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34º Congresso de Pesquisa e Ensino em Transporte da ANPET

100% Digital, 16 a 21 de novembro de 2020

IMPACTO DA ATIVAÇÃO DO LIGANTE ASFÁLTICO DO FRESADO NA CURVA


GRANULOMÉTRICA DE MISTURAS ASFÁLTICAS RECICLADAS

Wellington Lorran Gaia Ferreira1,2


Verônica Teixeira Franco Castelo Branco2
Kamilla Vasconcelos Savasini3
Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA)1
Universidade Federal do Ceará2
Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Transportes – PETRAN2
Universidade de São Paulo (USP)3
Laboratório de Tecnologia de Pavimentação3

RESUMO
Na literatura é comum a avaliação do grau de ativação do ligante asfáltico do fresado por meio de estudos no ligante
asfáltico, porém há carência de trabalhos que buscam entender o impacto desse fenômeno no esqueleto mineral de
Misturas Asfálticas Recicladas a Quente (MARQ). O objetivo desse estudo é avaliar o impacto da ativação parcial do
ligante do fresado na curva granulométrica de MARQ. Foram realizados estágios de extração de ligante em dois
fresados a fim de simular diferentes níveis de ativação do ligante. Após isso, a curva granulométrica foi obtida para
cada amostra de fresado. Em seguida, utilizando uma curva granulométrica de referência (sem fresado), criou-se
MARQ hipotéticas nas porcentagens de 20%, 40% e 60% de fresado, considerando a granulometria do fresado após
diferentes cenários de ativação do ligante. Os resultados indicam que houve significante impacto da ativação parcial
do ligante na curva granulométrica da MARQ, principalmente para porcentagens de fresado acima de 40% com nível
de ativação do ligante entre 40% e 60%.

Palavras chave: fresado, misturas asfálticas recicladas, agregados, granulometria.

ABSTRACT
In the literature it is common to assess the degree of activation (DoA) of reclaimed asphalt binder (RAP) from the
asphalt binder perspective, but there is lack of studies that seek to understand the impact of this phenomenon on the
aggregate properties of recycled asphalt mixtures (RAM). In this context, the objective of this study is evaluating the
impact of RAP binder partial activation on the gradation curve of RAM. Staged of binder extraction were carried out
in two RAPs to achieve different levels of binder activation. After this process, the gradation curve was obtained for
each sample. Then, using a control granulometric curve (without RAP), hypothetical RAMs were created in the
percentages of 20%, 40% and 60% of RAP, considering the RAP size distribution after different binder activation
scenarios. The results indicate that there was a significant impact of the RAP binder partial activation on the gradation
curve of the RAM, mainly for RAP percentages above 40% with DoA between 40% and 60%.

Keywords: RAP, recycled asphalt mixture, aggregates, size distribution.

1. INTRODUÇÃO
A busca por novos materiais que possam ser utilizados na pavimentação asfáltica tem sido foco de
muitos pesquisadores. A disponibilidade, qualidade e custo dos materiais (agregados e ligantes
asfálticos) são pontos críticos, principalmente pelo alto volume de agregados utilizados e o alto
preço do ligante asfáltico. Desta forma, o uso de material fresado (do inglês, Reclaimed Pavement
Asphalt – RAP), produzido durante os serviços de reabilitação do pavimento asfáltico, se tornou
comum nas obras de pavimentação. Nos EU, cerca de 76 milhões de toneladas de RAP/ano estão
disponíveis para reciclagem, gerando uma economia de $3,4 bilhões por ano (Newcomb, Epps e
Zhou, 2016). Em alguns países da Europa pelo menos 70% do RAP disponível é usado em misturas
asfálticas (os valores geralmente variam de 5 a 25% de RAP nas misturas asfálticas) (Mohajeri,

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2015). O uso de elevadas quantidades de RAP (acima de 20-25%) está aumentando em todo o
mundo; entretanto, ainda existem preocupações relacionadas ao projeto de Misturas Asfálticas
Recicladas a Quente (MARQ) e seu desempenho a longo prazo devido à presença da maior
quantidade de ligante envelhecido e a alta heterogeneidade do material, bem como questões práticas
das usinas de asfalto.

Devido ao alto interesse em MARQ, especialmente com maior quantidade de RAP, o grau de
ativação do ligante presente no RAP (do inglês, Degree of Binder Activity - DoA), bem como o
grau de interação entre este e o agente de reciclagem (ligante virgem e/ou rejuvenescedor) são
pontos-chave para o projeto da MARQ. O DoA indica a porcentagem de ligante do RAP que um
projetista pode considerar para projetar a mistura reciclada (Lo Presti et al., 2019). A maioria dos
estudos concentra esforços na análise do DoA do ponto de vista do ligante asfáltico; no entanto, é
importante analisar esse fenômeno não só sob este aspecto, mas também do ponto de vista da
composição do esqueleto mineral da MARQ.

A ativação parcial do ligante do RAP representa o cenário mais aceito na literatura (Huang et al.,
2005; Shirodkar et al., 2011; Al-Qadi et al., 2009; Cavalli et al., 2017; Abed, Thom e Lo Presti,
2018, Kasser, Arámbula-Mercado e Martins, 2019), o que significa que parte do ligante do RAP
ficará inativo. Devido a este fato, não está claro quais propriedades do RAP, como granulometria
e forma, devem ser usadas para projetar a MARQ. A AASHTO M 323-17 especifica os parâmetros
Superpave para o projeto da misturas asfálticas (incluindo misturas recicladas) e informa que os
agregados do RAP devem ser caracterizados após a extração por solvente ou com o uso de um
forno de ignição. Dessa forma, para o projeto da MARQ, é comum caracterizar RAPs com 0% ou
100% de ativação do ligante. Essas suposições desconsideram o cenário de ativação parcial que é
o mais aceito, como comentado anteriormente.

Neste contexto, não está claro qual granulometria deve ser usada para projetar MARQ, a
granulometria após a extração total do ligante presente no RAP ou a granulometria quando o RAP
é revestido com uma camada de ligante asfáltico com propriedades (espessura e características do
ligante) desconhecidas. Além disso, a presença de grumos também pode afetar o comportamento
do material. Nesse fenômeno, duas ou mais particulas de RAP são agrupadas funcionando como
um único agregado. Ainda faltam recomendações ou especificações que considerem que o RAP é
um material heterogêneo e instável, que muda conforme a ativação e a dissociação dos grumos
presente no mesmo. Assim, o objetivo principal desta pesquisa é avaliar o impacto da ativação
parcial do ligante do RAP na curva granulométrica de projeto da MARQ.

2. MATERIAIS E MÉTODOS
Em campo, foram coletados cerca de 80kg de RAP e, em seguida, o material foi homogeneizado e
espalhado em superfície plana por três dias para eliminação da umidade. Dois RAPs foram
analisados (Figura 1). A Figura 1 apresenta a curva granulométrica, o Tamanho Máximo Nominal
(TMN) e o teor de ligante de cada RAP. As frações RAP abaixo da peneira #30 (0,60 mm) foram
excluídas pois dessa forma após a ativação do ligante, cada particula abaixo da #30 (0,60 mm) deve
pertencer aos grumos. Isso pode ser usado como um parâmetro para quantificar esse fenômeno em
cada RAP.

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100
80 #4
RAP 1 - 1/2" (12.5mm) #30
% Passante 60
40 Teor de Ligante (TL):
RAP 2 - 3/4" (19.0mm) RAP 1 = 5.2%
20 RAP 2 = 7.1%

0
0.01 0.1 1 10 100
Abertura da peneira (mm)
Figura 1: Curvas granulométricas dos RAPs.

Para obter RAPs com diferentes graus de ativação do ligante, foram utilizadas etapas de extração
de ligante. O procedimento consiste em manter amostras de RAPs (cerca de 1.000g) imersas em
solvente (tolueno) por 2 minutos e então o método de centrifugação (ASTM D2172-18, método A)
foi usado para separar a solução (ligante asfáltico + tolueno) de agregados. A primeira etapa desse
processo é calcular o teor Total de Ligante (TL) do RAP. O TL representa 100% de DoA, o que
significa que todo o ligante asfáltico está ativado. A Figura 2 ilustra duas etapas de extração. O
procedimento é repetido e segue até remover o máximo possível de ligante asfáltico do RAP. O
número de estágios (DoA 1, DoA 2, ..., DoA n) depende das características do RAP (como TMN,
idade, granulometria e outros). A amostra de RAP a ser testada foi selecionada considerando a
percentagem retida em cada peneira seguindo a curva granulométrica de cada RAP; dessa forma,
foi possível controlar a quantidade exata da fração de RAP em cada peneira antes e após cada etapa
de extração do ligante.

Figura 2: Representação de dois estágios de extração de ligante asfáltico do RAP.

Após o processo de centrifugação, os agregados foram mantidos em uma bandeja plana dentro da
capela com exaustor até a completa secagem (peso constante). Não foi utilizada estufa para secar
as amostras a fim de evitar qualquer ativação do ligante asfáltico remanescente. O método de
centrifugação foi escolhido para permitir que todas as frações de RAP fossem propensas à ativação,
uma vez que o RAP é mantido imerso no solvente. Para cada estágio de extração do ligante, duas

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amostras (S1 e S2) foram preparadas. A Tabela 1 apresenta os valores de DoA para cada RAP e
para cada amostra. O DoA é cumulativo e varia de 0%, que representa o RAP antes de qualquer
extração de ligante, a 100% após duas ou mais extrações de ligante. Os números de 1 a 3 referem-
se à quantidade de extrações de ligante, isto é, DoA 1 é a primeira extração de aglutinante, DoA 2
é a segunda e assim por diante. O DoA 0 representa o “black rock”, o que significa o RAP antes de
qualquer ativação do ligante.

Tabela 1: DoA para cada RAP, duas amostras (S1 and S2).
RAP 1 RAP 2
S1 S2 S1 S2
DoA 0 (%) 0 0
DoA 1 (%) 61 63 43 44
DoA 2 (%) 85 85 68 73
DoA 3 (%) 100 100

Após a execução do processo que gerou RAPs com diferentes níves de ativação de ligante, uma
análise granulométrica foi realizada em cada amostra (S1 e S2). Em seguida, para avaliar o impacto
desse fenômeno na curva granulométrica de projeto de MARQ, utilizou-se uma curva
granulométrica de referência (sem RAP) que representa para esse estudo a curva granulométrica
de controle (Figura 3). A porcentagem de cada um dos (4) quatro agregados que compõem essa
curva são: 17,1% agregado 1; 46,7% agregado 2; 25,4% agregado 3 e 10,8% agregado 4. Os limites
de tolerância apresentados na Figura 3 foram obtidos na norma DNIT 031/2006 – ES, e referem-se
a faixa de tolerância para curvas granulométricas de projeto. Esses valores variam de ±7% para as
peneiras mais graúdas (acima da #4 – 4.75mm) até ±2% para a #200 (0.075mm).

100
Curva de Projeto de Controle (0% de RAP)
80 #30
Agreg. 1
#4
Passante (%)

60 Agreg. 2

40 Agreg. 3

Agreg. 4
20
Limites de Tolerância
0
0.01 0.1 1 10 100
Abertura da Peneira (mm)
Figura 3: Curva granulométrica dos agregados e de controle da mistura asfáltica.

Com base na curva granulométrica de controle que representa a situação onde não há RAP (0% de
RAP), três cenários foram avaliados considerando 20%, 40% e 60% de RAP adicionados para
projetar misturas asfálticas recicladas. Essas porcentagens foram escolhidas com base em valores
comuns encontrados na literatura para misturas recicladas. Há um esforço para se aumentar os
teores de RAP em MARQ, isto é, projetar misturas com teores de fresado acima de 20-25%. Para
cada cenário, foram simulados o impacto da curva granulométrica do RAP após cada estágio de
extração, isto é, diferentes níveis de ativação do ligante (DoA 1 até DoA 3, Tabela 1), na curva

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granulométrica de projeto da MARQ. Os limites de tolerância apresentados na Figure 3 servirão


como base para verificar se as mudanças na curva granulométrica da MARQ considerando
diferentes níveis de ativação do ligante asfáltico do RAP foram significantes ou não.

4. RESULTADOS
Inicialmente, a curva granulométrica de cada um dos RAPs após cada estágio de extração é
apresentada na Figura 4. Como os resultados nas amostras 1 e 2 foram similares, apenas os
resultados das amostras 1 estão presentes na Figura 4.

100 100
RAP 1 - DoA = 0% RAP 2 - DoA = 0%
80 DoA - 61% 80 DoA - 43%
DoA - 85%
% Passante

DoA - 68%

% Passante
60 DoA - 100% 60
DoA - 100%

40 #30
40 #30

20 20 #4
#4

0 0
0.01 0.1 1 10 100 0.01 0.1 1 10 100
Abertura Peneira (mm) Abertura Peneira (mm)
(a) (b)
Figura 4: Curva granulométrica dos RAPs após cada estágio de ativação, RAP 1 (a) eRAP 2 (b).

Observando os resultados apresentados na Figura 4 verifica-se que após os primeiros estágios de


extração, as curvas inicialmente ficam abaixo da curva granulométrica do RAP (DoA = 0%), porém
com o aumento dos estágios de extração, a curva tende a subir. Isso ocorre pois a medida que os
grumos são dissociados e o ligante asfáltico é ativado, a quantidade de partículas finas, abaixo da
#30 tende a crescer pois os grumos se desmancham. A parte graúda (acima da #4) do RAP 2 parece
ter sofrido mais impacto do processo de ativação se comparada com o RAP 1. O RAP 2 apresenta
maior TMN (19mm) e também uma maior quantidade de agregados graúdos, o que pode ajudar a
explicar esses resultados. Ademais, verifica-se que a curva granulométrica após a primeira extração
e a última extração apresenta diferenças significativas (em algumas peneiras essa diferença chega
a ser de 10% ou mais). A quantidade de partículas abaixo da #30 fica próximo de 20% após o
último estágio de extração, o que indica a grande quantidade de particulas miúdas que estavam
agrupadas funcionando como grumos.

4.1 Curva Granulométrica de Projeto


Após observar o comportamento das curvas granulométricas do RAP depois de cada estágio de
extração, foi analisado o impacto dessas diferenças na curva de projeto de controle quando misturas
asfálticas recicladas foram simuladas. Para realizar essa análise, as seguintes etapas foram
realizadas. Inicialmente, adiciou-se à curva granulométrica de controle as porcentagens de 20%,
40% e 60% de RAP em relação ao peso total da mistura asfáltica considerando a situação onde
100% do ligante do RAP foi ativado (DoA = 100%), esse cenário representa o que acontece
atualmente na maior parte dos projetos de misturas recicladas. Foi utilizada a ferramenta solver do
excel para ajustar as porcentagens de forma a minimizar as possíveis diferenças entre a curva

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granulométrica de controle (0% de RAP) e as curvas após adicionar os RAPs na condição de 100%
de ativação do ligante asfáltico. Em seguida, com as porcentagens de cada agregado definidas
(agregados convencionais e RAP), mudaram-se apenas as curvas granulométricas do RAP
considerando os cenários para diferentes estágios de ativação do ligante asfáltico, apresentados na
Figura 4 da seção anterior. Isto é, a curva de projeto foi definida para 100% de ativação do ligante
asfáltico, porém se isso não ocorrer de fato, a curva granulométrica mudará, como apresentado na
Figura 5, onde pode-se verificar os resultados para o RAP 2, amostra 1. Os resultados para o RAP
1 seguiram a mesma tendência.

100
Curva de Projeto (Sem RAP)
80 DoA = 100% (20% RAP)
DoA = 43%
Passante (%)

60 DoA = 68%
Limites de Tolerância
40

20

0
0.01 0.1 1 10 100
Abertura Peneira (mm)
(a)
100
Curva de Projeto (Sem RAP)
80 DoA = 100% (40% RAP)
DoA = 43%
Passante (%)

60 DoA = 68%
Limites de Tolerância
40

20

0
0.01 0.1 1 10 100
Abertura Peneira (mm)
(b)
100
Curva de Projeto ( Sem RAP)
DoA = 100% (60% RAP)
80 DoA = 43%
DoA = 68%
Passante (%)

60 Limites de Tolerância

40

20

0
0.01 0.1 1 10 100
Abertura Peneira (mm)
Figura 5: Curvas granulométricas de projeto para diferentes estágios de ativação do ligante do RAP 2 – S1, 20%
de RAP (a), 40% de RAP (b) e 60% de RAP (c).

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Os resultados apresentados na Figura 5 indicam que, inicialmente, à medida que a porcentagem de


RAP aumenta, a diferença entre a curva de controle e as curvas considerando cada estágio de
extração tendem a aumentar, como esperado, visto que se aumentou a proporção de RAP no total.
No entanto, em alguns casos (acima de 40% de RAP para os casos avaliados nesse estudo), para
valores de ativação do ligante asfáltico entre 40% e 60% de DoA aproximadamente, a curva
granulométrica de projeto fica no limite da tolerância inferior (para o cenário com 40% de RAP),
sendo que em alguns pontos (para o cenário com 60% de RAP), a curva ultrapassa esse limite.

Diante dos resultados obtidos, o cenário ideal é que a curva granulométrica de projeto seja definida
a partir da decisão do nível de ativação do ligante asfáltico do RAP que o projetista irá considerar.
Dessa forma, os ajustes das porcentagens dos agregados que compõem a curva de projeto podem
ser definidos com base na curva granulométrica do RAP para aquele grau de ativação específico
definido pelo projetista. A título de exemplo, considerando a mistura reciclada referente aos RAPs
1 e 2 com 60% de RAP, se os ajustes nas porcentagens dos agregados fossem realizados após a
definição do nível de ativação do ligante asfáltico envelhecido presente no RAP, os resultados
seriam diferentes, como apresentado na Figura 6.

100
DoA = 100% (60% RAP)
80 DoA = 61%
DoA = 85%
Passante (%)

Limites de Tolerância
60

40

20

0
0.01 0.1 1 10 100
Abertura da Peneira (mm)
(a)
100
DoA = 100% (60% RAP)
80 DoA = 43%
DoA = 68%
Passante (%)

60 Limites de Tolerância

40

20

0
0.01 0.1 1 10 100
Abertura Peneira (mm)
(b)
Figura 6: Curvas granulométricas de projeto para diferentes estágios de ativação após ajustes das porcentagens dos
componentes considerando RAP 1 – S1, 60% de RAP (a), e RAP 2 – S1, 60% de RAP.

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Como pode-se verificar na Figura 6, as curvas de projeto ficariam dentro dos limites de tolerância
definidos em norma. Outra informação importante seria a porcentagem do RAP que funcionará
como agregado a depender do nível de ativação definido pelo projetista. Dessa forma, criou-se o
parâmetro RAP como Agregado (RCA). O RCA é definido como a porcentagem de fresado que
funcionará como agregado em relação ao total de agregados da MARQ. Para o caso do cenário
apresentado na Figura 6, considerando uma composição com 60% de RAP, a Figura 7 é possível
ver a relaçao do parâmetro RCA versus DoA. Essa curva é característica para cada RAP, para
porcentagem de RAP de projeto.
61 61
60 60 60% de RAP 2
60% de RAP 1
59 59
RAC (%)

RAC (%)
58 58
57 y = -0.0312x + 60 57
y = -0.0426x + 60
56 56
55 55
0 20 40 60 80 100 120 0 20 40 60 80 100 120
DoA (%) DoA (%)
(a) (b)
Figura 7: Porcentagem de RAP como Agregado (RCA) versus DoA, para misturas recicladas com 60% de
RAP, RAP 1 (a) e RAP 2 (b).

Na Figura 7, se o ligante do RAP não for ativado (DoA = 0%), 60% do RAP será totalmente
considerado como agregado nessa situação hipotética. Essa porcentagem muda a depender do nível
de ativação do ligante do RAP, e é importante para definir a porcentagem de agregados virgens que
serão substituídos pela presença do RAP. A inclinação dessa curva também ajuda a diferenciar os
dois RAPs avaliados, quanto mais inclinada a curva (RAP 2), menor será a quantidade de RAP que
funcionará como agregado para um mesmo nível de ativação. Com exemplo, se o DoA de projeto
for igual a 60%, o RAC para o RAP 1 será de 58,2% enquanto que para o RAP 2 será de 57,4%.
Essa diferença parece ser pouca, mas isso pode se tornar maior para diferentes valores de DoA e
vai mudar a depender das características de cada RAP.

5. CONCLUSÕES
Nesse estudo foi avaliado o efeito do grau de ativação do ligante asfáltico do RAP na curva
granulométrica de projeto de misturas asfálticas recicladas a quente. Estágios de extração de ligante
foram realizados em dois RAPs distintos com o objetivo de simular diferentes níveis de ativação
do ligante asfáltico do RAP. Após cada estágio de extração, as curvas granulométricas dos RAPs
foram determinadas. O impacto dessas curvas distintas, após cada estágio de extração, foi avaliado
simulando uma curva de projeto de uma mistura asfáltica reciclada hipotética composta de 20%,
40% e 60% de RAP para diferentes níveis de ativação do ligante asfáltico do fresado.

Os resultados indicam que o nível de ativação do ligante asfáltico do fresado afetou


significativamente a curva granulométrica de projeto da mistura reciclada, especialmente para o
cenário com 60% de RAP e baixos valores de ativação de ligante do fresado (entre 40% e 60%).
As curvas extrapolaram os limites de tolerância definidas nas normas do DNIT. Esses resultados
servem de alerta para os projetistas visto que na maior parte dos casos considera-se o RAP com

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100% de ativação para montar a curva granulométrica de projeto. Porém, o cenário de ativação
parcial ( 0 % < DoA < 100%) é mais realista (e bastante dependente da usina que irá produzir esse
material) e pode gerar curvas granulométricas distintas daquela que foi projetada. Pequenas
modificações na curva granulométrica podem não ser tão relevantes a nível de laboratório, no
entanto, em campo, com uma produção da ordem de toneladas de misturas recicladas, esse impacto
pode ser maior tanto na quantidade dos componentes (agregados e ligante asfáltico), bem como no
desempenho da mistura asfáltica produzida.

Com base nesses resultados, sugere-se que o nível de ativação do ligante asfáltico do RAP seja
previamente definido, considerando valores mais realistas, visto que o cenário mais adotado (100%
de ativação) não representa o que estudos mais atuais indicam. Projetar misturas asfálticas
recicladas considerando 100% de ativação do ligante do RAP não representa a realidade
principalmente para misturas com alto teor de RAP. O cenário de ativação parcial do ligante do
RAP pode gerar esqueletos minerais distintos do cenário onde 100% do ligante foi ativado.
Agradecimentos
Os autores agradecem CAPES, CNPq, FUNCAP e FAPESP pelo suporte financeiro aos autores. Ademais os autores
agradecem a The University of Texas at Austin, Texas, USA, onde os ensaios laboratoriais foram realizados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Cavalli, M. C., Griffa, Partl, M. N., & Poulikakos, L. D. (2017) Measuring the Binder Film Residues on Black Rock in
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10.1016/j.jclepro.2017.02.055.
Huang, B., LI, G., Vukosavljevic, D., Shu, X., Egan, B. (2005) Laboratory Investigation of Mixing Hot-Mix Asphalt
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Lo Presti, D., Vasconcelos, K. L., Oreskovic, M., Pires, G. P., Bressi, S. (2019) On the Degree of Binder Activity of
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Mohajeri, M. (2015) Hot Mix Asphalt Recycling – Practices and Principles. Dissertation. Delft University of
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Wellington Lorran Gaia Ferreira (wellington.ferreira@ufersa.edu.br)1


Verônica Teixeira Franco Castelo Branco (veronica@det.ufc.br)2
Kamilla Vasconcelos Savasini (kamilla.vasconcelos@usp.br )3
1
Departamento de Engenharias, Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Campus Caraúbas/RN
2
Departamento de Engenharia de Transportes, Universidade Federal do Ceará (UFC), Campus do Pici, Fortaleza/CE
3
Departamento de Engenharia de Transportes, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo/SP

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