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ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA NAS ESCOLAS PÚBLICAS: UMA ANÁLISE

QUALITATIVA DO CONHECIMENTO EXPRESSO POR DISCENTES DO


ENSINO FUNDAMENTAL

Iasminy Sampaio Mascarenhas dos Santos; Fabiola de Sousa Leite; Marcela Alves
Santuci; Mellis Layra Soares Rippel; Sara de Carvalho Barros; Paulo Junior Dias Ribeiro;
Camila Pereira dos Santos; André Felipe Pereira Marques; Beatriz Cardoso Roriz; Carlos
Rangel Batista de Sousa; José Garcia Coutinho de Moraes Júnior; Lucylia Trindade de
Sousa; Saulo Borges de Azevedo; Saynara Sousa Santos; Waldisney Nunes de Andrade*

iasminysampaio@gmail.com

Wagner dos Santos Mariano**

wagnermariano@uft.edu.br

Bolsistas do PET (Programa de Educação Tutorial) Ciências Naturais/UFT*

Tutor do PET (Programa de Educação Tutorial) Ciências Naturais/UFT**

Universidade Federal do Tocantins/Campus Araguaína

RESUMO:
A Alfabetização Científica surge como meio de transformação da realidade do
indivíduo. Ela dá embasamento teórico e prático aos novos conhecimentos e
tecnologias que tornam-se cada vez mais necessárias na formação de cidadãos
do mundo atual. Pensando nessas mudanças no ensino e na sociedade, esse
trabalho visou averiguar os conhecimentos expressos por alunos do Ensino
Fundamental de escolas da rede pública dos estados do Pará e Tocantins voltada
para a Alfabetização Científica e suas influências na realidade escolar. As
respostas foram as mais variadas possíveis, abrangendo doutrinas religiosas, o
ensino de ciências enquanto conteúdo escolar, e a interferência da ciência no
cotidiano do individuo. Além disso, é evidente que o conhecimento a cerca da
Alfabetização Científica ainda é de certa forma distorcida da realidade difundida
por pensadores e educadores que defendem a sua inclusão em sala de aula.
Palavras-chave: Alfabetização Científica, Escola, Ensino, Conhecimentos,
Educação.
INTRODUÇÃO

O conhecimento é construído a partir da orientação do docente unindo o


conhecimento informal ao científico. Ele é formado por entidades definidas e
formalizadas, onde conceitos foram formulados através da observação de
intelectuais de fenômenos para interpretá-los e explicá-los. São ideias formuladas
e organizadas. A ciência abordada em sala de aula baseia-se apenas na
reprodução de ideias e modelos, onde o aluno, na tentativa de responder as
questões avaliativas estabelecidas pelo professor, reproduz, sem alterar, o
conhecimento sobre fenômenos estudados.

A noção de ciência começa se baseando no lado científico, nas formas


científicas e é colocada a prova na visão individual dos alunos na observação de
fenômenos extraclasse. O indivíduo dificilmente poderá entender a ciência só
observando o mundo ao seu redor. Os estudantes não abandonam facilmente o
senso comum diante do conhecimento cientifico, eles os reformulam para aplicá-
los em suas respectivas realidades.

Assim, vai se formando a Ciência dos alunos, que precisamos


conhecer e reconhecer que, em várias ocasiões, será muito mais
coerente e útil em sua vida do que a Ciência dos cientistas,
propriamente dita, apresentada pela escola. Certamente, cumpre
ao professor saber negociar as ideias dos alunos com as ideias da
Ciência dos cientistas, para que a incorporação dos saberes
científicos aos sistemas educativos se torne significativa e
relevante para a vida diária dos aprendizes (BRANDI 2002).

O professor de ciências surge como mediador entre o conhecimento


científico empírico e a aprendizagem individual validando o que é aprendido em
sala. Ele fornece as experiências físicas e encoraja a reflexão sobre elas. Os
livros didáticos e as aulas tradicionais baseiam-se em definições. A postura e
curiosidade dos alunos devem ser instigadas e mediadas pelo professor.
Diversos autores ressaltam a importância da instituição escolar em permitir a
compreensão dos alunos sobre ciências, suas tecnologias e a relação de ambas
com a sociedade, a fim de formar cidadãos para o mundo atual. É relevante que
os alunos recebam informações sobre temas relacionados à ciência, tecnologia,
compreendendo a interações destes com a sociedade e o meio ambiente,
tornando-os capazes de refletir e discutir acerca dos impactos gerados,
posicionando-se criticamente ao tema. Sendo assim, é notável a necessidade do
ensino de ciências, iniciado no ensino fundamental, não só fornecer aos alunos
conceitos científicos, mas também é preciso que estes façam ciência, onde
somente a investigação seja o caminho para responder os problemas propostos.

A ciência pode ser considerada como uma linguagem construída


pelos homens e pelas mulheres para explicar o nosso mundo
natural. Compreendermos essa linguagem (da ciência) como
entendemos algo escrito numa língua que conhecemos (por
exemplo, quando se entende um texto escrito em português) é
podermos compreender a linguagem na qual está (sendo) escrita
a natureza (CHASSOT, 2003).

Nesse contexto se faz necessária à Alfabetização Científica dos alunos,


visando uma aprendizagem mais significativa, onde os discentes se tornam
críticos e atuantes no meio em que vivem. Segundo Paulo Freire (1980), a
alfabetização não é apenas os domínios mecânicos e psicológicos de ler e
escrever, mas a utilização destas técnicas conscientemente, acarretando uma
auto formação, que possa gerar uma postura crítica e interferente do homem
sobre seu contexto.

Os conhecimentos científicos, e consequentemente o estudo de ciências,


geram mudanças em seu meio por estarem intimamente ligados à sociedade,
ambiente e tecnologia. Esta ligação realça a necessidade de que as pessoas
envolvidas possam opinar criticamente a cerca dos acontecimentos e aplicações
gerados por tais mudanças.
Visando formar cidadãos críticos diante dos problemas enfrentados em seu
país e no mundo, torna-se conveniente a existência de uma instituição de ensino
ciente das mudanças e condições do seu meio, que busca não ocultar os
problemas da humanidade e superar os desafios frente ao conhecimento.
De acordo com SASSERON (2008), os eixos estruturantes da
alfabetização científica são os que apoiam na idealização, planejamento e análise
das propostas de ensino da alfabetização científica. O primeiro eixo,
compreensão básica de termos, conhecimentos de conceitos científicos, baseia-
se na necessidade de se compreender princípios essenciais, para analisar e
entender informações e ocorrências em nosso dia a dia. O segundo na
compreensão da natureza da ciência e dos fatores éticos e políticos que
circundam sua prática preocupa-se com as informações e o agregado de novas
circunstâncias, que exigem reflexões, levando em consideração o contexto antes
de proceder. Por fim o terceiro eixo, entendimento das relações existentes entre
ciência, tecnologia, sociedade e meio ambiente, compreende que diversos fatos
na vida humana são influenciados pelas ciências e tecnologias.

O uso da alfabetização científica e tecnologias como mediadores do


desenvolvimento econômico, visando uma forma de desenvolvimento sustentável,
ganha espaço em meio às mudanças na biosfera e às diferentes bases
econômicas, consequências do desnivelamento tecnológico. Porém, o tempo de
estudo é insuficiente para que o aluno obtenha os conhecimentos científicos
necessários, mas ser portador de tais conhecimentos não assegura que estes
serão colocados em prática. Deve-se dirigir, então, a forma como este aluno
obteve seu conhecimento, almejando que ele saiba utilizar os recursos
disponíveis, e buscar externamente, medidas referentes à solução do problema
analisado.
Para CHASSOT (2003) ser alfabetizado cientificamente é ter a capacidade
de ler e entender a linguagem que descreve a natureza, sendo um analfabeto
científico aquele que é incapaz de ler a linguagem do universo.
Considerar a ciência como uma linguagem que nos facilita ler o mundo
natural, é entender que este saber nos ajuda a entender a nós mesmos e o
ambiente que nos cerca.
Ser alfabetizado cientificamente não expressa desfrutar de todo o
conhecimento existente, mas dispor do mínimo necessário para examinar os
avanços científicos e tecnológicos sob a sociedade. A educação científica é tida
como mediadora, conduzindo o aluno a compreender a ação da ciência e
tecnologia perante a sociedade e a influencia desta sob os avanços científicos e
tecnológicos.
Assim como se determina que alfabetizados em língua materna seja
cidadão com um olhar critico, seria apetecível que os alfabetizados
cientificamente, não apenas conseguisse ler o mundo em que vivem, mas
compreendessem a necessidade de transformá-lo para melhor.

METODOLOGIA

Para averiguar o conhecimento dos alunos referente à Alfabetização


Científica, aplicou-se um questionário com perguntas qualitativas, entretanto, esse
artigo se guiou apenas pelas respostas que chamaram mais atenção de acordo
com o conhecimento apresentado pelos alunos. Os questionários foram aplicados
em séries diversificadas do Ensino Fundamental em algumas cidades nos
estados do Pará e Tocantins. Os alunos tiveram cerca de 30 minutos para
responder as seis perguntas pré-estabelecidas. As perguntas eram:

1. O que é CIÊNCIA para você?

2. Existe diferença entre os termos: CIÊNCIA E CIÊNCIAS?

3. Você conhece algum cientista pessoalmente? Se a resposta for


sim comente sobre ele.

4. Você poderia dar um exemplo de um cientista famoso?

5. Se você pudesse ser cientista o que você acha que teria que
fazer para ser reconhecido?

6. Você acha que um dia você poderá ser um cientista?


CIÊNCIA SOB A CONCEPÇÃO DOS ALUNOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA – O
que os alunos têm à nos dizer?

Ao iniciar a tabulação dos dados, nos deparamos com respostas bem


diversificadas a cerca do tema, as mesmas envolviam o conteúdo de ciências,
suas aplicações no dia-a-dia e a relação, muitas vezes, com a religião. O que
ficou mais evidente em alguns dos questionamentos é o conhecimento superficial
que os alunos têm sobre o tema, assimilando ciência ao ensino da matéria em
sala de aula como cita um dos alunos entrevistados:

“Pra mim é ter conhecimento sobre os seres vivos, animais, ect e


está relacionado também ecologia e muitos outros.”

Outras vezes, remetiam o ensino de ciências para os fenômenos do


cotidiano:

“Pra mim ciência é tudo exemplo: culinária é uma ciência porque


tem tudo na medida certa, porque se coloca alguma coisa errada
vira um desastre.”

“Ciência pra mim é o estudo sobre tudo que está ao nosso redor
(ciências naturais) sobre o universo, sobre os átomos, as
moléculas e etc”.

É notável a mudança ocorrida no âmbito das ciências ao longo dos anos,


impondo-se durante o século XX, e tendo a gastronomia como inovação em seu
eixo, passando a ser uma ciência. Pode-se verificar então, a partir de tais
respostas, que os alunos apontam o ensino de ciências ao conhecimento
empírico e as experiências vividas por eles no dia a dia, vinculando-as ao ensino
das ciências naturais, a prática culinária, referindo-se que são necessárias
medidas exatas para a obtenção de resultados no ramo da ciência e a vida dos
seres vivos.
Além de associada a matérias específicas do conteúdo de ciências, ela se
volta também para a parte de higiene pessoal e prevenção de doenças:

“Ciência é uma matéria que nos ensina sobre saúde, doença e


que nos das noções básicas pra vida.”

Em algumas respostas, os alunos apontavam a ciência como meio de


mudança, de transformação do meio em que vive:

“É uma forma de interagir e criar experiências para poder ajudar


no dia a dia de nossas vidas e deixá-lo cada vez melhor.”

Ao tentar diferenciar os termos Ciência e Ciências, os alunos levantaram


questionamentos interessantes:

“Não, pois esses termos são considerados a mesma coisa.”

Em algumas respostas quanto à diferenciação desses dois termos, os alunos


distinguem a ciência prática em laboratório da ciência didática em sala de aula:

“Na minha opinião existe porque ciência é o que o cientista


inventa e ciências a matéria.”

Segundo GOUVÊA (2001), o desafio do novo tempo consiste em preparar,


em um curto espaço de tempo, indivíduos diferentes para que possam conviver
em contextos sociais plurais, onde se requer informações práticas e teóricas,
conduzindo a distinções entre conhecimento científico e senso comum e entre
natureza e pessoa humana.
Observa-se aqui que os estudantes associam a ciência com os
acontecimentos presenciados em seu cotidiano, visando ações que possam vir a
burilar a realidade, seja no âmbito social, individual, político e até mesmo cultural.
É relevante citar que também relacionam á saúde, ao fato da busca por curas
para doenças que afligem a comunidade atual, tendendo ao bem estar do ser
humano.

Outros, através do fenômeno da globalização, onde as tecnologias


passaram cada vez mais a fazer parte dos nossos meios, tem como esses
avanços a explicação para diferenciar os dois termos:

“Sim, ciência é a explicação das tecnologias. Ciências é uma


matéria desenvolvida na escola.”

Outros alunos assumem a ciência apenas em três linhas de estudo:

“Ciência é o termo que aglomera: biologia, física e química, agora


ciências equivale a repartição das três ciências.”

Por muito tempo acreditou-se que ciência e tecnologia eram certezas


únicas para a resolução de todos os problemas. Porém hoje propõe-se o estudo
de ciências, tecnologia e sociedade, como essência para a formação de futuros
cidadãos. Afere-se, a partir de tais respostas, que os alunos vinculam o termo
ciências as matérias específicas como química, biologia e física, desenvolvidas no
âmbito escolar, excluindo as demais. Por outro lado, o termo ciência aqui é
associado à ação desenvolvida por cientistas.

Quando questionados sobre a possibilidade de se tornarem cientistas, os


alunos com suas respostas foram as mais variadas possíveis.

“Não, porque cientista não é coisa de Deus.”


Há também a associação de cientistas apenas voltados na cura e
prevenção de doenças:

“Sim, porque eu queria poder ajudar as pessoas que tem doenças


raras.”

Segundo CANESQUI (2003), uma das marcas no ramo da saúde no final


do século XX foram as questões referentes a existência e futuro da humanidade,
obtendo uma relação estreita com a sociologia, antropologia, política, saúde
publica e coletiva. Para alguns alunos, a ciência não é considerada uma ação
divina, por outros é uma maneira de buscar curas e melhorias para a vida.

REFLEXÕES FINAIS

De acordo com a análise das respostas, pode-se concluir que o


entendimento de Alfabetização Científica para os alunos ainda é distorcida da
definição dada por pesquisadores da área. Além disso, fica evidenciado que o
conhecimento sobre ciências para esses discentes é limitado, muitas vezes
baseando-se no conhecimento empírico ou mesmo por meio de mídias
televisivas, isso, quando os alunos conseguiram responder aos questionamentos.
Contudo, existe a necessidade dessa iniciação científica em sala de aula, onde o
aluno poderá se posicionar criticamente sobre as mudanças no mundo,
transformando o conhecimento em melhorias de sua realidade. Entretanto ainda
há necessidade de quebras de tabus existentes entre a religião e a ciência, onde
a educação entra com o papel de mediadora desse embate.

Entender a ciência nos auxilia a contribuir para controlar as transformações


ocorridas na natureza, nos possibilitando “converter” tais transformações para que
estas conduzam a uma melhor qualidade de vida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREIRE. P., Educação como prática da liberdade, São Paulo: Paz e Terra,
1980.
SASSERON, L. H., Almejando a alfabetização científica no ensino
fundamental: a proposição e a procura de indicadores do processo. 2008.
CHASSOT, A., Alfabetização científica: uma possibilidade para inclusão
social. 2003.
BRANDI, A. T. E.; GURGEL, C. M. A. A Alfabetização Científica E O Processo
De Ler E Escrever Em Séries Iniciais: Emergências De Um Estudo De
Investigação-Ação. Ciência & Educação, v.8, nº1, p.113 – 125, 2002.

GOUVÊA, G. LEAL, M. C. Uma visão comparada do ensino em ciência,


tecnologia e sociedade na escola e em um museu de ciência. Ciência &
Educação, v.7, n.1, p.67-84, 2001.
CANESQUI ;A. M. Os estudos de antropologia da saúde/doença no Brasil na
década de 1990. Ciência e Saúde Coletiva,8(1):109-124,2003.

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