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Análise Experimental de Estruturas

2. ESTADO DE DEFORMAÇÃO

2.1 INTRODUÇÃO

É comum nas pesquisas experimentais sobre comportamento estrutural a determinação das


deformações através de instrumentos de medição. Uma pra tica bastante utilizada é de realizar
o monitoramento com extensômetros elétricos de resistência - EER (apresentados no Capítulo
3). No emprego mais comum, pode-se obter valores para as deformações no plano do
extensômetro, principalmente quando são empregados para medir deformações na superfície
do concreto. No entanto, o pesquisador pode confeccionar elementos ou dispositivos que
permitam medições em diversos planos de deformação. São apresentados aqui alguns
conceitos sobre as deformações comumente registradas na análise experimental de estruturas
de aço, madeira e concreto armado.

2.2 DEFORMAÇÕES AXIAIS E TRANSVERSAIS

Considere uma barra de seção constante e comprimento l, submetida a uma variação de


comprimento dl (sob tração ou compressão). A deformação específica axial ou longitudinal εl
pode ser definida de acordo coma a equação 2.1.

dl
εl = (2.1)
l

Deve-se observar que toda deformação longitudinal está associada a uma deformação
transversal. A relação entre a deformação transversal e a longitudinal é chamada coeficiente
de Poisson (S. D. Poisson, 1781-1840, FRA), constante na região elástica, de acordo com a
equação 2.2. Convencionalmente as tensões e deformações de tração são consideradas
positivas, enquanto que as de compressão são negativas, daí o sinal negativo na equação 2.2.
Experimentalmente o matemático e pesquisador encontrou ν = 0,25 para materiais
isotrópicos, e ν = 0,25 a 0,35 para metais. Para estruturas convencionais de concreto adota-se

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um coeficiente de Poisson em torno de 0,20, ou seja, assume-se que as deformações


transversais correspondem a apenas 20% das transversais.

εt
ν =− (2.2)
εl

As deformações axiais são bastante utilizadas para estimar a flexibilidade e a rijeza de barras
carregadas axialmente. Considerando uma barra axialmente tracionada em regime elástico, e
substituindo a equação 2.1 na equação da Lei de Hooke tem-se o alongamento da barra de
acordo com a equação 2.3.

P ⋅l
dl = (2.3)
E⋅A

O produto E ⋅ A é conhecido como rigidez axial da barra. A flexibilidade é a deformação


l
decorrente da atuação de uma carga unitária, ou seja, . De maneira inversa, a rijeza da
E⋅A
barra é definida como a força necessária para produzir uma deformação unitária, ou seja, a
E⋅A
rijeza da barra é . Em estágios avançados de carregamento (regime plástico) pode-se
l
também estimar as deformações longitudinais de armaduras tracionadas de peças de concreto
armado com a utilização de extensômetros elétricos de resistência.

2.2.1 Variação da área de uma barra de seção circular

Considere agora uma barra metálica de seção constante e circular sob tração. A área da seção
transversal é definida de acordo com a equação 2.4. Quando a barra sofre uma deformação
longitudinal εl, ocorre também uma variação no diâmetro da seção φ, decorrente da
deformação transversal εt, de acordo com a equação 2.5.

π ⋅φ 2
A= (2.4)
4

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= ε t = −ν ⋅ ε l (2.5)
φ

Diferenciando-se a equação 2.4 obtêm-se a variação total da área da barra, conforme equação
2.6.

π ⋅φ
dA = 2 ⋅ ⋅ dφ (2.6)
4

Substituindo a equação 2.5 na equação 2.6, tem-se:

π ⋅φ π ⋅φ π ⋅φ 2
dA = 2 ⋅ ⋅ dφ = 2 ⋅ ⋅ φ ⋅ ε t = −2 ⋅ ⋅ν ⋅ ε l = −2 ⋅ν ⋅ ε l ⋅ A (2.7)
4 4 4

Assim, a variação da área da referida barra pode ser obtida com a equação 2.8.

dA
= − 2 ⋅ν ⋅ ε l (2.8)
A

2.2.2 Variação da área de uma barra de seção retangular

Admitindo uma barra de seção retangular com largura b e espessura t, a área da seção
transversal é dada de acordo com a equação 2.9.

A = b⋅t (2.9)

Quando a barra é tracionada observa-se uma deformação específica longitudinal ε l

acompanhada de uma deformação específica transversal ε t . A variação das dimensões da


seção transversal pode ser expressa de acordo com a equação 2.10 e 2.11.

db
= ε t = −ν ⋅ ε l (2.10)
b

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dt
= ε t = −ν ⋅ ε l (2.11)
t

E a variação total da área da seção pode ser obtida diferenciando-se a equação 2.9.

dA = b ⋅ dt + t ⋅ db (2.12)

Substituindo as equações 2.10 e 2.11 na equação acima, e considerando a equação 2.2, tem-se:

dA = b ⋅ ε t ⋅ t + t ⋅ ε t ⋅ b = 2 ⋅ ε t ⋅ b ⋅ t = −2 ⋅ν ⋅ ε l ⋅ b ⋅ t = −2 ⋅ν ⋅ ε l ⋅ A (2.13)

Assim, de maneira semelhante à barra de seção circular, a variação específica da área da seção
retangular é:

dA
= − 2 ⋅ν ⋅ ε l (2.14)
A

2.2.3 Variação do volume de uma barra

A variação do volume de uma barra pode ser facilmente definida com base no que foi exposto
anteriormente. O volume é definido de acordo com a equação 2.15.

V = A⋅l (2.15)

Diferenciando-se a equação 2.15 obtêm-se a variação total do volume da barra, de acordo com
a equação 2.16.

dV = A ⋅ dl + l ⋅ dA (2.16)

Dividindo a equação 2.16 pela equação 2.15, têm-se:

dV dl dA
= + (2.17)
V l A

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Substituindo a equação 2.14 na equação 2.17 obtêm-se a variação específica do volume da


barra, de acordo com a equação 2.18.

dV
= ε l − 2 ⋅ν ⋅ ε l = (1 − 2 ⋅ν ) ⋅ ε l (2.18)
V

2.3 DEFORMAÇÕES DE PEÇAS A FLEXÃO

Em ensaios de vigas e lajes de concreto armado sob flexão é comum o monitoramento das
barras da armadura principal (tração) e da superfície comprimida de concreto (compressão),
principalmente quando o objetivo é estudar o comportamento das tensões e dos elementos já
fissurados, como mostra a figura 2.1. Este monitoramento é bastante realizado atualmente
com extensômetros mecânicos na superfície do concreto e extensômetros elétricos de
resistência para o concreto e o aço. Uma vez determinadas as propriedades dos materiais, o
registro das deformações permite estimar os esforços solicitantes em diversos pontos dos
modelos

Quando se deseja estabelecer onde ocorreu inicialmente a ruptura, é de fundamental


importância acompanhar as deformações dos materiais nas regiões críticas das peças. As
flechas são medidas com deflectômetros (mecânicos, resistivos, etc.) e as rotações nos apoios
com clinômetros (de nível de bolha, corda vibrante, etc.)

P/2 P/2

Cisalhamento Esmagamento do concreto

Armadura de flexão escoando

Figura 2.1 Fissuras de flexão em vigas de concreto armado

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2.4 DEFORMAÇÕES DE PEÇAS AO CISALHAMENTO

As deformações de cisalhamento estão relacionadas aos esforços de compressão nas bielas e


de tração nas diagonais tracionadas (tirantes). Nos ensaios de modelos ao cisalhamento é
usual a utilização tanto de extensômetros mecânicos quanto elétricos de resistência para
acompanhamento das deformações na região da ruptura. O monitoramento pode ser realizado
em diversas direções, o mais próximo possível da superfície de ruptura (figura 2.1).
Atualmente estão sendo testados diversos materiais para reforçar elementos de concreto
armado ao cisalhamento, e na maioria destes materiais o emprego de EER’s está fornecendo
resultados satisfatórios.

2.5 DEFORMAÇÕES DE PEÇAS SOB TORÇÃO

A deformações resultantes dos esforços de torção são geralmente monitoradas de maneira


semelhante ao monitoramento de peças ao cisalhamento. A instrumentação também se dá na
superfície do concreto e nas armaduras para torção, usualmente estribos. Para se estudar as
deformações de cisalhamento e torção, é prudente analisar numericamente os modelos para se
estimar os melhores pontos ou regiões de monitoramento.

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