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MANUAL DE FORMAÇÃO
Isabel Mota
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INDICE
1-Introdução …………………………………………………………………………………………….……………….. 5
2-Conceito de desvio/representação social ……………………………………………………………….. 6
3-Os comportamentos aditivos e as dependências ………………………………………………….. 15
4-Comportamentos aditivos com ou sem substância ……………………………….……………… 20
5-Conceito de dependência …………………………………………………………………………….………. 22
6-As dependências - substâncias lícitas e ilícitas ……………………………………………………… 25
7-Novos padrões de consumo ……………………………………………………………….…….………….. 27
8-Os aspetos biopsicossociais dos comportamentos aditivos e das dependências …... 33
9-Os diferentes níveis de intervenção …………………………………………..…………………………. 35
10-Técnicas de abordagem - o papel do/a Técnico/a de Apoio Psicossocial …………..… 38
11-Encaminhamento para estruturas de apoio ……………………………………………………..…. 42
Bibliografia ……………………………………………………….……………………………………...…………….. 43
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Frase de Abertura
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Rousseau
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Objetivos e Conteúdos
Objetivos
Conteúdos
Conceito de dependência
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1-Introdução
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A questão do desvio, nas suas diversas variantes (individual, grupal, cultural, social, e
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outras) tem suscitado alguma vivacidade teórica no campo das ciências humanas,
dados os diversos prismas a partir dos quais tem sido analisada.
Se por um lado alguns teóricos se têm debruçado sobre a questão de saber o que é
afinal o desvio e que características possui o desviante (aquele que infringe as
normas), outros autores há que têm considerado que o que importa verdadeiramente
conhecer são os processos sociais que conduzem à definição e sustentação das
próprias normas (ou das regras), uma vez que, segundo eles, será também a partir de
tais processos que se define o desvio. Dentro desta perspetiva, norma e desvio tendem
a ser vistas como criações sociais, frutos do mesmo processo, o qual, ao definir as
regras, define também, ao mesmo tempo, de forma automática e implícita, o desvio
(ou seja a possibilidade de infração dessas mesmas regras).
Regra e desvio funcionam, ainda dentro do mesmo pressuposto, como duas faces de
uma mesma moeda. Por um lado e enquanto problema social, o desvio apresenta-se
como contraponto à norma e até como razão (justificação) da sua existência, e, por
outro lado, a regra afirma-se, sustenta-se e justifica-se pela existência (ou pelo menos
pela possibilidade de existência) de atos desviantes que a contrariam.
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A pertença a uma sociedade, a diferentes grupos, supõe que cada pessoa recorra a
uma multiplicidade de imagens para se representar o mundo que a rodeia e para
construir imagens do outro, dos outros e de si. A universalidade deste processo não
corresponde nem a uma uniformidade coletiva nem a um simplismo redutor. Antes
releva de uma complexa construção pessoal de representações a partir de uma
diversidade de objetos. E esta complexidade está já presente no jogo de imagens que
se cruzam nas interações entre cada um e o(s) outro(s).
As imagens que os outros têm de nós, a imagem que nós próprios temos de nós
relevam das representações que cada um vai construindo ao longo da vida. Se as
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imagens que temos e as que os outros têm de nós são convergentes, ou mesmo
coincidentes, isso permanece na incerteza dado que, cada um de nós constrói o seu
conhecimento do outro a partir daquilo a que tem acesso. E da imagem que cada um
constrói do outro não está ausente a dinâmica do desejo.
1
A imagem que cada um tem de si, a imagem que de si os outros constróem e que
reiteradamente lhe reenviam, são elementos de primordial importância para cada um
e para os grupos em que cada um se insere ou com os quais se identifica. A
complexidade das representações que se manifesta nas interações diretas, por maioria
de razão, está inscrita quer nas representações que a pessoa constrói sobre os outros
em geral, sobre o mundo e sobre a vida, e que se inscrevem em constelações de
relações sociais.
O conceito de representação que tem uma longa história no campo da filosofia, foi
reintroduzido nas ciências humanas de forma extremamente fecunda por S. Moscovici
em 1961 na sua tese de doutoramento sobre as representações que os diferentes
públicos se faziam da psicanálise, nomeadamente círculos sociais tão distintos como o
católico e o comunista. Foi neste estudo que foi introduzido o conceito de
representações sociais.
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Desde o início da sociologia que a existência da sociedade, o facto de um conjunto de
indivíduos que existem em determinado lugar serem mais do que um mero somatório
de seres humanos, estimulou a reflexão dos diferentes autores. Para elucidar a
controvérsia nas abordagens desta questão estruturadora da sociologia encontramos
1
duas grandes linhas de resposta que têm como representantes paradigmáticos
exatamente dois dos autores referidos por Moscovici. Simmel e Durkheim foram
contemporâneos, embora tendo vivido no mesmo período, e tendo-se ambos
dedicado à implantação e reconhecimento da sociologia enquanto ramo do saber, as
abordagens utilizadas nos seus trabalhos são muito diferentes e o lugar que tem sido
dado, na sociologia europeia, a estes dois autores foi completamente distinto, senão
oposto.
A sociedade tem por substrato o conjunto dos indivíduos associados. O sistema que
eles formam ao unir-se constitui a base sobre a qual surge a vida social. As
representações que são a trama dessa vida social desligam-se das relações que se
estabelecem entre os indivíduos assim combinados ou entre os grupos secundários
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que se intercalam entre o indivíduo e a sociedade total. E desligam-se constituindo
aquilo que denomina as representações coletivas.
Se talvez se pode contestar que todos os fenómenos sociais, sem exceção, se impõem
ao indivíduo a partir de fora, a dúvida não parece possível para o que concerne as
crenças e as práticas religiosas, as regras da moral, os inumeráveis preceitos do direito,
quer dizer para as manifestações mais características da vida coletiva. Todas são
expressamente obrigatórias. Ora a obrigação é a prova que estas maneiras de agir e de
pensar não são obra do indivíduo mas emanam de um poder moral que o ultrapassa,
quer o imaginemos misticamente sob a forma de um bem quer tenhamos dele uma
conceção mais temporal e mais científica.
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Este poder moral corporiza-se na consciência coletiva fazendo com que os indivíduos
tenham em comum valores e regras de pensar e agir. Esta consciência coletiva assume
quer a forma de representações coletivas quer a corporização em instituições. E a
1
passagem da “consciência individual” às representações coletivas, estas caracterizadas
pela exterioridade relativamente àquelas, explica-se pelas forças sui generis que
transformam o que ocorre nas interações entre os indivíduos em “outra coisa”: “As
representações coletivas são exteriores às consciências individuais uma vez que não
derivam dos indivíduos tomados isoladamente mas do seu concurso os sentimentos
privados só se tornam sociais quando se combinam sob a cação de forças sui generis
que desenvolve a associação, na sequência destas combinações e alterações mútuas
que daí resultam, tornam-se outra coisa.
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acontecem na interface que é a relação que o ator estabelece com os outros atores,
então o sistema cognitivo de que este se serve para conhecer é também enformado
pelas relações sociais que o ator estabelece, pelo contexto social e ideológico em que
o indivíduo se insere.
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mundo, verificou que as representações sociais, por se constituírem como um quadro
lógico e coerente, contribuem para a construção de si próprias.
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As representações sociais constituem assim uma orientação para a ação na medida em
que modelam e constituem os elementos de um contexto em que um comportamento
terá lugar. Ou seja, a ação envolve um sistema representacional que permite logo à
partida contextualizar o novo objeto na rede das representações já existentes. É esta
1
dimensão social das representações sociais que lhe confere a capacidade de instituir
uma ordem ao mundo e aos objetos que dele fazem parte e, de sustentar essa mesma
ordem de uma forma partilhada pelos indivíduos de uma sociedade.
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se criasse um deserto emocional. O psicólogo equaciona a possibilidade do sujeito
aceitar, conter e transformar os conteúdos expelidos por identificação projetiva,
devolve sua dependência de forma mais tolerável.
O conceito toxicodependência mudou muito desde 1960, quando a OMS coloca como
sendo a Dependência de Drogas ou Química um estado do organismo proveniente do
uso periódico ou continuo de certas drogas que leva a um desejo físico e ou psíquico
do seu uso.
Em uma recente revisão da OMS (1997) esta define a dependência química como um
estado psíquico e físico que sempre incluem uma compulsão de modo contínuo ou
periódico, podendo causar várias doenças crônicas físico-psíquicas, com sérios
distúrbios de comportamento. Pode também, ser resultado de fatores biológicos,
genéticos, psicossociais, ambientais e culturais, considerada hoje como uma epidemia
social, pois atinge toda gama da sociedade, desde a classe social mais elevada a mais
baixa.
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A dependência química está classificada como Transtornos por uso de Substâncias. A
característica essencial da Dependência de Substância é a presença de um
agrupamento de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos indicando que o
indivíduo continua utilizando uma substância, apesar de problemas significativos
1
relacionados a ela. Existe um padrão de autoadministração repetida que geralmente
resulta em tolerância, abstinência e comportamento compulsivo de consumo da
droga.
Os critérios devem ocorrer num período de 12 meses e o usuário deve apresentar pelo
menos três dos seguintes sintomas: tolerância; abstinência; a substância é
frequentemente usada em grandes quantidades ou por um período maior que o
intencionado; desejo persistente ou esforço sem sucesso de diminuir ou controlar a
ingestão da substância; grandes períodos de tempo utilizados em atividades
necessárias. para obter a substância; usá-la ou recuperar-se de seus efeitos; reduzir ou
abandonar atividades sociais; recreacionais ou ocupacionais por causa do uso da
substância; uso continuado da substância; apesar do conhecimento de ter um
problema físico ou psicológico ou recorrente que tenha sido causado ou exacerbado
pela substância.
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Discutir a quantidade de consumo da substância na dependência química supõe uma
noção quantitativa para algo que está na verdade no âmbito qualitativo, implicando
valores e sentidos, posições éticas mais do que lógicas ou exatas. Portanto, é essencial
considerar o indivíduo com sua história, seu organismo e o contexto social no qual está
1
inserido, porque o tipo de vínculo estabelecido não é determinado pela substância que
o tornou dependente, nem pela quantidade consumida que possa ser pré-
determinada.
A dependência química foi classificada pela OMS como uma doença, que requer
cuidados específicos e isso significa que mesmo com a resistência dos próprios
dependentes e seus familiares, é preciso compreendê-la como um estado mental,
físico, que resulta da interação entre um organismo vivo e uma droga. É preciso vê-a
também como uma doença fatal, pois a droga destrói diretamente o organismo,
afetando a saúde do individuo, causa danos irreversíveis e pode chegar a morte por
overdose ou consequências do consumo, devido a criminalidade que envolve e estar
sempre em situação de risco, tanto o dependente quanto os que o acompanham,
chamados de co-dependentes.
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consumo de substâncias, ou do comportamento aditivo não relacionado com
substâncias.
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5-Conceito de dependência
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a diminuição acentuada do efeito com a utilização continuada da mesma
quantidade de substância;
2) Abstinência, manifestado por síndrome de abstinência característica da
substância ou quando a mesma substância (ou outra relacionada) é consumida
1
para aliviar ou evitar os sintomas de abstinência;
3) A substância é frequentemente consumida em quantidades superiores ou por
um período mais longo do que se pretendia;
4) Existe desejo persistente ou esforços, sem êxito, para diminuir ou controlar a
utilização da substância;
5) É despendida grande quantidade de tempo em atividades necessárias à
obtenção e utilização da substância e à recuperação dos seus efeitos;
6) São abandonadas importantes atividades sociais, ocupacionais ou recreativas
devido à utilização da substância;
7) A utilização da substância é continuada apesar da existência de um problema
persistente ou recorrente, físico ou psicológico, provavelmente causado ou
exacerbado pela utilização da substância. A OMS define dependência como
“um estado de necessidade física e/ou psíquica de uma ou mais drogas,
resultante do seu uso contínuo ou periódico”, considerando, ainda, que a
dependência pode ser física e psicológica. A dependência física é definida
segundo esta organização como “um estado anormal produzido pelo uso
repetido de droga”. Com o passar do tempo e com o uso crescente de drogas, o
organismo deixa de conseguir sobreviver sem as drogas, podendo surgir nesta
fase a síndrome de abstinência. Este refere-se a um conjunto de sintomas
físicos e psíquicos resultantes da supressão da ingestão de uma droga da qual
há dependência física. A tolerância, ainda segundo a OMS, é um estado de
adaptação caracterizado pela diminuição da resposta a uma mesma quantidade
duma droga. Assim, parte-se do pressuposto que, para se continuar a
experimentar efeitos semelhantes, é necessário aumentar a dose. Por sua vez,
a dependência psicológica é um estado de vontade incontrolável de ingerir
drogas periódica ou continuamente que conduz o individuo a uma falta de
liberdade, dada a relação pessoal que mantém com a substância, sentindo
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desconforto e vazio pela falta do produto. Esta dependência corresponde a um
estado mental em que há um desejo persistente de dar continuidade ao prazer
conquistado através do consumo dessa substância. A representação da droga
subsiste como recordação e evocação de algo que foi vivenciado,
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simultaneamente, como prazer e desprazer, mas do qual ressaltam as
experiências satisfatórias.
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A legislação do “combate à droga” foi revista em 1993 pelo Decreto-Lei n.º 15/93, de
22 de Janeiro, na sequência da ratificação por Portugal em 1991 da Convenção das
Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito de Estupefacientes e Substâncias Psicotrópicas
de 1988, contemplando também os tratados multilaterais ou as disposições da União
Europeia em matéria de branqueamento de capitais.
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Face à existência do “consenso formado em torno da perigosidade de novas
substâncias psicoativas já conhecidas e da suscetibilidade de, assim, prever novas
contra-ordenações, julgou-se indispensável estabelecer medidas sanitárias de efeito
imediato contra a produção, distribuição, venda, dispensa, importação, exportação e
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publicidade de outras novas substâncias que venham a surgir no mercado, perante a
ameaça grave e impressível que estas substâncias encerram”.
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7-Novos padrões de consumo
As motivações para o consumo podem ser as mais diversas, sejam elas individuais ou
grupais como, a moda, a curiosidade/experimentação, afirmação, ociosidade, prazer,
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frustração, solidão, afirmação, integração grupal, pressão dos pares, entre outros, e
até mesmo o facto de ser legal e de fácil acesso para todos, em qualquer altura e
sempre nos locais mais privilegiados para a sua compra.
Outros fatores que favorecem o uso de droga como o mito da droga, a idade, a
curiosidade, a necessidade da pessoa ser aceite e de se integrar no grupo, necessidade
da pessoa se chamar a atenção (i.e., contestar), o prazer, o desafio (i.e., o prazer do
risco), a dificuldade da pessoa se afirmar, a dificuldade que a pessoa possa ter em se
projetar no futuro, a infantilização, o medo de crescer, as facilidades financeiras
desajustadas às necessidades do jovem e à sua capacidade de gerir adequadamente, a
ausência de figuras que sejam referências estruturadas (pode ser os pais, professores
ou outros familiares próximos), a necessidade de algo que faça esquecer ou que faça
de doping para ultrapassar situações vividas como terríveis.
Outra ideia que é fundamental reter é que, hoje em dia, o consumidor de substâncias
ditas sintéticas não está obrigatoriamente associado à imagem de alguém
toxicodependente e degradado, o que vem reforçar a simplicidade inerente ao ato de
consumo de várias substâncias ditas recreativas. Assim sendo, esta “nova realidade”
remete bem para aquilo a que se chama drogas suscetíveis de abuso, i.e. qual for a
substância tomada por qualquer via de administração, que altere o humor, o grau de
perceção ou o funcionamento do cérebro.
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compromisso possível de estar na vida, na medida em que, o individuo consome
porque vê na droga uma solução para o seu mal-estar (Rosa, Gomes & Carvalho, 2000).
Sendo que este consumo de substâncias é uma forma de substituição, por via química,
das necessidades de dependência emocional, que não é adequadamente expressa ao
1
nível cognitivo e emocional.
As atitudes não são diretamente observáveis, são uma variável latente explicativa da
relação entre a situação em que as pessoas se encontram e o seu comportamento.
Tratando assim, de uma inferência sobre os processos psicológicos internos de um
individuo, feita a partir da observação dos seus comportamentos (verbais ou outros).
Consideram-se as atitudes como aprendidas e alteráveis, uma vez que estas se
expressam através de um julgamento avaliativo.
Por outras palavras, trata-se de uma variável que funciona como uma preparação para
a ação relativamente a um dado objeto, é a preparação mental ou neutral, organizada
através da experiencias, das respostas individuais a todos os objetos ou situações que
com se relaciona.
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O que está por detrás da designação de drogas leves são aquelas substâncias
psicotrópicas que permitem uma maior flexibilidade no seu uso e experimentação,
sem afetar os âmbitos de uma vida normal. Já as pesadas, corresponderiam àquelas
que facilitam ou induzem o descontrolo do uso e o vício, seja pela própria substância
em si, seja pela forma como é utilizada, promovendo e facilitando a marginalização do
indivíduo do seu contexto social. Assim, para uma população suscetível ao consumo de
drogas, ou mesmo para o consumidor de drogas leves, este critério de classificação
funciona como uma espécie de proteção, e alerta contra aquelas substâncias ou usos
pesados, onde a pessoa terá possibilidade de perder mais facilmente o controlo da sua
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situação de uso, o sujeito que consome drogas, tende para não encontrar mais
nenhum prazer senão o da própria droga, convertendo-se, desta forma, no único
interesse, no centro de todas as suas atenções. O consumidor de drogas, não tem
capacidade de assegurar o sentimento de bem-estar psíquico, de unidade interior,
1
revelando dificuldades ao nível das relações afetivas de boa qualidade e duradouras.
Devido a tudo isto, recorre à droga, como meio de suportar um estado de intenso
sofrimento interior.
Perante o consumo de droga nos jovens, importa distinguir o tipo, a função e a sua
repercussão na vida social e afetiva do sujeito.
O consumo de substâncias químicas surge como uma valiosa ajuda para estes sujeitos,
para gerir e lidar com os afetos negativos, experienciar e controlar emoções. Muitas
das observações clínicas, destes autores, mostram que, os estados de sofrimento são
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determinantes psicológicos importantes, para que o uso de drogas se transforme
numa perturbação, i.e., para que estes sujeitos passem de consumidores esporádicos a
toxicodependentes. Estudos da personalidade, realizados com toxicodependentes e
consumidores de drogas, abordam uma história pessoal de condutas antissociais e um
1
alto nível de depressão. Realçando até que a personalidade do toxicodependente é
marcada por uma necessidade de orientação e aprovação por parte dos outros,
percecionando-se como alguém sem poder, ineficaz procurando insistentemente
suporte e segurança nos outros.
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Não existe nenhuma estrutura de personalidade típica da toxicodependência, pelo que
a farmocodependência pode desenvolver-se em qualquer tipo de estrutura mental e
em qualquer instante, desde que estejamos na presença de determinadas condições.
Ainda que, não há drogados tipo, mas indivíduos com excessos em alguma vertente da
sua personalidade. Fazem referência ao facto que, havendo traços comuns, é no
masoquismo devido à forma como se perdem com os seus atos e na culpabilidade
retaliatória, pois eles castigam-se devido à forma como procedem, em vez de sentirem
a culpa como tal. É conclusivo, que existe uma associação entre personalidade e
emoções, sendo estas consideradas como um dos elementos constituintes da
personalidade.
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A reinserção é um passo importante a ser implementado junto de indivíduos que se
encontrem em tratamento ou abstinência do consumo de drogas. É nesta área que são
desenvolvidas condições para serem novamente integrados na sociedade, tentando
reestruturar os parâmetros de vida ativa e integração social, designadamente, na
obtenção de emprego, fortalecimento das relações familiares, habitação, educação,
entre outros. Assim, a reinserção dos indivíduos toxicodependentes na sociedade
permite implementar estratégias preventivas de eventuais comportamentos
desviantes ou criminosas.
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drogas, sem anular comportamentos de consumo de substâncias ilícitas. Em concreto,
esta estratégia foca-se na educação, tanto para redução de riscos como para
minimização dos danos. Da mesma forma, procura-se reformular práticas públicas
associadas ao consumo de drogas, no sentido de prevenir danos para a saúde pública.
1
Em suma, com a heterogeneidade dos indivíduos que sobrem de distúrbios de uso de
substâncias e tendo em conta as demais dimensões psicossociais da pessoa, torna-se
necessário delinear diferentes respostas passíveis de responder às distintas
necessidades vigentes nesta problemática. Assim, esta perspetiva multifacetada
desconstruiu uma visão tendencialmente cartesiana, assumindo o indivíduo como
biopsicossocial e, por isso, contextualizar o fenómeno da toxicodependência na
sociedade atual implica considerar a interação entre vários grupos, exigindo
transformações substanciais na organização social, reduzindo desigualdades e, em
paralelo, alterar os parâmetros de formação dos profissionais em contacto com esta
realidade.
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dos comportamentos aditivos e das dependências, designadamente definindo normas,
metodologias e requisitos a satisfazer para garantir a qualidade;
g) Definir as linhas de orientação técnica e normativa para a intervenção nas áreas dos
comportamentos aditivos e das dependências.
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l) Prestar o apoio técnico e administrativo e garantir as infraestruturas necessárias ao
funcionamento das Comissões para a Dissuasão da Toxicodependência;
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Desta forma, Portugal não é exceção Entretanto, a partir do século XX, acontecem
profundas transformações no que diz respeito ao processo saúde/doença, pelo que
acontece a definição de intervenções particulares. Em meados de 1983, a emergência
do modelo biopsicossocial como referência dominante advém da reformulação de uma
nova perspetiva social e política relativamente ao fenómeno de consumo de drogas,
que adquiriu contornos de uma visão sociológica e institucional.
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Este modelo destacou-se pela reformulação conceptual e, por consequência,
restruturação da estratégia organizativa e estrutural na área da droga, em geral, e da
toxicodependência, em particular. Pensar em fenómenos sociais sob uma perspetiva
meramente biológica circunscreve de forma reducionista o indivíduo a apenas uma das
1
suas múltiplas dimensões, pelo que importa observar o indivíduo numa lógica
multidimensional e integral, no qual as drogas possuem uma representação específica.
O papel do Técnico de Apoio Psicossocial que aqui surge no que à área da prevenção
respeita, tal como nome aponta, a mesma foca-se na tentativa de prevenção do
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consumo de substâncias ilícitas entre a população em geral, de forma transversal às
diferentes fixas etárias, entre outras características pessoais e sociais passíveis de
discriminar diferentes características interpessoais.
Nos últimos anos, este tipo de intervenção tem alcançado especial preponderância
junto de jovens, no sentido de fortalecer e estimular competências sociais e
emocionais. Exemplo destas iniciativas são o Programa Escola Segura e os Centros de
Informação e Acolhimento.
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secundária e terciária. Prevenção primária resume um conjunto de intervenções junto
de não consumidores, de forma a comunicar informações cruciais e,
consequentemente, prevenir comportamentos de risco no âmbito do consumo de
droga. Prevenção secundária, por outro lado, inclui um conjunto de estratégias que
1
consumidores de droga, para que seja feito tratamento de despiste de dependência de
substâncias e outras sequelas associadas. Por fim, prevenção terciária é o derradeiro
patamar de intervenção preventiva, neste caso, a nível da reincidência. Este processo
reúne estratégias de apoio a pessoas que já consumiram, intervindo no sentido de
evitar recaídas.
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