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Experiências da Polícia Federal

Mauro Magliano
Perito Criminal Federal
Instituto Nacional de Criminalística
O crime contra o meio ambiente só ocorre
quando a degradação de recursos naturais não
é autorizada pelo poder público.
Experiências da Polícia Federal

1. Marco Legal
2. Marco Científico
3. Auxílio à Instrução Processual
4. Estudo de casos (Redação de
laudos)
 Art. 19. A perícia de constatação do dano ambiental,
sempre que possível, fixará o montante do prejuízo
causado para efeitos de prestação de fiança e cálculo de
multa.
 Art. 20. A sentença penal condenatória, sempre que
possível, fixará o valor mínimo para reparação dos danos
causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos
pelo ofendido ou pelo meio ambiente.
 Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença
condenatória, a execução poderá efetuar-se pelo valor
fixado nos termos do caput, sem prejuízo da liquidação
para apuração do dano efetivamente sofrido.
VERA = VUD + VUI + VO + VE

VERA = Valor Econômico do Recurso Ambiental


VUD = Valor de Uso Direto
VUI = Valor de Uso Indireto
VO = Valor de Opção
VE = Valor de Existência
 VERA = Valor do Meio Ambiente ?
 Danos = decréscimo do VERA?
 VERA(afetado) = Valor do dano ? Como valorar danos parciais?
 Conseqüências futuras do dano, devem ser somadas ao valor
atual do dano?
 Valor de mercado (FOB) ou valor in situ?
 Custos de extração do Recurso Ambiental devem ser abatidos do
valor dos danos aos recursos?
 Fator de escala (linearidade) dos danos e custos de recuperação?
1. Destruição de APP e Reserva Legal na
Amazônia(MT)
2. Ocupação de Área Protegida – Loteamento
(DF)
3. Mineração de cascalho, caulim e quartzo (MG)
4. Calçamento de ATPF
5. Referências de preço
Os laudos aqui apresentados foram realizados
por Peritos Criminais Federais da Polícia
Federal, pioneiros na valoração de danos em
crimes ambientais, que acreditam que a
monetarização do resultado das perícias
criminais é um caminho para o
convencimento sobre a importância e para a
melhor repressão e prevenção dos ilícitos
contra o meio ambiente.
Evolução da quantidade de laudos de valoração na Polícia Federal
700

600

500
Nº de Laudos

400

300

200

100

0
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Ano
Vegetação
Localização próxima à Terra Indígena Floresta x Cerrado x Pastagens
Desmatamentos na área examinada - 1997 a 2009
Fonte: PRODES

Desmatamento em RL = 3.267,5870 ha
Considerações para valoração no Laudo Pericial
1) O somatório das parcelas do VERA carece de método científico consensual.
2) Instrução Normativa MMA Nº 06/2006 :
“o responsável por explorar vegetação em terras públicas, bem como o
proprietário ou possuidor de área com exploração de vegetação, sob qualquer
regime, sem autorização ou em desacordo com essa autorização, fica também
obrigado a efetuar a reposição florestal”
3) Considerou-se apenas os custos de revegetação para reposição:
a) A densidade das árvores em uma condição natural (4x3 metros);
b) O preço para aquisição de mudas nativas em viveiros florestais;
c) a mão-de-obra (abertura de covas + adubagem + correção + plantio);
d) acompanhamento técnico (coroamento, adubação de cobertura,
replantio, controle de formigas cortadeiras, visitas técnicas por 3 anos).
4) Detalhes técnicos devem constar em PRAD, com ART e devidamente
aprovado pelo órgão ambiental competente.
Custo médio de revegetação = R$ 3166,00/hectare
Outra análise possível:
 (valor da madeira + lenha retirada) + Revegetação
 (VUD) + Recuperação parcial do VERA
1. Destruição de APP e Reserva Legal na
Amazônia(MT)
2. Ocupação de Área Protegida – Loteamento
(DF)
3. Mineração de cascalho, caulim e quartzo (MG)
4. Calçamento de ATPF
5. Referências de preço
Localização
Parques
Vegetação
31 Laudos produzidos
Tipos de ocupação
Uso do solo
Considerações para valoração no Laudo Pericial
1) A utilização de novas áreas para moradias tem efeitos econômicos no
mercado imobiliário.
2) O adensamento urbano em áreas protegidas traz graves conseqüências
ambientais (enchentes, redução para áreas de lazer e agricultura)
3) Para a reversão das áreas à destinação original (PDOT), considerou-se:
a) os custos referentes ao processo de retirada das moradias;
b) os custos referentes à adequação ao retorno às características rurais, e
de acordo com a legislação florestal (pesquisa de mercado).
4) Utilização de valores do SINAPI (Sistema Nacional de Preços e Índices para
a Construção Civil) da Caixa para cálculo dos custos de demolição e remoção
de entulho para área licenciada.
5) Obtenção de valores de áreas construídas junto ao Governo do DF
Valores para 1 dos 31 laudos
Valores para 1 dos 31 laudos
1. Destruição de APP e Reserva Legal na
Amazônia(MT)
2. Ocupação de Área Protegida – Loteamento
(DF)
3. Mineração de cascalho, caulim e quartzo (MG)
4. Calçamento de ATPF
5. Referências de preço
Considerações para valoração no Laudo Pericial

 Valor distinto para cada material encontrado no local


(Cascalho, Caulim, Quartzo)
 VUD = Valor comercial do material, já descontados os
custos de beneficiamento e transporte.
 Outras parcelas do VERA não foram calculadas.
 AVALIAÇÃO
 a) Cascalho:
 valor unitário de R$10,00/ m3 – Fonte (Sumário Mineral DNPM)
 A recuperação de lavra foi estimada em 40%.
 fator de empolamento de 20% para cálculo do vol. comercial
 b) Caulim:
 valor unitário de U$32,0975/ ton (25% da tabela DNPM)
 A recuperação de lavra foi estimada em 10%.
 c) Quartzo industrial:
 valor unitário de U$54,25/ ton. (25% da tabela DNPM)
 A recuperação de lavra foi estimada em 10%.
 VALORAÇÃO (VUD)

 a) Cascalho:
 volume de 29.400m3 de cascalho, avaliado em R$294.000,00,
equivalente a US$131.838,60.
 b) Caulim:
 volume de 6.125m3 de caulim, avaliado em US$511.152,70.
 c) Quartzo industrial:
 volume 6.125m3 de quartzo industrial, avaliado em
US$863.931,30 (U$ 1=R$2,23; em 22/04/2009).
TOTAL: 9.500 m²  41.650 m³
R$3.360.437,18
1. Destruição de APP e Reserva Legal na
Amazônia(MT)
2. Ocupação de Área Protegida – Loteamento
(DF)
3. Mineração de cascalho, caulim e quartzo (MG)
4. Calçamento de ATPF
5. Referências de preço
 ATPFs com diferentes teores na 1ª e 2ª vias,
esquentando madeiras retiradas de locais ou
volumes não autorizados (dano ambiental)

Madeira ilegal = Vol. 2ª via – Vol. 1ª via


Método de análise e valoração

 O VUD da floresta de onde a madeira foi


explorada ou sobreexplorada pode ser
calculado com base em preços oficiais

 Referência Portaria nº 013/2009-SEFAZ/MT


Considerações para valoração no Laudo Pericial
Não foram computados:
 os custos de recomposição vegetal da área
explorada
 danos aos serviços ambientais que não mais
poderão ser prestados
 de perda da biodiversidade bem como o custo
do impacto na fauna local, pois ainda não são
factíveis de valoração econômica;
Figura 5 – Cristais dos minerais extraídos: quartzo (realce amarelo) e feldspato (realce vermelho)

 O valor do bem mineral extraído foi calculado consoante os


seguintes parâmetros:
 1. quartzo industrial: valor unitário de U$ 108,50/t, baseado no
valor de referência de U$ 217,00/t, preço FOB, constante no
Sumário Mineral 2008, do DNPM, referente à média de preços
nacionais de lascas de quartzo em bruto para o mercado
externo. O valor obtido foi decrescido em 50%, de forma a
considerar custos de transporte e beneficiamento,
 2. feldspato: valor unitário de R$ 61,18/t, baseado no valor de
referência de R$ 122,36/t, preço médio FOB, constante no
Sumário Mineral 2008, do DNPM, para o mercado interno de
feldspato bruto. O valor obtido foi decrescido em 50%, de forma
a considerar custos de transporte e beneficiamento;
QUARTZO E FELDSPATO – Castro Alves - BA
 o valor do bem mineral extraído foi calculado
consoante os seguintes parâmetros:
 1. quartzo industrial: valor unitário de U$ 108,50/t,
baseado no valor de referência de U$ 217,00/t, preço
FOB, constante no Sumário Mineral 2008, do
DNPM, referente à média de preços nacionais de
lascas de quartzo em bruto para o mercado externo.
O valor obtido foi decrescido em 50%, de forma a
considerar custos de transporte e beneficiamento,

QUARTZO E FELDSPATO – Castro Alves - BA


 2. feldspato: valor unitário de R$ 61,18/t, baseado
no valor de referência de R$ 122,36/t, preço médio
FOB, constante no Sumário Mineral 2008, do
DNPM, para o mercado interno de feldspato bruto.
O valor obtido foi decrescido em 50%, de forma a
considerar custos de transporte e beneficiamento;

QUARTZO E FELDSPATO - BA
PARÂMETROS NECESSÁRIOS PARA CÁLCULO:
 área total da lavra de 14.630 m2
 altura média das bancadas de 6,90 m
 volume aproveitável de 100.947 m³
 proporção de 30% de quartzo e 10% de feldspato
 recuperação de lavra de 20%
 densidade do quartzo e do feldspato de 2,6 t/m3
 produção total de aproximadamente 15.748 toneladas
de quartzo e 5.249 toneladas de feldspato.
VALOR DE USO DIRETO: US$ 1.708.696,17 de quartzo e
de R$ 321.161,36 de feldspato, potencialmente extraídos;
QUARTZO E FELDSPATO – Castro Alves - BA
 Quais os danos ambientais causados com a extração
mineral? E possível fixar o montante do prejuízo? Em
caso positivo, qual?
 Para simplificar o quesito, a valoração foi realizada
apenas pelo uso direto isto é o valor de mercado da
areia - R$ 30,00/m³ - sabendo que foi retirado
360.000 m³ do local, o que totaliza R$
10.800.000,00.
 o custo de recuperação da área degradada, pode ser
obtido junto ao empreendedor, que o deve prever
em atendimento ao Decreto n° 97.632/89
O local examinado apresenta declives abruptos, indicativos da
escavação da areia e sua posterior remoção. A área escavada é de
aproximadamente quinze mil metros quadrados, com altura de corte média
de 0,8 metro. Em alguns pontos toda a areia foi extraída, atingindo-se a
camada argilosa localizada abaixo. A nordeste do local apontado na Figura
2 há indícios de extração de grande volume de areia, os quais não puderam
ser confirmados com os recursos disponíveis para exame. Depreende-se
então que o volume total de areia extraída estimado é de, no mínimo, 12.000
metros cúbicos.
 Destes, o Valor de Uso Direto mínimo, pode ser
estimado, tomando-se como base de cálculo o valor
de referência da areia extraída. O volume extraído
deste material totalizou 12.000 metros cúbicos, ao
custo de R$8,00/m3 (oito reais por metro cúbico),
resultando em R$96.000,0 (noventa e seis mil reais).
 Portaria 0543/03 da Secretaria de Estado Fazenda
do Maranhão:
www.sefaz.ma.gov.br/legislacao/portaria
 O VERA foi mensurado unicamente em função do
valor de uso direto (VUD) do recurso ambiental
(madeira), o qual foi valorado em R$ 9.775.506,84
(nove milhões, setecentos e setenta e cinco mil,
quinhentos e seis reais, oitenta e quatro centavos).
Tal resultado levou em conta os dados da Licitação
da Flona Nacional Bom Futuro2, dentre eles o
volume de madeira com diâmetro maior que 45 cm
(82,693 m3/ha), distribuído em quatro grupos de
espécies:
 Grupo de Espécies 1 – 7,832 m3; Grupo de Espécies 2
– 16,762 m3/ha; Grupo de Espécies 3 – 32,911 m3/ha
e Grupo de Espécies 4 – 25,188 m3/ha e valor
proposto pelo vencedor da licitação por grupos de
espécies que foi de R$ 116,00/m3 (Grupo de
Espécies 1); R$ 75,00/m3 (Grupo de Espécies 2); R$
56,00/m3 (Grupo de Espécies 3) e R$ 29,00/m3
(Grupo de Espécies 4), além da área
explorada/desmatada que foi calculada em
993,6432 hectares.
Experiências da Polícia Federal

Magliano.mmm@dpf.gov.br

Área de Perícias de Meio Ambiente - APMA


Instituto Nacional de Criminalística
Diretoria Técnico-Científica
Departamento de Polícia Federal

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