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HISTÓRIA DA ARTE

PARTE I
Conteudista
Profª.Me. Adeline Gabriela Silva Gil
Introdução

A obra de arte é capaz de revelar características de uma época, em


suas diversas manifestações culturais, políticas, religiosas, etc. Como filha do
seu tempo, pode ser considerada como um documento e, para ser
compreendida, deve ser colocada no seu tempo e interpretada em relação aos
contextos da época.

Segundo Pareyson (2001, p. 126), “a obra de arte tem um caráter de


historicidade (...) no sentido de que contém em si todo o passado, e não
apenas a arte precedente, na qual ela se inspira”. Para o autor, fazer história
da arte só é possível quando se conciliam os conceitos de historicidade e
especificação, ou seja: ao mesmo tempo em que uma obra pode ser
relacionada à sua época, seus contextos, ser classificada dentro de um
determinado estilo, escola1, ou ainda, ser entendida como um produto de seu
tempo, ela também pode ser específica, relativamente autônoma, singular e
original, e aparentemente não possuir correspondência alguma com a realidade
histórica.

Em relação ao conceito de estilo, este tem um caráter comum e coletivo,


mas que se realiza individualmente, através das obras que o adotam. O estilo
pode ser entendido como um modo de fazer. Para o autor, “não é o estilo que
decai e morre, mas é a espiritualidade que muda” (ibid., p. 144).

A história da arte pode ser a história dos estilos, dos temas, ou ainda,
ser abordada do ponto de vista da sociedade, das técnicas, enfim, ser
compreendida sob uma infinidade de abordagens. Ernst Gombrich (2009),
nossa principal referência, nos orienta por uma linha cronológica, destacando
os artistas que marcaram as transformações nos modos de fazer, desde os
povos pré-históricos até os dias atuais. Giulio Carlo Argan (1992) aborda mais

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Segundo Pareyson (2001, p. 143): “o conceito de escola pressupoe o conceito de uma arte
que afirma e manifesta a propria originalidade, precisamente enquanto prossegue no caminho
aberto pela arte precedente e continua seus programas e características. A escola e uma família, (...)
onde a singularidade nao nega a comunidade, mas nutre-se dela”.
especificamente a arte moderna, do Iluminismo aos movimentos
contemporâneos.

Arte pré-histórica (até o século XXX a.C.)

A pré-história é a fase que precede a escrita, sendo caracterizada pela


arte rupestre, artesanato, produção de cerâmicas, armas e utensílios talhados
em pedra, osso e metal. Mais especificamente, é o período que vai de 25 mil
a.C. até 3 mil a.C, quando surge a agricultura e finda o nomadismo.

Em relação à arte rupestre, as pinturas mais conhecidas se encontram


em cavernas, como as de Altamira, na Espanha; Lascaux e Chauvet, na
França; Tassili, na região do Saara, África, e as pinturas do município de São
Raimundo Nonato, no Piauí, Brasil (PROENÇA, 2005). As pinturas são
geralmente de caráter religioso e mágico, ou ainda, apresentam motivos
naturalistas (como: representações de animais, cenas de caça) bem como
motivos geométricos.

Arte antiga (séculos XXX a.C. a III a.C.)

Oriente médio: Egito e mesopotâmia

A escrita cuneiforme surge por volta de 3.500 a.C. na região conhecida


como mesopotâmia (localizada entre os rios Tigre e Eufrates). Entre os povos
dessa região estão os sumérios, assírios e babilônicos. No mesmo período,
surge a escrita egípcia, conhecida como hieróglifo ou hieroglifo.

No Egito, a arte pretendia ser útil. Além disso, era intensamente


religiosa e simbólica, cuja intenção era captar a essência do objeto, pessoa ou
animal representado. A arquitetura era monumental, caracterizada pelas
construções mortuárias que abrigavam os restos mortais dos faraós, como as
pirâmides de Gizé, além dos grandes templos dedicados às divindades. Na
pintura, observa-se a lei da frontalidade, na qual aspectos técnicos como
perspectiva e proporção entre as figuras não eram uma preocupação dos
pintores: tudo era mostrado como se estivesse de frente para o observador.

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Na mesopotâmia as manifestações artísticas também eram
subordinadas aos interesses do estado e da religião: os artistas reproduziam
caçadas, batalhas e cenas da vida dos reis e dos deuses. A produção de
objetos de cerâmica e a ourivesaria eram atividades artísticas importantes.

Ocidente: Grécia e Roma

A arte grega foi inicialmente influenciada pela arte egípcia, mas com o
desenvolvimento das Cidades-estados, passou a criar sua própria arquitetura,
escultura e pintura. Os critérios de beleza estabelecidos neste período serviram
de base para toda a Arte Ocidental.

Enquanto a arte egípcia é ligada ao espírito, a arte grega volta-se para


aspectos da vida, colocando o homem como referência central. Na escultura, é
evidente a busca pela perfeição, na qual predominam o ritmo, o equilíbrio e a
harmonia. As principais produções em escultura que chegaram até nossos dias
são as estátuas e vasos de cerâmica. Uma característica importante das
esculturas é a “tendência de expressar, sob forma humana, ideias e
sentimentos, como: paz, amor, liberdade, vitória, etc.” (PROENÇA, 2005, p.
31). Na arquitetura, destacam-se os templos, que tinham a função de abrigar
as esculturas de desuses e deusas das chuvas e do sol excessivo. As pinturas
representavam cenas da mitologia grega e de pessoas em suas atividades
diárias.

Já na Roma antiga, fundada por volta de 753 a. C., a arte sofreu


influências de diversos povos: dos gregos, herdou a visão de que a arte deveria
expressar um ideal de beleza; dos etruscos (povos vindos da Ásia), a ideia de
que arte deveria expressar a realidade vivida.

Uma grande diferença entre a arquitetura grega e a romana é a


utilização de arcos e abóbadas (coberturas internamente côncavas) pelos
romanos, que possibilitavam ampliar o espaço entre as colunas (um exemplo
disso é o Panteão, templo construído para reunir o povo para os cultos). A
partir dessa concepção arquitetônica, foram construídos amplos edifícios, como
os anfiteatros (para abrigar um grande número de pessoas), termas, mercados,
aquedutos, etc.
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Em pintura, destacam-se painéis e murais, cujas figuras sugerem
saliência e profundidade. Em Pompéia, a Vila dos Mistérios é um exemplo de
construção com pinturas que transmitem vida e movimento ao observador, com
figuras humanas em tamanho natural. Destaca-se também a arte do mosaico,
que consiste em pedras coloridas dispostas lado a lado, que possibilitam um
efeito semelhante ao da pintura, misturando realismo e imaginação.

Arte da Idade Média (séculos III a.C. a XIV d.C.)

No ano 476 d.C., ocorre a queda do Império Romano do Ocidente,


marcando o início da Idade Média. A cultura que antecede esse acontecimento
é denominada greco-romana, ou clássica. Por um grande período, ela
permanece esquecida, mas é redescoberta no século IX, pelo imperador Carlos
Magno. Já o Império Romano do Oriente (ou Bizantino) perdurou até o ano
1453 d.C., ano em que ocorre a tomada de Constantinopla, marcando o fim
desse período denominado Idade Média.

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Imagem 1. Divisão entre Império Romano do Ocidente e

Império Romano do Oriente (séculos IV-V). Fonte: PROENÇA, 2005, p.


44.

Na arquitetura, o estilo românico (séculos XI e XII) é caracterizado pelos


arcos perfeitos, abóbadas de arestas, pilares maciços e paredes espessas com
poucas e estreitas aberturas. As igrejas são grandes e sólidas, e a arte era
utilizada para impressionar e dominar os fiéis pela emoção.

A pintura na Idade Média desenvolveu-se nas grandes decorações


murais, por meio da técnica do afresco 2. Seus temas eram religiosos, cujas

2
Afresco designa uma tecnica que consiste na preparaçao da superfície da parede com
uma camada de cal e, posteriormente, uma camada de gesso fina e lisa. A pintura e executada sobre
essa camada: primeiro o desenho com carvao, depois a aplicaçao das cores. O pintor deveria
trabalhar com a parede ainda umida, para que o pigmento aderisse a parede. Daí o termo “a fresco”.
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características eram o colorismo (emprego de cores chapadas, sem meios-
tons) e a deformação, na forma de proporções exageradas, que expressavam
uma interpretação mística do artista (não havia intenção de imitar a natureza).

O estilo Gótico em arquitetura surge por volta de 1140, ano em que foi
erguida a abadia de Saint Denis, na França, cuja fachada tem três portais (e
não um portal, como na igreja românica), e uma rosácea (vitral em forma de
flor), “típica do estilo gótico e presente em quase todas as igrejas dos séculos
XII a XIV” (PROENÇA, 2005, p. 53). Esse estilo também é marcado pelo arco
ogival (em forma de ogiva) e pela abóbada de nervuras. Com o arco ogival, as
igrejas podiam ser muito mais altas que as românicas. Com os pilares
dispostos de modo regular, as paredes não precisavam ser tão grossas, as
janelas podiam ser bem maiores e eram preenchidas com belos vitrais. De
modo geral, a arte Gótica reflete o desenvolvimento das cidades.

Segundo Gombrich (2009), em Roma, considerada a capital artística do


século XII, os artistas buscavam uma solução que ligasse o divino ao humano.
Entre os pintores que mais se destacam, estão Giotto di Bondone (1267-1337),
que “criou a ilusão de que a história sagrada estava acontecendo diante dos
nossos olhos” (ibid., p. 201), e Jan Van Eyck (1390-1441), cujas pinturas
influenciaram fortemente gerações posteriores com seu alto padrão de realismo
e riqueza de detalhes.

Já as artes pré-colombiana e pré-cabralina designam as artes dos povos


de várias regiões do continente americano antes da colonização. Destacam-se:
os templos maias (México), a cidade de Machu Pichu (Peru), a arte indígena
(Brasil), entre muitas outras manifestações artísticas, que evidenciam a
existência de civilizações.

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Arte Moderna (séculos XV d.C. a XVIII d.C.)

Os tempos modernos começam com a descoberta da América, em


1492. Esse período, que vai até a Revolução Francesa (1789), é identificado
com o Renascimento 3 (ou Renascença) e foi muito importante para a arte,
período em que “a pintura ou a escultura deixou de ser uma ocupação como
qualquer outra para tornar-se uma profissão distinta” (ibid., p. 475).

O início do século XV na Europa foi marcado por um desejo de romper


com as ideias do passado e criar novos modos de harmonia e beleza. Na
cidade de Florença, na Itália, Filippo Brunelleschi (1377-1446) foi o artista que
liderou um movimento capaz de pôr “fim ao estilo gótico (...) com a introdução
do método renascentista de utilização de motivos clássicos para as suas
construções” (ibid., p. 269).

O século XVI foi a época de Leonardo da Vinci (1452-1519), Miguel


Ângelo (1475-1654), Raffaello Santi (1483-1520), entre muitos outros mestres.
Foi o período das grandes descobertas, quando os artistas italianos estudaram
as leis da perspectiva, a anatomia, conheceram formas clássicas de
construção, investigaram os mistérios da natureza, enfim, deixaram de ser
vistos como artífices, passando a serem mestres dotados de autonomia.

Albrecht Dürer (1471-1528), nascido na Alemanha, foi considerado o


mestre do fantástico e do visionário. Herdeiro dos artistas góticos, tinha o
propósito de contemplar e reproduzir perfeitamente o brilho da natureza 4.

3
O Humanismo, espírito do Renascimento, e caracterizado pela valorizaçao do ser humano
e da natureza. Os artistas expressavam os valores da epoca: racionalidade científica, dignidade
humana, experimentaçao e observaçao da natureza. O Renascimento italiano influenciou
fortemente os artistas da Alemanha e dos Países Baixos.

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Durer dominava tambem a arte da xilogravura. Primeiro o artista desenha sobre a
madeira, em seguida faz sulcos nela com a ajuda de um instrumento, seguindo o desenho. Em
seguida, o artista cobre as partes salientes da madeira com tinta, e entao transfere o desenho para o
papel. O bloco de madeira passa a ser a matriz do desenho, que pode ser reproduzido inumeras
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No século XVI destacam-se Tintoretto (1518-94), que explorou caminhos
ainda não trilhados para representar lendas e mitos do passado, estimulando a
imaginação do observador, El Greco (1541-1614) e Caravaggio (1573-1610),
que também expressavam dramaticidade e emoção em suas pinturas. Marcam
o estilo da época: a ênfase sobre luz e cor, o desprezo pelo equilíbrio simples e
a preferência por composições mais complexas.

Destaca-se, ainda, o pintor espanhol Diego Velásquez (1599-1660), que


foi posteriormente admirado pelos impressionistas (século XIX) e cuja pintura
“As meninas” 5 , uma de suas obras-primas, “(...) fixou um momento real de
tempo muito antes da invenção da máquina fotográfica” (GOMBRICH, 2009, p.
408).

Imagem 2. As Meninas (1656-1657), de Velásquez. Dimensões: 3,18m x


2,76m. Museu do Prado, Madri.

vezes.
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Essa pintura e revolucionaria por varios motivos, entre eles: o proprio Velasquez aparece
na pintura, e o casal real aparece apenas refletido no espelho, ao fundo. E como se o casal real
estivesse de costas para o observador (nos) e de frente para o pintor. A composiçao da cena da a
impressao de que o espaço do quadro continua na sala do museu em que esta exposto e a de que
nos, observadores, tambem fazemos parte da cena.
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Tanto na Europa católica, quanto nos Países Baixos protestantes, “ver e
observar a natureza com olhos sempre novos, descobrir e deleitar-se nas
harmonias sempre renovadas de cores e luzes, passara a ser a tarefa
essencial do pintor” (GOMBRICH, 2009, p. 411). Nos Países Baixos destacam-
se: Rembrandt (1606-1669), conhecedor da “atividade da alma”, grande não só
como pintor, mas também como artista gráfico, e Johannes Vermeer (1632-
1675).

O século XVII foi marcado pelo estilo barroco. Para Gombrich (ibid., p.
387), “enquanto é fácil identificar os estilos anteriores por características
definidas de reconhecimento, a tarefa não é simples no caso do barroco”.
Segundo o autor, barroco significa absurdo ou grotesco, e o termo foi adotado
por aqueles que não admitiam a combinação de formas clássicas de maneira
diversa àquela dos gregos e romanos. O fato é que esse estilo foi muito fértil
em possibilidades: gosto pelo movimento, efeitos audaciosos, fantásticos,
predomínio das emoções e não do racionalismo da arte renascentista.

A grandiosidade desse momento cultural é explicada pela situação


histórica, marcada pela reação da Igreja Católica ao movimento protestante e,
ao mesmo tempo, pelo desenvolvimento do regime absolutista.

O Barroco no Brasil pode ser visto em inúmeras igrejas, como: em Ouro


Preto, Minas Gerais; em Recife, Pernambuco; em Salvador, Bahia; no Rio de
Janeiro e em São Paulo, bem como em aquedutos, azulejos, chafarizes e
esculturas, cujos artistas que mais se destacam são: Mestre Valentim (1750-
1813) e Antônio Francisco Lisboa (1730-1814), mais conhecido como
Aleijadinho.

Com a Revolução Francesa em 1789, muitas mudanças ocorreram em


todos os âmbitos da sociedade, assim como na arte. A primeira mudança foi
em relação ao que chamamos de estilo. “De repente, os artistas sentiram-se
livres para escolher qualquer coisa como tema (...), o que quer que, de fato,
apelasse para a imaginação e despertasse o interesse” (ibid., p. 481). Foi
nesse período que os pintores deixavam de trabalhar para governantes ou

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autoridades e passavam a observar a vida dos cidadãos comuns, pintar cenas
comoventes ou divertidas, das quais pudessem derivar uma história.

Com o pintor espanhol Francisco Goya (1746-1828), foi notável uma


ruptura com a tradição, no sentido de que os artistas expressavam suas visões
pessoais, algo que até então só era feito por poetas. A maioria das gravuras de
Goya consiste em visões fantásticas de bruxas e aparições sobrenaturais.

Nesse período, os artistas enfatizaram a importância da invenção


poética na arte, evidenciando que o verdadeiro trabalho do artista não é
apenas manual, mas cerebral.

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Referências:

GOMBRICH, E. H. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC, 2009.

PAREYSON, L. Os problemas da estética. São Paulo: Martins Fontes,


2001.

PROENÇA, G. Descobrindo a História da Arte. São Paulo: Ática,


2005.

ARGAN, G. C. Arte Moderna. Do iluminismo aos movimentos


contemporâneos. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

Leitura complementar:

LAURENTIZ, P. A holarquia do pensamento artístico. Campinas, SP:


Editora da Unicamp, 1991.

PLAZA, J. Arte e interatividade: autor, obra, recepção. 2000.


Disponível em: <http://www.cap.eca.usp.br/ars2/arteeinteratividade.pdf>.
Acesso em: 01 jul. 2013.

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