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Rev Bras Anestesiol

1993; 43: 6: 363 - 372

Artigo de Revisão
Ventilação Pulmonar Independente. Técnicas e Indicações*
Pedro Poso Ruiz-Neto,TSA 1; José Otávio Costa Auler Júnior,TSA 2

Ruiz-Neto PP, Auler Jr JOC - Independent Lung Ventilation. Techniques and Indications.

Key Words: TRACHEAL INTUBATION, double-lumen tubes: complications;


VENTILATION, independent lung ventilation

s tubos de dupla luz são freqüentemente Os primeiros tubos de dupla luz, descri-
O empregadas pelos anestesiologistas du-
rante cirurgia pulmonar, para permitir a venti-
tos por Carlens-Bjorg e White, oferecem di-
ficuldades técnicas durante a intubação das
lação independente dos pulmões. As indicações vias aéreas. Mais tarde outros tipos de tubos de
básicas para o uso destes tubos durante anes- dupla luz foram desenvolvidos, facilitando seu
tesia para cirurgia pulmonar são: emprego, diminuindo a incidência de mau posi-
cionamento, e as complicações associadas a
1 - Evitar-se a contaminação do pulmão nor- seu uso.
mal pelas secreções do pulmão doente, Baseando-se na experiência adquirida
o que pode ocorrer quando se posiciona pelos anestesiologistas no manuseio destes
o paciente anestesiado em decúbito late- tubos, novas indicações foram propostas para
ral, antes da toracotomia1, 2. seu emprego. A indicação mais freqüente em
2 - Possibilitar campo cirúrgico mais ade- UTI é a necessidade de ventilação pulmonar
quado para o cirurgião, pelo bloqueio da mecânica em doentes com pneumopatia unilat-
ventilação pulmonar no pulmão que está eral grave3-17 .
sendo operado. Freqüentemente os doentes que ne-
cessitam de ventilação mecânica apresentam
disfunção pulmonar caracterizada por alteração
* Trabalho realizado na Disciplina de Anestesiologia da Faculdade de da relação ventilação:perfusão nos
Medicina da Universidade de São Paulo.
1 Médico Assistente da Divisão de Anestesia do Hospital das Clínicas pulmões9,18 . Em certos casos o comprometi-
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Doutor em mento pulmonar é unilateral e as alterações da
Anestesiologia pela Disciplina de Anestesiologia da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo. Pós-Doutorando Bolsista da relação ventilação:perfusão estão presentes
FAPESP somente no pulmão doente. Observa-se, então,
2 Prof Associado da Disciplina de Anestesiologia da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo
mudança nas propriedades mecânicas respi-
ratórias em um dos pulmões, que requer cui-
Correspondência para Dr Pedro Poso Ruiz-Neto
Divisão de Anestesia do Hospital da Clínicas da Faculdade de Medicina
dados ventilatórios especiais17 . A presença de
da Universidade de São Paulo complacência heterogênea nos pulmões é
Caixa Postal 8091 acompanhada de distribuição heterogênea da
05403-000 - São Paulo - SP
ventilação durante respiração com pressão po-
Apresentado em 01 de outubro de 1993 sitiva4 . A distribuição do volume corrente para
Aceito para publicação em 05 de novembro de 1993
os pulmões depende de diferentes fatores. Um
© 1993, Sociedade Brasileira de Anestesiologia dele é a constante de tempo pulmonar, calcu-

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lada pelo produto da complacência pulmonar


pela pressão das vias aéreas registradas ao
final da inspiração. Doentes com pneumopatia
unilateral apresentam pulmões com constantes
de tempo diferentes. Ventilando-se os pulmões
destes pacientes com pressão positiva pode-se
observar que o pulmão que apresenta maior
constante de tempo (complacência maior e/ou
resistência de vias aéreas menor) receberá
maior parcela do volume corrente. Neste
cenário, ao instalarem-se valores semelhantes Fig 1 - A: Tubo de Carlens. T: Balonete Traqueal. B: Balonete Brônquico.
de PEEP nos dois pulmões, observa-se C: Esporão Carinal. LSD: Lobo Superior Direito.
PD: Pulmão Direito. LSE: Lobo Superior Esquerdo.
hiperdistensão alveolar do lado não doente, B: Tubo de Robertshaw esquerdo.
causando aumento da resistência vascular pul-
monar. O aumento da resistência vascular pul- O primeiro tubo de dupla luz foi ideali-
monar desvia parte do débito cardíaco do zada por Carlens em 1949 para a realização de
pulmão sadio para o pulmão contralateral mal broncoespirometria diferencial(figura 1A). Bjork
ventilado. Este fato contribui para o aumento do e Carlens em Estocolmo descreveram, em 1951
"shunt" pulmonar e para a queda da oxigenação o emprego e eventuais complicações dos tubos
arterial3,11 . Nesta situação clínica, dentre os cui- durante cirurgia pulmonar19 . É um tubo esquer-
dados respiratórios recomendados, inclui-se o do, portanto o prolongamento endobrônquico
ajuste dos parâmetros ventilatórios de forma intuba o brônquio fonte esquerdo. Tem um
diferenciada para cada pulmão, através do uso esporão carinal, que cavalga a carina traqueal,
da ventilação pulmonar independente, empre- quando a sonda atinge a localização adequada
gando-se tubo de dupla luz para separar a ven- dentro das vias aéreas. Embora ajudando a
tilação dos dois pulmões18 . estabilizar o tubo na posição correta, o esporão
carinal dificulta a passagem do tubo pelas cor-
das vocais, ou mesmo possibilita a ocorrência
de lesões laringotraqueais durante as mano-
Tubos de Dupla Luz bras de intubação20,21 .
Mais tarde, White descreveu outro tubo
Os tubos de dupla luz são construídos de dupla luz, apresentando prolongamento en-
unindo-se dois tubos ao longo do eixo longitudi- dobrônquico direito. O tubo de White asseme-
nal. Classificamos os tubos de dupla luz em lha-se à imagem especular do tubo de
direitos e esquerdos, dependendo do brônquio Carlens30 . Foi inicialmente proposto para ser
seletivamente intubado. Apresentam uma por- utilizado na pneumectomia esquerda, já que o
ção proximal e um prolongamento endobrônqui- prolongamento endobrônquico esquerdo do tu-
co. A parte proximal situa-se acima da carina bo de Carlens poderia dificultar a sutura brôn-
traqueal quando o tubo está corretamente posi- quica. O tubo de White, como todos os tubos
cionado. O prolongamento endobrônquico deve que intubam o brônquio fonte direito, oferece
intubar o brônquio fonte direito ou esquerdo, risco potencial. O brônquio do lobo apical direito
dependendo do tipo de tubo escolhido.O prolon- localiza-se próximo à carina traqueal, havendo
gamento endobrônquico apresenta um balonete a possibilidade do balonete endobrônquico in-
(balonete endobrônquico) que possibilita o iso- flado obstruir sua ventilação, causando atelec-
lamento dos pulmões. Na porção proximal do tasia.Para facilitar a ventilação do lobo superior
tubo existe outro balonete (balonete traqueal). direito existe na extremidade endobrônquica

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dos tubos direitos uma abertura no balonete


endobrônquico. A correta aposição entre a ab-
ertura e o brônquio do lobo superior direito deve
ser confirmada por exame broncofibroscópico,
sempre que possível1,20,22,23 .
Embora mais freqüente quando são u-
sados tubos direitos, o risco de mau posiciona-
mento existe sempre que se empregam tubos
de dupla via, esquerdo ou direito. Variações
anatômicas da árvore brônquica podem tornar
ainda mais marginal o limite de segurança,
quanto ao posicionamento dos tubos de dupla
luz24 . Mudanças na posição do tubo podem
ocorrer, principalmente durante a movimenta-
ção de doentes críticos no leito. Após a mo-
vimentação de pacientes com intubação
endobrônquica, deve-se proceder à verificação
do posicionamento do tubo. Pequenos
movimentos da região cervical do paciente são Fig 2 - Tubo de Robertshaw direito. Note a abertura (A) no balonete
brônquico para ventilação do lobo superior direito (LSD)
críticos para o deslocamento do tubo. A exten-
são da cabeça pode resultar na descanulação
brônquica. A flexão da cabeça introduz o tubo que facilitou as manobras de intubação. Com-
nas vias aéreas em direção caudal, podendo parando-se com os tubos de Carlens, as
resultar em obstrução do lobo superior25 . mudanças na construção resultaram no
Os tubos de Carlens e de White são aumento do diâmetro interno e portanto, na
confeccionadas em borracha vermelha e apre- queda da resistência ao fluxo aéreo1 .
sentam balonetes de baixa complacência. Além No início da década de 80 foram
disso, os diâmetros internos de cada ramo dos lançados tubos com desenho semelhante aos
tubos apresentam valores reduzidos. Observa- de Robertshaw, construídos de PVC não tóxico
se portanto, elevada resistência ao fluxo aéreo, transparente (Bronchocath)2,30,31 . Apresentam
além de dificuldade para realizar-se a aspiração baixa resistência ao fluxo de gases e possibili-
de secreções pulmonares1,26-28 . tam a observação da condensação do ar expi-
Os anestesiologistas inicialmente re- rado nas paredes. Este sinal, indicativo de
solveram o problema da alta resistência e da ventilação pulmonar bilateral, auxilia a verifi-
dificuldade imposta pelo esporão carinal dese- cação do posicionamento do tubo. Por serem
nhando novos tipos de tubos. Destes modelos, transparentes facilitam a broncofibroscopia,
aquele que obteve maior aceitação na clínica foi aumentando a margem de segurança. O
o proposto por Robertshaw no início da década balonete endobrônquico apresenta a coloração
de 60 21, 29 (figura 1B). Os tubos de Robertshaw azul, visível ao exame fibroscópico. A cor azul
esquerdo e direito apresentam configuração di- do balonete fornece um dado adicional para a
ferente quanto ao ângulo da extremidade endo- avaliação do posicionamento durante o ex-
brônquica em relação ao eixo traqueal, sendo ame20 . Os tubos de PVC também se diferen-
menos acentuado no tubo direito. O desenho do ciam pelo fato de apresentarem balonetes de
balonete endobrônquico direito foi modificado, alta complacência. As pressões encontradas no
aumentando sua segurança (figura 2). Robert- balonete brônquico são consideravelmente
shaw propôs a eliminação do esporão carinal, o menores nos tubos de plástico, comparadas aos

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de borracha 2 6 , 2 7 . O plástico aumenta de liga o tubo de dupla luz ao circuito do respirador


flexibilidade à temperatura corpórea e adapta- difere das conexões convencionais, sendo uma
se mais facilmente às eventuais variações peça em "Y". A base do "Y" liga-se ao circuito
anatômicas da árvore brônquica. Embora apre- do respirador e as duas outras extremidades
sentem relativa estabilidade durante o uso pro- conectam separadamente os pulmões, possi-
longado, a possibilidade da ocorrência de bilitando a ventilação isolada de cada órgão.
eventuais deslocamentos na árvore brônquica
deve ser lembrada.
Os tubos de dupla luz apresentam mar- Tubo Endobrônquico.
cas radiopacas que podem indicar sua posição Técnica de Intubação
através de radiografia torácica18 . Esta técnica
de verificação da posição, no entanto, não sub- Indicada a ventilação pulmonar inde-
stitui o exame direto por broncofibroscopia. pendente, recomenda-se o emprego de tubo de
dupla luz esquerdo pela maior freqüência de
complicações associadas aos tubos direitos.
Numeração dos Tubos Este fato é importante nos doentes críticos que
permanecerão intubados por longo período e,
A numeração do tubo de dupla luz dist- por isso apresentam maior risco de deslo-
ingue-se dos tubos traqueais convencionais. In- camento do tubo.
dica-se para os adultos do sexo feminino tubo Descreveremos a técnica de intubação
com a numeração 35 e 37 Fr. Tubos 39 e 41 Fr endobrônquica usando-se o tubo de dupla luz
são recomendados para adultos do sexo mas- esquerdo Bronchocath. Deve-se empunhar o
culino. É claro que a escolha do número do tubo tubo com a curvatura da extremidade endobrôn-
dependerá da prévia avaliação através da larin- quica voltada para cima e, nesta posição, o
goscopia direta do paciente. balonete brônquico deve passar pela rima
Sempre tenta-se utilizar o de maior glótica. Transpostas as cordas vocais, deve-se
diâmetro interno. Desta forma serão menores a retirar o fio-guia do interior do tubo, rodá-lo 90
resistência ao fluxo aéreo e a dificuldade para graus, no sentido anti-horário, e progredir até
a aspiração de secreções. A pressão no que se perceba resistência a sua movimen-
balonete brônquico será elevada caso a dimen- tação.
são do tubo empregado seja menor que a ideal.
Normalmente não é necessário volume maior
que 3 ml para a vedação do prolongamento Testes de Verificação da
endobrônquico. Insuflação excessiva, visando Posição do Tubo
corrigir escolha de tubo de tamanho reduzido
produz alta pressão sobre a parede do brôn- Clínicos
quio, podendo ocasionar rotura brônquica32,33 .
Pode também causar a herniação do balonete Após a intubação é necessário pro-
e a obstrução ao fluxo aéreo1 . Os ramos dos ceder-se à confirmação do correto posiciona-
tubos de plástico Bronchocath 35 e 37 Fr apre- mento do tubo. Inicialmente insufla-se o
sentam diâmetro interno de 5,0 e 5,5 mm e os balonete traqueal e procede-se à ausculta bilat-
tubos 39 e 41 Fr, 6,0 e 6,5 mm. É disponível, eral dos pulmões, enquanto ventila-se manual-
ainda, o tubo de dupla luz de plástico número mente os pulmões. A seguir, deve-se fechar o
28 Fr, recomendado para pacientes em torno ramo que ventila o pulmão direito, desconec-
dos 10 anos1, 20 . tando o ventilador do pulmão direito. Neste in-
Deve-se lembrar que a conexão que stante só o pulmão esquerdo estará ligado ao

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respirador. A seguir, ventilando-se manual- Nesta situação será impossível a ventilação iso-
mente o pulmão esquerdo, deve-se proceder à lada do pulmão esquerdo e paradoxalmente
insuflação do balonete brônquico, até que não será possível ventilar-se o pulmão direito
haja mais vazamento de gás durante as insu- através do ramo esquerdo.
flações. Se o tubo for de tamanho adequado e Broncofibroscopia
estiver corretamente posicionado, em geral de
Mesmo quando os sinais clínicos são
1 a 3 ml serão suficientes para evitar perda de
adequados, existe o risco de mal posiciona-
ar durante a ventilação do pulmão esquerdo.
mento23, 34 . Foi descrita localização inade-
Deve-se, a seguir, realizar a inspeção e a aus-
quada de tubo através de exame
culta pulmonar bilateral, ainda com o pulmão
broncofibroscópico após a constatação clínica
direito bloqueado. Deve ser notada a expansão
de separação dos pulmões através de ausculta
assimétrica do toráx e a ausência de murmúrio
e inspeção torácica1 . A broncofibroscopia gar-
vesicular no hemitórax direito.
ante segurança adicional, e talvez seja o único
Depois deve-se primeiro conectar o
método definitivo para estabelecer-se a posição
ramo direito do conector do tubo no ventilador
do tubo nas vias aéreas. Para este fim deve-se
e abrir este ramo. Desta forma o paciente volta
empregar o aparelho infantil, devido ao
e ter os dois pulmões ventilados. Procede-se ao
diâmetro interno dos tubos. O exame broncofi-
fechamento do ramo esquerdo do conector do
broscópico do tubo de dupla luz de plástico
tubo de dupla luz, e à desconexão do ramo
transparente esquerdo, que é a mais indicado
endobrônquico do circuito ventilatório, isolando
para a ventilação pulmonar independente, é
o pulmão esquerdo do ventilador. Ao ventilar-se
muito simples. Basta o examinador introduzir o
manualmente o pulmão direito deve-se repetir
broncofibroscópio pelo ramo traqueal (direito)
as manobras de inspeção e ausculta, que de-
do tubo. No final do ramo traqueal observam-se
verão mostrar assimetria de expansão torácica
as seguintes estruturas: a carina da traquéia, o
e ausência de murmúrio vesicular à esquerda.
brônquio fonte do pulmão direito e o ramo
Finalmente, reconecta-se o ramo esquerdo ao
esquerdo do tubo entrando no brônquio fonte
ventilador e retira-se o bloqueio à ventilação
esquerdo. Ao exame, a cor azulada do balonete
deste pulmão. Estes passos devem ser cui-
endobrônquico facilita a observação deste seg-
dadosamente repetidos sempre que seja ne-
mento dirigindo-se para o pulmão esquerdo.
cessária a confirmação do posicionamento do
tubo.
Dentre as possibilidades de posiciona- Complicações dos Tubos de
mento inadequado do tubo de dupla luz Dupla Luz
esquerdo, três são as situações mais freqüen-
tes. Por um lado, o tubo pode estar excessi- Pode ocorrer laringite traumática além
vamente introduzido no brônquio fonte de traumatismo da aritenóide e cordas vocais.
esquerdo. Nesta situação, o ramo direito do As lesões laringotraqueais pós intubação são
tubo de dupla luz também estará posicionado no mais freqüentes quando são empregados tubos
brônquio esquerdo, impossibilitando a venti- que apresentam esporão carinal1, 20 .
lação do pulmão direito. Por outro lado, o tubo Embora rara, tem sido descrita rotura
pode estar insuficientemente introduzido nas do brônquio causada pela excessiva pressão
vias aéreas. A extremidade endobrônquica exercida pelo balonete endobrônquico sobre a
estará posicionada na luz traqueal, impedindo o parede brônquica31,32 . A pressão gerada pelo
isolamento dos pulmões. Finalmente, o tubo balonete endobrônquico pode atingir valores
esquerdo pode ter a extremidade endobrôn- acima de 50 mmHg, ocorrendo relatos de medi-
quica introduzida no brônquio fonte direito. das próximas de 200 mmHg 26,27 . Os sinais

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Fig 3 - Efeitos na relação ventilação:perfusão durante a aplicação de Fig 4 - Efeitos na relação ventilação:perfusão durante a aplicação de
PEEP bilateral na vigência de pneumopatia unilateral. VA: PEEP diferencial na vigência de pneumopatia unilateral. VA:
ventilação alveolar, P: perfusão sangüínea, PaO2: pressão ventilação alveolar, P: perfusão sangüínea, PaO2: pressão
parcial arterial de O 2, C: complacência pulmonar parcial arterial de O 2, C: complacência pulmonar

clínicos após a rotura brônquica incluem en- acentuada dos alvéolos normais e portanto
fisema subcutâneo generalizado, pneumomedi- mais complacentes. Com o aumento acentuado
astino e pneumotórax, devendo ser tratada do volume alveolar nestas unidades o capilar
imediatamente. pulmonar é comprimido, ocasionando aumento
Outra complicação possível após o uso da resistência vascular do pulmão normal, des-
prolongado do tubo de Carlens é a lesão ulcera- viando parte do débito cardíaco para o pulmão
tiva da carina traqueal provocada pela pressão doente, aumentando a fração do
contínua do esporão sobre a mucosa traqueal4 . "shunt"12,18,20,36-38 (figura 3).
A ventilação independente possibilita a
separação do fluxo aéreo e evita a distensão
excessiva dos alvéolos normais. Com a utili-
Indicações da Ventilação zação de tubos de dupla luz pode-se selecionar
Pulmonar Independente níveis diferenciados de PEEP, com valores mais
elevados no pulmão mais comprometido, ten-
tando-se obter valores semelhantes de volume
As indicações mais freqüentes para residual funcional em cada pulmão. Pode-se
ventilação pulmonar independente em UTI são também aplicar volumes correntes diferentes
as doenças que atingem de forma mais grave dependendo do valor da complacência de cada
um dos pulmões. Dentre estas situações pode- pulmão. Diversos relatos têm descrito melhora
mos citar a contusão pulmonar, a pneumonia das trocas gasosas após a instalação de níveis
pós-aspiração, a pneumonia lobar, a atelecta- diferenciados de PEEP em doentes que apre-
sia, o edema pulmonar, a embolia pulmonar e a sentam doença pulmonar unilateral 3-8,12,37-41
fístula broncopleural, todas incidindo unilateral- (figura 4).
mente e produzindo alterações nas trocas ga- Outras situações que indicam o uso da
sosas, que indicam a intubação traqueal e da ventilação independente são a presença de
ventilação mecânica35 . hemoptise, secreções purulentas, fístula bron-
A ventilação convencional associada copleural unilateral. Nos dois primeiros casos,
ao emprego de PEEP em pneumopatias unilat- a separação das duas árvores brônquicas per-
erais pode significar piora nas trocas gasosas. mite o isolamento do pulmão doente do são. No
O aumento da pressão traqueal média provo- caso da fístula broncopleural, o emprego de
cado pela aplicação do PEEP produz distensão ventilação pulmonar com volume corrente baixo

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ou ventilação com alta freqüência permite a de parte deste volume para áreas que não rece-
ventilação do pulmão afetado, enquanto ocorre bem parcela proporcionalmente maior da per-
o fechamento da fístula42 . fusão. O risco de barotrauma também deve ser
lembrado. Pode-se evitar esta complicação con-
Modos de Ventilação Independente struindo-se a curva pressão-volume, definindo-
se a complacência estática de cada pulmão. O
São descritos diferentes modos de ven- aumento gradativo do volume corrente produz
tilação pulmonar independente. Podemos utili- aumento na pressão traqueal até o momento em
zar um ventilador convencional com o circuito que a curva começa a descrever uma região
ventilatório separado no ramo inspiratório por plana. A partir deste ponto, ocorrerá aumento
uma peça em "Y", cuja função é dividir o volume da pressão traqueal sem correspondente
corrente para cada ramo do tubo de dupla luz, variação do volume pulmonar. O valor do vol-
separando a ventilação dos pulmões. Cada ume corrente imediatamente anterior a este
pulmão pode ser ventilado isoladamente empre- ponto deve ser o valor máximo deste parâmetro
gando-se dois ventiladores convencionais com a ser adotado. Pode-se também determinar o
dois circuitos respiratórios separados, ciclando valor adequado do volume corrente dos
de forma síncrona ou assíncrona, com a possi- pulmões determinando-se o valor da concen-
bilidade de aplicação de PEEP diferenciado em tração de gás carbônico ao final da expiração
cada pulmão6,18,35,36 . Formas menos habituais de cada pulmão18 .
de ventilação mecânica têm sido descritas, em-
pregando um respirador ajustado de forma con- O cálculo do valor mais adequado do
vencional no pulmão sadio, enquanto no outro PEEP a ser aplicado em cada pulmão é semel-
pulmão emprega-se um modo não convencional hante ao descrito quando se emprega a venti-
de ventilação (por exemplo, ventilação com alta lação convencional dos dois pulmões. Inicia-se
freqüência)39,42 . com valor baixo de PEEP, 5 cmH2O, para cada
O modo de ventilação mais freqüente- pulmão. Aumenta-se gradualmente, acompan-
mente empregado utiliza dois respiradores con- hando-se os efeitos produzidos nas trocas ga-
vencionais14 . N o i n í c i o d o e m p r e g o d a sosas e na hemodinâmica do paciente. Se
ventilação independente houve preocupação possível deve-se também realizar determina--
com a necessidade do sincronismo dos ciclos ções seriadas da complacência pulmonar
respiratórios. Entretanto, demonstrou-se no estática durante a escolha do valor do PEEP a
laboratório e na clínica que a ventilação assín- ser empregado.
crona não causa piora da relação venti-
lação:perfusão, nem desconforto ao Devemos lembrar que além da maior
paciente4,9,18 . complexidade do equipamento empregado e
dos múltiplos ajustes dos ventiladores, o uso da
No ajuste dos parâmetros ventilatórios, ventilação pulmonar independente repre-
inicialmente deve-se calcular o valor do volume sentará maior dificuldade na aspiração das se-
corrente a ser empregado em cada pulmão. O creções pulmonares e maior resistência ao fluxo
volume corrente a ser instituído deve ser di- aéreo. Eventualmente há necessidade de se-
vidido pelos dois pulmões, ou seja 5-6 ml.kg-1 dação e do uso de bloqueadores mioneurais,
para cada órgão. Pode ser administrado volume para que o paciente possa tolerar o tubo de
corrente maior no pulmão doente. Desta dupla luz.
maneira, áreas de atelectasia seriam reexpan-
didas ou evitadas. Deve-se lembrar, no entanto, O emprego dos tubos de dupla luz deve
que com esta técnica pode-se provocar o desvio ser evitado durante a respiração espontânea

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devido ao aumento do trabalho inspiratório oca- O desmame da ventilação pulmonar in-


sionado pelos reduzidos diâmetros internos de dependente deve ser realizado após melhora
cada luz, mesmo quando são empregados das condições ventilatórias do paciente, por ex-
tubos 39 ou 41 Fr. Além disso, a presença de emplo, fechamento da fístula broncopleural.
maior número de conexões aumenta o risco de Sugeriu-se que a ventilação pulmonar inde-
desconexão do paciente do respirador. pendente deva ser utilizada até que o estado do
Monitorização Durante Ventilação paciente permita a diferença de 5 cmH2 O entre
Independente os níveis de CPAP aplicados nos pulmões35 . A
seguir deve-se trocar o tubo de dupla luz por
A ventilação pulmonar independente tubo traqueal convencional e iniciar a ventilação
exige a vigilância dos mesmos parâmetros fisi- mecânica convencional.
ológicos que normalmente são observados du- Concluíndo, o uso da ventilação pul-
rante a ventilação mecânica convencional. monar independente é indicada em situações
Deve-se monitorar as trocas gasosas através nas quais o processo patológico distribui-se nos
da oximetria de pulso e da análise dos gases dois pulmões de tal forma heterogênea, que o
sangüíneos arteriais. Se possível devem ser uso das técnicas convencionais de ventilação
acompanhados os valores do volume corrente não são acompanhadas de trocas gasosas ade-
e da porcentagem de CO2 expirada final, obti- quadas.
dos de cada pulmão separadamente. A determi- Os tubos de PVC transparentes repre-
nação da complacência estática de cada sentam avanço técnico na ventilação pulmonar
pulmão auxilia a escolha do valor mais ade- independente, permitindo que a separação dos
quado do PEEP a ser aplicado nos pulmões. O pulmões seja realizada por indivíduos que não
valor máximo da pressão inspiratória nos tenham grande experiência com o manuseio de
pulmões deve ser acompanhado, já que tubos de dupla luz. O uso da ventilação pul-
mudanças neste parâmetro podem significar monar independente deve ser sempre lembrado
piora das condições respiratórias ou deslo- na terapêutica de doenças pulmonares unilat-
camento do tubo de dupla luz. Devido ao risco erais que não responderam adequadamente às
de lesão brônquica, o acompanhamento da formas convencionais de ventilação, já que não
pressão do balonete brônquico também deve acarreta maiores riscos para o paciente, desde
ser cuidadoso. que sejam obedecidos os princípios gerais aqui
A fixação do tubo deve ser sempre veri- descritos.
ficada de forma a evitar o deslocamento endo-
brônquico do tubo. Isto é importante
principalmente antes e após os cuidados de
enfermagem, durante os quais o tubo pode ser Ruiz-Neto PP, Auler Jr JOC - Ventilação
deslocado do posicionamento adequado. Após Pulmonar Independente. Técnicas e Indi-
cações
a mobilização do paciente no leito da UTI, deve-
se realizar a inspeção e ausculta torácica para Unitermos: INTUBAÇÃO, Traqueal: tubo de
a confirmação do posicionamento do tubo. A dupla luz, complicações; VENTI-
verificação da posição do tubo auxiliado pelas LAÇÃO: independente
marcas radiopacas, deve ser sempre um dos
passos da avaliação rotineira das radiografias
torácicas dos pacientes intubados com tubos de
dupla luz. A existência de dúvida quanto ao REFERÊNCIAS
posicionamento deve ser sempre resolvido, se
01. Benumof JL, Alfery DD - Anesthesia for thoracic
possível, através do exame broncofibroscópico.
surgery, em Miller RD - Anesthesia. New York,

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VENTILAÇÃO PULMONAR INDEPENDENTE. TÉCNICAS E INDICAÇÕES

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