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Sexta-feira

Exatamente igual a todos os outros dias da semana meu despertador urrou


catedraticamente as 5 da manhã. Exatamente igual a todos os outros dias da semana eu
fui obrigado a me desgarrar solene e lentamente de minha cama. Tomar banho na
vagarosa água que pingotejava mórbida e gelada em minha cabeça (e lembrar que
precisarei trocá-lo no sábado) e tomar um gole do meu café, puro e sem açúcar, para já
sentir na boca o amargo de mais um dia que demoraria a passar.
Exatamente igual a todos os outros dias da semana fui ao quarto dos meus dois
filhos e os vi dormir (por mim), os fitei por um instante e senti que nesse momento
existia um leve cintilar de alegria em meu dia, como se fosse a melhor, mais pura e
importante coisa que poderia existir. Por um segundo, enquanto flutuava num lençol
rosa rodeado por ursinhos de todas as cores e carros robôs guardiões estático na porta do
quarto senti que fosse o mais puro e importante momento da vida. Por um segundo.

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