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FILME INTERACTIVO: MODOS DE USAR

Como temos vindo a assinalar nestas páginas, o filme percorre hoje novos
trajectos que o distanciam dos seus modos de exibição e recepção convencionais
e o colocam perante novas possibilidades. Neste quadro, o que significa falar em
filme interactivo e qual é o papel atribuível ao espectador? Como pode o
espectador comunicar com o filme?
O filme interactivo permite vários registos de leitura como o hipertexto, a
multiplicidade de ecrãs, o cinema ao vivo (“life cinema”), entre outros, e supõe a
ausência de linearidade narrativa e a possibilidade de intervenção do espectador
como simultâneo construtor do discurso. A cineasta Cláudia Tomaz distingue duas
modalidade de filme interactivo. Na primeira hipótese, o filme configura-se como
self medium, tendo como destinatário não uma audiência colectiva mas antes um
indivíduo que interage com este, obtendo assim uma interactividade semelhante
à do videojogo (no modelo first person). A segunda é designada como
performativa. Nesta modalidade, o filme é construído como um espectáculo ao
vivo, concretizado mediante a interacção entre o autor e o público, combinando
material filmado previamente e a actuação que o autor vai desenvolvendo no seu
contacto com as reacções da audiência. No âmbito do cinema performativo, é
possível emitir simultaneamente em vários ecrãs (ou outros interfaces que podem
tornar o processo de mediação quase invisível) estabelecendo interconexões
entre os vários estímulos visuais ou permitindo à audiência a definição desses
nexos.
Neste quadro de diferentes modalidades integra-se o Soft Cinema, conceito de
cinema delineado por Lev Manovich, que consiste na combinação aleatória de
sons e imagens previamente organizadas em bases de dados montadas pelo
computador e que pode assumir quer a natureza de self medium quer a de
performance. No caso do Soft Cinema estamos perante um cinema que não
apresenta uma estrutura linear ou uma narrativa no sentido convencional mas
que se configura antes como uma obra inacabada em permanente reformulação
em resultado das combinatórias construídas pelo computador.
No contexto do filme interactivo originam-se novas narrativas multi-lineares (isto
é, com múltiplos fios narrativos), concebidas pelo engenho do argumentista e do
cineasta ou definidas pela gestão de combinatórias digitais. Nestas narrativas e
histórias em construção cujo significado não está estabilizado ou, por vezes, não
definido à partida, o relato torna-se complexo pela sobreposição e
entrecruzamento de várias camadas de som, imagem e texto escrito. A atitude de
recepção da obra fílmica altera-se O novo espectador pode participar na sua
delineação seleccionando uma de entre as hipóteses possíveis previamente
configuradas ou acrescentando-lhe outras imagens se dispuser de uma câmara e
de um computador portátil e puder emitir directamente para a base de dados de
onde provém o filme a que está a assistir.

Marta Pinho Alves

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