nesta última, tem surgido um número
maior de trabalhos com esta temática.
As investigações mais relevantes sobre Bandas (Freitas, 1946; Granjo, 2005; Russo, 2007; Lameiro,
2010; Sousa, 2017), são unânimes em considerar que na origem da sua formação esteve a
influência das Sociedades Filarmónicas de Londres, trazidas por João Domingos Bomtempo (1775-
1842). Bomtempo foi, depois de Marcos de Portugal (1762- 1830), o português de maior fama
europeia como pianista e compositor. Conhecedor do estrangeiro, em Londres apreciou a célebre
Royal Philarmonic Society que ali se fundou em 1812. Desde logo desejou reproduzi-la em
Portugal- Sociedade Filarmónica (de Brito & Cranmer, 1989). Os primeiros concertos começam a
dar-se em 1814, ano em que Bomtempo regressa de Londres, ainda que de forma extemporânea e
sem qualquer regularidade. A fundação da Sociedade Filarmónica dá-se só no ano de 1822 (Russo,
2007). Esta Sociedade teve melhores e menos bons momentos conforme a política do País e o
apoio que lhe era concedido. Além do apoio do Estado, o financiamento provinha de assinantes
que pagavam uma quantia antecipadamente para assistir a todos os concertos e que permitia a
Bomtempo o aluguer do espaço para a realização dos mesmos (primeiramente no Chiado e mais
tarde no Rossio). Por norma, nestes concertos escutava-se uma abertura, uma sinfonia de Haydn
(escolhida de entre as que foram compostas em Londres pelo compositor) e música de
Bomtempo. Gradualmente a música de Haydn foi substituída por aberturas de Rossini, ou outra
-39-
música italiana. Os concertos realizavam-se por norma de Novembro a Junho, 2 por mês à noite
com duração aproximada de duas horas a que se seguia um momento de convívio. O último
concerto realizou-se em Março de 1828, coincidindo com a instauração do Regime Absolutista4
(de Brito & Cranmer, 1989). Esta Sociedade, bem como algumas criadas à posteriori, tinham forte
pendor político. Neste caso a Sociedade Filarmónica de Bomtempo era conotada com o regime
liberal, tendo mesmo ajudado à sua promoção e divulgação (Granjo, 2005). Este pendor político é
também apontado posteriormente noutras filarmónicas e noutros períodos da história (ex:
filarmónicas apoiantes do Partido Republicano). Pedro de Freitas (1946) afirma que “os principais
elementos que originaram a fundação das bandas populares provêm da Política”.
Falamos de uma época muito rica musicalmente alicerçado nos tempos áureos do Teatro de São
Carlos, tendo como diretores musicais com Marcos de Portugal e Valentino Fioravantii; o Teatro
de São João, no Porto; e o Teatro Privado das Laranjeiras, de ópera (atual Teatro Thalia),
propriedade do Barão de Quintela, futuro Conde de Farrobo, que havia de ser uma figura
importante para o movimento Filarmónico como veremos adiante. Embora muito rico este
período carece de estudo, muito por causa da falta de fontes (ainda não foi feito levantamento
sistemático de notícias musicais dos jornais portugueses da época). Em 1828 tem início o período
miguelista (1828- 1834) que pôs termo a quase toda a vida musical pública, e também privada
visto a maior parte dos amadores de música serem liberais (ex: Barão de Quintela). É provável que
este período tenha marcado negativamente a Sociedade Filarmónica, visto Bomtempo nunca mais
ter organizado concertos. Outros autores5 defendem como razão para este concertos não terem
regressado, também um certo desencanto de Bomtempo pelo público lisboeta não ter uma
predileção por música instrumental e, por tal, não acorrer em grande número aos concertos (de
Brito & Cranmer, 1989).
4
Regime Absolutista- Regime político da Idade Moderna fundamentado numa conceção doutrinária segundo a qual o
rei era detentor de uma autoridade completa sobre o poder do Estado e dos seus súbditos, a qual tinha uma origem
divina. Em Portugal, ainda que tenha antecedentes, pode ser considerado como tendo começado nos reinados de D.
João II e D. Manuel I, tendo terminado no de D. João VI, com a Revolução de 1820, e de forma mais clara em 1834,
com a vitória liberal na guerra civil que pôs fim ao reinado de D. Miguel.
5
Vieira, Ernesto, Dicionario Biographico de Musicos Portuguezes, 2 vols, Lisboa, 1900- In Brito & Cranmer, 1989
-40-
consignando o seu artigo sexto: as aulas do
Conservatório serão públicas e francas para
estudantes externos de um outro e outro sexo6.
O monopólio da música que os conservatórios dos seminários, conventos, catedrais, etc,
possuíam, passa assim para o domínio popular. Tal como Luís de Freitas Branco7 considerou, a
escola de música do Conservatório de Lisboa, foi, desde a sua fundação e até 1901, influenciada
exclusivamente pela escola francesa e também ao nível das bandas de música podemos
reconhecer essa influência, especialmente no que diz respeito ao reportório.
A criação destas sociedades veio, de certa forma, democratizar o acesso à música, sendo que esta
transportou-se do restrito seio da aristocracia e da burguesia para as classes populares menos
6
Informação consultada no site http://meloteca.com/historico-cronologia-escola-de-musica-do-conservatorio-
nacional.htm, em 9 de Janeiro de 2020
7
Luis de Freitas Branco, Elementos de Sciências Musicais, vol.2 História da Música, edição de autor, s.d., p. 113
8
Regeneração (1850-1890) - O conceito de regeneração no sentido de renovação remonta a período da Revolução de
1810, durante a qual o liberalismo iria permitir que se renovasse o país de acordo com as noções mais avançadas de
progresso e liberdade saídas da Revolução Francesa.
-41-
instruídas. Além disto, o ambiente de performação também se alterou, passando a música dos
salões e palácios para os parques ao ar livre. Estes concertos foram trazidos pelo Rei D. Fernando II
(1816- 1885), seguindo o que já se fazia em França, Alemanha ou Áustria, países com uma forte
atividade das bandas de música. Esta animação pelas bandas de música acompanha o
desenvolvimento do urbanismo que se deu no período da Regeneração, com a construção de
parques públicos, com coretos, esplanadas e fontes. De referir também, que estes espaços de
lazer, de recreio e sociabilidade ao ar livre, faziam juntar várias classes sociais e os concertos que
neles eram realizados contribuíram fortemente para a divulgação e conhecimento de obras de
música erudita alterando o gosto por estes géneros de música (id.).
Pode dizer-se que as bandas de música tem por vocação atuações ao ar livre como os que vimos
neste último parágrafo. Ainda assim, atualmente são cada vez mais as apresentações em recintos
fechados, salas de espetáculos, teatros, etc. As atuações das filarmónicas, estão essencialmente
ligadas a festas profanas, comemorações nacionais, regionais ou municipais, homenagens,
campanhas de solidariedade, touradas e eventos próprios (aniversário, Encontro de Bandas, etc.).
No entanto, a maior parte das bandas continua a ter como principal atividade as festas religiosas
(Russo, 2007). Desta estreita ligação entre a banda e a festa religiosa dá-nos conta Paulo Lameiro
(1997): “Quando na segunda metade do século XIX as chamadas Filarmónicas, Bandas Civis ou
pura e simplesmente Bandas, floresceram por todo o continente e ilhas, de imediato se conhece a
sua participação nas Festas Religiosas Tradicionais”.
9
Revolução Industrial- Termo utilizado para designar conjunto de transformações tecnológicas e industriais que, de
forma radical, ocorreu entre cerca de 1730 e 1850. Tendo iniciado na Inglaterra, alastrou-se ao continente europeu no
decurso do século XIX. Esta expressão traduz também uma evolução em termos de regime de produção, com a
passagem da manufatura para a maquinofatura, com todas as suas alterações e avanços técnicos.
-42-
A reforma deste sistema de instrumentos é que deu
ao povo a devida alma pela música, quando chegou,
também por sua vez, a ocasião propícia para ele a
cultivar e fomentar como melhor pôde e soube.
A reforma instrumental apareceu quando se chegou
à necessidade de dar aos instrumentos uma melhor
forma de aperfeiçoamento técnico: os pistões (…)
Em 1814 o trompista alemão, Henrique Stoelzel,
pretendeu remediar os defeitos dos sons fictícios da
trompa, introduzindo-lhe dois cilindros munidos de
pistões. Foi o primeiro ensaio! (…) Em 1827 ficou
definitivamente posta em prática tal invenção que
já permitiu que as trompas e clarins fizessem escala
cromática e tocassem facilmente em todos os tons
(Freitas, 1946).
Ele atribui à Revolução Industrial, com a popularidade que deu aos instrumentos musicais, o
grande desenvolvimento das bandas filarmónicas nesta época: “entendo que compete a esta
segunda fase- permito-me assim destrinçar os instrumentos da popularidade das nossas atuais
bandas- o maior quinhão de glória para a difusão das filarmónicas como um dos principais pontos
da sua origem”.
-43-
da verba ser canalizado para as despesas decorrentes da manutenção da sede, dos instrumentos e
da remuneração do maestro (Sousa, 2017).
A realidade das banda refletia naturalmente o nível de maior ou menor progresso económico das
regiões, pelo que se verificará desde logo uma separação entre o litoral e o interior. Na faixa
litoral, serão as zonas mais povoadas e de nível económico superior que vão ter bandas de música
de melhor qualidade, contando também com o fluxo migratório do interior para o litoral e com o
povoamento de novas localidades onde surgem novas indústrias (têxteis, metalurgia, conservas de
peixe, vidro, cerâmica, etc.) no Minho, Douro, Beira Litoral e Estremadura (id.).
Até 1910, foram fundadas em Portugal continental cerca de 625 bandas civis. Destas, 85% foram
fundadas no período compreendido entre 1850 e 1910, e deste grupo, de cerca de 531 bandas,
32% (170 bandas) estavam inseridas no distrito de Lisboa (ibid.).
Além da influência das sociedades de concerto, o movimento filarmónico foi bastante influenciado
pelas bandas militares, especialmente as do exército, uma vez que tinham uma maior abrangência
territorial (pelo menos uma por distrito). Estas bandas serviram de modelo, ao nível da
organização, reportório e até nos uniformes para a criação e o desenvolvimento das bandas civis.
A designação de “filarmónica marcial”, que encontramos com frequência nas primeiras
sociedades, revela bem a origem militar (marcial) deste tipo de agrupamento e a sua grande
divulgação na sociedade civil, através de instituições compostas por músicos amadores-
filarmónicas (Sousa, 2017). Muitos músicos militares deviam a sua iniciação musical às bandas
civis, tornando-se muitas vezes maestros dessas mesmas bandas, depois de ingressarem na
carreira militar. O reportório tocado também tinha origem nas bandas militares, de onde
irradiavam cópias manuscritas para as filarmónicas, primeiro para as que eram dirigidas por
músicos militares e depois para todas as outras. As bandas militares sempre foram, e de certa
maneira continuam a ser, referências artísticas para as bandas filarmónicas (id.). Russo afirma que
as bandas civis e militares têm entre si uma “dependência recíproca”, acreditando que ambas
foram surgindo quase em simultâneo, graças às novas tendências culturais e liberais que se
propagavam pelo país e pela Europa (Russo, 2007).
-44-
Durante o século XX, o ritmo de criação de novas bandas foi reduzindo, tendo o período mais
crítico durante a vigência do Estado Novo10. Nesta fase várias bandas foram extintas e outras
reorganizadas, integrando-se em Corporações de Bombeiros, Casas do Povo ou na Legião
Portuguesa. O associativismo democrático não agradava ao regime, além de muitos jovens serem
recrutados para a Guerra Colonial11 e outros serem forçados a emigrar (Russo, 2007). Outro fator
que pode ter influído nesta crise das bandas civis, foi o decréscimo acentuado de bandas militares
e da fraca importância dada à música orquestral como se constata na afirmação de Pedro de
Freitas (1946):
“Em 1938, das 32 bandas militares que existiam por todo o País, só oito ficaram. Orquestras, bem
poucas existem, por sinal, e essas mesmo de caráter particular e fraquíssima organização e
administração- salvo a da Emissora Nacional.”
10
Estado Novo- Expressão utilizada a partir de 1930 para caracterizar o regime ditatorial vigente desde 28 de Maio de
1926 e que se iria prolongar até 25 de Abril de 1974. A sua orientação política caracterizou-se pelo salazarismo,
conjunto de princípios tradicionalistas e autoritários defendidos por António de Oliveira Salazar que, numa perspetiva
muito global, se integram no conjunto de fenómenos designáveis por fascismo, embora numa aceção mais específica
esta expressão se relacione apenas com a realidade italiana.
11
Guerra Colonial (1961- 1974) - Também conhecida por Guerra do Ultramar, opôs as Forças Armadas Portuguesas e
as forças organizadas pelos movimentos de libertação das antigas colónias- Angola- Guiné- Bissau e Moçambique.
12
25 de Abril- No dia 25 de Abril de 1974 um golpe levado a cabo pelo Movimento das Forças Armadas põe fim à
ditadura portuguesa, instaurando o regime democrático.
13
Até meados do século XX, os instrumentos de banda eram afinados na “afinação brilhante” (lá= 452 hz), assim
designada por ser mais aguda que a dos instrumentos de orquestra em “afinação normal” (lá= 440 hz), adotada como
recomendação pela International Organizations for Standardization, em 1939, confirmada em 1953 (Bento, 2010).
-45-
Outro fator importante foi o apoio que os Municípios começaram a dar ao associativismo no geral
e às bandas filarmónicas particulares. Ainda assim, é bom dizer que este apoio só veio a
consubstanciar-se de forma mais consolidada a partir de 1985, visto que até aí as transferências
do Estado eram parcas e as grandes prioridades dos Municípios foram as infraestruturas (Oliveira,
1996).
Não podemos também esquecer a entrada de elementos do sexo feminino a partir da década de
80. Este fator influiu na revitalização das bandas em vários sentidos. Por um lado, a entrada delas
próprias constituía um acréscimo à banda, depois porque depois de serem mães era usual
encaminharem os seus filhos para as filarmónicas. Além disto, muitos rapazes entraram também
nesta fase para estas instituições empolgados com a participação feminina. Apesar disto, o maior
contributo foi mesmo artístico colmatando lacunas existentes em diversos naipes. Muitas destas
jovens entraram nas bandas por ligações familiares, geralmente porque o pai já era filarmónico
nessa banda (Madureira, 2019).
A última grande fase de desenvolvimento das bandas filarmónicas em Portugal, deu-se com o
acréscimo substancial de escolas de música oficiais que se iniciou na década de 80. O aumento de
quantidade de conservatórios, academias, escolas profissionais e superiores de música, contribuiu
para uma significativa melhoria da qualidade dos músicos e, consequentemente, das bandas,
como se poderá ver mais aprofundadamente nos sub-capítulos seguintes. De referir também as
novas gerações de maestros, com formação específica na área da Direção, que incrementaram
também a qualidade artística e pedagógica nas bandas (id.).
De acordo com João Franco, o número atual de filarmónicas em Portugal (Continental e Ilhas),
situa-se nas 700 (Franco, 2011).
O ensino de música é uma prática inerente à prática musical das bandas, necessária à formação de
instrumentistas. Pedro de Freitas, destaca o papel formativo das filarmónicas ao afirmar que:
Através do ensino musical, prestam aos por vezes
rudes espíritos dos seus filarmónicos, não só o
conhecimento da Divina Arte, mas também a luz da
-46-
civilidade, o conceito da solidariedade e do amor ao
próximo, e, desta maneira, ou guiam os primeiros
passos ou prestam considerável impulso para a
formação do carácter de muitos indivíduos. E é este
a mais importante e útil acção- Humana e
Educativa- prestada pelas Sociedades de Música
Popular (Freita, 1946).
O modelo de ensino está vocacionado para a execução instrumental e para a leitura de notação
musical, adequando-se às tipologias musicais próprias das funções sociais das bandas filarmónicas.
“No passado, o músico que apresentava melhores capacidades musicais passava, normalmente, a
maestro da banda”14 (Mota, 2008). Muito frequentemente, as bandas eram também dirigidas por
músicos oriundos de bandas militares. O regente era o único responsável pelas partes artística e
pedagógica da banda. Neste modelo, o mesmo “(…) ensinava todos os instrumentos e os
conhecimentos necessários à sua execução: o solfejo e a teoria musical (Lameiro, 2010).
Os aprendizes começavam por ter lições individuais de “solfejo rezado”. O manual Solfejo, de
Freitas Gazul (1842- 1925) bem como o de Artur Fão (1894- 1963), eram utilizados em todo o País.
Para receber o instrumento que iria tocar, o aluno tinha de chegar a determinado nível. O objetivo
principal deste sistema de ensino era a integração do aprendiz no grupo instrumental no menor
tempo possível, sendo que o modelo se baseava quase em exclusivo na leitura sistematizada da
escrita musical para que o aprendiz entrasse o mais rapidamente na banda e pudesse executar o
reportório já com alguma desfaçatez (Lameiro, 2010). O processo típico do aprendiz da escola de
música da filarmónica era o solfejo não entoado dos livros citados; ao atingir uma determinada
lição (geralmente a n.º 100) tinha o primeiro contacto com o instrumento e aprendizagem das
escalas diatónicas maiores e menores bem como de algumas marchas; quando já tinha alguma
desfaçatez começava a frequentar os ensaios com a banda, culminando na primeira saída com a
mesma. Este modelo apresentava vários problemas: o facto de uma mesma pessoa ensinar todos
os instrumentos sem qualquer nível de especialização; muitas vezes o maestro era músico militar
o que dificultava o contacto regular com os alunos, bem como o tempo de cada lição/aula; a
aprendizagem do solfejo não era acompanhada pela prática do instrumento; o solfejo não era
14
Tradução livre do mestrando
-47-
entoado, somente rezado. Estes fatores podem ter levado a muitas desistências por falta de
motivação dada a formação deficiente e desadequada que era ministrada (Madureira, 2019).
Também foi nesta altura, e por sugestão de Silva Dionísio, que se mudou o modelo de
funcionamento de muitas escolas de música das filarmónicas. Abandonou-se o modelo de ter o
regente como único responsável pedagógico na banda, passando a haver mais professores. Numa
primeira fase, geralmente, um professor de metais, um de madeiras e o maestro assegurava a
parte da teoria musical/solfejo. Este modelo teve a sua evolução até encontrar o que existe
atualmente em muitas bandas, nomeadamente, um professor para cada instrumento. Neste
modelo, cada instrumento é ensinado por um professor especialista, que por norma não dirige a
banda (id.).
Muitas destas instituições aproveitaram a capacidade instalada das suas escolas de música, para
obter o paralelismo pedagógico concedido pelo Ministério da Educação, podendo oferecer os
Cursos equiparadas aos existentes nos Conservatórios. Neste caso, normalmente os instrumentos
deixaram de ser oferecidos gratuitamente pela Associação e passaram a ser pertença dos alunos.
A aprendizagem passou a requerer, em alguns casos, o pagamento de uma propina significativa e
-48-
a obrigatoriedade de pertença à banda desapareceu. Este novo modelo veio, na generalidade,
incrementar o nível musical das bandas. Porém, outras implicações, tais como a habilitação dos
docentes, o cumprimento de um programa de estudos, a obrigatoriedade de avaliação e os custos
inerentes à frequência escolar fizeram com que o modelo tradicional de ensino subsistisse, a par
do ensino artístico (Lameiro, 2010)
Outro dado importante, impulsionado também por Silva Dionísio quando chefiou a Secção de
Música da FNAT (INATEL), foi a criação de algumas bandas juvenis. Estas bandas são uma espécie
de patamar intermédio entre a frequência da escola de música e a passagem para a banda
propriamente dita (Madureira, 2019).
De facto, podemos dizer que Silva Dionísio pensava algo à frente do seu tempo, pois já em 1984
ele defendia a inclusão da disciplina de Música no ensino primário, algo que só aconteceu muito
recentemente com as Atividades de Enriquecimento Curricular. Este fator, tal como ele
preconizava, muito positivo no recrutamento de novos músicos para as bandas pois “o contacto
precoce das crianças com a música foi (…) uma motivação suplementar para o ingresso em
filarmónicas” (id.).
De referir também que a partir da década de 70 surge uma maior sensibilização para a
importância da música na formação integral dos jovens, o que contribuiu também para uma
mudança nas metodologias de ensino das escolas de música das bandas. Inicialmente, a diferença
mais notória foi o uso do instrumento quase desde o início da aprendizagem musical pelo aluno,
ao invés de só o receber quando já tivesse determinado nível de leitura melódica e rítmica
(solfejo). Mais tarde, as bandas tentaram assemelhar o seu modelo de ensino ao praticado nos
conservatórios, contratando professores especializados para cada naipe, ou mesmo para cada
instrumento (Bessa, 2008).
As Bandas Filarmónicas têm possibilitado a iniciação musical a muitos jovens, especialmente fora
dos grandes centros urbanos. Muitos músicos profissionais portugueses (professores, intérpretes,
compositores e maestros) iniciaram aí a sua atividade musical.
-49-
5.2.2. Ensino Artístico Especializado
5.2.2.1. Enquadramento Histórico
Em 1835 é criado o Conservatório de Música, dirigido por João Domingos Bomtempo. Este facto é
de extrema importância, pois vem pôr fim à exclusividade detida pela Igreja no que toca ao ensino
da Música. Note-se, que esta escola vinha substituir o Seminário da Patriarcal, embora o seu corpo
docente tenha transitado, quase na totalidade, para o novel Conservatório dadas as restrições
orçamentais para a contratação de novos professores (Brito da Cruz, 2014).
Um ano depois, pela mão de Almeida Garrett (1799- 1854), nasce o Conservatório Geral de Arte
Dramática. Este Conservatório detinha uma Escola de Música, que continuou a ser dirigida por
Bomtempo. Por ter patrocínio da Coroa, adotou a designação de Conservatório Real de Música em
1840, que só abandonou com a Implantação da República15, em 1910. A partir daqui a instituição
passou a chamar-se Conservatório de Lisboa (Carmelo Rosa, 2010).
Nos anos que antecederam a instauração do Regime Republicano, a música transformou-se num
elemento essencial da cultura burguesa. Este facto fez com que fossem criadas várias sucursais do
Conservatório, nomeadamente em Coimbra, Évora e no Porto16. Outro fenómeno desta época foi
a enorme procura de professores particulares de música, tendo sido regulamentado o exercício
das suas funções (Vasconcelos, 2010).
Já em 1919, dá-se uma das maiores reformas no Conservatório tendo como principais figuras
Vianna da Motta (1868- 1948) e Luís de Freitas Branco (1890- 1955). Com eles foram introduzidas
no Plano de Estudos as disciplinas de Cultura Geral (História, Geografia, Línguas e Literatura
Portuguesa e Francesa), Leitura de Partituras, Instrumentação e Regência, criaram a Classe de
Ciências Musicais (História da Música, Acústica e Estética Musical) e desenvolveram o Curso de
Composição (Brito da Cruz, 2014).
Porém, esta senda de desenvolvimento será travada em 1930 uma vez que, fruto de cortes
orçamentais, desapareceram algumas disciplinas, bem como foi reduzida a oferta formativa.
15
Implantação da República- A República Portuguesa foi proclamada em Lisboa, a 5 de Outubro de 1910. Nesse dia foi
organizado um governo provisório, que tomou o controlo da administração do país. Iniciava-se um processo que
culminou na implantação do regime republicando, afastando em definitivo a monarquia.
16
Este Conservatório passou a designar-se Conservatório Municipal do Porto em 1917, uma vez que adquiriu âmbito
municipal e independentizou-se do CN.
-50-
Extinguiram-se quase a totalidade de disciplinas introduzidas em 1919, nomeadamente
instrumentação, leitura de partituras, regência de orquestra, francês, história e geografia e
ciências musicais. A partir daqui o Conservatório Nacional (designação adotada) passou a ser
dirigido por Júlio Dantas (1876- 1962), e a secção de Música por Vianna da Motta até 1938. Ivo
Cruz (1901- 1985) assumiu a direção do CN neste ano e só viria a sair em 1971, mantendo os
moldes pedagógicos instaurados no Decreto de 1930 (Carmelo Rosa, 2010).
A cada ano de escolaridade corresponde um grau no EAE, sendo que o 5.º ano de escolaridade
corresponde ao 1.º grau e o 12.º ano de escolaridade ao 8.º grau. Seguidamente sistematizamos
cada um dos cursos do EAE de Música:
- Curso de Iniciação: é frequentado por alunos do primeiro ciclo e vocacionado para a iniciação
musical e de desenvolvimento de competências essenciais para a aprendizagem musical. Têm uma
duração global mínima de 135 minutos semanais integrando as disciplinas de Formação Musical,
Classe de Conjunto e Instrumento (com duração de mínima de 45 minutos e lecionada
individualmente ou em grupos que não excedam os quatro alunos)17.
- Curso Básico: decorre ao longo de 5 anos/graus e destina-se a alunos a frequentar o 2.º ciclo (5.º
e 6.º ano) e o 3.º ciclo (7.º, 8.º e 9.º ano)18. Do plano curricular constam as disciplinas de Formação
Musical, Instrumento e Classe de Conjunto (Coro, Música de Câmara ou Orquestra).
17
Portaria n.º 223-A/2018, de 3 de Agosto
18
Idem
19
Portaria n.º 229-A/2018, de 14 de Agosto
-52-
oferta obrigatória e frequência facultativa, com um tempo letivo a organizar na unidade definida
pela escola).
Como já foi dito neste trabalho, o Decreto- Lei n.º 310/83, de 1 de Julho, reorganizou o ensino
especializado da Música, apresentando, no entanto, algumas lacunas em relação às habilitações
para a docência respeitantes a este sistema ensino. Com efeito, ao integrar o ensino vocacional de
música nos diversos níveis de ensino, o citado diploma previu a aplicação aos respetivos docentes
da legislação sobre carreiras de pessoal dos referidos níveis, tonando-se para o efeito necessária a
criação de grupos de docência nos ensinos básico e secundário, bem como a definição das
respetivas habilitações, através de regulamentação complementar. A ausência, em tempo
oportuno, da referida regulamentação provocou a acumulação de formações de diversos tipos e
níveis, pelo que coexistiram no sistema educativo docentes com habilitação profissional, docentes
portadores de licenciaturas e bacharelatos criado a partir dos anos 80 e outros docentes com
habilitação ao abrigo da legislação anterior, nomeadamente o Decreto- Lei n.º 18881, de 25 de
-53-
Setembro de 1930, e do regime de experiência pedagógica introduzido, em 1971, no
Conservatório Nacional.
O Decreto Lei n.º 220/2019, de 8 de Setembro, regulou a aquisição de habilitação profissional para
a docência nos restantes domínios de habilitação para a docência, tendo estabelecido que o
elenco dos mesmos, bem como as especialidades do grau de mestre respetivas seria fixado pela
portaria dos ministros da tutela da educação e do ensino superior.
-54-
5.3. Metodologia de Investigação (Fundamentação Teórica)
Neste caso, foi necessário utilizar a metodologia quantitativa mas também qualitativa/
exploratória.
Numa primeira fase, procedeu-se à recolha de dados secundários, com a leitura de referências
bibliográficas sobre o tema da investigação. Esta extensa pesquisa bibliográfica, em bibliotecas,
repositórios online e outros estudos, permitiu perceber estudar as bandas filarmónicas e o ensino
artístico especializado nas suas múltiplas vertentes: musical/artística; formação e social.
Seguidamente, procedeu-se à recolha de dados primários. Esta recolha teve como instrumento
principal o inquérito por questionário.
-55-
5.4. Recolha de Dados Primários
5.4.1. Pré- teste e Teste
Os testes são uma técnica de recolha de dados que se destina à avaliação de conhecimentos,
inteligência, raciocínio abstrato, criatividade, entre muitas outras variáveis do foro cognitivo e
mesmo socioafetivo (Coutinho, 2018).
O número de investigações no domínio do Ensino da Música, tem crescido nos últimos anos em
Portugal, a um ritmo acelerado. Por tal, os pedidos de colaboração, seja para preenchimento de
inquéritos por questionário, entrevistas, recolha de informações, etc. tem sido uma constante.
Dada a escassez de tempo que sentem muitos professores do ensino artístico especializado,
tentou-se construir um inquérito que fosse relativamente rápido de responder, sem
comprometer, no entanto, a fiabilidade da investigação.
Em termos de formato das questões, o questionário permite inúmeras possibilidades que devem
ser determinadas por questões como o tempo de resposta que exige (como referido acima), a
literacia, o nível etário, a natureza do conteúdo que versa, entre muitos outros aspetos.
Tendo em conta esta premissa, foi elaborado um Pré- Teste, constituído por perguntas fechadas e,
maioritariamente, abertas (de desenvolvimento).20
Para o preenchimento deste Pré- Teste, o mestrando escolheu cinco professores de percussão do
ensino artístico especializado que lecionam em diferentes zonas do país- Norte, Centro, Lisboa e
Vale do Tejo, Alentejo e Algarve. Esta dispersão geográfica pareceu importante, dado o número de
bandas filarmónicas e conservatórios variar bastante entre regiões. Na zona Norte concentram-se
o maior número de bandas e conservatórios; as zonas Centro e Lisboa e Vale do Tejo equiparam-
se nestes números, sendo as regiões do Alentejo e Algarve as que têm menos bandas e
conservatórios.
O maior objetivo deste Pré- Teste foi selecionar os aspetos que seriam avaliados no Questionário
como influenciadores pela frequência da banda filarmónica.
20
Ver Anexo F
-56-
ou fechadas, questões diretas ou indiretas. Neste caso o Questionário era maioritariamente
constituído por perguntas fechadas (escolha múltipla). Este questionário foi testado pelos mesmos
cinco indivíduos. Na sequência do preenchimento deste teste, foram dados ao mestrando
feedbacks sobre a construção do questionário, bem como do seu tempo de duração.
5.4.2. Questionário
As técnicas de recolha de dados em que a informação é obtida inquirindo os sujeitos podem ser
agrupadas sob a designação geral de técnicas de inquirição ou inquérito (Ghiglione & Matalon,
1997 In Coutinho, 2018). O inquérito pode incidir sobre atitudes, sentimentos, valores, opiniões ou
informação factual, dependendo do seu objetivo, mas todos os inquéritos envolvem a
administração de perguntas a indivíduos.
Neste Projeto de Investigação o Questionário teve por base as respostas ao Pré- Teste e Teste
previamente elaborados e administrados, tendo o mestrando selecionado os aspetos que achava
permitirem alcançar os objetivos, respondendo às questões da investigação previamente
estabelecidas.
21
Ver Anexo G
-57-
5.4.3. Questões éticas
Os intervenientes nesta investigação, nomeadamente os indivíduos que responderam ao
questionário, foram devidamente esclarecidos sobre o âmbito desta investigação. Para tal, foi
introduzido um texto que precedia o questionário e que culminava com a declaração de
consentimento informado do participante para uso dos dados neste Projeto.
“Exmo(a). Percussionista,
Eu, Daniel Branquinho Pinheiro, aluno de mestrado em Ensino da Música na Escola Superior de
Música de Lisboa- Instituto Politécnico de Lisboa, venho por este meio solicitar a sua colaboração
no meu projeto de investigação. Este projeto tem como temática a relação entre a frequência de
uma banda filarmónica e a aprendizagem da percussão no ensino artístico especializado. Para a
realização desta investigação solicito a sua autorização para responder ao presente questionário,
cujo preenchimento deverá necessitar de, aproximadamente, 10 minutos.
Mais informo que tenho conhecimento do dever em respeitar os princípios éticos inerentes à
investigação e que a confidencialidade e privacidade dos colaboradores serão asseguradas. A
participação neste estudo é totalmente voluntária podendo desistir da mesma a qualquer
momento.
Para o esclarecimento de qualquer questão adicional poderá contactar por e-mail e responsável
pela realização dos inquéritos através do endereço 20151202@alunos.esml.ipl.pt.
Uma vez devidamente esclarecido(a) sobre este assunto, solicito o seu consentimento informado
em como aceita colaborar neste estudo.”
-58-
5.5. Análise e Discussão de Resultados
5.5.1. Caracterização da amostra
5.5.1.1. Idade
Dos 24 inquiridos, a quase totalidade situa-se no grupo etário que situa entre os 20 e os 40 anos.
Este facto pode ter sido motivado pelo facto do inquérito por questionário ter sido administrado
por via eletrónica.
5.5.1.2. Sexo
De acordo com as respostas à pergunta 2, verifica-se que a maior parte dos inquiridos é do sexo
masculino- 87,5%, sendo os restantes 12,6% do sexo feminino.
-59-
5.5.1.3. Habilitações académicas
De acordo com o gráfico resultante das respostas à pergunta 3, 58,3% dos inquiridos possuem
“Bacharelato com profissionalização para a docência”, 25% detém “Licenciatura sem
profissionalização para a docência”, e os restantes têm como habilitação académica “Licenciatura
com profissionalização para a docência”.
Das respostas à pergunta 4 podemos constatar que 37,4% dos professores que responderam ao
inquérito tinham até 5 anos de serviço, 37,4% situava-se entre os 5 e os 10 anos de serviço, 16,8%
entre os 10 e os 15 anos de serviço e os restantes 8,4% entre os 15 e os 20 anos de serviço.
-60-
5.5.1.5. Região(ões) onde leciona
De acordo com o gráfico supra, verificamos que as cinco regiões onde os inquiridos lecionam são
Norte- 37,5%, Centro-37,5%, Lisboa e Vale do Tejo- 25%,Alentejo- 8,3% e Algarve-4,2%. As regiões
mais representadas são as que concentram um maior número de bandas filarmónicas, bem como
de escolas do ensino especializado de música.
-61-
5.5.1.6. Número de alunos
No que respeita ao número total de alunos de cada professor, 29,3% têm até 15 alunos, a mesma
percentagem de 29,3% tem até 25 alunos, 25,1% lecionam a um grupo de até 30 alunos, sendo os
restantes 16,3% ocupados por professores que dão aulas a mais de 30 alunos.
À pergunta “Na(s) sua(s) classe(s) atual(ais) tem alunos que frequentam/frequentaram bandas
filarmónicas, 83,3% dos inquiridos respondeu “Sim”, tendo 16,7% respondido “Não”. Os
professores que deram esta última resposta- 4 - não continuaram o inquérito, uma vez que o
-62-
autor entendeu que não conseguiriam responder com a exatidão pretendida às restantes
questões.
Neste gráfico é possível observar que nas classes dos 20 professores que continuaram a responder
ao inquérito por possuírem nas suas classes alunos que frequentam bandas filarmónicas, 40% tem
entre um e quatro alunos nesta situação, 20% tem nas suas classes 5 alunos que frequentam as
duas instituições, e 40% é a fatia entre os 6 e os 10 alunos que além do conservatório frequentam
uma banda filarmónica.
-63-
5.5.2. Leitura Melódica
5.5.2.1. Tipo de influência
No item “Leitura Melódica”, 90% dos inquiridos considerou que a frequência de uma banda
filarmónica influencia positivamente neste aspeto e 10% considerou não influenciar.
Dos indivíduos que responderam “Positiva” na questão anterior, a maioria entendeu que a
frequência de uma banda influencia muito ou bastante o aluno neste aspeto.
-64-
5.5.3. Motivação
5.5.3.1. Tipo de influência
Neste aspeto, 90% dos inquiridos considerou que a frequência de uma banda filarmónica
influencia positivamente neste aspeto e 10% considerou “Não aplicável”.
Dos indivíduos que responderam “Positiva” na questão anterior, todos entenderam que a
frequência de uma banda influencia muito ou bastante o aluno neste aspeto.
-65-
5.5.4. Memória musical
5.5.4.1. Tipo de influência
Neste gráfico podemos observar que os mesmos 90% dos inquiridos consideram positiva a
influência da frequência de uma banda neste aspeto, estando os restantes 10% na resposta “Não
influencia”.
Dos indivíduos que responderam “Positiva” na questão anterior, a maioria entendeu que a
frequência de uma banda influencia muito ou bastante o aluno neste aspeto.
-66-
5.5.5. Organização do estudo individual
5.5.5.1. Tipo de influência
Este aspeto apresenta respostas mais repartidas, sendo que 55% considerou “Positiva”, 25% “Não
influencia”, 15% “Não aplicável” e 5% “Negativa”.
O inquirido que considerou “Negativa” a influencia neste item, avaliou o grau de influência como
“Influencia pouco”.
-67-
Tabela 17- Organização do estudo individual- Grau de influência (Positiva)
Dos indivíduos que responderam “Positiva” na questão anterior, a maioria entendeu que a
frequência de uma banda influencia muito ou bastante o aluno neste aspeto.
Neste item, podemos observar no gráfico que 85% considerou a influência da frequência de uma
banda filarmónica “Positiva”, 10% considerou “Negativa”, e 5% considerou “Não aplicável”.
-68-
5.5.6.2. Grau de influência
Os indivíduos que responderam “Negativa” na questão anterior, entenderam que este aspeto é
muito pouco ou pouco influenciado pela frequência de uma banda filarmónica.
Nesta questão o grau de influência foi avaliado de diferentes formas pelos indivíduos que
responderam “Positiva” na questão anterior. Ainda assim, a maioria avaliou como “Influencia
muito” ou “Influencia bastante”.
-69-
5.5.7. Sentido de Pulsação
5.5.7.1. Tipo de influência
Pelo gráfico acima podemos perceber que a esmagadora maioria dos inquiridos- 95%, considerou
a influência neste aspeto “Positiva”, considerando os restantes 5% ser “Não aplicável”.
Neste aspeto, a esmagadora maioria dos indivíduos que responderam “Positiva” na questão
anterior, considerou que a frequência de uma banda filarmónica influencia bastante o aluno.
-70-
5.5.8. Domínio de dinâmicas
5.5.8.1. Tipo de influência
Neste item, a maior fatia incide sobre a resposta “Positiva”, 10% na resposta “Não aplicável” e os
restantes 5% na resposta “Negativa”.
O inquirido que considerou “Negativa” a influencia neste item, avaliou o grau de influência como
“Influencia pouco”.
-71-
Tabela x- Domínio de dinâmicas- Grau de influência
Neste aspeto, os inquiridos que responderam “Positiva” na questão anterior, dividiram a sua
avaliação relativamente ao grau de influência entre “Influencia pouco”, “Influencia muito” e
“Influencia bastante”.
5.5.9. Pontualidade
5.5.9.1. Tipo de influência
Neste aspeto o gráfico encontra-se bastante repartido. 70% dos inquiridos consideraram que a
frequência de uma banda filarmónica influi positivamente neste ponto, 15% consideraram “Não
aplicável”, 10% responderam “”Não influencia” e 5% consideraram “Negativa” a influência no
aluno.
-72-
5.5.9.2. Grau de influência
O inquirido que considerou “Negativa” a influencia neste item, avaliou o grau de influência como
“Influencia pouco”.
Dos inquiridos que responderam “Positiva” na questão anterior, 3 consideram que “Influencia
pouco”, 6 que “Influencia muito” e 5 que ”Influencia bastante”.
-73-
5.5.10. Domínio de sinais da partitura
5.5.10.1. Tipo de influência
O inquirido que considerou “Negativa” a influencia neste item, avaliou o grau de influência como
“Influencia muito pouco”.
-74-
Tabela 24- Domínio de sinais da partitura- Grau de influência (Positiva)
Dos inquiridos que responderam “Positiva” na questão anterior, 3 consideram que “Influencia
pouco”, 5 que “Influencia muito” e 6 que ”Influencia bastante”.
Neste item, os inquiridos foram mais unânimes, sendo que 95% dos inquiridos consideraram que a
frequência de uma banda influencia positivamente o aluno, e 5% considerou que “Não influencia”.
-75-
5.5.11.2. Grau de influência
A maior parte dos indivíduos que respondeu “Positiva” na questão anterior considerou que a
frequência de uma banda “Influencia muito” neste aspeto, 6 que “Influencia bastante” e 2 que
“Influencia pouco”.
Neste item, 90% dos participantes no estudo acreditam que a influência da frequência de uma
banda filarmónica é “Positiva”, 5% acredita que “Não inlfuencia” e 5% consideram “Não aplicável”.
-76-
5.5.12.2. Grau de influência
Dos inquiridos que responderam “Positiva” na questão anterior, 1 considerou que “Influencia
muito pouco”, 4 consideram que “Influencia pouco”, 7 que “Influencia muito” e 6 que ”Influencia
bastante”.
Neste ponto, a maioria dos indivíduos- 85%- que responderam ao questionário consideraram a
influência “Positiva”, 10% responderam “Não influencia” e 5% consideraram “Não aplicável”.
-77-
5.5.13.2. Grau de influência
Dos inquiridos que responderam “Positiva” na questão anterior, 4 consideram que “Influencia
pouco”, 5 que “Influencia muito” e 8 que ”Influencia bastante”.
Neste aspeto os inquiridos foram unânimes considerando que a frequência de uma banda
filarmónica influencia positivamente o aluno.
-78-
5.5.14.2. Grau de influência
No “Grau de influência” deste item, a maioria dos inquiridos também considerou que “Influencia
muito” ou “Influencia bastante”.
-79-
5.5.15.1. Justificação
Nesta secção iremos apresentar as justificações dadas pelos inquiridos à resposta anterior:
- “A banda filarmónica estimula os alunos, dando-lhes bases informais para adquirirem o gosto
pela música, facilitando assim a vida aos professores do ensino artístico especializado.”
- “Tenho para mim bem claro que pertencer a uma banda filarmónica tem influencia no
desenvolvimento dos alunos enquanto músicos.”
- “Sem dúvida que a influência é positiva, nomeadamente todas as competências com o tocar em
grupo.”
- “É positivo pela motivação, autonomia, flexibilidade, vivência profissional para além da vivência
académica.”
-80-
5.5.16. Preferência de lecionação
Quando questionados sobre a preferência de lecionação, a maioria dos inquiridos- 65%, admitiu
ser “Indiferente” se o aluno frequenta ou não uma banda filarmónica, e 35% respondeu que
prefere lecionar a “Alunos que frequentam bandas filarmónicas”.
5.5.16.1. Justificação
Nesta secção iremos apresentar as justificações dadas pelos inquiridos à resposta anterior:
- Por vezes, há alunos que ganham vícios de questões técnicas quando tocam nas bandas que são
muito difíceis de corrigir nas aulas, tenham eles iniciado a sua experiência musical antes de se
iniciarem na banda ou se tiver sido esse o seu primeiro contacto com a Música. No entanto acho
positivo o reforço de aprendizagens que as filarmónicas proporcionam.
- Geralmente são alunos mais adaptáveis e com uma capacidade de resposta mais rápida.
- Como o conservatório já ocupa muito tempo (muitas vezes até o sábado), tendencialmente, os
pais têm preferido não manter os alunos nas bandas, para mão lhes ocupar mais tempo.
- Penso que a atividade académica influencia muito mais o desempenho na banda filarmónica do
que o inverso, Ou seja, por norma um bom aluno tem um bom desempenho na banda, e nem
sempre um bom músico de banda tem um bom desempenho no conservatório.
-81-
5.6. Limitações do Estudo
Tradicionalmente, os questionários envolviam o envio de um formulário em papel, mas com a
proliferação do uso do computador, a Internet passou a ser a forma mais popular de administrar o
questionário, o que traz manifestas vantagens para o investigador em termos de rapidez de
resposta e economia de custos, mas que coloca desafios que importa ter presentes quendo se
decide optar por meios eletrónicos para a obtenção de dados para a investigação científica. A este
respeito, Coutinho (2018) salienta que para além das dificuldades inerentes ao acesso aos
endereços eletrónicos dos inquiridos ou a constituição de amostras representativas, o investigador
ter sempre de implementar, de forma extensiva, técnicas de follow- up no sentido de diminuir o
número de não- respostas associadas aos inquéritos online e que levam a que elementos de uma
amostra selecionada nunca participem no estudo colocando problemas à validade externa dos
estudos, sobretudo se os não respondentes forem sistematicamente diferentes dos respondentes,
o que não é fácil detetar. No caso desta investigação, pode notar-se que, da lista de
estabelecimentos do ensino artístico especializado cedida pela DGEstE, apenas 68 (sessenta e
oito), responderam ao contacto pelo mestrando, o que corresponde a uma percentagem de
62,9%. Dos 84 questionários enviados aos docentes que lecionam nestas escolas 24 responderam.
Destes, 4 não tinham alunos que frequentassem bandas filarmónicas pelo que não responderam à
quase totalidade do questionário por se entender que não teriam informação suficiente para o
fazerem com o rigor e entendimento necessários.
Por outro lado, dependendo da complexidade das variáveis em estudo, os questionários exigem
sempre um nível mínimo de literacia de leitura que tem de ser equacionado tendo em conta a
população alvo a quem se destina (Teddle & Tashakorri, 2009 In Coutinho, 2018). Neste caso,
todos os inquiridos tinham como habilitação académica pelo menos o Bacharelato, não se pondo
propriamente a questão da literacia de leitura. Pode, ainda assim, equacionar-se a hipótese de
alguns dos inquiridos não estarem tão familiarizados com o conceito de banda filarmónica, o que
pode ter-se denotado nas suas respostas ao questionário.
-82-
5.7. Reflexão Final
Parece evidente existir uma relação clara entre as bandas filarmónicas e as instituições de ensino
artístico especializado, umas mais acentuadas do que outras.
Maria Helena Milheiro (2013) dedica um sub- capítulo da sua dissertação, ao Impacto das Bandas
no Ensino Especializado de Música em Portugal. Nesse estudo foi aplicado um inquérito por
questionário a professores de sopros e percussão do EAE de todo o país, podendo apurar pelas
respostas que a maioria (66%) iniciou a sua formação musical numa banda filarmónica e muitos
deles (46%) mantinha a colaboração regular com pelo pelos um agrupamento deste género. As
bandas, através das suas escolas de música, estão acessíveis a todos e aceitam praticamente sem
reservas, todos os interessados em aprender música, geralmente, gratuitamente. Ao invés, no
EAE, os alunos são selecionados através de provas de aferição, sendo atribuídas as vagas
financiadas pelo Ministério da Educação, aos alunos melhor classificados. Os que não se
classificam dentro do número das citadas vagas financiadas, podem matricular-se mas a expensas
próprias.
Ribeiro (1999) compara as escolas de música das bandas a uma “rede de malha larga”, onde todos
os alunos têm lugar, independentemente do estrato social e económico de onde provêm (uma vez
que, no geral, o ensino é gratuito), ou mesmo da aptidão que possam demonstrar à partida (uma
vez que, no geral, não existem provas de seleção à entrada na escola).
Este ensino de caráter não formal prestado pelas escolas de música das bandas tem sido um
pouco esquecido, embora o próprio Ministério da Educação reconheça o seu papel ao dizer no
documento do Departamento do Ensino Secundário que “a aprendizagem da Música tem sido
feita também noutros contextos, por vezes desvalorizados pela cultura existente no ensino
especializado da música. De facto, durante um longo período, as Associações e Coletividades de
Cultura e Recreio, em particular as Bandas Filarmónicas, deram um contributo relevante para a
formação de músicos amadores, tendo constituído também uma componente importante na
formação de músicos profissionais.”22
22
Documento de apoio ao debate sobre o ensino da Música, Departamento do Ensino Secundário, Ministério da
Educação
-83-
Neste contexto, pode dizer-se que com a multiplicação de conservatórios e academias a partir da
década de 80 surgiram novas oportunidades para as duas partes. Estas escolas viram nas bandas a
sua principal base de recrutamento de alunos e a bandas viram os seus elementos evoluírem
artisticamente. Por outro lado, alguns alunos que começaram a sua formação no EAE começaram
a procurar e integrar as bandas, ganhando estas formações elementos válidos em que não tiveram
de investir tanto na sua formação (Bessa, 2008).
Esta dualidade de educação formal e não formal, enceta em si algumas diferenças. O EAE é
regulamentado por legislação que regulamenta o plano de estudos, a carga horária, a habilitação
dos docentes, etc.. Nas bandas, a escola de música é, normalmente coordenada pelo
maestro/diretor artístico, havendo flexibilidade no que respeita às matérias lecionadas, ao tempo
de cada aula, ao nível habilitacional do docente/monitor, etc. O mesmo se passa com o
financiamento. No EAE, o Estado através do Ministério da Educação, financia um determinado
número de vagas, existindo, geralmente, para a seriação dos alunos, provas de aptidão vocacional.
Nas bandas, os alunos não têm por norma de passar por estas provas e o ensino é financiado pela
própria instituição, ou, em alguns casos, é cobrada uma propina simbólica.
No entanto podemos também encontrar algumas familiaridades. No EAE os alunos do Cuso Básico
têm a disciplina de Instrumento ministrada individualmente, a de formação musical ministrada em
grupo e a classe de conjunto. Na banda filarmónica o mesmo se passa no instrumento, na
formação musical já acontece em muitas instituições que a formação musical antes assegurada
individualmente pelo maestro é agora dada em turma e a música em conjunto é frequentada pela
integração na própria banda ou banda juvenil. Os conteúdos programáticos têm vindo a
aproximar-se entre estes dois espaços de formação, tendo a banda deixado alguns modelos mais
focados na leitura sistemática de música e os conservatórios optado por modelos em que
privilegiam mais a aprendizagem através da prática em conjunto.
Pelos dados apresentados neste documento, percebemos que os participantes neste estudo
corroboram a existência de uma relação entre a frequência de uma banda filarmónica e a
aprendizagem da percussão no ensino artístico especializado. Em certos aspetos, esta influência
faz-se notar muito positivamente como por exemplo na leitura rítmica e melódica, sentido de
pulsação, performance em público, motivação e disciplina (capacidade de concentração, rigor na
-84-
execução, comportamento adequado). Nestes itens é denotado um acentuado grau de influência,
tendo os inquiridos respondido maioritariamente as hipóteses “Influencia muito” e “Influencia
bastante”.
Em quase todos os aspetos, a maioria dos inquiridos considerou a influência da frequência de uma
banda filarmónica na aprendizagem da percussão como “Positiva” e com um acentuado grau de
influência.
Esta relação ativa entre as duas instituições, deve ser acompanhada e potencializada pelo docente
pois as duas objetivam a formação musical, ética e social dos jovens que as frequentam.
O Decreto/Lei 310/83, já falado por várias vezes neste documento, veio separar o Conservatório
Nacional da Escola Superior de Música de Lisboa, passando apenas esta última a conferir
habilitação de grau superior. Esta distinção fez passar uma ideia que ainda hoje parece resistir,
que as Escola Superiores formariam os músicos de elite, passando os conservatórios a oferecer
uma formação menos “especializada”. Com o aumento das escolas de EAE, muito menos
“especializado” parece estar este ensino. Ora, importa atualizar o modelo de ensino para este
novo paradigma em que é maior o número de alunos, logo devem ser criados novos objetivos e
conteúdos. Além disto, é muito importante a articulação entre o Curso Básico e o Curso
Secundário e, posterior a passagem para o Ensino Superior.
Nesta articulação, pensamos que devem entrar instituições que complementem a formação e
ajudem o aluno a integrar-se na comunidade envolvente, como as bandas filarmónicas. Com a
modernização das suas escolas de músicas e o generalizado crescimento do seu nível artístico,
estas instituições devem ser aproveitadas como meios de iniciação musical e de desenvolvimento
da música em grupo bem como de aquisição de valores inerentes ao fator social que faz parte de
uma banda.
Este conjunto de reflexões evoca todo o conteúdo dos vários capítulos deste trabalho, de forma a
estabelecer as conexões que, no momento, parecem as mais significativas. Obviamente que os
dados aqui apresentados são apenas o princípio de uma investigação mais aprofundada sobre o
tema, quem sabe parcelar, a desenvolver futuramente para que se obtenham resultados mais
sólidos.
-85-
6. Conclusão
Esta expressão é aliás encontrada em vários trabalhos, que a relacionam com um contexto rural e
fabril/operário, onde muito provavelmente a música não chegaria se não fosse através destas
instituições. Além disto refletem também outras aprendizagens sociais, morais e mesmo
educacionais, em que as filarmónicas desempenharam um papel fundamental, transformando-as
em “escolas de vida”. Destes trabalhos, escolhemos algumas citações que damos à estampa em
seguida:
-86-
“Até ao 25 de abril de 1974 estas sociedades foram os conservatórios do povo e não se pense que
a sua vocação ficava só pela prática musical. O teatro, o desporto e até a instrução primária foram
alguns dos seus contributos para a evolução global do país. Nos meios rurais onde a escola tardava
em chegar era na Banda que se aprendia a ler, a escrever e contar. Pelas Bandas Filarmónicas
passaram, e ainda passam, alguns dos melhores músicos de sopro do país. Depois de as
frequentarem, ficam aptos a evoluir para outros patamares nos conservatórios ou nas escolas
superiores de música” (Gomes, 2007).
“ A música do Povo constitui uma força viva da Nação e uma escola de alto valor. Além de
constituir, por assim dizer, um conservatório onde o trabalhador desafortunado de recursos e
disperso por todo o País educa e forma a sua alma de artista, é uma poderosa arma para combater
a degradante taberna” (Freitas, 1946).
Fernando Ribeiro (1999) cita Xavier Cubeles chamando-lhes “verdadeiras universidades do Povo”.
Este mesmo autor lembra também o papel democrático destas instituições ao defender que “o
movimento associativo é uma das principais plataformas de participação da cidadania que permite
canalizar democraticamente um amplo leque de procuras e preocupações sociais23. Por outro
lado, Ribeiro destaca também o papel democrático na audição e fruição musical pois não podemos
esquecer que as plataformas livres de acesso a gravações áudio e vídeo são fenómenos recentes, e
as filarmónicas desempenharam também aqui um papel fundamental ao darem a conhecer
determinadas composições que de outra forma muitas pessoas não escutariam, especialmente
nos meios mais rurais (Ribeiro,1999).
Contudo, as filarmónicas são também “escolas de vida”, difundindo valores diversos, como
podemos constatar nas citações que agora transcrevemos: “na verdade, as Filarmónicas ou
Bandas foram e são autênticas Escolas do Povo, porque permitiram e permitem que os jovens e os
adultos aprendam a ser mais amigos, mais respeitadores e mais solidários” (Catana 2003, p. 12)
“Mesmo em noites de frio intenso, nada era impeditivo para o filarmónico dar o melhor de si,
dedicando os escassos momentos de lazer aos ensaios que decorriam, na sede da Filarmónica.
23
Xavier Cubeles, Trabajo Voluntario y participación ciudadana en actividades culturales, in Jornadas Europeas de
Voluntariadao Cultural, Presidencia Espanhola de la Uniõn Europea, Julho- Dezembro, 1995, p.126
-87-
Que belo e encantador exemplo o destes jovens e homens dos ofícios, desta gente humilde que,
depois de regressarem a casa derreados pela dureza do trabalho do nascer ao sol-pôr, após
depressa enganarem a fome, corriam para a sede, com o coração vestido de alegria, para
participarem em mais um ensaio!” (Catana, 2003 In Milheiro, 2013).
Sobretudo nos meios rurais “muitos músicos amadores das bandas filarmónicas [eram]
analfabetos, sabendo contudo ler as partituras” (Sousa, 2013).
“Não posso mais tocar. Deixo a música com saudade e com lágrimas nos olhos. A ela devo o facto
de ficar conhecendo alguma coisa do Mundo, ter recebido alguma educação e ter adquirido alguns
conhecimentos, bem como contar com alguns amigos. Se não fosse a música, jamais passaria de
um analfabeto fossando sempre a ignorância”.
Neste momento, em que assistimos a um corte de financiamento em várias escolas do EAE, surge
novamente o debate sobre outros espaços de aprendizagem da música que complementem esta
oferta. Estes espaços poderá ser ocupado pelas bandas filarmónicas mas também por uma melhor
Educação Musical feita no Ensino Regular, como advogado no Estudo de Avaliação do Ensino
Artístico (2007): “o país ganhará certamente com o facto do ensino genérico passar a ter um
ensino de natureza artística de melhor qualidade”25.
Já Pedro de Freitas, em 1946, chega a sugerir ao Ministério da Educação Nacional, um Decreto- Lei
em que este Ministério e os Municípios apoiariam as filarmónicas mediante determinadas
condições. As Sociedades que as cumprissem, e fossem criadas ao abrigo deste diploma, seriam
denominadas de “Conservatórios de Música Popular Concelhias” o que nos parece ser altamente
visionário à época, mas que não teve aceitação nem realização prática.
Ora, à semelhança do que é praticado no EAE, em que escolas artísticas e do ensino regular
articulam um plano de estudos para os alunos, podia e devia ser incentivada uma articulação entre
a banda e o conservatório. Percebemos ao longo deste trabalho que as sinergias que se possam
24
Freitas, P. (1946). História da Música Popular em Portugal. Loulé: Edição de autor.
25
Fernandes & Ferreira (2007), Estudo de Avaliação do Ensino Artístico, p. 46
-88-
criar beneficiam ambas e, em primeira instância, o aluno. Pontualmente, acreditamos que esta
articulação possa já existir nalgumas instituições mas falta alarga-la a nível nacional. Em termos de
exemplos concretos os professores de instrumento e formação musical poderiam articular um
programa que servisse os objetivos pedagógicos das duas instituições assim como não parece
descabido que um aluno pudesse frequentar a sua disciplina de Classe de Conjunto na banda
filarmónica, sendo avaliado por tal.
-89-
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Portaria n.º 192/2002, de 4 de Março (2002) do Ministério da Educação. Diário da República n.º
53/2002, Série I-B.
Portaria n.º 223-A, de 3 de Agosto (2018) do Ministério da Educação. Diário da República n.º
149/2018 Série I.
Sítios na Internet
www.bandafilarmonicas.com
www.infopedia.pt
www.meloteca.com
-93-
Anexos
Anexo A- Planificação anual- para cada um dos três alunos
Estes anexos estão disponíveis para consulta no CD que acompanha este documento.
-94-
Anexo E- Questionário VARK
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Anexo F- Pré- Teste
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Anexo G- Teste
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Anexo H- Questionário
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