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RPGM
Revista Acadêmica

A INCLUSÃO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: DESAFIOS OU


POSSIBILIDADES?

THE DISABLED INCLUSION IN PHISICAL EDUCATION: CHALLENGES OR POSSIBILITIES?

Neuli Maria Tenório1, Sandra Regina Gouvea2.

RESUMO
Em 2014, o aumento da matrícula de alunos com algum tipo de deficiência, segundo o Ministério da
Educação (MEC), alcançou um percentual maior do que seiscentos (600%). Essa crescente demanda
requer uma adequação da escola em diversos aspectos, sobretudo na maneira dos professores
em conduzir as aulas, para que seja oferecido não apenas o acesso, mas também a permanência
com qualidade deste aluno. As aulas de Educação Física, por sua vez, devido às suas características
inerentes podem ser um importante instrumento pedagógico para esse público-alvo. O objetivo
deste estudo foi analisar o papel da disciplina de Educação Física para a inclusão de alunos com
os tipos de necessidades especiais mais presentes no dia a dia escolar como Síndrome de Down,
autismo, deficiências físicas e intelectuais. A metodologia empregada foi a revisão sistemática.
Com base no referencial teórico, chegou-se a conclusão de que de fato, as aulas de Educação Física
podem favorecer os alunos com deficiência se bem ministradas, com objetivos concretos e formas
de avaliação que possam comprovar esse progresso. No entanto, para que haja sucesso nesta
parceria, é necessário entre outros aspectos, recursos materiais, estruturais e formação adequada de
professores.

Palavras Chave: Inclusão, Educação Física, Formação de professores.

ABSTRACT
In the year 2014, according to a source from the Ministry of Education (M.E.C.), it has pointed that the
increased number of students enrolled for a seat at school suffering from a particular type of disability
has reached and soared to a percentage higher than six hundred percent (600%). This growing demand
prerequisites a school fully adapted including auxiliary aids and services in different aspects, especially
in the way that the teachers’ conduct classes, so that not only the classes are accessible, but also the
safeguard of an enduring quality of the student. The physical education classes, in its turn and itself,
due to their inherent characteristics can be an important pedagogical tool and vehicle to target at this
particular class of students. The purpose of this study which was solely carried out to analyse the role of
Physical Education at including the students suffering from a particular disability which has been present
more and more recently at schools such as; Down Syndrome, Autism, Physical and Intellectual disabilities.
The methodology used was a systematic review. Based on the theoretical reference, we have concluded

1 EMEF Alferes Tiradentes

2 EMEF Alferes Tiradentes

Revista de Pós-Graduação Multidisciplinar, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 13-24, mar./jun. 2017.


ISSN 2594-4800 | e-ISSN 2594-4797 | doi: 10.22287/rpgm.v1i1.457
TENÓRIO, N. M.; GOUVEA, S. R..: A INCLUSÃO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
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that in fact, Physical Education classes can favour the disabled students if conducted and administered
properly, with concrete objectives, regular assessment, and performance appraisal to monitor this
progress. However, in order to be successful on this project, it is primordial to get the trained teachers for
this specific purpose among other things such as school materials and infrastructures.

Keywords: Inclusion, Physical Education, Teacher’s formation

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1. INTRODUÇÃO
A inclusão de alunos com necessidades especiais no ensino regular, mais do que uma
obrigação em termos de legislação, é um direito do aluno, uma questão de direitos humanos. Em
2014, o aumento da matrícula de alunos com algum tipo de deficiência, segundo o Ministério da
Educação (MEC), alcançou um percentual maior do que seiscentos (600%). Tão ou mais importante
que o acesso, é a permanência destes alunos na escola, logo o trabalho deve ser direcionado, que
atenda as necessidades, oferecendo condições de progredirem.

Atualmente, cada vez mais pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento
e altas habilidades ou superdotação, superam seus limites, proporcionando o acesso às atividades
como: prática de esportes, trabalho, lazer, em que antigamente pouco participava. Neste sentido, os
estudos citados no desenvolvimento deste trabalho (RODRIGUES, 2011; ROSADAS, 1991) mostraram
que as aulas de Educação Física, com suas características inerentes de incentivo a socialização, ao
aprender de maneira lúdica e prazerosa tem favorecido a inclusão destes alunos no ensino regular.
As brincadeiras e o brinquedo fazem parte do cotidiano de qualquer criança, independente de suas
especificidades, pois desenvolvem o aspecto cognitivo de maneira muito natural (KISHIMOTO, 2002,
p. 62). Por outro lado, temos que alguns profissionais dizem não estarem preparados para ensinar
crianças com necessidades tão particulares. Isso faz com que exerçam uma grande resistência até de
fato aceitarem a ideia de modificar alguns aspectos de suas aulas a fim de atingir a todos os alunos.
Logo, este trabalho buscará evidências à partir de vários estudos que buscaram esclarecer a relação
inclusão-Educação Física e pode ser um agente motivacional a fim de estimular os profissionais a
buscarem novas e eficientes estratégias de ensino por compreenderem que suas aulas possam ser o
diferencial que faltava para o desenvolvimento dos alunos.

Assim, o objetivo principal deste estudo foi analisar o papel da disciplina de Educação Física
para a inclusão de alunos com necessidades especiais na escola. Os objetivos específicos foram:
verificar os estudos que comprovaram o desenvolvimento dos alunos e em quais aspectos houve
esta evolução com as aulas de Educação Física; analisar como a legislação está sendo pautada para
regulamentar o direito dos alunos com necessidades especiais na rede regular de ensino e como
os cursos de formação de professores estão de reformulando para atender a estas exigências. Para
tanto, optamos pela revisão sistemática de autores estudiosos no assunto.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2. 1.  INCLUSÃO
Sabe-se que são diversos os fatores que podem levar a criança a nascer com algum tipo de
particularidade, seja física ou mental. Por exemplo, uso de drogas pelas mães enquanto grávidas,
idade avançadas dos pais, má nutrição ou ainda fatores hereditários e genéticos (FONSECA, 1987,
p.11). Como a própria denominação especifica, alunos com “necessidades especiais”, não significam
que são incapazes de aprender e se desenvolverem, apenas requerem um pouco mais de atenção
para terem suas capacidades estimuladas e assim possam desenvolver também suas habilidades.
Algumas particularidades são específicas do tipo de deficiência que acomete o aluno, por exemplo,

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aqueles com Síndrome de Down possuem um déficit de atenção acentuado, não conseguem se
concentrar por muito tempo em determinada situação (WERNECK, 1995, p.127). Esta população
ainda conta com peculiaridades físicas tais como a frouxidão ligamentar, logo, conhecer em termos
biológicos, consequências de cada deficiência é outro aspecto importante a ser considerado
(CARNEIRO, 2008, p. 153).

Logo, devemos destacar a importância de se trabalhar com atividades diversificadas, que


levem em consideração o grau de dificuldade, não podendo ser muito fáceis para que a motivação
se estenda por um tempo maior, e nem muito difíceis, para que o aluno não se sinta incapaz e pouco
motivado em fazer (WINTERSTEIN, 1992, p. 55).

2. 1. 1. LEGISLAÇÃO QUE EMBASA A INCLUSÃO


Historicamente, deficiência sempre foi vista como um castigo, como algo ruim, sendo que em
algumas comunidades aqueles que nasciam com alguma deficiência eram tidos como incapazes e
acabavam sendo mortos. Isso porque se considerava que não eram capazes de ter autonomia, de
sobreviverem sem auxílio de alguém (SILVA, 1987, p. 226).

Demorou um tempo até que começassem a perceber que pessoas deficiência podem viver
bem se lhes dadas condições e oportunidades. Temos então em 1884, a criação do Imperial Instituto
dos Meninos Cegos, em 1857 o Instituto dos Surdos Mudos, e em 1887 um asilo para os combatentes
brasileiros que foram mutilados na guerra. Mesmo que timidamente, já tiveram as primeiras iniciativas
de aceitar e oferecer cuidados e possibilidades a esse público. Dando continuidade, foram criados
em 1926 o Instituto Pestalozzi e em 1954 a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE).

Na sequência, já em 1973, temos o Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), mas não
auxiliou na ideia de incluir os alunos com necessidades especiais na rede regular, tinha apenas um
caráter assistencialista.

Mas foi em meados de 1990 que de fato, podemos ter a inclusão dos direitos dos deficientes em
documentação importante como a Constituição Federal de 1988 que ressalta o direito às condições de
acesso e permanência na escola. Também o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que aponta que
os alunos com necessidades especiais devem ser matriculados na rede regular de ensino. Além dessas,
temos ainda a Declaração de Salamanca (BRASIL, 1996, p.08), que indica o respeito à diversidade, isto é,
visa tanto atender às características peculiares do deficiente quanto respeitar os diferentes tempos de
aprendizagem que os alunos apresentam, mesmo aqueles sem particularidade específica.

Não apenas no que se refere a escola, mas em outros âmbitos, nota-se uma ampliação dos
direitos do deficiente a sua inclusão no âmbito social, cultural e educacional, como assegura a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB nº9394/96), a Política Nacional da Educação Especial
na Perspectiva da Educação Inclusiva (Portaria nº555/2007).

Percebe-se então que embora tardiamente, tem havido um considerável progresso da


Educação Especial, embora tenha ainda muito a melhorar em termos práticos, ao menos as exigências
legais estão sendo estabelecidas.

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2. 2.  EDUCAÇÃO FÍSICA


Historicamente a Educação Física passou por diversas fases, já teve caráter esportivista, militar,
higienista entre outros, no entanto, é a partir dos anos 50 que o Brasil começa a ter a preocupação na
Educação Física Adaptada (SEABRA JÚNIOR, 2008, p. 101).

A Educação Física é uma disciplina atualmente obrigatória na Educação Básica, ressaltando


inclusive que ela deve ser ministrada nos três níveis de ensino, que são: Educação Infantil, Ensino
Fundamental e Ensino Médio (BRASIL, 1996, p. 117).

Dentre os conteúdos que devem ser ensinados, estão os jogos tradicionais, cooperativos,
esportes, danças entre outros (BRASIL, 1998, p. 70), o mais interessante desta disciplina é que
independente do conteúdo que será ministrado, a metodologia utilizada para ensinar é o mais
importante, é nela que o professor vai colocar como atingir os alunos de uma maneira significativa.

Pelo jogo as crianças exploram os objetos que as cercam, melhoram sua agilidade,
experimentam seus sentidos, e desenvolvem seu pensamento. Na companhia de outras crianças,
desenvolvem também o comportamento em grupo.

As brincadeiras infantis servem para se estudar o comportamento das crianças, sua visão
e relação de sociedade (LORO, 2010, p. 67). É a partir da socialização neste tipo de prática que as
crianças aprendem seus valores, respeito ao próximo, aprendem a ganhar e perder e constroem sua
personalidade gradativamente. Para isso, é fundamental a presença de adultos, seja em casa com os
pais e familiares, no bairro com os amigos e na escola com colegas e professores (MIRANDA, 2001, p.
128). Oliveira (1986, p.78) também aponta que de fato, o homem é um ser basicamente biológico e
social. Sendo a condição biológica algo que possui, ou seja, nasce com ele; e a condição social, algo
que ele constrói e conquista ao decorrer do tempo.

Para Libâneo (2001, p. 155), a escola também pode ser considerada uma responsável para
desenvolver o aspecto social, é onde após a família a criança tem a maior rede de pessoas para
se relacionar, é a sua maneira de viver em sociedade. Freire (1997) vai mais a fundo e considera
também que não basta apenas a relação uns com os outros, mas necessita da maturação biológica,
desenvolver seus pensamentos, sentimentos e outros fatores.

Para Rosadas (2011, p. 05 e 06), além de melhora no aspecto físico, como controle de movimentos
e o conhecimento sobre as possibilidades do próprio corpo, bem como fatores neurológicos,
afetivos e cognitivo, as aulas de Educação Física contribuem para que os alunos possam vivenciar
sua realidade, se apropriarem de sua cultura.

Para Freire (1997, p. 54), ao sentir em seu corpo o que está aprendendo, a criança assimila de
uma maneira muito mais eficiente este conteúdo, por ter maior motivação. Com isso, o professor
chega facilmente ao objetivo proposto nas aulas. É nítido o fascínio das crianças, independente de
suas condições, pelas atividades corporais, uma criança não consegue ficar parada vendo um grupo
de crianças brincando, logo, pede para participar, ou entra na brincadeira sem o menor pudor, porque
para ela, naquele momento o importante á a diversão, assim, o professor deve usar isso a seu favor.

A criança que se sente aceita no grupo, se sente confortável, Freire (1997, p. 31) estabelece

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que se bem socializada, a criança se desenvolverá melhor integralmente (aspecto cognitivo, afeito e
motor). Para tanto, as aulas devem ser dinâmicas, ter uma sequência lógica de grau de dificuldade,
serem reorganizadas conforme necessidade da turma, as dificuldades que os alunos apresentarem,
isso durante todo o período letivo.

No entanto, a Educação Física ainda conta com alguns profissionais que acreditam que a
prática é o principal de sua função, visando nas aulas que leciona apenas as técnicas esportivas.
Logo, fazem-se necessárias a atualização e complementação de estudos a fim de notar outras
possibilidades de trabalho, pois para uma criança, sobretudo com alguma particularidade, não faz
sentido, repetir gestos sem um objetivo, sem motivação, sem algo que a atraia de fato.

São diversos os trabalhos que abordam os aspectos positivos que a criança pode usufruir
durante as aulas, por exemplo, Lopes (2002, p. 45) focou em aspectos de comportamento, tais como
ansiedade, autoafirmação em um grupo, conquista da autonomia, respeito aos limites e encontrou
em seus estudos que todos eles podem ser favorecidos por meio de estímulo adequado nas aulas
de Educação Física.

Mesmo que alguns acreditem em virtude das condições, muitas vezes, pouco adequadas que
temos no ensino regular para atender a diversidade, que a inclusão oferece pouco progresso, temos
que notar que por menor que seja este avanço, ele já é importante e relevante. O professor deve
comparar o aluno com ele mesmo, utilizar formas de avaliação e registros.

Assim, este trabalho é uma boa oportunidade para os profissionais de Educação Física se
sentirem encorajados a atuarem com o mais diversificado público. Modificar inclusive os objetivos
de suas aulas para um bem em comum, com o intuito de mobilizar, atingir e estimular seus
estudantes, uma vez que as brincadeiras, os jogos e os esportes podem ser estratégias favoráveis ao
desenvolvimento de todos.

2. 3.  FORMAÇÃO DE PROFESSORES


Desde o início do processo de inclusão, muitos professores se sentiam assustados pela
possibilidade de trabalhar com alunos com necessidades tão específicas. Temiam não conseguir
atingi-los. Ora, muitos desses professores não eram de fato contrários à inclusão desses alunos
em suas salas, mas que não sabiam como trabalhar, como oferecer suporte e auxilio necessários
(MORAES, 2010, p. 99). Felizmente, desde 2008, os professores podem estudar em diversos cursos de
capacitação em educação especial há distância. No entanto, curiosamente, poucas dessas instituições
oferecem o curso de Educação Física (GARCEZ e TATSCH, 2013).

No caso específico da Educação Física, temos vários tipos de formação, aqueles que ainda atuam
e que na sua grade curricular cursou qualquer disciplina que abordasse a Educação Inclusiva, aqueles
que tiveram a disciplina de Educação Física Adaptada, mas que se questionam até que ponto foi útil
para auxiliar em sua prática cotidiana, aqueles que simplesmente dizem que não foram formados
para lidar com essas crianças com necessidades tão específicas e nada fazem para se atualizar, há
aqueles que buscam se adequar as exigências de sua função e que independente de quem sejam
seus alunos se esforçam para oferecer uma aula significativa (MORAES, 2010). Obviamente uma

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formação e preparação adequada na grade curricular das licenciaturas de Educação Física se fazem
necessárias (CHICON, 2008, p. 28), mas temos que notar que mesmo que timidamente, a deficiência
está deixando de ser considerada sinônimo de incapacidade (MORAES, 2010, p. 187). Recentemente,
houve as Paraolimpíadas Rio 2016, com os atletas brasileiros se superando o record de medalhas
conquistadas, isso é um fato motivante para o início da prática de atividade física, passando a ser
uma necessidade para todos, sem distinção.

Rodrigues (2003, p. 70) afirma que a Educação Física é uma disciplina que por suas características
permite que alunos com níveis de desenvolvimento diferentes se sintam motivados a participar das
aulas, obviamente se o objetivo do professor que ministra a aula não for única e exclusivamente o
alto nível. O mesmo autor em 1996 questiona se de fato o professor de Educação Física que está
sendo formado atualmente está plenamente preparado para trabalhar no ensino regular que
conta com uma quantidade grande de alunos com e sem deficiência acentuada. Independente da
resposta a este questionamento coloca que a metodologia empregada é o mais importante, assim,
que o professor tiver características de um técnico esportivo, terá certamente maior dificuldade em
trabalhar, mas se por outro lado, deixar o aspecto técnico de lado, e focar em oferecer situações
diversificadas e criativas terá a probabilidade de maior sucesso.

Já Freitas (2006, p. 165) aponta que uma boa formação seja fundamental para uma boa prática.
Se a formação for insuficiente o professor se baseará apenas em suas experiências, no que deu certo
e no que deu errado, o que provocará insatisfação por parte do educador e do educando.

Rodrigues (2011, p. 13) destaca que de fato, para trabalhar adequadamente com essa escola
atual, que pretende ser inclusiva, a formação dos professores deve ser muito diferente dos modelos
de educação tradicional a qual estávamos acostumados. De fato, a opinião e atitudes, do professor
são decisivas para saber se suas aulas serão segregadas, ou seja, que os alunos com um maior grau
de deficiência estarão ali apenas de corpo presente, observando as aulas, isolados em um canto da
quadra ou se de fato participaram de forma efetiva.

3. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


De acordo com o encontrado no referencial teórico deste trabalho, após análise de diversos
estudiosos no assunto, a Educação Física pode favorecer o desenvolvimento do aluno com necessidades
especiais. Boaventura e cols. (2009, p. 60), destacaram que é possível que pessoas com deficiência
participem das aulas de educação física, ressaltando sua importância e seus benefícios, principalmente
com relação à construção de seu esquema corporal, organização espaço temporal e conhecimento de
seu corpo. Além disso, possibilita as trocas afetivas na convivência diária e na troca de experiências.

No entanto, há alguns aspectos a serem atentados para que isto ocorra, por exemplo, a
aceitação do professor em mudar suas aulas a fim de proporcionar experiências enriquecedoras a
todos, independente de suas características particulares (CORDEIRO, 2003). Há também o problema
da falta de recursos materiais e de infraestrutura que dificultam inclusive o acesso dos alunos,
dependendo de suas limitações, aos locais onde ocorrem as aulas de Educação Física (FIORINI E
MANZINI, 2014, p. 103). A falta de recursos humanos é mais um obstáculo (FIORINI E MANZINI, 2014,
p. 103), pois um professor auxiliar poderia contribuir para o bom andamento das aulas, sobretudo

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em turmas numerosas como é o caso principalmente da rede pública de ensino.

A formação que o professor teve em sua graduação também é um aspecto importante a ser
considerado. Embora a legislação que trata do direito a inclusão no ambiente escolar, as universidades
devem se adequar a fim de oferecer mais disciplinas em sua grade curricular para embasar e preparar
esses futuros professores em seus cursos de licenciatura em Educação Física. Fiorini e Manzini (2014, p.
14) destacam que é preciso formar os professores em nível teórico, com a abordagem dos conteúdos,
e em nível prático, para juntamente com o professor, planejar e estabelecer estratégias, além de
selecionar os recursos adequados ou adaptá-los conforme a necessidade. Assim como mostrado
em outros estudos já mencionados neste trabalho, esses autores identificaram diversos pontos de
sucesso durante as aulas que assistiram e consideram que tanto os trechos de dificuldades quanto
os de sucesso poderão, inclusive, serem utilizados durante o programa de formação dos professores
como um subsídio à reflexão destes sobre a própria prática quando há alunos com deficiência.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo principal deste estudo foi analisar o papel da disciplina de Educação Física para a
inclusão de alunos com necessidades especiais na escola. Após análise dos estudos, pode-se concluir
que a Educação Física, devido às características motivantes da aula tem a possibilidade de auxiliar no
desenvolvimento do público alvo em questão além dos aspectos de socialização e motores.

Ainda se observou a modificação na legislação para garantir o direito ao acesso dos alunos
com necessidades especiais na rede regular de ensino, bem como a obrigatoriedade de disciplinas
voltadas ao estudo dos vários tipos de deficiência existentes nos cursos de licenciatura, embora
tenha sido notada pouca oferta de cursos de atualização voltados aos estudos das deficiências até o
presente momento nos cursos de Educação Física.

Assim, o que se percebeu foi que os professores estão aprendendo com a própria prática, em
seu conhecimento empírico, na conversa com outros professores, enfim, em seu cotidiano.

Diante de tudo o que foi pesquisado, considero primeiramente que deve haver um
planejamento escolar com metas a serem atingidas a fim de atender as necessidades dos alunos,
reuniões pedagógicas para discutir os casos de alunos com deficiência matriculados na escola,
como está ocorrendo o progresso, mostrar e discutir registros, atividades de sucesso e de fracasso,
planejamento de atividades a serem oferecidas, etc. São esses momentos que fazem realmente a
diferença no contexto escolar.

A responsabilidade não deve estar apenas dentro da escola, mas em termos gerais, começando
com a implantação de legislação que assegurem os direitos da população em questão, bem como,
atingindo os cursos de formação de professores, pois como foi explicitado no decorrer deste
trabalho, um professor bem preparado desenvolverá seu trabalho com respaldo e não se baseando
em conhecimento empírico.

Assim, profissionais de outras áreas, que não Educação Física, deve acreditar que embora haja
dificuldade, a inclusão pode ocorrer e que pode beneficiar mesmo o colega de sala que auxilia o amigo

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com necessidades especiais. Aquele aluno que auxilia o colega com necessidades especiais em uma
atividade da Educação Física, também está se beneficiando, cultivando sua solidariedade. Afinal, de
uma maneira ou de outra todos nós somos diferentes, alguns fazem com facilidade o que outros
consideram difícil, logo, o que devemos incentivar com os alunos é justamente o respeito à diversidade.

Estudos adicionais com pesquisa de campo e outras metodologias são necessários a fim de
compreender a problemática baseados em dados concretos.

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ação pedagógica no ambiente escolar. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Faculdade de
Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, SP, 2006.

WERNECK, Claudia.  Muito prazer, eu existo: um livro sobre as pessoas com Síndrome de
Down. Rio de Janeiro: WVA, 1995.

WINTERSTEIN, P. J. Motivação, Educação Física e Esporte. Revista Paulista de Educação Física, 6 (1):
53-61, jan/jun, 1992.

INFORMAÇÕES DOS AUTORES


Neuli Maria Tenório. Especialista pela ESEF / Paulista - Escola Paulista de Educação, Filosofia e Política.
Professora de Ensino Fundamental II e Médio, formada em Educação Física pela Universidade Federal

Revista de Pós-Graduação Multidisciplinar, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 13-24, mar./jun. 2017.


ISSN 2594-4800 | e-ISSN 2594-4797 | doi: 10.22287/rpgm.v1i1.457
TENÓRIO, N. M.; GOUVEA, S. R..: A INCLUSÃO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
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de São Carlos, Pedagogia pela Universidade Nove de Julho, especialista em Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva pela Universidade Estadual de São Paulo e mestre em Ciências pela
Universidade Federal de São Paulo, trabalha na EMEF Alferes Tiradentes. neulimt@yahoo.com.br.

Sandra Regina Gouvea. Especialista pela ESEF / Paulista - Escola Paulista de Educação, Filosofia e
Política. Mestre em Psicologia Educacional UNIFIEO, pós-graduada em Gestão de Negócios e Serviços
e Didática do Ensino Superior pelo Mackenzie, graduada em Turismo pelo SENAC e Professora das
Faculdades Campos Salles. sandra.rgouvea@gmail.com.

Revista de Pós-Graduação Multidisciplinar, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 13-24, mar./jun. 2017.


ISSN 2594-4800 | e-ISSN 2594-4797 | doi: 10.22287/rpgm.v1i1.457

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