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TEMPO
DE SERVIÇO RURAL. INÍCIO DE PROVA MATERIAL INSUFICIENTE. EXTINÇÃO SEM
RESOLUÇÃO DE MÉRITO. RESP REPETITIVO 1352721/SP. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. 1. A aposentadoriaportempodecontribuição integral, antes ou depois da EC/98,
necessita da comprovação de 35 anos de serviço, se homem, e 30 anos, se mulher, além do
cumprimento da carência, nos termos do art. 25, II, da Lei nº 8213/91. Aos já filiados quando do
advento da mencionada Lei, vige a tabela de seu art. 142 (norma de transição), em que, para cada
ano de implementação das condições necessárias à obtenção do benefício, relaciona-se um número
de meses de contribuição inferior aos 180 exigidos pela regra permanente do citado art. 25, II. O art.
4º, por sua vez, estabeleceu que o tempo de serviço reconhecido pela Lei vigente deve ser
considerado como tempo de contribuição, para efeito de aposentadoria no regime geral da
previdência social (art. 55 da Lei nº 8213/91). 2. Nos termos do artigo 55, §§2º e 3º, da Lei nº
8.213/1991, é desnecessário a comprovação do recolhimento de contribuições previdenciárias pelo
segurado especial ou trabalhador rural no período anterior à vigência da Lei de Benefícios, caso
pretenda o cômputo do tempo de serviço rural, no entanto, tal período não será computado para
efeito de carência (TRF3ª Região, 2009.61.05.005277-2/SP, Des. Fed. Paulo Domingues, DJ
09/04/2018; TRF3ª Região, 2007.61.26.001346-4/SP, Des. Fed. Carlos Delgado, DJ 09/04/2018;
TRF3ª Região, 2007.61.83.007818-2/SP. Des. Fed. Toru Yamamoto. DJ 09/04/2018; EDCL no
AGRG no RESP 1537424/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA
TURMA, julgado em 27/10/2015, DJe 05/11/2015; AR 3.650/RS, Rel. Ministro ERICSON
MARANHO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP), TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
11/11/2015, DJe 04/12/2015). 3. Foi garantida ao segurado especial a possibilidade do
reconhecimento do tempo de serviço rural, mesmo ausente recolhimento das contribuições, para o
fim de obtenção de aposentadoria por idade ou por invalidez, de auxílio-doença, de auxílio-reclusão
ou de pensão, no valor de 1 (um) salário mínimo, e de auxílio-acidente. No entanto, com relação ao
período posterior à vigência da Lei nº 8.213/91, caso pretenda o cômputo do tempo de serviço rural
para fins de aposentadoriaportempodecontribuição, cabe ao segurado especial comprovar o
recolhimento das contribuições previdenciárias, como contribuinte facultativo. 4.Considerando a
dificuldade do trabalhador rural na obtenção da prova escrita, o Eg. STJ vem admitindo outros
documentos além daqueles previstos no artigo 106, parágrafo único, da Lei nº 8.213/91, cujo rol não
é taxativo, mas sim, exemplificativo, podendo ser admitido início de prova material sobre parte do
lapso temporal pretendido, bem como tempo de serviço rural anterior à prova documental, desde
que complementado por idônea e robusta prova testemunhal. Nesse passo, a jurisprudência
sedimentou o entendimento de que a prova testemunhal possui aptidão para ampliar a eficácia
probatória da prova material trazida aos autos, sendo desnecessária a sua contemporaneidade para
todo o período de carência que se pretende comprovar. Precedentes. 5. No que tange à possibilidade
do cômputo do labor rural efetuado pelo menor de idade, o próprio C. STF entende que as normas
constitucionais devem ser interpretadas em benefício do menor. Por conseguinte, a norma
constitucional que proíbe o trabalho remunerado a quem não possua idade mínima para tal não pode
ser estabelecida em seu desfavor, privando o menor do direito de ver reconhecido o exercício da
atividade rural para fins do benefício previdenciário, especialmente se considerarmos a dura
realidade das lides do campo que obrigada ao trabalho em tenra idade (ARE 1045867, Relator:
Ministro Alexandre de Moraes, 03/08/2017, RE 906.259, Rel: Ministro Luiz Fux, in DJe de
21/09/2015). 6. Os documentos acostados pela parte autora são: ficha de identificação civil e
criminal expedida pela Secretaria de Segurança Pública onde seu pai está qualificado como lavrador
(ID 65680729 - Pág. 2); Declaração de que a autora estudou em escola de zona rural em 1977;
1978; 1979 e 1981, estando seu pai qualificado como lavrador (ID 65680729 - Pág. 1); Certidão de
casamento do pai da autora - lavrador; sua certidão de nascimento onde o pai está qualificado como
lavrador; sua certidão de Casamento onde ambos estão qualificados como lavradores (ID 65680726
- Pág. 2); certidão de nascimento do filho Carlos Fernando de Jesus Santos pai lavrador; sua CTPS
onde a maioria dos vínculos são rurais (ID 65680727 - Pág. 1/9); CTPS do seu marido (ID
65680729 - Pág. 1/7); Documento do Sitio da autora, neste Município. 7. Consoante entendimento
desta Eg. Sétima Turma, é possível a extensão da qualificação de lavrador em documento de
terceiro, considerado familiar próximo, apenas quando se tratar de hipótese de agricultura de
subsistência em que o labor é exercido em regime de economia familiar. 8. Os documentos em
nome de seu pai não aproveitam a autora porque eles comprovam que ele possui vínculos de
trabalho urbano em seu histórico laborativo, notadamente na empresa PAPELOK INDÚSTRIA E
COMÉRCIO Ltda, na empresa POLENGHI INDÚSTRIAS ALIMENTÍCIAS Ltda, o que
descaracteriza de plano a alegada qualidade de rurícola. 9. A corroborar a condição de trabalhador
urbano ostentada por seu genitor, verifica-se que nessa qualidade de segurado ele recebeu benefício
de auxílio-doença por acidente do trabalho, bem como recebe benefício de aposentadoria por tempo
de contribuição (NB 42/116.319.820-7) com renda mensal atual de R$ 2.343,65 (dois mil, trezentos
e quarenta e três reais e sessenta e cinco centavos), (ID 65680748 - Pág. 13/16) 10. De igual sorte,
os documentos em nome de seu esposo não socorrem a autora pois os vínculos constantes na CTPS
são personalíssimos, não se estendendo a terceiros. Ademais, comprovam que o labor rural por ele
exercido não era exercido em regime de economia familiar. 11. Ainda que assim não fosse, colho
dos autos que o marido da autora recebe benefício por incapacidade desde 01/07/1995, encontrando-
se inclusive aposentado por invalidez desde 24/03/1999, presumindo-se sua INATIVIDADE
profissional, de modo que a autora deveria ter instruído o pedido com indícios de prova material em
nome próprio. (ID 65680748 - Pág. 8/12). 12. Considerando que o conjunto probatório foi
insuficiente à comprovação da atividade rural, seria o caso de se julgar improcedente a ação, uma
vez que parte autora não se desincumbiu do ônus probatório que lhe cabia, ex vi do art. 373, I, do
CPC/2015. 13. Entretanto, adota-se o entendimento consolidado pelo C. STJ, em julgado proferido
sob a sistemática de recursos repetitivos, conforme art. 543-C, do CPC/1973, no sentido de que a
ausência de conteúdo probatório eficaz a instruir a inicial, implica a carência de pressuposto de
constituição e desenvolvimento válido do processo, impondo a sua extinção sem o julgamento do
mérito (art. 485, IV, do NCPC), propiciando ao autor intentar novamente a ação caso reúna os
elementos necessários (RESP 1352721/SP, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO,
CORTE ESPECIAL, julgado em 16/12/2015, DJe 28/04/2016). 14. Ônus da sucumbência:
Condenação da parte autora no ressarcimento das despesas processuais eventualmente
desembolsadas pela autarquia, bem como nos honorários advocatícios, que ficam arbitrados em
10% (dez por cento) do valor atualizado da causa, ficando suspensa a exigibilidade, nos termos do
disposto nos artigos 11, §2º e 12, ambos da Lei nº 1.060/50, e §3º do artigo 98 do CPC, já que deu
causa à extinção do processo sem resolução do mérito. 15. De ofício, processo extinto, sem
resolução do mérito, com fulcro no art. 485, IV do CPC/2015. Prejudicados os apelos do INSS e da
parte autora. (TRF 3ª R.; ApCiv 5696008-89.2019.4.03.9999; SP; Sétima Turma; Relª Desª Fed.
Inês Virgínia Prado Soares; Julg. 30/11/2020; DEJF 10/12/2020)