Relatos de Sala de Aula

A Pedagogia de Projetos no Ensino de Química -

O Caminho das Águas na Região Metropolitana do Recife:
dos Mananciais ao Reaproveitamento dos Esgotos

Petronildo Bezerra da Silva, Vilma Sobral Bezerra, Ailton Grego e Lúcia Helena Aguiar de Souza

Este trabalho procurou utilizar a pedagogia de projetos para ensinar conceitos químicos a partir do tema “água”.
Por meio de atividades teóricas e práticas e visitas de campo, foi possível organizar melhor a aprendizagem dos
alunos a partir das questões e discussões que foram surgindo com o desenvolvimento do projeto. Podemos dizer
que, por meio dessa iniciativa, os alunos demonstraram um interesse maior pela Química e puderam construir
relações conceituais mais efetivas.

conceitos químicos, projetos de ensino, aprendizagem

Recebido em 15/01/07, aceito em 06/04/08

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A
necessidade de contextua-
lização, para proporcionar
uma compreensão maior dos
conceitos químicos, bem como o
desenvolvimento de habilidades e
competências, para que o aluno
possa tomar decisões conscientes,
constituem os elementos fundamen-
tais das novas Diretrizes Curriculares
Nacionais (Brasil, 1999). Como forma
de concretizar essas orientações na
prática dos professores de Química,
este trabalho procurou seguir a cha-
mada pedagogia de projetos, a qual
se tornou, na pesquisa em Ensino
de Ciências, um referencial holístico-
integrador do trabalho interdisciplinar,
além de ser um caminho que pode
trazer melhorias no processo de
ensino-aprendizagem (Hernandez e
Ventura, 1998; Menezes e Faria, 2003;
Arroio e cols., 2005).
Adotamos projetos de ensino
como
[...] propostas pedagógicas
disciplinares ou interdisciplina­
res, compostas de atividades
A seção “Relatos de sala de aula” socializa experiências e construções vivenciadas nas aulas de Química ou a elas
relacionadas. Neste número, a seção apresenta três artigos.
a serem executadas pelos alu­
nos, sob a orientação do pro­
fessor, destinadas a criar situa­
ções de aprendizagem mais
dinâmicas e efetivas, atreladas
às preocupações da vida dos
alunos pelo questionamento e
pela reflexão, na perspectiva de
construção de conhecimento e
da formação para a cidadania e
para o trabalho. (Paulino Filho
e cols., 2004, p. 266)
Em sua concepção, a pedagogia
de projetos sugere romper com as
formas tradicionais de organização
curricular, oferecendo uma alternativa
à maneira rígida e quase intransponível
de como as disciplinas e os conteúdos
estão presentes nos livros didáticos
e no planejamento dos professores.
Ao trabalhar com temas, os projetos
abrem uma perspectiva real para que
o professor dialogue com os alunos e
abra mais espaço no seu planejamen-
to para que o aluno construa a sua
autonomia, sendo, de fato, um sujeito
ativo da sua aprendizagem.
Acreditando que é possível ensi-
nar química de forma integrada, este
trabalho aborda o tema “ÁGUA” como
organizador dos conteúdos de quími-
ca, enfatizando os aspectos sociais,
ambientais, econômicos, tecnológi-
cos e conceituais necessários para
o entendimento do tema relacionado
às questões locais e globais.
Nesse sentido, este trabalho tra-
ta os conceitos e as aplicações do
conhecimento químico por meio do
projeto de ensino: “O caminho das
águas na região metropolitana do
Recife: dos mananciais ao reapro-
veitamento dos esgotos”, a partir de
considerações sobre a concepção do
que é uma bacia hidrográfica, escas-
sez e poluição das fontes hídricas, os
sistemas de tratamento das águas,
dos esgotos e a tecnologia atual
para o reaproveitamento das águas
residuárias. Com isso, esperamos
substituir a visão “neutra” do ciclo da
água, contada nos livros didáticos de
ciências. Queremos a partir dos re-
sultados desse trabalho poder contar
esse ciclo de uma forma diferente, no
qual é possível considerar fundamen-
talmente a intervenção humana nos
caminhos naturais das águas.

QUÍMICA NOVA NA ESCOLA A Pedagogia de Projetos no Ensino de Química N° 29, AGOSTO 2008
 Além disso, o trabalho com pro- bairro, onde a escola está localizada, como leitura comentada de textos,
jetos de ensino nos mostra a possi- é dotado de uma boa infra-estrutura: debate do vídeo sobre a bacia hidro-
bilidade de colocar ruas calçadas, cole- gráfica do Rio Pirapama – produzido
em prática e avaliar ta de lixo, posto de pela Companhia Pernambucana dos
o trabalho do profes- Ao trabalhar com temas, saúde, água enca- Recursos Hídricos e Controle da
sor frente à maneira os projetos abrem uma nada, rede coletora Poluição Ambiental de Pernambuco
como ele promove a perspectiva real para que o de esgotos, casas (CPRH) – para os alunos formularem
progressão concei- professor dialogue com os espaçosas e de alve- as suas idéias sobre o que é uma
tual do tema para a alunos e abra mais espaço naria. Os alunos da bacia hidrográfica e como se formam
aprendizagem dos no seu planejamento para escola provêm das os mananciais de abastecimento
alunos, a busca de que o aluno construa a sua comunidades circun- público das cidades. Abordou-se
conhecimentos inte- autonomia, sendo, de fato, vizinhas que tem um também sobre “o tratamento das
gradores no ensino um sujeito ativo da sua retrato social avesso águas de abastecimento” mediante
das ciências natu- aprendizagem. ao bairro. O projeto os sistemas convencionais de trata-
rais, as relevâncias foi desenvolvido para mento usando o vídeo da revista Quí-
e carências que certamente surgem esses alunos, mesmo com todas as mica Nova na Escola, tema “Água”
quando o professor se põe a trabalhar adversidades e alegrias da vida. Os (QNEsc, 2005) e realizando exercícios
numa perspectiva de construção de conteúdos foram trabalhados de ma- com os alunos.
conhecimento, a partir da organiza- neira integrada, partindo de um tema Mostrou-se a possibilidade de
ção de conteúdos por projetos de organizador mais amplo, fazendo-se percebemos a água, seus usos e
ensino. diferenciação entre os conceitos ge- constituições, por meio de diversos
Os objetivos formulados a partir rais até chegar aos mais específicos. tipos (aqui entendidos como solu-
da proposta foram: Esses conceitos estão organizados ções) - água de torneira, de chuva,
1. Utilizar informações técnicas em um mapa conceitual mostrado de esgoto, de rio, filtrada, fervida,
para subsidiar o conhecimento na Figura 1. mineral, do mar, de coco, ardente,
dos diversos aspectos necessá- O projeto teve uma duração total benta, dentre tantas outras que fazem 15
rios à compreensão do tema; de 26 horas/aula efetivas e foi execu- parte da linguagem e do cotidiano
2. Trabalhar o tema para sensibi- tado durante os meses de setembro, dos alunos. Procurou-se também
lizar a comunidade estudantil outubro e novembro do ano letivo de desmistificar as velhas atribuições
para a importância da preser- 2005. das famosas características organo-
vação de recursos hídricos com A Tabela 1 mostra uma síntese lépticas da água (incolor, inodora e in-
enfoque na educação ambien- dos conteúdos e das atividades do sípida), ainda presentes em livros de
tal; projeto. ciências desde as series iniciais e que
3. Usar o contexto dos sistemas tanto os alunos conhecem. As dis-
de tratamento das águas de Dinâmica e conteúdos para as discussões cussões visavam um esclarecimento
abastecimento e das águas re- A dinâmica de sala de aula foi sobre o tema abordado, exemplos e
siduárias para ensinar conceitos coordenada por meio de atividades formas de aplicação do conteúdo, as
químicos de forma integrada à
estrutura cognitiva dos alunos e Tabela 1: Síntese dos conteúdos e das atividades do projeto.
à sua realidade;
4. Conhecer os caminhos per- Conteúdo/atividade Hora/aula
corridos pelas águas na região Bacia hidrográfica/formação de mananciais de abastecimento. 3
metropolitana do Recife, dos
Tratamento das águas. Vídeo, discussão, atividades: exercícios
mananciais à reutilização dessa individuais e coletivos.
3
água na agricultura e nas diver-
Tipos de água: características físicas, químicas e biológicas.
sas atividades industriais; 3
Exercícios.
5. Perceber a importância e as
conseqüências da intervenção As águas de abastecimento e a sua importância sanitária: discu-
tindo as dimensões sociais, políticas, econômicas e tecnológicas
humana em seus aspectos 6
do tratamento das águas de abastecimento. Leitura comentada,
sociais, econômicos, tecnológi- discussão dos problemas socioambientais envolvidos.
cos, histórico e, nos processos
Visita à Estação de Tratamento de Água e à Estação de Trata-
naturais, do ciclo hidrológico.
mento de Esgotos. Observações e explicações técnicas sobre os 4
Abordagem metodológica processos envolvidos.
Solubilidade. Discussão das observações de campo. Experimen-
Os conteúdos de ensino foram to, discussão dos resultados. Exercícios.
3
trabalhados com uma turma da 3ª
Exposição dos resultados do projeto. Feira de ciências. 4
série do Ensino Médio de uma es-
cola pública da cidade do Recife. O Tempo total do projeto 26

QUÍMICA NOVA NA ESCOLA A Pedagogia de Projetos no Ensino de Química N° 29, AGOSTO 2008
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Figura 1: Mapa conceitual.

dimensões sociopolítica, econômica

e tecnológica e a conscientização dos
alunos para conhecer e entender a
problemática e assim promover um
pensamento crítico diante das atuais
questões ambientais.
Sistematização dos conteúdos
Para sistematização dos conte-
údos, foram utilizadas questões de
dois livros didáticos – Química para o
Ensino Médio (Mortimer e Machado,
2002) e PEQUIS-Projeto de Ensino Figura 2: O caminho das águas estudado.
de Química e Sociedade (Santos e
cols., 2005) –, outras elaboradas pelo Esgoto de Peixinhos em Olinda, na de esgoto, onde é devolvida ao Rio
professor e discussões em sala. região metropolitana do Recife. To- Beberibe com reduzida carga polui-
dos os três pontos ficam próximos à dora. A Figura 2 mostra os caminhos
Atividades de campo escola (cerca de 5 km), o que facilitou percorridos pelas águas.
Foram realizadas visitas à Estação o trabalho dos alunos para que co- Fundamentalmente procurou-se
Elevatória de Caixa D’água (EE-Caixa nhecessem as intervenções humanas contar um ciclo da água no qual
D’água), que se constitui num ponto e o caminho que as águas fazem do os alunos pudessem identificar as
de captação de água, da Compa- ponto de captação, passando pelo intervenções humanas nesse ciclo
nhia Pernambucana de Saneamento sistema de tratamento e distribuição - poluindo e despoluindo as águas -,
(COMPESA), no Rio Beberibe; à Es- em que a água é utilizada para di- criando assim novos conhecimen-
tação de Tratamento de Água do Alto versos fins e o seu encaminhamento tos sobre os fenômenos naturais e
do Céu; à Estação de Tratamento de para uma estação de tratamento antrópicos.

QUÍMICA NOVA NA ESCOLA A Pedagogia de Projetos no Ensino de Química N° 29, AGOSTO 2008
 Os resultados e as observações monstravam interesse pelo conteúdo segundo investigações de Hernandez
das visitas foram anotados pelos alu- nem tão pouco contribuíam para o de- e Ventura (1998).
nos para posterior discussão em sala senvolvimento de atividades tradicio- Nas discussões em sala, as ob-
de aula. Essas anotações poderiam nais de ciências feitas em sala de aula. servações dos alunos refletiram as
ser feitas na forma de relatórios. A partir da proposta apresentada e suas preocupações com relação à
de todas as atividades desenvolvidas preservação dos recursos hídricos
Atividades de laboratório com o projeto, o comportamento, o disponíveis no Recife, que é uma
Foi proposta à turma, a partir das interesse e a motivação para a apren- cidade que sofre sérios problemas
informações coletadas em campo, dizagem da disciplina mudaram sen- de abastecimento devido à escassez
tentar buscar explicações para as sivelmente. Além disso, as estratégias natural em tempos de longas estia-
diversas características da água montadas para tratar o tema permiti- gens, à má distribuição e uso da rede
verificadas de forma ram a ampliação dos de abastecimento, bem como sofre
macroscópica. Então conhecimentos quí- com a falta de obras de engenharia
foi realizado um teste Acreditando que é possível micos e elaborações que possibilitem a captação de outras
de solubilidade de ensinar química de forma mais consistentes fontes hídricas.
materiais como sal, integrada, este trabalho por parte de alguns Não podia ser esquecida nesse
açúcar, amido e giz aborda o tema “ÁGUA” alunos. Outros se ponto toda a problemática social que
para a discussão do como organizador dos apresentavam num surge pela falta de água na vida dos
conceito de solubili- conteúdos de química. processo que pode- alunos e dos seus familiares como
dade, formação de ríamos dizer inicial de acordar mais cedo para esperar a
soluções, interações soluto-solvente. construção de conhecimentos, mas chegada da água nas torneiras, per-
Numa proveta de 50 mL com água mostrando um grande potencial de correr distância em morros e ladeiras
de torneira em temperatura ambiente articular as suas idéias prévias com os para buscar água em locais já dispu-
(28oC ± 2oC), adicionou-se, separa- conteúdos científicos propostos. Na tados por outras pessoas.
damente, cerca de 1g (uma pitada) de discussão dos relatórios, as observa- Na estação de tratamento dos
sal, açúcar, giz e amido na forma de ções dos alunos, que foram anotadas esgotos, causou-lhes impressão a 17
bolacha do tipo cream cracker. Com durante as visitas, possibilitaram o grande quantidade de esgotos que
um bastão de vidro, misturaram-se os surgimento de problemas de interes- chega, as características apresenta-
materiais. Os alunos fizeram as suas se coletivo unicamente suscitado a das, como cor e odor, bem como as
observações em grupo e, em con- partir de tal abordagem. Por exemplo, transformações sofridas pelas águas
junto com o restante da turma, foram quando estávamos discutindo sobre residuárias durante o processo aeró-
discutidas as observações e proposto a constituição química das águas bio empregado.
a elaboração de um modelo pedagó- que estudamos, debateu-se sobre a As possibilidades de reaproveita-
gico para explicar o fenômeno. concentração do oxigênio atmosfé- mento das águas residuárias não pu-
Deve ser salientado que o estudo rico e a importância deram ser presencia-
do conteúdo e todas as atividades da preservação das das nas atividades de
propostas para a turma não se esgo- fontes de fornecimen- Os conteúdos foram campo, porém foram
tavam na finalização de cada etapa. to desse gás para a trabalhados de maneira discutidas em sala
Para as aulas subseqüentes, foram Terra. Muitos alunos integrada, partindo de de aula, mostrando a
propostos mais discussões, desafios, acreditavam que a um tema organizador tecnologia anaeróbia
pesquisas, exercícios no intuito de maior quantidade de mais amplo, fazendo-se do tratamento desses
envolver a turma no questionamento oxigênio presente no diferenciação entre os resíduos (Guimarães
das suas idéias prévias e construção ar atmosférico pro- conceitos gerais até chegar e Nour, 2001) e as ati-
das novas idéias científicas. vinha das reservas aos mais específicos. vidades econômicas
A culminância do projeto aconte- florestais e das plan- para as quais mais
ceu com a apresentação dos resulta- tas e árvores presentes nos nossos se desenvolvem os sistemas de rea-
dos na feira de ciências da escola. quintais e não dos oceanos e fontes proveitamento dos esgotos que são
de águas doces, com atividade fito- a agricultura e as indústrias (Campos,
Resultados e discussões plactônica, como afirmam as ciências 1999). Com isso, os alunos puderam
O uso da pedagogia de projetos ambientais. Foi proposto então para compreender o ciclo hidrológico sob
no tratamento de conceitos químicos os alunos um desafio: pesquisar qual a os aspectos dos diversos usos que o
possibilitou uma comunicação e principal fonte de oxigênio para a vida homem faz, poluindo e tratando, da
participação mais efetiva em sala de na terra e como é produzida. O resulta- captação a reutilização ou redistribui-
aula dos alunos envolvidos. A turma, do foi revelado na aula seguinte. Assim ção ao seu manancial de origem.
apesar de não ser numerosa, tinha, os problemas não foram levados aos Outro resultado importante que
antes da aplicação do projeto, um alunos e sim nasciam deles a partir devemos salientar é que o trabalho
comportamento muito disperso com da dinâmica estabelecida em sala com projetos de ensino enriqueceu
relação à disciplina Química: não de- de aula, o que é um fato importante a apresentação dos dados pelos

QUÍMICA NOVA NA ESCOLA A Pedagogia de Projetos no Ensino de Química N° 29, AGOSTO 2008
 alunos na feira de Uma das dificul- aberta e livre de amarras preestabe-
conhecimentos da O uso da pedagogia dades encontrada lecidas em manuais de metodologias
escola. Houve as- de projetos no para a realização de ensino. Longe de ser a redenção
sim uma prática de tratamento de conceitos do projeto situou-se de todos os problemas de ensino/
ensino diferenciada, químicos possibilitou na disponibilidade aprendizagem nas aulas de química,
construída coletiva- uma comunicação e de ter uma logística acreditamos que a pedagogia de
mente, resultando participação mais efetiva maior para a realiza- projetos é um bom caminho para
em aprendizagem de em sala de aula dos alunos ção do trabalho de responder aos desafios cotidianos do
conteúdos didáticos, envolvidos. campo. Gostaríamos professor que procura refletir a sua
como conseqüência de ter contado com prática de ensino e buscar alternati-
de um caminho percorrido com os a participação de mais professores vas para a sua realidade pedagógica,
alunos ao longo de um semestre (o convite foi feito) para melhorar a ao mesmo tempo em que se torna
letivo. abordagem dos conteúdos, trazendo também uma maneira de colocar
Vale ressaltar que nessas ativida- a contribuição de outras disciplinas em prática as teorias de orientação
des o experimento foi trabalhado com como História, Geografia, Física, Ma- construtivista.
um fator problematizador. Assim per- temática. Assim, a ação ficou restrita
mitiu o embate entre as idéias prévias à disciplina de Química. Outra dificul- Considerações finais
dos alunos e os conceitos científicos dade diz respeito a um apoio maior da Usar diversos contextos para
usados na explicação do fenômeno. A direção da escola na luta por recursos ensinar uma disciplina tão abstrata
partir da observação do experimento, para bancar as atividades do projeto. como é a Química não parece ser
organizaram a solubilidade dos ma- Ressalta-se também que foi pedido uma tarefa fácil para os professores
teriais em ordem decrescente. Con- apoio ao Setor de do Ensino Médio. A
firmaram alguns valores na tabela de Desenvolvimento do química do cotidia-
solubilidade (36,0 g/100 g água para Ensino da Secretaria Nas discussões em sala, no é muito exigente.
o cloreto de sódio e 33,0 g/100g água de Educação do Es- as observações dos Exige uma postura
18 para o açúcar). Uma ligeira turvação tado de Pernambu- alunos refletiram as suas diferente do profes-
na parte sobrenadante da solução co, mas não tivemos preocupações com relação sor, um tratamento
foi observada pelos alunos, o que qualquer resposta à preservação dos recursos conceitual diferente
indicou uma pequena dissolução do ao nosso pedido na hídricos disponíveis no e atitudes motivado-
amido nas condições de teste. O giz época. Assim enten- Recife. ras. Pode-se dizer
não turvou a solução, permanecendo demos que é preciso que essa análise é
praticamente insolúvel. Os alunos o professor dispor de um esforço pes- fruto de inúmeras pesquisas e tra-
tiveram dificuldades em representar soal para vencer as adversidades que balhos desenvolvidos no âmbito do
o modelo abstrato das interações se colocam a partir do momento em Ensino de Química, que verificaram
entre soluto/solvente na formação que procura melhorias no processo a ineficácia e a inutilidade de tratar
das soluções. Baseavam a sua idéia de ensino/aprendizagem. Da parte do os conceitos químicos de forma frag-
de formação de soluções a partir da professor, há um compromisso com mentada, longe de qualquer possibi-
observação concreta da dissolução a aprendizagem dos alunos. lidade de correlação tão necessária
ou suspensão dos materiais no meio Podemos dizer então que a peda- ao entendimento da ciência e da vida.
aquoso. A partir do resgate dessas gogia de projetos se presta a várias O tratamento do tema nas situações
observações, o professor explicou a finalidades didático-pedagógicas: de estudo proporcionadas em sala
solubilidade dos materiais em função é um importante instrumento para de aula sem dúvida aumentou a par-
de suas características microscópicas organização e sistematização de ticipação e o interesse dos alunos,
(Echeverria, 1996). conteúdos; permite a constituindo-se assim num caminho
Apesar da dificul- organização curricu- bastante fecundo para a prática de
dade que é para o As estratégias montadas lar a partir de temas Ensino de Química.
professor articular para tratar o tema relevantes para o alu- Para muitos professores, o en-
bem o trinômio con- permitiram a ampliação no; o próprio aluno sino de química deve ser limitado
teúdos-atividades- dos conhecimentos torna-se responsável ao trabalho de conteúdos específi-
avaliação em sala químicos e elaborações pela sua aprendi- cos, no qual não se faz necessário
de aula, os alunos mais consistentes por parte zagem a partir do dar uma dimensão social, política,
puderam evidenciar de alguns alunos. momento em que econômica e tecnológica ao que
e elaborar conceitu- propõe conteúdos o aluno aprende. É justamente na
almente um “novo” ciclo hidrológico, para pesquisa e discussão, facilitan- falta de atribuição de significados
com os erros e acertos humanos no do a construção de conhecimentos; que reside o desestímulo para a
trato com a natureza, o que nós con- evidencia uma clareza de informa- aprendizagem.
sideramos de grande importância na ções que podem ser trabalhadas Na Educação, não existem cami-
construção do conhecimento. pelo professor de uma forma bastante nhos ou fórmulas certas, garantidas

QUÍMICA NOVA NA ESCOLA A Pedagogia de Projetos no Ensino de Química N° 29, AGOSTO 2008

e prontas. Sendo assim, na sua prá-
tica pedagógica, o professor pode
construir os seus próprios caminhos
e alicerces, procurando dar sentido,
significado e motivação aos seus
conteúdos. O mundo-vida dos alunos
é cheio de significados: Quem sabe
Referências
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de Química Nova na Escola, São Paulo,
Abstract: Pedagogy of projects in the teaching of chemistry - the water paths in the great Recife: from springs to the re-use of sewerage waters. This work aims to use the pedagogy of projects for
teaching chemical concepts from the theme “water”. Theoretical and practical activities as well field work were done in order to provide the students a better comprehension of the subject and to answer
questions and discussions that appear along the development of the project. This methodology results in benefit for the students as they got interest in chemistry and understood better the concepts.
Keywords: chemistry concept, project of teaching, learning.
Evento
4º Fórum de Coordenadores de
Cursos de Graduação em Química
A Sociedade Brasileira de Química e o Conselho Regio-
nal de Química da 4ª Região convidam os Coordenadores
de Cursos de Graduação em Química para participarem
do 4º Fórum Nacional de Coordenadores de Cursos de
Graduação em Química, a realizar-se nos dias 13 e 14 de
outubro de 2008.
O objetivo principal do evento é assegurar um espaço
de integração e de discussão dos Cursos de Graduação
em Química.
Em outubro de 2005, a Sociedade Brasileira de Química,
SBQ, promoveu o 1º Encontro Nacional de Coordenadores de
Cursos de Graduação em Química como forma de assegurar
um espaço de discussão e integração dos Cursos de Gradua-
ção em Química. A partir do 2º Encontro, em 2006, decidiu-se
que este passaria a se organizar como um Fórum.
QUÍMICA NOVA NA ESCOLA
Educação da UFPE. Vilma Sobral Bezerra, licenciada
esse mundo não tem uma boa história em Química e mestre em Bioquímica pela UFPE, é
para contar. professora de Bioquímica da Faculdade São Miguel-
Recife-PE. Ailton Grego, licenciado em Química pela
UFRPE, é técnico em Química da TRANSPETRO-
Petronildo Bezerra da Silva (petronildo@ce.ufpe.br), PETROBRÁS em Mossoró-RN. Lúcia Helena Aguiar
licenciado em Química e mestre em Tecnologia Am- de Souza (in memoriam), engenheira química e mestre
biental e Recursos Hídricos pela UFPE, é professor em Química pela UFPE, foi professora titular do
de Metodologia do Ensino de Ciências do Centro de Departamento de Química da UFRPE.
Edição Especial, p.19-30, maio 2001. QNEsc – Química nova na Escola.
HERNANDEZ, F. e VENTURA, M. A Vídeos temáticos. Tema Água, v. 01, São
organização do currículo por projetos de Paulo: Sociedade Brasileira de Química
trabalho: o conhecimento é um caleidos- - SBQ, 2005.
cópio. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 1998. SANTOS, W.L.P.; MÓL, G.S.; MAT-
MENEZES, H.C. e FARIA, A.G. Utilizan- SUNAGA, R.T.; DIB, S.M.F.; CASTRO,
do o monitoramento ambiental para o E.N.F.; SILVA, G.S.; SANTOS, S.M.O.
ensino de química. Pedagogia de Projeto, e FARIAS, S.B. Química e sociedade:
Química Nova, São Paulo, v. 26, n. 2, p. volume único, Ensino Médio. São Paulo:
287-290, 2003. Nova Geração, 2005.
MORTIMER, E.F. e MACHADO, A H.
Química para o Ensino Médio. São Paulo: Para saber mais
Scipione, 2002. MALDANER, O.A. e ZANON, L.B.
PAULINO FILHO, J.; NUÑEZ, I.B. e Situação de estudo: uma organização
RAMALHO, B.L. Ensino por projetos: do ensino que extrapola a formação
uma alternativa para a construção de disciplinar em ciências. In: MORAES, R.
competência no aluno. In: NUÑEZ I.B. e MANCUSO, R. (Orgs.). Produção de
e RAMALHO, B.L. (Orgs.). Fundamentos currículos e formação de professores.
do ensino-aprendizagem das Ciências Ijuí: Unijuí, 2004. p. 43-64.
19
Naturais e da Matemática: o novo Ensino ROCHA, J.C.; ROSA, A.H. e CARDO-
Médio. Porto Alegre: Sulina, 2004, p. SO, A.A. Introdução à química ambiental.
265-283. Porto Alegre: Bookman, 2004.
Portanto, o Fórum, como continuidade dos Encontros,
visa congregar os Coordenadores dos Cursos de Gradu-
ação em Química em torno de temas atuais de interesse
para a formação dos graduandos em Química, tendo em
vista constantes encaminhamentos dos workshops, pro-
movidos pela SBQ sobre a Formação do Químico, que
apontaram como linhas-mestra de atuação no âmbito da
graduação: i) a formação de recursos humanos qualifica-
dos; ii) o estímulo ao empreendedorismo e à interdisci-
plinaridade; iii) a desconcentração regional e o combate
à endogenia; e iv) a aproximação pró-ativa da academia
com a atividade econômica.
Informações adicionais em
http://www.sbq.org.br/graduacao.php
A Pedagogia de Projetos no Ensino de Química N° 29, AGOSTO 2008