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MANUAL DE FORMAÇÃO

UFCD 10380 - Intervenção nos comportamentos aditivos e


dependências

Isabel Mota

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INDICE

Frase de Abertura ………………………………………………………………………………………………….…… 3


1

Objetivos e Conteúdos …………………………………………………………………………………….………… 4

1-Introdução …………………………………………………………………………………………….……………….. 5
2-Conceito de desvio/representação social ……………………………………………………………….. 6
3-Os comportamentos aditivos e as dependências ………………………………………………….. 15
4-Comportamentos aditivos com ou sem substância ……………………………….……………… 20
5-Conceito de dependência …………………………………………………………………………….………. 22
6-As dependências - substâncias lícitas e ilícitas ……………………………………………………… 25
7-Novos padrões de consumo ……………………………………………………………….…….………….. 27
8-Os aspetos biopsicossociais dos comportamentos aditivos e das dependências …... 33
9-Os diferentes níveis de intervenção …………………………………………..…………………………. 35
10-Técnicas de abordagem - o papel do/a Técnico/a de Apoio Psicossocial …………..… 38
11-Encaminhamento para estruturas de apoio ……………………………………………………..…. 42

Bibliografia ……………………………………………………….……………………………………...…………….. 43

Termos de Utilização ………………………………………………………………………………………….……. 45

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Frase de Abertura
1

“Quanto a mim, se puderem ver-me tanto melhor, mas isso é-lhes


impossível; nunca verão em mim senão o Jean-Jacques que eles criaram
como o desejaram (...). Erraria, portanto, se me deixasse afetar pela
maneira como eles me veem; não devo preocupar-me com isso já que
não sou eu quem eles veem”.

Rousseau

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Objetivos e Conteúdos

Objetivos

 Reconhecer os níveis de intervenção do técnico de apoio psicossocial nos


domínios da prevenção, tratamento, reinserção e redução de riscos e
minimização de danos.

 Identificar e caraterizar os dispositivos de intervenção nos comportamentos


aditivos e dependências.

 Aplicar técnicas de abordagem a comportamentos aditivos e de dependência.

Conteúdos

 Conceito de desvio/representação social

 Os comportamentos aditivos e as dependências

 Comportamentos aditivos com ou sem substância

 Conceito de dependência

 As dependências - substâncias lícitas e ilícitas

 Novos padrões de consumo

 Os aspetos biopsicossociais dos comportamentos aditivos e das dependências

 Os diferentes níveis de intervenção


o Prevenção Universal, Seletiva e Indicada - fatores de risco e fatores
protetores
o Modalidades de tratamento

o Reinserção social e comunitária - programas de intervenção

o Redução de riscos e minimização de danos - estratégias e programas

 Técnicas de abordagem - o papel do/a Técnico/a de Apoio Psicossocial

 Encaminhamento para estruturas de apoio

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1-Introdução

O princípio do humanismo, que reconhece a plena dignidade das pessoas, implica a


adoção de intervenções que permitam preservar nos toxicodependentes a consciência
da sua própria integridade, que facilitem o acesso a programas de tratamento e que
minimizem a sua marginalização e exclusão.

Por outro lado, o princípio do pragmatismo, que complementa o princípio humanista,


implica a promoção de intervenções que minimizem os efeitos do consumo de drogas
e salvaguardem a sua inclusão social, favorecendo a diminuição do risco de
disseminação de doenças infeciosas e a redução de criminalidade associada à
toxicodependência.

Em matéria de Redução de Riscos e Minimização de Danos a abordagem tem


consistido em promover a mudança do comportamento dos consumidores de
substâncias psicoativas, a fim de diminuir os riscos nos casos em que não é possível
impedir o consumo ou conseguir a abstinência. A adoção de modos de consumo sem
perigo ou de menor risco faz parte dessa abordagem, assim como iniciativas
destinadas a prestar ajuda e assistência aos toxicodependentes doentes ou
socialmente excluídos, captando a sua confiança e motivando os a submeterem-se a
tratamento, quando viável.

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2-Conceito de desvio/representação social

A questão do desvio, nas suas diversas variantes (individual, grupal, cultural, social, e
1
outras) tem suscitado alguma vivacidade teórica no campo das ciências humanas,
dados os diversos prismas a partir dos quais tem sido analisada.

Se por um lado alguns teóricos se têm debruçado sobre a questão de saber o que é
afinal o desvio e que características possui o desviante (aquele que infringe as
normas), outros autores há que têm considerado que o que importa verdadeiramente
conhecer são os processos sociais que conduzem à definição e sustentação das
próprias normas (ou das regras), uma vez que, segundo eles, será também a partir de
tais processos que se define o desvio. Dentro desta perspetiva, norma e desvio tendem
a ser vistas como criações sociais, frutos do mesmo processo, o qual, ao definir as
regras, define também, ao mesmo tempo, de forma automática e implícita, o desvio
(ou seja a possibilidade de infração dessas mesmas regras).

Regra e desvio funcionam, ainda dentro do mesmo pressuposto, como duas faces de
uma mesma moeda. Por um lado e enquanto problema social, o desvio apresenta-se
como contraponto à norma e até como razão (justificação) da sua existência, e, por
outro lado, a regra afirma-se, sustenta-se e justifica-se pela existência (ou pelo menos
pela possibilidade de existência) de atos desviantes que a contrariam.

Em termos genéricos e independentemente do prisma através do qual se queira olhar


para a questão, parece-nos razoável acolhermos a ideia de que desvio (qualquer tipo
de desvio) corresponderá a todo o ato que contraria as normas sociais (as normas
criadas, sustentadas e praticadas pela generalidade dos indivíduos que constituem a
sociedade), sendo o desviante todo aquele que pratica tais atos.

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Em complemento e em virtude de cada ato desviante se poder perspetivar como uma


tentativa de desagregação da ordem instituída, as sociedades criam mecanismos de
controlo e preservação da ordem (da norma), aplicando sanções a todo o indivíduo
1
que as desrespeite.

As nossas sociedades desmoronar-se-iam se não cumpríssemos as regras que definem


certos tipos de comportamento como corretos em determinados contextos e outros
como inapropriados.

A pertença a uma sociedade, a diferentes grupos, supõe que cada pessoa recorra a
uma multiplicidade de imagens para se representar o mundo que a rodeia e para
construir imagens do outro, dos outros e de si. A universalidade deste processo não
corresponde nem a uma uniformidade coletiva nem a um simplismo redutor. Antes
releva de uma complexa construção pessoal de representações a partir de uma
diversidade de objetos. E esta complexidade está já presente no jogo de imagens que
se cruzam nas interações entre cada um e o(s) outro(s).

As imagens que os outros têm de nós, a imagem que nós próprios temos de nós
relevam das representações que cada um vai construindo ao longo da vida. Se as

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imagens que temos e as que os outros têm de nós são convergentes, ou mesmo
coincidentes, isso permanece na incerteza dado que, cada um de nós constrói o seu
conhecimento do outro a partir daquilo a que tem acesso. E da imagem que cada um
constrói do outro não está ausente a dinâmica do desejo.
1

A imagem que cada um tem de si, a imagem que de si os outros constróem e que
reiteradamente lhe reenviam, são elementos de primordial importância para cada um
e para os grupos em que cada um se insere ou com os quais se identifica. A
complexidade das representações que se manifesta nas interações diretas, por maioria
de razão, está inscrita quer nas representações que a pessoa constrói sobre os outros
em geral, sobre o mundo e sobre a vida, e que se inscrevem em constelações de
relações sociais.

O conceito de representação que tem uma longa história no campo da filosofia, foi
reintroduzido nas ciências humanas de forma extremamente fecunda por S. Moscovici
em 1961 na sua tese de doutoramento sobre as representações que os diferentes
públicos se faziam da psicanálise, nomeadamente círculos sociais tão distintos como o
católico e o comunista. Foi neste estudo que foi introduzido o conceito de
representações sociais.

Sendo um conceito novo, S. Moscovici afilia a ideia da representação no campo da


sociologia aos trabalhos de G. Simmel, de M. Weber et de E. Durkheim. Mas é na
noção de representações coletivas deste último autor que Moscovici estabelece a
relação mais direta ao conceito de representações sociais. Ora acontece que estes
autores, são não só considerados entre os pais fundadores da sociologia como estão
em campos opostos de uma controvérsia que tem atravessado de forma persistente o
evoluir da sociologia.

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Desde o início da sociologia que a existência da sociedade, o facto de um conjunto de
indivíduos que existem em determinado lugar serem mais do que um mero somatório
de seres humanos, estimulou a reflexão dos diferentes autores. Para elucidar a
controvérsia nas abordagens desta questão estruturadora da sociologia encontramos
1
duas grandes linhas de resposta que têm como representantes paradigmáticos
exatamente dois dos autores referidos por Moscovici. Simmel e Durkheim foram
contemporâneos, embora tendo vivido no mesmo período, e tendo-se ambos
dedicado à implantação e reconhecimento da sociologia enquanto ramo do saber, as
abordagens utilizadas nos seus trabalhos são muito diferentes e o lugar que tem sido
dado, na sociologia europeia, a estes dois autores foi completamente distinto, senão
oposto.

Enquanto que Durkheim e os seus seguidores ocupavam de forma quase total o


campo da sociologia europeia de influência francesa, Simmel foi ignorado e só há cerca
de três décadas começou a ser redescoberto.

Atualmente muitos são os autores que reconhecem a atualidade da sua abordagem,


mesmo para a compreensão da post-modernidade. A análise das razões que poderão
explicar que durante décadas o paradigma positivista (Durkheim) tenha ocupado a
quase totalidade da sociologia europeia de influência francesa eclipsando o paradigma
compreensivo com raízes na Alemanha (Simmel e Weber) e desenvolvimento posterior
nos EUA é algo que tem interessado diferentes autores mas que ultrapassa o âmbito
do nosso trabalho.

A sociedade tem por substrato o conjunto dos indivíduos associados. O sistema que
eles formam ao unir-se constitui a base sobre a qual surge a vida social. As
representações que são a trama dessa vida social desligam-se das relações que se
estabelecem entre os indivíduos assim combinados ou entre os grupos secundários

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que se intercalam entre o indivíduo e a sociedade total. E desligam-se constituindo
aquilo que denomina as representações coletivas.

As representações coletivas e o consenso que lhe está associado, permitem a 1

existência da sociedade, apesar da diversidade dos indivíduos que a compõem, e estão


presentes nas “manifestações da vida coletiva.

E como é que os indivíduos chegam a partilhar essas representações coletivas –


crenças, regras de moral ou preceitos de direito -? Por uma instância superior, que
transcendendo os indivíduos, vai impor aos membros da sociedade determinadas
formas de pensar e de agir.

Se talvez se pode contestar que todos os fenómenos sociais, sem exceção, se impõem
ao indivíduo a partir de fora, a dúvida não parece possível para o que concerne as
crenças e as práticas religiosas, as regras da moral, os inumeráveis preceitos do direito,
quer dizer para as manifestações mais características da vida coletiva. Todas são
expressamente obrigatórias. Ora a obrigação é a prova que estas maneiras de agir e de
pensar não são obra do indivíduo mas emanam de um poder moral que o ultrapassa,
quer o imaginemos misticamente sob a forma de um bem quer tenhamos dele uma
conceção mais temporal e mais científica.

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Este poder moral corporiza-se na consciência coletiva fazendo com que os indivíduos
tenham em comum valores e regras de pensar e agir. Esta consciência coletiva assume
quer a forma de representações coletivas quer a corporização em instituições. E a
1
passagem da “consciência individual” às representações coletivas, estas caracterizadas
pela exterioridade relativamente àquelas, explica-se pelas forças sui generis que
transformam o que ocorre nas interações entre os indivíduos em “outra coisa”: “As
representações coletivas são exteriores às consciências individuais uma vez que não
derivam dos indivíduos tomados isoladamente mas do seu concurso os sentimentos
privados só se tornam sociais quando se combinam sob a cação de forças sui generis
que desenvolve a associação, na sequência destas combinações e alterações mútuas
que daí resultam, tornam-se outra coisa.

E a perspetiva holística de Durkheim, sobre a sociedade em geral e especificamente


sobre a representação coletiva está bem patente quando mais à frente quer
especificar o que é esta “outra coisa” que resultou da ação das forças sui generis,
dando um estatuto muito peculiar ao “agregado na sua totalidade”. Então, usando
uma terminologia bem característica da mecânica clássica, fala da resultante destas
forças sui generis. E essa resultante, na perspetiva de Durkheim só poderá ser
compreendida numa abordagem holística.

Comecemos por abordar a noção de representação social enquanto forma de


pensamento social. E a representação social será uma forma de pensamento social
pois os atores constroem, apreendem, percebem a realidade através do seu sistema
cognitivo que, para além de integrar um sistema de valores, depende na sua forma de
apreensão, de perceção da realidade de um conjunto de fatores que passam pela sua
história de vida, pelas vivências, experiências, conhecimentos científicos entre outros e
que constituem o próprio ator. Mas exatamente porque a história de vida do ator,
porque as suas experiências, as suas vivências não acontecem sozinhas, porque elas

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acontecem na interface que é a relação que o ator estabelece com os outros atores,
então o sistema cognitivo de que este se serve para conhecer é também enformado
pelas relações sociais que o ator estabelece, pelo contexto social e ideológico em que
o indivíduo se insere.
1

As representações sociais serão pois produtos de um pensamento social, de crenças


estruturadas e saberes sobre fenómenos, considerados significantes para uma dada
comunidade. Dizer que as representações sociais são produtos de um pensamento
social, corresponde a dizer que serão produzidas no seio dos grupos e por esses
mesmos grupos classificadas, categorizadas, reconhecidas e diferenciadas. Será, então,
porque produtos de um pensamento social, que poderemos entender as
representações sociais como sendo um conjunto organizado de cognições, conjunto
organizado que não é pertença e não é organizado apenas pelo indivíduo mas, que
resulta da partilha que um conjunto de membros de uma comunidade – de um grupo –
organizou e comummente partilha, podendo, assim, defini-las como uma forma de
conhecimento específico, o saber do senso comum, cujos conteúdos manifestam a
operação de processos generativos e funcionais socialmente marcados.

As representações sociais constituem-se como um sistema coerente de interpretação


do mundo, que permite que cada sujeito se relacione com todos os objetos desse
mundo e com os outros sujeitos de uma forma coerente e lógica. Este aspeto pode
levar-nos um pouco mais longe, partindo do pressuposto que as representações sociais
contribuem para a forma como os sujeitos se relacionam com novos objetos do

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mundo, verificou que as representações sociais, por se constituírem como um quadro
lógico e coerente, contribuem para a construção de si próprias.

As representações sociais contribuem para constituir o objeto do qual são uma 1

representação. O que esta conclusão significa é que dentro da coerência própria do


quadro das representações sociais, o sujeito tende a construir a imagem de um novo
objeto a partir dessa coerência e dentro dela (essa coerência apropria-se, de forma
coerente, desse novo objeto), e não a questionar todo o sistema que já adquiriu, e que
dá como certo, face ao novo objeto que agora está na sua frente.

Em face desta constatação e na sequência de uma outra apresentada anteriormente,


em que se assinalou que a especificidade resultante do posicionamento de cada grupo
dentro do todo social contribui para a especificidade das representações sociais
edificadas por cada um dos grupos, então poderemos inferir que a especificidade das
representações sociais contribui, por seu turno, para essa diferenciação dos grupos
sociais.

Esta verificação significa que poderemos considerar as representações sociais no


contexto dos fenómenos de identidade social e também entre os fenómenos de
diferenciação social. Esta verificação significa, por outras palavras, que uma mesma
questão ou um mesmo problema não é analisado da mesma forma por todos os
grupos sociais. Por outro lado, a edificação, manutenção e partilha de um sistema
comum de representação e interpretação do mundo, associado a um código
linguístico, também ele edificado, mantido e partilhado pelos indivíduos de uma
sociedade, parecem ser condições de grande importância para que a comunicação
interpessoal se processe.

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As representações sociais são assim um dos principais suportes da comunicação entre


os indivíduos que constituem uma sociedade. E o que é a comunicação senão um
processo de descrição, de avaliação e de explicação das representações sociais de que
cada sujeito é portador.

O funcionamento das representações sociais pode então ser caracterizado pela


capacidade de transformar uma avaliação numa descrição, e uma descrição numa
explicação.

Ao situarmos a função das representações sociais na atividade da comunicação


interpessoal, verificamos que as representações sociais possuem um papel central e
porventura determinante na orientação das atividades avaliativas e explicativas, que
na prática correspondem aos conteúdos de cada um dos processos de comunicação.

As representações sociais possuem um carácter generativo e construtivo sobre os


aspetos da vivência quotidiana. O conhecimento das representações sociais passa pela
análise dos atos de comunicação, nomeadamente da interação entre indivíduos,
grupos e instituições, pelo que a linguagem e a comunicação se tornam mecanismos
centrais de todo o processo, na medida em que é através deles que se cria, se
transmite e se partilham as representações, que assim assumem o lugar da própria
realidade.

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As representações sociais constituem assim uma orientação para a ação na medida em
que modelam e constituem os elementos de um contexto em que um comportamento
terá lugar. Ou seja, a ação envolve um sistema representacional que permite logo à
partida contextualizar o novo objeto na rede das representações já existentes. É esta
1
dimensão social das representações sociais que lhe confere a capacidade de instituir
uma ordem ao mundo e aos objetos que dele fazem parte e, de sustentar essa mesma
ordem de uma forma partilhada pelos indivíduos de uma sociedade.

3-Os comportamentos aditivos e as dependências

É preciso compreender as formas de consumo das substâncias psicoativas e elas


podem ser divididas em diferentes categorias: o experimentador, o usuário recreativo,
o usuário habitual e o dependente ou toxicômano.

Sobre o experimentador, o consumo da substância dá-se uma ou poucas vezes,


principalmente motivada pela curiosidade, relacionada com a contradição das leis
parentais, meios de comunicação, proibicionismo e amedrontamento. Quando jovem,
é comum este usuário associar o consumo exclusivamente aos aspetos ruins, como a
violência, tráfico, dependência, o relato dos amigos. Com a divergência de informações
e o acesso disponível, o individuo pode ver surgir o desejo de descobrir sua própria
experiência.

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O usuário recreativo consome uma ou mais substâncias psicoativas de maneira


esporádica, tem uma utilização hedonista buscando satisfação, prazer momentâneo e
colocando a droga como um possível mediador de relações sociais. Este uso altera
pouco a vida do indivíduo, só é utilizada em ambiente favorecedor e quando está
facilmente disponível. Não há procura ou necessidade do consumo.

No uso habitual há um consumo reiterado, que altera as relações do indivíduo, no


nível afetivo, familiar e profissional. A pessoa só consegue funcionar a partir do
consumo da droga ou a associam a outros comportamentos diários e deixam de
conseguir realizá-los se não usarem a substância, como por exemplo, associar a
cocaína ao álcool. A droga inicia o processo de cristalização e passa a ter significado,
ocupar um lugar na vida do indivíduo e torna-se um hábito, que, caso seja
interrompido, ocasiona desequilíbrio na vida da pessoa.

As características essenciais do abuso de substâncias psicoativas são a intoxicação,


abstinência, delírio induzido, demência persistente induzida, transtorno amnésico
persistente, transtorno psicótico induzido, transtorno do humor induzido, transtorno
de ansiedade induzido, disfunção sexual e transtorno do sono induzido por substância.

Há um sentimento de necessidade, que é insatisfatório, já que essa lacuna não é


preenchida por essas substâncias, não satisfaz o sujeito emocionalmente. Isso, com o
passar do tempo pode causar “dor mental”, que é constante, indefinida e
incontrolável, sendo intolerável, por tanto. Assim, a negação, recusa do psiquismo em
tratar a toxicodependência e aceitar sua condição é um mecanismo de defesa, em que
o aparelho psíquico livra o indivíduo de experiências dolorosas e insuportáveis, como

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se criasse um deserto emocional. O psicólogo equaciona a possibilidade do sujeito
aceitar, conter e transformar os conteúdos expelidos por identificação projetiva,
devolve sua dependência de forma mais tolerável.

O conceito toxicodependência mudou muito desde 1960, quando a OMS coloca como
sendo a Dependência de Drogas ou Química um estado do organismo proveniente do
uso periódico ou continuo de certas drogas que leva a um desejo físico e ou psíquico
do seu uso.

Em uma recente revisão da OMS (1997) esta define a dependência química como um
estado psíquico e físico que sempre incluem uma compulsão de modo contínuo ou
periódico, podendo causar várias doenças crônicas físico-psíquicas, com sérios
distúrbios de comportamento. Pode também, ser resultado de fatores biológicos,
genéticos, psicossociais, ambientais e culturais, considerada hoje como uma epidemia
social, pois atinge toda gama da sociedade, desde a classe social mais elevada a mais
baixa.

A 10ª Revisão da CID 10 (1993), classifica a dependência química como Transtornos


Mentais e de Comportamento devidos ao uso de uso de substância psicoativa, nas
categorias F10 à F19, sendo a Síndrome de Dependência, caracterizada por um
conjunto de fenómenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se
desenvolvem após um consumo repetitivo de substancia psicoativa, tipicamente
associado ao desejo de tomar a droga, à dificuldade de controlar o consumo, à
utilização persistente apesar das suas consequências nefastas, a uma maior prioridade
dada ao uso da droga em detrimento de outras atividades e obrigações, a um aumento
da tolerância pela droga e por vezes, a um estado de abstinência física.

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A dependência química está classificada como Transtornos por uso de Substâncias. A
característica essencial da Dependência de Substância é a presença de um
agrupamento de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos indicando que o
indivíduo continua utilizando uma substância, apesar de problemas significativos
1
relacionados a ela. Existe um padrão de autoadministração repetida que geralmente
resulta em tolerância, abstinência e comportamento compulsivo de consumo da
droga.

Os critérios devem ocorrer num período de 12 meses e o usuário deve apresentar pelo
menos três dos seguintes sintomas: tolerância; abstinência; a substância é
frequentemente usada em grandes quantidades ou por um período maior que o
intencionado; desejo persistente ou esforço sem sucesso de diminuir ou controlar a
ingestão da substância; grandes períodos de tempo utilizados em atividades
necessárias. para obter a substância; usá-la ou recuperar-se de seus efeitos; reduzir ou
abandonar atividades sociais; recreacionais ou ocupacionais por causa do uso da
substância; uso continuado da substância; apesar do conhecimento de ter um
problema físico ou psicológico ou recorrente que tenha sido causado ou exacerbado
pela substância.

Pela nova classificação, o usuário pode ter o diagnóstico de dependência leve,


moderada ou grave, se atender aos critérios de uso em quantidades maiores ou por
mais tempo que o planejado; desejo persistente ou incapacidade de controlar o desejo
de consumir a substância; gasto importante de tempo em atividades para obter a
substância, fissura (craving); deixar de desempenhar atividades sociais, ocupacionais
ou familiares devido ao uso; uso contínuo apesar de apresentar problemas sociais ou
interpessoais; restrição do repertório de vida em função do uso; manutenção do uso
apesar de prejuízos físicos; uso em situações de exposição ao risco; tolerância;
abstinência.

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Discutir a quantidade de consumo da substância na dependência química supõe uma
noção quantitativa para algo que está na verdade no âmbito qualitativo, implicando
valores e sentidos, posições éticas mais do que lógicas ou exatas. Portanto, é essencial
considerar o indivíduo com sua história, seu organismo e o contexto social no qual está
1
inserido, porque o tipo de vínculo estabelecido não é determinado pela substância que
o tornou dependente, nem pela quantidade consumida que possa ser pré-
determinada.

A dependência química foi classificada pela OMS como uma doença, que requer
cuidados específicos e isso significa que mesmo com a resistência dos próprios
dependentes e seus familiares, é preciso compreendê-la como um estado mental,
físico, que resulta da interação entre um organismo vivo e uma droga. É preciso vê-a
também como uma doença fatal, pois a droga destrói diretamente o organismo,
afetando a saúde do individuo, causa danos irreversíveis e pode chegar a morte por
overdose ou consequências do consumo, devido a criminalidade que envolve e estar
sempre em situação de risco, tanto o dependente quanto os que o acompanham,
chamados de co-dependentes.

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4-Comportamentos aditivos com ou sem substância

É indispensável investir na prevenção e na intervenção precoce, para impedir ou adiar


1
o início dos consumos. Posteriormente, e quando os consumos já se iniciaram, é
preciso promover a redução das quantidades consumidas, minimizar riscos e danos.
Estratégias semelhantes são fundamentais na identificação e intervenção nos
comportamentos aditivos não relacionados com substâncias. É muito frequente os
utentes ocultarem o seu histórico médico e de consumos, tal como os seus objetos de
dependência não relacionados com substâncias, pelo que é necessário uma grande
sensibilidade por parte do enfermeiro, tanto no processo de colheita de dados como
no desenvolvimento do projeto terapêutico.

As principais dificuldades de intervenção prendem-se com os comportamentos de


negação, manipulação e recaídas, o que implica uma baixa adesão ao regime
terapêutico. Por vezes, é facilitador a existência de complicações que levem os utentes
a reconhecer que têm um problema.

Torna-se assim fundamental estabelecer um laço de confiança, que ajude a diminuir as


suas defesas, tornando-os mais recetivos ao diálogo. Esta relação de confiança permite
que o utente mobilize o que precisa para prevenir ou ultrapassar o problema do

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consumo de substâncias, ou do comportamento aditivo não relacionado com
substâncias.

Neste âmbito, a intervenção centra-se na relação entre o enfermeiro, que contribui


com os seus conhecimentos e experiências, e o utente e/ou família, com as suas
1
vivências, necessidades e recursos. É através da relação de ajuda que o enfermeiro
promove o desenvolvimento das competências dos vários elementos da família e
ajuda-os a mobilizar recursos necessários à sua recuperação, envolvendo-os assim
num processo de relação interpessoal e de compreensão empática para uma “parceria
de cuidados”. Através de uma postura facilitadora, o enfermeiro identifica, clarifica,
traça objetivos e define intervenções com o utente/família, de forma a dar resposta às
suas necessidades e contribuir para a sua recuperação.

Numa perspetiva interprofissional é essencial uma abordagem integrada que combine


intervenções farmacológicas e psicoterapêuticas10, desde a deteção precoce,
passando pelo acompanhamento, até às fases de desabituação física. As intervenções
psicoterapêuticas facilitam a mudança, ao desenvolverem a motivação, as estratégias
de coping e as relações sociais.

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5-Conceito de dependência

Também o conceito de dependência tem sido objeto de diferentes abordagens, não


1
existindo consenso entre investigadores. É frequente assinalar três fases na história
conceptual da dependência. A primeira fase situa-se no século XVII, onde se considera
que a dependência se explica apenas a partir de uma variável: o produto. A segunda
fase ocorre já no século XX e admite que a dependência envolve duas realidades: o
produto e o individuo consumidor. A terceira fase corresponde à posição mais
frequentemente constatada, hoje em dia, que preconiza a existência duma interação
entre o produto, o consumidor e o meio.

Os trabalhos de Olievenstein influenciaram fortemente este modelo, autor que, pela


primeira vez, destacou a necessidade de se falar do encontro entre a
substância/produto, o individuo/personalidade e o contexto sociocultural e alcançou
ampla divulgação com a publicação do DSM-IV-TR. Segundo o Manual de Diagnostico e
Estatística da Associação Americana de Psiquiatria (DSM-IV-TR, 2002), a dependência
de substância baseia-se num conjunto de sintomas cognitivos, comportamentais e
fisiológicos que indicam que o individuo continua a consumir a substância, apesar do
surgimento de problemas significativos relacionados com ela. Existe um padrão de
autoadministração repetitivo, que, frequentemente leva à tolerância, à abstinência e a
ingestão compulsiva da droga. Este manual, DSM-IV-TR (2002), enumera os critérios
para a dependência de substâncias como um padrão desadaptativo da utilização de
substâncias levando a défice ou sofrimento clinicamente, manifestado por três (ou
mais) dos seguintes sintomas, ocorrendo em qualquer ocasião, no mesmo período de
12 meses:

1) Tolerância, definida ou pela necessidade de quantidades crescentes de


substância para atingir a intoxicação ou pelo efeito desejado, ou definida como

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a diminuição acentuada do efeito com a utilização continuada da mesma
quantidade de substância;
2) Abstinência, manifestado por síndrome de abstinência característica da
substância ou quando a mesma substância (ou outra relacionada) é consumida
1
para aliviar ou evitar os sintomas de abstinência;
3) A substância é frequentemente consumida em quantidades superiores ou por
um período mais longo do que se pretendia;
4) Existe desejo persistente ou esforços, sem êxito, para diminuir ou controlar a
utilização da substância;
5) É despendida grande quantidade de tempo em atividades necessárias à
obtenção e utilização da substância e à recuperação dos seus efeitos;
6) São abandonadas importantes atividades sociais, ocupacionais ou recreativas
devido à utilização da substância;
7) A utilização da substância é continuada apesar da existência de um problema
persistente ou recorrente, físico ou psicológico, provavelmente causado ou
exacerbado pela utilização da substância. A OMS define dependência como
“um estado de necessidade física e/ou psíquica de uma ou mais drogas,
resultante do seu uso contínuo ou periódico”, considerando, ainda, que a
dependência pode ser física e psicológica. A dependência física é definida
segundo esta organização como “um estado anormal produzido pelo uso
repetido de droga”. Com o passar do tempo e com o uso crescente de drogas, o
organismo deixa de conseguir sobreviver sem as drogas, podendo surgir nesta
fase a síndrome de abstinência. Este refere-se a um conjunto de sintomas
físicos e psíquicos resultantes da supressão da ingestão de uma droga da qual
há dependência física. A tolerância, ainda segundo a OMS, é um estado de
adaptação caracterizado pela diminuição da resposta a uma mesma quantidade
duma droga. Assim, parte-se do pressuposto que, para se continuar a
experimentar efeitos semelhantes, é necessário aumentar a dose. Por sua vez,
a dependência psicológica é um estado de vontade incontrolável de ingerir
drogas periódica ou continuamente que conduz o individuo a uma falta de
liberdade, dada a relação pessoal que mantém com a substância, sentindo

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desconforto e vazio pela falta do produto. Esta dependência corresponde a um
estado mental em que há um desejo persistente de dar continuidade ao prazer
conquistado através do consumo dessa substância. A representação da droga
subsiste como recordação e evocação de algo que foi vivenciado,
1
simultaneamente, como prazer e desprazer, mas do qual ressaltam as
experiências satisfatórias.

Em conclusão, é possível referir que, a distinção entre dependência física e psicológica


se presta alguma ambiguidade, enquanto que o diagnóstico da primeira obedece a
critérios objetivos, por outro lado, a dependência psicológica, furta-se à observação
clínica direta porque se dilui na relação que o consumidor tem com os seus objetos de
dependência. Vários fatores estimularam e contribuíram para o desenvolvimento e
interesse crescente pela investigação e estudo do consumo de drogas em amostras
não clínicas, de indivíduos inseridos em meio familiar e escolar: a preocupação com a
saúde e o bem-estar físico, o desenvolvimento da noção de saúde psicológica e,
sobretudo, a necessidade da intervenção primária, como estratégia de intervenção
mais eficaz, ao nível da toxicodependência.

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6-As dependências - substâncias lícitas e ilícitas

A arquitetura nacional do sistema de regulação e fiscalização do mercado de


1
substâncias ilícitas é composto por um conjunto de diplomas legais que transpõem
para o enquadramento legislativo nacional as Convenções das Nações Unidas em
matéria de estupefacientes e substâncias psicotrópicas e seus precursores, através da
proibição dessas substâncias, com a criminalização da sua produção, comércio e
colocação no mercado.

A legislação do “combate à droga” foi revista em 1993 pelo Decreto-Lei n.º 15/93, de
22 de Janeiro, na sequência da ratificação por Portugal em 1991 da Convenção das
Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito de Estupefacientes e Substâncias Psicotrópicas
de 1988, contemplando também os tratados multilaterais ou as disposições da União
Europeia em matéria de branqueamento de capitais.

Nos últimos anos observou-se em Portugal uma escalada no aparecimento de


substâncias psicoativas cuja proibição não se encontra contemplada no sistema
internacional de controlo de drogas e que mimetizam os efeitos das substâncias ilícitas
naturais. Não se conhecem usos lícitos para essas substâncias, cujo controlo através
dos mecanismos tradicionais de inclusão nas listas anexas ao Decreto-lei n.º 15/93, de
22 de Janeiro, era iludido com a alteração de moléculas, assim alterando a composição
química das substâncias controladas.

Reagindo à emergência da expansão do fenómeno do consumo de Novas Substâncias


Psicoativas, foi aprovada pela Assembleia da República a Resolução n.º 5/2013 de 4 de
janeiro, a qual recomendou ao Governo “… a aprovação de normas para a proteção da
saúde pública e a tomada de medidas neste âmbito”.

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Face à existência do “consenso formado em torno da perigosidade de novas
substâncias psicoativas já conhecidas e da suscetibilidade de, assim, prever novas
contra-ordenações, julgou-se indispensável estabelecer medidas sanitárias de efeito
imediato contra a produção, distribuição, venda, dispensa, importação, exportação e
1
publicidade de outras novas substâncias que venham a surgir no mercado, perante a
ameaça grave e impressível que estas substâncias encerram”.

A regulação e fiscalização do mercado de substâncias lícitas visa assegurar que o


acesso dos consumidores seja feito de forma segura, garantindo a sua proteção dos
através de medidas legislativas, regulatórias, de autorregulação dos operadores
económicos e de aplicação da lei.

Os Estados têm ao seu dispor um alargado conjunto de medidas, incluindo de natureza


fiscal e de proibição ou limitação da produção, colocação no mercado, publicidade e
uso, focalizadas na defesa da saúde pública e individual dos consumidores.

As sociedades democráticas sujeitam a imposição dessas medidas à discussão e


consulta pública através dos operadores económicos, sociedade civil, consumidores e
seus representantes, incluindo os representantes políticos nas respetivas assembleias
legislativas.

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7-Novos padrões de consumo

As motivações para o consumo podem ser as mais diversas, sejam elas individuais ou
grupais como, a moda, a curiosidade/experimentação, afirmação, ociosidade, prazer,
1
frustração, solidão, afirmação, integração grupal, pressão dos pares, entre outros, e
até mesmo o facto de ser legal e de fácil acesso para todos, em qualquer altura e
sempre nos locais mais privilegiados para a sua compra.

Outros fatores que favorecem o uso de droga como o mito da droga, a idade, a
curiosidade, a necessidade da pessoa ser aceite e de se integrar no grupo, necessidade
da pessoa se chamar a atenção (i.e., contestar), o prazer, o desafio (i.e., o prazer do
risco), a dificuldade da pessoa se afirmar, a dificuldade que a pessoa possa ter em se
projetar no futuro, a infantilização, o medo de crescer, as facilidades financeiras
desajustadas às necessidades do jovem e à sua capacidade de gerir adequadamente, a
ausência de figuras que sejam referências estruturadas (pode ser os pais, professores
ou outros familiares próximos), a necessidade de algo que faça esquecer ou que faça
de doping para ultrapassar situações vividas como terríveis.

Outra ideia que é fundamental reter é que, hoje em dia, o consumidor de substâncias
ditas sintéticas não está obrigatoriamente associado à imagem de alguém
toxicodependente e degradado, o que vem reforçar a simplicidade inerente ao ato de
consumo de várias substâncias ditas recreativas. Assim sendo, esta “nova realidade”
remete bem para aquilo a que se chama drogas suscetíveis de abuso, i.e. qual for a
substância tomada por qualquer via de administração, que altere o humor, o grau de
perceção ou o funcionamento do cérebro.

Os comportamentos dos utilizadores de drogas são manifestações exteriores, de


conflitos com ele próprio e com os outros, em que as drogas representam o

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compromisso possível de estar na vida, na medida em que, o individuo consome
porque vê na droga uma solução para o seu mal-estar (Rosa, Gomes & Carvalho, 2000).
Sendo que este consumo de substâncias é uma forma de substituição, por via química,
das necessidades de dependência emocional, que não é adequadamente expressa ao
1
nível cognitivo e emocional.

As atitudes não são diretamente observáveis, são uma variável latente explicativa da
relação entre a situação em que as pessoas se encontram e o seu comportamento.
Tratando assim, de uma inferência sobre os processos psicológicos internos de um
individuo, feita a partir da observação dos seus comportamentos (verbais ou outros).
Consideram-se as atitudes como aprendidas e alteráveis, uma vez que estas se
expressam através de um julgamento avaliativo.

Sendo estas respostas avaliativas de vários tipos:

a) Cognitivas, referem-se a pensamentos, ideias, opiniões, crenças que ligam o objeto


de atitude aos seus atributos ou consequências e que exprimem uma avaliação mais
ou menos favorável;

b) Afetivas, referem-se às emoções e sentimentos provocados pelo objeto de atitude;


c) Comportamentais, referem-se aos comportamentos ou às intenções
comportamentais em que as atitudes se podem manifestar. A atitude é também “um
estado psíquico e nervoso de preparação, organizado pela experiencia, que exerce
uma influencia diretriz ou dinâmica sobre as respostas do individuo a todos os objetos
e situações com as quais está em contacto.

Por outras palavras, trata-se de uma variável que funciona como uma preparação para
a ação relativamente a um dado objeto, é a preparação mental ou neutral, organizada
através da experiencias, das respostas individuais a todos os objetos ou situações que
com se relaciona.

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Em relação às drogas, é redutor cingir a análise à oferta ou esquecer que algumas


substâncias são procuradas por determinado perfil de indivíduos e não por outros.
Diferentes indivíduos procuram diferentes efeitos psicoativos, mesmo que isso
1
implique riscos, sejam estes de natureza legal ou de saúde.

Atualmente, os critérios de diferenciação entre as drogas ditas leves e as drogas


pesadas, não estão a identificar a perspetiva sanitarista e o efeito psicofísico dessas
substâncias, mas a possibilidade da sua utilização num convívio social que não
interfere necessariamente na vida emocional, profissional, estudantil e psíquica da
pessoa .

O que está por detrás da designação de drogas leves são aquelas substâncias
psicotrópicas que permitem uma maior flexibilidade no seu uso e experimentação,
sem afetar os âmbitos de uma vida normal. Já as pesadas, corresponderiam àquelas
que facilitam ou induzem o descontrolo do uso e o vício, seja pela própria substância
em si, seja pela forma como é utilizada, promovendo e facilitando a marginalização do
indivíduo do seu contexto social. Assim, para uma população suscetível ao consumo de
drogas, ou mesmo para o consumidor de drogas leves, este critério de classificação
funciona como uma espécie de proteção, e alerta contra aquelas substâncias ou usos
pesados, onde a pessoa terá possibilidade de perder mais facilmente o controlo da sua

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situação de uso, o sujeito que consome drogas, tende para não encontrar mais
nenhum prazer senão o da própria droga, convertendo-se, desta forma, no único
interesse, no centro de todas as suas atenções. O consumidor de drogas, não tem
capacidade de assegurar o sentimento de bem-estar psíquico, de unidade interior,
1
revelando dificuldades ao nível das relações afetivas de boa qualidade e duradouras.
Devido a tudo isto, recorre à droga, como meio de suportar um estado de intenso
sofrimento interior.

Perante o consumo de droga nos jovens, importa distinguir o tipo, a função e a sua
repercussão na vida social e afetiva do sujeito.

Figueiredo diferencia o consumidor de substâncias aditivas em:

a) Experimental, consome devido à curiosidade, à influência de amigos ou por motivos


contestatários;

b) Esporádico, consome normalmente com a finalidade de socialização ou recreação;

c) Habitual, geralmente está ligado a motivações de uso cultural, do círculo social, ou


de faixas etárias onde o uso recreativo tem uma constância maior;

d) Abusivo, quando inicia um consumo intenso da substância, mas mantendo-se


vinculado ao círculo social e tendo um controlo mínimo do uso e do seu estado
psíquico; e) Dependente, quando a substância e o seu uso passam a ocupar um espaço
principal na vida do indivíduo, normalmente fazendo com que perca o interesse pelos
aspetos sociais, com uma falta de motivação psicológica para outras situações não
ligadas ao consumo ou obtenção da droga.

O consumo de substâncias químicas surge como uma valiosa ajuda para estes sujeitos,
para gerir e lidar com os afetos negativos, experienciar e controlar emoções. Muitas
das observações clínicas, destes autores, mostram que, os estados de sofrimento são

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determinantes psicológicos importantes, para que o uso de drogas se transforme
numa perturbação, i.e., para que estes sujeitos passem de consumidores esporádicos a
toxicodependentes. Estudos da personalidade, realizados com toxicodependentes e
consumidores de drogas, abordam uma história pessoal de condutas antissociais e um
1
alto nível de depressão. Realçando até que a personalidade do toxicodependente é
marcada por uma necessidade de orientação e aprovação por parte dos outros,
percecionando-se como alguém sem poder, ineficaz procurando insistentemente
suporte e segurança nos outros.

A personalidade antissocial, surge como a mais frequentemente associada à utilização


abusiva de substâncias. Muitas vezes, a personalidade antissocial, predispõe à
toxicodependência e, simultaneamente, o consumo de drogas pode explicar uma parte
dos comportamentos antissociais.

Associado ao consumo de drogas aparecem frequentemente citados dois perfis


distintos de personalidade: um caracterizado pelo neuroticismo, depressão, baixa
autoestima, locus de controlo externo, ansiedade, sentimentos de inferioridade e de
autodesvalorização; e o outro, designado por personalidade antissocial, caracterizado
por ausência de adesão às regras e instituições convencionais, acting-out, hostilidade,
violação dos direitos dos outros e história de delinquência.

Pode considerar-se, que o toxicómano tem estruturas psicopatológicas diversas


podendo ser neuróticas ou psicóticas, mas também existem relações óbvias entre
toxicodependência e estado-limite. O conflito fundamental decorreria da existência de
um Super Eu rígido, e seria experimentado como um afeto esmagador e ameaçador.
Desta forma, as drogas seriam um alívio contra estes afetos, particularmente a raiva e
o medo.

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Não existe nenhuma estrutura de personalidade típica da toxicodependência, pelo que
a farmocodependência pode desenvolver-se em qualquer tipo de estrutura mental e
em qualquer instante, desde que estejamos na presença de determinadas condições.

Não existe nenhuma estrutura mental psíquica profunda e estável especificamente


ligada à problemática da toxicodependência. O mesmo autor acrescenta, ainda, que
todas as formas de personalidade podem ser propícias à instalação da
toxicodependência, desde a estrutura neurótica, à psicótica passando mesmo pelos
indivíduos que têm dificuldades em afirmarem a sua identidade no decurso da crise da
adolescência, não conseguindo estruturar-se convenientemente, permanecendo
imaturas com fundo depressivo.

Ainda que, não há drogados tipo, mas indivíduos com excessos em alguma vertente da
sua personalidade. Fazem referência ao facto que, havendo traços comuns, é no
masoquismo devido à forma como se perdem com os seus atos e na culpabilidade
retaliatória, pois eles castigam-se devido à forma como procedem, em vez de sentirem
a culpa como tal. É conclusivo, que existe uma associação entre personalidade e
emoções, sendo estas consideradas como um dos elementos constituintes da
personalidade.

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8-Os aspetos biopsicossociais dos comportamentos aditivos e das


dependências

1
A reinserção é um passo importante a ser implementado junto de indivíduos que se
encontrem em tratamento ou abstinência do consumo de drogas. É nesta área que são
desenvolvidas condições para serem novamente integrados na sociedade, tentando
reestruturar os parâmetros de vida ativa e integração social, designadamente, na
obtenção de emprego, fortalecimento das relações familiares, habitação, educação,
entre outros. Assim, a reinserção dos indivíduos toxicodependentes na sociedade
permite implementar estratégias preventivas de eventuais comportamentos
desviantes ou criminosas.

Este processo segue-se após a fase do tratamento, seja em internamento ou regime


ambulatória, sendo considerada uma intervenção de prevenção terciária. Além de
prestar informações e formações pertinentes para os indivíduos se integrarem em
sociedade, é também necessário estimular a capacidade de resolução de problemas
atuais e prevenção de situações futuras.

Por último, a redução de riscos e minimização de danos é uma estratégia promotora


de saúde pública, que procura minimizar os problemas subjacentes ao consumo de

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drogas, sem anular comportamentos de consumo de substâncias ilícitas. Em concreto,
esta estratégia foca-se na educação, tanto para redução de riscos como para
minimização dos danos. Da mesma forma, procura-se reformular práticas públicas
associadas ao consumo de drogas, no sentido de prevenir danos para a saúde pública.
1
Em suma, com a heterogeneidade dos indivíduos que sobrem de distúrbios de uso de
substâncias e tendo em conta as demais dimensões psicossociais da pessoa, torna-se
necessário delinear diferentes respostas passíveis de responder às distintas
necessidades vigentes nesta problemática. Assim, esta perspetiva multifacetada
desconstruiu uma visão tendencialmente cartesiana, assumindo o indivíduo como
biopsicossocial e, por isso, contextualizar o fenómeno da toxicodependência na
sociedade atual implica considerar a interação entre vários grupos, exigindo
transformações substanciais na organização social, reduzindo desigualdades e, em
paralelo, alterar os parâmetros de formação dos profissionais em contacto com esta
realidade.

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9-Os diferentes níveis de intervenção

Com a publicação da nova orgânica do Ministério da Saúde, aprovada pelo Decreto-Lei


n.º 124/2011, de 29 de dezembro, o Governo procedeu à criação do Serviço de
Intervenção nos Comportamentos Aditivos e Dependências (Sicad), extinguindo, em
consequência, o Instituto da Droga e da Toxicodependência, I. P., remetendo para as
Administrações Regionais de Saúde, I.P. a componente de operacionalização das
políticas de saúde.

O diploma orgânico do Sicad, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 17/2012, de 26 de janeiro,


concretiza uma inovação, assente na opção de reforço da componente de
planeamento e acompanhamento de programas de redução do consumo de
substâncias psicoativas, na prevenção dos comportamentos aditivos e na diminuição
das dependências. Por sua vez, a componente de operacionalização das intervenções é
concentrada no âmbito de atuação das Administrações Regionais de Saúde (ARS). O
Sicad no desempenho das suas funções tem por base valores como o humanismo,
conhecimento, inovação, pragmatismo, cooperação, confiança e transparência.

Apresenta-se como atribuições:

a) Apoiar o membro do Governo responsável pela área da saúde na definição da


estratégia nacional e das políticas de redução do consumo de substâncias psicoativas,
de prevenção dos comportamentos aditivos e da diminuição das dependências e sua
avaliação;

b) Planear e avaliar os programas de prevenção, redução de riscos e minimização de


danos, de reinserção social e de tratamento do consumo de substâncias psicoativas,

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dos comportamentos aditivos e das dependências, designadamente definindo normas,
metodologias e requisitos a satisfazer para garantir a qualidade;

c) Planear a intervenção no âmbito dos comportamentos aditivos e das dependências,


através de uma rede de referenciação entre cuidados primários, centros de respostas
1
integradas e unidades de internamento ou unidades hospitalares, consoante a
gravidade da dependência ou dos consumos de substâncias psicoativas;

d) Desenvolver, promover e estimular a investigação científica no domínio das


substâncias psicoativas, dos comportamentos aditivos e das dependências e manter
um sistema de informação sobre o fenómeno da droga e das toxicodependências;

e) Desenvolver mecanismos de planeamento e coordenação efetivos conducentes à


definição das políticas para as intervenções no âmbito dos comportamentos aditivos e
dependências;

f) Efetuar diagnósticos de necessidades de intervenção de âmbito nacional, definir as


prioridades e o tipo de intervenção a desenvolver;

g) Definir as linhas de orientação técnica e normativa para a intervenção nas áreas dos
comportamentos aditivos e das dependências.

h) Promover a formação no domínio das substâncias psicoativas, dos comportamentos


aditivos e das dependências;

i) Assegurar a recolha, tratamento e divulgação dos dados e informação dos serviços


públicos e das entidades privadas com intervenção no domínio das substâncias
psicoativas, dos comportamentos aditivos e das dependências;

j) Assegurar a representação internacional, no domínio das suas competências e


atribuições específicas, sem prejuízo das competências próprias do Ministério dos
Negócios Estrangeiros, bem como garantir o cumprimento das obrigações enquanto
ponto focal nacional da Rede Europeia de Informação sobre Toxicodependência do
Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência, em coordenação com a
Direcção-Geral da Saúde, enquanto entidade responsável pelas relações internacionais
do Ministério da Saúde;

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l) Prestar o apoio técnico e administrativo e garantir as infraestruturas necessárias ao
funcionamento das Comissões para a Dissuasão da Toxicodependência;

m) Definir os requisitos para o licenciamento de unidades privadas prestadoras de


cuidados de saúde na área das dependências e comportamentos aditivos (Sicad, 2016,
1
c). do número de utilizadores de drogas injetáveis infetados pelo VIH, incrementou-se
a dinamização de projetos experimentais de redução de danos.

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10-Técnicas de abordagem - o papel do/a Técnico/a de Apoio


Psicossocial

O consumo de drogas e a dependência são fenómenos cujas implicações se


manifestam não apenas na esfera individual, mas também através de outras
consequências, com impacto significativo nas dinâmicas interpessoais e sociais. Assim,
a partir da informação apresentada até ao momento, é possível concluir que refletir
sobre estes processos – do consumo à dependência – implica, antes de mais, refletir
sobre os fenómenos de saúde e doença de forma transversal às múltiplas valências
que se impõe considerar, tais como, operacionalização teórica dos conceitos,
formação, responsabilidades e campo de ação dos profissionais de saúde, tratamento
e promoção da saúde, nomeadamente, saúde pública.

Sendo a relação entre saúde e doença, tal como a avaliação do consumo de


substâncias psicoativas, intrinsecamente avaliados e, por isso, influenciados mediante
o contexto histórico, cultural e social que os determina, as constantes reformas sociais,
políticas e económicas previamente mencionadas integram o conjunto de
consequências e soluções que emergem deste processo contínuo de reflexão.

Desta forma, Portugal não é exceção Entretanto, a partir do século XX, acontecem
profundas transformações no que diz respeito ao processo saúde/doença, pelo que
acontece a definição de intervenções particulares. Em meados de 1983, a emergência
do modelo biopsicossocial como referência dominante advém da reformulação de uma
nova perspetiva social e política relativamente ao fenómeno de consumo de drogas,
que adquiriu contornos de uma visão sociológica e institucional.

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Este modelo destacou-se pela reformulação conceptual e, por consequência,
restruturação da estratégia organizativa e estrutural na área da droga, em geral, e da
toxicodependência, em particular. Pensar em fenómenos sociais sob uma perspetiva
meramente biológica circunscreve de forma reducionista o indivíduo a apenas uma das
1
suas múltiplas dimensões, pelo que importa observar o indivíduo numa lógica
multidimensional e integral, no qual as drogas possuem uma representação específica.

Desde a aprovação da Estratégia Nacional de Luta Contra a Droga, em 1999, o estado


Português procurou promover uma intervenção mais eficaz no domínio da
toxicodependência, a partir de diferentes áreas e políticas de intervenção, sendo elas
políticas de prevenção, redução de riscos, minimização de danos, dissuasão,
tratamento, reinserção social e cooperação internacional.

Neste seguimento, Transversal à maioria dos países ocidentais, foram definidas


diferentes áreas de intervenção a serem implementadas no domínio da
toxicodependência. Portugal não é exceção e o mesmo aborda as cinco áreas de
intervenção apoiado pelo Ministério da Saúde e pela Sociedade Civil. São elas a
Dissuasão, Prevenção, Tratamento, Reinserção e Redução de Riscos e Minimização de
Danos.

No que respeita à dissuasão, a mesma está intrinsecamente associada à dimensão


legislativa, ou seja, diretamente relacionada com a aplicação de leis, particularmente
no que respeita à lei da descriminação. Esta área tem como objetivo primordial a
promoção e garantia de condições necessária para responder às necessidades de
pessoas com distúrbios no âmbito do consumo e dependência de droga.

O papel do Técnico de Apoio Psicossocial que aqui surge no que à área da prevenção
respeita, tal como nome aponta, a mesma foca-se na tentativa de prevenção do

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consumo de substâncias ilícitas entre a população em geral, de forma transversal às
diferentes fixas etárias, entre outras características pessoais e sociais passíveis de
discriminar diferentes características interpessoais.

Como estratégias primordiais assume-se a coexistência de múltiplos métodos


informativos, para evitar que as pessoas consumam pela primeira vez ou mantenham
hábitos de consumo. Os programas instituídos, destinados à divulgação de informação,
alargaram o campo de ação, reformulando-se através de programas de educação para
a saúde. Informações como particularidades das diferentes drogas e respetivos efeitos
adversos para a saúde e relacionamentos interpessoais começaram a ser difundidas,
como outras de cariz biológico e social.

Nos últimos anos, este tipo de intervenção tem alcançado especial preponderância
junto de jovens, no sentido de fortalecer e estimular competências sociais e
emocionais. Exemplo destas iniciativas são o Programa Escola Segura e os Centros de
Informação e Acolhimento.

Quanto à prevenção, a mesma subdivide-se em três níveis, distintos mas


complementares, executados de forma gradual, a saber, prevenção primária,

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secundária e terciária. Prevenção primária resume um conjunto de intervenções junto
de não consumidores, de forma a comunicar informações cruciais e,
consequentemente, prevenir comportamentos de risco no âmbito do consumo de
droga. Prevenção secundária, por outro lado, inclui um conjunto de estratégias que
1
consumidores de droga, para que seja feito tratamento de despiste de dependência de
substâncias e outras sequelas associadas. Por fim, prevenção terciária é o derradeiro
patamar de intervenção preventiva, neste caso, a nível da reincidência. Este processo
reúne estratégias de apoio a pessoas que já consumiram, intervindo no sentido de
evitar recaídas.

A política de tratamento em Portugal seguiu o processo de restruturação da


problemática do consumo de droga e toxicodependência que sucedeu ao longo da
história do país e foi sendo reformada mediante as necessidades. A dimensão de
tratamento consiste na reabilitação do indivíduo nas mais diversas dimensões de vida,
assim como na restituição do normal funcionamento social e interpessoal. O
tratamento é a dimensão onde as demais sociedades tendem a investir mais, no
sentido de cuidar de indivíduos que manifestem distúrbios de consumo de drogas e
curar possíveis sequelas subjacentes ao consumo de substâncias ilícitas.

Uma vez que, á data, se apurou um número considerável de casos de insucesso,


tornou-se impreterível reformular os serviços de apoio, no sentido de melhorar a
resposta nos centros de auxílio de toxicodependentes. Neste seguimento, foram várias
as medidas implementadas, desde psicoterapia à terapia por desabituação física. Foi
com sustentação nesta política de melhoria das condições de acesso ao tratamento
que, a 21 de Junho de 1978, foi edificada e inaugurada a primeira Comunidade
Terapêutica surgiu em Portugal, constituídos por profissionais das demais
especialidades e equipamentos.

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11-Encaminhamento para estruturas de apoio

No que diz respeito à política de minimização de danos e no que diz respeito a


Portugal, para além de um leque diversificado de respostas na área do tratamento,
verificamos também que a intervenção junto de consumidores não acessíveis também
merece um destaque importante. É neste sentido que o Estado chamou a si a
responsabilidade de implementar e financiar projetos de “prevenção e redução de
atitudes ou comportamentos de risco acrescido e minimização de danos individuais e
sociais provocados pela toxicodependência”, como se lê no art. 1.º do Decreto-Lei n.º
183/2001, de 21 de junho. De acordo com o Sicad (2016 a), a autorização para a
criação e funcionamento de Programas e Estruturas Sócio Sanitárias de Redução de
Riscos e Minimização de Danos visa oferecer qualidade e adequação das intervenções
nesta área e é concedida mediante a análise do programa ou da estrutura específica
em apreciação, desde que cumpridos os requisitos vertidos na Portaria n.º 748/2007,
de 25 de junho, que estabelece as condições para a sua criação e funcionamento, a
que se refere o Decreto-Lei n.º 183/2001, de 21 de junho.

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