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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

ESCOLA DE MÚSICA

Djair Pessoa Leão

UM PANORAMA DO ENSINO PARTICULAR DA GUITARRA


ELÉTRICA NA CIDADE DE NATAL-RN

Natal/RN
2014
Djair Pessoa Leão

UM PANORAMA DO ENSINO PARTICULAR DA GUITARRA


ELÉTRICA NA CIDADE DE NATAL-RN

Monografia apresentada ao Departamento de


Graduação da Escola de Música da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
como requisito parcial para obtenção da
Graduação em Licenciatura Plena em Música.

Orientador: Professor Ticiano Maciel D’Amore.


M.Sc.

Natal/RN
2014
Djair Pessoa Leão

Um panorama do ensino particular da guitarra elétrica na cidade de Natal-RN,


monografia apresentada ao departamento de Graduação da Escola de Música da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para obtenção do título de
Lincenciado em Música.

Natal, 05 de novembro de 2014.

Banca examinadora:

___________________________________

Profº Ticiano Maciel D’Amore, M.Sc. Orientador. Universidade Federal do Rio


Grande do Norte.

___________________________________

Profº Juliano Ferreira Xavier, M.Sc. Examinador. Universidade Federal do Rio


Grande do Norte.

___________________________________

Profº Jean Joubert Freitas Mendes, D.Sc. Examinador. Universidade Federal do Rio
Grande do Norte.
Dedico este trabalho especialmente aos
meus pais, Lídio Pessoa Leão e Aldenize
Borges de Paiva Leão, aos meus
familiares e amigos que me
acompanharam nessa trajetória e ao
professor Manoca Barreto (in memorian)
por toda dedicação ao ensino da guitarra
elétrica no estado do RN.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente à Deus que me dá forças diariamente para continuar


trilhando novos caminhos.
Aos meus pais: Lídio Pessoa Leão e Aldenize Borges de Paiva Leão que
fizeram de suas trajetórias de vida um espelho para a minha, me ensinando a ser
um cidadão digno, sempre me incentivando a correr atrás dos meus objetivos. À
minha irmã Djeane de Paiva Leão que sempre me ajudou e me apoiou durante todo
o curso, sendo minha segunda orientadora.
À minha noiva Liane Viana, que esteve sempre ao meu lado, aturando
meu mau humor, corrigindo alguns dos meus trabalhos, mas sempre
compreendendo as inúmeras dificuldades que eu passei.
Aos meus verdadeiros amigos que sempre acreditaram na minha aptidão
para música e foram de fundamental importância para meu crescimento profissional.
Às bandas que faço e fiz parte: Hardwind, Vinil Long Play, Orquestra Xeqmat,
Ministério de Música Domus Dei e tantas outras.
Ao meu orientador Ticiano D´amore por abraçar meu projeto e pela
paciência que teve comigo, orientando e estando sempre disponível a tirar minhas
inúmeras dúvidas.
A todos que acreditaram e torceram por mim durante toda essa
caminhada, o meu muito obrigado. Amém!
“Ensinar é um exercício de imortalidade.
De alguma forma continuamos a
viver naquele cujos olhos aprenderam a
ver o mundo pela magia da nossa
palavra. O professor, assim, não
morre jamais...”

Rubens Alves
LEÃO, Djair Pessoa. Um panorama do ensino particular da guitarra elétrica na
cidade de Natal-RN. 2014. p. 54. Monografia (Graduação em Música) -
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN.

RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo expor o panorama do ensino particular da


guitarra elétrica na cidade de Natal-RN, cujos resultados foram alcançados através
da utilização de um questionário aplicado a uma amostra de 16 professores
particulares de guitarra elétrica da cidade através do trabalho desenvolvido por
esses profissionais particulares. Com isso, tornou-se possível identificar aspectos
relacionados à faixa etária, à formação musical, à atuação profissional e o tempo de
experiência como professor de guitarra desses entrevistados. Além disso, tornou-se
possível demonstrar os espaços destinados ao ensino informal dessas aulas, o
perfil, os interesses e o número expressivo de alunos que procuram as aulas de
guitarra com esses professores particulares e que buscam estudar o instrumento de
uma forma dinâmica e flexível. O material coletado nos faz tomar conhecimento de
como são ministradas essas aulas e quais as metodologias são utilizadas por esses
professores, suas experiências musicais e os desafios encontrados, assim como a
atualização desses profissionais enquanto músicos e professores e a renda obtida
com essas aulas. O trabalho também expõe um breve histórico da evolução da
guitarra elétrica com o passar dos anos até sua chegada ao Brasil e as dificuldades
de se achar materiais metodológicos e professores específicos para o ensino do
instrumento nas primeiras décadas de seu surgimento no país.

Palavras-chave: Ensino Particular. Guitarra Elétrica. Educação Musical.


LEÃO, Djair Pessoa. An overview of the particular teaching electric guitar in
Natal-RN city. 2014. p. 54. Monografh (Graduation in Music) – Rio Grande do Norte
Federal University, Natal-RN.

ABSTRACT

The present study aimed to expose an overview of private teaching electric guitar in
Natal-RN, whose results were achieved through the use of a questionnaire
administered to a sample of 16 private teachers of electric guitar of the city through
the work by these private professionals. Thus, it became possible to identify aspects
related to age, musical training, the professional performance and long experience as
a teacher of guitar these respondents. . In addition, it became possible to
demonstrate the spaces intended for informal teaching these classes, profile,
interests and the large number of students seeking the guitar lessons with these
particular teachers and seeking to study the instrument in a dynamic and flexible
way. The collected material makes us take note of how these classes are taught and
what methodologies are used by these workers, their musical experiences and the
challenges encountered, as well as update these professionals as musicians and
teachers and the income from these classes. The paper also presents a brief history
of the evolution of electric guitar over the years until his arrival in Brazil and the
difficulties of finding methodological materials and specific teachers for teaching the
instrument in the first decades of its inception in the country.

Keywords: Private Education. Electric Guitar. Music Education.


LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Vihuela............................................................................................... 15


Figura 02: Um dos criadores da guitarra de corpo sólido, Les Paul (Lester
William Polfus) ..................................................................................................... 17
Figura 03: Exemplo de guitarra elétrica de corpo sólido, modelo Les
Paul...................................................................................................................... 17
Figura 04: Um dos criadores da guitarra de corpo sólido, Leo
Fender.................................................................................................................. 18
Figura 05: Fender Nocaster, uma variante do modelo telecaster de Leo
Fender................................................................................................................. 18
Figura 06: Fender Stratocaster, um dos modelos mais populares da
Fender................................................................................................................. 18
Figura 07: Adolph Rickenbacker...................................................................... 19
Figura 08: Guitarra Rickenbacker 330-12........................................................ 19
Figura 09: Relação entre a propaganda boca a boca e a procura por aulas
particulares............................................................................................................ 43
LISTA DE QUADROS

Quadro 01: Principais vídeo-aulas disponíveis para aprendizes de guitarra....... 24


Quadro 02: Métodos de ensino de guitarra elétrica............................................. 25
Quadro 03: Métodos de técnicas de guitarra elétrica.......................................... 26
Quadro 04: Métodos de harmonia....................................................................... 27
Quadro 05: Questões da pesquisa de campo e suas finalidades........................ 32
Quadro 06: Aspectos positivos e negativos das aulas particulares de guitarra
em Natal-RN......................................................................................................... 49
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01: Faixa etária dos intrevistados........................................................... 35


Gráfico 02: Formação musical dos entrevistados................................................ 35
Gráfico 03: Atuação dos entrevistados como músicos........................................ 36
Gráfico 04: Experiência profissional dos entrevistados....................................... 38
Gráfico 05: Valores das aulas cobrados pelos professores................................ 40
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................... 12
1.1 Problemática................................................................................................. 12
1.2 Justificativa................................................................................................... 13
1.3 Objetivos........................................................................................................ 14
1.3.1 Objetivo geral.................................................................................... 14
1.3.2 Objetivos específicos........................................................................ 14
2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS.......................................................................... 15
2.1 Surgimento e desenvolvimento da guitarra elétrica................................. 15
2.2 A inclusão da guitarra elétrica na música brasileira................................. 19
2.3 O ensino da guitarra no Brasil..................................................................... 20
2.4 Aulas particulares de guitarra elétrica........................................................ 27
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.......................................................... 30
3.1 Caracterização do estudo............................................................................ 30
3.2 População e amostra.................................................................................... 31
3.3 Instrumentos de pesquisa............................................................................ 31
3.4 Coleta de dados............................................................................................ 33
3.5 Análise dos dados........................................................................................ 33
4 RESULTADOS DA PESQUISA......................................................................... 34
4.1 Pefil dos membros da pesquisa.................................................................. 34
4.1.1 Formação musical dos entrevistados................................................ 35
4.1.2 Atuação dos entrevistados na área da música................................. 36
4.1.3 Experiência dos entrevistados como professores de guitarra........... 37
4.2 Características encontradas no ensino particular da guitarra elétrica
em Natal-RN......................................................................................................... 38
4.3 Visão geral sobre as aulas guitarra na cidade de Natal-RN..................... 48
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 50
Referências.......................................................................................................... 52
APÊNDICE: Questionário da pesquisa de campo................................................ 54
1 INTRODUÇÃO

1.1 Problemática

Um instrumento misterioso, capaz de prender a atenção de uma multidão


de apreciadores, assim é a guitarra elétrica. Símbolo de liberdade, força e rebeldia, a
guitarra tem grande poder sobre seus admiradores. Quem nunca foi ao delírio ao ver
seu ídolo empunhando uma guitarra ou tocando o solo da sua música favorita em
um palco quando adolescente?
Sloboda (1997) afirma que o som é a forma mais importante da
linguagem. Mesmo sabendo que este (o som) não é uma forma exata da linguagem,
pode-se afirmar que de alguma forma determinadas mensagens podem ser
administradas através da sua utilização.
É justamente através dessa relação de admiração por tal instrumento que
inúmeras pessoas querem aprender a tocar guitarra e em muitas situações recorrem
às aulas particulares buscando uma melhor maneira de desenvolver as técnicas que
o instrumento pode oferecer. Consequentemente, diante dessa necessidade atual
estão surgindo vários professores particulares para atender esse mercado em
crescimento.
O professor particular aqui citado é o profissional informal, geralmente o
sujeito que opta por lecionar em casa ou que vai até a casa do aluno, ou utiliza-se
de um espaço específico para passar seus conhecimentos (escola informal, cursos
livres, igrejas).
De acordo com Borda (2005), a história da inserção da guitarra elétrica no
Brasil pode ser dividida em quatro momentos que se relacionam com o
desenvolvimento da indústria e do mercado fonográfico no país. Inicialmente, na
época do rádio, onde o violão elétrico surge da necessidade de aumento do volume
sonoro, participando das diversas formações instrumentais da música brasileira
(Antônio & Pereira, 1982).
Consequentemente sua disseminação dá-se juntamente com a
popularização do rock em 1954, como um símbolo da invasão da cultura norte-
americana no Brasil, representada pela Jovem Guarda e o Iê-iê-iê.

12
Posteriormente, nos anos 70, com o período pós-tropicalista, de intensa
repressão política, verifica-se uma grande fragmentação do mercado e a forte
entrada da fonografia norte-americana no Brasil. E nos anos 80, onde através das
novas tecnologias de gravação e o consequente barateamento da produção,
verifica-se o surgimento de uma fonografia independente no Brasil e uma produção
voltada para a música instrumental e para o rock, que se afirma como produto
nacional, o chamado "Rock-Brasil", que leva dezenas de grupos às paradas de
sucesso, atuando assim como incentivadores para uma nova geração de vorazes
aprendizes.
Desta forma, surgem diversas questões a respeito do contínuo
surgimento de pessoas interessadas em fazer aulas de guitarra com professores
particulares. Com isso, é necessário saber de que forma essas aulas acontecem,
quais são os materiais de suporte às aulas teóricas e práticas, qual o perfil dos
professores e de seus alunos, seus desafios, preocupações e a relação professor-
aluno, nesse âmbito de ensino musical.
Diante de tudo isso, esse trabalho busca responder a seguinte pergunta:
Qual o panorama do ensino particular da guitarra elétrica na cidade de Natal-
RN?

1.2 Justificativa

Por estar atuando como educador e professor de guitarra, vi nesse


trabalho a possibilidade de colher dados e materiais, assim como absorver novas
propostas de ensino para melhorar a minha maneira de ensinar como também trocar
informações expondo algumas ideias que possam somar na aula desses
professores particulares.
A elaboração desse trabalho torna-se viável devido o meu conhecimento
no meio musical, em especial aos guitarristas da cidade de Natal-RN, tanto
professores como alunos, além de manter contatos com tantos outros por meio de
redes sociais. Desta maneira, foi fácil ter acesso a um número expressivo de
professores para que tal pesquisa pudesse ser elaborada.
Nessa perspectiva, o trabalho torna-se relevante por mostrar a realidade
das aulas particulares de guitarra elétrica em Natal-RN, como as relações sociais

13
entre professores e alunos, proporcionando aos professores um novo olhar sobre o
ensino de guitarra, aflorando em cada um novas ideias e maneiras de como
trabalhar suas aulas.
Do ponto de vista acadêmico, o trabalho traz uma reflexão sobre o ensino
e aprendizagem da guitarra elétrica no contexto informal das aulas particulares, os
métodos de ensino e suas aplicações.
A escassez de pesquisas científicas relacionadas ao tema também foi um
fator a ser considerado devido a necessidade que os grupos de estudos musicais
(acadêmicos ou não) apresentam em abordar esse aspecto sem expor dados
bibliográficos que justifiquem suas análises sobre o ensino da guitarra em âmbito
local.

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo Geral

Identificar o panorama do ensino da guitarra elétrica na cidade de Natal-RN.

1.3.2 Objetivos Específicos

a) Entender como se dá o processo do ensino de guitarra e a relação


entre professores e alunos da cidade de Natal-RN;

b) Traçar uma relação de métodos e metodologias utilizadas pelos


professores de guitarra elétrica através da realidade desses profissionais;

c) Contribuir para o desenvolvimento do ensino e da pesquisa de


materiais referentes à guitarra elétrica.

14
2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

Neste capítulo, será abordado o desenvolvimento histórico da guitarra


elétrica, assim como os diferentes contextos de ensino e aprendizagem do
instrumento no Brasil. O início do capítulo é composto de dados relacionados a
evolução do instrumento com o passar do tempo e a inserção da guitarra elétrica no
contexto musical mundial e brasileiro. Finaliza-se o capítulo apontando pontos
relativos ao desenvolvimento do ensino do instrumento com o passar dos anos no
Brasil.

2.1 Surgimento e desenvolvimento da guitarra elétrica

O termo guitarra surgiu, em princípio, no séc. XVI referindo-se a um


instrumento de quatro ordens1, com familiaridade à vihuela. O status musical sério
deste instrumento, na época, era muito apreciado nas cortes entre os aristocratas,
enquanto que a guitarra era um instrumento menor, sem valorização, utilizado
apenas em contexto musical popular, na pior acepção do termo (ROCHA, 2005, p.
2).

Figura 01: Vihuela.


Fonte: http://lutesandguitars.co.uk/htm/cat12.htm

1
O termo ordem refere-se a um grupo de cordas sendo tocadas como se fossem uma, ou seja, ao se
tocar com um dedo da mão direita uma ordem, as cordas relacionadas são tocadas ao mesmo tempo.
As ordens são constituídas por três, duas ou uma corda apenas (cf. ROCHA, 2005, p.2).
15
Este instrumento pode ser considerado um elo entre o violão e a guitarra
elétrica, como é conhecida no Brasil a guitarra acústica, acoustic guitar em língua
inglesa ou guitarra espanhola spanish guitar em língua inglesa. A guitarra archtop2 é
descendente direta do violão e com ele compartilha características mútuas, tais
como: ser acústica, possuir corpo oco, ser afinada da mesma maneira que o violão e
ter sua construção mantida na linha de tradição da família de instrumentos
relacionados a ele, mesmo possuindo características que a diferem do violão
(ROCHA, 2005, p. 4).
A antiga guitarra da Idade Média sofreu algumas mutações em sua
construção como também no número de cordas, diante dessas modificações o
instrumento passou a ter seis cordas, resultando no que hoje chamamos de violão,
termo popularmente utilizado no Brasil.
Por ser um instrumento de grande versatilidade capaz de se adequar a
vários estilos musicais gerando diferentes texturas, a guitarra elétrica trás consigo
possibilidades de um instrumento que pode tanto ser utilizado harmonicamente,
acompanhando um solista, bem como melodicamente, podendo ser um instrumento
improvisador como um saxofone, por exemplo.
Para Garcia (2011) a guitarra elétrica se tornou mais que apenas um
instrumento musical dentre outros tantos (re)inventados durante o século XX. A
guitarra se consolidou dentre inúmeros músicos, seja na sua utilização nos diversos
gêneros musicais em que se enquadra, e até mesmo em materiais publicitários.
Embora a definição de “guitarra” possa ser aplicada a diversos
instrumentos de cordas existentes desde a Idade Média, de uma forma etimológica,
é necessário frisar que para este trabalho, o termo guitarra se aplica à guitarra
elétrica, nas suas duas mais importantes variantes: o surgimento das guitarras semi-
acústicas e em seguida as guitarras de corpo sólido.
O primeiro período surge da necessidade dos músicos de jazz
americanos de competir com as enormes bandas nas quais tocavam, devido a
massa sonora dos instrumentos ser muito maior do que a sonoridade da guitarra
acústica. Para isso foram colocados captadores no corpo da guitarra buscando

2
Archtop, em inglês, refere-se a uma abreviação do termo Arched top (tampo arqueado). Nas
guitarras construídas neste estilo, a madeira que forma o tampo do instrumento é arqueada (cf.
ROCHA, 2005, p.3).
16
dessa maneira resolver este problema, criando a primeira guitarra eletroacústica, a
precursora das guitarras elétricas e um modelo largamente utilizado por músicos de
diversos estilos musicais. Entretanto, a guitarra semi-acústica, ou eletroacústica,
produzia um incômodo ruído quando tocada em volumes muito altos, ruídos esses
designados de microfonia (feedback).
Para resolver esse problema surge o segundo momento de criação da
guitarra elétrica: a guitarra de corpo sólido, que, ao contrário do violão e da guitarra
eletroacústica, não possui caixa de ressonância, eliminando desta maneira o
incômodo de feedbacks indesejáveis, podendo ser tocada a volumes muito maiores
que os de sua antecessora.
Três grandes nomes aparecem como criadores das guitarras de corpo
sólido representando assim a fundação da guitarra elétrica mundial. São eles: Les
Paul (Lester William Polfus), Leo Fender e Adolph Rickenbacker.

Figura 02: Um dos criadores da guitarra de corpo sólido, Les Paul (Lester William Polfus).
Fonte:http://guitarfree.com.br/gf/conheca-historia-de-les-paul-um-dos-pais-da-guitarra-eletrica/

Figura 03: Exemplo de guitarra elétrica de corpo sólido, modelo Les Paul.
Fonte: http://www.garysguitars.net/catalog/1952-gibson-les-paul-59-conversion-gie0038

17
Figura 04: Um dos criadores da guitarra de corpo sólido, Leo Fender.
Fonte: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/23319/

Figura 05: Fender Nocaster, uma variante do modelo telecaster, de Leo Fender.
Fonte: http://www.garysguitars.net/catalog/1951-fender-nocaster-butterscotch-blonde-fee0706

Figura 06: Fender Stratocaster, um dos modelos mais populares da Fender.


Fonte: http://www.garysguitars.net/catalog/1958-early-fender-stratocaster-fee0421

18
Figura 07: Adolph Rickenbacker.
Fonte: http://www.allaboutbluesmusic.com/adolph-rickenbacker/

Figura 08: Guitarra Rickenbacker 330-12.


Fonte: http://www.garysguitars.net/catalog/1967-rickenbacker-330-12

2.2 A inclusão da guitarra elétrica na música brasileira

No Brasil, a história da guitarra começa oficialmente nos anos 50. No


entanto, já nas décadas de 30 e 40 nomes como Garoto, Poly e Bola Sete foram
19
pioneiros a introduzir a guitarra na música brasileira, na região sudeste do país. No
nordeste, Dodô (pai do famoso guitarrista Brasileiro Armandinho) e Osmar, criadores
do trio elétrico, já faziam experimentos para resolver os já citados problemas de
feedback antes mesmo de Les Paul, Fender e Rickenbacker. Foram eles, Dodô e
Osmar, os criadores da guitarra baiana, instrumento que era usado nos famosos
trios elétricos, que por tradição fazem o carnaval de rua no Nordeste do país. Este
fato merece ser citado por representar que a guitarra elétrica, antes de sua
popularização mundial, já estava integrada à música brasileira, desde 1942.
A guitarra elétrica, tanto a de corpo sólido quanto a eletroacústica, tem
fundamental importância e por causa disso merecem esse breve histórico, além de
ser bastante associada a um gênero musical crescente nos Estados Unidos, que
depois difundiu-se de tal forma que veio a tornar-se um estilo de vida: o Rock n´ Roll.
Popularizando ídolos do Rock, como Chuck Berry, Elvis Presley, The
Beatles e tantos outros, a guitarra elétrica era vista como um instrumento “marginal”
de simbologia rebelde, altamente sexualizada. Este estigma, por sua vez, foi trazido
para dentro do contexto brasileiro, juntamente com o próprio estilo musical, que faz
nascer aqui, em terras brasileiras, a Jovem Guarda.

2.3 O ensino da guitarra no Brasil

Segundo Mello (2006), por volta dos anos 70, não existia nenhuma
metodologia para o ensino de guitarra elétrica no Brasil. O que acontecia era que os
guitarristas procuravam metodologias empregadas para o estudo de violão popular
ou violão “clássico”.
Paralelamente, com a popularização do seu som, a guitarra desenvolveu
uma linguagem própria, apresentando uma leitura inovadora dos idiomatismos3 de
seus “antepassados”, como o violão e a guitarra havaiana (CAESAR, 1999).
Decorrente dos fatos, surge então um novo modelo de aprendizado, uma nova
“escola” de guitarristas, abordando novos sons e um “novo jeito de ver o violão”,
fundamentada no experimento e voltada ao autodidatismo.
Para que a linguagem musical seja compreendida e compartilhada, há a
necessidade do conhecimento de seus códigos. Esse conhecimento, segundo

3
O termo ‘idiomatismo’ está relacionado às técnicas específicas de determinados instrumentos.
20
Penna (1991), pode ser adquirido não apenas na escola, mas também de maneira
dita “informal”, pela vivência, pelo contato cotidiano, o que leva à sua familiarização
(PENNA, 1991, p. 20-21).
Segundo Caesar, o ensino de guitarra ainda é algo novo e que apesar de
existir uma extensa literatura vinda principalmente dos Estados Unidos, contudo não
se tem métodos especializados no ensino da guitarra elétrica, conceitualmente
reconhecidos. Deve-se levar em consideração que o autor é um dos poucos a
escrever sobre o assunto e que sua obra foi escrita há quinze anos. Caesar (1999)
aponta que no Brasil, “somente a partir dos anos 80 [1980] é que surgiu uma
geração ‘oficial’ de professores realmente pré-dispostos a ensinar guitarra de
maneira convicta e assumida”. Entre os estudantes havia a necessidade de buscar
essas informações fora do país, mais exatamente nos EUA ou estudar com alguém
que tenha ido para lá. Outra realidade era tentar aprender sozinho através de livros
didáticos, revistas especializadas, vídeo-aulas ou “tirando” músicas de ouvido
através de discos (LP ou CD...).
Para Swanwick (2003) o aluno deve ser direcionado a adquirir fluência
musical e para tanto, afirma o autor que a sequência de procedimentos mais efetiva
seria: ouvir, articular, depois ler e escrever. Da mesma forma, Schafer (1991)
identifica o modo “tocar de ouvido” como uma maneira de vivenciar os códigos
musicais que permita ao guitarrista criar situações autônomas que possibilitam uma
fluência musical.
Já Green (2001) afirma que “de longe, a principal prática de
aprendizagem para músicos populares iniciantes, como já se sabe, é a cópia de
gravação de ouvido”. (GREEN, 2001, p. 60).
Diante dessa perspectiva, acredita-se que o aluno autodidata busca seu
conhecimento através de sua própria curiosidade e de seu interesse em descobrir
técnicas dentro de uma abordagem de ensino que dispensa a orientação de um
profissional, de forma isolada e num tempo relativamente curto. Isso acontece com a
maioria dos músicos iniciantes e não os impede de que em algum momento esses
aprendizes autodidatas possam, por consequência, procurar aulas particulares com
o objetivo de estender seu potencial no instrumento e adquirir novas habilidades.

A autoaprendizagem é aquela na qual o aluno (aprendiz) exerce plena


autonomia e controle sobre suas práticas educacionais. Defino, portanto

21
autoaprendizagem, [...], como sendo a interação do indivíduo com múltiplos
ambientes de aprendizagem, permitindo-lhe o envolvimento ativo no
processo de aquisição de conhecimentos e habilidades. (GARCIA, 2011, p.
55).

Dessa forma, a aprendizagem da música como um todo, incluindo o


ensino de guitarra, acontece, na maioria das vezes sem a legitimação ou validação
do seu processo pelos órgãos vigentes do ensino formalizado.
Com isso, mesmo a guitarra sendo um instrumento de apreciação
popular, não foi possível saber se ela, a “guitarra elétrica”, conseguiu ganhar um
espaço considerável nos conservatórios e cursos de Licenciaturas em Música do
país. Porém o conservatório Souza Lima e a IG&T (Instituto de Guitarra e
Tecnologia), são exemplos de escolas que conseguiram formalizar a prática desse
instrumento desenvolvendo metodologias de ensino e favorecendo um melhor
desempenho de seus alunos.
Recentemente, a literatura e a tecnologia apontam para uma variedade de
métodos e abordagens metodológicas no ensino da guitarra elétrica. Sugiram por
exemplo, métodos de guitarristas; métodos de leitura, escrita e percepção musical;
métodos de harmonia; métodos de técnicas específicas, sem contar com uma gama
de vídeo-aulas que são disponibilizadas na internet em sites como o “youtube”, por
exemplo. É interessante frisar que a evolução da guitarra ao longo dos anos
caminha junto à evolução tecnológica, desta maneira a tecnologia aparece como
mais uma ferramenta para auxiliar o professor no processo de ensino.
Concorda-se, então com Garcia (2011) quando este afirma que:

“A área da educação musical, na contemporaneidade, tem valorizado cada


vez mais os distintos fenômenos que promovem trocas de informações
musicais entre indivíduos, compreendendo seu contexto de construção e
ação sociocultural”. (GARCIA, 2011, p. 01).

No Brasil, existem muitos métodos aplicados por inúmeros professores


conceituados na área do ensino musical de guitarra elétrica. A seguir serão
apresentados alguns desses métodos e seus autores.

22
I) Vídeo-aula

Segundo Gohn (2003), as vídeo-aulas não apresentam como enfoque


principal o estudo da teoria musical, mas sim o estudo técnico dos instrumentos e
sua utilização prática em performance, ficando a teoria avançada restrita aos livros,
pois não é um tema de interesse comercial pelas produtoras dos vídeos.
As abordagens trazidas pelas vídeo-aulas nos aspectos mais técnicos e
não teóricos seriam empregadas como preparação para uma metodologia
autodidatista. Nesse caso, “o professor virtual” demonstra como se fazem
determinados exercícios, almejando que o aluno reproduza, adquirindo a
informação. Esse material pode ser usado de forma auxiliar, sendo muito indicadas
por professores.
Algumas vídeo-aulas são encontradas no mercado ou disponibilizadas na
internet, caracterizando-se como uma ferramenta facilitadora da aprendizagem para
iniciantes. Deve-se considerar também que com o contínuo avanço da tecnologia e a
disseminação da internet, essa prática tem apresentado um crescimento
considerável. Além disso, existe uma diversidade de conteúdo desde o mais básico
ao mais avançado para contribuir com o desenvolvimento de alunos e professores
que vêem nessas fontes uma oportunidade de adquirir novas técnicas e compartilhar
conteúdos e experiências.
Trata-se, portanto, de uma ferramenta eficaz no desenvolvimento do
aprendiz. Dessa forma, pode ser utilizada pelo professor como parte de sua
metodologia, mesmo porque as vídeo-aulas são, consideravelmente, atraentes,
devido o fato de colocar em prática as habilidades do aprendiz.
A maior parte das vídeo-aulas aborda as técnicas acima do instrumento e
consequentemente abre portas para que o aprendiz possa desenvolver suas
próprias características ou que possa adaptar as técnicas aprendidas com seu gosto
e seu estilo musical.
O quadro 01, a seguir, mostra algumas dessas vídeo-aulas e suas
principais características.

23
Título Orientador Características
Guitarra – Noções Wesley Caesar Método orientado a iniciantes. Aborda
Elementares aspectos teóricos, anatômicos, históricos,
técnicos, postura e acordes.
É uma fusão de ideias, concepções e
Guitarra Fusion Mozart Mello estilos diferentes passando pelo Rock,
Blues, Jazz, Funk, MPB, Bossa Nova,
Country e até a música erudita;
Técnicas e exercícios aplicados à guitarra
Técnica & versatilidade Kiko Loureiro elétrica, utilização de tríades, harmonia em
bloco, levadas e música brasileira;
O vídeo aborda campo harmônico,
Guitarra, Jazz & Tomati acordes, escalas e modos, passando por
Improvisação inside, outside, inside out, outside;
Na primeira parte as abordagens são
voltadas para solos de blues, country, rock
e jazz, técnicas de mão direita e esquerda;
uso de efeitos específicos para cada estilo;
Hot Lines 1 e 2 - Solos Faiska harmonia, etc. Na parte dois, ajuda o
Para Guitarra aprendiz a criar suas próprias linhas
melódicas e aprimorar suas técnicas,
dando ênfase ao Blues e ao Country
Rock.
Improvisação sobre Eduardo Ardanuy Técnica e improvisação
modos

QUADRO 01: principais vídeo-aulas disponíveis para aprendizes de guitarra


Fonte: Elaboração própria, 2014.

II) Métodos de guitarristas

Elaborados por guitarristas profissionais, esses métodos por sua vez,


tratam de questões práticas pautadas à atuação musical, apresentando uma
metodologia voltada aos desenhos dos acordes e escalas no braço do instrumento
no qual denominam-se “shapes”. Nesses métodos, a utilização da escrita musical
tradicional (partitura) é somada ao emprego de tablaturas, que é uma espécie de
24
numeração que indica o posicionamento dos dedos em relação às casas no braço
do instrumento. Técnica, harmonia (acordes) e melodia são alguns dos assuntos
abordados por esses métodos. Dentre esses métodos, podem-se citar:

Relação entre acordes,


arpejos e escalas, com suas
Acordes, arpejos e escalas (Nelson Faria). digitações e aplicações.
Demonstração dos arpejos
na partitura e tablatura;
A arte da improvisação (Nelson Faria). Improvisação através do
estudo de frases jazzísticas;
Método desenvolvido por Harmonia modal, técnica e
IG&T song book. Volumes I profissionais da Escola de fraseados, com 10 lições
e II. Música e Tecnologia (São cada volume;
Paulo).
Apostila completa com todos
os elementos necessários
Harmonia (Pollaco). para se entender e aplicar os
conceitos de campo
harmônico, harmonia
funcional e improvisação.

QUADRO 02: Métodos de ensino de guitarra elétrica.


Fonte: Elaboração própria, 2014.

III) Métodos de técnica aplicada à guitarra elétrica

Talvez seja um dos assuntos mais procurados por jovens guitarristas que
buscam no instrumento o virtuosismo. Técnicas como palhetada alternada, sweep
picking4, hammer-on5, pull-off6, entre outras, são trabalhadas em métodos que

4
Sweep picking, é uma técnica utilizada na guitarra em que a palheta move-se como uma vassoura
(do inglês sweep: varrer); combinando o movimento correspondente da mão esquerda (ou mão dos
trastes) produzindo uma série de notas de sonoridade rápida.
5
Hammer-on ('martelar') é quando você toca uma corda segurando uma casa e pressiona outra casa,
sem tocar a corda de novo, apenas aproveitando a vibração.
6
Pull-off ('soltar') é o contrário: você toca a corda segurando uma casa e logo em seguida a solta.

25
buscam dar melhor habilidade motora no desenvolvimento de tocar o instrumento,
sendo indicados como estudos técnicos para uma melhor performance do indivíduo.
É interessante que professores utilizem ou indiquem esses métodos de
técnica em suas aulas, tanto como material principal ou como um estudo auxiliar,
visto que a procura pelo estudo das técnicas na guitarra é um fator comum entre os
estudantes desse instrumento. O Quadro 03 define algumas das principais
características desses métodos.

Título Orientador Características


Compilação de ideias e técnicas
Técnicas Avançadas Marcelo Barbosa utilizadas em estilo fusion e jazz-rock,
apresentadas de forma didática;

Exercícios de aquecimento, escalas e


Desenvolvimento Kleber Oliveira padrões, técnicas: legato, two-hands
Técnico e sweep;

Clínica de palhetas do Wander Taffo – Método completo para


Dr. Taffo Wanderson desenvolvimento da técnica de
Bersani palhetada alternada na guitarra.

QUADRO 03: Métodos de técnicas de guitarra elétrica.


Fonte: Elaboração própria, 2014.

IV) Métodos de harmonia

O estudo de alguns métodos de harmonia faz relação com o


desenvolvimento do estudo na guitarra elétrica no Brasil. Alguns desses métodos
buscam desenvolver o conhecimento de harmonia através do instrumento. Embora
também sejam indicados a estudantes autodidatas, a ajuda de um professor que
domine o assunto é sempre bem vinda, pois ele poderá tirar dúvidas de informações
musicais e harmônicas existentes no material.

26
Título Orientador Características
Volume I e II. Aborda questões como
Harmonia e Almir Chediak técnica de improvisação e harmonia
Improvisação funcional;

Aborda formação de acordes, inversões


de acordes, colocação de notas de
Harmonia Aplicada Nelson Faria tensão, estudo da harmonia
ao Violão e à propriamente dita, conceitos para a
Guitarra criação de arranjos e técnicas em chord
melody.

QUADRO 04: Métodos de harmonia.


Fonte: Elaboração própria, 2014.

2.4 Aulas particulares de guitarra elétrica

As aulas particulares de instrumento representam uma significativa parcela


das aulas realizadas nos contextos músico-educacionais da atualidade e
devem ser reconhecidas por seu papel na formação musical dos indivíduos.
Essas aulas se caracterizam por ocorrer em espaços como a casa dos
professores ou a casa dos alunos, ou ainda em outro espaço escolhido em
comum acordo entre professor e aluno e especificamente preparado para
essa prática. É um tipo de “escola alternativa de música”, onde os
professores não precisam ser concursados, pois sua competência docente
é legitimada por sua atuação como músicos. (GARCIA, 2011, p. 59).

Com isso, as aulas particulares de guitarra elétrica surgem como um


atrativo para aqueles que querem aprender a tocar ou para os que já tocam e
buscam nessas aulas um melhor aperfeiçoamento no seu instrumento através de um
contato mais íntimo com um professor.
Silva (2001) enfatiza a importância do professor para que os alunos
sintam-se mais seguros, criando, assim, um ambiente de aprendizado tranquilo, pois
a afetividade se faz presente no cotidiano da sala de aula, seja pela postura do
professor, pela dinâmica de seu trabalho ou nas interações entre os sujeitos.
Corrêa (1999) afirma que na maioria das vezes o aprendiz necessita da
interação com outros músicos ou outros aprendizes para que haja uma rede de troca
de informações. Embora Corrêa defenda o ensino do instrumento (violão) sem a
presença do professor, acredita-se que essa troca de informação entre professor e

27
aluno pode gerar um maior incentivo para os estudantes, que além de passarem a
compartilhar materiais de estudo, acabam criando um círculo de amizades que
muitas vezes vai além desses estudos. Isso vem bem a calhar para professores que
trabalham suas aulas de forma coletiva, pois a afinidade e o gosto musical entre os
alunos assim como o convívio entre eles facilitam o processo de aprendizagem.
Normalmente, a principal fonte de conhecimentos e habilidades desses
aprendizes informais é o treinamento auditivo através da prática de ouvir e copiar
(GREEN, 2001). Na prática de se tocar guitarra é comum que o desenvolvimento
auditivo e o tocar por imitação seja mais trabalhado que a leitura musical (partitura),
muito embora seja importante para qualquer estudante de música aprender essas
codificações para que a leitura musical venha somar em seus conhecimentos e na
sua atuação musical, seja ela profissional ou amadora.
Para esses professores, não é cobrada uma formação musical
pedagógica (bacharelado ou licenciatura) específica e os alunos, corriqueiramente,
escolhem como professores os guitarristas sociomusicalmente em destaque na
comunidade que o rodeia (GARCIA, 2010).
Essa educação não legitimada por qualquer tipo de órgão ou instituição é
classificada como não formal e é constituída por aquelas atividades que possuem
caráter de intencionalidade, estrutura e sistematização flexível (particular), por meio
das quais ocorrem relações pedagógicas, mas que não estão formalizadas ou
institucionalizadas (WILLIE, 2005). Ou seja, o ambiente para a prática dessas
atividades pode ser considerado como um tipo de “escola alternativa de música”, e o
professor não necessita ser formado ou concursado para atuar nesses espaços,
onde sua competência musical lhe dá legitimidade como docente.

O músico-professor é um profissional cuja formação foi orientada para o


exercício de atividades artísticas na área da música. Sua atividade docente
é colocada em segundo plano, embora ela seja, frequentemente, a mais
constante e a que assegura uma remuneração regular. […] Na perspectiva
dos alunos, a competência docente do músico professor revela-se em seu
desempenho artístico-musical, comprovado em situações de performance.
(REQUIÃO, 2001, p. 98)

Glaser e Fonterrada (2007) apontam que “todo instrumentista musical é


um professor em potencial de seu instrumento”, ou seja, em algum momento de sua
carreira, terá a oportunidade de ministrar aulas de seu instrumento.

28
Mesmo sem ter uma bagagem metodológica para ensinar, o fato é que
todo instrumentista em determinado momento de sua vida provavelmente terá seu
momento como professor. O conhecimento adquirido em anos de estudo, fatores
financeiros, pedidos de amigos ou conhecidos que enxergam no instrumentista a
possibilidade de aprender música, podem aflorar o desejo de lecionar e de levar
adiante a ideia de ser um professor de música, muito embora ainda não haja uma
compreensão didática adequada, mas que aos poucos vai melhorando com a prática
e as pesquisas.

29
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 Caracterização do estudo

O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa exploratória de


abordagem qualitativa-descritiva, onde seu objetivo é explorar e descrever
informações relacionadas ao panorama do ensino particular da guitarra elétrica na
cidade de Natal-RN, a partir da percepção dos professores informais que atuam
nesta área de ensino local.
Gil (1996) vê a pesquisa qualitativa como uma fonte de vínculos
indissociáveis que não podem ser traduzidos em números, onde a interpretação dos
fenômenos e a identificação dos fatores básicos na execução da pesquisa, não
necessitam do uso de recursos metodológicos e/ou técnicas estatísticas. Isto é posto
em prova, visto que a experiência profissional e a qualidade do serviço oferecido
nesta pesquisa resultaram em um número de pessoas que procuram por essas
aulas e que podem, desta forma, ser descritos através de gráficos e números.
Quanto à pesquisa exploratória, Severino (2007) trata-a como uma forma
de traçar um campo de pesquisa escasso sobre um determinado objeto de estudo,
como o proposto por este trabalho. Da mesma forma, o estudo de caráter
exploratório tem como característica aprofundar-se em algo novo cujas percepções
podem tornar-se uma oportunidade para novas ideias e discussões sobre o tema:

Os estudos exploratórios têm por objetivo familiarizar-se com o fenômeno


ou obter uma nova percepção dele e descobrir novas ideias. Realiza
descrições precisas da situação e quer descobrir relações existentes entre
seus elementos componentes. Requer planejamento flexível para
possibilitar a consideração dos mais diversos aspectos e de um problema
ou de uma situação. Recomendada quando há pouco conhecimento sobre o
trabalho estudado (CERVO & BERVIAN, 2007, p. 63).

Segundo Singlenton (Apud Frota, 1998) unidades de análise são os


objetos e eventos descritos, analisados ou comparados pelas pesquisas sociais.
Segundo Dias (2000), nas pesquisas de caráter qualitativo o observador utiliza-se de
uma abordagem de conteúdo onde é possível gerar padrões a partir dos dados da
pesquisa. Quanto à sua interpretação, a pesquisa qualitativa busca extrair

30
significados relacionados ao texto e consequentemente como fonte de novas teorias
a partir dos dados coletados.

3.2 População e Amostra

População é o conjunto de elementos que fazem parte de um mesmo


universo, ou ainda, que possuem características comuns que estejam condizentes
com o objetivo da pesquisa.
A amostra refere-se a uma parte de uma população que seja selecionada
de acordo com um plano específico desenvolvido pelo pesquisador. Para a
realização desta pesquisa utilizou-se uma amostra de abrangência local que
consiste de 16 (dezesseis) profissionais de ensino informal de guitarra da cidade de
Natal-RN elaborada através da realização de entrevistas.

3.3 Instrumentos de pesquisa

O instrumento utilizado para a execução da pesquisa de campo


constituiu-se de uma entrevista auxiliada por um questionário contendo 12 (doze)
perguntas abertas, onde os entrevistados declaravam sua opinião acerca da
problemática abordada na pesquisa.
Devido a indisponibilidade de horários para a realização da entrevista “in
loco”, do total de 16 entrevistados, 3 (três) responderam ao questionário através de
e-mail ou redes sociais. Com os demais foi possível agendar um horário para a
entrevista ser realizada pessoalmente entre o pesquisador e os entrevistados.
Após serem estabelecidos os objetivos da pesquisa elaborou-se um
questionário usado como suporte à coleta de dados feita através da pesquisa de
campo. Questionário este, apresentado a seguir, com suas perguntas e respectivas
finalidades.

31
QUESTÕES (Q) FINALIDADES
Q1: Qual é a idade do professor? Estabelecer o perfil dos entrevistados em relação
à sua faixa etária;
Observar o grau de formação do entrevistado e a
Q2: Qual é a sua formação musical? influência ou não de uma formação musical para
o ensino particular da guitarra elétrica na cidade
de Natal-RN;
Verificar se os professores particulares de
Q3: O senhor é um músico atuante? guitarra elétrica da cidade de Natal atuam no
cenário musical local e porquê;
Analisar o tempo de atuação dos entrevistados
Q4: Qual é o seu tempo de experiência como como professores particulares de guitarra, seus
professor? motivos e motivações para atuar nessa área;
Observar os locais onde mais acontecem as
Q5: Onde o senhor atua como professor aulas ministradas pelos entrevistados e o
particular? suporte físico para que essas aulas aconteçam;
Q6: Qual é a quantidade total de alunos que o Verificar a demanda pelas aulas particulares de
senhor leciona? guitarra na cidade de Natal-RN;
Q7: Qual é quantidade de alunos por turma? Observar como os professores administram suas
aulas em relação a cada aluno;
Q8: Quais são os valores cobrados pelo serviço Identificar financeiramente a viabilidade em
prestado? lecionar aulas particulares de guitarra na cidade;
Analisar quais são os principais fatores de
Q9: Qual é o interesse do aluno em procurar influência para que haja o interesse e a busca
aulas particulares de guitarra? das aulas particulares por parte dos alunos;
Observar como os professores baseiam-se e as
Q10: Qual é a metodologia de ensino utilizada técnicas utilizadas para lecionar, além dos
pelo senhor? materiais didáticos usados como suporte às
aulas;
Q11: O método é rígido ou adéqua-se à Verificar o modelo de ensino empregado pelos
realidade do aluno? professores para a execução das aulas
ministradas;
Identificar se os professores buscam fontes
Q12: Como o senhor se atualiza, enquanto contemporâneas que os ajudem a facilitar a
professor? compreensão dos alunos e seu próprio
desenvolvimento como professor e músico.

QUADRO 05: Questões da pesquisa de campo e suas finalidades.


Fonte: Elaboração própria, (2014).

32
3.4 Coleta de dados

De acordo com Santos (2004), a coleta de dados é de grande relevância


e deve ser conduzida cuidadosamente, pois terá reflexos diretos na análise dos
dados.
A coleta de dados secundários foi realizada através de informações
extraídas de livros como também bibliografias encontradas na internet, tais como,
dissertações, artigos e sites institucionais.
A coleta de dados primários, feita através da pesquisa de campo, ocorreu
entre os dias 10 de setembro de 2014 a 07 de outubro de 2014, através de um
questionário aplicado com os professores selecionados para compor a amostra.

3.5 Análise dos dados

A análise qualitativa requer que o pesquisador busque alcançar os


objetivos propostos na pesquisa, sendo, portanto imprescindível que as conclusões
sejam as mais seguras possíveis em relação aos dados obtidos.
Em relação à técnica utilizada para fazer a análise dos dados foi utilizada
uma análise de conteúdo, que tem como característica identificar o que está sendo
dito em relação ao tema estudado, a partir da visão dos entrevistados (VERGARA,
2003). De acordo com Minayo (2003), a análise de conteúdo leva o pesquisador a
explorar novos conceitos e hipóteses acima do que foi manifestado dentro do
conteúdo abordado. Dessa forma, pressupõe-se que uma análise de conteúdo
possa abrir portas para novas discussões sobre o tema.
Inicialmente o estudo analisa cada variável separadamente, identificando
as convergências e divergências encontradas nas considerações feitas pela
população da pesquisa. Esses dados também passaram por uma análise feita
através de uma conexão entre as respostas, apresentada através de representações
acima das considerações mais frequentes.
Finalmente, a análise de conteúdo do trabalho apresenta considerações a
respeito dos aspectos positivos e negativos encontrados no cenário atual do ensino
de guitarra na cidade de Natal-RN, tornando possível o alcance dos objetivos
propostos pela pesquisa.

33
4 RESULTADOS DA PESQUISA

Após toda a coleta de dados foi possível identificar uma série de


informações que nos possibilita entender como funciona o ensino particular de
guitarra elétrica dentro da cidade de Natal-RN, visto que cada professor expressou
suas opiniões a respeito do assunto.
Embora percebam-se semelhanças em algumas das respostas, existiram
casos bem peculiares na forma de como cada professor pensa suas metodologias e
de como eles enxergam o processo de aprendizagem de seus alunos através das
aulas particulares. Por se tratar de uma pesquisa de caráter qualitativo onde são
tratados os perfis dos profissionais e suas análises sobre o tema proposto optou-se
aqui por identificar os professores de forma sigilosa, sendo estes identificados não
por seu nome e sim por nomenclatura alfabética (Ex.: Professor A, Professor B,
Professor C...).
Para fazer a análise dos dados da pesquisa é necessário traçar três
linhas de raciocínio sobre o tema proposto e sua finalidade. São elas:

• O constante interesse das pessoas em buscar aulas particulares de guitarra;

• A relação entre demanda e oferta de alunos e professores nesta área;

• A visão futura que os professores têm em relação às novas técnicas e


facilidades para aprimorar o ensino particular da guitarra elétrica na cidade de
Natal-RN.

4.1 Perfil dos membros da pesquisa

Somando a quantidade de entrevistados tem-se aqui uma amostra de 16


pessoas, todas do gênero masculino.
Em relação à faixa etária, foi constatado que a maioria dos participantes
(57% do total dos entrevistados) enquadra-se entre 20 e 30 anos de idade.

34
GRÁFICO 01: Faixa etária dos entrevistados

20-30 anos
6%
6%
31-40 anos

31% 41-50 anos


57%

Acima de 50 anos

Fonte: Dados da pesquisa (2014).

Além da faixa etária dos entrevistados também foi possível analisar sua
formação musical para atuar como professores, sua atuação no cenário musical da
cidade de Natal-RN e sua experiência como professores de guitarra. Sendo esses
aspectos descritos e analisados a seguir.

4.1.1 Formação musical dos entrevistados

GRÁFICO 02: Formação musical dos entrevistados

16
15
14
13
12
11
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
Possuem Ensino Cursam Ensino Possuem Curso Sem formação
Superior Superior Técnico

Fonte: Dados da pesquisa (2014).

Em relação à formação musical, identificou-se que boa parte dos


professores tem formação autodidata, muito embora alguns deles tenham feito

35
cursos livres voltados ao instrumento com professores renomados como Nelson
Faria, Ian Guest, Toninho Horta, Joca Costa e Manoca Barreto.
De acordo com o gráfico 02, tendo o eixo “x” (formação dos entrevistados
– linha horizontal) e o eixo “y” (número de entrevistados – linha vertical), nota-se que
parte dos entrevistados (5 do total de 16) não possui nenhuma formação acadêmica
em música ou em qualquer outra área. Analisa-se, portanto, que entre a população
da pesquisa o fator formação não caracteriza-se como um pré-requisito para a sua
atuação como professor particular de guitarra elétrica na cidade de Natal-RN.
Dos três entrevistados que possuem Ensino Superior, apenas 1 (um) é
Bacharel em guitarra, pelo Instituto de Guitarra e Tecnologia (IG&T), do Estado de
São Paulo, já que foi citado anteriormente que o Estado do Rio Grande do Norte não
possui curso de bacharelado em guitarra.
Em relação aos outros dois entrevistados que possuem nível superior, 1
(um) é licenciado em música, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN), possuindo também o diploma de curso básico de música (teoria e guitarra
elétrica) pela Fundação José Augusto no instituto Waldemar de Almeida na cidade
de Natal-RN e o outro entrevistado é formado em Pedagogia, com especialização
em música, também pela mesma instituição de Ensino Superior citada
anteriormente, (UFRN).
Dos dezesseis entrevistados, 5 (cinco) estão cursando Licenciatura em
Música, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2 (dois) possuem o
Curso Técnico em Guitarra, e 1 (um) o técnico de violão, pela mesma universidade.

4.1.2 Atuação dos entrevistados na área da música

GRÁFICO 03: Atuação dos entrevistados como músicos

19% Atuam como músicos

Não atuam como músicos


81%

Fonte: Dados da pesquisa, (2014).

36
Durante a coleta de dados foi perguntado aos entrevistados em relação à
sua atuação como músicos. Do total dos 16 professores que colaboraram com a
pesquisa 13 (o equivalente a 81% do total) revelaram serem músicos atuantes
desempenhando diversas funções, (gravando, acompanhando bandas e cantores,
tocando em seus próprios projetos musicais, produzindo artistas de dentro e fora do
estado e/ou atuando como compositores).
O que deve ser levado em consideração nesta pesquisa é o fato de que
alguns dos entrevistados citam que a renda obtida através das aulas particulares
não caracteriza-se como sua única fonte de renda.
Parte dos entrevistados declara que ministram aulas particulares devido o
fato de seu trabalho com música ser insuficiente para suprir suas necessidades
financeiras. Logo, continuam atuando no cenário musical complementando essa
renda com as aulas particulares.
Para alguns professores, o fator atuação é sua realização como músico e
profissional, para outros é a necessidade de sobreviver, a soma da renda familiar ou
é a própria renda principal somada às aulas particulares.

Eu quero só dar aulas, para eu poder tocar o som que eu gosto, para não
ter que precisar tocar as coisas que eu não curto [...] eu quero chegar num
nível de mercado que me dê tranquilidade, que se eu tiver 30 alunos
estudando, que tenha 30 pra entrar. (Professor “B”, 2014).

Portanto, nota-se que de uma forma geral as aulas particulares não são
consideradas como única ou, até mesmo, a principal fonte de renda desses
professores, fazendo com que a maior parte deles busque outros meios de trabalho.

4.1.3 Experiência dos entrevistados como professores de guitarra

Como nota-se no Gráfico 04, onde representa-se o eixo “y” (total de


respostas – linha vertical) e o eixo “x” (experiência em anos – linha horizontal), a
maior parte dos entrevistados (8 do total) declara atuar na área de ensino particular
de guitarra entre 6 e 10 anos. Dos dezesseis entrevistados, 4 (quatro) declaram
atuar de 11 a 15 anos, 3 (três) atuam num período de até 5 anos e 1 (um) atua há 19
anos, especificamente.

37
GRÁFICO 04: Experiência profissional dos entrevistados

8
7
6
5
4
3
2
1
0
Até 5 anos De 6 a 10 anos De 11 a 15 De 16 a 20
anos anos
Fonte: Dados da pesquisa, (2014).

Através do questionário foi possível descobrir que muito dos casos, a atuação
como professor particular de guitarra surge em sua maioria de pedidos de amigos
próximos, vizinhos, ou de uma pequena comunidade onde vivem esses guitarristas.
Essas aulas surgiam sem muitas pretensões pelos professores, era uma forma de se
ganhar um dinheiro extra, onde a taxa cobrada era um valor simbólico. As aulas
eram colocadas como segundo plano, pois a ideia principal desses músicos a priori
era a de atuar como músicos performáticos.
Vê-se que a grande maioria dos professores possui certa experiência na
área do ensino particular de guitarra. De certa forma, ao analisar-se o gráfico 04
nota-se que apesar do surgimento do ensino particular da guitarra elétrica na cidade
de Natal-RN ser algo relativamente recente, essa área tem se mantido presente e a
busca por essas aulas mantem-se constante.

4.2 Características encontradas no ensino particular da guitarra elétrica na


cidade de Natal-RN

I) Locais de atuação, demanda de alunos e valores das aulas.

De acordo com a resposta dos entrevistados, as aulas particulares de


guitarra acontecem, em sua maioria na casa dos professores ou dos alunos. Ainda
38
com base em suas respostas, poucos são os que ministram as aulas fora desses
locais. Nesse caso, as aulas ocorrem em espaços específicos, como escolas de
música de cursos livres, onde 4 dos profissionais entrevistados são os próprios
donos. A maioria desses profissionais atua, portanto, como professores particulares
de forma autônoma, sem vínculo empregatício com nenhuma entidade, na maior
parte dos casos que serviram de objeto de estudo para esta pesquisa, gerando uma
insegurança para esses profissionais, pois os benefícios previdenciários, seguro
desemprego, férias remuneradas, 13º etc, não fazem parte da realidade desses
professores.
Em relação à quantidade de alunos que participam de aulas particulares
com os 16 professores que colaboraram com este estudo, somam-se ao total de
alunos uma quantidade superior à 200. Levando em consideração que apenas um
dos professores trabalha de forma coletiva e possui 90 alunos no seu quadro geral
de aulas, a média entre os outros 15 professores gira em torno de 3 a 18 alunos por
professor sendo que estes professores não trabalham com aulas coletivas no
momento. Considera-se, assim, que a procura pelas aulas particulares é bastante
significativa, tendo em vista que alguns fatores contribuem para que esse número
não seja maior, como a falta de espaços, por exemplo. Como mencionou-se
anteriormente, as aulas ocorrem em sua maioria na casa dos professores ou alunos,
o que limita a quantidade de alunos por hora de aula ministrada. Embora a procura
pelas aulas seja considerável, a rotatividade desses alunos se caracteriza como
ponto negativo, a desistência das aulas e o período de férias causam desequilíbrio
na renda obtida através das aulas.
Os professores também relatam que para que as aulas aconteçam de
forma mais proveitosa, os alunos participem em grupos de, no máximo, 3 (três)
pessoas, considerando a capacidade apresentada pelo aluno, seu nível de
habilidade e conhecimento sobre o instrumento, etc. Segundo os professores seria
inviável ministrar as aulas com turmas que apresentassem um número superior a
esse, pelo fato de que a aprendizagem de qualquer instrumento requer uma
abordagem teórica e outra prática, e também depende do desempenho de cada um.
Com turmas maiores essa abordagem seria dificultada pelo fato de que
cada aluno possui características diferentes e desenvolve-se de forma diferente, o
que é considerado pelo professor.

39
Para alguns professores, trabalhar com aulas de forma coletiva traz
alguns problemas na aplicação da metodologia. Existem casos em que o
desenvolvimento de um é a frustração do outro, como citado pelos professores a
seguir.

Às vezes um aluno desenvolve mais que o outro, aí fica assim, meio chato
de um ver o outro desenvolvendo [...] acaba ficando envergonhado na hora
que ele ver o outro estudando e evoluindo. Isso acaba criando uma barreira
nele, achando que ele é o problema... (Professor “F”, 2014).

Sempre há uma dificuldade, além do horário que geralmente não bate, o


desempenho é outro problema [...]. Não é interessante do ponto de vista
didático e nem financeiro, porque um desestimula o outro que vai querer
sair e vai se constranger em querer falar o motivo e eu acabo que perdendo
todo mundo. (Professor “H”, 2014).

Em contrapartida, o professor I que tem o maior número de alunos da


pesquisa e que é o único a trabalhar com aulas coletivas no momento, pensa de
forma diferente.

Eu faço com que o aluno que sabe mais tente persuadir o que sabe menos
ajudando no estudo dele durante a aula [...] e tento frear o que sabe mais e
adiantar o que sabe menos. Mas em algum momento da aula eu já “dou um
gás” nesse que sabe mais coisas. (Professor “I”, 2014).

O gráfico 05, a seguir, mostra a quantidade de entrevistados (eixo “y” –


vertical) e o preço que estes cobram pelas aulas (média de valores das aulas – eixo
“x”, horizontal).

GRÁFICO 05: Valores das aulas cobrados pelos professores

16
15
14
13
12
11
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
50 a 100 reais 101 a 150 reais 151 a 200 reais Acima de 200
reais
Fonte: Dados da pesquisa, (2014).
40
Em relação aos valores cobrados pelos professores, pode-se identificar
que em sua maioria (9 profissionais), cobram um valor de até 100 reais por mês,
tendo em média 1 (uma) aula por semana. Considerando também os valores
apresentados por cada professor notou-se que a média de preço de cada aula
particular de guitarra na cidade de Natal-RN gira em torno de 25 a 30 reais por
hora/aula, podendo alcançar o valor de até 62,5 reais hora/aula.
Deve-se considerar, ainda, que em alguns casos o valor da aula que o
professor ministra em sua casa é inferior ao que este cobra caso haja a necessidade
de deslocar-se para casa do aluno. Outro ponto a ser citado é que em alguns casos
existe uma diferença de valor de uma hora/aula caso essa aula seja extra e haja
uma procura como relata o professor abaixo.

Tem gente que já toca, aí vai me ver tocar e pergunta seu eu dou aula e
quanto é, e eu pergunto se o “cara” quer um acompanhamento semanal ou
se o “cara” quer tirar somente algumas dúvidas. Porque se for pra tirar
dúvidas o valor é 50 “contos”, mas se for mensal é 120. (Professor “L”,
2014).

II) Interesse dos alunos em procurar as aulas particulares

Sobre o interesse dos alunos em procurar por essas aulas, considera-se


como principal motivação o fato destes estarem em busca de um aperfeiçoamento e
de desenvolver-se no instrumento. Geralmente os alunos que procuram pelos
professores particulares já possuem algum conhecimento básico de música e
técnicas do instrumento, por outro lado existe também um número expressivo de
iniciantes. Em uma escola informal foi constatado que parte dos alunos eram
pessoas mais velhas que buscavam na música uma forma de estar fugindo da
ociosidade. A flexibilidade de horários também é vista como um fator positivo em
todos os casos já citados, pois é comum encontrar pessoas que só dispõe de um
determinado horário para poder fazer essas aulas.
Alguns professores revelam que outro fator a ser considerado é que
existem muitos materiais voltados à aprendizagem de guitarra, que podem ser
facilmente acessados através da internet, mas que por sua vez, não são
apresentados com clareza o suficiente para serem compreendidos pelos aprendizes.
Nesse caso, a ajuda do professor particular torna-se uma necessidade, haja vista
que o aprendiz possui acesso à informação, mas necessita de alguém que o
41
direcione mediante às informações que comumente são apresentadas por essas
redes de informação. Como cita o professor S em seu discurso:

Tudo tem na internet, ao mesmo tempo não tem nada. Se quer tocar tem
que ter um professor, por que você vai ganhar muito mais tempo. (Professor
“B”, 2014).

Outros fatores também foram observados durante a pesquisa como a


classe social média/alta dos alunos que corresponde a um número significativo
daqueles que procuram e podem pagar por essas aulas, tendo a música como um
hobby ou incentivados pela família que fazem gosto em investir nas aulas de música
para seus filhos.

Eu já tive a minha fase em evidência, mas muita gente aqui é iniciante,


então eles não sabem a minha historia, se eu tenho banda, é um público A
e B que paga seis meses de aula adiantados. Já o músico profissional que
me procura é por conhecer o meu trabalho, mas esse número é muito
pequeno no meu caso. (Professor “F”, 2014).

Tenho alunos do tribunal de justiça, filhos de oficiais [...] Eles enxergam a


música como hobby, o que eles querem é um resultado mais simples, sem
interesses teóricos. (Professor “H”, 2014).

Diante disso, pode-se afirmar que a qualidade do serviço prestado por


esses profissionais é de grande importância pelo fato de que a repercussão do seu
trabalho na sociedade depende da forma com que o aluno ou sua família os avaliam.
Logo, a qualidade do serviço está inteiramente relacionada com a procura das aulas
particulares por novos alunos em potencial, o que na maior parte dos casos
acontece pela chamada propaganda boca a boca. Por identificar isto, elaborou-se a
Figura 09, a seguir, que faz uma demonstração de como essa relação acontece.

42
Figura 09: Relação entre a propaganda boca a boca e a procura por aulas particulares.
Fonte: Elaboração própria, (2014).

Ao analisar a figura apresentada nota-se que o aprendiz que já possui


certo interesse em fazer aulas particulares sente-se mais motivado quando, através
do comentário de um colega, conhecido ou até mesmo em comentários que
atualmente surgem bastante em redes sociais, tem conhecimento de que
determinado professor presta um serviço de qualidade e que pode vir à atender suas
necessidades.
Os profissionais também narram que, um bom relacionamento com a
família dos alunos, no caso dos pais que pagam as mensalidades de seus filhos, é
de total importância para que haja respeito e confiança entre as partes envolvidas,
visto que existem alguns profissionais que descumprem com seu compromisso.
Referente a esse ponto de vista, o Professor H faz um breve comentário:

É muito comum encontrar um aluno que já fez aula e ele dizer, “ah, eu tinha
um professor que eu pagava e ele não vinha”, isso é uma realidade dentro
do sistema de ensino particular de Natal [...]. É muito bom manter um bom
relacionamento com a família, hoje estou com aluno no qual dei aula a um
tio dele quando adolescente [...]. A partir do momento que você pega em
dinheiro você tem um compromisso. O pai enxerga o trato com o dinheiro
com seu filho aprendendo, o filho enxerga com prazer. (Professor “H”,
2014).

Portanto, é fundamental que o professor tenha a consciência de que a


repercussão do seu trabalho está diretamente ligada à qualidade que ele oferece.
Dessa forma, oferecendo um serviço de qualidade o seu trabalho será reconhecido
de forma a alcançar novos alunos que por já terem algum interesse, possam vir a
sentir-se motivados a procurar aulas com este profissional.

43
III) Metodologia de ensino apresentada pelos professores

As metodologias utilizadas entre os professores entrevistados variam


desde um nível básico para alunos iniciantes até um nível avançado voltado a
músicos profissionais, levando em consideração as características de cada aluno.
Como citado entre eles, isso pode ser percebido através de uma avaliação prévia,
para que desta forma possam ser identificados os diferentes níveis dos seus alunos.
Alguns professores já possuem um método próprio que serve como um programa
voltado à necessidade de cada um.
Referente à procura dos alunos pelas aulas particulares assim como o
programa de alguns professores, foram encontrados os seguintes assuntos:

• Aquecimento
• Acordes
• Estudo de sincronia das mãos direita e esquerda
• Repertório
• Estudos de diferentes ritmos
• Escalas
• Estudos de sincronia e padrões dos dedos da mão esquerda, 1,2,3,4...
(no caso de pessoas destras)
• Estudos de palhetadas
• Técnicas específicas (Sweep, two hands, pull-off, hammer-on, slide…)
• Harmonia funcional
• Improvisação
• Leitura

A grande parte dos professores alegou que seus métodos são elaborados
a partir da junção de vários materiais existentes em outros métodos. Essa mescla de
informações acaba gerando uma particularidade para cada professor, e que por
mais que os assuntos sejam os mesmos, as maneira de como são abordados esses
assuntos acabam se tornando diferentes.
Entre os métodos citados estão: Métodos do curso básico do instituto
Waldemar de Almeida e da Casa Talento como também pesquisados em internet,
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Métodos do curso técnico de guitarra da UFRN de Manoca Barreto, métodos de
Nelson faria, Almir Chediak, Berklee – A modern method for guitar - vol 1, 2, 3,
Jamey Aebersold jazz: Read, Aim, Improvise!
Além dos métodos tradicionais, alguns professores buscam recursos
tecnológicos para somar a sua didática. Deste modo, utilizam o computador para
demonstrações de vídeos-aulas, shows e para criar seções interativas do aluno com
playbacks através CDs e de software de gravações.
O repertório é outro ponto bastante importante que se fez presente em
todas as metodologias apresentadas, tanto para professores flexíveis, quanto para
os mais rígidos. Segundo os entrevistados, a utilização do repertório para alunos
iniciantes surge da necessidade de se tocar uma música de gosto pessoal. Já para
músicos avançados, servem como forma de análise para se entender melhor um
trecho musical.

Eu busco encaixar com a necessidade do aluno. É comum ter alunos que


tenham influências de bandas como Nirvana e querem iniciar com aqueles
solos, então com a introdução da música do Nirvana eu posso fazer uma
iniciação a tablatura, palhetada, digitação... É importante para o perfil do
meu cliente, trabalhar uma música que ele tenha interesse. (Professor “H”,
2014).

É comum que entre alunos de guitarra o gosto musical seja voltado a


músicas bastante conhecidas. Segundo a maioria dos professores, o rock é um dos
estilos mais frequentes entre os guitarristas, e bandas como Legião Urbana, Jota
Quest, Guns N’ Roses, Avenged Sevenfold fazem sucesso entre os adolescentes.
Já entre alunos cristãos, o grupo Oficina G3 aparece como um dos grandes
favoritos. Para alunos avançados o gosto se remete a guitarristas específicos e não
estão somente ligados ao Rock and Roll, mas o jazz e outros estilos musicais
também fazem parte do seu repertório.
A prática da leitura também é bastante vivenciada por alguns alunos, mas
não tem grande expressividade entre os jovens que ainda não apresentam interesse
para as aulas de teoria e leitura.

Eu não queria que ficasse como um estudo de universidade com relação


prática, tipo “ler,ler,ler” [...]. É o mais correto, mas a gente sabe que durante
o desenvolvimento inicial do aluno é algo que se torna desgastante, que
desestimula demais o aluno. (Professor “I”, 2014).

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Para o professor “I”, a leitura é um complemento importante para
formação musical do indivíduo. Dessa maneira, o músico estará mais seguro para
enfrentar outras situações que venham necessitar dessa leitura como pré-requisito
para um trabalho ou para ingressar na academia, caso haja essas pretensões.
Para professores mais rígidos e com público selecionado, os métodos
americanos compreendem a necessidade do músico profissional, visto que sem eles
o músico estaria pulando etapas no processo de aprendizagem. Devemos levar em
consideração que seus alunos em sua maioria são músicos profissionais e que
querem se aperfeiçoar no instrumento.

Aprendi com a vida, com a Berklee e com Estados Unidos [...]. Isso é um
padrão quase que universal. Você tem que seguir isso aí, se não você vai
estar pulando os degraus. (Professor “J”, 2014).

Há situações em que não existem um cronograma ou planejamento por


parte dos professores para que essas aulas aconteçam, mas as formas diretas e
flexíveis de como são passados os assuntos, como também o aluno que muitas
vezes informa ao professor sobre aquilo que ele gostaria de aprender, fazem com
que as aulas particulares sejam mais atraentes para algumas pessoas que um curso
pré-programado.
Percebe-se que em alguns dos casos os assuntos abordados partem
muito mais de princípios ligados aos interesses, aos gostos musicais e as ambições
particulares desses alunos que gera uma grande influência sobre o que será
trabalhado nessas aulas. A construção dessas aulas passa por um procedimento de
interatividade entre professor e aluno, causando um processo educativo, isso tudo é
possível devido a um acordo precedente entre as partes, educador e educando,
podendo ser quebrado quando os interesses são divergentes.
No geral, nota-se que a prática, na maior parte das vezes, dá-se através
da repetição, onde o professor demonstra muitas vezes como o aluno deve fazer o
exercício proposto. O repertório é um elo muito comum e bastante utilizado para se
trabalhar a formação de acordes, campo harmônico e o ritmo, além das técnicas
específicas da guitarra. Os playbacks aparecem para dar suporte à iniciação das
escalas em geral como aos estudos de improvisação, e a utilização do sistema C-A-
G-E-D (Dó-Lá-Sol-Mi-Ré) facilita uma compreensão rápida do aluno servindo de
mapa do braço do instrumento. A internet e as vídeo-aulas surgem como recursos
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tecnológicos e junto com os assuntos impressos repassados pelos professores
podem ser classificados como materiais expositivos.

IV) Forma com que os professores mantêm-se atualizados

Identificou-se que o processo de atualização entre os professores é algo


contínuo e prazeroso, pois deste modo os profissionais coseguem manter-se
atualizados com as novas linguagens e técnicas guitarrísticas que vão surgindo,
como também as novas formas de abordagens metodológicas, além do que, para
alguns professores a ação de renovação, de pesquisa, de buscar novas
informações, fazem-se necessárias visto que o mercado profissional requer
profissionais qualificados. Pensando desta forma, foi observado que os professores
de guitarra da cidade de Natal-RN, buscam manter-se atualizados. A prova disso é
que alguns deles têm em seus currículos formação acadêmica, outros estão
cursando a licenciatura para melhorar seu desempenho didático e para também
almejar caminhos mais seguros na vida profissional e financeira. E, ainda, alguns
estão cursando o técnico de guitarra para melhorar seu desempenho técnico e
performático no instrumento.

A própria necessidade de atualização nasce quando você começa ensinar


seus alunos [...]. Os alunos, por exemplo, também trazem coisas legais. Às
vezes tem alunos que tem uma técnica legal e traz uma coisa nova que eu
ainda não vi, “pô, vou pesquisar isso...” Isso me obriga a pesquisar.
(Professor “C”, 2014).

Foram encontrados alguns professores que também fazem aulas


particulares com outros professores, investindo desta maneira na sua carreira
profissional musical, performática e pedagógica.
A aquisição de novos métodos e vídeos, a procura por materiais na
internet assim como a participação em cursos, workshops e master class de guitarra
existentes dentro e fora do estado são fatores comuns e que estão presentes no
cotidiano de alguns desses profissionais. O fato é que o prazer de se tocar o
instrumento e de estar com a técnica em dia ou de como aprender novas técnicas
fazem com que alguns desses professores busquem um tempo somente seu para
estudar. Uma fala com sentido em comum entre os guitarristas mais técnicos era

47
que, antes eles estudavam oito horas diárias, hoje eles têm contas a pagar, mas
mesmo cheios de compromissos diários eles buscam um tempo para si.
Existem também casos específicos de professores que conseguiram
durante uma longa trajetória profissional, emplacar seu nome no cenário musical
devido a técnica apurada com os anos de estudo. Esses profissionais não tem
formação acadêmica, porém esses autodidatas construíram um trabalho sólido e
respeitado através da vivência e de suas próprias pesquisas, tornando-se
referências do instrumento no estado. Para alguns, o fator formação acadêmica se
torna algo distante devido à falta de tempo e a idade.

A essa altura do campeonato eu não me vejo mais fazendo uma faculdade,


uma licenciatura [...]. É uma garantia para o futuro você fazer um concurso,
adoro dar aula, mas eu sou aquele tipo de músico que sou mais de palco
mesmo, de estúdio, eu gosto de estar criando dentro do estúdio. (Professor
“D”, 2014).

Sendo assim, o contato diário com instrumento e as fontes de pesquisas


são ferramentas que auxiliam na formação musical desses profissionais, seja
atuando em shows, gravando, compondo, produzindo artistas, seja melhorando cada
vez mais a sua técnica ou elaborando um melhor planejamento didático de suas
aulas.

4.3 Visão geral sobre as aulas particulares de guitarra na cidade de Natal-RN

No decorrer da análise foram apresentadas as principais características


das aulas particulares que acontecem na cidade de Natal-RN. Seguindo o
depoimento dos professores, torna-se possível identificar, por exemplo, quais são as
principais fragilidades encontradas na área do ensino particular de guitarra na
localidade, como também os pontos positivos a serem observados neste cenário. O
Quadro 06, a seguir, foi elaborado para mostrar os principais aspectos observados,
tanto positivos quanto negativos.

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ASPECTOS POSITIVOS ASPECTOS NEGATIVOS

 Autonomia sobre as aulas;  Espaços limitados para a


 Flexibilidade de horários; realização das aulas;
 Renda extra;  Indisponibilidade para atender
 Apoio de novas tecnologias de mais pessoas;
suporte às aulas e métodos que facilitem  Rotatividade de alunos;
o aprendizado do aluno;  Perda de benefícios
 Constante procura de pessoas previdenciários, seguro desemprego,
interessadas em participar das aulas. férias remuneradas, 13º, etc.

QUADRO 06: Aspectos positivos e negativos das aulas particulares de guitarra em Natal-RN
Fonte: Elaboração própria, (2014).

Nota-se que com a constante procura por aulas particulares de guitarra,


os professores avaliam esse fator como uma oportunidade de conseguir uma renda
extra que contribua com o seu orçamento. Para dar suporte às aulas vê-se que
atualmente a tecnologia e a facilidade de acesso aos meios de informação
contribuem para o desenvolvimento do aluno assim como a atualização dos
professores em relação aos métodos de ensino.
A autonomia sobre as aulas e a flexibilidade de horários também é uma
fator positivo, já que não se caracteriza como um trabalho formal. Nesse caso, a
relação professor-aluno acontece de forma mais estreita, muitas vezes até amigável.
Por outro lado, o fato deste profissional não possuir, na maioria das
vezes, vínculo com nenhuma instituição de ensino formalizada, este deixa de
usufruir dos direitos reservados ao trabalhador formal. Como na maior parte as aulas
são ministradas na casa dos professores ou alunos, existe também a
indisponibilidade de atender um número maior de pessoas.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa pesquisa teve como objetivo identificar o panorama do ensino


particular de guitarra elétrica na cidade de Natal-RN, decorrente da concretização de
uma análise feita através de um questionário realizado com 16 professores
particulares de guitarra da cidade de Natal-RN.
Dentre os principais resultados encontrados destacam-se que a maioria
dos professores ministra suas aulas em casa ou na casa dos respectivos alunos por
se tratar de um trabalho desenvolvido pelo professor de forma independente, sem
vínculo com instituições de ensino, na maior parte dos casos observados.
Viu-se também que o número de professores autodidatas é maior que o
de professores formados, assim como o número de músicos atuantes, onde a renda
das aulas não caracteriza-se como única fonte rentável, muito embora os valores
cobrados estejam voltados a um público de classe média/alta.
No ponto de vista da educação musical percebeu-se que a grande maioria
utiliza de uma mescla de materiais metodológicos de vários professores/guitarristas
consagrados no ensino da guitarra elétrica no Brasil e no Exterior, havendo
situações em que alguns dos professores entrevistados organizam esse material
criando sua própria metodologia. Considerando-se isto, então, um fator positivo
diante da necessidade de se ter um material preparado para facilitar o processo de
ensino e aprendizagem.
Como citado no segundo capítulo por Glaser e Fonterrada, todo
instrumentista tem sim capacidade para atuar como professor, levando em
consideração fatores de conhecimento prévio e do processo evolutivo como músico,
assim como a busca por novas ferramentas metodológicas que vão sendo
adquiridas com o tempo e a experiência, visto que a educação musical vai além do
conhecimento técnico e ser professor vai além do ser músico.
Ainda no segundo capítulo, Silva também nos traz a importância das
relações pessoais entre as partes envolvidas, isso pode ser visto como um fator
essencial para que haja um confiança entre o professor e o aluno, entre o professor
e seus alunos caso haja aulas coletivas e entre os próprios alunos, criando um
espaço afetivo entre os envolvidos.

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Os 16 professores entrevistados buscam em sua maioria manter-se
atualizados, onde a reciclagem faz-se necessária, pois o processo de aprendizagem
é algo contínuo e o professor também deve estar aberto a novos conhecimentos.
Isso é visto como fonte positiva porque possibilita que os alunos possam se espelhar
em seus professores, buscando na pesquisa de materiais outros meios de
aprendizagem.
Diante dos fatos, acredita-se que o trabalho que vem sendo desenvolvido
dentro da cidade de Natal-RN através dos profissionais guitarristas tem, sim, gerado
bons frutos. O resultado disso é um número considerável de pessoas interessadas
por essas aulas e que, se “lapidadas” da maneira correta, poderão futuramente gerar
outros profissionais, tanto músicos atuantes como novos professores.
Pode-se recomendar que para um professor particular, uma vez que foi
identificado que o perfil dos alunos varia de níveis básicos a níveis mais avançados,
estes professores possam usar não somente métodos fechados, mas que eles
tenham em mente que as possibilidades de ensino são inesgotáveis, onde muitos
professores já buscam criar e desenvolver seus próprios materiais (apostilas, cd’s).
Gravar performances em aulas e expor os mais variados materiais de
áudio (repertório), também aparecem como novas metodologias de ensino e mesmo
diante das flexibilidades existentes é interessante buscar, desta maneira, apresentar
um curso que possua início, meio e fim. Sendo assim, o profissional professor, seja
ele acadêmico ou não, deve manter-se informado em relação as novas abordagens
metodológicas que venham facilitar o desenvolvimento de seus alunos, assim como
o seu desenvolvimento enquanto professor.

51
Referências

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53
APÊNDICE – Questionário da pesquisa de campo

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE


ESCOLA DE MÚSICA

Meus cumprimentos. Me chamo Djair Pessoa Leão e venho através desta pesquisa
levantar dados para o meu trabalho de conclusão do curso de Licenciatura em
Música pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, cujo objetivo é identificar
o panorama do ensino particular da guitarra elétrica na cidade de Natal-RN. Desde
já agradeço sua colaboração.

QUESTÕES

Q1: Qual é a idade do professor(a)?

Q2: Qual é a sua formação musical?

Q3: Você é um músico atuante?

Q4: Qual é o seu tempo de experiência como professor(a)?

Q5: Onde você atua como professor(a) particular?

Q6: Qual é a quantidade total de alunos que você leciona?

Q7: Qual é quantidade de alunos por turma?

Q8: Quais são os valores cobrados pelo serviço prestado?

Q9: Qual é o interesse do aluno em procurar aulas particulares de guitarra?

Q10: Qual é a metodologia de ensino utilizada por você?

Q11: O método é rígido ou adéqua-se à realidade do aluno?

Q12: Como você se atualiza, enquanto professor?

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