Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1 INTRODUÇÃO
1
Graduada em Comunicação Social – Jornalismo (UFMA). Especialização em Políticas Públicas e
Projetos Sociais (SESC Santo Amaro), mestranda do Programa de Pós-Graduação em Políticas
Públicas (UFMA).
visibilidade têm maior probabilidade de se tornarem objeto da atenção de grande parte da
sociedade, incluindo decisores políticos, que podem ou não fazer algo em relação a eles.
Para compreender essa relação, partimos do entendimento que existe um
processo, ciclo ou movimentos de políticas públicas cuja dinâmica da correlação de forças
sociais se expressa no atendimento ou não de suas demandas pelo Estado (RUA, 1997;
SILVA, 2013). Nesse sentido, o processo das políticas públicas é complexo, com muitas
variáveis e múltiplas dimensões, das quais participam diversos sujeitos, orientados por
diferentes racionalidades, que tem maior ou menor influência em determinados momentos
do ciclo.
A maioria dos autores (RUA, 1997; SILVA, 2013) menciona a mídia como sujeito do
processo de formulaçao das políticas públicas (policy-making process) e tendo influência
principalmente na formação da agenda governamental. Outros estudos (CAPELLA, 2015)
percebem a atuação da mídia durante todos estágios do processo, desde a entrada dos
problemas na agenda governamental, ao destaque dado aos sujeitos envolvidos, à
visibilidade de determinadas alternativas de solucionar o problema, ao publicizar o
desempenho de uma política em curso e mesmo após a sua implementação.
Fato é que em uma sociedade fortemente mediatizada, os problemas (issues) de
alguns sujeitos precisam de visibilidade para se tornarem uma questão social e assim
entrarem na agenda pública (public agenda-setting) chegando a influenciar decisores
políticos (policymakers) e, assim, passar para a agenda governamental ou institucional.
(MCCOMB, 2002; SILVA, 2013). Se a mídia tem capacidade de influenciar em políticas
públicas, cabe problemas as condições dos sujeitos que disputam a ação governamental de
terem acesso aos meios de comunicação e impulsionarem a entrada de seus problemas na
agenda pública e agenda governamental.
E aqui temos um primeiro dever, distinguir agenda pública, midiática e
governamental, analisando criticamente a inter-relação entre elas, para então, revisar como
alguns autores identificam a participação da mídia no ciclo de políticas públicas.
2
“mass media may not define the nature or direction of policy change, but can certainly steer attention
towards certain policy domains over other”.
3
“involves “select[ing] some aspects of a perceived reality …in such a way as to promote a particular problem
definition, causal interpretation, moral evaluation, and/or treatment recommendation” (Entman 1993: 52)”
sobre enquadramento argumenta que a forma como uma questão é relatada influencia na
opinião que as pessoas terão sobre ela. O enquadramento pode omitir ou obscurecer
aspectos, abordar a questão sob valores morais ou emocionais, culpabilizar ou
responsabilizar indivíduos ou setores, influenciando a opinião pública sobre a prioridade do
problema e orientação da política a ser desenvolvida. O enquadramento feito pela mídia
sobre uma questão pode ser reforçado ou não pelos sujeitos políticos de acordo com seus
interesses. É comum que haja disputa de sentidos no encadeamento das narrativas, embora
nem todos tenham espaço na mídia hegemônica para se expressar.
A agenda pública, por sua vez, é composta pelos problemas percebidos pelo
público como relevantes. De fato, uma variedade de estudos sobre agenda pública tem
buscado compreender os efeitos da mídia na opinião pública. McCombs e Shaw (1972) ao
analisarem campanhas eleitorais nos Estados Unidos evidenciaram que os meios de
comunicação influenciavam os temas que se tornaram mais importantes pelos eleitores.
Alguns dos chamados efeitos da mídia na agenda governamental estão
relacionados ao processo de produção da notícia que envolve:
.
Agora que temos uma noção sobre os processos de políticas públicas a partir do
modelo de Ciclo de Políticas Públicas e Múltiplos Fluxos, iremos caracterizar a participação
dos meios de comunicação como sujeitos desse do processo, a partir da análise de cada
fase de políticas públicas, sem perder de vista que o jogo de interesses e disputas compõem
os movimentos de políticas públicas:
Como se vê, a mídia assume papel significativo no que se refere à visibilidade dos
problemas sociais e pode criar espaços de acompanhamento das políticas públicas,
sobretudo no momento de sua formulação e da implementação (SILVA et al, 2008, p. 98-
99).
.
4
“media can draw sustain public attention to particular issues. They can change the discourse around a policy
debate by framing or defining an issue using dialogue or rhetoric to persuade or dissuade the public. Media can
establish the nature, sources, and consequences of policy issues in ways that fundamentally change not just the
attention paid to those issues, but the different types of policy solutions sought. Media can draw attention to the
players involved in the policy process and can aid, abet or hinder their cause by highlighting their role in
policymaking. Media can also act as a critical conduit between governments and publics, informing publics
about government actions and policies, and helping to convey public attitudes to government officials”.
econômico, político, social e cultural de uma sociedade historicamente determinada” (SILVA,
2013, p. 20). Essa elaboração, ao nosso ver, situa a posição do Estado, mas também
evidencia a existência de outros sujeitos com interesses e racionalidades diversas. Da
mesma forma, não generaliza essa compreensão tendo em vista considerar as
peculiaridades de cada formação social.
De acordo com levantamento do projeto Os Donos da Mídia5 (INSTITUTO DE
ESTUDOS E PESQUISAS EM COMUNICAÇÃO – EPCOM, 2009), seis redes privadas
(Globo, SBT, Record, Band, Rede TV e CNT) dominam o mercado de televisão no Brasil.
Essas redes controlam, em conjunto, 138 dos 668 veículos existentes (TVs, rádios e jornais)
e 92% da audiência televisiva. A mesma pesquisa revela que, apesar de o Artigo 54 da
Constituição Federal vedar a deputados e senadores vínculo em empresa concessionária de
serviço público, 271 políticos são sócios ou diretores de 324 veículos de comunicação.
A mídia além do poder político é influenciada pelo capital, que internacionalizado
segue um padrão de negócios de “convergência tecnológica”, no qual grandes empresas
produzem notícias, conteúdos de entretenimentos, equipamentos e tecnologias, adotando
nomes diferentes para cada um desses negócios e os disponibilizam em vários suportes.
Aparentemente existe um leque de opções, mas na verdade o que há é uma
hiperconcentração da produção midiática e, portanto, da representação do mundo social.
Esse modelo neoliberal de organização de mídia possibilita que duas dezenas de
conglomerados globais dominem a produção ideológico-cultural e simbólica da humanidade,
colocando-se ao mesmo tempo como agente discursivo e econômico (MORAES, 2003).
Para Urbinati (2000 apud Miguel, 2002, p. 161) “na democracia representativa a
exclusão política toma a forma de silêncio, esse silêncio não é apenas a ausência de um
representante no parlamento. É a ausência de voz na disputa pelas representações do
mundo social, que se trava nos meios de comunicação”.
Nesse sentido, SOUZA (2006, p. 80) lembra que Cobb e Elder (1971) estavam mais
interessados nos movimentos de conflito e disputa do processo da formação da agenda
governamenal, uma vez que “diferentes grupos estariam em posições desiguais, ou seja,
nem todos (…) teriam as mesmas oportunidades para colocar suas demandas na agenda”.
Ao se pensar a relação entre essas agendas percebemos que os setores
populares dependem mais de sua própria intervenção no espaço público para incluir seus
tema na agenda pública, enquanto setores da elite tem maior representação e acesso aos
meios de comunicação e governo. De maneira que as elites, no caso brasileiro política,
5 Idealizado pelo jornalista Daniel Herz na década de 1980 para pesquisar e dar visibilidade ao processo de liberação de
concessões públicas de rádio e TV, durante o mandato do presidente José Sarney. A iniciativa foi ampliada e atualizada, e por
meio do Instituto de Estudos e Pesquisas em Comunicação (Epcom), pela primeira vez foi possível divulgado a relação de
políticos que eram proprietários e sócios de empresas de mídia.
econômica e religiosa, introduzem suas questões na agenda midiática ou governamental, ou
simbioticamente em ambas.
Por conseguinte, aos movimentos sociais restam os meios alternativos de
comunicação e os atos públicos, com menor alcance, para dar visibilidade às suas
demandas. Segundo RUA (1998, p.5) “agenda pública é influenciada, em parte, pela
oportunidade de difundir seus posicionamentos por meio da mídia, o que favorece, quase
sempre, sujeitos vinculados ao poder público e à iniciativa privada”.
Borges (2010, p.143) destaca que frente “as desigualdades sociais de acesso ao
campo jornalístico e restrições na comunicação pública”, a capacidade do jornalismo ou da
mídia agendar o debate público agride a democracia. Assim, Faria (2003, p. 27) descreve o
espaço político brasileiro como “camuflado pela barganha e mitigado pela prevalência das
relações de tipo clientelista, sendo reduzido o papel do argumento e do convencimento”, o
que, ao nosso ver, poderia ser alterado, dentre outras mudanças, com a garantia da
pluralidade de ideias nos meios de comunicação a partir de uma nova forma de conceber
este sistema..
3 CONCLUSÃO
_____. A trajetória dos estudos sobre a agenda de políticas públicas. Teoria e Pesquisa
Revista De Ciência Política.vol. 24, n. 2, p. 4-17, jul./dez. 2015
DYE, Thomas R. Understanding public policy. 11th ed. USA, Upper Saddle River, New
Jersey. Pearson Prentice Hall, 2008.
MCCOMBS, Maxwell. The agenda-setting role of the mass media in the shaping of
public opinion. Mass Media Economics 2002 Conference, London School of Economics.
Disponível em < http://sticerd. lse. ac. uk/dps/extra/McCombs. pdf. 2002.> Acesso em 13
nov. 2016.
MATTOS, Ruben Araujo de, BAPTISTA,Tatiana Wargas de Faria. Orgs. Caminhos para
análise das políticas de saúde – 1.ed. Porto Alegre: Rede UNIDA, 2015.
MIGUEL, L. F. 2002. Os meios de comunicação e a prática política. Lua Nova, São
Paulo, n. 55-56, p. 155-184.
RUA, Maria das Graça. Análise de políticas públicas: conceitos básicos. Manuscrito,
elaborado para el Programa de Apoyo a la Gerencia Social en Brasil. Banco Interamericano
de Desarrollo: INDES, 1997.
Soroka, S., Lawlor, A., Farnsworth, S., & Young L. (2013). Mass media and policy making.
In Wu Xun, W., Ramesh, M., Howlett, M., Fritzen S., & Araral, E. (Eds.), Routledge handbook
of the policy process, Part IV, Chapter 16 (pp. 204 - 215). New York: Routledge.