Você está na página 1de 59
Gtapys Sasina RIBEIRO A Lieerpape Em Construcio IDENTIDADE NACIONAL E CONFLITOS ANTILUSITANOS, NO PRIMEIRO REINADO RIBEIRO, Gladys Sabina. A /terdade em construcéo. Identidade nacional ¢ contiites antilusitenos no Primero Reinado, Rio de Janeiro: Relume Durnard; FAPERJ, 2002. (Cap.t: "Ser Portugués" ou "ser Brasileiro, p. 27-143, Rio de Janeiro 2002 Capiruto 1 “SER PORTUGUES” OU "SER BRASILEIRO"? 1-1, A consraucio De una “IDENTIDADE” NACIONAL! ALGUMAS REFLEXOES TeRICAS Procuro saber alguma outra forma de nossa histria. Des-cobrit se Nao nos embela, no entanto,a lusio de “recuperar” a nossa histéria verde deira’ (..) Nao perseguimos ‘um’ sentido para a nosss histéria.(..) Nzo pretendemos tampouco definiro brasileiro, O que visamos €observar como o discusso que define o brasileio constcui processs de significagEo, pro duzindo o imaginéro pelo qual e rege a nossa sociedade, Ou, dio de outra forma, procuramos compreender os processos que vio proven- doo brasileiro de uma definigio(..) Nio se tata, pos, de falar da ‘ident dade’, mas anes do imayindrio que se cons pare asignifeagto do bras- lero! Eate echo fax parte do livro Tina a vita, de Eni Pulcineli Onlandi. E ropost de constructo de significados para o reemo Tonge da Fistia no ima ‘definisio” em si para “ser braileio”. Pensa o ser brasilelo"; ortano, seria percebé-o como “sujeito-hst6rico”. Porém, como ele pode ser escondido pelo “discurs da cultura’ ~ quando este arribui papel relevan- te a0 “exotismo” dita um “discurso moral’, de “apreciagéo", onde o "brasileico” seria julgado por suas “quslidades'®, a busea da “identidade” deve ser antes de ‘mais nada um movimento, um processo, ndo algo estitico, pronto e acabado. A historiografia nfo tem se preocupado com e “identidade” como um pro- cetio histrico, De acordo com os objerivos ou pressupastos testicos dos historis~ dores, uma decerminada nacionalidede brasileira aparece na Hiséria do Brasil em im dado momento, normalmente ensee fins do XVIII e os anos de 1840. Embora possuidores de visdes diferentes sobre a colonizagio portuguesa, ‘Armitage e Varnhagen (Visconde de Porto Seguro), escrevendo posteriormente 2 28 ‘Aone en consraugia ‘a0 Sete de Setembro, deram & Independéncia um cardter nacionalista, preocupa- dos que estavam em construir poliiamente a Naglo e tragar-lhe a Historia, A diferenga entte brasleros e portugueses cera se evidenciada com a crise politica gerada pelas medidas recolonizadoras das Cortes, Reproduziram, portanto, 2s preocupagées reveladas nos discursos daquela época sobre si mesma. Até mesmo parao Visconde de Porto Seguro, adepto incondicional da colonizagio ¢ institui- Bes lusitanas, os portugueses eram absolusists,escravos da tirania ¢ recoloniza dores, enquanto os nacionais eram liberais¢ tragavam com firmera 0 camino paraa Independéncis. Apés 1930, muitos historiadores compartlharam nial" como realidade incontestévele chave mestra para a andlise do perfodo. O nacionalismo remeteu-se & essa crise refleindo-se na oposigéo politica Colonia eras Metrépole, Eram as insténcias eeondmicas determinando quase mecanica- rmente as outras eferas do social edo politico, excegSes feitas apenas para as inter- pretagGer de Maria Odilae Ilmar R. de Matts6 Conseqiientemente, o “ser brasileira” fi geralmence definido de acordo com alguns eixos: ou vinculado aos acontecimentos exceinos, politicos ou econémi- cos; ou relacionado as vontades dos personagens; ou, ainda, a “brasilidade” inata, cou data de nascimento varia de autor para autor © nacionalisna nao foi pesquisado por esses autores como uma relidade histdria, consteu(da através do tempo’, Nesse caso, mais do que a pura busca de sentidos impostos pela classes dominantes, através de uma culcura homogeneiza- dora cemos a experiéncia de toda uma sociedade, onde os individuos partilham ‘ou nfo interesses econdmicos ¢ sociis; esta forma, reelaboram 2 cultura e fre~ quencemente se percebern parceipes ou nfo de win dereriinado grupo social. ‘A “identidade” surgiria, entéo, como fruto dos embates socais, podendo ter rmiltiplossentidos, de acordo com os momentos € os agentes sociais envolvidos, io se trata de procurar uma nia identidade, com elementos comuns e homo- sgéneos?, sim diferentes manciras de “ser hrasileita” e de “ser portugues” a0 longo do perfodo. A cultura nfo seria mais vista como “exotismo”, mas resultado de relagées sociais!. Desta forma, através de ume andise de classe podecemos ter um encendimento mais global daquela sociedade do inicio do século passado, onde facilmente se transitava do social 20 politico e vice-versa! Dencro desta perspectiva, Benedict Andersen pensava ser a nacionalidade forjada como “comunidad”, quando houve a destruiclo das dinascia hierérqui cas divinamente instcuidas e religisidade foi substicuida por uma forma de liberdade, penhor e simbolo do Estado sobecano ~ fraternal, uno e indiviso!. Para isso, contar-se-ia sobretudo com a forga da imprensa!, que divulgavae fizia circular ids ‘crise do sistema colo: “Sen porTucuts” ov "stm nasties"? 29 Esta concepefio ajuda-nos a refletr sobre o pape! fandamental dos folhetos!4e ddosjornais nos inicios do XIX. Os Redatores da Mialeguete, do Revérbero Constts- cional Fluminense ¢ do Correia do Rio de Jancire™ reconheciam a importincia dos ‘escrtores na divalgacio das idéias. A Malagueta era religia por Luis Augusto May, portugués denascimento. que Fors milicareFuncinndrin phic. ra consticuda de igor tnicos, de carder rflexivo ede rlativarepeceussie, Defendia a unige com Poxtugal, a Monarquia Constiucional Representative refletia sobre os acontec- zmentos rcentes~Aluzde pensadores como Montesquieu ¢ Rousseau, polemizando cde founna a gerar panfleos erespostas variades Bs suas posigges", Julgava-se “inde- pendente”,nZo 4 fiiando a nenhum grupo e podendo erica a todos. © Revérbero Consttucional Fluminense €@ Correo do Rio de Janeiro possulam uum formato um pouco diferente, © primeixo era redigido por “Dois Brasileiros ‘Amigos da Nagao da Patria’, sabe-se que Joaquim Goncalves Ledo e o Padie Janudrio da Cunha Barbosa. © segundo safa da pena do porrugués Jodo Soates Lisbon, liberal com posturasvinculales wos vedhuoies Uo Reve. Ambos alem de publicarem atos governamentais com os quais concordavam ou discordavarm, ctiticando-os sob o prisma das luzes, cranscreviam igualmente teechos douttind- ros de diversos autores e jornais estrangeiros, e correspandéncia de teor critico, rio raro forjada na prépria ofiina tipogréfica J}é0s folhetos, também chamadesfolhas volances” ou “notfeiae avulees, era séncroliteriio muico em voga nos ides da déceda de 20 do-XIX. Predorsinararn particularmente encic 28 de agosto de 1821”, quando as Cortes publicaram uma Decisfo abolindo a censura prévia, e 15 de janeiro de 1822, data na qual se proi- biu que se publicasseescritos sem autor identficado™. Atuando no calor da hora, construfam a realidade e eram construfdos por cla, Bxerciam com vigor e combatividade a sua funcio de formacéo de uma opinigo pablica®™ na Corte, Divulgados verbalmente "em pontos de encontio ou locais de grande afluéncia e cisculagio de pessoas, tais come: boticirios, botequins, centros de comércia {como a rua do Ouvidor. no Rio de Jans mercados, e”2", polemizavam entre sie com as réplicas,tréplicas e comentéti- os vatiadossafdos 2 ume nos jornas, editados tanto no Brasil, quanto em Por- tugal e Londres 4.2. "Quen orz ~ Brastuema ~ or ~ Ponrucués ~ F pacuvres a Deus QUE QUEN orssesse — PorTuués ~ ptssesse BnastLetRo (1)? ‘A “FRATERIIDADE” ENTRE IRMAOS DE HewasFéRIOS DIFERENTES No alvorecer da terceira década do século rerrasado, folhetos, jornais, ‘magécs, edcais, bandos", e todo tipo de material escrito discuriam o born exerci- 30 A czseroane on construc cio da libetdade ¢ 0 seu corseto entencimento no Império Lusitano. Quando @ Regeneragio Portuguesa™ ocorreu eas Cortes lisboetas se estabeleceram, pars os milltstes portuguests europeus e comerciantes residentes em Portugal a palavra significava possbilidades maleiples. ‘As metas principais eram levar de volta o Rei, iguela altura estabelecide no Brasil restabelecer 2 independéncia do velho Reino frente & ex-Colénia ~ que na pritica havia se comado a Metrdpole’ ressuseitare revitalizar o vigor das préicas comerciaisa partir das cidades portuguesas, principalmente das do Norte do pais « garantir s direitos de cidadania dos lusos esabelecidas no continente europeu, Tais direitos inclufam a convocagio das Cortes, defensoras da Nacio portuguesa, a redagio de garantias& propriedade através de uma ConstiuigGo liberal, priv Jegiando um Poder Legislacivo force. ‘© movimento encerado pela cidade do Porro foi saudado pelos poreugueses habitantes da América como um sinal deesperanga: os velhos tempos do absolu tismo ¢ da tirania haviam passado cm prol da liberdade, da igualdade c da fraternidade, Os impressos desilavam ligbes de liberalismo, ‘Todos os grupos ou “faccdes” cram undnimes nos bons propésitos de organi- aacio da Nagéo portuguesa 20 redor de leis bésicas e promotoras da liberdade do individuo. As nog6es de iqualdadee fraernidade eram complexas ¢ foram sendo elaboradas a partir do triunfo do constitucionalismo, reafirmando-sea neces dade de se relorgar a consteugie do Império Luso-Brasileto, idéia acalentada desde finais do XVII, Nao havia uma cartlha pela qual se guiassem desde 0 primeiro momento. Os conceitos foram sendo edifcados a partic dos aconceci- rmentos. Alds, da mesma forma que as decisées iam sendo tomadas Unidos os dois Reinos ¢feiraa Kegenerasio, cada um por seu lado e unteres- ses disputava a primaria de ser a Capital. A partir de entdo, tanto era Portugal como no Brasil os folhetos passaram a discutir os ramos da “Regeneracio” em ambos os lados do Atlintico, Propunham solugSes para 0 futuro do Império © para 0s acontecimentos imediatos; nfo raro debatiam entre si Como tética, os folheros impressos em Portugal, desejosos da recolonizasio, do retorno da Familia Real edo restabelecimento da sede da Monarquia em Lis- boa, diminufam o Brasil e os brasileitos. Chamavamm-nas de “macacas”e “negri- hos”, acencuando a diferenca entre os habitentes dos dois Reinos, como intuito de frisarem o “perigo” que tel populacdo representava, ranta na possibilidade de sublevacio da gente “de cof” quanto no enfraquecimento do “progresio” a ser atingido, em época que se julgava sero povoamento fator importante para o de- senvolvimento™, Além disso, x ameaga de uma rebelifo negra tornaria inviivel a autonomia brasileira como Reino, necesscando do auxilio de Poreugal para a sua defesa, Esta posigio era compartilhada pelos jomnais portugucres 0 Astro da "Sem porTuGués” ou "sen BRASILEIRO"? 3h Lusitinia, 0 Consitucional Regenerado eo Compilader, contra os quais aimprensa do Rio de Janeiro insurgiase™. ‘Em contrapartida, portugueses moradores no Brasil escreveram outros pan- fletosdefendendo-no ¢ aos brasileiras. Mostraam as “riuezas da terrtério" ea “bondade”, 2c “virnidee” © 0 "hom caragin dos naseidas na América. Apesar de falarem distintamente em braileirose portugueses como quelificag6es relaciona- das 20 local de nascimento, no reconheclam “naclonalidades” diferenciadas ¢ acusavam os articulistaslsboctas de quererem incutir tivaidades entre os “portu- gueses dos dois Reinos”, Sublinhavam o faro de pertencerem a uma mernur Nac, sendo necessiia a unio fraternal (.)'Sim, Senhor, eu sou Europeu (..) ndo posso tolerar que s¢ deprimna 0 antigo Portugal (.), também no posto tolerar que houveste um Ports- gués Europeu de cabega tfo estourada, o qual com a maior impoliica,e injuctiga, «sem eer provossde, se lembraser de quer deprimiro Brat « 0s Brasileiros; que sc atigar uma eertasvalidade que desgragadamente tem cxistido entre Brasileiros, ¢ Buropeus (rivalidade que no s6 vem ocupado cstulasimaginacées, e que é to mal encendida quanto € cerivel a discde- dia entre Pais, Filhose Irmtos) esto quando perce o comam interesse que se tate de ima unio frarern, e indissoldvel (..). Ot Hamens prabor, Pll- tics, e de bore sizo aborninam semelhanser lovcures, 14 buscar, 10 anclart ita into dor ois Hemsigfsion Portuguese, para que formando ambos wnt pederoo Inpro, sob wom Goseno Liberal, justo venbarn eer fics todos os habitadores (se). Eu sou Buropev, como jf diese, vivo no Brasil vite cinco anor eonheco~o bem: se le nio esti mais adiantado € porque o no 4quiseram; e quanto aos Brasileires,dizeique tenho tido, conserve amiza- dea muitos honndes, vieweses insrufdos, ue de nenhum tenho a mais pequeca ofensa, © que dé alguns tenho recebido obséquios, ¢ particular cestimagio, (.) Grifo nosso)” Em tom de depoimenco pessoal, o autor acima procurava amenizat as rela- Bes entre brasileiros¢ portugueses, lembrando que os “homens probes" ¢ ‘polti- oe” queriam a “unio dos dois Hemisfrios Portugueses, sem lutas nem disseng6es Todos fariam parte de uma sniea familia; constiuir-se-ia um Impétio Liberal, lugar da “felicidad” e do tSe desejado “progresso”. A ceria americana tinhacondi- bes para se desenvolver sind mais; O Brasil s6 rGo estava “mais adiantado ¢ Porque no 0 quiseram’” Neste sentido, outros dois folheros advogavam as mesmas idéies. O primelto defends « “causa dos Porruguesce Europeus do recinto da Mie Patria’ « dizia serem as queixas dos brasileiros apenas contra alguns “Europeus residentes"!, 32 AL.rberoane ex constaucko Distinguia os “maus” porcugueses ~ “raga degenerada”, “inimigos publicos ou ‘secretos da sua Pdsia” ~ dos “bons” poreugueses — “gente honrada’, Finalmente, terminava concitands & uniga dos dois Reinos, governados pelo mesmo Manarea ¢ ligados por “vinculos de sangue e Religiio”. O segundo folheto, essinado por lum *Parmense imparcal”. pretendia desagravar os brasileires, prestando-thes a mais “pura estima do sincero afero”e estreitando os “vinculos de sangue, cle ami- zade”. Como “parente curopes”, reconhecia a “fertilidade” das verras ameicanas ¢ dizia que a “perda de uma das Provinces Brasilanas thes seria tanto, ow mais dolore- 1, que @ de wma de suas provincias mais vizinhas (~.)”. Se 0 local de nascimento dava a diferenga, atenuada pelo parencesco ¢ pelos lagos rligiosos, isto ndo era tudo. As ligagdes econémicas eram os mais importantes “Vinculos”, Els cimenta~ ‘vam a unio de inceresses entre os “compattiotas’, que deveriam ser representados nas Corte? Este dltimo aspecto merece andlise mais cuidadoss. De forma direta ou indi- rera,a presenya ew impoutincia do coméreio “portuguée” do Rio de Janeiro pode ser constatada nessa documentagio, bem como nos jornais das vésperas da Inde- ppendéncia, Os negociantes do Rio de Janeiro disputavam espaco com os do Porta ede Lisboa. Os negécios do Porto teriam sido os mais prejudicados com os Tiats- ddos de 1808 ¢ 1810 devido is remessas de linho que faziam para o Brasil. Lisboa, produtors de txts de algodio, possuta tecnologia de vanguarda eta subsidize da. Contudo, também teria softido grandes prejuizos porque teexportava 0s pro- dutos coloniais”. ‘Valenti Alexandre analisou os debstes ¢ as politcas adotadas pelas Corcet lishoetas, relacionando-os sempre aos interesses do comércio, Para ee, existiam grupos de deputados que pugnavam defendendo os interesses econdmicos de uns ede outros. Havia, assim, os “integracionists”, os que queriam ceder aos desejos deautonomia do Brasil, e ainda, aqueles que queriam esmagi-lo com o envio de tropas, sobretudo pare o Rio de Janeiro e pare o Recife; fora, obviamente, os que mudavam de lado 2 cada pouco, Os" integacionista” eram a “faegéo" mais forte, ou pelo menos a mais baru- thenca. Enite eles estavam Fernandes Tomis, Xavier Monteiro, Gongalves de Miranda, Soares Franco, Gitdo, Pessanha, Castro e Abreu, Margiochi, Agostinho José Frere, entre outros, todos duramente critiados nas piginas dos jarnais catio- 2s no ano de 1822, ‘Segundo proposta de Fernandes Toms, no inicio de 1821, dever-se-iaesten- der ao Brasil a Constituigio de Portugal, Para 2 solene constituinte, isto nfo era “opressio colonial” alguma porque faria desaparccer a diferenciagdo entre “euro- peus” e ‘americanos", podendo-se dispersar 0 uso da forga, ou seja, 0 envio de tropas. O liberalismo vintista nfo concebia o Brasil como uma entidade auténo- "Sen porrucuts" ov "SER RASILEIRO"? 33 amas associava os descontentamentos brasileitos oe despotismo do Antigo Regime cefata ormade administra terrtéro americano™, circunscrevendo-os20 Ambit politico. Ao testseleera sua hegemonia sobteo Impésio, cudo volaria& norma- Iidade eas tsras brasieiras seriam tratadas com igualdade, como qualquer oursa provincia do Reino¥. Néo accitavam divergencias a respeito dos principios liber fais que defendiam ¢ queriam impé-los como os melhores para a Nagi “As aspiragées de autonomia eram vistas como ilegftimas¢ conspicaérins, Foi o que ocorreu com adelegagio de Sip Paulo, que como astento no Patlamentoa {ide Fevereiro de 1822. Levou um projeto para “estabelocer os negécios polit- cos entre Brasil ¢ Portugal”. Nele, as duas partes da Monarquia ficariam “unidas para sempte”, porém, com admninstaséo, insiigdes e leis independentes. re- vendo a residéncia do Soberano no Brasil ou em Portugal, de acordo com as cir~ cunsciacias, sublinhava serem os uatados poiticas comuns, contudo, salvaguar- dava a possbilidade de cada pals fzzer tratados comercias em separado, além de ctabelecer de imediaco “celaghes comerciais mucuamente vantajosas™ (Os parlamentares paulistas propunham a existéncia de dois reinos, em urna expécie de “federacio!, rcjitando exatamente a tes de sr 0 Breil uma “provi ‘Ga, A polemica foi grande e os “integracionistas”Iutaram por desaucorizar ¢ Comissfo formadha para estudar os assuntes do Brasil, acabando por pedi puni- fies paras Junta de Sio Paulo, em margo de 1822". Capitaneados por Fernandes “Toms, defendiam que se os brasileiros nfo se submetessem &s Cortes, deveriam se separa, Jogavam com essa passiilidade mais come hipérese™ no fundo,aler~ nativa indesejada. Baseavam a sua argumentagéo em uma espécie de “nacionalis- mo”, ondea “dignidade nacional” tinha grande peso, pois o objetivo seria preser- tar 0 “poder do Sobeiaiy Cungtcsio” © « hegemonia poreugures nn “Sistema ‘Luso-Brasileiro”. As perdas pela possvel separagio eram minimizadas por julga- rem terem sido os lusitanos muito prejudicados a partir de 1808™. Com esas poscuras, aproximavam-se do “patsiocismo mereanci” existente crm Portugal, na época, Todavia, este rlacionamento ara bastante tenso, Por um Jado, a8 propostas parlamentares tinham seus encancos para os negociantes da ella Metsépole: peeviem a retomada dos monopélics e consideravam 0 Brasil apenas mais ume provincia, prs onde poder-seia enviar twopas que defendessem tr suas consignagies no Nordese, tobrecude em Pesnambuco®. Por outro, os "integracionistas falavam quase sempre em separagio para defesa da “Hignidade nacional”, havendo a possibilidade de pravocar desastradamentex “iuptura" Isto & burguesia mercantl metropoitana no poderiaadmitie nunca, uma vez que visava no somente recuperat of monopélios, mas também buscar mercados ¢ novas fontes de acumulagio de capital, imiscuindo-se no céfico ¢ no mercado brasleieos" 4 ‘A aseroune ew consraucho O folhero Reflenies sobre a necesidade de promover a vaio dos Exades de gue consta e Reino-Unide de Portugal, Brasil e Algerves nas quatro partes do mundo, escrito em 1821 ¢ publicado em 1822, revela-nos ess situagio. Embora pregusse ‘unio ea “integridade, ¢ engrandecimento do Reino-Unide” através das Corts. propunha uma série de medidas econdmicas contra 0 Brasil porque os Tratados de 1810 baviam levado Portugal a ruina e o Brasil a “um Estado de primeira orden". A Capital deveria ser Lisboa, fato inquestiondvel devido a “antiguidade” do Reino, pordm, desejava postergar ess dscussio pars o futuro... Depais de impor suas raz0es,alegeva igualmente que se perdia muito tempo em debates por ques tes de preferéncias, distincias,¢ outras fulidades, advertindo que um punbado de Portugueses juntos na Europa, outro punhado dispersos pelo Brasil, rience de meio punhado em Aficae Aris, fracoe por eu ponen nimero ¢ dispersio, mais fracos se cosnam se se desunirem em vontades.(.) ‘A unto de vontades era primordial para 2 formagio de um grande Impéio, desde que no contrariasse os interesses do antigo Portugal. Mostrava assim no 56 uma espécie de “nacionalismo”, orgulhoso do passado ¢ das iniciativas dos ortugueses 20 longo da sua Histéria, mas da mesma forma uma posicéo alinhada 205 reindis, que lutavam pelo rerorno 8 situacfo anterior aos"Tratados de 1808 ¢ 1810 ¢ possufam interesses no Nordeste. Argumentava, casa a Corte vesse nova- mente ase estabelecer no Brasil, que a Capital nfo deveria ficar no Rio de Janeiro, sim em Pernambuco ou na Bahia, mais préxima 4 Metrdpale. Como se pode perceber, seu pensamento era ambigiio: marcava posigio a favor de Portugal eno queria perder 0 Brasil. ‘As antipaies entre as NagBes podem sr eis, mas ence as diversas pares dda mesma Nagio sempre sio pernicioss, pois delas nascem aversbes,éios, docstos, ras, cis vexes guctras declaradas (sic) (.) Sabemos que no Reino-Unide hi oposigio entre excravos ives, entre pestoas de diversa cos, no Brasil entre indigenase reins, etc; e esta op0- sicdo deve o Governo extingii ou diminui, Sea dicéria nasce da des gisldade de direter, conven eeabeleer a iqualdade, Assim fea 0 St. Joxé abolindo a distinglo entre Crstfos novos, € 0s Crstfosvelhos (..) O mes- ‘mo digo da oposigio entre as diversas classes da Nacio como Nobres, ¢ Plebeus; Eclesisticos,¢ Seculares; Lavradores, e Negociantes, ete (grifo nosso) “Sen porrucuts” ou "sex seasieteo"? 35 Se simultancamente dizia ser necesscio fomentar oamor e aigualdade entre osindividuos entreas partes do Reino-Unido para consolider unidade, marca- va, entretanto, a diferenga existente entre os habicantes dos Reins. Jogava com as rivalidades, que fragilizavam ¢ impusham medo, Criticava o St. Oliva’, poreue ‘guts defensor da Capital do Império no Brasil, e nfo abria mao no favorecimenta ‘genas do comércio metropolitano. Admitindo a necessidade de se conhecer 0 terrtério através da confeeefo de uma Corografis, perguntava-se por que, como ‘0s romans, néo se poderia movimencar tropas livremente de um lado para o outro, Desta maneia, proclamava 2 adogio de duas medidas:a redugio do Brasil 2 "provincia" ea impoticio co maior respeito as lise & eligito carsica™* ‘Este falheto confirma as andlses de Valentim Alexandre sobte 0 momento € os interesses econémicos e politicos em jogo: as burguesias do Porto ¢ de Lisboa estavam determinadas a iesgatar as suas posig6es de monopolizadoras, em uma situagio politica mais favordvel "Purdndo le nln eenntrads em Pornal edo debates dat Cone isboe ts a concuses deste stridor conde com a de Joe Fagus, que esquisou documentos em arquivos e bibliocecas brasileitos, ris coma testammen- tox iivent:iorea movimentacto do Potted Rio de Janeiro. Negando a "erie™ da economia brasileira em fins do XVII e nos ctinta primeiros anos do XIX, Fragoso escreveus sobre a pujanga dos negociantes de grosso trato sediados no Rio de Janeiro, que movimentavam parte importante do coméicio transetléntico, in~ clusive do tdfico. Mostrou que o entaizamenco de interesses merropolitanos foi bem anterior & vinda da Corte! ‘Assim, partindo das pesquisas destes dois historiadores, temos que admicir estar a hegemonia polti wo Linpétio fortemente comprometide com oe inceree- ace doscorerceone. rable coloce nfo eraa “crise do Sistema Colonial ‘como um todo, mas ar disputas pelo predorinio ccondmico e pela eonquista de mereados entre a burguia entsizada no Brasil, por um lado, € 0s projetos de crescimento e fortalecimnento dos negocianteslusitanos do Porta ¢ de Lisboa, na época da Regeneraszo, por outro. Claro que tudo iso ensejou crises politics: em Sap ea “aneteiado na chamada Revolugio do Poco; na Amésica, a idia de liberdade era vivida distincamente, aponcando para um caminho de alargamento dos direitos econémicos através de uma igualdade, concretizada em uma Monarquia Representativae, quigé, em urna preponderancia politica de Fato, coma transferéncia definitivada sede do Império para o Brasil. Queri-se0 reco- nhecimento dos diteitos do brasileito ~ tio patriora quanto qualquer portugués europeu. Reromemos, entéo,ascartat ae compadre de Lisboa edo compadie de Belém, ‘bem como as respostas que suscitaram, levando-se em considereso as motivagbes 36 A ussnosoe 0 constauo comerciais de ambos os lados do Atléntico, Talver agora fiquem mis claras as ppolémicas envolvendo a wnido dos dois Reinos, a dispuca da Capital do Império, a localizagio das instiruigbes de poder e a comada de medidas econémicas a fvor ‘ou contra os monopdlios: “recolonizagio" versus “auconomia” e preservacio de diteitos recém-adquiridos ~ incluindo, no horizonte, 2 Monarquia dul. Talvez também possamos entender melhor, levando-se em consideracio os movimentos da pollticae Lugar social do qual s flava, porque se enfitizou ou amenizos as distingBes entre brasleirose pormugueses ao longo do Primeico Reinado, de 1821 axéa época da Abdicacéo. Far falta, portanto, jogarmos um pequeno e novo facho de luz sobre as it~ ‘cunstincias nas quais ocorreram a Independéncia, com suas politicas goveen- ‘mentais envolvendo os "porcuguests" eos seus bens. Vejamos passo a passo Voltemos, pois, ao nosso depoente de linkas acima, aquele que residia hi vinte cinco ou mais anos na Corte eque defendiaa unidade do Impétio desejada por “homens probes”. Como ele cersamente exisiriam por aqui outro lecieanos, com relagGes comercisis solidamente esabelecidas, aos quai nfo inceessaria de- negrir os brasileiros nem o Brasil, para eles centro da economia portuguess', ‘Também nfo quereriam perder as prereogetivas adquitidas na América, sobrew- do apés a vinda da Familia Real”. Asiim, os negoctantes portuguesesestabelecidos no Brasil manifestaram-se explicitamente em duas ocasides especais nas quais sentitam-se ameagados: a pri- seira, em 1821, na época da partida de D. Jodo VI; a segunda, em 1822, por ‘ecaido dos pedidos a0 Principe para que ficasse no Brasil Etm 21 de marco de 1821, escreveram um “embargo” e uma “represenca- fo", sfirmaudu 2 “fidelidade dos Porcugueses do Brasil" 20 Monarca. No “em bargo", no qual assinaram “o Brasil”, diziam que este novamente nio se sujeltaria A condigio de escravo; voltando ao estado de Colénia, fechando os seus portos, limitando o seu comércio e demolindo as suas fébricas. Por que isso aconteceria st ram o5 “Vassalos residentes no Brasil” que amparavam o Soberano? Porque sendo uma das queixas des Porcugueses da Europa no seu Manifes- (0, oabrirem-se os Porto do Brasil aos Estrangeiros pelo que fiea demons- trado no 3° ¢ arcgo, parece que queriam, que os Portugueses do Brasil andassem mis até que eles pudessem para gue mandar o que lhessobrasse ; nfo se lembrando, que os seus maiores comerciantes, e grandes peaunidris ris como Quincella,Bendeira,Poranchamp eouttos depeis da sala dos Franceses, em lugar de presser os seus cabedis para corajacem (Gi) reedificarem as Fabricas demolidas,entraram a comprar propriedsx des de Casas, Quins, ere e devendo mandar seus Navies earegados 208 "Sen porrusuts” ou "sak srasiieno"? 7 Portas Estrangeicoso¢ génetos que estes levavam para © Brasil, ou vende- sam, ou continuaram no seu Comércio desuuider do Nussetéio pars a {nds pats a China Nin encanrravain jusifeativa. Acusivam os “Porugueses da Europa de quererem “extorquir os Portugueses do Brasil contra o Direito natural, o bem que eles gozam com a presenga do seu Soberano (..)”. Dando prosseguimento as suas reclamacdes, “O Corpo de Comércio desta Capital”, “consteinado”, representou 20 Senado de Cima, legitimo represen- ante do Povo'®, “para procuraro remédio efica e pronco aos males incalculiveis deque se v8 ameagado”. Dizendo-se “magoados e aflicos’, pediam a0 Rei aguardar a deciséo das Cortes no Brasil Listando vantagens obtidas pela Monarquia apés 0 estabelecimento em terrasamericanas, lembrava que Portugal era “rico de hzes” € conhecia o “pouco que vale”, enquanto 0 Brasil tinha as verdadeiras possibilida- desde salvo da infludiie ou dowsinagio estiangeine que feqientemeute v ameagavam, Estava “acantoado no ocidente’, sofrendo ameaces de anexacio por parte da Espana, “sem eomércio nem industria, sem apoio senfo na Politica Exrrangeira’, podendo perder, logicamente, a sua Soberania, Mas, condicionavam. todo e qualquer apoio brasileiro 20 ni regresso do Monatea.. ‘A partir desta “imposicio”, “apesar da sua provadissima fidelidadea S.M.,ea Sua Augustisima Fanlis’, ameagavam com a possibilidade de rompimente, embora ndo fosse ito que quisessem devido 3s “querels intestinas de indepen déncia, e separagio teciproca das Capitanias” que cenropardo de sangue ete belo Pas, come ensangientaram a Amética do Norte atualmente tem ensopada a América espanol; e nossa sorte send ainda muito mais terivel por termos entre nds um limeso imenso de birbacos Alricanos. Igual intimidagSo repetiram praticamence um ano depois, quando o “parti do brasileiro” posicionou-se por ocasifo das ordens das Cortes, mandando regres saro Principe. 01 Copa de Negacisntes, © Ofieise de Quiives desta Carte, avn asina dos, antevenda as desgraas,e miséias que sucederam pela retiada de Sua ‘Alteza Real, desta Nabre Capital, que teve a honrs de acolles ereceber a Sua Majestide, ¢ toda Familia Real, com agrado e satsfagio em seu seio, quando que pela sorce de Portugal odeixaram em 1807, vers plorat a VVS'S., para que se Dignem como Dignissimos Representantes 38 ‘A taseroaoe eh coxsraucio do Povo aceita a levar estas siplicas& Presenga de S.A.R. como jd fizeram em sua erudita Fala em Abril a Sua Majestade. Fala que nada deizaa desejar que em resposta,« para a nossa consolaeio tivemos o Decreto e Instrusbes do Comércio 20 Senado da Cimara, 2 de janeiro de 182250 Falavam com autoridade, Nao pediam favor, Jd estavam aqui antes da che- gada da Familia Real, propulsionando os negécios propiciando o acolhimento de todos, O tom do “manifesto” é0 mesmo daquele do “embargo” ¢ da “repre- sentagio”,feitos em margo do ano anterior. Pediam, porém, faziam questio de recordar a forge demonstrada no Decieto € nas Instrugées de abril de 1821. Com antecedéncia, também “previam” desgracas. Diziam-ce “cidadios amigos do sossego e da boa ordem”, Observavam que Portugal agia sem consultar nine ‘guém, dividia o pals em governos provinciais, independentes e arbitrérios. Na posicio de profetas, remiam pela “anarquia”, que anunciava “futuros tristes e desastrosos”, D. Pedro seria a solucGo para a unidade. a qual se faria par 1m governo centralizador. ‘Além do Corpo de Comércio, © "Pova” do Rio de Janeiro também se pro- nunciou através de um "manifesto", cujo contesido sesaltava “ftos" econdmmicos para demostrara “prosperidade deste Rico e vastssime Comtinente”, Mostrava as mesmas coisas que o “Corpo de Comércio", mas, por caminhos diferentes: igual: ‘mente contestava as ordens das Cortes de Lisboa pediado a permanéncia de D. Pedso, contudo, o governante deveria ser constitucional, respeitando deputados representantes das provincis. Nio, nio éa glia de possuir um Principe da Ninssta Reinante, que obsi 440 Povo deaclamar pela sua residéneia no Braila vista do mesmo Decre- fo, que o chama além do Arlineco: nds perderfamos com ldgrimas de sau- dade esta gléria, qe acontece nestes imprevists, e misteriosamente com binados nos trouxeram, abrindo entre nés numa Epoca que parecia nfo star marcada pela Providéncia nos nossos Fatos, € a0 mesmo tempo fi zendo a emancipasio do Brasil jstamente na idade, em que possuido da indispenstvel idéia de suas frcas, comecava a exguer a colo para repclir 0 sistema Colonials masa perda desta Augusta Posse ¢igualmente a perda da segurange, ¢ da prosperidade deste Rico, ¢ vastsima Continentesninda avancamos a dizer, respeitosamente, que esta perda terd uma influéncia mui imediata sobre os destinos da Monarquia em geri. (.) (..) As Provincas do Bras aparecendo nas pessous dos seus Deputados em roda do Trono do Principe Regence formarfo ura liga de interessessegun- do perspectiva dus cicunstincias sendo um dos seus objetos de empenho ‘esteitar mais ¢ mais os vinculos de nossa Fraternidade Nacional "Sen portuauis" ou “sen arasieino"? 39 {As provineias teriam papel destacado, lado alado com aqule desermpenhedo pelo Principe disso dependeria a unidade ea “Praremnidade Nacional”. O "Povo" tinha bastante nitiden quanto aos seus objetivose sabia as potencialidades do pas, Jangando da mesma farma ma da amesca:quanda D. Jofo desembarcou no Rio de Tancitoe fer a emenciparfo do Brasil ele jf estava na idade de “erguer 0 colo ‘contra o Sistema Colonial”, Caso D. Pedro nfo se prestasse a governan, 0 navio ‘que 0 reconduzitia de wolta apareceria “sobre o Tejo com o Pavilhéo da Indepen- dncie (© “Povo! era por demais organizado, Tinha em mente, principalmer problemas econémicos, que podiam abalar a “segurangs" ¢ a ‘prosperidade” do Reino. As provinciss passiutam um papel destacado e eram comandadas pelo Rio de Jantiro Blogo bem evidente, que se algum dia o soberano estabelecido no Brasil ‘oltar para Porcugal deicard pds desta iwdepevléncis famada eon vols as feitorias do Rio de Janeiro = Conhecese qual €o estado de cailagio ¢ de divergéncia em que este todas as Provincias do Brasil nico centro pata conde parece que xe eneaminham sizs visi, e suas esperancas é 3 Const- tuigdo, a primeira vantagem que se espera deste plano regencrador ¢ a conservacio inalienvel das atbuigées, de que se acha de poste eta antiga Colonia transformada em Monarquia menos para aucorizararesidencia do Augusto Chefe ds NaeZo, do que pelo grande peso, queo seu Comeércio de cexportagio Ihe dava na balanga mercantil da Europa, pelas suas diferentes relagées com os dversos Povos desse antigo Hemisério, pelo progressva desenvalvimente de cuae Forge fiat © moras. Se juntarmos os discursos acime, chegaremos i um punhado de conclusses. Uma delas € que os manifestos foram produros do “partido brasilera"s possufam, como denominador comum 0 desejo de preservacio da wnidede de uma determi- rada ordem pela vie constitucional e mondrguica, mantendo-se a paz € 0 sosseg0, afascando-se a anarquia e construindo 2 Nagao porayguest Em seguids, comesaram a se delinear af algumas divergéncies assinaladas a torto e a dizeito pela hisroriagrafia: um grupo estabelecia sé haver possbilidade de progresso pela centralizacio ao redor do Rio de Janeiro; outro encendia ser a Frterndade Nacional apenar consid ele anemia ds provincia lgns pregavam a “soberania da Nagao”, com © predominio do Executivo, outros, 2 vcberana do pve" araws do Legit, Have Forma diferentes de digi Estado, que deveria scr respeitado como reino aurénomo, monérquico, constitu cional, endo como base social as clases vinculadas & propriedade de teres, de 40 A aexoane en consrnugio escravos ¢ a0 comeércio®, O “partido brasileiro” seria um “saco de gatos", cujas disputas pelo poder comegaram a ovorrer antes mesmo da Emancipagio scr vista como separacio politica coral dos seinos. Dentro do quadro geral explicativo do perfodo, 1821 tem sido considerade ‘ano do Constitucionalismo; 1822, o de reafitmacio das idéias de Independén- cia. Entreranto, podemos chegar t conclusées mais matizada, colocando a pa- laveas “Consticucionalismo” ¢ “Independéncia” nos seus devidos contextos. As idéias de um Brasil constitucional ¢ unido a Portugal ultrapassaram os meses de Janeiro e de abril, considerados pelos autores como basicos na propaganda pela Independéncia. Se viemos com desalhe, vio aém do Grivo do Ipiranga...! Expliquemos. A “separagio" era uma pedza chave em ambos o discutsos, nos produtidos na Metrépole e nos de origem americana, mas sempre como uma Aipéiese, arma que seeva para intimidar ¢ ameacat intelocutores. (Os eserisos dos naturais de Portugal acentuavam as diferengas entre 08 dois Reinos: discorriam sobre a pouca populagio da ex-Colénia ¢ anunciavam suas intengSes de deixé-la jogada A sanha da populacéo negra, caso nao accizasse as suas propastas econdmicas. Kos textos dos naturais do Brasil mostram que eles adoraram estrrégias diferentes de acordo com o desentolar dos acontecimentos ¢ com os abjetives que iam priorizando, Em 1821, defendiam a populagio de xingamentos que he dimi- nuts valor, ressaltando-the as suas qualidades e divulgando as possibilidades de riqueca da terra. Adoravam a mesma moeda dos seus “aeusaclores": seo Brasil era “Terra de Macacos, de Pretos, ¢ de Serpentes’, similarmente Porcugal era “Terra de Lobos, de Galegos, ¢ de Raposas", Os xingamentos tinham relagao estreita com o momento vivide, O "lobo" ea “tapos” erain animals “astaros e mui dani- nnhos”, alusto evidence &s medidas das Cortes, que tinham wafdo a confianga nela depositada. “Galego” era um cermo pejorativo em si, designanda individuo sem escripulos para conseguir algum tipo de vantagem econémics ou colocacso nna mercado de trabalho, Préprio para designar os habirances de Portugal: nobes parasites, que despejaram moradores da cidade quando da chegada da Familia Real através do "ponhacse na roa” ("Principe Real” = "Ponha-se na tua’); empre- sados piblicos; caixciros¢ negociantes de toda especie; além de rabalhadores de toda sorte de profissdes. Constitufam uma méo-de-obra branca, privilegiavam “pateicios” ou disputavam uma colocaggo no mercado de erabalho com naciana e afticanes, como veremos no préximo capitulo, Contudo, apesar da indignacio fagrante, os textasexctitos por “brasileiros” continuavam sublinhando serem os habicantes des dois lados do hemisfcio i= ‘méos de mesma familia, nidos por lnor naterais © pertencentes a wna mesa Necio portuguesa "Sen parrucuis™ ov "sen auiiezno"? cy No folheto Justa Revibuigéo.. seu autor lembrava que 0 “Saudoso Monarca ‘com coda a sua Familia Real”, una "Corte lurida’, muitos "Portugueses Earo- peu’, “a flor das Tropas de Portugal”, “estrangeiros de todas as NacSes”~ dispersos «em todas as atividades, inclusive "Suissos” de Cantagalo -, todos eram europeuse byancos. Afirmava exstirem muitos brancos no Brasil estes, juntamente com os pardos, que eram “habilidosos® zo extreme, faziam a sua riqueza e prosperidade. (© mesmo tom de revolta e sarcasmo apareceu na Carta, que em defesa dos Brasileiros insultadosexcreve ao Sacristto de Carabi o Estudante Consitucional De que forma 6 Brasil ( sentido € claro) jf nourrocempo foi habitado por Brancos; mas hoje (porslguma emigracfo sem diva, ou por alguma peste destruidora) acka-seredusidoa qué? A algumas hordas de Negrinhos pesca- dor na cosa d? Africa, Ora ai esto que € ilar! E o que ¢ falar verdadel Segundo a ieia do Senor Compadie o dagragade Brasil nada mais tem, do que hordas de Negrinhos! E toda a Real Familia, que aqui entio se achava? E os empregudes publicos? E uma multidio de Europeus aqui esta- belecidos? E os seus descendentes o que serfo? Hordas de negrinhos? (cli- cos no original) © Brasil era néo somente um “vastssimo Continents’, sem “comperacio com qualquer outro pals conhecido". Habitado por brancos, portuguesese imi- grantes, a sua populacio no o desqualificava, rampouco o havia impedido de desenvolver-se, quando Poreugal se voltou para a exploragSo das riquezas ameri- canas, depois da perda das Indias Desde entéo comegaram a audir de continue este pis nascente aquelesa quem a falta de fortuna, e deseja de methoré-lafexiam emigrar da Euro- pa: deide entio © epitero de Brasileiro, ou Mineiro, que vale © mesmo, comegou a ser em Portugal sinénime de homem abastado. As mies emba- lvam os seus pequenos com as pinturas das grandetas do Brasil, «ds teres aque ai facilmente se adquitiam: o Brasil ea ali olhado, como antigamente entre os Hebreus a Terra da Promissio. (..) A prosperidade sustentava a Metsépole ¢ aula os portugueses do Reino, ando al tespeico que os progressos desta imensa porcio da Monarquia Lusina nfo escaparam 2 vistas do grande Marqués de Pombal, que dizem ji hi sessenca anos aconse- lado a El Rei D. José, num momento de aperto, a mudanca da sede da Monarquia Portuguesa para alguma das Cidades do Brasil 42 ‘A Laoenoave ex consTRuGiO Os dois autores tentavam assim cesgarar 0 Brasil através das svas riquezas zaturais eda sua populacio. Assim, o povoamento era fator de desenvolvimento do por si mesmo, mas por duas rapBes: primeiramente porque o incremento Populacionalestavaintimamente relacionado sua natuseaae 3 pua terra, gerado- rade riquezas pelas miltiplas possbilidedes que apresentavam, canto com relagio Ragriculura como 2 “nuddstra", esforgo do homem; depois, cxatamente por set este homem branco, enfatizandovse a descendéncia portuguesa, conhecedor das benesses da “civilizagéo”e ndo resttito ao “mundo bésbaio” das “hordas de negri- hos”. Visendo a unio, era importantissimo desfazer as “calinias” sobre os seus bbabicances, Na linguagem do “Escadante Cansttucional”, que escreveu a0 “So. ctistdo de Carahi*, dever-se-ia desprezar a ‘meia dria de loucose de mal intencio- nnados [pornugueses]” para se esititas 0s lagos com “o nosso Bom Portugal, aonde (sic) devemos ter postas as mais isongeicas esperancas..", que seriam tradunides ‘no “Augusto Congresso”, lugar da “felicidad” e da “venture. Para o “Filho do Compadte do Rio de Janeiro", aucor da Justa Retrbwitdo., as injrias deveriam ser perdoadas porque apesar de magoszem, no ofenderiam ape, a concérdia, a uni, que deve seinas entre os Portugueses de hum outro Hemisfésio, como Irmios que somos regides pelo mesmo Pai __ Nao se visava a separagio, mas rafirmar as nossas qualidades ¢o¢ lagos natu- ‘is que ligavam os habitantes do Impétio, como vimos, commpatrioras™ A pop lagfo do Brasil, branca e portuguesa, conuibuta para a sua riqueaa. Acreditava-se gue tudo se resolveria na fidelidede as Cortes de Lisboa, que salvaguatdatiam os “*Dircitos Naturcis" desta parte americana de Reino, embalades pelesjuranneivs feitos de respeitar a Constituigéo da Monarquia Portuguesa. Apesar das rinas © ‘validades que aconeeciam aqui cali no plano da politica mais ampla ndo havia um conflito interno deflagrado entre brasileiros © portugueses. Para os felhetos, a Jura conjunta era travada contra 0 absolutismo ea tirania,caraccer(sticos de Ant- s0 Regime. O Rei nzo estava na berlinda porque havin aceico a representagso da Nagle, Porém, jévimos como as noticias voradss nes Cortes em setembro e outubro dde 1821 chegaram ao Rio de Janciro em fins daquele ano, gerande “manifestos™ do “Corpo de Comércio” e do “Povo” para que D. Pedro fcasse. Exigindo-se 0 segrecse do Principe c abolinalo-ve os THdunaie Superiores no iio de Janeiro, @ debate sobre os mesmos ditetos entre ieméot de uma mesma familia e sobre 4 igualdade para os depurados dos dois lados da Nacio portugues: eveluiu, ¢ fez com que se mudasse um pouco o rumo da unio. Agora, juntamente com ela, os discursos emanados do Brasil passaram aexigiro respeito asnossasespecificidades, "Sen porTucuEs" ov "sn anasteino”? 43 as nossasinstiuigdes, nossa emancipagto, entendida come autonemia, As Cortes, lisboetas foram caindo em deserédito, pasando & serem igualmente vistas como tithnicas e desejosas de agrilhoar novamente« ex-Coléni Imediatamente depois dos acontecimentos de janeiro de 1822, circulov na Corte um falheta que espelhava essa realidade: O Brasil indignaco contra 0 Projet Ani-Consteucional sobre a privagto des suas asibuicdes por Ivar Philepdriso™. Escrito pelo “Amigo dos Brasileiros", flava como “brasileizo", nfo imporcando a sia nacionalidade, Mostrando-se agestado, descrevia 0 “nossa” pracesso histérico ce viquezas naturais,uilzanda vasto repert6rio de exemplos, como todo bom dis- curso iluminado pela razdo, Faia mencio a Alexandre de Gusmfo, Hipélito da Costa, José Bonifécio e Azeredo Coutinho, leirores dos "Mablys", “dos Rainais’, “dos Rousseaus”, “dos Volneys", “dos Duprats’, “dos Simonides"; homens que “nada deviam a Bossuete Fénelon”. Criticando os que achavam os nacionais pare cde uma “ttbo estipide” qualquer ou “macacos’, lembrava serem tespeitive's os conhecimentos politicos ¢filosdfitas ds busileiis devido aos livros introduzi= dos pelas “brechas colonias™ ‘Para “o Brasil indignado” era um absurdo em politica © projeto de fazer retroceder uma Nagio, quando ela aproveitando-se dae eu2e circunstincias e dirigida pelo impulso de suas ptdprias forgas avanga rapidamente para2 época de seu verdadeito destino ede sua glia oe Agléria” Tal qual uma crianga, o pals havia chegado ao “verdadeito dest por tex pastado por todas as etapas de crescimento: “ss leis que regulam a educa fo se mostram desenvolvidas, ea ra28o iuminada por novos conhecimentos (..)”. Enrava, portanto, maduro na époea que D. Joao VI abrit os portos a todas as Nacfes, dando- Ihe a “emaneiperfo" ~ fato nfo circunstancial porque ndo poderia, mais ficar preso ao “sistema colonial”, “improprio pela suas forgasfsicas ¢ mo- raise “pelas diversas classes do povo. Sua populagfo havia aumentado co “ouro” nascia “debaixo dos scus pés ou em metal, ou em substincias que se converter pelastransmutagées mercantis neste precioso simbolo das riquezas”, Fazendo pat- teda "mocidade da América’, sé ele poderia salvar Portugal dos males do “velho Conrinense”, caso aceitasse participar das nossas benesses como “Teme mais ve~ lho” e permitise a permanénea do Principe em terricério american. Os “Brasileiros” sentiam-s iludides eam as medidas do Congreso, Logo cles, que prontamente acudiram 3 Regeneragéo ¢ “pronunciaram um juramento novo, desconhecido de todos o8 tratados da Moral, que falam de juramentos"! Os “nossos” deputados foram obrigados a assist ~“mudos, ¢ com os bragos en 4 ‘A vasronoe construe ddos’~ leis que nos prejudicavam a “prosperidade Nacional" eque nos cassavam “as nosras regaliss como Nacio”. Frustraram as expectativas de apertar os “Iacos da unio” ¢ de “temogar a Monarquia dividindo com igualdade 0 gérmen vital” por todo o Reino unido. Mas, como D. Pedro havia abracedo a “nossa Causa comum", deverfamos tomar a0 menos duas medidas: ditigir aox depueados instrugSes para a “nossa unio Constitucional”, sem perder 0 que era “consttutivo de nossa experiéncia politica e moral” de povo “civilizado”; ¢exigit que se considerasse as “nostas cir- cunstincias como o centro de onde ho de partir todas as inhas para organizarem 0 quadro de nosso progressive melhoramento”, conservando S.A.R, eelegendo-se um “Conselho Deliberativo em que aparerain os Deputacos de todas as nossas Provincias..” Desta forma, apelava para os Honrades, Generosos Porcugueses, que havels confindide vossosinreres- 65 com 0s nostos, que hoje unidos pelos vinculos do sangue ov pelas relagSee mescants,esociss jd vives climarzadas debaixo do nosso Céus intrépidos, ilustres Defensores da Pécia,e da Nacio, que cingis a expads para garantir 2 procperidade, e a segueanca individual do Povo, que vos alimenta,e que vor oferecerd multiplcados penhores de seu reconhecimen- to & proporsio que vos mostra mais 2losos pelos seus inceresses pres vos de bom nim as justisimas representagBes que aparecem neste Mini esto, elat si fetas pelo amor ds ordem, e paraa conservagio da harmonia serl,sfo sentimentos de um povo, que sbragou sem hesitar 2 Causa co- hun de nossa tegcneragio, © quese v8 arcegtdo de nfo entrar na parila de suas vantagens. (..) Segundo Etic Hobsbawn, na tradigfo ibérica a palavra Nagfo referia-se 20 conjunto de habicantes de uma provincia, pas ou reino, Embora nfo se conside- taste a existéncia de um centro comur, governo ou Bstado até fins do XIX a palavra possufa uma viséo unitéviae cenralizance™. B-exatamente esta concep seo que encontramos no documento acima, Pregava 2 unigo, contando com @ apoio dos “bons” portuguetes "honrados e generosos, canto quanto aqueles que eram ‘probos ¢ chcios de “vieudes" por nf agredirem a0 Brasil). Designando-se "For rugueses do Brasil”, “da América” ou “Brasileiros, senciam-se parce de uma Nagéo tinica, Mie de todos, apesar das especifcidades. Dizendo em outras palavres, a Nagdo ca Pitria deveriam ser objeto de zelo. Os laos de sangue e mercancis eram fortes e gurantiriam a “presperidade” e a “seguranca individual do Povo". Agora jogava-se com a lembranga dos lagos de parentesco ~ “naturais" ~ pera a manu- "Sen sonrucués™ ou "ser erastero"? 5 tengio da emanciparéo, bem entendica como liberdade de comércia e como Uiberda- de politica Como diria Alfeedo Bos, esta era entio a maior bandeira dos ‘patriotas™®, “Porcugueses" dos dois Reinos, pugnavam pela liberdade econdmica, garantidora dos poderes politicos, Exercendo uma preponderéncia econdmica desde 20 me- nos finais do XVIII, « burguesia mercantil do Sudesteexpressava asa fore polt- tica de diversas maneitas. As expectativas depositadas nas Cortes lsboetas come- arama ruit, As esteatégias adoradas de defesa da populaedo, endosso reitersdo das iquenas naturaise ce Enfase nos lagossenguineos nfo bastavam. Era necesst- rio buscar noves caminhos para age se abdicar das conquistas. No &mbito econd- rico, elas haviam se cristalizado nos Tratados de 1808 ¢ 1810; no politico, soma- vacse esforgos para ndo peider a condigio de Metsépole, gravemente ameagada com as noticias chegadas em fins de 1821 Falavam em emancipagio a toro ea direito, mas com o innito de preservat ‘auonomia para “conservocin da harmania geal”. “da Causa comum da nossa regeneragia”, enfim, da unidade de Império, E bem possfvel que a leitura de um ou outro documento, juntamente com a concepgio de “crise da sistema Coloni- al", possam rer levado alguns historiadores a marear 0 ano da abertura dos portos como o do inicio do processo da Emancipaco politica, como se esta fossea Kgica “natural” dos fatos ou coma se & Independéncia fosse desejads ou plancjada aquiavelicamente hd muito®, minimamente desde 1808... Reproduziam, assim, o discurso daquele momento: o Brasil jéeraémancipa do (auténomo do ponto de vista econémico) € naturalmente algum dia seta in dependence porque era préspero. Portanto, 2 emancipagio politica no estavaem questo, en niesio sei se wustera no horizenee imediato daqucles homens, Ela foi muito mais obra do combate pela liberdade, que até 0 tltiino momento se ppensava em obver dente da Nagto poreuguese. Que vancagens ceriam os comerci- antes do Rio de Jancizo em promoverem a Independéncia total corcarem liames com Portugal e suas possestées? Além de serem eles que custeariam a possfvel guerra contra Poreugal,ficariam sem uma fatia expressive do mercado, sem as facilidades e regaliss da unidade do Reino. Bem, mas analisemos tudo isto com agit. Jd vimos que se falava ver por outra em separa¢io, mas como extratégia. A continuidade da politien de ameacas reforcava nesta conjuntura a existéncia de tum pals que se irmanava com a Nagi portuguesa porque tinha a liberdade de cecolha, porém podetia igualmente rjitéls, se Portugal (es Cortes) concinuasse nig honrande os ptincipios constitucionais Os jomais A Malagueta, 0 Revérbero Consttucional Fluminenre e 0 Correia do Rin de Janeiro passaram a defender esas posigbes. O bem da Nagio vitia da 46 ‘Acansnoape es cousraucio reunigo dos dois Hemisférios Portugueses e da reciprocidade de interesses que 1o prejudicasse a ambos os lados. O que se pregava eraa libetdade, que anima- va amor’ Pitria, este no podia ser separado do amor & Nagio., A Indepen: déncia seria a liberdade, a auconomia e a unifo. A separagio era inimiga da liberdade'" ‘A concepgio'de Nacfo observads por Hobsbawn pode ser encontrada em outro exemplar do Revérber, de 29 de janeiro de 1822; “teunito dos Povos, que obedecem a uma mesma Lei,¢ um mesmo sistema de governo”. Ao excetuar “ss classes privilegiadas” deste corpo. referia-se as “casses’c os “privilégios do Anti- {0 Sistema’; nfo significaya que defendesse o direito dos mais pobres. Apenas Jurava concra os que possufam a forgae arbitrariamente “quebravama os vinculos’, ferindo liberdsde do povo Brasileiro, provocando a diseérdia e obstruindo 0 sistema constitucional®, Qualquer exagero com relagfo 3 liberdade seria conde ndvel, tanto se pendesse para a tirania como para a democtacia Alguns diss antes, 28 de janeiro, 0 Revérbere havia publicade vima eaves de Sacrttéo de Tambi ao Estudante Consttucional. Ela afirmava ser o objetivo bisico do patsa procure da “feicidade” através do tespeito eos prinefpos iberais: “igual- dade entre os dois Reinos’, para no se minar a unio ~ e para que néo haja tivalidades entre Europeus ¢ Americenos~c a obeditacia a um Governo Const ‘tucional limitada De uma mancira geral até 0 inicio de 1822 nescer brasileiro significava “ser Portugués"; com isto designavarse apenas 0 local de nascimento densro da Nacio (Portuguese, vendo preservados ¢respeitados os seus direitos de “patriots”. Quando suite, os “portugueses da Europa” que partilhavam c defendiam os incetesses ‘americanor, # que moravam no Brasil, eram tambéin chamados "biasileitox” — ‘eam of “bons portugueses’, aos quais se referia 0 "Portuense Imparcial"©. Este era o sentido dos excrtos ditos "brasleizos", mas que erain de portugueses rsi- dentes aqui hd muitos anos; ¢ igualmence o significado de artigos, carta ¢rcle- 2x8es dos editores de jomais que acusavam representantes brasileiros nas Cortes de “portuguese”, em contrapartida, chamavam portuguesesclitos pela América de “brasleios” de coragio se defendessem a Cauta da liberdade®. No domingo do dia 21 de julho de 1822, is vésperas do que se convencionou cchamar de Independéncia, o Padre Januério da Cunha Barbosa, nato brasileiro, Pronunciou um discurso no ato da eleigio paroquial de Santa Rita. Exalrava at eleigdes para a Conscituinte brasileira ¢assegurava a sua fé na prosperidade da Péeri, renovada comm a representacio nacional. Fzia um ano os Brasileiros haviam escolhido deputados para uma "Constiuicio desmentida’s “a Patra foi desprena- daa quem se deu o dsculo de Fraternidade”. Mas, previa que “o fogo da Liberdede Constisucional” voltaia se inflamar porque a Liberdade fazia parte dos “cora- "Sen porrucués” ou “see srasiino"? a Bes Americanos". Aos homens libersis nfo importava o local de nascimenco: cram “amantes da Patria, da Justiga e da Humanidade", Paraele, conseguir-se-a apaz através da "Prudéncia, da nossa bem entendida reunifo com o grande liberal Principe (..", que com “Sabedoria e Probidade” jraria « Consttuiefo para que navos “Feros” nao se lancastem sobse nés. Por fim, fia um apelo: Ab! Vés sois Portuguese, Brasileiros, e © amor da Pétria€ 0 vosso alia, ‘ota sem prejutos, e Deus guiard a nossa Causa” Os redatores do Revérbero, Joaquim Goncalves Ledo ¢ o Padre Jenutio da Cunha Barbosa, auro-inticulavam-se “Dois Brasileiros Amigos da Nagto ¢ da Patria’. Sobre este techo final, na verso publicada no diz 30 do mesmo més de julho, provavelmente o préprio Januério ap8s uma “nota” Quando digo Braiever entendo geralmente os habitantes do Brasil, ou deste, ou de outro Hemisiério, reservando, « exemplo do nosso esritor Higdlito,0 nome = Brasilewse = para quando me for preciso falar dos filhos do Brasil; nfo fago diferenen entre Europeu e Brasiliense, 2 rodos amo, ‘quando sei que se empenham pele nossa justa Causa®. (elicos no orig val) Aqui vale @ pena lembrar que no século XIX o “nacionalismne” firmavacse sgradualmente sobre as principiosliberais; portanto, 38 se romnava jusificével quan- do ajustado ao “progress” e “alergava, eno restringis, «escala de operacko hu- mana na economia, na sociedade e na cultura’, © Brasil no cra uma “pétria” Ginica” era marcado por regionalismos. O tetmo “patria” nfo significaya uma sociedade que se reconhecia com uma identi- dade e cultura prépras, dentro de um espaso tnico. Era, sim, sinBnimo do lugar reservado a detetminados “homens bons", que se econheciam por nexos de pro- priedadee de privilégio, les exerapolavam nas palavras“Péerz’, “Portugal”, “Brasil” ou “Amécica Porcuguesa” as suas individualidades, mundos pessoais” e, acres- centemos, interesses ~ que faziam passar pelos intereses de todos ¢ pelo bem ‘comum, Designava, desca forma, um espaco comunitério limitado, onde 0 objeto delealdade e dignidade, em uma sociedade pacriarcal, era 0 Rei”, agora constitu- ional Nio era a toa que o Correia do Rio de Janeiro explicitava, Jogo depois do Sete de Setembro”, quea liberdade nfo era para todos; era privilégio do “eidado”, do “patriota’, porque “patriotism” era a 48 A renane et consraugho Jgualdade bem entendida entre 0 Cidacio de alto ¢ menor emprego que defendem a Péuia, prefrencialmente atrevs da Eleigio™. Daf aimportincia de se consolidar 2 unidade. Sem querer a disperséo ¢ ten do em primeizo plano 2 Necéo portuguese, a existéncia de um centro no Rio de Janeire eraindispensivel para esta representagio do espago dos "homens bons” do ‘Sudeste; pecpetiaria as suas conquistas ~ a emancipacio econdmica~c evitaria anarquia. Na ética de quem via o mundo pelas lentes americans, 8 permanta- cia do Principe seria capar de congregar os interesses de alguns representando-os come de todos. (Os Betrangeiros, que entie née viver, desfeutam de rodos as bens resulcan- tes dos sacrficios que nés temes feito e fazemos. Defendendo as nossas Propriedades, a franqueza dos Porcos Brasilccos, a nossa categérica inde: pendéncia, nfo o defendemos nds também a eles, 0 Seu comérci, as suas posses, as suas pessoas e bens? Que pouco gozamos nés, que cles nfo go- em? O Negociante nfo tem Patri: a sua Pitta € aquele ponto do Globo, ‘onde melhor se combinam os seus interes”, A liberdade, que como vimos animava 0 amor & Patria € & Naso, no era privilégio apenas dos patses. Beneficizve também individuos, guardando-thes 28 *Propriedades” (com P maitsculo, para mostraraforca deste dircitl), «brindava ‘com maior distingdo os comerciantes, cujo amor & Pétra esava informado pelos ‘A analogia entre o Reino live, aberto as relagdes com o mundo, eo cidadio livee era evidente, Esta articulava-se também no "ser brasileiro” ou “ser portu- gués’, que obviamente envolvia & Nagfo enquanto “Pétra’/pas/tepizo eenquan- 10 individuo, digno ou nio da “Pétra’, compartithando ou néo com cla os us incereses 0s seus anseios de liberdade, Desta forma, o “set brasileiro” ia cendo construido: era aquele que Iutava pela iberdade, pela Monarquia Representativac Constitucional; aquele que ia contra as medidas recolonizadoras das Cortes, néo Jmportava sco seu local de nascimento fosse o Brasil ou Portugal. Neste momen 10,08 “brasleiros” ainda poderiam salvar a Monarquia portuguesa e garantie um Tmpério poderoso. Para os negociantes de grosso trato do Sudeste e seus aiados, peneara emancipagio era preservar os seus inceresses, pensuraliberdade de outra forma: ou seja, como garantia da propriedade, Seria esta perspectiva que, em uma faturo préximo, concretizar-e-ia no “eorteto exercicio da cidadania”, sem “anar- aquias” ou “exageeos’, sob 0 imperative da centrlizago””. Rejeitavam com veeméncia 0 erescimento da corrente“integracionista” nas Cortes de Lishos. Em matgo, o Revérbero denominow de “egipiciacs” a politica do "Sen eonrucués" ou "sen onasiLeno"? 49 Congresso lisboeta, querendo dar 20 Brasil um grau de representacéo menor do aque merecia, ‘Umat veres o envolvem na denominacio geral de Provincss Uleramarinas = outras vezes a dizem, que Fortugal, e Nacional so sindnimos; ~ agora, que cle se deve contentar com tet no Augusto Congreso um Honrado Mita, ena Supliagio um benemérto Desembargator,~ logo, que deve ter um centro, para nfo complica as rodas da Maquina Polit ‘que os norece Depusados devem ter asenco no Congreso, senfo verem Aispostar «dar libesdade 3 escravaturas em fim, gue Rel perde a Coroa se vier 20 Brasil (4 (© Brasil nfo devera sr provincia nem parte algumma do seu tertério pode- tia acetar «al designacio. Tae importante quanto a uniZo com Portugal era a preservasfo da unidade interna.o tedor do Rio de Janeiro. O temor da perda dos rnexos interns manifestava-se desde a propagacie da Kevolucio Liberal no Rio de Janeizo.Silvesee Pinheiro Ferra preocupave-se” coma postibilidede de quebra dos lagos provinciais se a Familia Real se ausentasse, 0 que poderia significar a dlissolugao do Brasil e da Monarqula, medo fundad nas agiragbes balanas, [Em janciro de 1822, esas preocupacbes renovaram-se entre o “Corpo de Comércic” €0 "Povo" do Rio de Janeiro, por ocasifo das ordens de regresso de D. Pedro, A partir desta data, anecessidade da unidade estava estampada freqiiente- mente nas paginas do jornal A Malagueta, que de inicio nfo actitava aexistencia de duas Assembléias Legisatvas, com medo da anarquia, dos “ultraeuropeus" ¢ do “ulrz-brasleiros"®. © Reverbero Constimeional Fluminense, dacado de 5 de fevercito de 1822", tentava convencer os europeus ¢ os balanos que nf era um absurdo haver dois “centtos patcais’ para que todos pudeisem usuftuir da NagSo Portuguesa (..} seunidos serernos grades evespeitados: divididos nem seremos Portu- ‘guess, nem Brasicitos Constcucionas. A Menarquia proclamo lberda- dee igualdade; eo Brasil come parte considerdvel da Monarquia, ptoclama estes mesmnos principios, mas quer reunifo, para que mais se estreitem as selagber de Porrugués 2 Portugués, de Reino a Reino, de Provincia 2 Pro- vinci, ede Hemistério a Hemisféio Deveria haver um centro de poder ligado obrigatoriamente ao outro, No respeito liberdade € 8 igualdade, afirmava-se a necessidade da existéncia de ins- tituigbes separadas, uma vez que as Cores néo entendiam as especificidades ame- rleanas, Se em 1821 pregava-sea unifo através da Constituigio; 1822 surgin acres- 50 ‘A treenospe 2 consraueto centando outros objetivos a estes era 0 momento de afirmagio da emanciparéo, nik como separagio polka total, mas come presereagto da ausonemia e des direitos cconémices. A dindmica interna do liberalismo econdmieo, levada as uleimas conseqiitncis, dava primazia 8 vontade de autonomia do eidsdo-proprietério, aque se insurgia consra 2s restigbes jurldicas & sua exfera de etuacio™. Dentio desse contexto, a idéia de um Legislative no Brasil passou a ganar cada vex mais forca®, (© Padre Janudtio de Cunha Barbosa era um entusiasta das Cortes brasileins. Apesardisto, no seu discurso durante 0 sto da cleigio em Santa Rica, nto negara aunidade da Nagao portuguesa. Nos exemplaresdos dias 9« 16 desse mesmo més de julho, os redatores do Reverbere™ baviam e rebatiam a Cana de unidade, que cra. a Cause de Liberlade, No mimer saido no dia 9 ctiticavam as medidas recolonizadoras das Cortes: a falta de atiuudes contra a maranca promovida pelo General Madeira, na Bahia, «2 condenacio 2a governa de Séo Palo, Pregavam a nizo dos brasileizer 20 redor da Conetiruintee da Puncip, fernando os princt pios do Liberalismo. Cabia entao a0 Brasil Iancar as bases da unigo bem compre- ‘endida,respeitados os lcos das dois lados da Monarquia. Erempo de emendarmos os err0s do congress de Lisboa (grifo nosso, para destacar a grafia com miniiscula no originals aproveitemos 0 bem, que reconhecemos itl, e langando os fandamentos para uma justa € honrosa Unido com os Reinos de Portugal e Algarve, fagamos ver 30 Mundo, que o Brasil sabe ser litera, porque o Liberal nto se compadece com of ferros de uma indigna recolonizagéo,(itélicos no original) ‘Continuando com esta mesma légica, em 16 de julho de 1822 diata nfo ser a “Causa do Brasil” dos “éulicos de Poreugal”, nem da faesao dos empzegados pil cos da Corte, tampouco do povo miserdvel. Bla era Causa da uniso, coma eunizo das provincias ao redor do Rio de Janciro, “emporio” que mantinha relagbes comer- siais com Sao Paulo, Minas Gerais ¢ com as provincias do Sul, uma vez que as do Norte tinham “circunstinciasprépria". Tales aludise aos nceresses dos negocian- tes “nortistas", mais inceressados em tornarem-te provincias de Portugal e livrarem- se dos monopélios do Sudeste. Precisavam ser convencides, como os baianos. Nic era outro o raciocinio desenvolvido pelo Correia do Rio de Jancir'®, em gosto. Diaia caber a Assembléia Consticuinte do Brasil mancer ligagtes com 0 Soberano Congresso para definir os pontos do “pacto de Unio des dois Reinos”, sendoilegal 0 contato feito por baionetss... Porranto, no podemos concordar com Emilia Viosti da Costa ter sida a convocagio da Constituinte no Brasil ‘praticamente uma declaracdo de Indepen- "Sen rorrucuis" ou "ser pease"? 51 déncia", nem com a idéia dos Manifestos de agosto, tanto o redigido por Ledo'® {quanto o escrito por José Bonificio™, valerem por “manifestos da Independén- a (O “manifesto” as Nagées, de autoria de José Bonificio, colocava na boca do Principe reiterads jd costumeirasreclamagdes contra asatbicrariedades das Cones Avsibuia# si o nobre designio de proteger 0s portuguests dos dois Reinos, uma vex que seu Pai era prsioneiro em Lisboa e chegaria o dia em que ele proprio sgoveraria a Nagio Portuguesa Jutificava, desta forma, as “medidas justas eels aque estava tomando, Par fim, protestava dianre de “Deus, das Nagdes Amigns ¢ Aliadas” nia desejar cortar os lags de unido fratrnidade, que devem fiver de toda a Naso Portuguesa um s6 Todo Politico bem organizado. Presto igualmente que salva divida e jus reuniso de todas as partes da Monarquia debsixo de vim 26 Rell, ‘Muito menos retfo ainda tinha Nelson W. Sodré em afirmar ter sido o Revérbera “0 6rgio douttinério da Independénci,eriquanto o Carrio lutava pela liberdade poltica®, ou, resumnindo ainda 2 posigSo de uns e outros historiadores, que # luca pela Independéncia darava de fins de 1821, ou das disputas ao redor da convocacio de um Conselho de Procuradores das Provincias ou da Assernbléia Consticuinte® Fica evidente que todos “leram” os termos emtancipanioe independéncia como sindnimas de separagio politica total, com rorpimento de quelquer tipo delago. jsto no aparece com clareza nos papéis da época, fossem folhetos jonals, corves- ondéncias, proclamacées, eta.” enor teos de convo de Asemblia Conse Brisa Proce magi de 1# de junho de 1822 0 Principe dis: Brasileiros e Amigos! A nossa pita estd ameacada por facybes: preparain- se 20 longe ferro para Ihe sesem suas mas agulbosdas(¢0 no da Liberda- de! Que desgragi) E no meio descesaparates, pr6prios dos frecos facio~ so, fzern-se intraduair no scio dos homens que a esti atraigoando todet os dias e rodas as horas. apesar de, pela sua imposcura, parecerem aderents 2 eauea sania da liberdade do Brasil €& sua independéncia moderada pela tunido nacional, que tio cordialmente desejamos. Conhecti 08 ter rmonstros que por todas as vostas Provincias estio semeados ~ 0 Brasil 0 sabe e hes perdoa -, conhecci-os no para os temer mas para os vigiar “Aconsehel aos que ere sistema nfo seguem que ree, porque 0 Brasil 52 ‘A.aseroine e consraucto no abraga senio a honra, 0 nico alvo a que ara € unico distintive que dintingueos seus flhos. Quem die— Brasilia ~ die ~ Portugués prowvere Deus gue quem disese~ Portugués disese Brasileiro Fiemeza, consti cia e intrepider na grande obra comesada. Contai com 0 vosso protetor perpéiuo, que hé de, em emperiho de sua palavea, honra ¢ seus anos no Brasil dara sua vids para que o Brasil nunca mals tornea ser colénia, ners servo, e nel exista um sistema liberal ditado pela prudéncia que tanto caraceriea a nossa amvel pétria, Viva El-Rei Constieucional e Senhor D. Joi VI! Viva a Assembléia Geral Brsileiral Viva a Unio Luso-Brasileira! Principe Regence”. ‘A “causa santa” era ada “iberdade do Brasil ea [da] sua independéncia mo- dereda pela unio nacional’; « “Patra” fia parte da Nacio Portuguesa, como mil vezes se frsava nos meses transcortidos desde a Regeneracio. Nagia tinica correspondia dizer cidados com direitos iguais: “Quem diz ~ Brasileiro ~ diz ~ Portugués —¢ prouvera a Deus que quem dissesse —Porcugués —dissesse Brasle- 10", Os Brasileiros eram “Portugueses; 0 Portugueses deveriam reconhecer os Brasileiros em pé de igualdade. No dia 8 de agosto, o Correia publicava esta prodlamacio, comentando-a. Endossava a idéia dos Brasileiros meiecerem as mesmas regalias dos seus “Proge- vores": eram iguais aos Forcugueses de Portugal ede toda parte do mundo, sen do que as “rivalidades” que se dessjava “inculcar” entre Brasileiros ¢ Portugueses sinham “fundamentos puers, “manejados por Anarquistas, que querem peccur bara Assembléia Geral Contituinte”™* ‘Oe édioe, de ecordo com az pelavres doo redstores, seria motivades pelos Portugueses dz Europa terem sido “vassalos" enquanto os Brasileiros eram “colo~ nos’; naquele memento, que os Brasileiros haviam se livrado da condigio de “co- lonos”, queriam novamence reservar-lhes o lugar de “vassalos". Esta condigéo era inadmissivel. Os Brasileiros nunca tinham negado aos lusitanosa possibilidade de ¢ganhar forcuna, nem mesmo ctculos, comendas de Foro, ete, Muizos sequer dese- javam retomar,e agora, ingratos, pregavam a preponderfncia portuguesa, esque cendo-se que seriam também dominadas. Conclufam aclamando 2 “Familia Luso- Brasileira’, em que “Cidados Livres’ tinham os mesmos sentimentes: no domi nar e no ser dominado™. ‘Assim, a0 longo da primeira metade do ano de 1822, 05 ‘brasileitos” eram os moradores do Brasil, verdadeiros guardiaes do ‘consticucionalismo", e por isso capazes de salvar a Monarquia ¢0 Império. As rivalidades restringiam-se ao Ambi- to maior da politica, da disputa entre paises de uma mesma Nagao pela primazia ‘no Mundo Portugués. Aciravam-sesebrerudo quando se falava em solapae a in- "Sen portucuis" ou "sen peasneiRo"? 33 dependéncia, sindnima da autonomia, e quando se pregavao que entendiam ser volta aos ferro” da sicuagée colonial. Dentro deste contextoinseriam-se osxingamentosracais eas insinuagées de revoltas da populacfo “de cor”, que tratamos anteriormente ¢ que s6 inadvertida mente eram abordsdas como “reais”. Na maioria das vers, eferiam-se As ques tes raciais como invencionices que tinham por objetivo fragiizar 2 auronomia brasileica. Neste sentido, estes discursos psedornacionais encobriam as tenses raciais © medo do haitianismo, que salpica a documentacio, A tetérica era pedagigicae nfo cessou no Sete de Setembro; foi muito além, “Tanto 0 Revérbero quanto 0 Correia continuaram a publicar reflexBes, cartas € artigos combarendo as Cortese pregando a unite. 'No dia 10 de seterbro, o Revérbero ainda discutia a “Causa Brasflica” como unio dos dois hemistéris, preservando a liberdade®®. A 17, reproduzia uma “meméria’ de um escritor cubano que sublinhava © direito & “Causa da Liberda- dl? para toda a América: patia, entio, dessa idéias para exigi of “diceitos do Brasil”, Esteera o mesmo assunto do ntimero sao a 24 de setembro™®. Somen- teem outubo, nas dias 19 8, mencinavaa "Perit em perigo, mas Faia ques to de propor a continuidade das telagbes comerciais com Portug: O Correio dos dias 9,11 € 18 de seembro também feria comentétios sobre a unio; dizia-se decepcionado com as Cortese defendia D. Pedro por ter comvoca- do. Assembleia Constituinte no Brasil, duramente combatide pelo jornal Cars- eto Portugués, Fasia igualmence extraros das sess6es das Cortes reunidas em Lisboa, endo por base 0 Didrio de Govern, ¢ criticava os depatados que quetiam arecolonizacio™, qualificando suas atinades pejorativamente. No dia 3 de ouubro™, reomavan direurso do deputado Moura, que havia anteriormente comentado no mimero do dia 3. Os redatores seafirmavam que no Brasil néo se desejava a Independéncia porque se esperava a “imparcialidade” das Contes com relacfo 20s seus negécios; continuava querendo-sea unio, com reci- procidade de direitos! ‘A leiura dria dos jomais da evidéneia de que as incestezas eram mutas. Parecia ainda estamos sob a barura dem tinico e mesma governo! Nfo se pode, pois, acetar a argumentagio de Nelson W. Sodré, segunda a qual o Revérberoe Corrio nao publicaram noticias sobre a Emancipasdo (separacio total) porque para os seus redatores e partidvios ela ji estava feira desde x Convacagio da Cons- Heine no Brasil ‘Varnhagen ¢ Tobias Monteiro chamaram atengio para o fato da Indepen- éncia nfo ser certa, apésa proclamacio, Ambos resaltzram a dubiedade do ter- mo ¢ comentaram que no Rio de Janeizo se usou as insignias portuguesas por mais dois meses. E se acompanharmos os fatos na cronclogia, vereros medidas 54 ‘Aaperoape en consreugio como a Portaria de 21 de outubro, na qual D. Pedro declarava que 0 camércio continuaria regularmente'®, As hostlidades foram se acentuando aos pouces, a ‘medida que a certeza do toral corte de lcos ia dissipando as dividas dos espiti- tos, Portanto, aé 0 “grito do Ipiranga’ a separagio era tida por coisa de “anar~ quistas", “demagogos” “republicancs’, ou cra vista como plantada pelos deputa- dos portugueses®. Ent, é bom fazermos duas ressalvas antes de piosseguirmos { Pstrmas a anaiara consi danacomaldad brasileira apéso See de © primeizo aspecro a destacaré repetigdo do mesmo discusso a respeito da separasao politica, tanto por parte dos folhetos quanto dos jornais: amesca vinda das Europeus ou reacko As atirudes das Cortes!®, © segundo diz espeitoas ideas “republicanas’. A “tepdbli” era entendida ‘como sindnimo de federalismo, que gerava rebelides, anarquias ¢ desordens por parte da populacéo mitda'™; nfo era considerada um sistema capaz de propiciar 4 descentralizagao desejada. Dest forma, no ezedito fundamenco as afirmagées de autores, como Emilia Viotc da Costa!® ou Cecilia Oliveira!™®, que sustenta- rama existéncia de um forte, atuente ¢ ameagador grupo “tepublicano” no perlo- do da Independéncia an * E claro que existtiam republicanos, contudo, tanto no Revirbere quanto no Correa nfo enconscamos, por parte dos redatores, posrura desfavordvel a Monat quia Constitucional efavordvel & “Repdblica’, Parece-nos flso considericlos“te- publicanos” até o momento das repress a Soares Lishoa, redator do Correia Incomes tmbém a possi de que ee “bens «part de 1823, esi “stutamente” ahandonancln 2s suas propertas e feito alianga com 0 grupo de Nogueira da Gama!”®, ° * ver “Tampouco na leitura dessesjornais encont " paride” —" ramos um “partido” —“composto ‘na sua maioria por elementos de tendéncias mais radicais ¢ democrats, ligados 8 atividades urbanas"!, ou que saisse em defesa dos mais pobres daquela sociedade ~tentando a derrocada de leis tradicionaise endo mudado de lado por eseratégia, cou por meda das reagbes violentas desencedeadas no interior do mercado!” Se Joaquim Goncalves Ledo, Januétio da Cunha Barbosa, José Clemente Pereira, Domingos Muniz Barreto, e outros, foram indiciados como “republica- sos” © “demagogos", tormando-se réus em uma devassa instaurade por Jost pollticas devemos recordar 0 “cima’ daqueles dias, as disputes aa redat do po- dere as acusagio miltuas, Por mais que se possa dizer no ser licito acreditar na defesa de si que faziam os “liberas”!™, que jamais se auto-inctulariam “tepux blicanos", naquelascircustincias ameagadoras, também nao é verosstiil assu- "Sen porTuguls” ou "see sasiteino"? 55 mir osdiscutsoe de seus oponences como “vetdadeitos'. Uns «outros acusavamn~ ‘Adeptos de Joxé Bonificio diziam serem os homens responsveis pela sua sibita queda do Miniseério “rechesdos de vicios. inimigos do Trono”, “percurba- dores do pablico”, aduladores do "Povo ineauta'”,“demacsetas por orgullo", en- tre outras ofensas. KepreseatagBes foram feitas pedindo a sua reintegragso 20 Mi- niscério, juncamente com Martim Francisco e Caetano Pinto Montenegto"S ‘Leda era igualmente acusado de incoerente: ontem manipulava o povor hoje, no intuito de se defender, drigia requerimenta a S.M, incriminando a ‘wurba ‘amorinada’e aribuindo os acontecimentos da Praga do Coméreio a individuos ‘da mais baina plebe”, além de acusar os Milicares!"®, Chamado de “carbondrio” por uma Proclmagio andnima”, assinad por dos C., mas Cujo estilo assem Thava-se ao de José daSilva Lisboa, foi inscado por ela retiar-se da vida pablica, para que voltassem os “Franidins’, Silva Lisboa, além de se dedicar a ataca Revérbero e 0 Corrie, chamando 0s seus redatores de “periodistas populares” ¢ divalgadores dos “falsos Dogmas Politicos do Paroxista de Genebra Rousseau para constituir 0 Povo 0 mais feror dos Tiranos"!8, fazia constantes alusbes a0 norte- americano nos seus escrtos. Segundo ee, Franklin havia tentado conciliar 0 “Es- tado Filho com o Estado Pai"™?, Usave esta imagem atribuindo a si o mesmo papel. Defendia-se, assim, das aeussg6es de absolutista. Afitmava ser um liberal, smas Rousseau, Condorcet, Mirabeau e Mably no eram “seus homens” Mas, se saimos do canfuso contexto de outubro, novembro e dezembro de 1822, onde a disputes pelo poder eram avisadas € as intimidagbes faziam parte do jogo politico comandado por José Bonificio'™, veremos o grupo de Leda posicionar ee placidamente contra 2 “Replica” Séa titulo de exemplo, comemos dois nimeros do Revrbero, um de margo ‘outro de agosto. Em marco motivas nfo faltavam para 0s “carbondrios” ou os “republicanos” tencarem organizar uma rebelifo contra 0 Principe a Monar- ‘quia, Avilez e Divisio Auxiliadora de Portugal eterrorizavam a vida da cidade desde janeiro, exigindo, por meio da fossa ¢ da violencia, o respeito as ordens das Cortes. Das "Bandas de Além-Mar” (Nireréi] ameagavam bombardear 0 Rio de Jancira, desobedeciam as ordens do Principe ¢ faziam de tudo pata, mesmo embatcados, nfo seguir viagem de recom. A situagio comou-se mais constrangedora quando, a 6 de margo, aportou na cidade uma esquadra co- rmandads por Francisco Maximiniano de Sowa. A posiyao de D. Pedra foi cnés- gica, proibindo o desembarque e convidando os soldados portugueses a aderi- tem & Causa da liberdade, ‘Ora, neste momento, o jornal teve uma posicio de apoio incondicional 20 gente. As “ieflexdes" do Revérbero de 26 de margo!™ alertavam que: 56 ‘A.uweroioe e covsraucio ‘Quando a raiva dos Partidos comega a dividir uma Naga é 8 dividir uma Nagao, a verdade, s6li- dos inceresses dos Poves, confunde-e eperde-se na huts conta a pax, ue entdo se desencadeiam.. Diziam que as Cores apertavam os “Feros” querendo acusaros descjosos da eral epblianecomino,dvming a ames eae do Governo": dava-se 0 nome de "Governo Republicano ao Governo da Const tipo, 20 Governo Representative" Em agosto, asus posigfo era ainda mais clara. De acordo com o que pensa- ‘vam, ofrecam uma visto dos ics "patidos’quefacionavam a unidade de vors ¢ aunito, Listavam os “epublicanos", mas nfo fasiam causa com eles, Muito pelo contritio, fatiam-lhes critica: os filésofos do séeulo XVIII imaginaram + perfecibilidade da natuzeza humana na “figura do ponto geoméerica”, contudo, alles igualdade (usadas no texto com maitiseula e miniscule, respecti- vvamente) absolutas entre os homens cram “quimera”perigosa para toda a enced ‘mem nio sabia caminhar pela meio, os extremos ers perigosos podendo levar & “iensindade’ “argu, 20 “despots eh uct’ A Desc end tin & Aristocracia esta 2 Tirana, A “vireude” deveti sera base da Repablicas segundo Montesquicu, poréim, devido & imensidio do territério brasileco, as de-

Você também pode gostar